12ª Edição - Centro Cape
12ª Edição - Centro Cape
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Ano 4 - nº12 - Julho 2011<br />
Year 4 - nº12 - July 2011<br />
Entrevista com o estilista Ronaldo Fraga:<br />
“Eu sou um artesão da moda”<br />
Interview with stylist Ronaldo Fraga:<br />
“I’m a fashion artisan”<br />
Rede européia El Corte Inglés abre as<br />
portas para o artesanato brasileiro<br />
European chain El Corte Inglés<br />
opens its doors to Brazilian<br />
handicraft<br />
Uma viagem bela e rica à produção<br />
artesanal de várias regiões do Brasil<br />
A beautiful and rich journey into<br />
handicraft production throughout<br />
Brazil
<strong>Edição</strong> e projeto editorial / Ediction and editorial project<br />
Instituto <strong>Centro</strong> <strong>Cape</strong> e Central Mãos de Minas<br />
Editor / Editor<br />
Carlos Moreira<br />
Colaboradores / Colaborators<br />
Antônio Siúves<br />
Regiane Marques Sampaio<br />
Fotografia / Photography<br />
Alexandre Mota<br />
Elsio Moriani<br />
Fernando Chaves<br />
Pedro Gil<br />
Martinez Fotografia<br />
Wilkerson Kuroki/Amazonastur<br />
Revisão / Revision<br />
COM! Soluções em Comunicação<br />
Tradução de textos / Translation<br />
Luiz Augusto Ferreira Araújo / Supernova SCI<br />
Alpha Traduções<br />
Diagramação e arte / Diagramming and graphic arts<br />
Flávio Christo<br />
Gráfica / Printing company<br />
Difusora Editora Gráfica<br />
Tiragem / Drawing<br />
5.000 exemplares<br />
Distribuição gratuita / Costless Distribution<br />
Foto da capa: Divulgação / Associação Acreana Buriti da Amazônia<br />
Elsio Moriani<br />
Editorial / Editorial<br />
Artigo / Article<br />
Oportunidades / Opportunities<br />
Tesouros da floresta / Treasures of the forest<br />
Arte em madeira / Art in wood<br />
Tecidos e cores / Fabrics and colours<br />
Dona Marlene / Mrs. Marlene<br />
Cidade de teares / City of looms<br />
Abrindo passagem / Making the way<br />
Entrevista / Interview<br />
Eu faço / I make 47<br />
CENTRO CAPE MINAS GERAIS<br />
Rua Grão Mogol, 662 - Sion<br />
CEP 30310-010 - Belo Horizonte - MG<br />
Tel. 55 31 3282 8300 Fax 55 31 3282 8301<br />
CENTRO CAPE DISTRITO FEDERAL<br />
SNC, Quadra 5, Bloco A, sala 212<br />
Ed. Brasília Shopping<br />
CEP 70710-500 - Brasília - DF<br />
Tel. 55 61 3328 0621 Fax 55 61 3328 5802<br />
SHOW ROOM ESTADOS UNIDOS<br />
7 West 34th Street Suíte 725.1001<br />
New York City - NY - Phone 917 282 5838<br />
ecoarts@ecoarts.biz<br />
SHOW ROOM PORTUGAL<br />
Parque Industrial Meramar IV<br />
R. da Amendoeiras, / ZIP Code: 2645 097<br />
Phone: 351 96 707 2538<br />
Brazilhandcraft.europe@gmail.com<br />
2<br />
4<br />
8<br />
12<br />
18<br />
23<br />
28<br />
33<br />
36<br />
40<br />
www.centrocape.org.br<br />
jornalismo@centrocape.org.br<br />
55 31 3281 6820
O artesanato é uma atividade<br />
desenvolvida em todo o país e com imenso<br />
potencial para exportação e geração de emprego<br />
e renda. Em dezembro de 2010, a Agência<br />
Brasileira de Promoção de Exportações e<br />
Investimentos (Apex-Brasil) teve a satisfação<br />
de sediar, em Brasília, o evento de lançamento<br />
da Associação Brasileira de Exportação de<br />
Artesanato (Abexa) — a nova entidade nacional<br />
criada com o objetivo de fortalecer as exportações<br />
do artesanato brasileiro. Com a Abexa, pela<br />
primeira vez, os artesãos exportadores passaram<br />
a ser apoiados por uma entidade de âmbito<br />
nacional.<br />
Para nós, da Apex-Brasil, esse é um marco<br />
muito importante para a internacionalização<br />
do setor. Vimos apoiando as exportações de<br />
artesanato há vários anos, e a nossa expectativa<br />
é de que a criação da entidade fortaleça ainda<br />
mais a promoção comercial do setor.<br />
No início deste ano, a Apex-Brasil firmou<br />
convênio com a Abexa para a execução de um<br />
novo projeto para o setor, de dois anos de duração.<br />
As metas para 2012 são de reunir 330 empresas<br />
participantes e obter exportações de US$ 6,12<br />
milhões, superando o valor de exportações (US$<br />
3,12 milhões) alcançado pelas 163 empresas que<br />
integraram, em 2010, os projetos da Apex-Brasil<br />
para o setor.<br />
Com o novo projeto, cujo foco será em<br />
artesanatos de moda e de decoração com<br />
maior valor agregado, artesanatos com forte<br />
componente de design e artesanatos orientados<br />
à tradição popular, a promoção comercial do<br />
artesanato brasileiro no exterior será unificada,<br />
fortalecendo a divulgação da imagem do<br />
produto nacional. Algumas ações previstas são<br />
a contratação de empresa de Relações Públicas<br />
na Europa e nos Estados Unidos e de contêiner/<br />
Editorial<br />
Handicraft is developed as an<br />
activity throughout the entire country, having<br />
great potential for exportation, employment<br />
and income generation. In December of 2010, the<br />
Brazilian Trade and Investment Promotion Agency<br />
(Apex-Brasil) was glad to host the launching event<br />
for Abexa (Associação Brasileira de Exportação<br />
de Artesanato, Brazilian Handicraft Exportation<br />
Association) in Brasília — a new national<br />
organization with the purpose of strengthening<br />
Brazilian handicraft exportations. Through<br />
Abexa, exporting artisans have finally started<br />
to receive support from a national organization.<br />
Forus, from Apex-Brasil, this is a very important<br />
landmark for the sector’s internationalization.<br />
We’ve been supporting handicraft exportation<br />
for many years, and our expectation is that<br />
the creation of Abexa will strengthen the<br />
sector’s commercial promotion even more.<br />
In the beginning of this year, Apex-Brasil<br />
established a partnership with Abexa in<br />
order to execute a new two-year plan for<br />
the sector. The goals for 2012 are to gather<br />
330 participant companies and reach US$<br />
6.12 million in exportations, surpassing the<br />
exportation value (US$ 3,12 million) achieved<br />
by the 163 companies which integrated<br />
Apex-Brasil’s projects for the sector in 2010.<br />
Through this new project, which will focus on<br />
fashion and decoration handicraft with higher<br />
aggregate value, on handicraft with strong<br />
design components, and on popular traditionoriented<br />
handicraft, the overseas Brazilian<br />
handicraft commercial promotion will be unified,<br />
strengthening the image marketing for this<br />
national product. Planned actions include hiring<br />
Public Relation companies in Europe and in<br />
the United States, as well as container/itinerant<br />
stores in order to promote the products in several
loja itinerante para promover os produtos em<br />
diversos países da Europa, além da participação<br />
nas maiores feiras de artesanato do mundo, tais<br />
como a Maison Object na França, a Ambiente e<br />
a Tendence na Alemanha, a Bijoutex e a Intergift<br />
na Espanha, a Las Vegas Show e a Gift Fair<br />
nos Estados Unidos. Também serão realizadas<br />
atividades de capacitação e desenvolvimento dos<br />
artesãos. Além disso, estudos de mercado sobre<br />
o setor estão sendo produzidos pela Unidade de<br />
Inteligência Comercial e Competitiva da Apex-<br />
Brasil.<br />
Os países-alvo da parceria, definidos pelo<br />
estudo de inteligência comercial desenvolvido<br />
pela Agência são Alemanha, Espanha, Portugal,<br />
França, Itália e Estados Unidos.<br />
É importante ressaltar que a Abexa foi criada<br />
após um trabalho de planejamento estratégico,<br />
com base em análise profunda das necessidades<br />
do setor (principalmente de capacitação) e de<br />
novos direcionamentos que devem ser dados para<br />
que o Brasil marque presença em todo o mundo<br />
com a beleza, criatividade e diversidade de seu<br />
artesanato.<br />
Rogério Bellini<br />
Diretor de Negócios da Apex-Brasil / Apex Brasil Business Director<br />
FOTO / PHOTO Divulgação/Apex-Brasil<br />
European countries, besides participations in the<br />
world’s largest handicraft fairs, such as Maison<br />
Object in France, Ambiente and Tendence in<br />
Germany, Bijoutex and Intergift in Spain, and Las<br />
Vegas Show and Gift Fair in the United States. In<br />
addition, qualification and development activities<br />
will be offered for artisans. Market studies on the<br />
sector are also being produced by Apex-Brasil’s<br />
Commercial and Competitive Intelligence Unit.<br />
The target countries for this partnership<br />
are Germany, Spain, France, Italy and<br />
the United States, selected through the<br />
Agency’s commercial intelligence study.<br />
It is important to highlight that Abexa was<br />
created through a strategic planning effort, based<br />
on a profound analysis of the sector’s needs<br />
(mainly concerning qualification) and of new<br />
directions to be established in order to increase<br />
the Brazilian handicraft footprint abroad,<br />
leveraging its beauty, creativity and diversity.
OPORTUNIDADES E DESAFIOS<br />
na exportação para grandes lojas de departamentos<br />
OPPORTUNITIES AND chAllENgES IN ExPORTINg TO lARgE<br />
DEPARTmENT STORES<br />
ALEXANDRE DE BRITO SANTOS<br />
Consultor do <strong>Centro</strong> Internacional de Negócios da Federação das Indústrias de Minas Gerais<br />
(CIN/Fiemg)<br />
Consultant to the International Business Center of the Federation of Industries in Minas Gerais<br />
(CIN/Fiemg)<br />
A tendência atual de valorização<br />
da taxa de câmbio no Brasil tem levado os<br />
exportadores, tanto da indústria como do<br />
artesanato, a desenvolver novas estratégias de<br />
competitividade para se manter no mercado<br />
externo. Uma dessas estratégias é a concentração<br />
de vendas em poucos clientes.<br />
Neste caso, o objetivo dos empreendedores e<br />
artesãos é manter a venda ao exterior competitiva<br />
através de operações concentradas em poucos<br />
clientes compradores. Assim, evita-se a dispersão<br />
de esforços e de operações logísticas, concentrando<br />
as operações em um único comprador ou em<br />
poucos compradores. Este ganho financeiro advém,<br />
principalmente, da redução de gastos em operações<br />
complexas e pela queda nos gastos na contratação<br />
de frete. O que ocorre é que ,naturalmente, quando<br />
se tem várias cargas fracionadas para diferentes<br />
destinos, sempre existe a possibilidade de perda de<br />
eficiência na consolidação da carga.<br />
Normalmente, como se tratam de pequenas<br />
empresas e especialmente de artesanato, os<br />
volumes embarcados são pequenos, o que exige<br />
a consolidação da carga com outros produtos.<br />
Esta consolidação envolve produtos diferentes, de<br />
tamanhos e pesos distintos, o que acarreta custos<br />
maiores.<br />
Pelo lado dos compradores observa-se que,<br />
em muitos casos, apenas uma empresa receptora<br />
adquiriu toda a carga. Neste caso, o comprador<br />
receberá toda a carga do container. Outra<br />
possibilidade é que as cargas contidas tenham<br />
vários destinos e, nesta situação, cada importador<br />
deverá desembaraçar sua mercadoria.<br />
4 artigo / article<br />
The current trend of exchange rate<br />
valuation in Brazil has led exporters both from<br />
factories and from arts and crafts, to develop new<br />
competition strategies in order to secure their places<br />
in the external market. One of these strategies is<br />
the concentration of sales around a few customers.<br />
In this case, the aim of entrepreneurs and artisans<br />
is to keep the international sales competitive<br />
through operations concentrated around a few<br />
buyers. This way the dispersion of efforts and<br />
logistic operations is avoided, concentrating the<br />
operations in a single buyer or around a few buyers.<br />
This financial gain comes mainly from cutting off<br />
costs in complex operations and from cutting off<br />
expenses in freight contracting. What occurs is<br />
that when you have many fractioned cargos to<br />
different destinations, there is always the possibility<br />
of loss of efficiency in the consolidation of cargo.<br />
Usually, as we are talking about small<br />
companies, especially arts and crafts ones,<br />
the volume shipped is small, demanding the<br />
consolidation of the cargo with other products.<br />
Such consolidation involves different products of<br />
different sizes and weight, leading to higher costs.<br />
From the buyers’ side it is observed that,<br />
in many cases, only one receiving company<br />
has acquired the entire cargo. In this case, the<br />
buyer will receive all the cargo in the container.<br />
Another possibility is that the cargo in the<br />
containers has many destinations and in this<br />
situation, each importer shall clear its own goods.
As empresas que compram mercadorias de<br />
diferentes vendedores procuram organizar e<br />
gerenciar o processo de consolidação da carga no<br />
país de origem das mesmas, pois neste caso o peso<br />
do frete pode elevar sobremaneira os custos. Assim,<br />
este comprador tende a contratar os serviços de<br />
um operador logístico que será responsável pela<br />
contratação do frete, consolidação da carga e<br />
emissão da documentação.<br />
Nesse processo de negociação os artesãos e<br />
produtores vão vender para um único comprador<br />
e vão utilizar um único operador logístico.<br />
Isto torna a operação demasiado onerosa para<br />
o produtor, uma vez que ele se defronta com<br />
dois monopsonistas. Na literatura econômica,<br />
monopsonista é a situação onde só existe um<br />
comprador para vários vendedores. Neste caso,<br />
parte importante da margem de lucro vai ser<br />
transferida do produtor para o comprador. Os<br />
produtores são obrigados a aceitar os preços<br />
determinados tanto pela carga como pela operação<br />
de transporte e distribuição.<br />
Vender um número limitado de unidades para<br />
um comprador significa que este comprador é, em<br />
geral, uma organização que trabalha diretamente<br />
com o consumidor, não necessitando de estoques<br />
muito grandes de produtos. Nesta categoria estão<br />
enquadradas as grandes lojas de departamentos, os<br />
chamados magazines.<br />
Na Europa e nos Estados Unidos eles se<br />
confundem com a própria cidade onde estão<br />
estabelecidos e se transformaram em referência<br />
obrigatória para o turismo de compras. Em Paris,<br />
os mais famosos são as Galeries Lafayette e o<br />
Printemps, em Londres é a Harrods e, em Madrid,<br />
o El Corte Inglés.<br />
A estratégia de vendas destes grandes<br />
magazines é oferecer uma gama de opções para<br />
todos os consumidores, com áreas especializadas<br />
em vestuário, cosméticos e perfumaria, vestuário<br />
masculino, calçados, eletrônicos de consumo,<br />
artefatos de decoração, artigos de casa de campo,<br />
cama, mesa e banho, brinquedos e área gourmet.<br />
Isto atende aos anseios dos consumidores que<br />
buscam otimizar as compras e encontrar de tudo<br />
no mesmo lugar. As grandes redes apostam em<br />
temas da temporada e de alguma forma todas as<br />
áreas ligadas à moda e à decoração deverão estar<br />
de acordo com a linguagem da temporada.<br />
Ao lado de produtos de consumo tradicionais,<br />
aos quais freqüentemente estão incluídas algumas<br />
ofertas interessantes para atrair o público,<br />
estão expostos artefatos diferentes, produtos<br />
Companies that bought products from many<br />
different sellers try to organize and manage the cargo<br />
consolidation product in the country of origin of<br />
the products, as in this case the cargo weight might<br />
increase costs exceedingly. This way, this buyer<br />
tends to hire the services of a logistics operator that<br />
will be responsible for contracting services of cargo,<br />
cargo consolidation and documents issuance.<br />
In this process of negotiation artisans and<br />
producers sell to a single buyer and use a single<br />
logistics operator. This makes operation too<br />
costly to producers, since he has to deal with two<br />
monopsonists. In economy literature, monopsonist<br />
is the situation where there is only a single buyer<br />
to many sellers. In this case, a significant portion<br />
of the profit margin is transferred from the<br />
producer to the buyer. Producers are obliged to<br />
accept the prices determined both by the cargo<br />
and by the transport and distribution operation.<br />
Selling a limited number of units to one buyer<br />
means that this buyer is. In general, an organization<br />
that works directly with consumers, not requiring<br />
large stocks of products. This category comprises<br />
large department stores, called “stores”.<br />
In Europe and in the United States they get<br />
mixed with city where they are established and<br />
become a mandatory reference of shopping<br />
tourism. In Paris the most famous ones are<br />
the Galeries Lafayette and Printemps, Harrods<br />
in London and, in Madrid, El Corte Inglés.<br />
Sales strategies of these large stores is offering<br />
a range of options to all consumers with areas<br />
specialized in clothing, cosmetics and perfumery,<br />
men’s clothing, shoes, consumption electronics,<br />
decoration items, country house items, bedding and<br />
bath, toys and cookware. It fulfills the expectations<br />
of consumers who seek to optimize shopping and<br />
find everything at the same place. Large store<br />
chains invest in season themes and, somewhat, all<br />
the areas connected to fashion and decoration must<br />
be in agreement with the language of the season.<br />
Beside the traditional consumption products<br />
to which some interesting offers are frequently<br />
attached in order to attract audience, there<br />
are different products, handicraft items often<br />
originated from foreign countries and that<br />
are extremely valued in European countries.<br />
Over the last years, these large stores have<br />
artigo / article 5
de artesanato geralmente originários de países<br />
estrangeiros e que são extremamente valorizados<br />
nos países europeus.<br />
Nos últimos anos, estes grandes magazines<br />
tem aberto espaço para exibições de artesanato<br />
do Brasil. O nosso país esta na “moda”,<br />
atraindo interesse estrangeiro por produtos que<br />
reflitam o nosso ambiente cultural. Peças de<br />
artesanato, vestuário, bijouteria e com materiais<br />
brasileiros estão entre as mais demandadas pelos<br />
consumidores. Contudo, o fechamento de um<br />
contrato de venda é uma tarefa complexa para os<br />
produtores. Embora valorizem a originalidade do<br />
artesanato, os departamentos responsáveis pelas<br />
compras tendem a adotar as mesmas estratégias<br />
utilizadas em aquisições de grande volume – os<br />
preços oferecidos são reduzidos e as condições de<br />
pagamento, bastante rígidas.<br />
Ofertas de compras incluem mercadorias que<br />
serão pagas somente após efetiva venda, geralmente<br />
ao fim da temporada. Ou seja, em muitas situações<br />
cabe ao vendedor arcar com o capital de giro<br />
e financiar as vendas a prazo. Eventuais peças<br />
com defeito ou entregues fora do prazo são de<br />
responsabilidade exclusiva do vendedor e geram<br />
inclusive multas contratuais.<br />
Por tudo isto apesar de ser um mercado em<br />
expansão recomenda-se cautela na hora de assinar<br />
um contrato com estas empresas. Como qualquer<br />
outro comprador ela exige alta qualidade,<br />
pontualidade na entrega e logística eficiente e<br />
barata, não se responsabilizando por ocorridos<br />
problemas durante o transporte.<br />
Portanto, ainda que seja muito interessante<br />
a negociação de um contrato com um grande<br />
magazine, é importante que os produtores e<br />
vendedores estejam atentos para as exigências e<br />
imposições contratuais colocadas.<br />
6 artigo / article<br />
allowed some room display handicraft from<br />
Brazil. Our country is fashionable, attracting<br />
international interest to products that mirror<br />
our cultural environment. Pieces of handicraft,<br />
clothing and jewelry made with Brazilian<br />
materials are among the most requested pieces by<br />
consumers. However, signing a sales agreement is<br />
a complex task to products. Although handicraft<br />
originality is valued, departments responsible for<br />
purchases tend to adopt the same strategies used<br />
in large volume acquisitions – prices offered are<br />
reduced and payment conditions are quite strict.<br />
Purchase offers include products that will only<br />
be paid after the sale is consolidated, generally<br />
by the end of the season. That means, in many<br />
situations sellers must have a substantial working<br />
capital in order to support credit sales. Occasional<br />
defective pieces or pieces not delivered on time<br />
will be under the exclusive responsibility of<br />
the seller and imply in contractual penalties.<br />
For all that, although is it a market in expansion,<br />
we recommend attention at signing contracts with<br />
these companies. Just like any buyer, they demand<br />
high quality, on-time delivery in addition to effective<br />
and inexpensive logistics, not taking responsibility<br />
for problems occurred during transportation.<br />
Thus, even though the negotiation of a contract<br />
with a large store is very interesting, it is important<br />
that producers and sellers are attentive to the<br />
contractual demands and impositions established.<br />
Onde encOntrar artesanatO brasileirO tipO expOrtaçãO<br />
HOw can yOu find brazilian Handicraft, prepared tO expOrt<br />
www.ecoarts.bys<br />
www.brazilhandicraft.org.br<br />
www.artest.com.br<br />
www.fazerbrasil.org.br<br />
www.projetoartbrasil.com.br
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Portas abertas na Europa<br />
Open doors in Europe<br />
POR /BY Carlos Moreira<br />
FOTOS / PHOTOS Divulgação – <strong>Centro</strong> <strong>Cape</strong> / Divulgação – Sebrae (DF)<br />
O artesanato brasileiro está<br />
atraindo novos olhares do mundo, a partir da<br />
atenção que as pessoas começam a dispensar<br />
à sustentabilidade e ao consumo consciente.<br />
Originalidade, autenticidade cultural e o<br />
trabalho manual são características cada vez mais<br />
valorizadas por europeus e norte-americanos, com<br />
reflexos no interesse de grandes redes de lojas<br />
de departamento na produção artesanal, como a<br />
El Corte Inglés (Portugal e Espanha) e a Macy’s<br />
(Estados Unidos).<br />
8 oportunidades / opportunities<br />
Brazilian arts and crafts have<br />
caught eyes from all over the world, derived from<br />
the attention people start to pay to sustainability<br />
and conscious consumption. Originality, cultural<br />
authenticity and manual work are characteristics<br />
more and more valued by Europeans and North-<br />
Americans, with reflections on the interest of large<br />
department store chains towards arts and crafts<br />
production, as it is occurring in El Corte Inglés<br />
(Portugal and Spain) and Macy’s (United States).
