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12ª Edição - Centro Cape

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Ano 4 - nº12 - Julho 2011<br />

Year 4 - nº12 - July 2011<br />

Entrevista com o estilista Ronaldo Fraga:<br />

“Eu sou um artesão da moda”<br />

Interview with stylist Ronaldo Fraga:<br />

“I’m a fashion artisan”<br />

Rede européia El Corte Inglés abre as<br />

portas para o artesanato brasileiro<br />

European chain El Corte Inglés<br />

opens its doors to Brazilian<br />

handicraft<br />

Uma viagem bela e rica à produção<br />

artesanal de várias regiões do Brasil<br />

A beautiful and rich journey into<br />

handicraft production throughout<br />

Brazil


<strong>Edição</strong> e projeto editorial / Ediction and editorial project<br />

Instituto <strong>Centro</strong> <strong>Cape</strong> e Central Mãos de Minas<br />

Editor / Editor<br />

Carlos Moreira<br />

Colaboradores / Colaborators<br />

Antônio Siúves<br />

Regiane Marques Sampaio<br />

Fotografia / Photography<br />

Alexandre Mota<br />

Elsio Moriani<br />

Fernando Chaves<br />

Pedro Gil<br />

Martinez Fotografia<br />

Wilkerson Kuroki/Amazonastur<br />

Revisão / Revision<br />

COM! Soluções em Comunicação<br />

Tradução de textos / Translation<br />

Luiz Augusto Ferreira Araújo / Supernova SCI<br />

Alpha Traduções<br />

Diagramação e arte / Diagramming and graphic arts<br />

Flávio Christo<br />

Gráfica / Printing company<br />

Difusora Editora Gráfica<br />

Tiragem / Drawing<br />

5.000 exemplares<br />

Distribuição gratuita / Costless Distribution<br />

Foto da capa: Divulgação / Associação Acreana Buriti da Amazônia<br />

Elsio Moriani<br />

Editorial / Editorial<br />

Artigo / Article<br />

Oportunidades / Opportunities<br />

Tesouros da floresta / Treasures of the forest<br />

Arte em madeira / Art in wood<br />

Tecidos e cores / Fabrics and colours<br />

Dona Marlene / Mrs. Marlene<br />

Cidade de teares / City of looms<br />

Abrindo passagem / Making the way<br />

Entrevista / Interview<br />

Eu faço / I make 47<br />

CENTRO CAPE MINAS GERAIS<br />

Rua Grão Mogol, 662 - Sion<br />

CEP 30310-010 - Belo Horizonte - MG<br />

Tel. 55 31 3282 8300 Fax 55 31 3282 8301<br />

CENTRO CAPE DISTRITO FEDERAL<br />

SNC, Quadra 5, Bloco A, sala 212<br />

Ed. Brasília Shopping<br />

CEP 70710-500 - Brasília - DF<br />

Tel. 55 61 3328 0621 Fax 55 61 3328 5802<br />

SHOW ROOM ESTADOS UNIDOS<br />

7 West 34th Street Suíte 725.1001<br />

New York City - NY - Phone 917 282 5838<br />

ecoarts@ecoarts.biz<br />

SHOW ROOM PORTUGAL<br />

Parque Industrial Meramar IV<br />

R. da Amendoeiras, / ZIP Code: 2645 097<br />

Phone: 351 96 707 2538<br />

Brazilhandcraft.europe@gmail.com<br />

2<br />

4<br />

8<br />

12<br />

18<br />

23<br />

28<br />

33<br />

36<br />

40<br />

www.centrocape.org.br<br />

jornalismo@centrocape.org.br<br />

55 31 3281 6820


O artesanato é uma atividade<br />

desenvolvida em todo o país e com imenso<br />

potencial para exportação e geração de emprego<br />

e renda. Em dezembro de 2010, a Agência<br />

Brasileira de Promoção de Exportações e<br />

Investimentos (Apex-Brasil) teve a satisfação<br />

de sediar, em Brasília, o evento de lançamento<br />

da Associação Brasileira de Exportação de<br />

Artesanato (Abexa) — a nova entidade nacional<br />

criada com o objetivo de fortalecer as exportações<br />

do artesanato brasileiro. Com a Abexa, pela<br />

primeira vez, os artesãos exportadores passaram<br />

a ser apoiados por uma entidade de âmbito<br />

nacional.<br />

Para nós, da Apex-Brasil, esse é um marco<br />

muito importante para a internacionalização<br />

do setor. Vimos apoiando as exportações de<br />

artesanato há vários anos, e a nossa expectativa<br />

é de que a criação da entidade fortaleça ainda<br />

mais a promoção comercial do setor.<br />

No início deste ano, a Apex-Brasil firmou<br />

convênio com a Abexa para a execução de um<br />

novo projeto para o setor, de dois anos de duração.<br />

As metas para 2012 são de reunir 330 empresas<br />

participantes e obter exportações de US$ 6,12<br />

milhões, superando o valor de exportações (US$<br />

3,12 milhões) alcançado pelas 163 empresas que<br />

integraram, em 2010, os projetos da Apex-Brasil<br />

para o setor.<br />

Com o novo projeto, cujo foco será em<br />

artesanatos de moda e de decoração com<br />

maior valor agregado, artesanatos com forte<br />

componente de design e artesanatos orientados<br />

à tradição popular, a promoção comercial do<br />

artesanato brasileiro no exterior será unificada,<br />

fortalecendo a divulgação da imagem do<br />

produto nacional. Algumas ações previstas são<br />

a contratação de empresa de Relações Públicas<br />

na Europa e nos Estados Unidos e de contêiner/<br />

Editorial<br />

Handicraft is developed as an<br />

activity throughout the entire country, having<br />

great potential for exportation, employment<br />

and income generation. In December of 2010, the<br />

Brazilian Trade and Investment Promotion Agency<br />

(Apex-Brasil) was glad to host the launching event<br />

for Abexa (Associação Brasileira de Exportação<br />

de Artesanato, Brazilian Handicraft Exportation<br />

Association) in Brasília — a new national<br />

organization with the purpose of strengthening<br />

Brazilian handicraft exportations. Through<br />

Abexa, exporting artisans have finally started<br />

to receive support from a national organization.<br />

Forus, from Apex-Brasil, this is a very important<br />

landmark for the sector’s internationalization.<br />

We’ve been supporting handicraft exportation<br />

for many years, and our expectation is that<br />

the creation of Abexa will strengthen the<br />

sector’s commercial promotion even more.<br />

In the beginning of this year, Apex-Brasil<br />

established a partnership with Abexa in<br />

order to execute a new two-year plan for<br />

the sector. The goals for 2012 are to gather<br />

330 participant companies and reach US$<br />

6.12 million in exportations, surpassing the<br />

exportation value (US$ 3,12 million) achieved<br />

by the 163 companies which integrated<br />

Apex-Brasil’s projects for the sector in 2010.<br />

Through this new project, which will focus on<br />

fashion and decoration handicraft with higher<br />

aggregate value, on handicraft with strong<br />

design components, and on popular traditionoriented<br />

handicraft, the overseas Brazilian<br />

handicraft commercial promotion will be unified,<br />

strengthening the image marketing for this<br />

national product. Planned actions include hiring<br />

Public Relation companies in Europe and in<br />

the United States, as well as container/itinerant<br />

stores in order to promote the products in several


loja itinerante para promover os produtos em<br />

diversos países da Europa, além da participação<br />

nas maiores feiras de artesanato do mundo, tais<br />

como a Maison Object na França, a Ambiente e<br />

a Tendence na Alemanha, a Bijoutex e a Intergift<br />

na Espanha, a Las Vegas Show e a Gift Fair<br />

nos Estados Unidos. Também serão realizadas<br />

atividades de capacitação e desenvolvimento dos<br />

artesãos. Além disso, estudos de mercado sobre<br />

o setor estão sendo produzidos pela Unidade de<br />

Inteligência Comercial e Competitiva da Apex-<br />

Brasil.<br />

Os países-alvo da parceria, definidos pelo<br />

estudo de inteligência comercial desenvolvido<br />

pela Agência são Alemanha, Espanha, Portugal,<br />

França, Itália e Estados Unidos.<br />

É importante ressaltar que a Abexa foi criada<br />

após um trabalho de planejamento estratégico,<br />

com base em análise profunda das necessidades<br />

do setor (principalmente de capacitação) e de<br />

novos direcionamentos que devem ser dados para<br />

que o Brasil marque presença em todo o mundo<br />

com a beleza, criatividade e diversidade de seu<br />

artesanato.<br />

Rogério Bellini<br />

Diretor de Negócios da Apex-Brasil / Apex Brasil Business Director<br />

FOTO / PHOTO Divulgação/Apex-Brasil<br />

European countries, besides participations in the<br />

world’s largest handicraft fairs, such as Maison<br />

Object in France, Ambiente and Tendence in<br />

Germany, Bijoutex and Intergift in Spain, and Las<br />

Vegas Show and Gift Fair in the United States. In<br />

addition, qualification and development activities<br />

will be offered for artisans. Market studies on the<br />

sector are also being produced by Apex-Brasil’s<br />

Commercial and Competitive Intelligence Unit.<br />

The target countries for this partnership<br />

are Germany, Spain, France, Italy and<br />

the United States, selected through the<br />

Agency’s commercial intelligence study.<br />

It is important to highlight that Abexa was<br />

created through a strategic planning effort, based<br />

on a profound analysis of the sector’s needs<br />

(mainly concerning qualification) and of new<br />

directions to be established in order to increase<br />

the Brazilian handicraft footprint abroad,<br />

leveraging its beauty, creativity and diversity.


OPORTUNIDADES E DESAFIOS<br />

na exportação para grandes lojas de departamentos<br />

OPPORTUNITIES AND chAllENgES IN ExPORTINg TO lARgE<br />

DEPARTmENT STORES<br />

ALEXANDRE DE BRITO SANTOS<br />

Consultor do <strong>Centro</strong> Internacional de Negócios da Federação das Indústrias de Minas Gerais<br />

(CIN/Fiemg)<br />

Consultant to the International Business Center of the Federation of Industries in Minas Gerais<br />

(CIN/Fiemg)<br />

A tendência atual de valorização<br />

da taxa de câmbio no Brasil tem levado os<br />

exportadores, tanto da indústria como do<br />

artesanato, a desenvolver novas estratégias de<br />

competitividade para se manter no mercado<br />

externo. Uma dessas estratégias é a concentração<br />

de vendas em poucos clientes.<br />

Neste caso, o objetivo dos empreendedores e<br />

artesãos é manter a venda ao exterior competitiva<br />

através de operações concentradas em poucos<br />

clientes compradores. Assim, evita-se a dispersão<br />

de esforços e de operações logísticas, concentrando<br />

as operações em um único comprador ou em<br />

poucos compradores. Este ganho financeiro advém,<br />

principalmente, da redução de gastos em operações<br />

complexas e pela queda nos gastos na contratação<br />

de frete. O que ocorre é que ,naturalmente, quando<br />

se tem várias cargas fracionadas para diferentes<br />

destinos, sempre existe a possibilidade de perda de<br />

eficiência na consolidação da carga.<br />

Normalmente, como se tratam de pequenas<br />

empresas e especialmente de artesanato, os<br />

volumes embarcados são pequenos, o que exige<br />

a consolidação da carga com outros produtos.<br />

Esta consolidação envolve produtos diferentes, de<br />

tamanhos e pesos distintos, o que acarreta custos<br />

maiores.<br />

Pelo lado dos compradores observa-se que,<br />

em muitos casos, apenas uma empresa receptora<br />

adquiriu toda a carga. Neste caso, o comprador<br />

receberá toda a carga do container. Outra<br />

possibilidade é que as cargas contidas tenham<br />

vários destinos e, nesta situação, cada importador<br />

deverá desembaraçar sua mercadoria.<br />

4 artigo / article<br />

The current trend of exchange rate<br />

valuation in Brazil has led exporters both from<br />

factories and from arts and crafts, to develop new<br />

competition strategies in order to secure their places<br />

in the external market. One of these strategies is<br />

the concentration of sales around a few customers.<br />

In this case, the aim of entrepreneurs and artisans<br />

is to keep the international sales competitive<br />

through operations concentrated around a few<br />

buyers. This way the dispersion of efforts and<br />

logistic operations is avoided, concentrating the<br />

operations in a single buyer or around a few buyers.<br />

This financial gain comes mainly from cutting off<br />

costs in complex operations and from cutting off<br />

expenses in freight contracting. What occurs is<br />

that when you have many fractioned cargos to<br />

different destinations, there is always the possibility<br />

of loss of efficiency in the consolidation of cargo.<br />

Usually, as we are talking about small<br />

companies, especially arts and crafts ones,<br />

the volume shipped is small, demanding the<br />

consolidation of the cargo with other products.<br />

Such consolidation involves different products of<br />

different sizes and weight, leading to higher costs.<br />

From the buyers’ side it is observed that,<br />

in many cases, only one receiving company<br />

has acquired the entire cargo. In this case, the<br />

buyer will receive all the cargo in the container.<br />

Another possibility is that the cargo in the<br />

containers has many destinations and in this<br />

situation, each importer shall clear its own goods.


As empresas que compram mercadorias de<br />

diferentes vendedores procuram organizar e<br />

gerenciar o processo de consolidação da carga no<br />

país de origem das mesmas, pois neste caso o peso<br />

do frete pode elevar sobremaneira os custos. Assim,<br />

este comprador tende a contratar os serviços de<br />

um operador logístico que será responsável pela<br />

contratação do frete, consolidação da carga e<br />

emissão da documentação.<br />

Nesse processo de negociação os artesãos e<br />

produtores vão vender para um único comprador<br />

e vão utilizar um único operador logístico.<br />

Isto torna a operação demasiado onerosa para<br />

o produtor, uma vez que ele se defronta com<br />

dois monopsonistas. Na literatura econômica,<br />

monopsonista é a situação onde só existe um<br />

comprador para vários vendedores. Neste caso,<br />

parte importante da margem de lucro vai ser<br />

transferida do produtor para o comprador. Os<br />

produtores são obrigados a aceitar os preços<br />

determinados tanto pela carga como pela operação<br />

de transporte e distribuição.<br />

Vender um número limitado de unidades para<br />

um comprador significa que este comprador é, em<br />

geral, uma organização que trabalha diretamente<br />

com o consumidor, não necessitando de estoques<br />

muito grandes de produtos. Nesta categoria estão<br />

enquadradas as grandes lojas de departamentos, os<br />

chamados magazines.<br />

Na Europa e nos Estados Unidos eles se<br />

confundem com a própria cidade onde estão<br />

estabelecidos e se transformaram em referência<br />

obrigatória para o turismo de compras. Em Paris,<br />

os mais famosos são as Galeries Lafayette e o<br />

Printemps, em Londres é a Harrods e, em Madrid,<br />

o El Corte Inglés.<br />

A estratégia de vendas destes grandes<br />

magazines é oferecer uma gama de opções para<br />

todos os consumidores, com áreas especializadas<br />

em vestuário, cosméticos e perfumaria, vestuário<br />

masculino, calçados, eletrônicos de consumo,<br />

artefatos de decoração, artigos de casa de campo,<br />

cama, mesa e banho, brinquedos e área gourmet.<br />

Isto atende aos anseios dos consumidores que<br />

buscam otimizar as compras e encontrar de tudo<br />

no mesmo lugar. As grandes redes apostam em<br />

temas da temporada e de alguma forma todas as<br />

áreas ligadas à moda e à decoração deverão estar<br />

de acordo com a linguagem da temporada.<br />

Ao lado de produtos de consumo tradicionais,<br />

aos quais freqüentemente estão incluídas algumas<br />

ofertas interessantes para atrair o público,<br />

estão expostos artefatos diferentes, produtos<br />

Companies that bought products from many<br />

different sellers try to organize and manage the cargo<br />

consolidation product in the country of origin of<br />

the products, as in this case the cargo weight might<br />

increase costs exceedingly. This way, this buyer<br />

tends to hire the services of a logistics operator that<br />

will be responsible for contracting services of cargo,<br />

cargo consolidation and documents issuance.<br />

In this process of negotiation artisans and<br />

producers sell to a single buyer and use a single<br />

logistics operator. This makes operation too<br />

costly to producers, since he has to deal with two<br />

monopsonists. In economy literature, monopsonist<br />

is the situation where there is only a single buyer<br />

to many sellers. In this case, a significant portion<br />

of the profit margin is transferred from the<br />

producer to the buyer. Producers are obliged to<br />

accept the prices determined both by the cargo<br />

and by the transport and distribution operation.<br />

Selling a limited number of units to one buyer<br />

means that this buyer is. In general, an organization<br />

that works directly with consumers, not requiring<br />

large stocks of products. This category comprises<br />

large department stores, called “stores”.<br />

In Europe and in the United States they get<br />

mixed with city where they are established and<br />

become a mandatory reference of shopping<br />

tourism. In Paris the most famous ones are<br />

the Galeries Lafayette and Printemps, Harrods<br />

in London and, in Madrid, El Corte Inglés.<br />

Sales strategies of these large stores is offering<br />

a range of options to all consumers with areas<br />

specialized in clothing, cosmetics and perfumery,<br />

men’s clothing, shoes, consumption electronics,<br />

decoration items, country house items, bedding and<br />

bath, toys and cookware. It fulfills the expectations<br />

of consumers who seek to optimize shopping and<br />

find everything at the same place. Large store<br />

chains invest in season themes and, somewhat, all<br />

the areas connected to fashion and decoration must<br />

be in agreement with the language of the season.<br />

Beside the traditional consumption products<br />

to which some interesting offers are frequently<br />

attached in order to attract audience, there<br />

are different products, handicraft items often<br />

originated from foreign countries and that<br />

are extremely valued in European countries.<br />

Over the last years, these large stores have<br />

artigo / article 5


de artesanato geralmente originários de países<br />

estrangeiros e que são extremamente valorizados<br />

nos países europeus.<br />

Nos últimos anos, estes grandes magazines<br />

tem aberto espaço para exibições de artesanato<br />

do Brasil. O nosso país esta na “moda”,<br />

atraindo interesse estrangeiro por produtos que<br />

reflitam o nosso ambiente cultural. Peças de<br />

artesanato, vestuário, bijouteria e com materiais<br />

brasileiros estão entre as mais demandadas pelos<br />

consumidores. Contudo, o fechamento de um<br />

contrato de venda é uma tarefa complexa para os<br />

produtores. Embora valorizem a originalidade do<br />

artesanato, os departamentos responsáveis pelas<br />

compras tendem a adotar as mesmas estratégias<br />

utilizadas em aquisições de grande volume – os<br />

preços oferecidos são reduzidos e as condições de<br />

pagamento, bastante rígidas.<br />

Ofertas de compras incluem mercadorias que<br />

serão pagas somente após efetiva venda, geralmente<br />

ao fim da temporada. Ou seja, em muitas situações<br />

cabe ao vendedor arcar com o capital de giro<br />

e financiar as vendas a prazo. Eventuais peças<br />

com defeito ou entregues fora do prazo são de<br />

responsabilidade exclusiva do vendedor e geram<br />

inclusive multas contratuais.<br />

Por tudo isto apesar de ser um mercado em<br />

expansão recomenda-se cautela na hora de assinar<br />

um contrato com estas empresas. Como qualquer<br />

outro comprador ela exige alta qualidade,<br />

pontualidade na entrega e logística eficiente e<br />

barata, não se responsabilizando por ocorridos<br />

problemas durante o transporte.<br />

Portanto, ainda que seja muito interessante<br />

a negociação de um contrato com um grande<br />

magazine, é importante que os produtores e<br />

vendedores estejam atentos para as exigências e<br />

imposições contratuais colocadas.<br />

6 artigo / article<br />

allowed some room display handicraft from<br />

Brazil. Our country is fashionable, attracting<br />

international interest to products that mirror<br />

our cultural environment. Pieces of handicraft,<br />

clothing and jewelry made with Brazilian<br />

materials are among the most requested pieces by<br />

consumers. However, signing a sales agreement is<br />

a complex task to products. Although handicraft<br />

originality is valued, departments responsible for<br />

purchases tend to adopt the same strategies used<br />

in large volume acquisitions – prices offered are<br />

reduced and payment conditions are quite strict.<br />

Purchase offers include products that will only<br />

be paid after the sale is consolidated, generally<br />

by the end of the season. That means, in many<br />

situations sellers must have a substantial working<br />

capital in order to support credit sales. Occasional<br />

defective pieces or pieces not delivered on time<br />

will be under the exclusive responsibility of<br />

the seller and imply in contractual penalties.<br />

For all that, although is it a market in expansion,<br />

we recommend attention at signing contracts with<br />

these companies. Just like any buyer, they demand<br />

high quality, on-time delivery in addition to effective<br />

and inexpensive logistics, not taking responsibility<br />

for problems occurred during transportation.<br />

Thus, even though the negotiation of a contract<br />

with a large store is very interesting, it is important<br />

that producers and sellers are attentive to the<br />

contractual demands and impositions established.<br />

Onde encOntrar artesanatO brasileirO tipO expOrtaçãO<br />

HOw can yOu find brazilian Handicraft, prepared tO expOrt<br />

www.ecoarts.bys<br />

www.brazilhandicraft.org.br<br />

www.artest.com.br<br />

www.fazerbrasil.org.br<br />

www.projetoartbrasil.com.br


SEBRAE MAIS é gestão sob medida<br />

para pequenas empresas<br />

O Sebrae Mais é um programa nacional de consultoria sobre gestão.<br />

São soluções práticas para modernizar a gestão, ideais para quem<br />

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Portas abertas na Europa<br />

Open doors in Europe<br />

POR /BY Carlos Moreira<br />

FOTOS / PHOTOS Divulgação – <strong>Centro</strong> <strong>Cape</strong> / Divulgação – Sebrae (DF)<br />

O artesanato brasileiro está<br />

atraindo novos olhares do mundo, a partir da<br />

atenção que as pessoas começam a dispensar<br />

à sustentabilidade e ao consumo consciente.<br />

Originalidade, autenticidade cultural e o<br />

trabalho manual são características cada vez mais<br />

valorizadas por europeus e norte-americanos, com<br />

reflexos no interesse de grandes redes de lojas<br />

de departamento na produção artesanal, como a<br />

El Corte Inglés (Portugal e Espanha) e a Macy’s<br />

(Estados Unidos).<br />

8 oportunidades / opportunities<br />

Brazilian arts and crafts have<br />

caught eyes from all over the world, derived from<br />

the attention people start to pay to sustainability<br />

and conscious consumption. Originality, cultural<br />

authenticity and manual work are characteristics<br />

more and more valued by Europeans and North-<br />

Americans, with reflections on the interest of large<br />

department store chains towards arts and crafts<br />

production, as it is occurring in El Corte Inglés<br />

(Portugal and Spain) and Macy’s (United States).