Em maio último, uma missão de 14 compradores<br />
da rede européia visitou o Brasil e participou de<br />
rodadas de negócios nos Estados de Minas Gerais,<br />
Ceará e Distrito Federal, onde foram montadas<br />
exposições de produtos de diversas regiões do<br />
Brasil. Os compradores, com até 4 milhões de<br />
euros para aquisições, também visitaram ateliês e<br />
oficinas de tecelagem e mobiliário no interior de<br />
Minas Gerais.<br />
O Instituto <strong>Centro</strong> de Capacitação e Apoio ao<br />
Empreendedor (<strong>Centro</strong> <strong>Cape</strong>) já possui há mais<br />
de dois anos pontos de vendas nas unidades da El<br />
Corte Inglés em Gaia-Porto e Lisboa (Portugal)<br />
e em Madri (Espanha). Segundo a presidente da<br />
entidade, Tânia Machado, a boa aceitação dos<br />
produtos artesanais mineiros resultou no interesse<br />
da rede em abrir, no final do segundo semestre<br />
deste ano, um espaço destinado à venda de artigos<br />
brasileiros em suas lojas.<br />
A visita foi promovida por organizações<br />
governamentais, não-governamentais e<br />
empresariais, como o <strong>Centro</strong> <strong>Cape</strong>, Agência<br />
Brasileira de Promoção de Exportações e<br />
Investimentos (Apex-Brasil), Federação das<br />
Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) e<br />
o Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena<br />
Empresa (Sebrae). A escolha dos artesãos que<br />
participaram das negociações foi feita pelo<br />
<strong>Centro</strong> <strong>Cape</strong>, a partir de convites a profissionais,<br />
associações e cooperativas de todo país, que<br />
enviaram fotos de seus produtos para uma préseleção<br />
dos compradores da El Corte Inglés.<br />
Oportunidade única<br />
A visita mostrou que a exportação é um desafio<br />
e tanto para os artesãos, que precisam apresentar<br />
garantias de produção, preço e logística para que<br />
os negócios sejam concretizados. Até o fechamento<br />
desta edição, ainda não havia um balanço final das<br />
vendas, já que os pedidos foram colocados, mas<br />
os contratos ainda não haviam sido assinados. De<br />
qualquer forma, produtores de todo o país tiveram<br />
uma grande oportunidade de mostrar seu trabalho<br />
e estabelecer um contato valioso, ainda que não<br />
tenham concretizado as vendas.<br />
“A reunião com os espanhóis criou expectativa<br />
de mais vendas no futuro. Essa é a minha primeira<br />
experiência em exportação. Mesmo se não tivesse<br />
vendido, já sairia daqui satisfeito”, disse o artesão<br />
Elsio Moriani, de Brasília, que conseguiu vender<br />
seus objetos e biojóias em madeira . Thiago Silva,<br />
do ateliê ReThalho de Lagoa Santa (MG), ressalta<br />
a demanda por originalidade. “Querem tudo bem<br />
Last May, a commission comprising 14 buyers of<br />
the European chain visited Brazil and participated<br />
in business sessions in the states of Minas Gerais,<br />
Ceará and Distrito Federal, where exhibitions of<br />
products from several regions in Brazil were being<br />
zheld. The buyers, who had up to 4 million euros<br />
for purchases, also visited weaving and furniture<br />
ateliers and shops in small cities of Minas Gerais.<br />
The Institute Center for Qualification and<br />
Support to Entrepreneurs (<strong>Centro</strong> <strong>Cape</strong>) has had,<br />
for over two years, purchase points in the El Corte<br />
Inglés units in Gaia-Porto and Lisbon (Portugal)<br />
and in Madrid (Spain). According to the president<br />
of the entity, Tânia Machado, the good acceptance<br />
of the handicraft products from Minas Gerais<br />
resulted in the interest by the company in opening,<br />
at the end of the second half of this year, a space<br />
intended to selling Brazilian items in its stores.<br />
The visit was promoted by governmental, nongovernmental<br />
and corporate organizations as the<br />
<strong>Centro</strong> <strong>Cape</strong>, the Brazilian Agency for Exports<br />
and Investments Promotion (Apex-Brazil), the<br />
Federation of Industries in the State of Estado de<br />
Minas Gerais (Fiemg) and the Brazilian Service for<br />
Support to Micro and Small Enterprises (Sebrae).<br />
The choice of the artisans who participated in<br />
the negotiations was made by <strong>Centro</strong> <strong>Cape</strong>,<br />
from invitations to professionals, associations<br />
and cooperative organizations from all over the<br />
country, which sent pictures of their products for<br />
a pre-selection by the buyers of the El Corte Inglés.<br />
A single opportunity<br />
The visit showed that exporting is a big challenge<br />
both to artisans, who have to offer warranties<br />
of production, price and logistics in order to<br />
consolidate business. Until the closing of this<br />
edition, there was no final balance of sales, since<br />
the orders had been placed but the contracts had<br />
not been signed yet. Anyhow, producers from all<br />
over the country had a great opportunity to display<br />
their work and establish a valuable contact, even<br />
though sales have not been concretized yet.<br />
“The meeting with Spanish buyers generated<br />
expectations of more sales in the future. This is<br />
my first experience with exports. Even if I had not<br />
made any selling, I would leave here pleased”, said<br />
artisan Elsio Moriani from Brasília, who managed<br />
to sell his objects and biojewelry in wood. Thiago<br />
Silva, from atelier ReThalho de Lagoa Santa (MG),<br />
emphasizes the demand for originality. “They want<br />
it very Brazilian, full of color and calico (a type<br />
oportunidades / opportunities 9
asileiro, com bastante cor e bastante chita (tecido<br />
com estampas coloridas e chamativas)”, comenta.<br />
Suas peças, elaboradas com embalagens tetra pak e<br />
tecido, também tiveram boa aceitação.<br />
Já os artesãos da Cooperativa de Produtos e<br />
Serviços Econômicos e Solidários do Acre (Cooesa)<br />
terão de produzir 12 mil biojóias, entre colares,<br />
pulseiras e brincos, e 3.000 velas em ouriço. A<br />
produção terá de ser entregue em novembro e os<br />
artesãos já trabalham a todo vapor. “A Cooesa tem<br />
estrutura para atender à demanda, mas estamos nos<br />
organizando para que todas as fases da produção,<br />
que incluem a coleta, preparação das sementes e<br />
montagem das peças, ocorram sem problemas”,<br />
diz o presidente da entidade, Carlos Taborga,<br />
escolhido o representante das três organizações<br />
acreanas para cuidar do trâmite necessário para a<br />
exportação.<br />
Além da Coeesa, a Associação Acreana<br />
Buriti da Amazônia, fundada por Márcia Silva de<br />
Lima, recebeu pedido de 8.000 chaveiros, 7.500<br />
pulseiras, 800 mandalas. “Do nosso encontro com<br />
os representantes da El Corte Inglés, surgiu um<br />
novo produto. Eles gostaram tanto das camisas<br />
pintadas à mão que encomendaram almofadas,<br />
que passamos a confeccionar”, disse a presidente<br />
da Cooper MAV, Othília Batista Melo de Sampaio,<br />
também do Acre. Como a produção é manual, e<br />
não se aprende pintura de um dia para o outro,<br />
a Cooper MAV acredita que vai conseguir<br />
10 oportunidades / opportunities<br />
produzir, até novembro, quando têm de enviar<br />
as mercadorias, 200 camisas, 200 almofadas e 200<br />
panos de prato pintados à mão com figuras da<br />
fauna e flora da Floresta Amazônica.<br />
of fabric with bright and colorful patterns)”, he<br />
comments. His pieces made of tetra pak packages<br />
and fabric were also well accepted.<br />
The artisans of the Cooperative of Economic<br />
and Solidary Products and Services of Acre<br />
(Cooesa) will have to produce 12 thousand pieces<br />
of biojewelry among necklaces, bracelets and<br />
earrings, besides 3,000 candles in seed shells.<br />
Production will have to be delivered in November<br />
and artisans are already working in full swing.<br />
“Cooesa is structures in order to meet the demand,<br />
but we are organizing ourselves so that all the<br />
production phases occur free of trouble, including<br />
the gathering, preparation of seeds and assembly<br />
of pieces”, says the president of the entity, Carlos<br />
Taborga, elected as the representative to the three<br />
Acrean organizations to take care of the procedures<br />
required to exporting.<br />
In addition to Coeesa, the Acrean<br />
Association Buriti da Amazônia, founded by<br />
Márcia Silva de Lima, has received an order<br />
for 8,000 key-chains, 7,500 bracelets, and 800<br />
mandalas. “From our meeting with the El Corte<br />
Inglés representatives emerged a new product.<br />
They liked the hand-painted shirts so much that<br />
ended up by also ordering cushions, which we<br />
started producing”, said the president of Cooper<br />
MAV, Othília Batista Melo de Sampaio, also from<br />
Acre. As the production is manual and painting<br />
cannot be learned in a day, Cooper MAV believes<br />
it will be able to produce, until November, when<br />
they have to ship the products, 200 shirts, 200<br />
cushions and 200 hand-painted table cloths with<br />
figures of the Rain Forest fauna and flora.<br />
Cícero Resende Chaves, who produces and sells
Cícero Resende Chaves, que produz e comercializa<br />
produtos têxteis em Resende Costa (MG), não chegou<br />
a fechar vendas para a rede européia, principalmente<br />
em função do preço e por já desfrutar de uma boa<br />
posição no mercado interno. Apesar disso, ele ficou<br />
satisfeito com o interesse em suas peças e com a<br />
possibilidade de negociações futuras.<br />
Sérgia Almeida, que representa duas cooperativas e<br />
20 associações de artesãos do Estado de Pernambuco,<br />
também aprovou a oportunidade de negociar com a<br />
El Corte Inglés, embora confesse ter ficado frustrada<br />
por não ter havido a consolidação de vendas. “Eles<br />
ficaram encantados com nossos produtos”, afirma,<br />
referindo-se às redes, mantas, passadeiras, almofadas<br />
e cerâmicas que expôs. Aos interessados e à própria<br />
rede européia, ela avisa: “Nós temos um artesanato<br />
muito diversificado e plenas condições de produzir e<br />
entregar grandes quantidades. Estamos prontos para<br />
exportar”.<br />
Nas páginas seguintes, conheça mais sobre o<br />
trabalho de alguns dos artesãos que participaram das<br />
negociações com a El Corte Inglés.<br />
textiles in Resende Costa (MG), did not make<br />
any business deal with the European chain,<br />
mainly for the price and for already enjoying<br />
a comfortable position in the internal market.<br />
Despite all this, he was content with the interest<br />
showed in his pieces and with the possibility of<br />
future negotiations.<br />
Sérgia Almeida, who represents two<br />
cooperatives and 20 associations of artisans<br />
in the state of Pernambuco, has also approved<br />
the opportunity of negotiating with the chain<br />
El Corte Inglés, although she confesses being<br />
frustrated for not having consolidated any sales.<br />
“They were charmed by our products”, she says,<br />
meaning the hammocks, bed spreads, mats,<br />
cushions and pottery exhibited. And she warns<br />
the ones interested and the European chain<br />
itself: “We have offer diversified handicraft at full<br />
conditions for production and delivery in large<br />
scale. We are ready to export”.<br />
On the next pages, learn more about the work<br />
of some of the artisans who participated in the<br />
negotiations with the chain Corte Inglés.<br />
oportunidades / opportunities 11
Tesouros da<br />
Floresta<br />
Treasures of the Forest<br />
Associações se dedicam a organizar e divulgar a<br />
produção artesanal do Acre<br />
Entities dedicate themselves to organizing and<br />
promoting handicraft in Acre<br />
POR /BY Regiane Marques Sampaio<br />
FOTOS / PHOTOS Divulgação<br />
Numa segunda-feira de<br />
junho, Maria de Fátima e Carlos viajavam<br />
para Recife. Othília fazia curso de aprimoramento<br />
em São Paulo, enquanto Márcia terminava os<br />
preparativos para embarcar para o Rio Grande<br />
do Sul. Em comum, além da agenda ocupada por<br />
viagens, essas pessoas trabalham em torno de um<br />
mesmo objetivo: organizar e divulgar o artesanato<br />
do Acre – Estado encravado na Amazônia<br />
Brasileira, atuando como representantes de três<br />
entidades que reúnem artesãos acreanos das mais<br />
diversas especialidades.<br />
Como resultado desse trabalho, até o final do<br />
ano os consumidores espanhóis e portugueses<br />
poderão ver nas prateleiras da rede El Corte Inglés<br />
itens como biojóias, velas, mandalas e outros<br />
objetos com matérias-primas regionais, além de<br />
camisetas e almofadas pintadas à mão, com figures<br />
alusivas à fauna e à flora da Amazônia. O pedido<br />
da rede européia deixou a vida ainda mais corrida<br />
– há uma grande mobilização para atender às<br />
encomendas, mas todos estão muito felizes com<br />
isso.<br />
Com um território de 152 mil quilômetros<br />
quadrados em plena Floresta Amazônica, o Acre<br />
possui uma vasta riqueza natural. Sementes, folhas,<br />
sobras de madeiras e látex são transformados em<br />
objetos de arte por comunidades de artesãos. E<br />
ao aliar matéria-prima com talento e organização,<br />
os artistas acreanos estão ganhando mercado em<br />
outros Estados brasileiros e, agora, também no<br />
exterior.<br />
12 tesouros da floresta / treasures of the forest<br />
On a June Monday, Maria de Fátima<br />
and Carlos were traveling to Recife, as Othília<br />
was taking a specialization course in Sao Paulo,<br />
and Márcia was finishing packing to go on a trip<br />
to Rio Grande do Sul. In common, in addition to<br />
the schedule filled with trips, these people had the<br />
fact of being working for the same aim: organizing<br />
and promoting handicraft in Acre – A State<br />
encrusted in the Brazilian Amazon region, acting<br />
as representatives to the three entities that gather<br />
Acrean artisans with the most varied specialties.<br />
As a result to this work, Spanish and Portuguese<br />
consumers will enjoy, on the shelves of the El<br />
Corte Inglés department store chain, items such<br />
as biojewelry, candles, mandalas and other objects<br />
made of regional raw material, besides shirts and<br />
hand-painted cushions, with illustrating symbols<br />
of the Amazon fauna and flora, by the end of the<br />
year. The order received from the European chain<br />
has made life even busier – there is a massive<br />
mobilization towards delivering orders, though<br />
everyone is very happy about all that is going on.<br />
With a territory of over 152 thousand square<br />
kilometers in the very Amazon Rainforest, Acre<br />
presents vast natural wealth. Seeds, leaves, wood<br />
remainders and latex are transformed into art<br />
objects by communities of artisans. And, in joining<br />
raw material, talent and organization, Acrean<br />
artisans are gaining market share in other Brazilian<br />
states and now also abroad.