Em maio último, uma missão de 14 compradores<br />

da rede européia visitou o Brasil e participou de<br />

rodadas de negócios nos Estados de Minas Gerais,<br />

Ceará e Distrito Federal, onde foram montadas<br />

exposições de produtos de diversas regiões do<br />

Brasil. Os compradores, com até 4 milhões de<br />

euros para aquisições, também visitaram ateliês e<br />

oficinas de tecelagem e mobiliário no interior de<br />

Minas Gerais.<br />

O Instituto <strong>Centro</strong> de Capacitação e Apoio ao<br />

Empreendedor (<strong>Centro</strong> <strong>Cape</strong>) já possui há mais<br />

de dois anos pontos de vendas nas unidades da El<br />

Corte Inglés em Gaia-Porto e Lisboa (Portugal)<br />

e em Madri (Espanha). Segundo a presidente da<br />

entidade, Tânia Machado, a boa aceitação dos<br />

produtos artesanais mineiros resultou no interesse<br />

da rede em abrir, no final do segundo semestre<br />

deste ano, um espaço destinado à venda de artigos<br />

brasileiros em suas lojas.<br />

A visita foi promovida por organizações<br />

governamentais, não-governamentais e<br />

empresariais, como o <strong>Centro</strong> <strong>Cape</strong>, Agência<br />

Brasileira de Promoção de Exportações e<br />

Investimentos (Apex-Brasil), Federação das<br />

Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) e<br />

o Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena<br />

Empresa (Sebrae). A escolha dos artesãos que<br />

participaram das negociações foi feita pelo<br />

<strong>Centro</strong> <strong>Cape</strong>, a partir de convites a profissionais,<br />

associações e cooperativas de todo país, que<br />

enviaram fotos de seus produtos para uma préseleção<br />

dos compradores da El Corte Inglés.<br />

Oportunidade única<br />

A visita mostrou que a exportação é um desafio<br />

e tanto para os artesãos, que precisam apresentar<br />

garantias de produção, preço e logística para que<br />

os negócios sejam concretizados. Até o fechamento<br />

desta edição, ainda não havia um balanço final das<br />

vendas, já que os pedidos foram colocados, mas<br />

os contratos ainda não haviam sido assinados. De<br />

qualquer forma, produtores de todo o país tiveram<br />

uma grande oportunidade de mostrar seu trabalho<br />

e estabelecer um contato valioso, ainda que não<br />

tenham concretizado as vendas.<br />

“A reunião com os espanhóis criou expectativa<br />

de mais vendas no futuro. Essa é a minha primeira<br />

experiência em exportação. Mesmo se não tivesse<br />

vendido, já sairia daqui satisfeito”, disse o artesão<br />

Elsio Moriani, de Brasília, que conseguiu vender<br />

seus objetos e biojóias em madeira . Thiago Silva,<br />

do ateliê ReThalho de Lagoa Santa (MG), ressalta<br />

a demanda por originalidade. “Querem tudo bem<br />

Last May, a commission comprising 14 buyers of<br />

the European chain visited Brazil and participated<br />

in business sessions in the states of Minas Gerais,<br />

Ceará and Distrito Federal, where exhibitions of<br />

products from several regions in Brazil were being<br />

zheld. The buyers, who had up to 4 million euros<br />

for purchases, also visited weaving and furniture<br />

ateliers and shops in small cities of Minas Gerais.<br />

The Institute Center for Qualification and<br />

Support to Entrepreneurs (<strong>Centro</strong> <strong>Cape</strong>) has had,<br />

for over two years, purchase points in the El Corte<br />

Inglés units in Gaia-Porto and Lisbon (Portugal)<br />

and in Madrid (Spain). According to the president<br />

of the entity, Tânia Machado, the good acceptance<br />

of the handicraft products from Minas Gerais<br />

resulted in the interest by the company in opening,<br />

at the end of the second half of this year, a space<br />

intended to selling Brazilian items in its stores.<br />

The visit was promoted by governmental, nongovernmental<br />

and corporate organizations as the<br />

<strong>Centro</strong> <strong>Cape</strong>, the Brazilian Agency for Exports<br />

and Investments Promotion (Apex-Brazil), the<br />

Federation of Industries in the State of Estado de<br />

Minas Gerais (Fiemg) and the Brazilian Service for<br />

Support to Micro and Small Enterprises (Sebrae).<br />

The choice of the artisans who participated in<br />

the negotiations was made by <strong>Centro</strong> <strong>Cape</strong>,<br />

from invitations to professionals, associations<br />

and cooperative organizations from all over the<br />

country, which sent pictures of their products for<br />

a pre-selection by the buyers of the El Corte Inglés.<br />

A single opportunity<br />

The visit showed that exporting is a big challenge<br />

both to artisans, who have to offer warranties<br />

of production, price and logistics in order to<br />

consolidate business. Until the closing of this<br />

edition, there was no final balance of sales, since<br />

the orders had been placed but the contracts had<br />

not been signed yet. Anyhow, producers from all<br />

over the country had a great opportunity to display<br />

their work and establish a valuable contact, even<br />

though sales have not been concretized yet.<br />

“The meeting with Spanish buyers generated<br />

expectations of more sales in the future. This is<br />

my first experience with exports. Even if I had not<br />

made any selling, I would leave here pleased”, said<br />

artisan Elsio Moriani from Brasília, who managed<br />

to sell his objects and biojewelry in wood. Thiago<br />

Silva, from atelier ReThalho de Lagoa Santa (MG),<br />

emphasizes the demand for originality. “They want<br />

it very Brazilian, full of color and calico (a type<br />

oportunidades / opportunities 9


asileiro, com bastante cor e bastante chita (tecido<br />

com estampas coloridas e chamativas)”, comenta.<br />

Suas peças, elaboradas com embalagens tetra pak e<br />

tecido, também tiveram boa aceitação.<br />

Já os artesãos da Cooperativa de Produtos e<br />

Serviços Econômicos e Solidários do Acre (Cooesa)<br />

terão de produzir 12 mil biojóias, entre colares,<br />

pulseiras e brincos, e 3.000 velas em ouriço. A<br />

produção terá de ser entregue em novembro e os<br />

artesãos já trabalham a todo vapor. “A Cooesa tem<br />

estrutura para atender à demanda, mas estamos nos<br />

organizando para que todas as fases da produção,<br />

que incluem a coleta, preparação das sementes e<br />

montagem das peças, ocorram sem problemas”,<br />

diz o presidente da entidade, Carlos Taborga,<br />

escolhido o representante das três organizações<br />

acreanas para cuidar do trâmite necessário para a<br />

exportação.<br />

Além da Coeesa, a Associação Acreana<br />

Buriti da Amazônia, fundada por Márcia Silva de<br />

Lima, recebeu pedido de 8.000 chaveiros, 7.500<br />

pulseiras, 800 mandalas. “Do nosso encontro com<br />

os representantes da El Corte Inglés, surgiu um<br />

novo produto. Eles gostaram tanto das camisas<br />

pintadas à mão que encomendaram almofadas,<br />

que passamos a confeccionar”, disse a presidente<br />

da Cooper MAV, Othília Batista Melo de Sampaio,<br />

também do Acre. Como a produção é manual, e<br />

não se aprende pintura de um dia para o outro,<br />

a Cooper MAV acredita que vai conseguir<br />

10 oportunidades / opportunities<br />

produzir, até novembro, quando têm de enviar<br />

as mercadorias, 200 camisas, 200 almofadas e 200<br />

panos de prato pintados à mão com figuras da<br />

fauna e flora da Floresta Amazônica.<br />

of fabric with bright and colorful patterns)”, he<br />

comments. His pieces made of tetra pak packages<br />

and fabric were also well accepted.<br />

The artisans of the Cooperative of Economic<br />

and Solidary Products and Services of Acre<br />

(Cooesa) will have to produce 12 thousand pieces<br />

of biojewelry among necklaces, bracelets and<br />

earrings, besides 3,000 candles in seed shells.<br />

Production will have to be delivered in November<br />

and artisans are already working in full swing.<br />

“Cooesa is structures in order to meet the demand,<br />

but we are organizing ourselves so that all the<br />

production phases occur free of trouble, including<br />

the gathering, preparation of seeds and assembly<br />

of pieces”, says the president of the entity, Carlos<br />

Taborga, elected as the representative to the three<br />

Acrean organizations to take care of the procedures<br />

required to exporting.<br />

In addition to Coeesa, the Acrean<br />

Association Buriti da Amazônia, founded by<br />

Márcia Silva de Lima, has received an order<br />

for 8,000 key-chains, 7,500 bracelets, and 800<br />

mandalas. “From our meeting with the El Corte<br />

Inglés representatives emerged a new product.<br />

They liked the hand-painted shirts so much that<br />

ended up by also ordering cushions, which we<br />

started producing”, said the president of Cooper<br />

MAV, Othília Batista Melo de Sampaio, also from<br />

Acre. As the production is manual and painting<br />

cannot be learned in a day, Cooper MAV believes<br />

it will be able to produce, until November, when<br />

they have to ship the products, 200 shirts, 200<br />

cushions and 200 hand-painted table cloths with<br />

figures of the Rain Forest fauna and flora.<br />

Cícero Resende Chaves, who produces and sells


Cícero Resende Chaves, que produz e comercializa<br />

produtos têxteis em Resende Costa (MG), não chegou<br />

a fechar vendas para a rede européia, principalmente<br />

em função do preço e por já desfrutar de uma boa<br />

posição no mercado interno. Apesar disso, ele ficou<br />

satisfeito com o interesse em suas peças e com a<br />

possibilidade de negociações futuras.<br />

Sérgia Almeida, que representa duas cooperativas e<br />

20 associações de artesãos do Estado de Pernambuco,<br />

também aprovou a oportunidade de negociar com a<br />

El Corte Inglés, embora confesse ter ficado frustrada<br />

por não ter havido a consolidação de vendas. “Eles<br />

ficaram encantados com nossos produtos”, afirma,<br />

referindo-se às redes, mantas, passadeiras, almofadas<br />

e cerâmicas que expôs. Aos interessados e à própria<br />

rede européia, ela avisa: “Nós temos um artesanato<br />

muito diversificado e plenas condições de produzir e<br />

entregar grandes quantidades. Estamos prontos para<br />

exportar”.<br />

Nas páginas seguintes, conheça mais sobre o<br />

trabalho de alguns dos artesãos que participaram das<br />

negociações com a El Corte Inglés.<br />

textiles in Resende Costa (MG), did not make<br />

any business deal with the European chain,<br />

mainly for the price and for already enjoying<br />

a comfortable position in the internal market.<br />

Despite all this, he was content with the interest<br />

showed in his pieces and with the possibility of<br />

future negotiations.<br />

Sérgia Almeida, who represents two<br />

cooperatives and 20 associations of artisans<br />

in the state of Pernambuco, has also approved<br />

the opportunity of negotiating with the chain<br />

El Corte Inglés, although she confesses being<br />

frustrated for not having consolidated any sales.<br />

“They were charmed by our products”, she says,<br />

meaning the hammocks, bed spreads, mats,<br />

cushions and pottery exhibited. And she warns<br />

the ones interested and the European chain<br />

itself: “We have offer diversified handicraft at full<br />

conditions for production and delivery in large<br />

scale. We are ready to export”.<br />

On the next pages, learn more about the work<br />

of some of the artisans who participated in the<br />

negotiations with the chain Corte Inglés.<br />

oportunidades / opportunities 11


Tesouros da<br />

Floresta<br />

Treasures of the Forest<br />

Associações se dedicam a organizar e divulgar a<br />

produção artesanal do Acre<br />

Entities dedicate themselves to organizing and<br />

promoting handicraft in Acre<br />

POR /BY Regiane Marques Sampaio<br />

FOTOS / PHOTOS Divulgação<br />

Numa segunda-feira de<br />

junho, Maria de Fátima e Carlos viajavam<br />

para Recife. Othília fazia curso de aprimoramento<br />

em São Paulo, enquanto Márcia terminava os<br />

preparativos para embarcar para o Rio Grande<br />

do Sul. Em comum, além da agenda ocupada por<br />

viagens, essas pessoas trabalham em torno de um<br />

mesmo objetivo: organizar e divulgar o artesanato<br />

do Acre – Estado encravado na Amazônia<br />

Brasileira, atuando como representantes de três<br />

entidades que reúnem artesãos acreanos das mais<br />

diversas especialidades.<br />

Como resultado desse trabalho, até o final do<br />

ano os consumidores espanhóis e portugueses<br />

poderão ver nas prateleiras da rede El Corte Inglés<br />

itens como biojóias, velas, mandalas e outros<br />

objetos com matérias-primas regionais, além de<br />

camisetas e almofadas pintadas à mão, com figures<br />

alusivas à fauna e à flora da Amazônia. O pedido<br />

da rede européia deixou a vida ainda mais corrida<br />

– há uma grande mobilização para atender às<br />

encomendas, mas todos estão muito felizes com<br />

isso.<br />

Com um território de 152 mil quilômetros<br />

quadrados em plena Floresta Amazônica, o Acre<br />

possui uma vasta riqueza natural. Sementes, folhas,<br />

sobras de madeiras e látex são transformados em<br />

objetos de arte por comunidades de artesãos. E<br />

ao aliar matéria-prima com talento e organização,<br />

os artistas acreanos estão ganhando mercado em<br />

outros Estados brasileiros e, agora, também no<br />

exterior.<br />

12 tesouros da floresta / treasures of the forest<br />

On a June Monday, Maria de Fátima<br />

and Carlos were traveling to Recife, as Othília<br />

was taking a specialization course in Sao Paulo,<br />

and Márcia was finishing packing to go on a trip<br />

to Rio Grande do Sul. In common, in addition to<br />

the schedule filled with trips, these people had the<br />

fact of being working for the same aim: organizing<br />

and promoting handicraft in Acre – A State<br />

encrusted in the Brazilian Amazon region, acting<br />

as representatives to the three entities that gather<br />

Acrean artisans with the most varied specialties.<br />

As a result to this work, Spanish and Portuguese<br />

consumers will enjoy, on the shelves of the El<br />

Corte Inglés department store chain, items such<br />

as biojewelry, candles, mandalas and other objects<br />

made of regional raw material, besides shirts and<br />

hand-painted cushions, with illustrating symbols<br />

of the Amazon fauna and flora, by the end of the<br />

year. The order received from the European chain<br />

has made life even busier – there is a massive<br />

mobilization towards delivering orders, though<br />

everyone is very happy about all that is going on.<br />

With a territory of over 152 thousand square<br />

kilometers in the very Amazon Rainforest, Acre<br />

presents vast natural wealth. Seeds, leaves, wood<br />

remainders and latex are transformed into art<br />

objects by communities of artisans. And, in joining<br />

raw material, talent and organization, Acrean<br />

artisans are gaining market share in other Brazilian<br />

states and now also abroad.


Maria de Fátima Taborga e Carlos Laran Taborga<br />

são, respectivamente, presidente e administrador<br />

da Cooperativa de Produtos e Serviços Econômicos<br />

e Solidários do Acre (Cooesa), que funciona desde<br />

1997. O casal é o principal prospector da entidade<br />

e vive para divulgar os trabalhos dos cooperados e<br />

conquistar novos clientes. Para atender a El Corte<br />

Inglés, eles vão ter de trabalhar como nunca, pois<br />

receberam a encomenda de 15 mil peças, entre<br />

biojóias e velas de ouriço, a maior feita à Cooesa<br />

até hoje.<br />

A união em cooperativa permitiu que os próprios<br />

fabricantes de artesanato assumissem, por meio de<br />

concorrência pública, em 2005, a Casa do Artesão<br />

do Acre, que era administrada pela Secretaria de<br />

Estado do Turismo. A edificação,<br />

localizada na capital Rio Branco,<br />

foi cedida pelo governo estadual<br />

e é gerenciada pela Cooesa, que<br />

se profissionalizou para manter<br />

o local atrativo, lucrativo e<br />

como ponto de divulgação do<br />

artesanato do Acre.<br />

Hoje são 170 cooperados,<br />

mas a rede de beneficiados é<br />

muito maior, já que favorece<br />

desde os responsáveis pela coleta<br />

de matéria-prima até os artesãos.<br />

Coleta esta, cabe ressaltar, que é<br />

feita de maneira sustentável, sem<br />

agredir a fauna e a flora locais.<br />

Mensalmente, o cooperado conta<br />

com o depósito do dinheiro<br />

arrecadado com a venda dos seus produtos, sendo<br />

que 20% vão para a manutenção da Cooesa.<br />

Entre as mercadorias comercializadas pela<br />

cooperativa estão biojóias feitas com sementes;<br />

velas em ouriço – fruto da castanheira-do-brasil,<br />

camisetas e objetos de casa pintados a mão com<br />

desenhos da fauna e flora da Amazônia. São<br />

os animais e plantas que também estampam os<br />

trabalhos de marchetaria, em que caixas e outros<br />

objetos são ornamentados com figuras feitas<br />

com lâminas de madeira de várias cores. O látex,<br />

chamado de leite da seringueira, é transformado<br />

em bolsas, sapatos, porta-treco, jogo americano,<br />

toalhas e tapetes.<br />

Reunidos na Cooesa, os artesãos conseguiram<br />

maior visibilidade, não apenas por terem um local<br />

para exposição dos produtos, mas por contarem<br />

com o trabalho de divulgação feito por Maria de<br />

Fátima e Carlos Taborga. Os cooperados têm ainda<br />

o apoio do governo do Estado e da prefeitura, além<br />

de receberem orientação do Sebrae, como cursos<br />

de capacitação.<br />

Maria de Fátima Taborga and Carlos Laran<br />

Taborga are, respectively, the president and e<br />

administrator to the Cooperative of Economic and<br />

Solidary Products and Services of Acre (Cooesa),<br />

established in 1997. The couple is the main<br />

prospector to the entity and is fully dedicated to<br />

promoting the works of members and winning new<br />

customers. In order to deliver to El Corte Inglés<br />

they have to work as never before, as they received<br />

a 15 thousand piece order, the largest order Cooesa<br />

has received so far, among biojewelry and seed<br />

shells candles.<br />

The union as a cooperative enterprise allowed<br />

the artisans to<br />

undertake, through a<br />

public bid in 2005, the<br />

Casa do Artesão do<br />

Acre (Artisans’ House<br />

in Acre), which was<br />

managed by the State<br />

Secretariat of Tourism,<br />

back then. The building,<br />

located in the capital<br />

Rio Branco, has been<br />

given over by the state<br />

government and is<br />

managed by Cooesa,<br />

which in its turn pursuit<br />

qualification to keep<br />

the place attractive,<br />

profitable and a point of<br />

handicraft promotion in<br />

Acre.<br />

There are 170 members today, though the<br />

network of beneficiated people is much larger, as<br />

it favors from the ones responsible for gathering<br />

raw material to the artisans. It is important to<br />

highlight that such gather is done in a sustainable<br />

way, without harming the local fauna and flora.<br />

Monthly, members rely on the deposit of the money<br />

collected from the selling of products, of which<br />

20% is destined to the maintenance of Cooesa.<br />

Among the goods sold by the cooperative are<br />

biojewelry made of seeds; candles made of seeds<br />

shells – fruits of the Brazil nut; shirts and home<br />

decoration objects hand-painted with Amazonian<br />

fauna and flora motifs. Animals and plants are also<br />

illustrated in marquetry works, where boxes and<br />

other objects are adorned with figures made of<br />

multicolored wood sheets. Latex, called the rubber<br />

tree milk, is transformed into bags, shoes, objects<br />

holders, placemats, towels and mats.<br />

Gathered at Cooesa, artisans gained more<br />

visibility, not only for having a place to exhibit their<br />

tesouros da floresta / treasures of the forest 13


Foi graças a uma dessas aulas que a artesã e<br />

cooperada e vice-presidente da Cooesa, Cesarina<br />

Pereira de França, 42, conseguiu agregar mais<br />

valor ao seu produto. Com a pesquisadora da<br />

Universidade de Brasília (UnB), Denise Vilela,<br />

ela e outros artesãos aprenderam técnicas de uso<br />

de óleos naturais que ajudam na conservação<br />

e aumentam a durabilidade da matéria-prima<br />

utilizada em seu artesanato.<br />

Nas mãos de Cesarina, sementes de jarina,<br />

conhecida como marfim vegetal da Amazônia,<br />

oriunda de uma palmeira, assim como o açaí,<br />

patuá, comaru-ferro são transformados em colares,<br />

pulseiras e brincos.<br />

Fundadora do grupo Biojóias da Amazônia,<br />

Cesarina participou da criação da Cooesa. Exfuncionária<br />

de uma panificadora, mas que fazia<br />

manualmente convites de casamento e festas de 15<br />

anos, ela viu no artesanato a solução para os seus<br />

problemas financeiros, após ficar desempregada.<br />

“Quando descobri as sementes, me apaixonei de<br />

vez pelo artesanato, e até deixei a arte de fazer os<br />

convites”, relembra.<br />

Com o tempo, o trabalho de Cesarina e o lucro<br />

obtido com as sementes fizeram marido, filhos e o<br />

irmão aderirem à confecção de jóia, e hoje toda a<br />

família vive do artesanato.<br />

14 tesouros da floresta / treasures of the forest<br />

products but also for relying on the promotional<br />

work performed by Maria de Fátima and Carlos<br />

Taborga. Members of the cooperative enterprise<br />

also receive support from the state and city<br />

governments, besides receiving guidance from<br />

Sebrae, as qualification courses.<br />

Thanks to some of these classes the artisan,<br />

member and vice-president of Cooesa, Cesarina<br />

Pereira de França, 42, managed to add more value<br />

to her products. Together with Denise Vilela, a<br />

University of Brasília (UnB) researcher, Cesarina<br />

and other artisans learned techniques for the use<br />

of natural oils that help in the preservation and<br />

durability of the raw material employed in their art<br />

works.<br />

In Cesarina’s hands jarina’s seeds (also known<br />

as the vegetal ivory of Amazon, originated from a<br />

palm tree just like açaí, patuá, and comaru-ferro),<br />

are transformed into necklaces, bracelets and<br />

earrings.<br />

The founder of the group Biojewelry of the<br />

Amazon, Cesarina participated in the creation of<br />

Cooesa. A former worker in a bakery who would<br />

also produce, manually, debutant and wedding<br />

parties invitations, she saw in handicraft the<br />

solution to her financial problems, after becoming<br />

unemployed. “When I discovered the seeds, I<br />

totally fell in love with handicraft and even quit<br />

producing the invitations”, she recalls.<br />

As time passed the work of Cesarina and the<br />

profit made from the seeds made her husband,<br />

children and brother adhere to the production<br />

of jewelry, and now her entire family live from<br />

handicraft.