Maria de Fátima Taborga e Carlos Laran Taborga<br />
são, respectivamente, presidente e administrador<br />
da Cooperativa de Produtos e Serviços Econômicos<br />
e Solidários do Acre (Cooesa), que funciona desde<br />
1997. O casal é o principal prospector da entidade<br />
e vive para divulgar os trabalhos dos cooperados e<br />
conquistar novos clientes. Para atender a El Corte<br />
Inglés, eles vão ter de trabalhar como nunca, pois<br />
receberam a encomenda de 15 mil peças, entre<br />
biojóias e velas de ouriço, a maior feita à Cooesa<br />
até hoje.<br />
A união em cooperativa permitiu que os próprios<br />
fabricantes de artesanato assumissem, por meio de<br />
concorrência pública, em 2005, a Casa do Artesão<br />
do Acre, que era administrada pela Secretaria de<br />
Estado do Turismo. A edificação,<br />
localizada na capital Rio Branco,<br />
foi cedida pelo governo estadual<br />
e é gerenciada pela Cooesa, que<br />
se profissionalizou para manter<br />
o local atrativo, lucrativo e<br />
como ponto de divulgação do<br />
artesanato do Acre.<br />
Hoje são 170 cooperados,<br />
mas a rede de beneficiados é<br />
muito maior, já que favorece<br />
desde os responsáveis pela coleta<br />
de matéria-prima até os artesãos.<br />
Coleta esta, cabe ressaltar, que é<br />
feita de maneira sustentável, sem<br />
agredir a fauna e a flora locais.<br />
Mensalmente, o cooperado conta<br />
com o depósito do dinheiro<br />
arrecadado com a venda dos seus produtos, sendo<br />
que 20% vão para a manutenção da Cooesa.<br />
Entre as mercadorias comercializadas pela<br />
cooperativa estão biojóias feitas com sementes;<br />
velas em ouriço – fruto da castanheira-do-brasil,<br />
camisetas e objetos de casa pintados a mão com<br />
desenhos da fauna e flora da Amazônia. São<br />
os animais e plantas que também estampam os<br />
trabalhos de marchetaria, em que caixas e outros<br />
objetos são ornamentados com figuras feitas<br />
com lâminas de madeira de várias cores. O látex,<br />
chamado de leite da seringueira, é transformado<br />
em bolsas, sapatos, porta-treco, jogo americano,<br />
toalhas e tapetes.<br />
Reunidos na Cooesa, os artesãos conseguiram<br />
maior visibilidade, não apenas por terem um local<br />
para exposição dos produtos, mas por contarem<br />
com o trabalho de divulgação feito por Maria de<br />
Fátima e Carlos Taborga. Os cooperados têm ainda<br />
o apoio do governo do Estado e da prefeitura, além<br />
de receberem orientação do Sebrae, como cursos<br />
de capacitação.<br />
Maria de Fátima Taborga and Carlos Laran<br />
Taborga are, respectively, the president and e<br />
administrator to the Cooperative of Economic and<br />
Solidary Products and Services of Acre (Cooesa),<br />
established in 1997. The couple is the main<br />
prospector to the entity and is fully dedicated to<br />
promoting the works of members and winning new<br />
customers. In order to deliver to El Corte Inglés<br />
they have to work as never before, as they received<br />
a 15 thousand piece order, the largest order Cooesa<br />
has received so far, among biojewelry and seed<br />
shells candles.<br />
The union as a cooperative enterprise allowed<br />
the artisans to<br />
undertake, through a<br />
public bid in 2005, the<br />
Casa do Artesão do<br />
Acre (Artisans’ House<br />
in Acre), which was<br />
managed by the State<br />
Secretariat of Tourism,<br />
back then. The building,<br />
located in the capital<br />
Rio Branco, has been<br />
given over by the state<br />
government and is<br />
managed by Cooesa,<br />
which in its turn pursuit<br />
qualification to keep<br />
the place attractive,<br />
profitable and a point of<br />
handicraft promotion in<br />
Acre.<br />
There are 170 members today, though the<br />
network of beneficiated people is much larger, as<br />
it favors from the ones responsible for gathering<br />
raw material to the artisans. It is important to<br />
highlight that such gather is done in a sustainable<br />
way, without harming the local fauna and flora.<br />
Monthly, members rely on the deposit of the money<br />
collected from the selling of products, of which<br />
20% is destined to the maintenance of Cooesa.<br />
Among the goods sold by the cooperative are<br />
biojewelry made of seeds; candles made of seeds<br />
shells – fruits of the Brazil nut; shirts and home<br />
decoration objects hand-painted with Amazonian<br />
fauna and flora motifs. Animals and plants are also<br />
illustrated in marquetry works, where boxes and<br />
other objects are adorned with figures made of<br />
multicolored wood sheets. Latex, called the rubber<br />
tree milk, is transformed into bags, shoes, objects<br />
holders, placemats, towels and mats.<br />
Gathered at Cooesa, artisans gained more<br />
visibility, not only for having a place to exhibit their<br />
tesouros da floresta / treasures of the forest 13
Foi graças a uma dessas aulas que a artesã e<br />
cooperada e vice-presidente da Cooesa, Cesarina<br />
Pereira de França, 42, conseguiu agregar mais<br />
valor ao seu produto. Com a pesquisadora da<br />
Universidade de Brasília (UnB), Denise Vilela,<br />
ela e outros artesãos aprenderam técnicas de uso<br />
de óleos naturais que ajudam na conservação<br />
e aumentam a durabilidade da matéria-prima<br />
utilizada em seu artesanato.<br />
Nas mãos de Cesarina, sementes de jarina,<br />
conhecida como marfim vegetal da Amazônia,<br />
oriunda de uma palmeira, assim como o açaí,<br />
patuá, comaru-ferro são transformados em colares,<br />
pulseiras e brincos.<br />
Fundadora do grupo Biojóias da Amazônia,<br />
Cesarina participou da criação da Cooesa. Exfuncionária<br />
de uma panificadora, mas que fazia<br />
manualmente convites de casamento e festas de 15<br />
anos, ela viu no artesanato a solução para os seus<br />
problemas financeiros, após ficar desempregada.<br />
“Quando descobri as sementes, me apaixonei de<br />
vez pelo artesanato, e até deixei a arte de fazer os<br />
convites”, relembra.<br />
Com o tempo, o trabalho de Cesarina e o lucro<br />
obtido com as sementes fizeram marido, filhos e o<br />
irmão aderirem à confecção de jóia, e hoje toda a<br />
família vive do artesanato.<br />
14 tesouros da floresta / treasures of the forest<br />
products but also for relying on the promotional<br />
work performed by Maria de Fátima and Carlos<br />
Taborga. Members of the cooperative enterprise<br />
also receive support from the state and city<br />
governments, besides receiving guidance from<br />
Sebrae, as qualification courses.<br />
Thanks to some of these classes the artisan,<br />
member and vice-president of Cooesa, Cesarina<br />
Pereira de França, 42, managed to add more value<br />
to her products. Together with Denise Vilela, a<br />
University of Brasília (UnB) researcher, Cesarina<br />
and other artisans learned techniques for the use<br />
of natural oils that help in the preservation and<br />
durability of the raw material employed in their art<br />
works.<br />
In Cesarina’s hands jarina’s seeds (also known<br />
as the vegetal ivory of Amazon, originated from a<br />
palm tree just like açaí, patuá, and comaru-ferro),<br />
are transformed into necklaces, bracelets and<br />
earrings.<br />
The founder of the group Biojewelry of the<br />
Amazon, Cesarina participated in the creation of<br />
Cooesa. A former worker in a bakery who would<br />
also produce, manually, debutant and wedding<br />
parties invitations, she saw in handicraft the<br />
solution to her financial problems, after becoming<br />
unemployed. “When I discovered the seeds, I<br />
totally fell in love with handicraft and even quit<br />
producing the invitations”, she recalls.<br />
As time passed the work of Cesarina and the<br />
profit made from the seeds made her husband,<br />
children and brother adhere to the production<br />
of jewelry, and now her entire family live from<br />
handicraft.
União e força<br />
Após uma reunião na Secretaria de Pequenos<br />
Negócios do Acre e antes de embarcar para<br />
participar da Feira de Economia Solidária do<br />
Mercosul, no Rio Grande do Sul, a artesã Márcia<br />
Silva de Lima falou sobre a sua prioridade<br />
atualmente: atender à encomenda da El Corte<br />
Inglés à Associação Acreana Buriti da Amazônia,<br />
entidade fundada por Márcia e que terá que<br />
produzir 16.300 peças para a rede européia, que<br />
se junta agora a outros clients estrangeiros da<br />
entidade.<br />
Desde criança, Márcia gostava de artesanato. Na<br />
vida adulta, escolheu a palha e as sementes de buriti<br />
(uma espécie de palmeira) para trabalhar, e passou<br />
a ministrar cursos financiados por fundações,<br />
governos e entidades. Mas algo a incomodava:<br />
seus alunos, depois de formados, não conseguiam<br />
condições para colocar os conhecimentos em<br />
prática.<br />
Márcia reuniu 18 deles e dediciu fundar, há 17<br />
anos, a Associação Acreana Buriti da Amazônia.<br />
Já no primeiro ano receberam uma encomenda<br />
da Escola de Samba Beija-Flor, do Rio de Janeiro,<br />
para confecção de bolsas. “Chamei os alunos,<br />
fizemos o design, os protótipos e todos adoraram”,<br />
disse Márcia. Mas como a encomenda era grande<br />
e não havia recursos, Márcia e os alunos fizeram<br />
rodízio na venda de sanduíches em uma escola e<br />
conseguiram, em um mês, dinheiro para a compra<br />
do maquinário.<br />
Daí em diante, Márcia não parou mais. Buscou<br />
parcerias no Sebrae, na Secretaria de Turismo<br />
do Acre, entre outros. Seu esforço resultou em<br />
vendas e a associação conseguiu juntar recursos<br />
para divulgar a arte com o buriti em várias<br />
partes do país e do mundo. “Passamos a adquirir<br />
estandes em feiras, onde fazíamos contato com<br />
compradores de todo o planeta”. Jóias, objetos de<br />
decoração e adorno da associação já chegaram a<br />
Itália, Holanda, Japão e Estados Unidos.<br />
Union and power<br />
After a meeting at the Secretariat for Small<br />
Business in Acre and before going to participating<br />
in the Mercosul Solidary Economy Exhibit in<br />
Rio Grande do Sul, artisan Márcia Silva de Lima<br />
commented on its current priority: delivering<br />
the order made by El Corte Inglés to the Acrean<br />
Association Buriti da Amazônia, an entity<br />
established by Márcia that receive the incumbency<br />
of producing 16,300 pieces to the European<br />
chain, joining now other foreign customers of the<br />
enterprise.<br />
As a child, Márcia already liked handicraft. In<br />
adult life, she has chosen the straw and seeds of<br />
buriti (a type of palm tree) as work material and<br />
started to offer courses funded by foundations,<br />
governments and corporations. Yet, there was<br />
something bothering her: her pupils, after taking<br />
the courses, could not make it to put the knowledge<br />
into practice.<br />
Márcia gathered 18 of them and decided<br />
to establish the Acrean Association Buriti da<br />
Amazônia, 17 years ago. Right at the first year<br />
they received an order from the Escola de Samba<br />
Beija-Flor (Beija-Flor Samba School), from Rio de<br />
Janeiro, to produce bags. “I gathered the students,<br />
we worked on design, prototypes and everyone<br />
loved it”, said Márcia. But, as the order was massive<br />
and resources scarce, Márcia and the students<br />
alternated shifts selling sandwiches in a school and<br />
managed to raise, within a month, money enough<br />
to buy the tools required.<br />
From there, Márcia has not stopped. She<br />
searched partnerships at Sebrae, at the Secretariat<br />
of Tourism in Acre, among other. Her efforts<br />
resulted in sales and the association managed<br />
to raise funds to promote artistic works using<br />
buriti in several places in the country and abroad.<br />
“We started to buy booths in exhibits, where we<br />
established contact with buyers from everywhere<br />
in the planet”. The jewelry and decoration objects<br />
produced by the association have already reached<br />
Italy, Japan and the United States.<br />
tesouros da floresta / treasures of the forest 15
A arte de vencer<br />
Três amigas com habilidades diferentes para o<br />
artesanato, mas com a mesma dificuldade para<br />
expor e vender seus produtos. Se unissem forças,<br />
elas acreditavam que esse obstáculo seria vencido;<br />
e assim o fizeram. Em 2010, a união das amigas<br />
foi consolidada com a fundação da Cooperativa de<br />
Artesãos Mulheres Arte de Vencer (Cooper MAV),<br />
que hoje reúne 20 cooperadas.<br />
Os trabalhos são divididos em três linhas<br />
de produção. A moda casa, que deu inicio à<br />
cooperativa, em que são confeccionados panos<br />
de mesa, fogão, geladeira, tapetes e guardanapos,<br />
utilizando técnicas como o crochê, fuxico,<br />
macramê, costura e pintura. Moda família, com a<br />
produção principalmente de camisetas pintadas<br />
à mão. A linha de biojóias feitas com sementes,<br />
junto com os trabalhos em madeiras, com foco<br />
na reprodução de animais da floresta, como<br />
araras e tucanos.<br />
Para a rede El Corte Inglés, a cooperativa<br />
produzirá camisetas, almofadas e panos<br />
de prato pintados a mão, como informa a<br />
presidente da Cooper MAV, Othília Batista<br />
Melo de Sampaio. São 600 peças no total,<br />
que exigirão trabalho extra das artesãs,<br />
uma vez que a arte da pintura não pode<br />
ser ensinada no curto prazo.<br />
Em busca de aumentar a produção e<br />
permitir que mais acreanos tenham uma<br />
opção de renda, a cooperativa firmou<br />
parceria com o Rotary e as artesãs<br />
oferecem cursos para a formação de<br />
novos profissionais. E as próprias<br />
fundadoras também estão em<br />
reciclagem e aprendizado<br />
constante. Depois de participar<br />
do encontro em Brasília com<br />
representantes da loja de departamentos<br />
El Corte Inglés, Othília já esteve em outros<br />
Estados do país em busca do crescimento da<br />
cooperativa.<br />
Em São Paulo, junto com outras três cooperadas,<br />
Othília participou de cursos na Mega Artesanal,<br />
feira de oficinas de aprimoramento e divulgação<br />
de novidades aos artesãos. O artesanato rendeu<br />
frutos até na família de Othília. Sua filha Magali<br />
Sampaio, 35, também se tornou cooperada e<br />
realiza bordados em ponto vagonite - desenhos<br />
feitos com a trama de linhas.<br />
As três entidades vivem agora a expectativa de<br />
que seus produtos sejam bem aceitos pelos clientes<br />
da El Corte Inglés, abrindo um Mercado firme<br />
para o artesanato acreano na Europa.<br />
16 tesouros da floresta / treasures of the forest<br />
The art of winning<br />
Three friends with different skills for handicraft,<br />
but experiencing the same difficulties to exhibit<br />
and sell their products. They believed that if they<br />
joined efforts such obstacles would be conquered,<br />
and so they did: in 2010, the union of friends<br />
was consolidated with the establishment of the<br />
Cooperative of Women Artisans<br />
Arte de Vencer (Cooper MAV), with<br />
20 members, currently.<br />
Works are divided into three<br />
production lines: home fashion, which<br />
initiated the cooperative works and where<br />
table, stove and fridge cloths are produced<br />
besides mats and napkins, using techniques as<br />
crochet, fuxico (round pleated pieces of cloth),<br />
macramé, sewing and painting; family fashion,<br />
with the production of hand-painted shirts,<br />
specially; biojewelry line made with seeds and<br />
crafts in wood, focused on the reproduction of the<br />
rainforest animals such as macaws and toucans.<br />
As for the El Corte Inglés chain, the cooperative<br />
will produce hand-painted shirts, cushions and<br />
table cloths, as informed by the president of Cooper<br />
MAV, Othília Batista Melo de Sampaio. These will<br />
be 600 pieces in total, demanding extra work from<br />
the artisans, as art painting work cannot be taught<br />
in such short term.<br />
Seeking to increase production and allowing<br />
more Acreans to have an income option, the<br />
cooperative signed a partnership with the<br />
Rotary Club and artisans offer courses for the<br />
qualification of new professionals. And the<br />
founders themselves are in a continual process<br />
of re-qualification and learning.<br />
After participating in a meeting in<br />
Brasília with representatives from<br />
the El Corte Inglés department<br />
store chain, Othília has already<br />
visited other states in the country,<br />
aiming the expansion of the cooperative.<br />
In São Paulo, together with other three members,<br />
Othília participated in courses at Mega Artesanal,<br />
a qualification and promotion workshops exhibit<br />
for artisans. Handicraft has been productive even<br />
within Othília’s family. Her daughter Magali<br />
Sampaio, 35, has also become a member in the<br />
cooperative and performs embroidery in huckweaving<br />
stitch – drawings made by the woof of<br />
threads.<br />
The three entities now live the expectation of<br />
having the successful acceptance of their products<br />
by the customers of El Corte Inglés, opening a<br />
loyal market to Acrean handicraft in Europe.