União e força<br />

Após uma reunião na Secretaria de Pequenos<br />

Negócios do Acre e antes de embarcar para<br />

participar da Feira de Economia Solidária do<br />

Mercosul, no Rio Grande do Sul, a artesã Márcia<br />

Silva de Lima falou sobre a sua prioridade<br />

atualmente: atender à encomenda da El Corte<br />

Inglés à Associação Acreana Buriti da Amazônia,<br />

entidade fundada por Márcia e que terá que<br />

produzir 16.300 peças para a rede européia, que<br />

se junta agora a outros clients estrangeiros da<br />

entidade.<br />

Desde criança, Márcia gostava de artesanato. Na<br />

vida adulta, escolheu a palha e as sementes de buriti<br />

(uma espécie de palmeira) para trabalhar, e passou<br />

a ministrar cursos financiados por fundações,<br />

governos e entidades. Mas algo a incomodava:<br />

seus alunos, depois de formados, não conseguiam<br />

condições para colocar os conhecimentos em<br />

prática.<br />

Márcia reuniu 18 deles e dediciu fundar, há 17<br />

anos, a Associação Acreana Buriti da Amazônia.<br />

Já no primeiro ano receberam uma encomenda<br />

da Escola de Samba Beija-Flor, do Rio de Janeiro,<br />

para confecção de bolsas. “Chamei os alunos,<br />

fizemos o design, os protótipos e todos adoraram”,<br />

disse Márcia. Mas como a encomenda era grande<br />

e não havia recursos, Márcia e os alunos fizeram<br />

rodízio na venda de sanduíches em uma escola e<br />

conseguiram, em um mês, dinheiro para a compra<br />

do maquinário.<br />

Daí em diante, Márcia não parou mais. Buscou<br />

parcerias no Sebrae, na Secretaria de Turismo<br />

do Acre, entre outros. Seu esforço resultou em<br />

vendas e a associação conseguiu juntar recursos<br />

para divulgar a arte com o buriti em várias<br />

partes do país e do mundo. “Passamos a adquirir<br />

estandes em feiras, onde fazíamos contato com<br />

compradores de todo o planeta”. Jóias, objetos de<br />

decoração e adorno da associação já chegaram a<br />

Itália, Holanda, Japão e Estados Unidos.<br />

Union and power<br />

After a meeting at the Secretariat for Small<br />

Business in Acre and before going to participating<br />

in the Mercosul Solidary Economy Exhibit in<br />

Rio Grande do Sul, artisan Márcia Silva de Lima<br />

commented on its current priority: delivering<br />

the order made by El Corte Inglés to the Acrean<br />

Association Buriti da Amazônia, an entity<br />

established by Márcia that receive the incumbency<br />

of producing 16,300 pieces to the European<br />

chain, joining now other foreign customers of the<br />

enterprise.<br />

As a child, Márcia already liked handicraft. In<br />

adult life, she has chosen the straw and seeds of<br />

buriti (a type of palm tree) as work material and<br />

started to offer courses funded by foundations,<br />

governments and corporations. Yet, there was<br />

something bothering her: her pupils, after taking<br />

the courses, could not make it to put the knowledge<br />

into practice.<br />

Márcia gathered 18 of them and decided<br />

to establish the Acrean Association Buriti da<br />

Amazônia, 17 years ago. Right at the first year<br />

they received an order from the Escola de Samba<br />

Beija-Flor (Beija-Flor Samba School), from Rio de<br />

Janeiro, to produce bags. “I gathered the students,<br />

we worked on design, prototypes and everyone<br />

loved it”, said Márcia. But, as the order was massive<br />

and resources scarce, Márcia and the students<br />

alternated shifts selling sandwiches in a school and<br />

managed to raise, within a month, money enough<br />

to buy the tools required.<br />

From there, Márcia has not stopped. She<br />

searched partnerships at Sebrae, at the Secretariat<br />

of Tourism in Acre, among other. Her efforts<br />

resulted in sales and the association managed<br />

to raise funds to promote artistic works using<br />

buriti in several places in the country and abroad.<br />

“We started to buy booths in exhibits, where we<br />

established contact with buyers from everywhere<br />

in the planet”. The jewelry and decoration objects<br />

produced by the association have already reached<br />

Italy, Japan and the United States.<br />

tesouros da floresta / treasures of the forest 15


A arte de vencer<br />

Três amigas com habilidades diferentes para o<br />

artesanato, mas com a mesma dificuldade para<br />

expor e vender seus produtos. Se unissem forças,<br />

elas acreditavam que esse obstáculo seria vencido;<br />

e assim o fizeram. Em 2010, a união das amigas<br />

foi consolidada com a fundação da Cooperativa de<br />

Artesãos Mulheres Arte de Vencer (Cooper MAV),<br />

que hoje reúne 20 cooperadas.<br />

Os trabalhos são divididos em três linhas<br />

de produção. A moda casa, que deu inicio à<br />

cooperativa, em que são confeccionados panos<br />

de mesa, fogão, geladeira, tapetes e guardanapos,<br />

utilizando técnicas como o crochê, fuxico,<br />

macramê, costura e pintura. Moda família, com a<br />

produção principalmente de camisetas pintadas<br />

à mão. A linha de biojóias feitas com sementes,<br />

junto com os trabalhos em madeiras, com foco<br />

na reprodução de animais da floresta, como<br />

araras e tucanos.<br />

Para a rede El Corte Inglés, a cooperativa<br />

produzirá camisetas, almofadas e panos<br />

de prato pintados a mão, como informa a<br />

presidente da Cooper MAV, Othília Batista<br />

Melo de Sampaio. São 600 peças no total,<br />

que exigirão trabalho extra das artesãs,<br />

uma vez que a arte da pintura não pode<br />

ser ensinada no curto prazo.<br />

Em busca de aumentar a produção e<br />

permitir que mais acreanos tenham uma<br />

opção de renda, a cooperativa firmou<br />

parceria com o Rotary e as artesãs<br />

oferecem cursos para a formação de<br />

novos profissionais. E as próprias<br />

fundadoras também estão em<br />

reciclagem e aprendizado<br />

constante. Depois de participar<br />

do encontro em Brasília com<br />

representantes da loja de departamentos<br />

El Corte Inglés, Othília já esteve em outros<br />

Estados do país em busca do crescimento da<br />

cooperativa.<br />

Em São Paulo, junto com outras três cooperadas,<br />

Othília participou de cursos na Mega Artesanal,<br />

feira de oficinas de aprimoramento e divulgação<br />

de novidades aos artesãos. O artesanato rendeu<br />

frutos até na família de Othília. Sua filha Magali<br />

Sampaio, 35, também se tornou cooperada e<br />

realiza bordados em ponto vagonite - desenhos<br />

feitos com a trama de linhas.<br />

As três entidades vivem agora a expectativa de<br />

que seus produtos sejam bem aceitos pelos clientes<br />

da El Corte Inglés, abrindo um Mercado firme<br />

para o artesanato acreano na Europa.<br />

16 tesouros da floresta / treasures of the forest<br />

The art of winning<br />

Three friends with different skills for handicraft,<br />

but experiencing the same difficulties to exhibit<br />

and sell their products. They believed that if they<br />

joined efforts such obstacles would be conquered,<br />

and so they did: in 2010, the union of friends<br />

was consolidated with the establishment of the<br />

Cooperative of Women Artisans<br />

Arte de Vencer (Cooper MAV), with<br />

20 members, currently.<br />

Works are divided into three<br />

production lines: home fashion, which<br />

initiated the cooperative works and where<br />

table, stove and fridge cloths are produced<br />

besides mats and napkins, using techniques as<br />

crochet, fuxico (round pleated pieces of cloth),<br />

macramé, sewing and painting; family fashion,<br />

with the production of hand-painted shirts,<br />

specially; biojewelry line made with seeds and<br />

crafts in wood, focused on the reproduction of the<br />

rainforest animals such as macaws and toucans.<br />

As for the El Corte Inglés chain, the cooperative<br />

will produce hand-painted shirts, cushions and<br />

table cloths, as informed by the president of Cooper<br />

MAV, Othília Batista Melo de Sampaio. These will<br />

be 600 pieces in total, demanding extra work from<br />

the artisans, as art painting work cannot be taught<br />

in such short term.<br />

Seeking to increase production and allowing<br />

more Acreans to have an income option, the<br />

cooperative signed a partnership with the<br />

Rotary Club and artisans offer courses for the<br />

qualification of new professionals. And the<br />

founders themselves are in a continual process<br />

of re-qualification and learning.<br />

After participating in a meeting in<br />

Brasília with representatives from<br />

the El Corte Inglés department<br />

store chain, Othília has already<br />

visited other states in the country,<br />

aiming the expansion of the cooperative.<br />

In São Paulo, together with other three members,<br />

Othília participated in courses at Mega Artesanal,<br />

a qualification and promotion workshops exhibit<br />

for artisans. Handicraft has been productive even<br />

within Othília’s family. Her daughter Magali<br />

Sampaio, 35, has also become a member in the<br />

cooperative and performs embroidery in huckweaving<br />

stitch – drawings made by the woof of<br />

threads.<br />

The three entities now live the expectation of<br />

having the successful acceptance of their products<br />

by the customers of El Corte Inglés, opening a<br />

loyal market to Acrean handicraft in Europe.


Pública<br />

PRESENTE NO AÇO<br />

QUE VOCÊ TOCA.<br />

PRESENTE NA ARTE<br />

QUE VOCÊ APRECIA.<br />

PRESENT IN THE STEEL YOU TOUCH.<br />

PRESENT IN THE ART YOU ENJOY.<br />

Para fazer parte da vida das pessoas, o aço Usiminas se apresenta de várias formas. Ele está nos eletrodomésticos, casas,<br />

carros, pontes e também na diversão, na cultura e no artesanato. A Usiminas é a maior investidora em cultura de Minas Gerais,<br />

e uma das maiores do Brasil. Foram mais de 1.500 projetos patrocinados em 18 anos. Por meio do Instituto Cultural Usiminas,<br />

a empresa investe na inclusão, formação e desenvolvimento do cidadão.<br />

Usiminas steel is found in many forms in people’s life. It’s in the home appliances, houses, cars, bridges, and also in the arts,<br />

entertainment and handcrafting. Usiminas is the largest investor in culture in Minas Gerais and one of the largest in Brazil,<br />

having sponsored more than 1,500 projects over the past 18 years. Through its Cultural Institute, Usiminas invests in the citizen’s<br />

education, inclusion and growth.<br />

Usiminas.<br />

Fazer melhor sempre. | Always doing the best.<br />

www.usiminas.com<br />

Orquestra de Câmara Jovem de Ipatinga<br />

Youth Chamber Orchestra of Ipatinga


All lumber is noble for a marquetry master<br />

Tacos, galhos e móveis velhos se transformam em arte nas mãos de Elsio Moriani<br />

Old furniture, branches and wooden floor tiles become art in the hands of Elsio Moriani<br />

No final do século passado,<br />

aos 30 anos, Elsio Moriani (pronuncia-se Elcio)<br />

encontrou uma pedra no meio do caminho,<br />

mas essa pedra iria se transformar em madeira.<br />

O casamento de cinco anos tinha terminado. E<br />

também sua relação com a fotografia, que era seu<br />

ganha-pão há vários anos. Aprendera o ofício<br />

trabalhando no departamento de arte final de uma<br />

agência de publicidade, seu primeiro emprego<br />

formal, na virada dos 17 para os 18 anos, em<br />

Brasília, onde nasceu e vive<br />

até hoje.<br />

Depois de alguma<br />

errância, Elsio encontrou a<br />

redenção no talento manual<br />

da herança familiar. Foi o que<br />

permitiu que progredisse na<br />

seara artística. De cinco anos<br />

para cá, tornou-se um craque<br />

da marchetaria. Sua obra,<br />

que pôde ser vista até 2 de<br />

julho na exposição coletiva<br />

“Eu e o Meio Ambiente”,<br />

nas galerias do Senado,<br />

começa a ser conhecida<br />

nacionalmente. Em breve,<br />

também será apreciada na<br />

Europa, na vitrine das 82<br />

lojas de departamento El Corte Inglés, distribuídas<br />

entre Espanha e Portugal.<br />

18 arte em madeira / art in wood<br />

POR /BY Antônio Siúves<br />

FOTOS / PHOTOS Elsio Moriani<br />

In the end of the last<br />

century, at age 30, Elsio Moriani found a rock<br />

on his path, but this rock would soon turn into<br />

wood. His five-year marriage was over, as well as<br />

his experience with photography, which had been<br />

his profession for many years. He had learned this<br />

craft while working in the artwork department of<br />

an advertising agency, his first formal job, between<br />

the ages of 17 and 18 in Brasília, where he was born<br />

and still lives.<br />

After some<br />

wandering, Elsio<br />

found redemption<br />

in the manual talent<br />

that runs in his<br />

family. This allowed<br />

him to progress in<br />

the artistic field.<br />

Throughout the<br />

last five years, he<br />

became an expert<br />

in marquetry. His<br />

work, having been<br />

displayed until July<br />

2nd at the collective<br />

exhibition “Me and<br />

the Environment”,<br />

at the Senate<br />

galleries, started to gain national recognition.<br />

Soon, it will also be appreciated in Europe on 82<br />

El Corte Inglés department stores, which spread<br />

between Spain and Portugal.