Pública<br />
PRESENTE NO AÇO<br />
QUE VOCÊ TOCA.<br />
PRESENTE NA ARTE<br />
QUE VOCÊ APRECIA.<br />
PRESENT IN THE STEEL YOU TOUCH.<br />
PRESENT IN THE ART YOU ENJOY.<br />
Para fazer parte da vida das pessoas, o aço Usiminas se apresenta de várias formas. Ele está nos eletrodomésticos, casas,<br />
carros, pontes e também na diversão, na cultura e no artesanato. A Usiminas é a maior investidora em cultura de Minas Gerais,<br />
e uma das maiores do Brasil. Foram mais de 1.500 projetos patrocinados em 18 anos. Por meio do Instituto Cultural Usiminas,<br />
a empresa investe na inclusão, formação e desenvolvimento do cidadão.<br />
Usiminas steel is found in many forms in people’s life. It’s in the home appliances, houses, cars, bridges, and also in the arts,<br />
entertainment and handcrafting. Usiminas is the largest investor in culture in Minas Gerais and one of the largest in Brazil,<br />
having sponsored more than 1,500 projects over the past 18 years. Through its Cultural Institute, Usiminas invests in the citizen’s<br />
education, inclusion and growth.<br />
Usiminas.<br />
Fazer melhor sempre. | Always doing the best.<br />
www.usiminas.com<br />
Orquestra de Câmara Jovem de Ipatinga<br />
Youth Chamber Orchestra of Ipatinga
All lumber is noble for a marquetry master<br />
Tacos, galhos e móveis velhos se transformam em arte nas mãos de Elsio Moriani<br />
Old furniture, branches and wooden floor tiles become art in the hands of Elsio Moriani<br />
No final do século passado,<br />
aos 30 anos, Elsio Moriani (pronuncia-se Elcio)<br />
encontrou uma pedra no meio do caminho,<br />
mas essa pedra iria se transformar em madeira.<br />
O casamento de cinco anos tinha terminado. E<br />
também sua relação com a fotografia, que era seu<br />
ganha-pão há vários anos. Aprendera o ofício<br />
trabalhando no departamento de arte final de uma<br />
agência de publicidade, seu primeiro emprego<br />
formal, na virada dos 17 para os 18 anos, em<br />
Brasília, onde nasceu e vive<br />
até hoje.<br />
Depois de alguma<br />
errância, Elsio encontrou a<br />
redenção no talento manual<br />
da herança familiar. Foi o que<br />
permitiu que progredisse na<br />
seara artística. De cinco anos<br />
para cá, tornou-se um craque<br />
da marchetaria. Sua obra,<br />
que pôde ser vista até 2 de<br />
julho na exposição coletiva<br />
“Eu e o Meio Ambiente”,<br />
nas galerias do Senado,<br />
começa a ser conhecida<br />
nacionalmente. Em breve,<br />
também será apreciada na<br />
Europa, na vitrine das 82<br />
lojas de departamento El Corte Inglés, distribuídas<br />
entre Espanha e Portugal.<br />
18 arte em madeira / art in wood<br />
POR /BY Antônio Siúves<br />
FOTOS / PHOTOS Elsio Moriani<br />
In the end of the last<br />
century, at age 30, Elsio Moriani found a rock<br />
on his path, but this rock would soon turn into<br />
wood. His five-year marriage was over, as well as<br />
his experience with photography, which had been<br />
his profession for many years. He had learned this<br />
craft while working in the artwork department of<br />
an advertising agency, his first formal job, between<br />
the ages of 17 and 18 in Brasília, where he was born<br />
and still lives.<br />
After some<br />
wandering, Elsio<br />
found redemption<br />
in the manual talent<br />
that runs in his<br />
family. This allowed<br />
him to progress in<br />
the artistic field.<br />
Throughout the<br />
last five years, he<br />
became an expert<br />
in marquetry. His<br />
work, having been<br />
displayed until July<br />
2nd at the collective<br />
exhibition “Me and<br />
the Environment”,<br />
at the Senate<br />
galleries, started to gain national recognition.<br />
Soon, it will also be appreciated in Europe on 82<br />
El Corte Inglés department stores, which spread<br />
between Spain and Portugal.
De volta um pouquinho no tempo, a 1999. Sem<br />
o casamento e longe da fotografia, Elsio Moriani<br />
foi à luta. “Eu vivia uma situação meio sem rumo”<br />
– ele conta –. “Fiquei desempregado e fui pulando<br />
de emprego em emprego. Trabalhei no Senai aqui<br />
em Brasília, no Ministério do Trabalho e em outros<br />
lugares. Sei que não tenho dom para funcionário<br />
público”.<br />
Neto do marceneiro Mario Moriani – que tinha<br />
negócio próprio na Barra Funda em São Paulo e<br />
com quem conviveu um pouco na infância – e filho<br />
do também marceneiro e tapeceiro Walter Moriani,<br />
um pioneiro da Capital Federal que atendeu com<br />
seus serviços o Palácio do Planalto e o Itamaraty,<br />
o próprio Elsio chegou a trabalhar por seis meses,<br />
na adolescência, como auxiliar de marcenaria no<br />
então recém-criado Estado do Tocantins. Ele tinha,<br />
portanto, um background onde pudesse ancorar.<br />
A vontade de trabalhar por conta própria<br />
o levou a voltar os olhos para o artesanato. Em<br />
2006, começou a fazer bijuterias, brincos e anéis,<br />
observando o trabalho de alguns artesãos e<br />
marcheteiros de Brasília. De ver fazer, aprendeu<br />
praticamente sozinho e procurou andar numa<br />
trilha que ele mesmo conseguisse abrir.<br />
Logo passou a criar “biojóias” – jóia feita com<br />
produtos naturais, como ele define – objetos e<br />
quadros decorativos que são mais propriamente<br />
esculturas em forma de painéis, compostas com<br />
tramas de pedaços de madeira talhada. “Pensava<br />
no meu pai, que era muito bom, um tremendo<br />
artista, e fui descobrir que tinha esse talento depois<br />
de velho”, diz Elsio. Ele se considera “um eterno<br />
aprendiz dessa área”.<br />
Para ele, a madeira é uma jóia que está<br />
ficando escassa na natureza, mas que, quando<br />
pode ser aproveitada, ou, na maioria das vezes,<br />
reaproveitada, torna-se ouro puro. Ele recolhe<br />
sobras de podas, galhos cortados de árvores velhas<br />
que ameaçam cair, e tudo mais que coleta Brasília<br />
afora, inclusive toras de mangueiras e abacateiros<br />
sacrificados na vizinhança. Leva para a pequena<br />
oficina, montada no pequeno terraço de fundos<br />
da casa onde vive sozinho, em Gama, madeira de<br />
demolição, portais, tacos jogados fora, pisos de<br />
madeira e verdadeiros tesouros que encontra na<br />
rua, no meio do caminho.<br />
Elsio demonstra uma intensa relação de afeto<br />
com a principal matéria-prima da atividade<br />
que hoje provê inteiramente seu sustento e o faz<br />
prosperar na vida. Para ele, toda madeira é boa,<br />
toda madeira é nobre, e algumas prendas que acha<br />
nas ruas são inesquecíveis, autênticos troféus.<br />
“Tenho que perder um pouco de tempo caçando<br />
essas madeiras. Outro dia, vindo da reunião de<br />
Let us go back in time a little, to 1999. With his<br />
marriage over and away from photography, Elsio<br />
Moriani decided to make a change. “I was living in<br />
a situation where I had no goals” – says Elsio –. “I<br />
was unemployed and kept going from job to job. I<br />
worked at Senai, here in Brasília, at the Ministry of<br />
Labor and other places. I know I have no talent to<br />
be a civil servant”.<br />
Being the grandson of carpenter Mario Moriani,<br />
who had his own business at Barra Funda, São Paulo<br />
and Elsio knew as a child – and the son of Walter<br />
Moriani, also a carpenter and a tapestry maker, a<br />
pioneer in the Federal capital, having provided his<br />
services to the Presidential Palace and the Ministry<br />
of Foreign Relations; Elsio himself worked for six<br />
months, during his teenage years, as a carpentry<br />
assistant in the recently created Tocantins State.<br />
Thus, he had a background which could provide<br />
him support.<br />
The desire to work for himself drove him to<br />
turn his attention handicraft. In 2006, he began<br />
making jewelry, earrings and rings, by watching<br />
the work of other artisans and marquetry makers<br />
in Brasília. He practically learned the craft by<br />
himself, only from watching, and started to seek<br />
his own signature path.<br />
He soon started creating “biojewelry” – jewelry<br />
made from natural materials, as he defines it –<br />
objects and decorative paintings which can be<br />
defined as panel-shaped sculptures, composed by<br />
weft and carved wood pieces. “I used to think of<br />
my father, who was very good, a tremendous artist,<br />
and I only discovered I had this talent at an older<br />
age”, says Elsio. He considers himself “an eternal<br />
apprentice in this area”.<br />
To him, wood is a jewel that is getting scarcer<br />
in nature, but when it’s used, or, most of the time,<br />
reused, turns into pure gold. He collects pruning<br />
remnants, branches cut from old, falling trees, and<br />
everything else available around Brasília, including<br />
logs from mango and avocado trees torn down<br />
along surrounding areas. He takes everything to<br />
his small workshop, set in a small terrace in the<br />
back of his house, where he lives alone, in the city<br />
of Gama; demolition wood, thrown away parquet<br />
floor tiles, hardwood floors and true treasures he<br />
finds on the street, on his path.<br />
Elsio shows an intense affection for the main<br />
raw material used in the activity that currently<br />
provides his living, and makes him prosper in life.<br />
To him, all lumber is good, all lumber is noble, and<br />
some treats he finds in the streets are unforgettable,<br />
authentic trophies. “I always need to put quite<br />
some time into hunting for wood. The other day,<br />
when I was returning from a meeting of the artisan<br />
arte em madeira / art in wood 19
uma associação de artesãos de que participo, vi<br />
uma cama de cerejeira, uma cama de casal inteira<br />
jogada fora. Para mim, isso é maravilhoso. É uma<br />
madeira linda. Provavelmente vai virar portajóias”,<br />
imagina.<br />
Os porta-jóias talhados são pequenas<br />
esculturas, com gavetas em formatos variados e<br />
desenhos sinuosos que lembram ora contorções<br />
vegetais do planalto central, ora bichos da fauna<br />
brasileira. Estão entre as peças de maior sucesso do<br />
seu catálogo e foram incluídas na encomenda do<br />
El Corte Inglês. Elsio também confecciona outros<br />
objetos de decoração utilitários, como fruteiras,<br />
bandejas, banquetas, além de brincos e anéis de<br />
grande aceitação.<br />
A madeira cortada é enriquecida com<br />
sementes e pedras – principalmente<br />
quartzo branco e verde, que recebe de<br />
um fornecedor de Cristalina, cidade<br />
vizinha no Estado de Goiás. Às vezes<br />
adiciona uma água marinha, raramente<br />
um toque de prata. Tal prática é a essência<br />
da marchetaria.<br />
Os painéis, ou esculturas chapadas,<br />
como ele explica essas obras, são<br />
criadas para ser dependurados na<br />
parede. As molduras ganham ricas<br />
composições de madeira recortada,<br />
com texturas e tons variados, sempre<br />
no colorido natural da matéria.<br />
O efeito harmonioso das tramas<br />
exprime o exercício criativo do artista.<br />
“Movimentos Geométricos”, “Janelas<br />
da Cidade”, “Cata-vento” são alguns<br />
dos títulos com os quais batiza esses<br />
trabalhos (podem ser visto em seu<br />
blog, no endereço http://artemoriani.<br />
blogspot.com/). As peças recebem uma<br />
camada de selador que o próprio Elsio prepara<br />
à base de cera de carnaúba ou de abelha, para<br />
conferir durabilidade.<br />
As obras são concebidas a partir do que a<br />
madeira encontrada sugere – quadro, porta-jóia<br />
ou bijuteria. Mas as ideias podem surgir a qualquer<br />
momento e lugar. “Ando sempre com uma agenda.<br />
A coisa acontece de repente”, descreve. “Estou<br />
dentro do ônibus e me vem a ideia de fazer alguma<br />
coisa. Vou e rabisco o que está na cabeça. Depois<br />
elaboro o desenho e vejo a viabilidade, se é possível<br />
produzir bastantes peças a partir daquele ideia”.<br />
Sabe que é preciso sempre apresentar novidades<br />
aos compradores e que se não fizer isso não vende.<br />
“Você é valorizado à medida que é capaz de colocar<br />
coisas novas na praça”, diz.<br />
20 arte em madeira / art in wood<br />
association in which I take part, I saw a cherry<br />
wood bed, an entire double bed that had been<br />
thrown away. To me, that’s a wonderful thing. It is<br />
a beautiful type of wood. It will probably become a<br />
jewelry box”, he imagines.<br />
The carved jewelry boxes are small sculptures<br />
with drawers in several shapes and sinuous patterns<br />
that resemble the twisted vegetation of the central<br />
plateau and the animals of the Brazilian fauna.<br />
They are among the most admired pieces on his<br />
catalog and were also ordered by El Corte Inglés.<br />
Elsio also makes other utilitarian decor objects,<br />
such as fruit bowls, trays, stools and earrings and<br />
rings which are highly appreciated.<br />
The pieces of wood are enriched with seeds and<br />
stones – mostly white and green<br />
quartz sent by supplier form<br />
Cristalina, a neighboring city in<br />
the Goiás State. He sometimes<br />
adds an aquamarine and, rarely,<br />
a touch of silver. This practice<br />
is the essence of marquetry.<br />
The panels or plain<br />
sculptures, as he refers to these<br />
works, are made to be hung on<br />
walls. The frames are enhanced<br />
with cut wood compositions,<br />
with multiple textures and tones,<br />
always in the natural material<br />
colors. The harmonious effect of<br />
the frames expresses the artist’s<br />
creative efforts. “Geometric<br />
Movements”, “City Windows”<br />
and “Pinwheel” are some of the<br />
names he has given these works<br />
(which can be seen on his blog at<br />
http://artemoriani.blogspot.com/).<br />
T h e pieces receive a sealing layer, prepared by<br />
Elsio himself and based on carnaúba or beeswax,<br />
to grant durability.<br />
The works are conceived from what the<br />
collected wood suggests – flat sculptures, jewelry<br />
boxes, or imitation jewelry. But the ideas can arrive<br />
at anytime, anywhere. “I always carry a notebook.<br />
Things happen out of the blue”, he describes. “I’m<br />
on the bus, and the idea of doing something comes.<br />
I scribble what’s in my head. Then I elaborate the<br />
design and see if it is doable, if it is possible to<br />
make a piece from that idea”. He knows he needs<br />
to present new material to the buyers and that if he<br />
doesn’t, he won’t sell his products. “You are valued<br />
as long as you are capable of putting new things on<br />
the table”, he says.
A marchetaria de Elsio frisa o sentido da palavra<br />
sustentabilidade e reflete um modo novo de ele<br />
encarar a vida. “Comecei a sentir a necessidade<br />
de mudar minha consciência com o trabalho de<br />
reaproveitamento. Mudei e continuo mudando,<br />
aprendendo a cada dia. É um processo. Isso me<br />
faz pensar no futuro que nossos filhos vão ver”,<br />
concebe. Elsio é pai de Henrique, de 15 anos, e<br />
Helena, que tem sete.<br />
Ele abriu uma empresa individual com suporte<br />
do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas<br />
Empresas (Sebrae); fora o apoio dessa instituição,<br />
lembra que teve uma ajuda da Secretaria do<br />
Trabalho do Distrito Federal no começo da nova<br />
carreira, uma ajuda financeira de R$ 2.000.<br />
Trabalha sozinho na pequena oficina em Gama<br />
– a dez minutos da região central de Brasília. Tem<br />
algumas poucas máquinas, duas serras, lixadeira<br />
e furadeira de bancada. Ali, produz ao todo, na<br />
média, mil unidades por mês, entre anéis, brincos,<br />
porta-jóias e outras peças. Os painéis demandam<br />
mais tempo, pelo menos um mês entre elaboração e<br />
acabamento. Às vezes, quando os pedidos apertam,<br />
contrata um ajudante diarista.<br />
A presença de Elsio na Feira Botânica, conhecida<br />
atração de Brasília dedicada a produtos sustentáveis,<br />
se reduziu a um comparecimento por mês. Aos<br />
poucos, está trocando o varejo pelo atacado.<br />
Tem clientes fixos entre os lojistas de Brasília e<br />
nos últimos dois anos começou a apresentar seu<br />
artesanato a lojas e butiques especializadas no país.<br />
Já viajou ao Ceará, Piauí, Rio de Janeiro, a São<br />
Paulo – onde participa do Salão do Turismo, que<br />
vai até 17 de julho, no Anhembi – e Minas Gerais.<br />
Elsio’s marquetry emphasizes the meaning of<br />
the word sustainability and reflects a new way<br />
of looking at life. “I started to feel the need of<br />
changing my conscience through my work with<br />
recycling. I changed and I keep changing, learning<br />
every day. It’s a process. It makes me think of the<br />
future our children will see”, he reflects. Elsio has<br />
two children, Henrique, age 15, and Helena, age 7.<br />
He started an individual business supported<br />
by Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e<br />
Pequenas Empresas, Brazilian Service of Support<br />
to Micro and Small Businesses); besides this<br />
institutional support, he was also supported by<br />
the Department of Labor of the Brazilian Federal<br />
District in the beginning of this new career,<br />
receiving a financial aid of R$2,000.00.<br />
He works by himself at his small workshop in<br />
Gama – ten minutes away from Brasília’s central<br />
region. He owns a few machines, two saws, a sander<br />
and a bench drill. There he produces, on average, a<br />
thousand pieces a month, among earrings, rings,<br />
jewelry boxes and others. The panels demand<br />
more time, at least a month between development<br />
and finishing. Sometimes, when he has too many<br />
orders, he hires an assistant.<br />
Elsio’s presence at the Feira Botânica (Botanic<br />
Fair), a well-known attraction in Brasília<br />
dedicated to sustainable products, was reduced<br />
to one attendance per month. Little by little, he is<br />
changing from retail to wholesale. He has regular<br />
customers among Brasília’s shopkeepers and, in the<br />
last two years, he began to introduce his handicraft<br />
to specialty stores and boutiques throughout the<br />
country. He has been to the Ceará, Piauí, Rio de<br />
arte em madeira / art in wood 21
Já tem clientes no Rio e em São Paulo, de quem<br />
recebe pedidos por e-mail.<br />
A ampliação da escala de produção o levou a<br />
participar da rodada de negócios com executivos<br />
do El Corte Inglés, promovida no último dia 17 de<br />
maio, em Brasília. Elsio recebeu a encomenda de<br />
600 peças – cem caixas porta-jóias, 200 brincos e<br />
300 anéis. Na primeira semana de julho, quando<br />
falou com a “Brasil Feito a Mão”, ele aguardava<br />
a celebração final do contrato para iniciar a<br />
produção das peças, com entrega<br />
prevista para novembro deste ano;<br />
a assinatura do contrato agora<br />
vai permitir que ele trabalhe com<br />
tranqüilidade nos pedidos. Espera<br />
dar conta de confeccionar todas as<br />
unidades sozinho, com a aquisição<br />
de mais duas máquinas para a<br />
oficina, mas se precisar vai recorrer<br />
à ajuda necessária com a gente<br />
conhecida do bairro.<br />
A vida de produtor de arte sustentável de<br />
qualidade que descobriu deu a ele os rumos<br />
que procurava. Anda animado para cumprir o<br />
“batidão”, como se refere à jornada diária das<br />
8h às 18h que mantém no ateliê-oficina. Para se<br />
aprimorar, espera conseguir se matricular em<br />
cursos de design industrial e de interiores. “Não<br />
sobrou grana para isso ainda”, ele explica. Até o fim<br />
do ano ele se casa pela segunda vez.<br />
22 arte em madeira / art in wood<br />
Janeiro, São Paulo – where he attends the Salão do<br />
Turismo (Tourism Fair), which happens until July<br />
17th, at Anhembi –, and Minas Gerais States. He<br />
already has clients in Rio and São Paulo who order<br />
his pieces via email.<br />
The expansion of the production scale led him<br />
to attend the round of negotiations with El Corte<br />
Inglés executives, held on May 17th, in Brasília.<br />
Elsio received an order of 600 pieces – 100 jewelry<br />
boxes, 200 earrings, and 300 rings. On the first<br />
week of July, when he spoke to the<br />
“Brasil feito a Mão”(“Handmade<br />
Brazil”) magazine, he was waiting for<br />
the final contract confirmation in order<br />
to begin producing the pieces, to be<br />
delivered in November; signing this<br />
contract will allow him to work calmly<br />
on his orders. He expects to produce<br />
all units by himself, after purchasing<br />
two new machines for the workshop,<br />
but if needed he will hire people from his own<br />
neighborhood.<br />
His newly discovered life as a sustainable art<br />
producer provided him with the goals he was<br />
looking for. He’s been enjoying his daily journey<br />
from 8 AM to 6 PM at the workshop. In order to<br />
improve his work, he seeks to enroll in industrial<br />
and interior design courses. “There is not enough<br />
money for that yet”, he explains. By the end of this<br />
year, he will be getting married for the second time.