De volta um pouquinho no tempo, a 1999. Sem<br />

o casamento e longe da fotografia, Elsio Moriani<br />

foi à luta. “Eu vivia uma situação meio sem rumo”<br />

– ele conta –. “Fiquei desempregado e fui pulando<br />

de emprego em emprego. Trabalhei no Senai aqui<br />

em Brasília, no Ministério do Trabalho e em outros<br />

lugares. Sei que não tenho dom para funcionário<br />

público”.<br />

Neto do marceneiro Mario Moriani – que tinha<br />

negócio próprio na Barra Funda em São Paulo e<br />

com quem conviveu um pouco na infância – e filho<br />

do também marceneiro e tapeceiro Walter Moriani,<br />

um pioneiro da Capital Federal que atendeu com<br />

seus serviços o Palácio do Planalto e o Itamaraty,<br />

o próprio Elsio chegou a trabalhar por seis meses,<br />

na adolescência, como auxiliar de marcenaria no<br />

então recém-criado Estado do Tocantins. Ele tinha,<br />

portanto, um background onde pudesse ancorar.<br />

A vontade de trabalhar por conta própria<br />

o levou a voltar os olhos para o artesanato. Em<br />

2006, começou a fazer bijuterias, brincos e anéis,<br />

observando o trabalho de alguns artesãos e<br />

marcheteiros de Brasília. De ver fazer, aprendeu<br />

praticamente sozinho e procurou andar numa<br />

trilha que ele mesmo conseguisse abrir.<br />

Logo passou a criar “biojóias” – jóia feita com<br />

produtos naturais, como ele define – objetos e<br />

quadros decorativos que são mais propriamente<br />

esculturas em forma de painéis, compostas com<br />

tramas de pedaços de madeira talhada. “Pensava<br />

no meu pai, que era muito bom, um tremendo<br />

artista, e fui descobrir que tinha esse talento depois<br />

de velho”, diz Elsio. Ele se considera “um eterno<br />

aprendiz dessa área”.<br />

Para ele, a madeira é uma jóia que está<br />

ficando escassa na natureza, mas que, quando<br />

pode ser aproveitada, ou, na maioria das vezes,<br />

reaproveitada, torna-se ouro puro. Ele recolhe<br />

sobras de podas, galhos cortados de árvores velhas<br />

que ameaçam cair, e tudo mais que coleta Brasília<br />

afora, inclusive toras de mangueiras e abacateiros<br />

sacrificados na vizinhança. Leva para a pequena<br />

oficina, montada no pequeno terraço de fundos<br />

da casa onde vive sozinho, em Gama, madeira de<br />

demolição, portais, tacos jogados fora, pisos de<br />

madeira e verdadeiros tesouros que encontra na<br />

rua, no meio do caminho.<br />

Elsio demonstra uma intensa relação de afeto<br />

com a principal matéria-prima da atividade<br />

que hoje provê inteiramente seu sustento e o faz<br />

prosperar na vida. Para ele, toda madeira é boa,<br />

toda madeira é nobre, e algumas prendas que acha<br />

nas ruas são inesquecíveis, autênticos troféus.<br />

“Tenho que perder um pouco de tempo caçando<br />

essas madeiras. Outro dia, vindo da reunião de<br />

Let us go back in time a little, to 1999. With his<br />

marriage over and away from photography, Elsio<br />

Moriani decided to make a change. “I was living in<br />

a situation where I had no goals” – says Elsio –. “I<br />

was unemployed and kept going from job to job. I<br />

worked at Senai, here in Brasília, at the Ministry of<br />

Labor and other places. I know I have no talent to<br />

be a civil servant”.<br />

Being the grandson of carpenter Mario Moriani,<br />

who had his own business at Barra Funda, São Paulo<br />

and Elsio knew as a child – and the son of Walter<br />

Moriani, also a carpenter and a tapestry maker, a<br />

pioneer in the Federal capital, having provided his<br />

services to the Presidential Palace and the Ministry<br />

of Foreign Relations; Elsio himself worked for six<br />

months, during his teenage years, as a carpentry<br />

assistant in the recently created Tocantins State.<br />

Thus, he had a background which could provide<br />

him support.<br />

The desire to work for himself drove him to<br />

turn his attention handicraft. In 2006, he began<br />

making jewelry, earrings and rings, by watching<br />

the work of other artisans and marquetry makers<br />

in Brasília. He practically learned the craft by<br />

himself, only from watching, and started to seek<br />

his own signature path.<br />

He soon started creating “biojewelry” – jewelry<br />

made from natural materials, as he defines it –<br />

objects and decorative paintings which can be<br />

defined as panel-shaped sculptures, composed by<br />

weft and carved wood pieces. “I used to think of<br />

my father, who was very good, a tremendous artist,<br />

and I only discovered I had this talent at an older<br />

age”, says Elsio. He considers himself “an eternal<br />

apprentice in this area”.<br />

To him, wood is a jewel that is getting scarcer<br />

in nature, but when it’s used, or, most of the time,<br />

reused, turns into pure gold. He collects pruning<br />

remnants, branches cut from old, falling trees, and<br />

everything else available around Brasília, including<br />

logs from mango and avocado trees torn down<br />

along surrounding areas. He takes everything to<br />

his small workshop, set in a small terrace in the<br />

back of his house, where he lives alone, in the city<br />

of Gama; demolition wood, thrown away parquet<br />

floor tiles, hardwood floors and true treasures he<br />

finds on the street, on his path.<br />

Elsio shows an intense affection for the main<br />

raw material used in the activity that currently<br />

provides his living, and makes him prosper in life.<br />

To him, all lumber is good, all lumber is noble, and<br />

some treats he finds in the streets are unforgettable,<br />

authentic trophies. “I always need to put quite<br />

some time into hunting for wood. The other day,<br />

when I was returning from a meeting of the artisan<br />

arte em madeira / art in wood 19


uma associação de artesãos de que participo, vi<br />

uma cama de cerejeira, uma cama de casal inteira<br />

jogada fora. Para mim, isso é maravilhoso. É uma<br />

madeira linda. Provavelmente vai virar portajóias”,<br />

imagina.<br />

Os porta-jóias talhados são pequenas<br />

esculturas, com gavetas em formatos variados e<br />

desenhos sinuosos que lembram ora contorções<br />

vegetais do planalto central, ora bichos da fauna<br />

brasileira. Estão entre as peças de maior sucesso do<br />

seu catálogo e foram incluídas na encomenda do<br />

El Corte Inglês. Elsio também confecciona outros<br />

objetos de decoração utilitários, como fruteiras,<br />

bandejas, banquetas, além de brincos e anéis de<br />

grande aceitação.<br />

A madeira cortada é enriquecida com<br />

sementes e pedras – principalmente<br />

quartzo branco e verde, que recebe de<br />

um fornecedor de Cristalina, cidade<br />

vizinha no Estado de Goiás. Às vezes<br />

adiciona uma água marinha, raramente<br />

um toque de prata. Tal prática é a essência<br />

da marchetaria.<br />

Os painéis, ou esculturas chapadas,<br />

como ele explica essas obras, são<br />

criadas para ser dependurados na<br />

parede. As molduras ganham ricas<br />

composições de madeira recortada,<br />

com texturas e tons variados, sempre<br />

no colorido natural da matéria.<br />

O efeito harmonioso das tramas<br />

exprime o exercício criativo do artista.<br />

“Movimentos Geométricos”, “Janelas<br />

da Cidade”, “Cata-vento” são alguns<br />

dos títulos com os quais batiza esses<br />

trabalhos (podem ser visto em seu<br />

blog, no endereço http://artemoriani.<br />

blogspot.com/). As peças recebem uma<br />

camada de selador que o próprio Elsio prepara<br />

à base de cera de carnaúba ou de abelha, para<br />

conferir durabilidade.<br />

As obras são concebidas a partir do que a<br />

madeira encontrada sugere – quadro, porta-jóia<br />

ou bijuteria. Mas as ideias podem surgir a qualquer<br />

momento e lugar. “Ando sempre com uma agenda.<br />

A coisa acontece de repente”, descreve. “Estou<br />

dentro do ônibus e me vem a ideia de fazer alguma<br />

coisa. Vou e rabisco o que está na cabeça. Depois<br />

elaboro o desenho e vejo a viabilidade, se é possível<br />

produzir bastantes peças a partir daquele ideia”.<br />

Sabe que é preciso sempre apresentar novidades<br />

aos compradores e que se não fizer isso não vende.<br />

“Você é valorizado à medida que é capaz de colocar<br />

coisas novas na praça”, diz.<br />

20 arte em madeira / art in wood<br />

association in which I take part, I saw a cherry<br />

wood bed, an entire double bed that had been<br />

thrown away. To me, that’s a wonderful thing. It is<br />

a beautiful type of wood. It will probably become a<br />

jewelry box”, he imagines.<br />

The carved jewelry boxes are small sculptures<br />

with drawers in several shapes and sinuous patterns<br />

that resemble the twisted vegetation of the central<br />

plateau and the animals of the Brazilian fauna.<br />

They are among the most admired pieces on his<br />

catalog and were also ordered by El Corte Inglés.<br />

Elsio also makes other utilitarian decor objects,<br />

such as fruit bowls, trays, stools and earrings and<br />

rings which are highly appreciated.<br />

The pieces of wood are enriched with seeds and<br />

stones – mostly white and green<br />

quartz sent by supplier form<br />

Cristalina, a neighboring city in<br />

the Goiás State. He sometimes<br />

adds an aquamarine and, rarely,<br />

a touch of silver. This practice<br />

is the essence of marquetry.<br />

The panels or plain<br />

sculptures, as he refers to these<br />

works, are made to be hung on<br />

walls. The frames are enhanced<br />

with cut wood compositions,<br />

with multiple textures and tones,<br />

always in the natural material<br />

colors. The harmonious effect of<br />

the frames expresses the artist’s<br />

creative efforts. “Geometric<br />

Movements”, “City Windows”<br />

and “Pinwheel” are some of the<br />

names he has given these works<br />

(which can be seen on his blog at<br />

http://artemoriani.blogspot.com/).<br />

T h e pieces receive a sealing layer, prepared by<br />

Elsio himself and based on carnaúba or beeswax,<br />

to grant durability.<br />

The works are conceived from what the<br />

collected wood suggests – flat sculptures, jewelry<br />

boxes, or imitation jewelry. But the ideas can arrive<br />

at anytime, anywhere. “I always carry a notebook.<br />

Things happen out of the blue”, he describes. “I’m<br />

on the bus, and the idea of doing something comes.<br />

I scribble what’s in my head. Then I elaborate the<br />

design and see if it is doable, if it is possible to<br />

make a piece from that idea”. He knows he needs<br />

to present new material to the buyers and that if he<br />

doesn’t, he won’t sell his products. “You are valued<br />

as long as you are capable of putting new things on<br />

the table”, he says.


A marchetaria de Elsio frisa o sentido da palavra<br />

sustentabilidade e reflete um modo novo de ele<br />

encarar a vida. “Comecei a sentir a necessidade<br />

de mudar minha consciência com o trabalho de<br />

reaproveitamento. Mudei e continuo mudando,<br />

aprendendo a cada dia. É um processo. Isso me<br />

faz pensar no futuro que nossos filhos vão ver”,<br />

concebe. Elsio é pai de Henrique, de 15 anos, e<br />

Helena, que tem sete.<br />

Ele abriu uma empresa individual com suporte<br />

do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas<br />

Empresas (Sebrae); fora o apoio dessa instituição,<br />

lembra que teve uma ajuda da Secretaria do<br />

Trabalho do Distrito Federal no começo da nova<br />

carreira, uma ajuda financeira de R$ 2.000.<br />

Trabalha sozinho na pequena oficina em Gama<br />

– a dez minutos da região central de Brasília. Tem<br />

algumas poucas máquinas, duas serras, lixadeira<br />

e furadeira de bancada. Ali, produz ao todo, na<br />

média, mil unidades por mês, entre anéis, brincos,<br />

porta-jóias e outras peças. Os painéis demandam<br />

mais tempo, pelo menos um mês entre elaboração e<br />

acabamento. Às vezes, quando os pedidos apertam,<br />

contrata um ajudante diarista.<br />

A presença de Elsio na Feira Botânica, conhecida<br />

atração de Brasília dedicada a produtos sustentáveis,<br />

se reduziu a um comparecimento por mês. Aos<br />

poucos, está trocando o varejo pelo atacado.<br />

Tem clientes fixos entre os lojistas de Brasília e<br />

nos últimos dois anos começou a apresentar seu<br />

artesanato a lojas e butiques especializadas no país.<br />

Já viajou ao Ceará, Piauí, Rio de Janeiro, a São<br />

Paulo – onde participa do Salão do Turismo, que<br />

vai até 17 de julho, no Anhembi – e Minas Gerais.<br />

Elsio’s marquetry emphasizes the meaning of<br />

the word sustainability and reflects a new way<br />

of looking at life. “I started to feel the need of<br />

changing my conscience through my work with<br />

recycling. I changed and I keep changing, learning<br />

every day. It’s a process. It makes me think of the<br />

future our children will see”, he reflects. Elsio has<br />

two children, Henrique, age 15, and Helena, age 7.<br />

He started an individual business supported<br />

by Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e<br />

Pequenas Empresas, Brazilian Service of Support<br />

to Micro and Small Businesses); besides this<br />

institutional support, he was also supported by<br />

the Department of Labor of the Brazilian Federal<br />

District in the beginning of this new career,<br />

receiving a financial aid of R$2,000.00.<br />

He works by himself at his small workshop in<br />

Gama – ten minutes away from Brasília’s central<br />

region. He owns a few machines, two saws, a sander<br />

and a bench drill. There he produces, on average, a<br />

thousand pieces a month, among earrings, rings,<br />

jewelry boxes and others. The panels demand<br />

more time, at least a month between development<br />

and finishing. Sometimes, when he has too many<br />

orders, he hires an assistant.<br />

Elsio’s presence at the Feira Botânica (Botanic<br />

Fair), a well-known attraction in Brasília<br />

dedicated to sustainable products, was reduced<br />

to one attendance per month. Little by little, he is<br />

changing from retail to wholesale. He has regular<br />

customers among Brasília’s shopkeepers and, in the<br />

last two years, he began to introduce his handicraft<br />

to specialty stores and boutiques throughout the<br />

country. He has been to the Ceará, Piauí, Rio de<br />

arte em madeira / art in wood 21


Já tem clientes no Rio e em São Paulo, de quem<br />

recebe pedidos por e-mail.<br />

A ampliação da escala de produção o levou a<br />

participar da rodada de negócios com executivos<br />

do El Corte Inglés, promovida no último dia 17 de<br />

maio, em Brasília. Elsio recebeu a encomenda de<br />

600 peças – cem caixas porta-jóias, 200 brincos e<br />

300 anéis. Na primeira semana de julho, quando<br />

falou com a “Brasil Feito a Mão”, ele aguardava<br />

a celebração final do contrato para iniciar a<br />

produção das peças, com entrega<br />

prevista para novembro deste ano;<br />

a assinatura do contrato agora<br />

vai permitir que ele trabalhe com<br />

tranqüilidade nos pedidos. Espera<br />

dar conta de confeccionar todas as<br />

unidades sozinho, com a aquisição<br />

de mais duas máquinas para a<br />

oficina, mas se precisar vai recorrer<br />

à ajuda necessária com a gente<br />

conhecida do bairro.<br />

A vida de produtor de arte sustentável de<br />

qualidade que descobriu deu a ele os rumos<br />

que procurava. Anda animado para cumprir o<br />

“batidão”, como se refere à jornada diária das<br />

8h às 18h que mantém no ateliê-oficina. Para se<br />

aprimorar, espera conseguir se matricular em<br />

cursos de design industrial e de interiores. “Não<br />

sobrou grana para isso ainda”, ele explica. Até o fim<br />

do ano ele se casa pela segunda vez.<br />

22 arte em madeira / art in wood<br />

Janeiro, São Paulo – where he attends the Salão do<br />

Turismo (Tourism Fair), which happens until July<br />

17th, at Anhembi –, and Minas Gerais States. He<br />

already has clients in Rio and São Paulo who order<br />

his pieces via email.<br />

The expansion of the production scale led him<br />

to attend the round of negotiations with El Corte<br />

Inglés executives, held on May 17th, in Brasília.<br />

Elsio received an order of 600 pieces – 100 jewelry<br />

boxes, 200 earrings, and 300 rings. On the first<br />

week of July, when he spoke to the<br />

“Brasil feito a Mão”(“Handmade<br />

Brazil”) magazine, he was waiting for<br />

the final contract confirmation in order<br />

to begin producing the pieces, to be<br />

delivered in November; signing this<br />

contract will allow him to work calmly<br />

on his orders. He expects to produce<br />

all units by himself, after purchasing<br />

two new machines for the workshop,<br />

but if needed he will hire people from his own<br />

neighborhood.<br />

His newly discovered life as a sustainable art<br />

producer provided him with the goals he was<br />

looking for. He’s been enjoying his daily journey<br />

from 8 AM to 6 PM at the workshop. In order to<br />

improve his work, he seeks to enroll in industrial<br />

and interior design courses. “There is not enough<br />

money for that yet”, he explains. By the end of this<br />

year, he will be getting married for the second time.


Mudança de vida<br />

e<br />

uM salto de qualidade<br />

life change and a quality leap<br />

Exportação muda patamar do artesanato com<br />

reciclados e tecidos de Thiago Silva<br />

Thiago Silva’s recycled product and fabric handicraft<br />

improves through exportation<br />

POR /BY Antônio Siúves<br />

FOTOS / PHOTOS Martinez Fotografia<br />

Dois acontecimentos mudaram<br />

a vida de Thiago Silva de um ano e meio para<br />

cá. Primeiro, ele tomou coragem para deixar um<br />

emprego estável, de funcionário administrativo<br />

concursado da Prefeitura de Lagoa Santa, para<br />

se dedicar integralmente ao artesanato. Logo em<br />

seguida, se viu diante de uma grande oportunidade<br />

inesperada, que não deixaria escapar. No começo<br />

de julho, havia dado os últimos passos para fechar<br />

um contrato de exportação com a rede de lojas<br />

de departamentos europeia El Corte Inglés e ver<br />

suas criações oferecidas a consumidores espanhóis<br />

e portugueses. Para isso, teve que redimensionar<br />

seu ateliê, o ReTHalho, e se preparar para os<br />

novos desafios, com o apoio do Instituto <strong>Centro</strong><br />

de Capacitação e Apoio ao Empreendedor (<strong>Centro</strong><br />

<strong>Cape</strong>).<br />

Thiago Silva has had two life changing<br />

events over the past year and a half. First, he took<br />

the courage to leave a steady job as a civil servant in<br />

Lagoa Santa in order to dedicate himself exclusively<br />

to handicraft. Next, he found himself facing a great,<br />

unexpected opportunity, which he wouldn’t miss.<br />

In early July, he completed the last steps to sign<br />

an export contract with the European department<br />

store El Corte Inglés and see his works offered to<br />

Portuguese and Spanish customers. In order to do<br />

so, he had to rescale his studio, called ReTHalho,<br />

and prepare for these new challenges with the<br />

support of <strong>Centro</strong> <strong>Cape</strong> (<strong>Centro</strong> de Capacitação e<br />

Apoio ao Empreendedor, Entrepreneurial Training<br />

and Support Center).<br />

tecidos e cores / fabrics and colours 23


Há seis anos, Thiago começou a fazer<br />

ecocarteiras – carteiras de dinheiro confeccionadas<br />

com embalagens de leite tetra-pak e forradas<br />

com tecido; hoje, produz 25 tipos de peças com<br />

material reciclado, retalhos e tecidos variados.<br />

Seus trabalhos incluem objetos de uso doméstico<br />

e decorativo, como anéis de guardanapos, quadros<br />

de recado, porta-chaves e vasos de flores.<br />

Logo, chamou atenção dos amigos e conquistou<br />

os primeiros clientes, mas o negócio ia devagar.<br />

“Não levava a coisa muito a sério, não conseguia<br />

atender às encomendas, era tudo meio confuso”,<br />

ele conta. Incentivado pelos sogros, com quem<br />

morava com a mulher e os dois filhos do casal, e<br />

com a colaboração de uma amiga, aos poucos se<br />

deixou convencer a apostar no próprio talento,<br />

talento que para ele ainda<br />

não era evidente. “Não tinha<br />

noção da minha capacidade<br />

de criação”, lembra.<br />

Depois de cinco anos<br />

no funcionalismo público<br />

municipal, resolveu dar uma<br />

guinada na vida. “Durante<br />

uma conversa, minha sogra<br />

me deu a ideia, por acreditar<br />

demais em mim, de eu<br />

largar tudo e investir nisso”,<br />

recorda Thiago. “Com a<br />

corda do pescoço”, como<br />

diz, custou a ceder, mas<br />

acabou por “meter as caras”<br />

no artesanato. Os sogros lhe<br />

emprestaram os primeiros<br />

recursos e ele então abriu<br />

o ReTHalho, ateliê que fica<br />

dentro de Lagoa Santa, no<br />

bairro Ovídio Guerra, a<br />

dez minutos do centro da<br />

cidade.<br />

O sucesso de Thiago<br />

acompanhou a expansão da Artessanta, feira<br />

de artesanato que acontece todo sábado, das 9h<br />

às 17h, na orla da lagoa que batiza o município<br />

da região metropolitana de Belo Horizonte,<br />

em Minas Gerais. Há mais ou menos três anos,<br />

apenas doces e panos de prato decorados eram<br />

vendidos no local, em meia dúzia de barraquinhas.<br />

A feira cresceu, recebe hoje 120 expositores e<br />

uma freguesia de bom poder aquisitivo. “Temos<br />

trabalhos deslumbrantes lá, e minha experiência é<br />

muito boa. Nossa clientela principal é formada por<br />

moradores dos condomínios de luxo ao redor de<br />

Lagoa Santa”, conta.<br />

24 tecidos e cores / fabrics and colours<br />

Six years ago, Thiago started making ecowallets<br />

– wallets made from tetra-pak milk cartons<br />

and fabrics; nowadays, he produces 25 types<br />

of products with recycled material, different<br />

fabrics and patches. His work includes objects for<br />

domestic and decorative use such as napkin rings,<br />

note boards, key holders and flower vases.<br />

Soon, he caught the attention of his friends<br />

and conquered his first clients, but business was<br />

still slow. “I didn’t take it very seriously, I couldn’t<br />

deliver all the orders, it was all a little confusing”,<br />

he tells. Encouraged by his in-laws, with whom he<br />

lives along with his wife and two children, and with<br />

the help of a friend, he was eventually convinced to<br />

invest in his talent, which was still not evident to<br />

him. “I wasn’t aware of my own creation ability”, he<br />

remembers.<br />

After five years of<br />

municipal public service,<br />

he decided to take a<br />

serious turn in his life.<br />

“During a conversation<br />

with my mother-in-law,<br />

she suggested I should<br />

drop everything and invest<br />

in my handicraft, because<br />

she really believed in me”,<br />

Thiago remembers. “Having<br />

the rope on his neck”, as he<br />

says, he ended up giving in<br />

and finally decided to “dive<br />

into” his handicraft. His<br />

in-laws lent him the initial<br />

resources and he opened<br />

his studio, ReTHalho,<br />

at the Ovídio Guerra<br />

neighborhood, in the city<br />

of Lagoa Santa, ten minutes<br />

away from downtown.<br />

Thiago’s success followed<br />

the expansion of Artessanta,<br />

a handicraft fair held every Saturday, from 9 AM<br />

to 5 PM, by the lake after which this city was<br />

named, located in the metropolitan region of Belo<br />

Horizonte, Minas Gerais State, Brazil. Three years<br />

ago, only sweets and decorated dishcloths were<br />

sold, in only about half-dozen stands. The fair has<br />

grown and currently has 120 exhibitors, as well as<br />

customers with fine purchasing power. “We have<br />

marvelous works there, and my experience is very<br />

good. Our primary clientele is composed of people<br />

who live in luxury condos around Lagoa Santa”, he<br />

tells.


O trabalho que realiza é cem por cento manual,<br />

qualidade que distingue seu artesanato. “Não uso<br />

máquina de costura porque não sei costurar. Hoje<br />

em dia tenho consciência da minha habilidade com<br />

as mãos e da minha facilidade para criar, que é um<br />

processo infinito, novas ideias sempre vêm”, garante.<br />

Além de tecido e embalagens tetra-pak, utiliza na<br />

confecção das peças perfis de madeira (MDF) e<br />

galhos de podas das árvores que são descartados<br />

em profusão na arborizada Lagoa Santa. Os vasos<br />

artificiais são feitos com esses galhos, que recebe<br />

folhas e flores recortadas em tecidos. Os quadros<br />

decorativos para quartos de crianças são feitos de<br />

madeira emoldurada com tecidos estampados e<br />

recebem motivos florais, pássaros e outros bichos.<br />

As caixinhas de leite, inicialmente usadas<br />

para a confecção das carteiras de dinheiro, foram<br />

adaptadas na criação dos nos anéis de guardanapos.<br />

A matéria-prima é obtida em casa – os dois filhos<br />

consomem uma doze caixas de leite a cada dez<br />

dias – e principalmente por meio de doações. “As<br />

pessoas me entregam sacolas cheias na feira, às<br />

vezes já limpas e abertas”, conta.<br />

Thiago está se preparando para começar a usar<br />

também garrafas pet no ateliê. Já tem um bom<br />

estoque limpo e cortado do material disponível<br />

no ateliê. A lida com matéria-prima reciclável é<br />

uma razão de ser da sua atividade. Está claro para<br />

o artesão que a produção sustentável agrega um<br />

valor social ao ofício que escolheu para ganhar a<br />

vida. “Isso é de extrema importância. Os benefícios<br />

não são só para mim, mas para meus filhos e para a<br />

cidade, com a expansão da consciência ambiental”,<br />

afirma.<br />

Foi por intermédio de duas amigas de Lagoa<br />

Santa, numa conversa durante um almoço, que<br />

Thiago soube da oportunidade de participar da<br />

seleção promovida pelo <strong>Centro</strong> <strong>Cape</strong>, em parceria<br />

com a Federação das Indústrias do Estado de<br />

Minas Gerais (Fiemg), da mostra de artesanato a<br />

ser apresentada a uma missão de compradores do<br />

El Corte Inglés em visita ao Brasil. Incentivado, ele<br />

mandou fotos para os avaliadores do <strong>Centro</strong> <strong>Cape</strong><br />

e foi indicado para exibir sua produção em showroom<br />

montado no último Minas Trend Preview,<br />

realizado em Belo Horizonte no final de maio,<br />

especialmente para apreciação dos representantes<br />

da cadeia de lojas européia.<br />

The work he creates is 100% manual, a<br />

distinguished quality mark. “I don’t use a sewing<br />

machine because I don’t know how to. Nowadays,<br />

I acknowledge my hand skills and my aptitude for<br />

creation, which is an infinite process, new ideas<br />

are always coming”, he assures. Besides fabric and<br />

tetra-pak packages, he also uses medium-density<br />

fiberboard (MDF) and pruned branches of trees in<br />

his production, all of which are abundantly found<br />

laying around Lagoa Santa. These branches are<br />

used in the making of artificial vases, also applied<br />

with trimmed leaves and flowers on fabrics. The<br />

decorative paintings for children’s rooms are made<br />

of framed wood and printed fabrics, displaying<br />

themes with flowers, birds and other animals.<br />

The milk cartons, initially used in the production<br />

of wallets, were adapted for the creation of napkin<br />

rings. The raw material is obtained at home – his<br />

two children consume a dozen milk cartons every<br />

ten days – and mostly from donations. “People<br />

bring me bags full of cartons, sometimes already<br />

clean and cut”, he tells.<br />

Thiago is also preparing in order to start using<br />

PET bottles at his studio. He already has a good<br />

clean and cut stock of available material. Dealing<br />

with recyclable raw materials is one of the reasons<br />

which fuel his work. This artisan clearly understands<br />

that sustainable production aggregates a social<br />

value to his profession of choice. “This is extremely<br />

important. The benefits are not just for me, but for<br />

my children and for the city, with the expansion of<br />

environmental conscience”, he says.<br />

It was through two friends from Lagoa Santa,<br />

in a conversation during lunch, that he heard of<br />

the opportunity to participate in <strong>Centro</strong> <strong>Cape</strong>’s<br />

selection, promoted in collaboration with Fiemg<br />

(Federação das Indústrias do Estado de Minas<br />

Gerais, Industry Federation of the Minas Gerais<br />

State), for a handicraft exhibition targeting a group<br />

of buyers from El Corte Inglés, who were visiting<br />

Brazil. Filled with encouragement, he sent pictures<br />

to the <strong>Centro</strong> <strong>Cape</strong> evaluators and was selected<br />

to display his products in a showroom at the last<br />

Minas Trend Preview, which took place in Belo<br />

Horizonte in the end of May, especially intended<br />

for the appreciation of this European chain store’s<br />

representatives.<br />

tecidos e cores / fabrics and colours 25


Os espanhóis gostaram do mostruário e, no caso<br />

do ReTHalho, demonstraram interesse especial<br />

pelos anéis de guardanapo, porta-chaves, quadro<br />

de recados, e quadros de decoração. Thiago então<br />

percebeu que a capacidade de produção do ateliê<br />

não era suficiente para satisfazer uma demanda<br />

de mais de cem peças por produto escolhido. Por<br />

enquanto, conta com apenas uma colaboradora a<br />

seu lado, a amiga Fabrícia Sá, cujo talento ele se<br />

orgulha de ter revelado. “Não estava preparado<br />

para aquilo, não imaginava essa realidade”, conta.<br />

Diante do gargalo, resolveu “correr atrás” de<br />

capacitação para reestruturar e criar condições de<br />

atender aos pedidos dos espanhóis.<br />

Thiago procurou o <strong>Centro</strong> <strong>Cape</strong> e ingressou<br />

no PQS (Programa de Qualidade Sustentável). O<br />

treinamento é dado em seu próprio ateliê, para onde<br />

se desloca um professor. Em cada etapa do PQS, o<br />

artesão aprende a se localizar na cadeia produtiva,<br />

definir custos financeiros e administrativos, os<br />

preços no atacado e varejo, e aprende a organizar o<br />

local de trabalho. Ao final é feita uma auditoria e o<br />

artesão aprovado recebe uma primeira remessa de<br />

selos de certificação IQS.<br />

No início de julho, Thiago tinha cumprido a<br />

segunda etapa do PQS, mas a reorganização do<br />

ReTHalho foi adiantada. Montou um mini showroom<br />

na casa e transformou o que era um quarto<br />

de entulhos num ateliê novinho em folha. “Agora,<br />

tenho um local preparado única e exclusivamente<br />

para trabalhar”, orgulha-se. E tem certeza de que<br />

seus clientes vão se surpreender quando virem as<br />

novas instalações. “O pessoal que chegar aqui vai<br />

cair para trás ao ver as mudanças”, garante.<br />

Em poucos meses, Thiago passou a conceber sua<br />

atividade sob nova perspectiva. “O treinamento dá<br />

uma segurança muito grande para a gente saber<br />

como trabalhar e negociar. Também aprendemos<br />

que se pode ganhar em escala diminuindo os preços<br />

e a ver se estamos ou não dentro das regras certas<br />

para fazer o dinheiro girar e o negócio crescer”, ele<br />

conta.<br />

26 tecidos e cores / fabrics and colours<br />

The Spanish liked the products and, in the<br />

case of ReTHalho, demonstrated special interest<br />

in napkin rings, key holders, note boards and<br />

decorative paintings. Thiago then realized that<br />

his studio’s production capacity wasn’t enough to<br />

meet a demand of more than one hundred pieces<br />

of each chosen product. For now, he only has one<br />

collaborator, his friend Fabrícia Sá, whose talent he<br />

is proud to have revealed. “I wasn’t ready for that,<br />

I couldn’t imagine this reality”, he tells. Facing this<br />

bottleneck, he decided to “go after” the necessary<br />

qualifications in order to restructure and create<br />

conditions to meet the requests of the Spanish<br />

buyers.<br />

Thiago sought <strong>Centro</strong> <strong>Cape</strong> and enrolled in PQS<br />

(Programa de Qualidade Sustentável, Sustainable<br />

Quality Program). He receives training in his own<br />

studio, visited by a teacher. In each stage of PQS, the<br />

artisan learns to locate himself in the production<br />

chain, to define his financial and administrative<br />

costs, his retail and wholesale prices, and learns<br />

how to organize the workplace. At its conclusion,<br />

an audit is made and the approved artisan receives<br />

the first shipment of IQS certification labels.<br />

In the beginning of July, Thiago had completed<br />

the second stage of PQS, but the reorganization of<br />

ReTHalho was ahead of schedule. He set a mini<br />

showroom in his house and transformed what<br />

used to be a storeroom in a brand new studio.<br />

“Now, I have a place which is exclusively prepared<br />

for work”, he proudly states. And he is sure his<br />

customers are going to be surprised when they<br />

visit the new installations. “They are going to drop<br />

their jaws when they see the changes”, he assures.<br />

In only a few months, Thiago acquired a new<br />

perspective on his activity. “The training gives<br />

us the confidence of knowing how to work and<br />

negotiate. We also learn that we can gain in scale<br />

by lowering the price and seeing whether we are<br />

complying with the right rules to make the money<br />

flow and the business grow”, he says.


Indagado sobre o que ganhou com o curso até<br />

aqui, ele responde que “mudou completamente”<br />

sua abordagem da atividade. Para começar, mudou<br />

a maneira de lidar com seus clientes e receber as<br />

pessoas no ateliê remontado.<br />

Também aprendeu que deve definir uma<br />

rotina saudável de trabalho e está se adaptando às<br />

orientações recebidas no PQS. “Trabalhava mais<br />

quando estava mais inspirado, desde a tarde até de<br />

madrugada, às vezes até as 4h. Estou me ajustando<br />

para ter um horário definido para também cuidar<br />

da saúde”, diz. Sua jornada atual no ateliê vai das<br />

13h às 20h, em média, mas ele está se preparando<br />

para começar no período da manhã.<br />

Thiago espera exportar, em três meses, cerca de<br />

2.000 peças para a rede El Corte Inglés. Os últimos<br />

formulários tinham sido enviados no final de<br />

junho e a assinatura do contrato deveria ocorrer em<br />

seguida. Ele já tinha pré-estabelecido a ampliação<br />

da estrutura do ateliê e o número de pessoas a<br />

contratar para cumprir o pedido dos europeus.<br />

Na hora de exportar os produtos ele vai contar<br />

com a experiência da Associação Mão de Minas<br />

para cuidar das etapas de emissão de documentos,<br />

preparação das peças, embalagem e despacho, em<br />

troca de uma percentagem das vendas.<br />

Com o trabalho realizado em novo padrão,<br />

Thiago estabelece padrões de qualidade mais<br />

apurados, com mais atenção ao acabamento. Ele se<br />

sente cheio de energia e extremamente estimulado.<br />

“Este foi o maior acontecimento desde que comecei<br />

a trabalhar com artesanato. São portas enormes<br />

que se abriram para mim”, festeja. E agrega outros<br />

benefícios que teve nos últimos meses, como<br />

o acolhimento da sua obra pelo <strong>Centro</strong> <strong>Cape</strong>,<br />

o programa de treinamento, e o fato de ter se<br />

associado à Mãos de Minas.<br />

Ao mesmo tempo, Thiago trabalha para<br />

consolidar o ReTHalho no novo patamar. Ainda<br />

este ano vai participar de uma feira nacional no<br />

Expominas. Ele e mais quatro artesões de Lagoa<br />

Santa vem se reunindo semanalmente<br />

para planejar a abertura de um<br />

galpão onde serão construídos<br />

ateliês de produção. Querem se<br />

preparar para aproveitar o fluxo<br />

de turistas esperado na região em<br />

2014, durante a realização da Copa<br />

do Mundo. “Quero estabelecer<br />

um padrão de qualidade<br />

crescente para conquistar<br />

cada vez mais a confiança do<br />

comprador”, anuncia.<br />

When questioned about what he has gained<br />

through the course so far, he says “it completely<br />

changed” his approach to the activity. For starters,<br />

he changed the way he deals with the customers<br />

and receives people in his reorganized studio.<br />

He also learned that one must define a<br />

healthy work routine, and he is adapting to PQS<br />

orientations. “I used to work mainly when I<br />

was inspired, from the afternoon to late night,<br />

sometimes until 4 AM. I’m adjusting to a more<br />

defined schedule so I can take care of my health<br />

as well”, he says. His current journey at the studio<br />

usually starts at 1 PM and lasts until 8 PM, but he<br />

is preparing to start working mornings.<br />

Thiago hopes to export, in three months, about<br />

2,000 pieces to the El Corte Inglés chain. The<br />

last forms were sent in the end of June and the<br />

contract signature should follow. He had already<br />

predetermined the expansion of his studio structure<br />

and the number of people to be hired in order to<br />

fulfill the European`s requests. During product<br />

exportation, he will count on the experience of<br />

Associação Mãos de Minas for handling document<br />

emission, piece preparation, packaging and<br />

shipping, in exchange for a percentage of sales.<br />

By performing his work through new criteria,<br />

Thiago establishes more accurate quality standards,<br />

giving more attention to the finishing process. He<br />

is very excited and full of energy. “This was the<br />

greatest happening ever since I started working<br />

with handicraft. These are huge doors that have<br />

opened for me”, he celebrates. He also mentions<br />

other attained benefits throughout the last<br />

months, such as <strong>Centro</strong> <strong>Cape</strong> taking in his work,<br />

the training program, and the fact he has become a<br />

member of Mãos de Minas.<br />

At the same time, Thiago works hard to<br />

consolidate ReTHalho on this new level. Yet this<br />

year, he is also going to participate in a national<br />

fair at Expominas. He and four artisans from<br />

Lagoa Santa have been meeting weekly to plan the<br />

opening of a common space where three<br />

production studios will be built. They<br />

want to be prepared for the flow<br />

of tourists expected in the region<br />

for 2014, during the World Cup.<br />

“I want to establish an increasing<br />

quality standard in order to keep<br />

on conquering the buyer’s trust”,<br />

he states.<br />

tecidos e cores / fabrics and colours 27


A saga de dona Marlene às margens do<br />

Rio NegRo<br />

The journey of mrs. marlene by the shores of Rio<br />

Negro<br />

Matriarca lidera comunidade e produção de artesanato em Iranduba, no Amazonas<br />

Matriarch leads community and handicraft production in Iranduba, Amazonas<br />

POR /BY Antônio Siúves<br />

FOTOS / PHOTOS Wilkerson Kuroki/Amazonastur<br />

Dona Marlene Alves da Costa vive no povoado<br />

de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em Lago<br />

do Acajatuba, município de Iranduba. A sua gente<br />

está separa por hora e meia de lancha de Manaus, no<br />

Amazonas. A comunidade é a maior da localidade<br />

ribeirinha do Rio Negro, com 230 moradores. Seus<br />

filhos, dois homens e quatro mulheres, se juntam<br />

a amigos organizados em torno da Associação de<br />

Artesanato Sustentável Grupo Japiim, formada por<br />

30 pessoas sob a liderança e inspiração de dona<br />

Marlene.<br />

“O nome da associação é uma homenagem ao<br />

pássaro que tem aqui em frente a nossa casa, na<br />

beira do rio e que nunca nos abandona. Ele figura<br />

na nossa logomarca”, ela explica. Japiim, japim,<br />

xexéu nomeiam a mesma bela ave de plumagem<br />

preta e amarelo vivo, com variações de preto e<br />

vermelho, muito comum no Rio Negro.<br />

Mrs. Marlene Alves da Costa lives in the Nossa<br />

Senhora do Perpétuo Socorro village, in Lago de<br />

Acajatuba, within the Iranduba municipality. She<br />

is an hour and a half by motorboat away from her<br />

people, in the Amazonas State. The community is<br />

the largest riverside village of Rio Negro, with 230<br />

residents. Her children, two men and four women,<br />

as well as some friends, are part of the Associação<br />

de Artesanato Sustentável Grupo Japiim (Japiim<br />

Group Sustainable Handicraft Association),<br />

composed by 30 people who are led and inspired<br />

by Mrs. Marlene.<br />

“The association’s name is a tribute to a type of<br />

bird that appears in front of our house and by the<br />

river banks, never abandoning us. He appears in<br />

our logo”, she explains. Japiim, japim, xexéu are<br />

names for the same beautiful bird which has black<br />

and bright yellow plumage, also varying from black<br />

to red and very common in Rio Negro.<br />

28 dona marlene / mrs. marlene


A família de dona Marlene se dedica ao<br />

artesanato há 26 anos. A mãe, descendente de<br />

índios bugre, trabalhava com cerâmica e tecidos;<br />

o pai português foi um conhecido carpinteiro que<br />

fabricava canoas e objetos em madeira. “A gente<br />

não estudou, não é? É tudo cultura mesmo”, diz a<br />

matriarca. Ela fala com orgulho da filha, Caroline<br />

Costa, design do grupo, e do filho mais velho, o<br />

escultor Nei Costa. “Ele é meu grande amigo, que<br />

trabalha comigo na administração da comunidade”,<br />

conta.<br />

Primeiro membro da família a viajar de avião,<br />

Nei foi este ano ao Rio de Janeiro para apresentar,<br />

por iniciativa da Empresa Estadual de Turismo<br />

do Amazonas – Amazonastur, os produtos de<br />

Acajatuba na feira Fashion Business. Os trabalhos<br />

também foram mostrados aos empresários da rede<br />

El Corte Inglés, com sede na Espanha, em rodada<br />

de negócios promovida pela Fundação <strong>Centro</strong> de<br />

Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica (Fucapi).<br />

A visita foi organizada em maio pela Agência<br />

Brasileira de Promoção de Exportações (Apex<br />

Brasil), em conjunto com o Serviço Brasileiro de<br />

Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e a<br />

Associação Brasileira de Exportação de Artesanato<br />

(Abexa).<br />

As peças encantaram os compradores da cadeia<br />

europeia. “Viram na feira de Manaus e vieram até<br />

aqui conhecer de perto tudo que temos na nossa<br />

loja. Gostaram do que viram e foram separando<br />

algumas coisas que acharam legais. O que eles<br />

pediram ainda não estava em nosso catálogo, mas<br />

já estamos incluindo”, conta.<br />

Colares, peixes, canoinhas<br />

Dona Marlene recebeu a encomenda de 4.000<br />

peças, entre colares longos matizados – “eles ficaram<br />

fascinados com esses colares, que ficam muito<br />

bonitos nas mulheres”, comenta – miniaturas em<br />

madeira de peixes, colheres e canoinhas. Também<br />

fizeram sucesso os porta-pratos que podem ser<br />

usados em casa ou restaurantes.<br />

Ela esperava a confirmação do contrato para a<br />

última semana de julho. Acostumada a pelejar com<br />

obstáculos diários comuns a quem vive isolado<br />

em um povoado amazônico, dona Marlene não se<br />

abala nem um pouco com os percalços para fazer<br />

a primeira exportação do artesanato de Acajatuba.<br />

“Estamos lutando para desenrolar os papéis, pois<br />

é difícil nos comunicarmos com nossos fregueses”,<br />

ela diz. Ainda sem acesso à internet na localidade,<br />

dá graças pela linha telefônica de que dispõe.<br />

Fora isso, é pegar o barco até Manaus tantas vezes<br />

quanto for preciso.<br />

Mrs. Marlene’s family has been engaged in<br />

handicraft fo.r 26 years. Her mother, an Indigenous<br />

descendant, worked with ceramics and textiles; her<br />

Portuguese father was a popular carpenter who<br />

made canoes and wooden objects. “We didn’t study.<br />

It’s all in our culture, really”, says the matriarch. She<br />

proudly talks about her daughter, Caroline Costa,<br />

the group’s designer, and about her oldest son, the<br />

sculptor Nei Costa. “He is a great friend, who helps<br />

me managing the community”, she tells.<br />

The first family member to travel by airplane,<br />

Nei went to Rio de Janeiro this year in order to<br />

present products from Acajatuba, through an<br />

initiative of Amazonastur (Empresa Estadual de<br />

Turismo do Amazonas, Amazonas State Tourism<br />

Company), in the Fashion Business fair. The<br />

works were also shown to entrepreneurs from the<br />

El Córte Inglés chain, headquartered in Spain,<br />

in a round of negotiations promoted by Fucapi<br />

(Fundação <strong>Centro</strong> de Análise, Pesquisa e Inovação<br />

Tecnológica, Analysis, Research and Technological<br />

Innovation Center Foundation).<br />

This visit was organized in May by Apex-Brasil,<br />

the Brazilian Trade and Investment Promotion<br />

Agency, along with Sebrae, the Brazilian Service<br />

for Supporting Micro and Small Businesses, and<br />

Abexa, the Brazilian Handicraft Exportation<br />

Association.<br />

The European chain buyers were fascinated by<br />

the pieces. “They saw them at the fair in Manaus<br />

and came all the way here to see everything we<br />

have in our store. They liked what they saw and<br />

selected some of the things they found interesting.<br />

The products they ordered were not in our catalog<br />

yet, but we are including them now”, he tells.<br />

Necklaces, fish, little canoes<br />

Mrs. Marlene received an order of 4,000 pieces,<br />

including long, tinted necklaces – “they were<br />

fascinated by these necklaces, which look very<br />

beautiful in women,” she says – miniature wooden<br />

fish, spoons and little canoes. They were also<br />

attracted by the dish holders, which can be used at<br />

home or in restaurants.<br />

She was expecting the contract confirmation<br />

by the last week of July. Used to struggle with<br />

ordinary daily obstacles for those who live in<br />

isolated Amazonian villages, Mrs. Marlene is not<br />

at all intimidated by the challenges involved in the<br />

first exportation of Acajatuba’s handicraft. “We are<br />

struggling to solve all the paperwork, because it’s<br />

difficult to communicate with our customers”, she<br />

says. Without Internet access in the village, she<br />

is grateful for the available telephone line. Other<br />

dona marlene / mrs. marlene 29


Ao se concretizar, a exportação para El Corte<br />

Inglés vai trazer um novo alento para o grupo de<br />

artesãos de Lago do Acajatuba. “É um passo além<br />

que estamos dando, uma oportunidade muito boa<br />

para quem vive no meio do mato, na Amazônia”<br />

– celebra dona Marlene –. “Espero que mais<br />

pessoas venham sentir aqui nosso calor humano,<br />

que venham ver o trabalho, que é simples, feito<br />

por pessoas simples que vivem como podem<br />

graças à madeira. Espero que esse trabalho seja<br />

reconhecido”, ela diz, em sua fala de doce acento<br />

nortista.<br />

A madeira na beira do rio<br />

A associação Japiim também confecciona uma<br />

gama de bijuterias, brincos, pulseiras, colares<br />

e outras peças. Todo o trabalho é manual e<br />

sustentável, inclusive o processo de tingimento<br />

natural. “Aproveitamos restos de madeira, de<br />

árvores que caem e aparecem na beira do rio, mais<br />

na época da seca”, explica dona Marlene.<br />

As madeiras mais utilizadas são itapuba, pauari<br />

e pau-santo. “São as melhores que existem para<br />

esculpir e as mais durativas”, ela explica. O colorido<br />

do artesanato é obtido com pigmentos naturais por<br />

meio de um longo processamento da casca da cebola<br />

amarela, da borra de café, de algumas madeiras<br />

e do urucum. Depois de cozimento, filtragens e<br />

misturas se extraem as tonalidades rosas, amarelas,<br />

alaranjadas e vermelhas que decoram o artesanato.<br />

30 dona marlene / mrs. marlene<br />

than that, she needs to get on the boat to Manaus<br />

as many times as necessary.<br />

When finished, the exportation to El Corte<br />

Inglés will bring a new hope to the group of<br />

artisans of Lago de Acajatuba. “It’s a big step we’re<br />

making, it’s a great opportunity for those who live<br />

in the middle of the forest, in Amazonia” – she<br />

celebrates –. “I hope more people come here to<br />

feel our warmth and see our simple work, carried<br />

out by simple people who manage to make their<br />

living thanks to the forest’s wood. I hope this work<br />

is recognized”, she says, in a speech filled with a<br />

sweet northern accent.<br />

The wood on the river banks<br />

The Japiim Association also makes a wide variety<br />

of jewelry, earrings, bracelets, necklaces and other<br />

pieces. All the work is manual and sustainable,<br />

including the process of natural dyeing. “We use<br />

wood branches which fall down from trees and<br />

appear on the river banks, around the dry season”,<br />

explains Mrs. Marlene.<br />

The most commonly wood types are itapuba,<br />

pauari, and pau-santo. “They are the best to<br />

sculpt and the most durable”, she explains. Their<br />

handicraft colors are obtained using natural<br />

pigments, obtained through a long processing<br />

of yellow onion skin, coffee grounds, woods and<br />

urucum (annatto). Once cooked, filtered and<br />

mixed, tones of pink, yellow, orange and red are<br />

extracted and used to decorate the pieces.