Mudança de vida<br />
e<br />
uM salto de qualidade<br />
life change and a quality leap<br />
Exportação muda patamar do artesanato com<br />
reciclados e tecidos de Thiago Silva<br />
Thiago Silva’s recycled product and fabric handicraft<br />
improves through exportation<br />
POR /BY Antônio Siúves<br />
FOTOS / PHOTOS Martinez Fotografia<br />
Dois acontecimentos mudaram<br />
a vida de Thiago Silva de um ano e meio para<br />
cá. Primeiro, ele tomou coragem para deixar um<br />
emprego estável, de funcionário administrativo<br />
concursado da Prefeitura de Lagoa Santa, para<br />
se dedicar integralmente ao artesanato. Logo em<br />
seguida, se viu diante de uma grande oportunidade<br />
inesperada, que não deixaria escapar. No começo<br />
de julho, havia dado os últimos passos para fechar<br />
um contrato de exportação com a rede de lojas<br />
de departamentos europeia El Corte Inglés e ver<br />
suas criações oferecidas a consumidores espanhóis<br />
e portugueses. Para isso, teve que redimensionar<br />
seu ateliê, o ReTHalho, e se preparar para os<br />
novos desafios, com o apoio do Instituto <strong>Centro</strong><br />
de Capacitação e Apoio ao Empreendedor (<strong>Centro</strong><br />
<strong>Cape</strong>).<br />
Thiago Silva has had two life changing<br />
events over the past year and a half. First, he took<br />
the courage to leave a steady job as a civil servant in<br />
Lagoa Santa in order to dedicate himself exclusively<br />
to handicraft. Next, he found himself facing a great,<br />
unexpected opportunity, which he wouldn’t miss.<br />
In early July, he completed the last steps to sign<br />
an export contract with the European department<br />
store El Corte Inglés and see his works offered to<br />
Portuguese and Spanish customers. In order to do<br />
so, he had to rescale his studio, called ReTHalho,<br />
and prepare for these new challenges with the<br />
support of <strong>Centro</strong> <strong>Cape</strong> (<strong>Centro</strong> de Capacitação e<br />
Apoio ao Empreendedor, Entrepreneurial Training<br />
and Support Center).<br />
tecidos e cores / fabrics and colours 23
Há seis anos, Thiago começou a fazer<br />
ecocarteiras – carteiras de dinheiro confeccionadas<br />
com embalagens de leite tetra-pak e forradas<br />
com tecido; hoje, produz 25 tipos de peças com<br />
material reciclado, retalhos e tecidos variados.<br />
Seus trabalhos incluem objetos de uso doméstico<br />
e decorativo, como anéis de guardanapos, quadros<br />
de recado, porta-chaves e vasos de flores.<br />
Logo, chamou atenção dos amigos e conquistou<br />
os primeiros clientes, mas o negócio ia devagar.<br />
“Não levava a coisa muito a sério, não conseguia<br />
atender às encomendas, era tudo meio confuso”,<br />
ele conta. Incentivado pelos sogros, com quem<br />
morava com a mulher e os dois filhos do casal, e<br />
com a colaboração de uma amiga, aos poucos se<br />
deixou convencer a apostar no próprio talento,<br />
talento que para ele ainda<br />
não era evidente. “Não tinha<br />
noção da minha capacidade<br />
de criação”, lembra.<br />
Depois de cinco anos<br />
no funcionalismo público<br />
municipal, resolveu dar uma<br />
guinada na vida. “Durante<br />
uma conversa, minha sogra<br />
me deu a ideia, por acreditar<br />
demais em mim, de eu<br />
largar tudo e investir nisso”,<br />
recorda Thiago. “Com a<br />
corda do pescoço”, como<br />
diz, custou a ceder, mas<br />
acabou por “meter as caras”<br />
no artesanato. Os sogros lhe<br />
emprestaram os primeiros<br />
recursos e ele então abriu<br />
o ReTHalho, ateliê que fica<br />
dentro de Lagoa Santa, no<br />
bairro Ovídio Guerra, a<br />
dez minutos do centro da<br />
cidade.<br />
O sucesso de Thiago<br />
acompanhou a expansão da Artessanta, feira<br />
de artesanato que acontece todo sábado, das 9h<br />
às 17h, na orla da lagoa que batiza o município<br />
da região metropolitana de Belo Horizonte,<br />
em Minas Gerais. Há mais ou menos três anos,<br />
apenas doces e panos de prato decorados eram<br />
vendidos no local, em meia dúzia de barraquinhas.<br />
A feira cresceu, recebe hoje 120 expositores e<br />
uma freguesia de bom poder aquisitivo. “Temos<br />
trabalhos deslumbrantes lá, e minha experiência é<br />
muito boa. Nossa clientela principal é formada por<br />
moradores dos condomínios de luxo ao redor de<br />
Lagoa Santa”, conta.<br />
24 tecidos e cores / fabrics and colours<br />
Six years ago, Thiago started making ecowallets<br />
– wallets made from tetra-pak milk cartons<br />
and fabrics; nowadays, he produces 25 types<br />
of products with recycled material, different<br />
fabrics and patches. His work includes objects for<br />
domestic and decorative use such as napkin rings,<br />
note boards, key holders and flower vases.<br />
Soon, he caught the attention of his friends<br />
and conquered his first clients, but business was<br />
still slow. “I didn’t take it very seriously, I couldn’t<br />
deliver all the orders, it was all a little confusing”,<br />
he tells. Encouraged by his in-laws, with whom he<br />
lives along with his wife and two children, and with<br />
the help of a friend, he was eventually convinced to<br />
invest in his talent, which was still not evident to<br />
him. “I wasn’t aware of my own creation ability”, he<br />
remembers.<br />
After five years of<br />
municipal public service,<br />
he decided to take a<br />
serious turn in his life.<br />
“During a conversation<br />
with my mother-in-law,<br />
she suggested I should<br />
drop everything and invest<br />
in my handicraft, because<br />
she really believed in me”,<br />
Thiago remembers. “Having<br />
the rope on his neck”, as he<br />
says, he ended up giving in<br />
and finally decided to “dive<br />
into” his handicraft. His<br />
in-laws lent him the initial<br />
resources and he opened<br />
his studio, ReTHalho,<br />
at the Ovídio Guerra<br />
neighborhood, in the city<br />
of Lagoa Santa, ten minutes<br />
away from downtown.<br />
Thiago’s success followed<br />
the expansion of Artessanta,<br />
a handicraft fair held every Saturday, from 9 AM<br />
to 5 PM, by the lake after which this city was<br />
named, located in the metropolitan region of Belo<br />
Horizonte, Minas Gerais State, Brazil. Three years<br />
ago, only sweets and decorated dishcloths were<br />
sold, in only about half-dozen stands. The fair has<br />
grown and currently has 120 exhibitors, as well as<br />
customers with fine purchasing power. “We have<br />
marvelous works there, and my experience is very<br />
good. Our primary clientele is composed of people<br />
who live in luxury condos around Lagoa Santa”, he<br />
tells.
O trabalho que realiza é cem por cento manual,<br />
qualidade que distingue seu artesanato. “Não uso<br />
máquina de costura porque não sei costurar. Hoje<br />
em dia tenho consciência da minha habilidade com<br />
as mãos e da minha facilidade para criar, que é um<br />
processo infinito, novas ideias sempre vêm”, garante.<br />
Além de tecido e embalagens tetra-pak, utiliza na<br />
confecção das peças perfis de madeira (MDF) e<br />
galhos de podas das árvores que são descartados<br />
em profusão na arborizada Lagoa Santa. Os vasos<br />
artificiais são feitos com esses galhos, que recebe<br />
folhas e flores recortadas em tecidos. Os quadros<br />
decorativos para quartos de crianças são feitos de<br />
madeira emoldurada com tecidos estampados e<br />
recebem motivos florais, pássaros e outros bichos.<br />
As caixinhas de leite, inicialmente usadas<br />
para a confecção das carteiras de dinheiro, foram<br />
adaptadas na criação dos nos anéis de guardanapos.<br />
A matéria-prima é obtida em casa – os dois filhos<br />
consomem uma doze caixas de leite a cada dez<br />
dias – e principalmente por meio de doações. “As<br />
pessoas me entregam sacolas cheias na feira, às<br />
vezes já limpas e abertas”, conta.<br />
Thiago está se preparando para começar a usar<br />
também garrafas pet no ateliê. Já tem um bom<br />
estoque limpo e cortado do material disponível<br />
no ateliê. A lida com matéria-prima reciclável é<br />
uma razão de ser da sua atividade. Está claro para<br />
o artesão que a produção sustentável agrega um<br />
valor social ao ofício que escolheu para ganhar a<br />
vida. “Isso é de extrema importância. Os benefícios<br />
não são só para mim, mas para meus filhos e para a<br />
cidade, com a expansão da consciência ambiental”,<br />
afirma.<br />
Foi por intermédio de duas amigas de Lagoa<br />
Santa, numa conversa durante um almoço, que<br />
Thiago soube da oportunidade de participar da<br />
seleção promovida pelo <strong>Centro</strong> <strong>Cape</strong>, em parceria<br />
com a Federação das Indústrias do Estado de<br />
Minas Gerais (Fiemg), da mostra de artesanato a<br />
ser apresentada a uma missão de compradores do<br />
El Corte Inglés em visita ao Brasil. Incentivado, ele<br />
mandou fotos para os avaliadores do <strong>Centro</strong> <strong>Cape</strong><br />
e foi indicado para exibir sua produção em showroom<br />
montado no último Minas Trend Preview,<br />
realizado em Belo Horizonte no final de maio,<br />
especialmente para apreciação dos representantes<br />
da cadeia de lojas européia.<br />
The work he creates is 100% manual, a<br />
distinguished quality mark. “I don’t use a sewing<br />
machine because I don’t know how to. Nowadays,<br />
I acknowledge my hand skills and my aptitude for<br />
creation, which is an infinite process, new ideas<br />
are always coming”, he assures. Besides fabric and<br />
tetra-pak packages, he also uses medium-density<br />
fiberboard (MDF) and pruned branches of trees in<br />
his production, all of which are abundantly found<br />
laying around Lagoa Santa. These branches are<br />
used in the making of artificial vases, also applied<br />
with trimmed leaves and flowers on fabrics. The<br />
decorative paintings for children’s rooms are made<br />
of framed wood and printed fabrics, displaying<br />
themes with flowers, birds and other animals.<br />
The milk cartons, initially used in the production<br />
of wallets, were adapted for the creation of napkin<br />
rings. The raw material is obtained at home – his<br />
two children consume a dozen milk cartons every<br />
ten days – and mostly from donations. “People<br />
bring me bags full of cartons, sometimes already<br />
clean and cut”, he tells.<br />
Thiago is also preparing in order to start using<br />
PET bottles at his studio. He already has a good<br />
clean and cut stock of available material. Dealing<br />
with recyclable raw materials is one of the reasons<br />
which fuel his work. This artisan clearly understands<br />
that sustainable production aggregates a social<br />
value to his profession of choice. “This is extremely<br />
important. The benefits are not just for me, but for<br />
my children and for the city, with the expansion of<br />
environmental conscience”, he says.<br />
It was through two friends from Lagoa Santa,<br />
in a conversation during lunch, that he heard of<br />
the opportunity to participate in <strong>Centro</strong> <strong>Cape</strong>’s<br />
selection, promoted in collaboration with Fiemg<br />
(Federação das Indústrias do Estado de Minas<br />
Gerais, Industry Federation of the Minas Gerais<br />
State), for a handicraft exhibition targeting a group<br />
of buyers from El Corte Inglés, who were visiting<br />
Brazil. Filled with encouragement, he sent pictures<br />
to the <strong>Centro</strong> <strong>Cape</strong> evaluators and was selected<br />
to display his products in a showroom at the last<br />
Minas Trend Preview, which took place in Belo<br />
Horizonte in the end of May, especially intended<br />
for the appreciation of this European chain store’s<br />
representatives.<br />
tecidos e cores / fabrics and colours 25
Os espanhóis gostaram do mostruário e, no caso<br />
do ReTHalho, demonstraram interesse especial<br />
pelos anéis de guardanapo, porta-chaves, quadro<br />
de recados, e quadros de decoração. Thiago então<br />
percebeu que a capacidade de produção do ateliê<br />
não era suficiente para satisfazer uma demanda<br />
de mais de cem peças por produto escolhido. Por<br />
enquanto, conta com apenas uma colaboradora a<br />
seu lado, a amiga Fabrícia Sá, cujo talento ele se<br />
orgulha de ter revelado. “Não estava preparado<br />
para aquilo, não imaginava essa realidade”, conta.<br />
Diante do gargalo, resolveu “correr atrás” de<br />
capacitação para reestruturar e criar condições de<br />
atender aos pedidos dos espanhóis.<br />
Thiago procurou o <strong>Centro</strong> <strong>Cape</strong> e ingressou<br />
no PQS (Programa de Qualidade Sustentável). O<br />
treinamento é dado em seu próprio ateliê, para onde<br />
se desloca um professor. Em cada etapa do PQS, o<br />
artesão aprende a se localizar na cadeia produtiva,<br />
definir custos financeiros e administrativos, os<br />
preços no atacado e varejo, e aprende a organizar o<br />
local de trabalho. Ao final é feita uma auditoria e o<br />
artesão aprovado recebe uma primeira remessa de<br />
selos de certificação IQS.<br />
No início de julho, Thiago tinha cumprido a<br />
segunda etapa do PQS, mas a reorganização do<br />
ReTHalho foi adiantada. Montou um mini showroom<br />
na casa e transformou o que era um quarto<br />
de entulhos num ateliê novinho em folha. “Agora,<br />
tenho um local preparado única e exclusivamente<br />
para trabalhar”, orgulha-se. E tem certeza de que<br />
seus clientes vão se surpreender quando virem as<br />
novas instalações. “O pessoal que chegar aqui vai<br />
cair para trás ao ver as mudanças”, garante.<br />
Em poucos meses, Thiago passou a conceber sua<br />
atividade sob nova perspectiva. “O treinamento dá<br />
uma segurança muito grande para a gente saber<br />
como trabalhar e negociar. Também aprendemos<br />
que se pode ganhar em escala diminuindo os preços<br />
e a ver se estamos ou não dentro das regras certas<br />
para fazer o dinheiro girar e o negócio crescer”, ele<br />
conta.<br />
26 tecidos e cores / fabrics and colours<br />
The Spanish liked the products and, in the<br />
case of ReTHalho, demonstrated special interest<br />
in napkin rings, key holders, note boards and<br />
decorative paintings. Thiago then realized that<br />
his studio’s production capacity wasn’t enough to<br />
meet a demand of more than one hundred pieces<br />
of each chosen product. For now, he only has one<br />
collaborator, his friend Fabrícia Sá, whose talent he<br />
is proud to have revealed. “I wasn’t ready for that,<br />
I couldn’t imagine this reality”, he tells. Facing this<br />
bottleneck, he decided to “go after” the necessary<br />
qualifications in order to restructure and create<br />
conditions to meet the requests of the Spanish<br />
buyers.<br />
Thiago sought <strong>Centro</strong> <strong>Cape</strong> and enrolled in PQS<br />
(Programa de Qualidade Sustentável, Sustainable<br />
Quality Program). He receives training in his own<br />
studio, visited by a teacher. In each stage of PQS, the<br />
artisan learns to locate himself in the production<br />
chain, to define his financial and administrative<br />
costs, his retail and wholesale prices, and learns<br />
how to organize the workplace. At its conclusion,<br />
an audit is made and the approved artisan receives<br />
the first shipment of IQS certification labels.<br />
In the beginning of July, Thiago had completed<br />
the second stage of PQS, but the reorganization of<br />
ReTHalho was ahead of schedule. He set a mini<br />
showroom in his house and transformed what<br />
used to be a storeroom in a brand new studio.<br />
“Now, I have a place which is exclusively prepared<br />
for work”, he proudly states. And he is sure his<br />
customers are going to be surprised when they<br />
visit the new installations. “They are going to drop<br />
their jaws when they see the changes”, he assures.<br />
In only a few months, Thiago acquired a new<br />
perspective on his activity. “The training gives<br />
us the confidence of knowing how to work and<br />
negotiate. We also learn that we can gain in scale<br />
by lowering the price and seeing whether we are<br />
complying with the right rules to make the money<br />
flow and the business grow”, he says.