Diante do futuro na reserva sustentável<br />

A consciência ecológica é dado permanente para<br />

quem habita o interior de uma reserva biológica,<br />

a RDS (Reserva de Desenvolvimento Sustentável)<br />

do Rio Negro, dedicada ao manejo e à subsistência<br />

das comunidades ribeirinhas. “Sabemos que se nós<br />

acabarmos com tudo hoje, amanhã não existirá<br />

nada. Estamos aprendendo a ver o futuro. Aqui,<br />

de tudo que se colhe, um pouco é deixado para a<br />

natureza”, se expressa dona Marlene.<br />

As bijuterias recebem detalhes em palha de<br />

tucumã e tucum e delicadas incrustações com<br />

sementes de morototó e açaí colhidas em capoeiras<br />

nas proximidades. Com vistas à exportação<br />

para Ele Corte Inglés, a associação contratou<br />

um laboratório para fazer a certificação dessas<br />

sementes. O controle de qualidade dá garantias<br />

ao comprador quanto à resistência dos produtos<br />

em outros climas e imunidade ao bolor e outras<br />

possibilidades de deterioração.<br />

Qualificação e suporte no lago<br />

A Associação de Artesanato Sustentável Grupo<br />

Japiim tem se aprimorado por meio de uma série<br />

de cursos e palestras oferecidos pela Amazonastur,<br />

entre os quais uma preparação ministrada pelo<br />

Grupo A G, de Brasília. Durante um mês, os<br />

artesãos receberam aulas de associativismo,<br />

manejo, tingimento natural e comercialização.<br />

“Aprendemos a estabelecer o preço e saber se<br />

estamos vendendo ou dando nossa mercadoria”,<br />

comenta dona Marlene.<br />

A empresa ofereceu representação e suporte à<br />

comunidade do Lago de Acajatuba em cinco feiras<br />

de artesanato organizadas nos Estados. “Estão<br />

cumprindo com a palavra e ainda correndo com<br />

nossos produtos por aí”, alegra-se.<br />

Em Acajatuba, dona Marlene é mais do que<br />

uma líder da associação de artesãos cujo núcleo<br />

é a própria família. A ela recorre todo o povoado<br />

para se aconselhar e pedir auxílio na hora de um<br />

aperto. “Minha rotina é corrida. Sou mulher de 24<br />

horas. Toda comunicação dentro da comunidade é<br />

comigo”, ela diz por telefone, em meio a um sorriso.<br />

Há 28 anos comanda, como auxiliar técnica, o<br />

posto de saúde da localidade.<br />

A reportagem pergunta se sua função no posto<br />

é de enfermeira. A resposta é uma síntese do que<br />

pode uma mulher brasileira habitante da Região<br />

Amazônica: “Num interior desses, mano, a gente<br />

é parteira, médico, tudo. A gente faz de tudo ou os<br />

amigos morrem”.<br />

Facing the future in a sustainable<br />

reservation<br />

Environmental awareness is a permanent state<br />

for those who inhabit a biological reservation, the<br />

Rio Negro RSD (Reserva de Desenvolvimento<br />

Sustenvável, Sustainable Development<br />

Reservation), dedicated to the management and<br />

subsistence of riverside communities. “We know<br />

that if we use everything today, tomorrow there will<br />

be nothing. We are learning to see the future. Here,<br />

we always leave nature’s share among everything<br />

that’s gathered”, states Mrs. Marlene.<br />

The jewelry receives details in tucum and<br />

tucumã straw, as well as delicate inlays with<br />

morototó and açaí seeds which are collected nearby<br />

brushwood. Aiming to export to El Corte Inglés,<br />

the association hired a laboratory to perform the<br />

certification of these seeds. This quality control<br />

assures the buyer that the products will endure in<br />

other weather conditions, being immune to mold<br />

and other deterioration possibilities.<br />

Q ualification and support by the lake<br />

The Japiim Group Sustainable Handicraft<br />

Association has been improving itself through<br />

a series of courses and lectures offered by<br />

Amazonastur, including training offered by the A<br />

G Group, from Brasília. For a month, the artisans<br />

received classes on associations, management,<br />

marketing and natural dyeing. “We learned how to<br />

establish prices and to tell if we are selling or giving<br />

away our products”, Mrs. Marlene comments.<br />

The company offered representation and<br />

support to the community of Lago de Acajatuba<br />

for five handicraft fairs organized throughout the<br />

Brazilian States. “They are keeping their word and<br />

running around with our products”, she says with<br />

joy.<br />

In Acajatuba, Mrs. Marlene is more than just a<br />

leader of the artisan association, whose core is her<br />

own family. All the residents turn to her for advice<br />

and help when facing adversities. “My days are full.<br />

I’m a 24 hour woman. All communication in the<br />

community relies on me”, she says on the phone,<br />

with a smile. For 28 years, she has been in charge of<br />

the town’s health center as technical assistant.<br />

We asked her if she works as a nurse at the<br />

center. The answer is a synthesis of what a Brazilian<br />

woman inhabiting the Amazonia region can be:<br />

“In a place like this, man, we act as the midwife,<br />

the doctor, everything. We have to do everything<br />

or our friends die.”<br />

dona marlene / mrs. marlene 31


Artesanato Wariró está na mira<br />

Catarina Pessoa, funcionária da Amazonastur,<br />

explica que a empresa de turismo selecionou<br />

trabalhos de artesãos do Amazonas para exposição<br />

em três feiras nacionais e duas internacionais. No<br />

Rio, a Fashion Business e a Bright; em São Paulo,<br />

a Paralela Gift. Representações também estiveram<br />

em Florença, na Itália, e em Lisboa, Portugal.<br />

A visita da comissão do El Corte Inglês à<br />

feira da Fucapi, em Manaus, parceira do projeto<br />

governamental “Artesanato Sustentável do<br />

Amazonas”, resultou<br />

na encomenda feita<br />

à Acajatuba, e num<br />

interesse especial pelo<br />

trabalho realizado<br />

por Gilda da Silva<br />

Barroso, de etnia baré,<br />

que também é gerente<br />

da Casa de Produtos<br />

Indígenas do Rio Negro –<br />

Wariró (FOIRN), em São<br />

Gabriel da Cachoeira, no<br />

Amazonas.<br />

Da linha de produtos<br />

confeccionados por<br />

Gilda constam cerâmicas<br />

e cestarias trabalhadas<br />

com fibra de piaçava e<br />

tucum – uma palmeira da<br />

região –, desenvolvidos<br />

por meio de manejo<br />

florestal. Gilda também destaca as bolas batidas em<br />

novelo de tucum, bijuterias, cestinhas e samburás<br />

com tampa.<br />

Conforme o site da Oscip (0rganização Social<br />

de Interesse Público) Defender – Defesa Civil<br />

do Patrimônio Histórico, além de promover o<br />

comércio do artesanato indígena do Rio Negro<br />

de maneira justa, sem intermediação, a Wariró<br />

supervisiona o processo de retirada da matériaprima<br />

e a confecção do artesanato, com a<br />

finalidade de apoiar o desenvolvimento sustentável<br />

e a consciência ambiental dos povos indígenas. Os<br />

produtos da Wariró são comercializados na loja em<br />

São Gabriel da Cachoeira e podem ser encontrados<br />

em unidades redes Tok & Stok e Pão de Açúcar.<br />

32 dona marlene / mrs. marlene<br />

Wariró handicraft in focus<br />

Catarina Pessoa, an Amazonastur employee,<br />

explains that the tourism company selected works<br />

by artisans from Amazonas to be exhibited in three<br />

national fairs and two international fairs. Fashion<br />

Business and Bright, in Rio, and Paralela Gift, in<br />

São Paulo. They were also represented in Florence,<br />

Italy, and in Lisbon, Portugal.<br />

The visit of the El Corte Inglés commission to the<br />

Fucapi fair in Manaus, a partner of the “Sustainable<br />

Handicraft in Amazonas” government project,<br />

resulted in their Acajatuba<br />

product orders, as well<br />

as in special interests on<br />

works by Gilda da Silva<br />

Barroso, who belongs to<br />

the baré ethnicity and<br />

also manages the FOIRN<br />

(Rio Negro House of<br />

Indigenous Products –<br />

Wariró), in São Gabriel<br />

da Cachoeira, Amazonas<br />

State.<br />

Gilda’s product line is<br />

composed by ceramics,<br />

baskets decorated with<br />

piaçava and tucum<br />

fibers – a palm tree from<br />

the region –, and are<br />

developed using forest<br />

management efforts.<br />

Gilda also highlights<br />

the tucum balls, imitation jewelry, baskets and<br />

samburás with lids (a type of basket used by<br />

fishermen).<br />

According to the Defender Oscip website (a<br />

Public Interest Social Organization for Civil and<br />

Historical Patrimony Defense), besides promoting<br />

the commerce of Rio Negro’s indigenous handicraft<br />

in a just, intermediation-free manner, Wariró<br />

supervises raw material withdrawal and handicraft<br />

production processes in order to support the<br />

sustainable development and environmental<br />

awareness of the indigenous people. The Wariró<br />

products are sold at the store in São Gabriel da<br />

Cachoeira, and can be found in Tok & Stok and<br />

Pão de Açúcar chain stores.


UmA cIDADE DE TEARES<br />

Quando tinha 12 anos, Cícero<br />

Resende Chaves deixou de observar a mãe na arte<br />

do tear e passou também a transformar retalho<br />

de malha em tapetes, colchas e outros objetos de<br />

decoração. Hoje, é a filha mais velha do tecelão, de<br />

apenas 7 anos, que brinca de fazer crochê com a<br />

avó Tarcília Lindaura Chaves, 65.<br />

Na pequena Resende Costa, de 10 mil habitantes<br />

e vizinha das cidades históricas de São João del Rei e<br />

Tiradentes, onde para cada casa tem um tear, Cícero<br />

Chaves, atualmente com 32 anos, sustenta a família<br />

com o dinheiro ganho com o artesanato. “Como<br />

em 40% das moradias há pelo menos duas ou três<br />

máquinas, temos a mesma quantidade de casas e<br />

teares em Resende Costa”, diz Cícero Chaves, que<br />

também é presidente da Associação Empresarial e<br />

Turística de Resende Costa (Asseturc).<br />

A city of looms<br />

Em Resende Costa (MG), artesanato é tradição familiar e atividade econômica consolidada<br />

In Resende Costa (Minas Gerais), handicraft is a family tradition and a consolidated economic activity.<br />

POR /BY Regiane Marques Sampaio<br />

FOTOS / PHOTOS Fernando Chaves<br />

When he was 12 years old, Cícero<br />

Resende Chaves stopped just watching his mother<br />

working at the loom and started transforming<br />

fabric remainders into mats, bedspreads, and other<br />

decoration objects. Today it’s the weaver’s elder<br />

daughter, of only 7 years old, who plays crocheting<br />

with her grandma, Tarcília Lindaura Chaves, 65.<br />

At the little Resende Costa, a 10 thousand<br />

inhabitant’s city close to the historical cities of São<br />

João del Rei and Tiradentes, where each house has<br />

a loom, Cícero Chaves, 32 years old, supports his<br />

family with the money made with handicraft. “As<br />

in 40% of dwellings there are at least two or three<br />

machines, we have the same quantity of houses and<br />

looms in Resende Costa”, says Cícero Chaves, who<br />

is also the president of the Business and Tourism<br />

Association of Resende Costa (Asseturc).<br />

cidade de teares / city of looms 33


O tear começou a gerar renda na região nos<br />

anos 60 e 70, na Comunidade de Pintos, onde a<br />

avó Tarcilia e outras tecedeiras produziam peças<br />

para vender. Mascates compravam as mercadorias<br />

e as vendiam pelo país, despertando o interesse de<br />

comerciantes pelas peças. O artesanato cresceu e se<br />

instalou em Resende Costa, sendo hoje a principal<br />

fonte de receita do município.<br />

Com o aumento do<br />

turismo em São João del-<br />

Rei e Tiradentes, no final<br />

dos anos 80, a população<br />

de Resende Costa passou<br />

a abrir lojas para expor<br />

os seus produtos. Hoje<br />

somam cerca de 80<br />

estabelecimentos. Cícero<br />

Chaves inaugurou a<br />

sua loja na década de<br />

1990, junto com sua<br />

irmã, Silvana. Com 600<br />

metros quadrados, o<br />

espaço reúne o trabalho<br />

de cerca de 250 artesãos.<br />

“Uma peça pode ter a<br />

mão de dois, três ou mais<br />

pessoas; uma tece, outra<br />

pinta e assim por diante”,<br />

conta.<br />

No início da produção,<br />

era Cícero Chaves quem<br />

comprava a matériaprima<br />

e a entregava aos<br />

artesãos que trabalhavam<br />

para ele. Mas, com o<br />

aumento da demanda de<br />

mercadorias e também de<br />

pessoas trabalhando com<br />

o tear, os próprios artesãos passaram a comprar os<br />

fios e malhas para produzir as suas peças e, depois,<br />

entregá-las para Cícero Chaves e outros lojistas<br />

revenderem.<br />

Produção<br />

O processo de produção envolve várias fases e<br />

trabalhadores. Em Resende Costa, há lojistas que<br />

apenas comercializam os retalhos, comprados<br />

de malharias de Santa Catarina, Rio de Janeiro<br />

– principalmente de Petrópolis –, e de outros<br />

Estados.<br />

Na cidade, não há marceneiro que não saiba<br />

fazer um tear, e dificilmente encontra-se uma<br />

família que não tenha um tecelão. Não há livro<br />

nem escola para aprender a arte. Em Resende<br />

34 cidade de teares / city of looms<br />

Looms began to generate income in the region<br />

in the 60’s and 70’s, in the Community of Pintos,<br />

where grandma Tarcília and other weavers would<br />

produce pieces for selling. Street vendors would<br />

buy them and sell them all over the country, calling<br />

the attention of merchants to the pieces. Handicraft<br />

increased and was established in Resende Costa,<br />

representing today the main source of income in<br />

the city.<br />

With the growth of<br />

tourism in São João del-Rei<br />

and Tiradentes, at the end<br />

of the 80’s the population<br />

of Resende Costa started<br />

opening small stores to<br />

display their products.<br />

Currently, there are around<br />

80 shops. Cícero Chaves<br />

opened his shop in the 90’s.<br />

Now, featuring 600 square<br />

meters, the space gathers<br />

the work of approximately<br />

250 artisans. “One piece<br />

may have been made by the<br />

hands of two, three or more<br />

people; one weavers, the<br />

other paints and so on”, he<br />

tells.<br />

At the beginning of the<br />

business, it was Cícero<br />

Chaves who used to buy<br />

raw material and deliver it<br />

to the artisans who worked<br />

for him. However, as the<br />

demand for products and<br />

number of people working<br />

at the looms increased,<br />

artisans themselves started<br />

buying the thread and fabric in order to produce<br />

their own pieces and delivering so that Cícero<br />

Chaves and other shop owners could resell them.<br />

Production<br />

Production process involves many stages and<br />

workers. In Resende Costa there are shop owners<br />

who sell only fabric pieces bought from fabric<br />

factories in Santa Catarina, Rio de Janeiro – mainly<br />

in Petrópolis –, and in other states.<br />

There is not, in the city, a single woodworker<br />

who cannot make a loom, and it is hard to find<br />

a family that does not have a loom. There are no<br />

books or schools to teach the craft. In Resende<br />

Costa to become a weaver is to watch someone<br />

weaving and then imitating the weave and the


Costa, ser tecelão é ver alguém tecendo e, depois,<br />

imitar a trama e os movimentos. “Primeiro se faz<br />

um tapetinho, depois vai se aprimorando a técnica”,<br />

explica Cícero Chaves.<br />

Mas o que Resende Costa busca aprimorar<br />

agora é a infraestrutura para receber o turista. A<br />

oferta de restaurantes, bares e pousadas cresceu,<br />

mas a população demanda qualificação. “Temos<br />

uma história de trabalho individual, mas a cidade<br />

foi crescendo e estamos sendo muito mais do<br />

que um pólo de venda”, ressalta o presidente da<br />

Asseturc. No ano passado, a criação do Conselho<br />

Municipal de Turismo (Comtur) ofereceu suporte<br />

para o melhor atendimento aos turistas.<br />

Sustentabilidade<br />

Nem todo mundo que compra as peças sabe,<br />

mas os artesãos se orgulham de fazer artesanato<br />

com materiais que poderiam ir para o lixo.<br />

“Retalhos já significam descartes, mas quem vê<br />

nossas peças não enxerga a utilização de sobras ou<br />

resíduo”, conta Cícero Chaves.<br />

Outro motivo de satisfação é saber que cada<br />

trabalho é único, seja um pequeno tapete ou uma<br />

colcha. “Às vezes, vejo uma peça em um hotel de<br />

outra cidade ou até Estado e digo: ‘É da minha loja’.<br />

E quando confiro a etiqueta tenho a confirmação”,<br />

diz Cícero Chaves.<br />

O “tapetinho” é o carro-chefe do artesanato<br />

feito no tear. É a peça mais vendida aos turistas, aos<br />

visitantes em feiras e para os comerciantes do país<br />

e também do exterior. Esporadicamente, os lojistas<br />

de Resende Costa recebem encomenda de peças<br />

para o exterior, mas o forte é o mercado nacional.<br />

O valor agregado do produto dificulta<br />

a exportação, principalmente quando há<br />

concorrência de mercadorias similares de outros<br />

países. Esse foi um dos motivos, na avaliação do<br />

presidente da Asseturc, que inviabilizou a compra<br />

de peças pela rede de departamento El Corte Inglés,<br />

com sede na Espanha e Portugal. Uma comitiva<br />

visitou a cidade para conhecer o artesanato, no<br />

primeiro semestre deste ano, mas o valor da<br />

mercadoria e também problemas no cumprimento<br />

das exigências de exportação pelas empresas<br />

do setor têxtil, fornecedoras de matéria-prima,<br />

impossibilitaram a realização do negócio. “Todos<br />

os compradores são importantes, mas valorizo<br />

muito o mercado interno que hoje consome nossa<br />

oferta de peças”, declara Cícero Chaves.<br />

movements. “First your produce a little mat, then<br />

you go on improving the technique”, explains<br />

Cícero Chaves.<br />

But what Resende Costa seeks to improve,<br />

currently, is the infrastructure to receive tourists.<br />

The offer of restaurants, bars and inns has increased,<br />

but the population requires qualification. “We have<br />

a history of individual work, but the city evolved<br />

and now we represent much more than a purchase<br />

hub”, highlights the president of Asseturc. Last<br />

year, the creation of the City Council for Tourism<br />

(Comtur) offered support for better receiving<br />

tourists.<br />

Sustainability<br />

Nott everyone purchasing the pieces knows it,<br />

but the artisans take pride in making handicraft<br />

using materials that might end up in the trash can.<br />

“Fabric remainders would mean discard, but who<br />

sees our pieces does not see the reuse of remainders<br />

or waste”, says Cícero Chaves.<br />

Other reason of satisfaction is to know that each<br />

work is unique, be it a small mat or a bedspread.<br />

“Sometimes I see a piece in a hotel in another city<br />

or even in another state and I say: ‘It’s from store’.<br />

And when I check the tag I have the confirmation”,<br />

says Cícero Chaves.<br />

The “little mat” is the flagship of handicraft made<br />

on the loom. It is the best-selling piece to tourists,<br />

to exhibits visitors and to the traders in the country<br />

and abroad. Occasionally, the retailers of Resende<br />

Costa receive orders for delivers overseas, but its<br />

strength is in the domestic market.<br />

The product added value makes it difficult to<br />

export, mainly when they face the competition<br />

of similar products from other countries. This<br />

has been one of the reasons why the purchasing<br />

of pieces by the department store chain El Corte<br />

Inglés with head offices in Spain and Portugal is<br />

unfeasible, according to the president of Asseturc.<br />

The city received the visit of a commission in the<br />

first half of this year, intended to learn about the<br />

handicraft, but the price of the merchandise and<br />

some problems in complying with the demands<br />

for exporting by the companies in the textile<br />

industry and raw material suppliers made business<br />

impracticable. “All markets are important, but I<br />

appreciate the domestic market very much, as it<br />

is the one that absorbs our offer of pieces”, states<br />

Cícero Chaves.<br />

cidade de teares / city of looms 35


Artesanato de Pernambuco<br />

PEDE PASSAGEM<br />

handicraft from Pernambuco makes way<br />

Negociações com El Corte Inglés não avançaram, mas associações e cooperativas estão prontas para atender à demanda internacional<br />

Negotiations with El Corte Ingles have not advanced, but associations and cooperatives are ready to meet international demand<br />

Sergia Almeida é uma mulher disposta<br />

a mover céus e terra, a lutar contra tudo e contra<br />

todos, desde que seja na defesa e divulgação do<br />

artesanato do Estado de Pernambuco. Gestora do<br />

braço local do Instituto Cearense de Artesanato, ela<br />

quer um lugar ao sol para as duas cooperativas e 20<br />

associações de artesãos que representa. Para tanto,<br />

ela aposta na qualidade e capacidade de produção<br />

de seus associados e, claro, na beleza, originalidade<br />

e diversidade das peças que eles fabricam tanto<br />

nas cidades quanto nos mais remotos lugarejos do<br />

sertão.<br />

A diversidade é realmente grande. O portfólio<br />

representado por Sergia inclui trabalhos em<br />

tecelagem, como mantas, redes, passadeiras e<br />

POR /BY Carlos Moreira<br />

FOTOS / PHOTOS Divulgação<br />

36 abrindo passagem / making the way<br />

Sergia Almeida is a woman that is<br />

willing to move mountains, to fight whatever<br />

gets on her way, as long as it is to defend and<br />

promote arts and crafts in the region of the State of<br />

Pernambuco. A manager to the local branch of the<br />

Cearense Handicraft Institute, she wants a place in<br />

the sun for the two cooperatives and 20 artisans<br />

associations she represents. For that, she trusts the<br />

quality and production capability of her associates<br />

and, of course, the beauty, originality and diversity<br />

of the pieces manufactured both in the cities and in<br />

the most remote villages in the sertão.<br />

Diversity is really great. The portfolio<br />

represented by Sergia includes weaving works<br />

such as bedspreads, hammocks, mats and rugs;