Indagado sobre o que ganhou com o curso até<br />
aqui, ele responde que “mudou completamente”<br />
sua abordagem da atividade. Para começar, mudou<br />
a maneira de lidar com seus clientes e receber as<br />
pessoas no ateliê remontado.<br />
Também aprendeu que deve definir uma<br />
rotina saudável de trabalho e está se adaptando às<br />
orientações recebidas no PQS. “Trabalhava mais<br />
quando estava mais inspirado, desde a tarde até de<br />
madrugada, às vezes até as 4h. Estou me ajustando<br />
para ter um horário definido para também cuidar<br />
da saúde”, diz. Sua jornada atual no ateliê vai das<br />
13h às 20h, em média, mas ele está se preparando<br />
para começar no período da manhã.<br />
Thiago espera exportar, em três meses, cerca de<br />
2.000 peças para a rede El Corte Inglés. Os últimos<br />
formulários tinham sido enviados no final de<br />
junho e a assinatura do contrato deveria ocorrer em<br />
seguida. Ele já tinha pré-estabelecido a ampliação<br />
da estrutura do ateliê e o número de pessoas a<br />
contratar para cumprir o pedido dos europeus.<br />
Na hora de exportar os produtos ele vai contar<br />
com a experiência da Associação Mão de Minas<br />
para cuidar das etapas de emissão de documentos,<br />
preparação das peças, embalagem e despacho, em<br />
troca de uma percentagem das vendas.<br />
Com o trabalho realizado em novo padrão,<br />
Thiago estabelece padrões de qualidade mais<br />
apurados, com mais atenção ao acabamento. Ele se<br />
sente cheio de energia e extremamente estimulado.<br />
“Este foi o maior acontecimento desde que comecei<br />
a trabalhar com artesanato. São portas enormes<br />
que se abriram para mim”, festeja. E agrega outros<br />
benefícios que teve nos últimos meses, como<br />
o acolhimento da sua obra pelo <strong>Centro</strong> <strong>Cape</strong>,<br />
o programa de treinamento, e o fato de ter se<br />
associado à Mãos de Minas.<br />
Ao mesmo tempo, Thiago trabalha para<br />
consolidar o ReTHalho no novo patamar. Ainda<br />
este ano vai participar de uma feira nacional no<br />
Expominas. Ele e mais quatro artesões de Lagoa<br />
Santa vem se reunindo semanalmente<br />
para planejar a abertura de um<br />
galpão onde serão construídos<br />
ateliês de produção. Querem se<br />
preparar para aproveitar o fluxo<br />
de turistas esperado na região em<br />
2014, durante a realização da Copa<br />
do Mundo. “Quero estabelecer<br />
um padrão de qualidade<br />
crescente para conquistar<br />
cada vez mais a confiança do<br />
comprador”, anuncia.<br />
When questioned about what he has gained<br />
through the course so far, he says “it completely<br />
changed” his approach to the activity. For starters,<br />
he changed the way he deals with the customers<br />
and receives people in his reorganized studio.<br />
He also learned that one must define a<br />
healthy work routine, and he is adapting to PQS<br />
orientations. “I used to work mainly when I<br />
was inspired, from the afternoon to late night,<br />
sometimes until 4 AM. I’m adjusting to a more<br />
defined schedule so I can take care of my health<br />
as well”, he says. His current journey at the studio<br />
usually starts at 1 PM and lasts until 8 PM, but he<br />
is preparing to start working mornings.<br />
Thiago hopes to export, in three months, about<br />
2,000 pieces to the El Corte Inglés chain. The<br />
last forms were sent in the end of June and the<br />
contract signature should follow. He had already<br />
predetermined the expansion of his studio structure<br />
and the number of people to be hired in order to<br />
fulfill the European`s requests. During product<br />
exportation, he will count on the experience of<br />
Associação Mãos de Minas for handling document<br />
emission, piece preparation, packaging and<br />
shipping, in exchange for a percentage of sales.<br />
By performing his work through new criteria,<br />
Thiago establishes more accurate quality standards,<br />
giving more attention to the finishing process. He<br />
is very excited and full of energy. “This was the<br />
greatest happening ever since I started working<br />
with handicraft. These are huge doors that have<br />
opened for me”, he celebrates. He also mentions<br />
other attained benefits throughout the last<br />
months, such as <strong>Centro</strong> <strong>Cape</strong> taking in his work,<br />
the training program, and the fact he has become a<br />
member of Mãos de Minas.<br />
At the same time, Thiago works hard to<br />
consolidate ReTHalho on this new level. Yet this<br />
year, he is also going to participate in a national<br />
fair at Expominas. He and four artisans from<br />
Lagoa Santa have been meeting weekly to plan the<br />
opening of a common space where three<br />
production studios will be built. They<br />
want to be prepared for the flow<br />
of tourists expected in the region<br />
for 2014, during the World Cup.<br />
“I want to establish an increasing<br />
quality standard in order to keep<br />
on conquering the buyer’s trust”,<br />
he states.<br />
tecidos e cores / fabrics and colours 27
A saga de dona Marlene às margens do<br />
Rio NegRo<br />
The journey of mrs. marlene by the shores of Rio<br />
Negro<br />
Matriarca lidera comunidade e produção de artesanato em Iranduba, no Amazonas<br />
Matriarch leads community and handicraft production in Iranduba, Amazonas<br />
POR /BY Antônio Siúves<br />
FOTOS / PHOTOS Wilkerson Kuroki/Amazonastur<br />
Dona Marlene Alves da Costa vive no povoado<br />
de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em Lago<br />
do Acajatuba, município de Iranduba. A sua gente<br />
está separa por hora e meia de lancha de Manaus, no<br />
Amazonas. A comunidade é a maior da localidade<br />
ribeirinha do Rio Negro, com 230 moradores. Seus<br />
filhos, dois homens e quatro mulheres, se juntam<br />
a amigos organizados em torno da Associação de<br />
Artesanato Sustentável Grupo Japiim, formada por<br />
30 pessoas sob a liderança e inspiração de dona<br />
Marlene.<br />
“O nome da associação é uma homenagem ao<br />
pássaro que tem aqui em frente a nossa casa, na<br />
beira do rio e que nunca nos abandona. Ele figura<br />
na nossa logomarca”, ela explica. Japiim, japim,<br />
xexéu nomeiam a mesma bela ave de plumagem<br />
preta e amarelo vivo, com variações de preto e<br />
vermelho, muito comum no Rio Negro.<br />
Mrs. Marlene Alves da Costa lives in the Nossa<br />
Senhora do Perpétuo Socorro village, in Lago de<br />
Acajatuba, within the Iranduba municipality. She<br />
is an hour and a half by motorboat away from her<br />
people, in the Amazonas State. The community is<br />
the largest riverside village of Rio Negro, with 230<br />
residents. Her children, two men and four women,<br />
as well as some friends, are part of the Associação<br />
de Artesanato Sustentável Grupo Japiim (Japiim<br />
Group Sustainable Handicraft Association),<br />
composed by 30 people who are led and inspired<br />
by Mrs. Marlene.<br />
“The association’s name is a tribute to a type of<br />
bird that appears in front of our house and by the<br />
river banks, never abandoning us. He appears in<br />
our logo”, she explains. Japiim, japim, xexéu are<br />
names for the same beautiful bird which has black<br />
and bright yellow plumage, also varying from black<br />
to red and very common in Rio Negro.<br />
28 dona marlene / mrs. marlene
A família de dona Marlene se dedica ao<br />
artesanato há 26 anos. A mãe, descendente de<br />
índios bugre, trabalhava com cerâmica e tecidos;<br />
o pai português foi um conhecido carpinteiro que<br />
fabricava canoas e objetos em madeira. “A gente<br />
não estudou, não é? É tudo cultura mesmo”, diz a<br />
matriarca. Ela fala com orgulho da filha, Caroline<br />
Costa, design do grupo, e do filho mais velho, o<br />
escultor Nei Costa. “Ele é meu grande amigo, que<br />
trabalha comigo na administração da comunidade”,<br />
conta.<br />
Primeiro membro da família a viajar de avião,<br />
Nei foi este ano ao Rio de Janeiro para apresentar,<br />
por iniciativa da Empresa Estadual de Turismo<br />
do Amazonas – Amazonastur, os produtos de<br />
Acajatuba na feira Fashion Business. Os trabalhos<br />
também foram mostrados aos empresários da rede<br />
El Corte Inglés, com sede na Espanha, em rodada<br />
de negócios promovida pela Fundação <strong>Centro</strong> de<br />
Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica (Fucapi).<br />
A visita foi organizada em maio pela Agência<br />
Brasileira de Promoção de Exportações (Apex<br />
Brasil), em conjunto com o Serviço Brasileiro de<br />
Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e a<br />
Associação Brasileira de Exportação de Artesanato<br />
(Abexa).<br />
As peças encantaram os compradores da cadeia<br />
europeia. “Viram na feira de Manaus e vieram até<br />
aqui conhecer de perto tudo que temos na nossa<br />
loja. Gostaram do que viram e foram separando<br />
algumas coisas que acharam legais. O que eles<br />
pediram ainda não estava em nosso catálogo, mas<br />
já estamos incluindo”, conta.<br />
Colares, peixes, canoinhas<br />
Dona Marlene recebeu a encomenda de 4.000<br />
peças, entre colares longos matizados – “eles ficaram<br />
fascinados com esses colares, que ficam muito<br />
bonitos nas mulheres”, comenta – miniaturas em<br />
madeira de peixes, colheres e canoinhas. Também<br />
fizeram sucesso os porta-pratos que podem ser<br />
usados em casa ou restaurantes.<br />
Ela esperava a confirmação do contrato para a<br />
última semana de julho. Acostumada a pelejar com<br />
obstáculos diários comuns a quem vive isolado<br />
em um povoado amazônico, dona Marlene não se<br />
abala nem um pouco com os percalços para fazer<br />
a primeira exportação do artesanato de Acajatuba.<br />
“Estamos lutando para desenrolar os papéis, pois<br />
é difícil nos comunicarmos com nossos fregueses”,<br />
ela diz. Ainda sem acesso à internet na localidade,<br />
dá graças pela linha telefônica de que dispõe.<br />
Fora isso, é pegar o barco até Manaus tantas vezes<br />
quanto for preciso.<br />
Mrs. Marlene’s family has been engaged in<br />
handicraft fo.r 26 years. Her mother, an Indigenous<br />
descendant, worked with ceramics and textiles; her<br />
Portuguese father was a popular carpenter who<br />
made canoes and wooden objects. “We didn’t study.<br />
It’s all in our culture, really”, says the matriarch. She<br />
proudly talks about her daughter, Caroline Costa,<br />
the group’s designer, and about her oldest son, the<br />
sculptor Nei Costa. “He is a great friend, who helps<br />
me managing the community”, she tells.<br />
The first family member to travel by airplane,<br />
Nei went to Rio de Janeiro this year in order to<br />
present products from Acajatuba, through an<br />
initiative of Amazonastur (Empresa Estadual de<br />
Turismo do Amazonas, Amazonas State Tourism<br />
Company), in the Fashion Business fair. The<br />
works were also shown to entrepreneurs from the<br />
El Córte Inglés chain, headquartered in Spain,<br />
in a round of negotiations promoted by Fucapi<br />
(Fundação <strong>Centro</strong> de Análise, Pesquisa e Inovação<br />
Tecnológica, Analysis, Research and Technological<br />
Innovation Center Foundation).<br />
This visit was organized in May by Apex-Brasil,<br />
the Brazilian Trade and Investment Promotion<br />
Agency, along with Sebrae, the Brazilian Service<br />
for Supporting Micro and Small Businesses, and<br />
Abexa, the Brazilian Handicraft Exportation<br />
Association.<br />
The European chain buyers were fascinated by<br />
the pieces. “They saw them at the fair in Manaus<br />
and came all the way here to see everything we<br />
have in our store. They liked what they saw and<br />
selected some of the things they found interesting.<br />
The products they ordered were not in our catalog<br />
yet, but we are including them now”, he tells.<br />
Necklaces, fish, little canoes<br />
Mrs. Marlene received an order of 4,000 pieces,<br />
including long, tinted necklaces – “they were<br />
fascinated by these necklaces, which look very<br />
beautiful in women,” she says – miniature wooden<br />
fish, spoons and little canoes. They were also<br />
attracted by the dish holders, which can be used at<br />
home or in restaurants.<br />
She was expecting the contract confirmation<br />
by the last week of July. Used to struggle with<br />
ordinary daily obstacles for those who live in<br />
isolated Amazonian villages, Mrs. Marlene is not<br />
at all intimidated by the challenges involved in the<br />
first exportation of Acajatuba’s handicraft. “We are<br />
struggling to solve all the paperwork, because it’s<br />
difficult to communicate with our customers”, she<br />
says. Without Internet access in the village, she<br />
is grateful for the available telephone line. Other<br />
dona marlene / mrs. marlene 29
Ao se concretizar, a exportação para El Corte<br />
Inglés vai trazer um novo alento para o grupo de<br />
artesãos de Lago do Acajatuba. “É um passo além<br />
que estamos dando, uma oportunidade muito boa<br />
para quem vive no meio do mato, na Amazônia”<br />
– celebra dona Marlene –. “Espero que mais<br />
pessoas venham sentir aqui nosso calor humano,<br />
que venham ver o trabalho, que é simples, feito<br />
por pessoas simples que vivem como podem<br />
graças à madeira. Espero que esse trabalho seja<br />
reconhecido”, ela diz, em sua fala de doce acento<br />
nortista.<br />
A madeira na beira do rio<br />
A associação Japiim também confecciona uma<br />
gama de bijuterias, brincos, pulseiras, colares<br />
e outras peças. Todo o trabalho é manual e<br />
sustentável, inclusive o processo de tingimento<br />
natural. “Aproveitamos restos de madeira, de<br />
árvores que caem e aparecem na beira do rio, mais<br />
na época da seca”, explica dona Marlene.<br />
As madeiras mais utilizadas são itapuba, pauari<br />
e pau-santo. “São as melhores que existem para<br />
esculpir e as mais durativas”, ela explica. O colorido<br />
do artesanato é obtido com pigmentos naturais por<br />
meio de um longo processamento da casca da cebola<br />
amarela, da borra de café, de algumas madeiras<br />
e do urucum. Depois de cozimento, filtragens e<br />
misturas se extraem as tonalidades rosas, amarelas,<br />
alaranjadas e vermelhas que decoram o artesanato.<br />
30 dona marlene / mrs. marlene<br />
than that, she needs to get on the boat to Manaus<br />
as many times as necessary.<br />
When finished, the exportation to El Corte<br />
Inglés will bring a new hope to the group of<br />
artisans of Lago de Acajatuba. “It’s a big step we’re<br />
making, it’s a great opportunity for those who live<br />
in the middle of the forest, in Amazonia” – she<br />
celebrates –. “I hope more people come here to<br />
feel our warmth and see our simple work, carried<br />
out by simple people who manage to make their<br />
living thanks to the forest’s wood. I hope this work<br />
is recognized”, she says, in a speech filled with a<br />
sweet northern accent.<br />
The wood on the river banks<br />
The Japiim Association also makes a wide variety<br />
of jewelry, earrings, bracelets, necklaces and other<br />
pieces. All the work is manual and sustainable,<br />
including the process of natural dyeing. “We use<br />
wood branches which fall down from trees and<br />
appear on the river banks, around the dry season”,<br />
explains Mrs. Marlene.<br />
The most commonly wood types are itapuba,<br />
pauari, and pau-santo. “They are the best to<br />
sculpt and the most durable”, she explains. Their<br />
handicraft colors are obtained using natural<br />
pigments, obtained through a long processing<br />
of yellow onion skin, coffee grounds, woods and<br />
urucum (annatto). Once cooked, filtered and<br />
mixed, tones of pink, yellow, orange and red are<br />
extracted and used to decorate the pieces.
Diante do futuro na reserva sustentável<br />
A consciência ecológica é dado permanente para<br />
quem habita o interior de uma reserva biológica,<br />
a RDS (Reserva de Desenvolvimento Sustentável)<br />
do Rio Negro, dedicada ao manejo e à subsistência<br />
das comunidades ribeirinhas. “Sabemos que se nós<br />
acabarmos com tudo hoje, amanhã não existirá<br />
nada. Estamos aprendendo a ver o futuro. Aqui,<br />
de tudo que se colhe, um pouco é deixado para a<br />
natureza”, se expressa dona Marlene.<br />
As bijuterias recebem detalhes em palha de<br />
tucumã e tucum e delicadas incrustações com<br />
sementes de morototó e açaí colhidas em capoeiras<br />
nas proximidades. Com vistas à exportação<br />
para Ele Corte Inglés, a associação contratou<br />
um laboratório para fazer a certificação dessas<br />
sementes. O controle de qualidade dá garantias<br />
ao comprador quanto à resistência dos produtos<br />
em outros climas e imunidade ao bolor e outras<br />
possibilidades de deterioração.<br />
Qualificação e suporte no lago<br />
A Associação de Artesanato Sustentável Grupo<br />
Japiim tem se aprimorado por meio de uma série<br />
de cursos e palestras oferecidos pela Amazonastur,<br />
entre os quais uma preparação ministrada pelo<br />
Grupo A G, de Brasília. Durante um mês, os<br />
artesãos receberam aulas de associativismo,<br />
manejo, tingimento natural e comercialização.<br />
“Aprendemos a estabelecer o preço e saber se<br />
estamos vendendo ou dando nossa mercadoria”,<br />
comenta dona Marlene.<br />
A empresa ofereceu representação e suporte à<br />
comunidade do Lago de Acajatuba em cinco feiras<br />
de artesanato organizadas nos Estados. “Estão<br />
cumprindo com a palavra e ainda correndo com<br />
nossos produtos por aí”, alegra-se.<br />
Em Acajatuba, dona Marlene é mais do que<br />
uma líder da associação de artesãos cujo núcleo<br />
é a própria família. A ela recorre todo o povoado<br />
para se aconselhar e pedir auxílio na hora de um<br />
aperto. “Minha rotina é corrida. Sou mulher de 24<br />
horas. Toda comunicação dentro da comunidade é<br />
comigo”, ela diz por telefone, em meio a um sorriso.<br />
Há 28 anos comanda, como auxiliar técnica, o<br />
posto de saúde da localidade.<br />
A reportagem pergunta se sua função no posto<br />
é de enfermeira. A resposta é uma síntese do que<br />
pode uma mulher brasileira habitante da Região<br />
Amazônica: “Num interior desses, mano, a gente<br />
é parteira, médico, tudo. A gente faz de tudo ou os<br />
amigos morrem”.<br />
Facing the future in a sustainable<br />
reservation<br />
Environmental awareness is a permanent state<br />
for those who inhabit a biological reservation, the<br />
Rio Negro RSD (Reserva de Desenvolvimento<br />
Sustenvável, Sustainable Development<br />
Reservation), dedicated to the management and<br />
subsistence of riverside communities. “We know<br />
that if we use everything today, tomorrow there will<br />
be nothing. We are learning to see the future. Here,<br />
we always leave nature’s share among everything<br />
that’s gathered”, states Mrs. Marlene.<br />
The jewelry receives details in tucum and<br />
tucumã straw, as well as delicate inlays with<br />
morototó and açaí seeds which are collected nearby<br />
brushwood. Aiming to export to El Corte Inglés,<br />
the association hired a laboratory to perform the<br />
certification of these seeds. This quality control<br />
assures the buyer that the products will endure in<br />
other weather conditions, being immune to mold<br />
and other deterioration possibilities.<br />
Q ualification and support by the lake<br />
The Japiim Group Sustainable Handicraft<br />
Association has been improving itself through<br />
a series of courses and lectures offered by<br />
Amazonastur, including training offered by the A<br />
G Group, from Brasília. For a month, the artisans<br />
received classes on associations, management,<br />
marketing and natural dyeing. “We learned how to<br />
establish prices and to tell if we are selling or giving<br />
away our products”, Mrs. Marlene comments.<br />
The company offered representation and<br />
support to the community of Lago de Acajatuba<br />
for five handicraft fairs organized throughout the<br />
Brazilian States. “They are keeping their word and<br />
running around with our products”, she says with<br />
joy.<br />
In Acajatuba, Mrs. Marlene is more than just a<br />
leader of the artisan association, whose core is her<br />
own family. All the residents turn to her for advice<br />
and help when facing adversities. “My days are full.<br />
I’m a 24 hour woman. All communication in the<br />
community relies on me”, she says on the phone,<br />
with a smile. For 28 years, she has been in charge of<br />
the town’s health center as technical assistant.<br />
We asked her if she works as a nurse at the<br />
center. The answer is a synthesis of what a Brazilian<br />
woman inhabiting the Amazonia region can be:<br />
“In a place like this, man, we act as the midwife,<br />
the doctor, everything. We have to do everything<br />
or our friends die.”<br />
dona marlene / mrs. marlene 31
Artesanato Wariró está na mira<br />
Catarina Pessoa, funcionária da Amazonastur,<br />
explica que a empresa de turismo selecionou<br />
trabalhos de artesãos do Amazonas para exposição<br />
em três feiras nacionais e duas internacionais. No<br />
Rio, a Fashion Business e a Bright; em São Paulo,<br />
a Paralela Gift. Representações também estiveram<br />
em Florença, na Itália, e em Lisboa, Portugal.<br />
A visita da comissão do El Corte Inglês à<br />
feira da Fucapi, em Manaus, parceira do projeto<br />
governamental “Artesanato Sustentável do<br />
Amazonas”, resultou<br />
na encomenda feita<br />
à Acajatuba, e num<br />
interesse especial pelo<br />
trabalho realizado<br />
por Gilda da Silva<br />
Barroso, de etnia baré,<br />
que também é gerente<br />
da Casa de Produtos<br />
Indígenas do Rio Negro –<br />
Wariró (FOIRN), em São<br />
Gabriel da Cachoeira, no<br />
Amazonas.<br />
Da linha de produtos<br />
confeccionados por<br />
Gilda constam cerâmicas<br />
e cestarias trabalhadas<br />
com fibra de piaçava e<br />
tucum – uma palmeira da<br />
região –, desenvolvidos<br />
por meio de manejo<br />
florestal. Gilda também destaca as bolas batidas em<br />
novelo de tucum, bijuterias, cestinhas e samburás<br />
com tampa.<br />
Conforme o site da Oscip (0rganização Social<br />
de Interesse Público) Defender – Defesa Civil<br />
do Patrimônio Histórico, além de promover o<br />
comércio do artesanato indígena do Rio Negro<br />
de maneira justa, sem intermediação, a Wariró<br />
supervisiona o processo de retirada da matériaprima<br />
e a confecção do artesanato, com a<br />
finalidade de apoiar o desenvolvimento sustentável<br />
e a consciência ambiental dos povos indígenas. Os<br />
produtos da Wariró são comercializados na loja em<br />
São Gabriel da Cachoeira e podem ser encontrados<br />
em unidades redes Tok & Stok e Pão de Açúcar.<br />
32 dona marlene / mrs. marlene<br />
Wariró handicraft in focus<br />
Catarina Pessoa, an Amazonastur employee,<br />
explains that the tourism company selected works<br />
by artisans from Amazonas to be exhibited in three<br />
national fairs and two international fairs. Fashion<br />
Business and Bright, in Rio, and Paralela Gift, in<br />
São Paulo. They were also represented in Florence,<br />
Italy, and in Lisbon, Portugal.<br />
The visit of the El Corte Inglés commission to the<br />
Fucapi fair in Manaus, a partner of the “Sustainable<br />
Handicraft in Amazonas” government project,<br />
resulted in their Acajatuba<br />
product orders, as well<br />
as in special interests on<br />
works by Gilda da Silva<br />
Barroso, who belongs to<br />
the baré ethnicity and<br />
also manages the FOIRN<br />
(Rio Negro House of<br />
Indigenous Products –<br />
Wariró), in São Gabriel<br />
da Cachoeira, Amazonas<br />
State.<br />
Gilda’s product line is<br />
composed by ceramics,<br />
baskets decorated with<br />
piaçava and tucum<br />
fibers – a palm tree from<br />
the region –, and are<br />
developed using forest<br />
management efforts.<br />
Gilda also highlights<br />
the tucum balls, imitation jewelry, baskets and<br />
samburás with lids (a type of basket used by<br />
fishermen).<br />
According to the Defender Oscip website (a<br />
Public Interest Social Organization for Civil and<br />
Historical Patrimony Defense), besides promoting<br />
the commerce of Rio Negro’s indigenous handicraft<br />
in a just, intermediation-free manner, Wariró<br />
supervises raw material withdrawal and handicraft<br />
production processes in order to support the<br />
sustainable development and environmental<br />
awareness of the indigenous people. The Wariró<br />
products are sold at the store in São Gabriel da<br />
Cachoeira, and can be found in Tok & Stok and<br />
Pão de Açúcar chain stores.