tapetes; bordados nos mais diversos pontos; renda<br />

renascença, filé e richelieu; cerâmica figurativa<br />

(santos, homens, mulheres e animais); toalhas de<br />

crochê, trabalhos em fibra, almofadas e diversos<br />

outros produtos. “O que quiserem comprar, aqui<br />

tem”, assegura a gestora do ICA em Pernambuco.<br />

Com carreira profissional construída na área<br />

de vendas, Sergia se mostra até ansiosa para<br />

impulsionar as vendas de seus associados. Além<br />

da motivação comercial, ela quer rentabilizar e<br />

viabilizar o trabalho dos artesãos como uma forma<br />

de preservação das tradições culturais da região.<br />

“Eu não vendo produtos. Eu trabalho é com a<br />

história de pessoas da zona rural, principalmente<br />

mulheres, que precisam de apoio para dar<br />

continuidade ao seu trabalho, porque os filhos<br />

e netos dessas pessoas já não querem aprender<br />

o artesanato e, sem esse apoio, a tradição vai<br />

acabar”, alerta.<br />

Logicamente, boas vendas e projeção<br />

são atrativos importantes para<br />

que as crianças se interessem<br />

por ofícios e técnicas que vem<br />

se perpetuando por gerações<br />

e gerações de famílias artesãs. N o<br />

grupo de Sergia, estão reunidas mais de 40<br />

comunidades espalhadas pelo sertão, agreste<br />

e zonas da Mata Sul e Norte de Pernambuco.<br />

“São pessoas que já nasceram fazendo isso.<br />

Temos uma associação, por exemplo, que produz<br />

rendas dentro de uma tribo indígena”, exemplifica.<br />

Uma das formas de apoio, segundo a gestora,<br />

é o investimento na capacitação dos artesãos.<br />

Entre seus representados, diz, o esforço próprio<br />

dos artesãos já trouxe melhorias na gestão do<br />

trabalho, o que inclui a capacidade de produção,<br />

negociações com preços justos e o afastamento<br />

da figura do atravessador – aquele intermediário<br />

interessado exclusivamente no lucro, com<br />

interferências negativas na qualidade do produto e<br />

no rendimento financeiro do trabalho.<br />

Outro ponto importante, segundo Sergia,<br />

é o trabalho de divulgação do artesanato nos<br />

mercados interno e externo. A carência de recursos<br />

produz poucos resultados, mesmo quando há<br />

o investimento na participação em eventos no<br />

exterior. “A gente vai a feiras em Madri, Frankfurt<br />

ou Paris, mas fica em um stand pobre e acanhado.<br />

A China monta um galpão, mostra tudo o que tem<br />

e consegue um volume muito maior de negócios”,<br />

exemplifica.<br />

Por tudo isso, Sergia encarou a rodada de<br />

negócio com a rede El Corte Inglés como uma<br />

oportunidade única de mostrar o artesanato de<br />

Pernambuco e fechar vendas de grandes volumes,<br />

embroidery in the most varied stitches; renaissance<br />

lace, filet and Richelieu; illustrated pottery (saints,<br />

men, women and animals); crochet towels, works<br />

in fiber, cushions and several other products.<br />

“Whatever you want to buy, it is here”, ensures the<br />

ICA manager, in Pernambuco.<br />

With a professional career built in the area of<br />

sales, Sergia is eager to propel the associates’ sales.<br />

Besides commercial motivation, she wants to make<br />

the artisans works profitable and feasible as a way<br />

to preserve the cultural traditions in the region. “I<br />

don’t sell products. I work with the history of these<br />

people in rural areas, mainly women, who need<br />

support to give continuity to their work, as the<br />

sons and grandsons of these people do not want to<br />

learn the craft and, without this support, tradition<br />

is going to die”, she warns.<br />

Obviously, good sales and projection<br />

are important attractions to make<br />

children interested in the craft and<br />

techniques that are passed from<br />

generation to generation<br />

of artisans’ families. In<br />

Sergia’s group there are<br />

over 40 communities<br />

scattered along the sertao,<br />

agreste and zona da mata in the<br />

South and North of Pernambuco.<br />

“These are people who do that from<br />

berth. We have an association, for example,<br />

that produces laces from inside an indigenous<br />

tribe”, she explains.<br />

One of the ways of support, according to the<br />

manager, is the investment in the qualification of<br />

artisans. Among her represented ones the efforts<br />

of artisans themselves have already brought<br />

improvement in the management of work, which<br />

includes production capability, negotiations with<br />

fair prices and the step out of the intermediary<br />

figure – that intermediary interested exclusively in<br />

the profit, with negative interference in the product<br />

quality and in the financial gains of the work.<br />

Another important point, according to Sergia,<br />

is the work of promotion of handicraft in the<br />

domestic and external market. The scarcity of<br />

resources produces a few results, even when there is<br />

no investment in the participation in international<br />

events. “We go to exhibits in Madrid, Frankfurt or<br />

Paris, but stay in a rustic and shy booth. China puts<br />

together a warehouse, displays everything they<br />

have and obtain a much higher business volume”,<br />

she explains.<br />

For all that, Sergia sees the business session with<br />

the El Corte Inglés chain as a unique opportunity to<br />

show handicraft from Pernambuco and close large<br />

abrindo passagem / making the way 37


garantindo atividade e renda para seu pessoal.<br />

“Seria uma vitória fora do comum, uma chance<br />

de decolar”, resume. “A compradora ficou muito<br />

impressionada com o produto e dei a ela a garantia<br />

de produção e entrega. Disse que o que ela quisesse,<br />

na quantidade que fosse, estaria embarcando no<br />

porto em novembro, que é o prazo para despachar<br />

as mercadorias”, conta.<br />

De acordo com gestora, as associações,<br />

individualmente, não teriam condições de atender<br />

grandes pedidos em prazos curtos, mas bastaria<br />

que ela distribuísse os pedidos pelas diversas<br />

comunidades para que os volumes fossem<br />

alcançados. Ou seja, era só uma questão de gerir<br />

corretamente a encomenda.<br />

Apesar de não ter conseguido concretizar<br />

negócios com a rede européia, Sergia não pretende<br />

desistir e seguirá em busca de contatos com<br />

compradores de grande porte. Hoje, os grupos<br />

de tecelagem já colocam seus produtos nas lojas<br />

da Tok Stok (mobiliário e decoração), Pão de<br />

Açúcar (hipermercados) e em pequenos varejistas<br />

da Itália. A comercialização no mercado regional<br />

já está consolidada, com showroom e vendas<br />

voltadas para turistas que visitam Pernambuco e<br />

para a população local. O que Sergia quer são voos<br />

maiores e conquistar mais respeito e admiração<br />

para o artesanato e os artesãos.<br />

Paixão imediata<br />

Apesar de representar pessoas que sustentam<br />

longas tradições culturais com o seu trabalho<br />

manual, a relação de Sergia com o artesanato é<br />

relativamente recente. Como dito anteriormente,<br />

ela fez carreira profissional na área de vendas e foi<br />

justamente isso que possibilitou um contato mais<br />

próximo com o setor. Em 2003, ela foi convidada<br />

pelo Sindicato dos Artesãos de Pernambuco para<br />

cuidar da parte comercial de um projeto que<br />

pretendia levar a produção local para pontos de<br />

venda nos Estados Unidos.<br />

O projeto não foi levado adiante, mas Sergia<br />

já havia sido contaminada pelo “vírus” do<br />

artesanato. Interessada pelo setor e pelas pessoas<br />

nele envolvidas, ela prosseguiu no trabalho de<br />

pesquisa e prospecção de entidades que ela pudesse<br />

representar comercialmente. A partir daí, ela<br />

acumulou um grande conhecimento da artesania<br />

pernambucana e desenvolveu uma relação afetiva<br />

com a produção local, como fica evidente em sua<br />

fala emocionada e aguerrida na defesa dos valores<br />

e da arte daqueles que representa.<br />

38 abrindo passagem / making the way<br />

volume deals, ensuring the work and income to<br />

her people. “It would be an unprecedented victory,<br />

a chance to take over”, she summarizes. “The buyer<br />

was very impressed by the product, and then I gave<br />

her warranties of the product and delivery. I said<br />

that whatever she wanted, no matter what quantity,<br />

would be shipped from the port in November, that<br />

is the deadline to ship the goods”, says she.<br />

According to the manager the associations,<br />

individually, would not be able to cope with large<br />

orders within short periods, but it only takes<br />

dividing the order among the several communities<br />

and the quantities would be reached. That is, it is<br />

just a matter of properly managing the order.<br />

Although business have not been closed with the<br />

European chain, giving up is not in Sergia’s plans<br />

and she continues seeking contact with large scale<br />

buyers. Today, weaving groups can already place<br />

their products at the Tok Stok stores (furniture and<br />

decoration), Pão de Açúcar (hypermarkets) and<br />

at small retailers in Italy. Commercialization in<br />

the regional market is already consolidated, with<br />

showroom and sales turned to tourists who visit<br />

Pernambuco and to local population. What Sergia<br />

wants is to go farther and win more respect and<br />

admiration to handicraft and artisans.<br />

Passion at first sight<br />

In spite of representing people that carry long<br />

cultural traditions through their manual work, the<br />

relation of Sergia with handicraft is fairly recent.<br />

As previously said, she built a professional career<br />

in the sales area and that is what made possible<br />

a closer contact with the sector. In 2003, she was<br />

invited by the Union of Artisans of Pernambuco<br />

to take care of the commercial part of a project<br />

that intended to take local production to purchase<br />

points in the United States.<br />

The project was not carried on, but Sergia<br />

has already been contaminated by the “virus” of<br />

handicraft. Interested in the sector and in the people<br />

involved in it, she carried out the research and<br />

prospection works for entities she could represent,<br />

commercially. From there, she has accumulated<br />

great knowledge on handicraft from Pernambuco<br />

and developed an affection relationship with the<br />

local production, as it becomes evident in her<br />

emotional and brave speech in the defense of the<br />

values and art of those represented by her.<br />

In 2007 she met Benedito Monteiro, a.k.a. Sumé,<br />

founder of the Cearense Institute of Handicraft<br />

that invited her to be the manager of the entity’s<br />

branch in Pernambuco, where it still is.


Em 2007, ela conheceu Benedito Monteiro,<br />

o Sumé, fundador do Instituto Cearense de<br />

Artesanato, que a convidou para ser a gestora do<br />

braço da entidade em Pernambuco, onde está até<br />

hoje.<br />

Nesse processo, Sergia acabou por criar uma<br />

linha de produtos própria em confecção e pretende<br />

trabalhar também com reciclados. Ela comercializa<br />

vestimentas para os praticantes da religião afrobrasileira<br />

do Candomblé e se orgulha da qualidade<br />

de seus produtos. “Eu faço axó (roupa ritual) só<br />

com percal, linho e renda richelieu de primeira<br />

qualidade. Eu vendo richelieu até para o Barack<br />

Obama, e a Michelle vai usar”, diverte-se. Para<br />

quem não conhece, as roupas do Candomblé são<br />

ricas em rendas e bordados, com cores específicas<br />

para cada orixá.<br />

Ela usa seu próprio caso, inclusive, para falar<br />

sobre a questão da qualidade no artesanato. Muitos,<br />

diz, fazem o axó com morim, um tecido mais<br />

barato e que perde o caimento depois de lavado.<br />

Da mesma forma, há quem produza o artesanato<br />

típico da região com materiais inadequados ou de<br />

baixa qualidade, seja por opção ou como reflexo<br />

de distorções do mercado e da perda da identidade<br />

cultural. Para quem se interessa pela qualidade<br />

e beleza das peças pernambucanas, porém, ela<br />

garante que entrega qualidade, preço e quantidade.<br />

Fica feito o convite.<br />

In this process, Sergia ended up by creating her<br />

own products line in weaving and she also intends<br />

to work with recycled materials. She sells outfits to<br />

practitioners of the Candomble, an Afro-Brazilian<br />

religion, and is proud of the quality of her products.<br />

“I make axó (a spiritual outfit) using only percale,<br />

linen and first quality Richelieu lace. I could sell<br />

Richelieu even to Barack Obama, and Michelle<br />

would wear it”, says she, amused. For those not<br />

familiar with it, Candomble outfits are rich in laces<br />

and embroidery, with specific colors to each orixá.<br />

She even uses her own case to talk about the<br />

issue quality in handicraft. Many people make axó<br />

using a cheaper and finer cotton fabric that loses<br />

fitting after it is washed. Likewise, there are people<br />

who produce typical handicraft of the region<br />

using improper or low quality materials, either as<br />

an option or a reflection from market distortions<br />

and from the loss of cultural identity. To those<br />

interested in the quality and beauty of the pieces<br />

from Pernambuco, however, she warrants she<br />

delivers quality, price and quantity. The invitation<br />

has been made.<br />

abrindo passagem / making the way 39


Entrevista / Interview<br />

Ronaldo Fraga<br />

Estilista de moda e proprietário da grife Ronaldo Fraga<br />

Fashion designer and owner of the brand Ronaldo Fraga<br />

POR /BY Carlos Moreira<br />

FOTOS / PHOTOS Alexandre Mota<br />

Ronaldo Fraga é um dos estilistas de moda mais respeitados do Brasil, atualmente. Embora seja formado<br />

pelo curso de estilismo da Universidade Federal de Minas Gerais, com pós-graduação na Parson’s School of<br />

Design de Nova York e pela Saint Martins School (Londres), a marca de seu trabalho não vem do banco da<br />

escola ou dos ateliês de alta costura, mas de uma profunda relação com a cultura brasileira e da observação<br />

das pessoas, dos contextos e da história de seu tempo. Ronaldo gosta de dizer que descobriu seu caminho<br />

ainda em seu primeiro emprego em uma loja de tecidos. Lá, ainda inexperiente, foi contratado para desenhar<br />

roupas para as mulheres que visitavam o estabelecimento. Da conversa com elas, quando buscava entender<br />

desejos e a relação de cada uma com a roupa, ele percebeu seu gosto e necessidade de entender os indivíduos<br />

e seu mundo, de enxergar as transformações culturais e incorporar tudo isso a seu trabalho.<br />

Em sua trajetória, Fraga passou pelo desafio de criar sua própria marca, produzir, vender e distribuir,<br />

mas sem perder sua identidade e o prazer pelo desenho. Ou seja, um caminho muito similar ao trilhado por<br />

quem se dedica ao artesanato. O estilista, aliás, tem relação íntima com o artesanato, tanto na participação<br />

em projetos de capacitação e geração de renda, quanto na incorporação de elementos genuínos da cultura<br />

brasileira a suas coleções, caso de um grupo de bordadeiras de Passira (PE), com quem desenvolveu um<br />

trabalho e que se tornaram fornecedores de sua grife. Confira.<br />

Ronaldo Fraga is one of the most respected fashion designers in Brazil, currently. Although he holds a<br />

fashion designer degree by the Federal University of Minas Gerais, with specialization by the Parson’s School<br />

of Design New York and by the Saint Martin’s School (London), the trade mark of his work does not come<br />

from a school bench or from couture ateliers, but from a deep relationship with Brazilian culture and from<br />

the observation of people, of contexts and of his contemporary history. Ronaldo likes to say he discovered<br />

his path right in his first job, in a fabric store. There, still inexperienced, he was hired to design clothes to<br />

women who visited the store. From conversations with them, while he tried to understand desires and the<br />

relationship of each one with the outfit, he started observing his taste and the need to understand individuals<br />

and their world, the need to see cultural transformations and incorporating everything to his work.<br />

During his journey, Fraga faced the challenge of creating, producing, selling and distributing his own<br />

brand, without losing his identity and pleasure of drawing, that is, a path very similar to the one followed<br />

by those who are dedicated to handicraft. By the way, the designer has a close relationship with handicraft,<br />

both participating in projects of qualification and income generation and in the incorporation of genuine<br />

elements of the Brazilian culture to his collections, which was the case of a group of embroiderers from<br />

Passira (PE), with whom he developed a work and became suppliers to his brand. Check it out.<br />

40 entrevista / interview


Do ponto de vista industrial, quando<br />

você começou a lançar suas coleções e teve<br />

que vendê-las, teve que produzir. O que<br />

você encarou nesse momento?<br />

Ronaldo Fraga – É difícil, a mesma coisa até hoje.<br />

É produção e distribuição. Tudo que eu produzo, eu<br />

vendo. O negócio é que eu fico segurando a marca<br />

para não crescer demais, por questões óbvias. Hoje,<br />

no Brasil, a gente está passando por uma situação<br />

em que a pequena e a micro empresa, na forma<br />

que está indo, estão com os anos contados, assim<br />

como a indústria têxtil brasileira. É caro produzir<br />

no Brasil. É mais negócio ter uma marca no Brasil<br />

e produzir na China. Isso é o mais barato, o mais<br />

viável. Então, desde que eu comecei, meu problema<br />

nunca foi venda, foi produção. É o grande gargalo.<br />

É a produção e, depois, a distribuição.<br />

E qual dos dois aspectos é mais<br />

desafiador, produzir ou distribuir?<br />

Ronaldo – A produção é mais porque você não<br />

cuida da distribuição daquilo que não se produz.<br />

Você tem que ter capacidade de produção. Tem<br />

um ano que estamos aqui (na confecção atual) e<br />

este galpão já está pequeno. Teremos que alugar o<br />

galpão ao lado, que é uma coisa que eu não queria.<br />

Não quero ser industrial, não quero ser empresário.<br />

From an industrial point of view, at<br />

the moment you started launching your<br />

collections and selling them, you had to<br />

produce. What challenges did you have to<br />

face, then?<br />

Ronaldo Fraga – It is hard, the same difficulties<br />

of today. It is production and distribution.<br />

Everything I produce I sell. Thing is, I keep holding<br />

the brand so it will not grow too much, for obvious<br />

reasons. Today, in Brazil, we are going through a<br />

situation in which small and micro enterprises,<br />

seeing the current conditions, have their days<br />

numbered, as well as the Brazilian textiles<br />

industry. It is expensive to produce in Brazil. It is<br />

more advantageous having a brand in Brazil and<br />

producing in China. This is the cheapest and most<br />

feasible. Thus, since I started, my problem has<br />

never been sales, but production. It is the biggest<br />

bottleneck. It is production and, then, distribution.<br />

And which of the two aspects is the<br />

most challenging one, producing or<br />

distributing?<br />

Ronaldo – Production is the biggest, because<br />

it is impossible to distribute what you have not<br />

produced. One has to have production capacity.<br />

We have been here for year (at the current atelier)<br />

entrevista / interview 41


Quero continuar viajando, quero ir para o interior<br />

do Brasil, quero continuar desenvolvendo projetos<br />

com comunidades, quero continuar fazendo<br />

figurino para cinema e televisão...<br />

E como você lida com esses opostos, com o<br />

seu prazer pela pesquisa e pela criação em<br />

oposição às demandas de ser empresário,<br />

de responder por uma marca, empregos e<br />

ações de mercado. Como você compara isso<br />

com a atividade do artesão?<br />

Ronaldo – Primeiro, o que me oxigena? É o<br />

que sempre me oxigenou, eu preciso entrar nesses<br />

universos para continuar fazendo o que eu faço.<br />

Não posso ficar enfiado dentro dessa confecção.<br />

Segundo, a história do artesanato... Eu não conheço<br />

ninguém que tenha se envolvido com artesanato<br />

por questão econômica. Quem entrou com vontade<br />

de ganhar dinheiro, simplesmente, não ficou muito<br />

tempo, porque a relação com o artesanato, antes de<br />

qualquer coisa, ela parte de um ponto que é visão<br />

de mundo, que é se emocionar por uma cultura<br />

brasileira, por uma cara brasileira feita à mão.<br />

E acreditar que isso não só pode como deve ser<br />

viabilizado para que não morra. Muito mais que<br />

uma coisa econômica, que o artesão produz ou<br />

não para venda, tem um caráter antropológico.<br />

Imagine o quanto a perda de um ponto de bordado<br />

no artesanato é um desastre cultural sem retorno.<br />

Sua consistência não é que você tem um<br />

traço característico, uma regularidade. É<br />

que tudo que você faz tem uma pesquisa,<br />

um tema, um envolvimento.<br />

Ronaldo – É verdade. E por que isso? Porque<br />

é um lugar de conforto para mim, eu escolhi fazer<br />

isso. Então, se eu tivesse, no meio do caminho,<br />

sido arquiteto ou qualquer outra coisa, certamente<br />

eu teria levado isso para minha história. O meu<br />

grande prazer é a pesquisa, é agora, neste momento,<br />

definir o meu objeto de trabalho para os próximos<br />

seis meses, porque ele vai me trazer um universo<br />

que não conheço, uma leitura de assuntos que eu<br />

não conheço e que provavelmente vai entrar no<br />

meu trabalho para não sair mais.<br />

42 entrevista / interview<br />

and the warehouse is already becoming small. We<br />

have to rent the neighbor warehouse, which is<br />

something I would not like. I do not want to go<br />

industrial; I do not want to be a businessman. I<br />

want to continue traveling, going to small cities in<br />

Brazil, I want to continue developing projects with<br />

communities; I want to go on making costumes to<br />

films and television...<br />

And how do you deal with these<br />

opposites, with your taste for research<br />

and creation as opposed to the demands<br />

of being a businessman, of responding for<br />

a brand, jobs and market share. How do<br />

you compare that with the activity of an<br />

artisan?<br />

Ronaldo – Firstly, what drives me? Is what has<br />

always driven me; I need to be in these spheres to<br />

continue doing what I do. I cannot be locked inside<br />

this atelier. Secondly, the history of handicraft...<br />

I do not know anyone who has get involved with<br />

handicraft for economic reasons. Those who<br />

entered aiming to make money simply did not<br />

stay long, because the relationship with handicraft,<br />

before anything, starts from a point that is a vision<br />

of world, that is getting emotionally involved with<br />

the Brazilian culture, with a face behind something<br />

hand-made. And believing it can and must be made<br />

feasible so it will not die. Beyond an economic thing<br />

that artisans produce destined to be sold or not,<br />

it presents an anthropological character. Imagine<br />

how disastrous, beyond fixing, is it missing a stitch<br />

in the handicraft cultural embroidery.<br />

Your consistency is not translated into<br />

a characteristic aspect, into regularity. It<br />

is the research that is behind everything<br />

that you do, a theme, involvement.<br />

Ronaldo – That is true. And why is that? Because<br />

it is my comfort zone, I have chosen to do that. If<br />

I had chosen, in the middle of way, to become an<br />

architect or any other thing, I certainly would have<br />

taken that to my history. My biggest pleasure is<br />

research, it is now, at this moment, to define my<br />

goals of work for the next six months, because it<br />

going to bring me a universe that is unknown to<br />

me, a reading of subjects I do not know and that<br />

will probably enter my work to never leave again.