UmA cIDADE DE TEARES<br />
Quando tinha 12 anos, Cícero<br />
Resende Chaves deixou de observar a mãe na arte<br />
do tear e passou também a transformar retalho<br />
de malha em tapetes, colchas e outros objetos de<br />
decoração. Hoje, é a filha mais velha do tecelão, de<br />
apenas 7 anos, que brinca de fazer crochê com a<br />
avó Tarcília Lindaura Chaves, 65.<br />
Na pequena Resende Costa, de 10 mil habitantes<br />
e vizinha das cidades históricas de São João del Rei e<br />
Tiradentes, onde para cada casa tem um tear, Cícero<br />
Chaves, atualmente com 32 anos, sustenta a família<br />
com o dinheiro ganho com o artesanato. “Como<br />
em 40% das moradias há pelo menos duas ou três<br />
máquinas, temos a mesma quantidade de casas e<br />
teares em Resende Costa”, diz Cícero Chaves, que<br />
também é presidente da Associação Empresarial e<br />
Turística de Resende Costa (Asseturc).<br />
A city of looms<br />
Em Resende Costa (MG), artesanato é tradição familiar e atividade econômica consolidada<br />
In Resende Costa (Minas Gerais), handicraft is a family tradition and a consolidated economic activity.<br />
POR /BY Regiane Marques Sampaio<br />
FOTOS / PHOTOS Fernando Chaves<br />
When he was 12 years old, Cícero<br />
Resende Chaves stopped just watching his mother<br />
working at the loom and started transforming<br />
fabric remainders into mats, bedspreads, and other<br />
decoration objects. Today it’s the weaver’s elder<br />
daughter, of only 7 years old, who plays crocheting<br />
with her grandma, Tarcília Lindaura Chaves, 65.<br />
At the little Resende Costa, a 10 thousand<br />
inhabitant’s city close to the historical cities of São<br />
João del Rei and Tiradentes, where each house has<br />
a loom, Cícero Chaves, 32 years old, supports his<br />
family with the money made with handicraft. “As<br />
in 40% of dwellings there are at least two or three<br />
machines, we have the same quantity of houses and<br />
looms in Resende Costa”, says Cícero Chaves, who<br />
is also the president of the Business and Tourism<br />
Association of Resende Costa (Asseturc).<br />
cidade de teares / city of looms 33
O tear começou a gerar renda na região nos<br />
anos 60 e 70, na Comunidade de Pintos, onde a<br />
avó Tarcilia e outras tecedeiras produziam peças<br />
para vender. Mascates compravam as mercadorias<br />
e as vendiam pelo país, despertando o interesse de<br />
comerciantes pelas peças. O artesanato cresceu e se<br />
instalou em Resende Costa, sendo hoje a principal<br />
fonte de receita do município.<br />
Com o aumento do<br />
turismo em São João del-<br />
Rei e Tiradentes, no final<br />
dos anos 80, a população<br />
de Resende Costa passou<br />
a abrir lojas para expor<br />
os seus produtos. Hoje<br />
somam cerca de 80<br />
estabelecimentos. Cícero<br />
Chaves inaugurou a<br />
sua loja na década de<br />
1990, junto com sua<br />
irmã, Silvana. Com 600<br />
metros quadrados, o<br />
espaço reúne o trabalho<br />
de cerca de 250 artesãos.<br />
“Uma peça pode ter a<br />
mão de dois, três ou mais<br />
pessoas; uma tece, outra<br />
pinta e assim por diante”,<br />
conta.<br />
No início da produção,<br />
era Cícero Chaves quem<br />
comprava a matériaprima<br />
e a entregava aos<br />
artesãos que trabalhavam<br />
para ele. Mas, com o<br />
aumento da demanda de<br />
mercadorias e também de<br />
pessoas trabalhando com<br />
o tear, os próprios artesãos passaram a comprar os<br />
fios e malhas para produzir as suas peças e, depois,<br />
entregá-las para Cícero Chaves e outros lojistas<br />
revenderem.<br />
Produção<br />
O processo de produção envolve várias fases e<br />
trabalhadores. Em Resende Costa, há lojistas que<br />
apenas comercializam os retalhos, comprados<br />
de malharias de Santa Catarina, Rio de Janeiro<br />
– principalmente de Petrópolis –, e de outros<br />
Estados.<br />
Na cidade, não há marceneiro que não saiba<br />
fazer um tear, e dificilmente encontra-se uma<br />
família que não tenha um tecelão. Não há livro<br />
nem escola para aprender a arte. Em Resende<br />
34 cidade de teares / city of looms<br />
Looms began to generate income in the region<br />
in the 60’s and 70’s, in the Community of Pintos,<br />
where grandma Tarcília and other weavers would<br />
produce pieces for selling. Street vendors would<br />
buy them and sell them all over the country, calling<br />
the attention of merchants to the pieces. Handicraft<br />
increased and was established in Resende Costa,<br />
representing today the main source of income in<br />
the city.<br />
With the growth of<br />
tourism in São João del-Rei<br />
and Tiradentes, at the end<br />
of the 80’s the population<br />
of Resende Costa started<br />
opening small stores to<br />
display their products.<br />
Currently, there are around<br />
80 shops. Cícero Chaves<br />
opened his shop in the 90’s.<br />
Now, featuring 600 square<br />
meters, the space gathers<br />
the work of approximately<br />
250 artisans. “One piece<br />
may have been made by the<br />
hands of two, three or more<br />
people; one weavers, the<br />
other paints and so on”, he<br />
tells.<br />
At the beginning of the<br />
business, it was Cícero<br />
Chaves who used to buy<br />
raw material and deliver it<br />
to the artisans who worked<br />
for him. However, as the<br />
demand for products and<br />
number of people working<br />
at the looms increased,<br />
artisans themselves started<br />
buying the thread and fabric in order to produce<br />
their own pieces and delivering so that Cícero<br />
Chaves and other shop owners could resell them.<br />
Production<br />
Production process involves many stages and<br />
workers. In Resende Costa there are shop owners<br />
who sell only fabric pieces bought from fabric<br />
factories in Santa Catarina, Rio de Janeiro – mainly<br />
in Petrópolis –, and in other states.<br />
There is not, in the city, a single woodworker<br />
who cannot make a loom, and it is hard to find<br />
a family that does not have a loom. There are no<br />
books or schools to teach the craft. In Resende<br />
Costa to become a weaver is to watch someone<br />
weaving and then imitating the weave and the
Costa, ser tecelão é ver alguém tecendo e, depois,<br />
imitar a trama e os movimentos. “Primeiro se faz<br />
um tapetinho, depois vai se aprimorando a técnica”,<br />
explica Cícero Chaves.<br />
Mas o que Resende Costa busca aprimorar<br />
agora é a infraestrutura para receber o turista. A<br />
oferta de restaurantes, bares e pousadas cresceu,<br />
mas a população demanda qualificação. “Temos<br />
uma história de trabalho individual, mas a cidade<br />
foi crescendo e estamos sendo muito mais do<br />
que um pólo de venda”, ressalta o presidente da<br />
Asseturc. No ano passado, a criação do Conselho<br />
Municipal de Turismo (Comtur) ofereceu suporte<br />
para o melhor atendimento aos turistas.<br />
Sustentabilidade<br />
Nem todo mundo que compra as peças sabe,<br />
mas os artesãos se orgulham de fazer artesanato<br />
com materiais que poderiam ir para o lixo.<br />
“Retalhos já significam descartes, mas quem vê<br />
nossas peças não enxerga a utilização de sobras ou<br />
resíduo”, conta Cícero Chaves.<br />
Outro motivo de satisfação é saber que cada<br />
trabalho é único, seja um pequeno tapete ou uma<br />
colcha. “Às vezes, vejo uma peça em um hotel de<br />
outra cidade ou até Estado e digo: ‘É da minha loja’.<br />
E quando confiro a etiqueta tenho a confirmação”,<br />
diz Cícero Chaves.<br />
O “tapetinho” é o carro-chefe do artesanato<br />
feito no tear. É a peça mais vendida aos turistas, aos<br />
visitantes em feiras e para os comerciantes do país<br />
e também do exterior. Esporadicamente, os lojistas<br />
de Resende Costa recebem encomenda de peças<br />
para o exterior, mas o forte é o mercado nacional.<br />
O valor agregado do produto dificulta<br />
a exportação, principalmente quando há<br />
concorrência de mercadorias similares de outros<br />
países. Esse foi um dos motivos, na avaliação do<br />
presidente da Asseturc, que inviabilizou a compra<br />
de peças pela rede de departamento El Corte Inglés,<br />
com sede na Espanha e Portugal. Uma comitiva<br />
visitou a cidade para conhecer o artesanato, no<br />
primeiro semestre deste ano, mas o valor da<br />
mercadoria e também problemas no cumprimento<br />
das exigências de exportação pelas empresas<br />
do setor têxtil, fornecedoras de matéria-prima,<br />
impossibilitaram a realização do negócio. “Todos<br />
os compradores são importantes, mas valorizo<br />
muito o mercado interno que hoje consome nossa<br />
oferta de peças”, declara Cícero Chaves.<br />
movements. “First your produce a little mat, then<br />
you go on improving the technique”, explains<br />
Cícero Chaves.<br />
But what Resende Costa seeks to improve,<br />
currently, is the infrastructure to receive tourists.<br />
The offer of restaurants, bars and inns has increased,<br />
but the population requires qualification. “We have<br />
a history of individual work, but the city evolved<br />
and now we represent much more than a purchase<br />
hub”, highlights the president of Asseturc. Last<br />
year, the creation of the City Council for Tourism<br />
(Comtur) offered support for better receiving<br />
tourists.<br />
Sustainability<br />
Nott everyone purchasing the pieces knows it,<br />
but the artisans take pride in making handicraft<br />
using materials that might end up in the trash can.<br />
“Fabric remainders would mean discard, but who<br />
sees our pieces does not see the reuse of remainders<br />
or waste”, says Cícero Chaves.<br />
Other reason of satisfaction is to know that each<br />
work is unique, be it a small mat or a bedspread.<br />
“Sometimes I see a piece in a hotel in another city<br />
or even in another state and I say: ‘It’s from store’.<br />
And when I check the tag I have the confirmation”,<br />
says Cícero Chaves.<br />
The “little mat” is the flagship of handicraft made<br />
on the loom. It is the best-selling piece to tourists,<br />
to exhibits visitors and to the traders in the country<br />
and abroad. Occasionally, the retailers of Resende<br />
Costa receive orders for delivers overseas, but its<br />
strength is in the domestic market.<br />
The product added value makes it difficult to<br />
export, mainly when they face the competition<br />
of similar products from other countries. This<br />
has been one of the reasons why the purchasing<br />
of pieces by the department store chain El Corte<br />
Inglés with head offices in Spain and Portugal is<br />
unfeasible, according to the president of Asseturc.<br />
The city received the visit of a commission in the<br />
first half of this year, intended to learn about the<br />
handicraft, but the price of the merchandise and<br />
some problems in complying with the demands<br />
for exporting by the companies in the textile<br />
industry and raw material suppliers made business<br />
impracticable. “All markets are important, but I<br />
appreciate the domestic market very much, as it<br />
is the one that absorbs our offer of pieces”, states<br />
Cícero Chaves.<br />
cidade de teares / city of looms 35
Artesanato de Pernambuco<br />
PEDE PASSAGEM<br />
handicraft from Pernambuco makes way<br />
Negociações com El Corte Inglés não avançaram, mas associações e cooperativas estão prontas para atender à demanda internacional<br />
Negotiations with El Corte Ingles have not advanced, but associations and cooperatives are ready to meet international demand<br />
Sergia Almeida é uma mulher disposta<br />
a mover céus e terra, a lutar contra tudo e contra<br />
todos, desde que seja na defesa e divulgação do<br />
artesanato do Estado de Pernambuco. Gestora do<br />
braço local do Instituto Cearense de Artesanato, ela<br />
quer um lugar ao sol para as duas cooperativas e 20<br />
associações de artesãos que representa. Para tanto,<br />
ela aposta na qualidade e capacidade de produção<br />
de seus associados e, claro, na beleza, originalidade<br />
e diversidade das peças que eles fabricam tanto<br />
nas cidades quanto nos mais remotos lugarejos do<br />
sertão.<br />
A diversidade é realmente grande. O portfólio<br />
representado por Sergia inclui trabalhos em<br />
tecelagem, como mantas, redes, passadeiras e<br />
POR /BY Carlos Moreira<br />
FOTOS / PHOTOS Divulgação<br />
36 abrindo passagem / making the way<br />
Sergia Almeida is a woman that is<br />
willing to move mountains, to fight whatever<br />
gets on her way, as long as it is to defend and<br />
promote arts and crafts in the region of the State of<br />
Pernambuco. A manager to the local branch of the<br />
Cearense Handicraft Institute, she wants a place in<br />
the sun for the two cooperatives and 20 artisans<br />
associations she represents. For that, she trusts the<br />
quality and production capability of her associates<br />
and, of course, the beauty, originality and diversity<br />
of the pieces manufactured both in the cities and in<br />
the most remote villages in the sertão.<br />
Diversity is really great. The portfolio<br />
represented by Sergia includes weaving works<br />
such as bedspreads, hammocks, mats and rugs;
tapetes; bordados nos mais diversos pontos; renda<br />
renascença, filé e richelieu; cerâmica figurativa<br />
(santos, homens, mulheres e animais); toalhas de<br />
crochê, trabalhos em fibra, almofadas e diversos<br />
outros produtos. “O que quiserem comprar, aqui<br />
tem”, assegura a gestora do ICA em Pernambuco.<br />
Com carreira profissional construída na área<br />
de vendas, Sergia se mostra até ansiosa para<br />
impulsionar as vendas de seus associados. Além<br />
da motivação comercial, ela quer rentabilizar e<br />
viabilizar o trabalho dos artesãos como uma forma<br />
de preservação das tradições culturais da região.<br />
“Eu não vendo produtos. Eu trabalho é com a<br />
história de pessoas da zona rural, principalmente<br />
mulheres, que precisam de apoio para dar<br />
continuidade ao seu trabalho, porque os filhos<br />
e netos dessas pessoas já não querem aprender<br />
o artesanato e, sem esse apoio, a tradição vai<br />
acabar”, alerta.<br />
Logicamente, boas vendas e projeção<br />
são atrativos importantes para<br />
que as crianças se interessem<br />
por ofícios e técnicas que vem<br />
se perpetuando por gerações<br />
e gerações de famílias artesãs. N o<br />
grupo de Sergia, estão reunidas mais de 40<br />
comunidades espalhadas pelo sertão, agreste<br />
e zonas da Mata Sul e Norte de Pernambuco.<br />
“São pessoas que já nasceram fazendo isso.<br />
Temos uma associação, por exemplo, que produz<br />
rendas dentro de uma tribo indígena”, exemplifica.<br />
Uma das formas de apoio, segundo a gestora,<br />
é o investimento na capacitação dos artesãos.<br />
Entre seus representados, diz, o esforço próprio<br />
dos artesãos já trouxe melhorias na gestão do<br />
trabalho, o que inclui a capacidade de produção,<br />
negociações com preços justos e o afastamento<br />
da figura do atravessador – aquele intermediário<br />
interessado exclusivamente no lucro, com<br />
interferências negativas na qualidade do produto e<br />
no rendimento financeiro do trabalho.<br />
Outro ponto importante, segundo Sergia,<br />
é o trabalho de divulgação do artesanato nos<br />
mercados interno e externo. A carência de recursos<br />
produz poucos resultados, mesmo quando há<br />
o investimento na participação em eventos no<br />
exterior. “A gente vai a feiras em Madri, Frankfurt<br />
ou Paris, mas fica em um stand pobre e acanhado.<br />
A China monta um galpão, mostra tudo o que tem<br />
e consegue um volume muito maior de negócios”,<br />
exemplifica.<br />
Por tudo isso, Sergia encarou a rodada de<br />
negócio com a rede El Corte Inglés como uma<br />
oportunidade única de mostrar o artesanato de<br />
Pernambuco e fechar vendas de grandes volumes,<br />
embroidery in the most varied stitches; renaissance<br />
lace, filet and Richelieu; illustrated pottery (saints,<br />
men, women and animals); crochet towels, works<br />
in fiber, cushions and several other products.<br />
“Whatever you want to buy, it is here”, ensures the<br />
ICA manager, in Pernambuco.<br />
With a professional career built in the area of<br />
sales, Sergia is eager to propel the associates’ sales.<br />
Besides commercial motivation, she wants to make<br />
the artisans works profitable and feasible as a way<br />
to preserve the cultural traditions in the region. “I<br />
don’t sell products. I work with the history of these<br />
people in rural areas, mainly women, who need<br />
support to give continuity to their work, as the<br />
sons and grandsons of these people do not want to<br />
learn the craft and, without this support, tradition<br />
is going to die”, she warns.<br />
Obviously, good sales and projection<br />
are important attractions to make<br />
children interested in the craft and<br />
techniques that are passed from<br />
generation to generation<br />
of artisans’ families. In<br />
Sergia’s group there are<br />
over 40 communities<br />
scattered along the sertao,<br />
agreste and zona da mata in the<br />
South and North of Pernambuco.<br />
“These are people who do that from<br />
berth. We have an association, for example,<br />