Conte-nos sobre o trabalho com artesãos,<br />

tanto no que diz respeito à incorporação<br />

do artesanato a sua arte, quanto no<br />

envolvimento com a troca de experiências<br />

e projetos de geração de emprego e renda.<br />

Ronaldo – A relação com estes ofícios – uso<br />

essa palavra porque eles são bem diversos – já é<br />

longa. Eu trabalhei por dois anos em São Borja,<br />

na divisa do Rio Grande do Sul com a Argentina,<br />

com artesanato de crina de cavalo e lã. Um ano<br />

e meio com um grupo de couro de peixe no<br />

Pantanal; de bordado cheio e bordado labirinto<br />

na Paraíba e grupo de renda renascença na divisa<br />

da Paraíba com Pernambuco. Em Minas, também,<br />

lá na cidade de Salinas. Como tudo e todo objeto<br />

de pesquisa das minhas coleções, esses ofícios<br />

entram na minha vida, no meu trabalho, para não<br />

sair mais. De alguma forma, eles estão ali. De uma<br />

forma mais clara e explícita em algumas coleções<br />

ou mais implícita em outras. O bordado e o feito<br />

à mão sempre se fazem presente nas minhas<br />

coleções. Da mesma forma que eu vou definir<br />

os tecidos e a estamparia da próxima estação, eu<br />

defino também os bordados e que grupo vai fazer<br />

isso. Então, na maioria das vezes eu nem divulgo,<br />

porque isso para mim já é absolutamente natural.<br />

Eu acho que é legal quando você chega nesse<br />

ponto, nesse tipo de relação. Por exemplo, tem<br />

um grupo de Itabira com o qual trabalho desde<br />

2005, na coleção dedicada ao Carlos Drummond<br />

de Andrade. Hoje, ele é fornecedor como outro<br />

qualquer. Um fornecedor com quem eu brigo para<br />

poder entregar, e brigamos por causa de preço.<br />

Não tem essa relação paternalista.<br />

E qual o seu critério para incorporar<br />

o artesanato ao seu trabalho? Como<br />

garantir que haja geração de renda e<br />

preservação da atividade?<br />

Ronaldo – Eu sempre fiz esse tipo de trabalho<br />

com artesãos, mas pouquíssimos deles eu trouxe<br />

para o meu trabalho, para a minha marca, porque<br />

eu sempre tive muito pudor com relação a isso. Eu<br />

coordenava o trabalho, as artesãs desenvolviam<br />

uma coleção, um produto, que era lançado numa<br />

feira tal e elas usavam meu nome para poder<br />

vender. E eu sempre vi essa dificuldade de ponto de<br />

venda. As pessoas iam para a feira, faziam o maior<br />

sucesso, vendiam rápido. Mas depois o comprador<br />

Tell us about the work with artisans,<br />

both regarding the respect to the<br />

incorporation of handicraft to your art<br />

and in the involvement with the expertise<br />

exchange and projects of generation of<br />

jobs and income.<br />

Ronaldo – The relationship with these crafts – I<br />

use this word because they are very different – is<br />

long. I worked for two years in São Borja, at the<br />

border between Rio Grande do Sul and Argentina,<br />

with horse mane and wool handicraft. A year and<br />

a half with a fish skin group in Pantanal; of full<br />

embroidery and labyrinth embroidery in Paraíba<br />

and a group of renaissance lace in the border<br />

between Paraíba and Pernambuco. Also in Minas,<br />

in the city of Salinas. As everything and every<br />

object of research in my collection, these craft<br />

enter my life and my work not to ever leave again.<br />

Somehow, they will be there. In a more clear and<br />

explicit way in some collections or more implicit<br />

in others. Embroidery and hand-made items have<br />

always been present in my collections. The same<br />

way I am going to define fabrics and patterns<br />

for the nest season, I also define the embroidery<br />

and the group who is going to make it. So, most<br />

of times, I do not even disclose it, as for me it is<br />

absolutely natural. I think it is nice when you reach<br />

this point, in this type of relationship. For example,<br />

there is a group from Itabira with whom I have<br />

worked since 2005, in the collection dedicated to<br />

Carlos Drummond de Andrade. Today, they are a<br />

supplier just like any other. A supplier with whom<br />

there is struggle for delivery, there is struggle for<br />

price. There is no paternalist relationship.<br />

And what are your criteria to<br />

incorporate handicraft to your work? How<br />

to ensure there is income generation and<br />

preservation of the activity?<br />

Ronaldo – I have always done this type of work<br />

with artisans, but not all these groups, only a few<br />

of them, I have brought to my work, to my brand,<br />

because I have always been very timid in this<br />

regard. I coordinated the work, artisans developed<br />

a collection, a product that was launched in a given<br />

fair and they used my name in order to sell. And<br />

I have always seen this difficulty in the purchase<br />

point. People would go to the fair, make successful<br />

sales, and sell very quickly. But then buyers could<br />

entrevista / interview 43


não conseguia encontrar o grupo de novo, o<br />

telefone estava cortado, o envio da encomenda é<br />

caríssimo. Enfim, nada para facilitar e tudo para<br />

dificultar. Com as bordadeiras de Passira (PE), eu<br />

pensei “tenho uma pontos de venda, tenho acesso,<br />

tenho que trazer isso para dentro da minha loja.<br />

Então, a partir da coleção “Turista Aprendiz”<br />

(verão 2010/2011), todas as minhas peças têm<br />

uma etiqueta com o nome da bordadeira, em que<br />

comunidade foi feita peça e o contato delas. Esse<br />

grupo de Passira, por exemplo: tem empresas de<br />

enxoval de luxo de São Paulo, de cama, mesa e<br />

banho, de acessórios, que, através desse contato,<br />

chegou diretamente a elas.<br />

No trabalho com os artesãos, tanto entre<br />

os que você desenvolve coleções, quanto os<br />

que você agrega como fornecedores, o que<br />

você percebe como dificuldades e desafios?<br />

Ronaldo – Tem uma coisa que é difícil em<br />

qualquer processo industrial ou empresarial, que<br />

é a gestão. Gestão de produção e de pessoal é uma<br />

coisa difícil não para os artesãos, mas para todo<br />

mundo. Então, pegar esse talento, a alma genuína<br />

desse produto, aparar arestas para que isso chegue<br />

a um determinado público que se quer atingir e<br />

coordenar de forma redonda toda essa produção<br />

não é uma coisa fácil. Se pouquíssimos têm<br />

condições para ser um estilista ou designer, menos<br />

ainda para ser um administrador, um gestor. Esse é<br />

um grande problema: gestão e organização de todo<br />

o processo de produção.<br />

E o que acontece com seus fornecedores?<br />

Há esses problemas?<br />

Ronaldo – Vou dar um exemplo. Hoje, o Brasil<br />

não produz linho. Se quiser um linho de qualidade,<br />

tem que importar. Em uma coleção, comprei<br />

o linho branco, cortei as peças e mandei para as<br />

bordadeiras de Passira. Llá elas têm uma chefe de<br />

produção que montou uma força-tarefa, dobrou<br />

o número de bordadeiras e otimizou a produção.<br />

Uma ficou com a manga, outra com as costas,<br />

outra com a frente. Aí, bordaram, engomaram<br />

e despacharam. Chegou a tempo, tudo certo.<br />

Quando a gente começou a montar, uma frente era<br />

marrom, a outra amarela... Simplesmente porque<br />

ninguém pensou que estávamos lidando com o<br />

agreste pernambucano. Então, uma engomou com<br />

44 entrevista / interview<br />

not find the group again, phone were cut off, the<br />

shipping of orders is very costly. In summary,<br />

nothing for and all against. With the embroiderers<br />

from Passira (PE) I thought “I have purchase sales,<br />

I have access, and I have to bring it inside my store.<br />

Then, since the collection “Apprentice Tourist”<br />

(2010/2011 Summer), all my pieces have a tag with<br />

the name of the embroiderer, the community where<br />

it was made and their contact info. This group<br />

from Passira, for example, has some businesses of<br />

luxury bed and bath and accessories in São Paulo<br />

that, through this contact, have been put in direct<br />

contact with them.<br />

At the work among artisans both<br />

among the ones with whom you develop<br />

collections and among those aggregated<br />

as suppliers, what do you see as difficulties<br />

and challenges?<br />

Ronaldo – There is something that is difficult<br />

in any industrial or business process, which is<br />

management. Production and staff management<br />

is something hard not only to artisans, but to<br />

everybody. Thus, taking this talent, the genuine<br />

soul of this product, trim these ends so that it can<br />

reach a specific desired audience and properly<br />

coordinating all this production is not an easy task.<br />

If only a few ones have conditions to be a fashion<br />

designer, only fewer could be administrators or<br />

managers. This is a big problem: management and<br />

organization of the entire production process.<br />

And what happens to your suppliers Do<br />

they face these problems?<br />

Ronaldo – Let me give you an example. Brazil<br />

does not produce linen, currently. If I want some<br />

quality linen, I have to import. For a collection, I<br />

bought white linen, cut the pieces and sent them<br />

to the embroiderers from Passira. There, they have<br />

a forewoman who gathered a task-force, doubled<br />

the amount to embroiderers and optimized<br />

production. One was in charge of the sleeves,<br />

another one of the back, of the front, and so on.<br />

They embroidered, ironed and shipped. It arrived<br />

on time, everything right. When we started to put<br />

the pieces together, one front was brown, the other<br />

was yellow... Simply because nobody thought we<br />

were dealing with the agreste in Pernambuco. So,<br />

one ironed using water from the river, another one


água do rio, outra com água da cisterna. Imagine a<br />

encrenca, foi tudo perdido.<br />

Então, há uma questão delicada.<br />

Tem que haver a preservação cultural, a<br />

autenticidade, mas tem que haver uma<br />

profissionalização para que a produção<br />

atenda aos requisitos.<br />

Ronaldo – Sim, claro. Na verdade, é um grande<br />

ciclo. Por mais que eu fale em andar à parte do<br />

poder público, não tem jeito. Essa gestão, essa<br />

organização, tem que vir das esferas do poder.<br />

Sou extremamente otimista. Estamos discutindo<br />

isso no Ministério da Cultura, que tem elementos<br />

facilitadores nesse sentido. Mas, para começar,<br />

esses ofícios de determinada região têm que estar<br />

na escola. As pessoas têm que aprender a bordar na<br />

escola, como parte do currículo. Todas as rendas<br />

que o Nordeste produz estão sendo produzidas na<br />

China por um terço do preço. Se grandes indústrias<br />

não conseguem competir com a China, há como<br />

artesãos enfrentarem isso? Se for ver só a questão<br />

da viabilidade econômica, a gente desiste. Já escutei<br />

muito que é inviável trabalhar com artesanato no<br />

Brasil.<br />

Você acha que o artesanato brasileiro é<br />

negligenciado de alguma forma?<br />

Ronaldo – A relação que nós temos com<br />

artesanato no Brasil ainda é uma relação de país<br />

colonizado. É coisa de pobre, feita por pobre que<br />

as pessoas compram para ajudar. Então, as pessoas<br />

se ofendem quando querem comprar alguma<br />

coisa e descobrem que o preço é maior do que elas<br />

imaginavam. Isso demanda cultura, demanda uma<br />

apropriação cultural das pessoas em relação ao<br />

país. E, principalmente, um investimento no fim<br />

do paternalismo, porque a história do “comprar<br />

para ajudar” é um paternalismo. O que eu vejo<br />

de melhor na arte contemporânea do país tem<br />

influência da arte popular. No diálogo entre esses<br />

segmentos, ganha o país e nós temos condições de<br />

desenvolver um produto sem similar no mundo,<br />

com uma percepção de valor completamente<br />

diferente.<br />

from the pit. Imagine the trouble. It was all lost.<br />

So, there is a sensitive issue. There must<br />

be cultural preservation, authenticity, but<br />

there must also be qualification, so that<br />

production can meet the requirements.<br />

Ronaldo – Yes, of course. Actually, it is a big<br />

cycle. Although I talk about acting independently<br />

from public power, there is no way out. This<br />

management, this organization has to come from<br />

the power spheres. I am extremely optimistic.<br />

We are discussing it at the Ministry of Culture,<br />

which has facilitating elements, in this sense. But,<br />

to start with, these crafts of a given region must<br />

be at schools. People need to learn embroidering<br />

at school, as a part of the course syllabus. All the<br />

income the Northeast produces is being produced<br />

in China for a third of the price. If large industries<br />

cannot compete with China, is there any way<br />

artisans can face it? If we take it only from the<br />

economic feasibility perspective, we give up. I have<br />

heard a lot about how it is impossible to work with<br />

handicraft in Brazil.<br />

Do you think that Brazilian handicraft<br />

is neglected, somehow?<br />

Ronaldo – The relationship we have with<br />

handicraft in Brazil is still a colonized country<br />

relationship. It is something poor, made by the poor<br />

and people buy it as a way of helping. So, people<br />

get offended when they want to buy something and<br />

find out the price is higher that they imagined. It<br />

requires culture, requires a cultural appropriation<br />

of people in relation to the country. And, mainly,<br />

investment towards the end of paternalism,<br />

because the story of “buying to help” is paternalist.<br />

What I see that is best in the contemporary art of<br />

the country receives the influence of popular art. In<br />

the dialogue between these segments, there is gain<br />

to the country and we have conditions to develop<br />

a product without a similar product in the world,<br />

with a completely different perception of value.<br />

entrevista / interview 45


giFT FAiR<br />

Feiras e Eventos<br />

27/08/2011 a 30/08/2011<br />

Local: Expo Center Norte – São Paulo – São Paulo<br />

www.grafitefeiras.com.br<br />

ART MuNdi – 8ª FeiRA MuNdiAl de<br />

ARTesANATo<br />

02/09/2011 a 11/09/2011<br />

Local: Mendes Convention Center – Santos – São<br />

Paulo<br />

www.artmundisp.com.br<br />

FeiARTe – 30ª FeiRA iNTeRNAcioNAl<br />

de ARTesANATo<br />

16/09/2011 a 25/09/2011<br />

Local: <strong>Centro</strong> de Eventos do Pantanal – Cuiabá –<br />

Mato Grosso<br />

www.feiartemt.com.br,<br />

ART VAle – edição soRocAbA – 3ª<br />

FeiRA iNTeRNAcioNAl de culTuRA<br />

e ARTesANATo e FesTA dAs NAções<br />

14/10/2011 a 23/10/2011<br />

Local: Clube União Recreativo – Sorocaba – São<br />

Paulo<br />

www.tmlpromoeventos.com.br<br />

46 eu faço / i make<br />

Fairs and Events<br />

3º sAlão especiAl<br />

05/10/2011 a 07/10/2011<br />

Local: Serraria Souza Pinto – Belo Horizonte –<br />

Minas Gerais<br />

www.centrocape.org.br<br />

sAlão iNTeRNAcioNAl do<br />

ARTesANATo – 4ª exposição<br />

iNTeRNAcioNAl de ARTesANATo<br />

02/11/2011 a 06/11/2011<br />

Local: Pavilhão de Exposições Expobrasília –<br />

Brasília – Distrito Federal<br />

www.salaodoartesanato.com.br<br />

NATAl ARTesANAl – 6ª FeiRA de<br />

ARTigos NATAliNos ARTesANAis<br />

10/11/2011 a 15/11/2011<br />

Local: Complexo Cultural da Urca – Poços de<br />

Caldas – Minas Gerais<br />

www.feiradenatalpocosdecaldas.com.br<br />

22ª FeiRA NAcioNAl de ARTesANATo<br />

22/11/2011 a 27/11/2011<br />

Local: <strong>Centro</strong> de Exposições Expominas – Belo<br />

Horizonte – Minas Gerais<br />

www.feiranacionaldeartesanato.com.br


Eu Faço / I Make<br />

aline veloso de Matos<br />

FOTOS / PHOTOS Pedro Gil<br />

“EU VIVO DO LIXO!” Esta é a forma a um só<br />

tempo sintética e múltipla com a qual Aline Veloso<br />

de Matos define aquilo que é, hoje, seu trabalho e<br />

sua forma de ver o mundo. Afinal de contas, são 17<br />

anos vividos a transformar resíduos em arte, boa<br />

parte deles dedicados também a ensinar o ofício e<br />

a mostrar aos mais diversos públicos que há beleza<br />

e utilidade onde a maioria enxerga apenas restos<br />

de consumo, que embalagens vazias, latas, tampas,<br />

pedaços de plástico e papel trazem em si formas e<br />

objetos que dependem apenas da criatividade para<br />

se revelar.<br />

Graduada em Relações Públicas, o que Aline<br />

menos fez em sua vida foi exercer essa profissão.<br />

Pouco depois de formada, percalços da vida a<br />

desafiaram a buscar uma alternativa de atividade<br />

e renda. A solução foi encontrada no gosto por<br />

reaproveitar coisas, gosto este que já a havia<br />

ajudado a pagar seus estudos com a venda de papel<br />

artesanal e produtos derivados, como agendas e<br />

pastas.<br />

Da união do gosto com a necessidade nasceram<br />

bijuterias de garrafa pet, bolsas de lata, brinquedos<br />

de embalagem tetra pak e o que mais os materiais e<br />

a criatividade permitissem. Vendidos inicialmente<br />

com a ajuda de amigos e no boca a boca, hoje seus<br />

objetos podem ser vistos até em outros países,<br />

como Itália, Espanha e França, onde encontraram<br />

espaço na loja da De Bruille, que reúne artesanato<br />

de resíduos do mundo todo.<br />

Nessa trajetória, Aline testemunhou uma<br />

mudança de mentalidade na sociedade. Quando<br />

começou, sua passagem pelas ruas à cata de<br />

material era vista com um misto de estranheza e<br />

pena. Ao longo dos anos, ela viu essa percepção se<br />

transformar em admiração, na medida em que a<br />

consciência ambiental abriu os olhos das pessoas<br />

para a importância e a beleza dos objetos nascidos<br />

do reaproveitamento de restos.<br />

Autodidata, Aline se tornou instrutora,<br />

ministrando oficinas para catadores de recicláveis<br />

e para comunidades por meio de contratos com o<br />

Instituto Nenuca de Desenvolvimento Sustentável<br />

(Insea) e com a Companhia Energética de Minas<br />

Gerais (Cemig). Seu objetivo é ver os catadores<br />

aderirem ao artesanato com resíduos como forma<br />

de agregar valor ao seu trabalho.<br />

“I LIVE OUT OF GARBAGE!” This is the<br />

synthetic and multiple definition with which Aline<br />

Veloso de Matos describes her current work and<br />

the way she perceives the world. After all, she has<br />

made a living out of transforming waste into art<br />

for 17 years, good part of which also dedicated to<br />

teaching the craft and showing a wide variety of<br />

audiences that there is beauty and utility where<br />

most people only see garbage, demonstrating that<br />

empty packages, cans, lids, pieces of plastic and<br />

paper carry shapes and objects which only depend<br />

on creativity to be revealed.<br />

Although having a public relations degree,<br />

Aline has never exercised this profession. Shortly<br />

after graduation, mishaps in life challenged her to<br />

look for an alternative activity and income source.<br />

The solution was found through her joy in reusing<br />

things, something that had already helped her<br />

paying for her education, by selling handcrafted<br />

paper and related products, such as notebooks and<br />

folders.<br />

From this union between joy and necessity, PET<br />

jewelry, tin bags and milk carton toys were created,<br />

as well as anything else allowed by her materials<br />

and creativity. Initially sold with the help of friends<br />

and by word of mouth, her objects can be currently<br />

found abroad, in countries such as Italy, Spain and<br />

France, having conquered their space at De Bruille<br />

stores, which gather waste material handicraft<br />

from all over the world.<br />

Throughout her journey, Aline has witnessed<br />

a shift in society’s thinking. In the beginning, her<br />

wandering through the streets collecting material<br />

was perceived with a mixture of strangeness and<br />

pity. Throughout the years, she saw this perception<br />

change into admiration, since environmental<br />

awareness opened people’s eyes to the importance<br />

and beauty of objects created from recycled waste.<br />

Being a self-taught person, Alice became an<br />

instructor and promotes workshops for recyclable<br />

material collectors and communities through<br />

partnerships with Insea (Instituto Nenuca de<br />

Desenvolvimento Sustentável, Nenuca Sustainable<br />

Development Institute) and Cemig (Companhia<br />

Energética de Minas Gerais, Minas Gerais State<br />

Power Company). Her goal is to influence the<br />

collectors to adopt waste handicraft as a way of<br />

aggregating value to their work.<br />

eu faço / i make 47


onde encontrar<br />

WHERE TO FIND<br />

Associações do Acre<br />

(Página 12 / Page12)<br />

Cooperativa de Produtos e Serviços Econômicos e Solidários<br />

do Acre (Cooesa)<br />

Carlos e Maria de Fátima Taborga<br />

Tel. 55 68 3223-8062 / 3223-0010 / 9981-1394 / 9978-7543<br />

carlostaborga@hotmail.com<br />

Cooperativa de Artesãos Mulheres Arte de Vencer (Cooper Mav)<br />

Othília Batista Melo de Sampaio<br />

Tel. 55 68 3224-1973 / 9971-2452 / 8121-4752<br />

tilinhasampaio@yahoo.com.br<br />

Elsio Moriani<br />

(Página 18 / Page 18)<br />

Brasília – Distrito Federal<br />

Tel. 55 31 3382-3485 / 8408-4696<br />

E-mail: elsiobsb@gmail.com<br />

Marlene Alves da Costa e Gilda da Silva Barreto<br />

(Página 28 / Page 28)<br />

Dona Marlene<br />

Tel: 55 92 9239-5239<br />

Gilda Barreto<br />

Tel: 55 97 8114-9152<br />

Artesanato de Pernambuco<br />

(Página 36 / Page 36)<br />

Sérgia Almeida<br />

Tel. 55 81 3227 2687 / 8764-2234<br />

sergiaalmeida@bol.com.br<br />

sergiaalmeida@hotmail.com<br />

Associação Acreana Buriti da Amazônia<br />

Marcia Silvia de Lima<br />

Tel. 55 68 3026-1678 / 68 9995-9388<br />

buritidaamazonia@ibest.com.br<br />

Thiago Rethalho<br />

(Página 23 / Page 23)<br />

Tel: 55 31 3686-7440 / 9443-2034<br />

E-mail: rethalhoarte@gmail.com<br />

http://rethalhoarte.blogspot.com/<br />

Cícero Resende Chaves<br />

(Página 33 / Page 33)<br />

Tel. 55 32 3354-1588<br />

Caixa Postal nº 12<br />

CEP: 36.340-970<br />

Resende Costa - MG<br />

cicero.r.chaves@hotmail.com


22ª Feira Nacional<br />

de artesanato<br />

O Brasil Feito a Mão<br />

Toda a diversidade do<br />

artesanato e da cultura<br />

brasileira em<br />

um só lugar<br />

WELL COME<br />

All the diversity of<br />

brazilian handcraft and<br />

culture in<br />

just one place<br />

Expominas - Belo Horizonte - MG<br />

22 a 27<br />

de novembro<br />

dia 22 só para lojistas<br />

22rd to 27th<br />

of november<br />

22rd only for professional buyers<br />

www.feiranacionaldeartesanato.com.br<br />

31 3282 8280 - fna@centrocape.org.br

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