that produces laces from inside an indigenous<br />
tribe”, she explains.<br />
One of the ways of support, according to the<br />
manager, is the investment in the qualification of<br />
artisans. Among her represented ones the efforts<br />
of artisans themselves have already brought<br />
improvement in the management of work, which<br />
includes production capability, negotiations with<br />
fair prices and the step out of the intermediary<br />
figure – that intermediary interested exclusively in<br />
the profit, with negative interference in the product<br />
quality and in the financial gains of the work.<br />
Another important point, according to Sergia,<br />
is the work of promotion of handicraft in the<br />
domestic and external market. The scarcity of<br />
resources produces a few results, even when there is<br />
no investment in the participation in international<br />
events. “We go to exhibits in Madrid, Frankfurt or<br />
Paris, but stay in a rustic and shy booth. China puts<br />
together a warehouse, displays everything they<br />
have and obtain a much higher business volume”,<br />
she explains.<br />
For all that, Sergia sees the business session with<br />
the El Corte Inglés chain as a unique opportunity to<br />
show handicraft from Pernambuco and close large<br />
abrindo passagem / making the way 37
garantindo atividade e renda para seu pessoal.<br />
“Seria uma vitória fora do comum, uma chance<br />
de decolar”, resume. “A compradora ficou muito<br />
impressionada com o produto e dei a ela a garantia<br />
de produção e entrega. Disse que o que ela quisesse,<br />
na quantidade que fosse, estaria embarcando no<br />
porto em novembro, que é o prazo para despachar<br />
as mercadorias”, conta.<br />
De acordo com gestora, as associações,<br />
individualmente, não teriam condições de atender<br />
grandes pedidos em prazos curtos, mas bastaria<br />
que ela distribuísse os pedidos pelas diversas<br />
comunidades para que os volumes fossem<br />
alcançados. Ou seja, era só uma questão de gerir<br />
corretamente a encomenda.<br />
Apesar de não ter conseguido concretizar<br />
negócios com a rede européia, Sergia não pretende<br />
desistir e seguirá em busca de contatos com<br />
compradores de grande porte. Hoje, os grupos<br />
de tecelagem já colocam seus produtos nas lojas<br />
da Tok Stok (mobiliário e decoração), Pão de<br />
Açúcar (hipermercados) e em pequenos varejistas<br />
da Itália. A comercialização no mercado regional<br />
já está consolidada, com showroom e vendas<br />
voltadas para turistas que visitam Pernambuco e<br />
para a população local. O que Sergia quer são voos<br />
maiores e conquistar mais respeito e admiração<br />
para o artesanato e os artesãos.<br />
Paixão imediata<br />
Apesar de representar pessoas que sustentam<br />
longas tradições culturais com o seu trabalho<br />
manual, a relação de Sergia com o artesanato é<br />
relativamente recente. Como dito anteriormente,<br />
ela fez carreira profissional na área de vendas e foi<br />
justamente isso que possibilitou um contato mais<br />
próximo com o setor. Em 2003, ela foi convidada<br />
pelo Sindicato dos Artesãos de Pernambuco para<br />
cuidar da parte comercial de um projeto que<br />
pretendia levar a produção local para pontos de<br />
venda nos Estados Unidos.<br />
O projeto não foi levado adiante, mas Sergia<br />
já havia sido contaminada pelo “vírus” do<br />
artesanato. Interessada pelo setor e pelas pessoas<br />
nele envolvidas, ela prosseguiu no trabalho de<br />
pesquisa e prospecção de entidades que ela pudesse<br />
representar comercialmente. A partir daí, ela<br />
acumulou um grande conhecimento da artesania<br />
pernambucana e desenvolveu uma relação afetiva<br />
com a produção local, como fica evidente em sua<br />
fala emocionada e aguerrida na defesa dos valores<br />
e da arte daqueles que representa.<br />
38 abrindo passagem / making the way<br />
volume deals, ensuring the work and income to<br />
her people. “It would be an unprecedented victory,<br />
a chance to take over”, she summarizes. “The buyer<br />
was very impressed by the product, and then I gave<br />
her warranties of the product and delivery. I said<br />
that whatever she wanted, no matter what quantity,<br />
would be shipped from the port in November, that<br />
is the deadline to ship the goods”, says she.<br />
According to the manager the associations,<br />
individually, would not be able to cope with large<br />
orders within short periods, but it only takes<br />
dividing the order among the several communities<br />
and the quantities would be reached. That is, it is<br />
just a matter of properly managing the order.<br />
Although business have not been closed with the<br />
European chain, giving up is not in Sergia’s plans<br />
and she continues seeking contact with large scale<br />
buyers. Today, weaving groups can already place<br />
their products at the Tok Stok stores (furniture and<br />
decoration), Pão de Açúcar (hypermarkets) and<br />
at small retailers in Italy. Commercialization in<br />
the regional market is already consolidated, with<br />
showroom and sales turned to tourists who visit<br />
Pernambuco and to local population. What Sergia<br />
wants is to go farther and win more respect and<br />
admiration to handicraft and artisans.<br />
Passion at first sight<br />
In spite of representing people that carry long<br />
cultural traditions through their manual work, the<br />
relation of Sergia with handicraft is fairly recent.<br />
As previously said, she built a professional career<br />
in the sales area and that is what made possible<br />
a closer contact with the sector. In 2003, she was<br />
invited by the Union of Artisans of Pernambuco<br />
to take care of the commercial part of a project<br />
that intended to take local production to purchase<br />
points in the United States.<br />
The project was not carried on, but Sergia<br />
has already been contaminated by the “virus” of<br />
handicraft. Interested in the sector and in the people<br />
involved in it, she carried out the research and<br />
prospection works for entities she could represent,<br />
commercially. From there, she has accumulated<br />
great knowledge on handicraft from Pernambuco<br />
and developed an affection relationship with the<br />
local production, as it becomes evident in her<br />
emotional and brave speech in the defense of the<br />
values and art of those represented by her.<br />
In 2007 she met Benedito Monteiro, a.k.a. Sumé,<br />
founder of the Cearense Institute of Handicraft<br />
that invited her to be the manager of the entity’s<br />
branch in Pernambuco, where it still is.
Em 2007, ela conheceu Benedito Monteiro,<br />
o Sumé, fundador do Instituto Cearense de<br />
Artesanato, que a convidou para ser a gestora do<br />
braço da entidade em Pernambuco, onde está até<br />
hoje.<br />
Nesse processo, Sergia acabou por criar uma<br />
linha de produtos própria em confecção e pretende<br />
trabalhar também com reciclados. Ela comercializa<br />
vestimentas para os praticantes da religião afrobrasileira<br />
do Candomblé e se orgulha da qualidade<br />
de seus produtos. “Eu faço axó (roupa ritual) só<br />
com percal, linho e renda richelieu de primeira<br />
qualidade. Eu vendo richelieu até para o Barack<br />
Obama, e a Michelle vai usar”, diverte-se. Para<br />
quem não conhece, as roupas do Candomblé são<br />
ricas em rendas e bordados, com cores específicas<br />
para cada orixá.<br />
Ela usa seu próprio caso, inclusive, para falar<br />
sobre a questão da qualidade no artesanato. Muitos,<br />
diz, fazem o axó com morim, um tecido mais<br />
barato e que perde o caimento depois de lavado.<br />
Da mesma forma, há quem produza o artesanato<br />
típico da região com materiais inadequados ou de<br />
baixa qualidade, seja por opção ou como reflexo<br />
de distorções do mercado e da perda da identidade<br />
cultural. Para quem se interessa pela qualidade<br />
e beleza das peças pernambucanas, porém, ela<br />
garante que entrega qualidade, preço e quantidade.<br />
Fica feito o convite.<br />
In this process, Sergia ended up by creating her<br />
own products line in weaving and she also intends<br />
to work with recycled materials. She sells outfits to<br />
practitioners of the Candomble, an Afro-Brazilian<br />
religion, and is proud of the quality of her products.<br />
“I make axó (a spiritual outfit) using only percale,<br />
linen and first quality Richelieu lace. I could sell<br />
Richelieu even to Barack Obama, and Michelle<br />
would wear it”, says she, amused. For those not<br />
familiar with it, Candomble outfits are rich in laces<br />
and embroidery, with specific colors to each orixá.<br />
She even uses her own case to talk about the<br />
issue quality in handicraft. Many people make axó<br />
using a cheaper and finer cotton fabric that loses<br />
fitting after it is washed. Likewise, there are people<br />
who produce typical handicraft of the region<br />
using improper or low quality materials, either as<br />
an option or a reflection from market distortions<br />
and from the loss of cultural identity. To those<br />
interested in the quality and beauty of the pieces<br />
from Pernambuco, however, she warrants she<br />
delivers quality, price and quantity. The invitation<br />
has been made.<br />
abrindo passagem / making the way 39
Entrevista / Interview<br />
Ronaldo Fraga<br />
Estilista de moda e proprietário da grife Ronaldo Fraga<br />
Fashion designer and owner of the brand Ronaldo Fraga<br />
POR /BY Carlos Moreira<br />
FOTOS / PHOTOS Alexandre Mota<br />
Ronaldo Fraga é um dos estilistas de moda mais respeitados do Brasil, atualmente. Embora seja formado<br />
pelo curso de estilismo da Universidade Federal de Minas Gerais, com pós-graduação na Parson’s School of<br />
Design de Nova York e pela Saint Martins School (Londres), a marca de seu trabalho não vem do banco da<br />
escola ou dos ateliês de alta costura, mas de uma profunda relação com a cultura brasileira e da observação<br />
das pessoas, dos contextos e da história de seu tempo. Ronaldo gosta de dizer que descobriu seu caminho<br />
ainda em seu primeiro emprego em uma loja de tecidos. Lá, ainda inexperiente, foi contratado para desenhar<br />
roupas para as mulheres que visitavam o estabelecimento. Da conversa com elas, quando buscava entender<br />
desejos e a relação de cada uma com a roupa, ele percebeu seu gosto e necessidade de entender os indivíduos<br />
e seu mundo, de enxergar as transformações culturais e incorporar tudo isso a seu trabalho.<br />
Em sua trajetória, Fraga passou pelo desafio de criar sua própria marca, produzir, vender e distribuir,<br />
mas sem perder sua identidade e o prazer pelo desenho. Ou seja, um caminho muito similar ao trilhado por<br />
quem se dedica ao artesanato. O estilista, aliás, tem relação íntima com o artesanato, tanto na participação<br />
em projetos de capacitação e geração de renda, quanto na incorporação de elementos genuínos da cultura<br />
brasileira a suas coleções, caso de um grupo de bordadeiras de Passira (PE), com quem desenvolveu um<br />
trabalho e que se tornaram fornecedores de sua grife. Confira.<br />
Ronaldo Fraga is one of the most respected fashion designers in Brazil, currently. Although he holds a<br />
fashion designer degree by the Federal University of Minas Gerais, with specialization by the Parson’s School<br />
of Design New York and by the Saint Martin’s School (London), the trade mark of his work does not come<br />
from a school bench or from couture ateliers, but from a deep relationship with Brazilian culture and from<br />
the observation of people, of contexts and of his contemporary history. Ronaldo likes to say he discovered<br />
his path right in his first job, in a fabric store. There, still inexperienced, he was hired to design clothes to<br />
women who visited the store. From conversations with them, while he tried to understand desires and the<br />
relationship of each one with the outfit, he started observing his taste and the need to understand individuals<br />
and their world, the need to see cultural transformations and incorporating everything to his work.<br />
During his journey, Fraga faced the challenge of creating, producing, selling and distributing his own<br />
brand, without losing his identity and pleasure of drawing, that is, a path very similar to the one followed<br />
by those who are dedicated to handicraft. By the way, the designer has a close relationship with handicraft,<br />
both participating in projects of qualification and income generation and in the incorporation of genuine<br />
elements of the Brazilian culture to his collections, which was the case of a group of embroiderers from<br />
Passira (PE), with whom he developed a work and became suppliers to his brand. Check it out.<br />
40 entrevista / interview
Do ponto de vista industrial, quando<br />
você começou a lançar suas coleções e teve<br />
que vendê-las, teve que produzir. O que<br />
você encarou nesse momento?<br />
Ronaldo Fraga – É difícil, a mesma coisa até hoje.<br />
É produção e distribuição. Tudo que eu produzo, eu<br />
vendo. O negócio é que eu fico segurando a marca<br />
para não crescer demais, por questões óbvias. Hoje,<br />
no Brasil, a gente está passando por uma situação<br />
em que a pequena e a micro empresa, na forma<br />
que está indo, estão com os anos contados, assim<br />
como a indústria têxtil brasileira. É caro produzir<br />
no Brasil. É mais negócio ter uma marca no Brasil<br />
e produzir na China. Isso é o mais barato, o mais<br />
viável. Então, desde que eu comecei, meu problema<br />
nunca foi venda, foi produção. É o grande gargalo.<br />
É a produção e, depois, a distribuição.<br />
E qual dos dois aspectos é mais<br />
desafiador, produzir ou distribuir?<br />
Ronaldo – A produção é mais porque você não<br />
cuida da distribuição daquilo que não se produz.<br />
Você tem que ter capacidade de produção. Tem<br />
um ano que estamos aqui (na confecção atual) e<br />
este galpão já está pequeno. Teremos que alugar o<br />
galpão ao lado, que é uma coisa que eu não queria.<br />
Não quero ser industrial, não quero ser empresário.<br />
From an industrial point of view, at<br />
the moment you started launching your<br />
collections and selling them, you had to<br />
produce. What challenges did you have to<br />
face, then?<br />
Ronaldo Fraga – It is hard, the same difficulties<br />
of today. It is production and distribution.<br />
Everything I produce I sell. Thing is, I keep holding<br />
the brand so it will not grow too much, for obvious<br />
reasons. Today, in Brazil, we are going through a<br />
situation in which small and micro enterprises,<br />
seeing the current conditions, have their days<br />
numbered, as well as the Brazilian textiles<br />
industry. It is expensive to produce in Brazil. It is<br />
more advantageous having a brand in Brazil and<br />
producing in China. This is the cheapest and most<br />
feasible. Thus, since I started, my problem has<br />
never been sales, but production. It is the biggest<br />
bottleneck. It is production and, then, distribution.<br />
And which of the two aspects is the<br />
most challenging one, producing or<br />
distributing?<br />
Ronaldo – Production is the biggest, because<br />
it is impossible to distribute what you have not<br />
produced. One has to have production capacity.<br />
We have been here for year (at the current atelier)<br />
entrevista / interview 41
Quero continuar viajando, quero ir para o interior<br />
do Brasil, quero continuar desenvolvendo projetos<br />
com comunidades, quero continuar fazendo<br />
figurino para cinema e televisão...<br />
E como você lida com esses opostos, com o<br />
seu prazer pela pesquisa e pela criação em<br />
oposição às demandas de ser empresário,<br />
de responder por uma marca, empregos e<br />
ações de mercado. Como você compara isso<br />
com a atividade do artesão?<br />
Ronaldo – Primeiro, o que me oxigena? É o<br />
que sempre me oxigenou, eu preciso entrar nesses<br />
universos para continuar fazendo o que eu faço.<br />
Não posso ficar enfiado dentro dessa confecção.<br />
Segundo, a história do artesanato... Eu não conheço<br />
ninguém que tenha se envolvido com artesanato<br />
por questão econômica. Quem entrou com vontade<br />
de ganhar dinheiro, simplesmente, não ficou muito<br />
tempo, porque a relação com o artesanato, antes de<br />
qualquer coisa, ela parte de um ponto que é visão<br />
de mundo, que é se emocionar por uma cultura<br />
brasileira, por uma cara brasileira feita à mão.<br />
E acreditar que isso não só pode como deve ser<br />
viabilizado para que não morra. Muito mais que<br />
uma coisa econômica, que o artesão produz ou<br />
não para venda, tem um caráter antropológico.<br />
Imagine o quanto a perda de um ponto de bordado<br />
no artesanato é um desastre cultural sem retorno.<br />
Sua consistência não é que você tem um<br />
traço característico, uma regularidade. É<br />
que tudo que você faz tem uma pesquisa,<br />
um tema, um envolvimento.<br />
Ronaldo – É verdade. E por que isso? Porque<br />
é um lugar de conforto para mim, eu escolhi fazer<br />
isso. Então, se eu tivesse, no meio do caminho,<br />
sido arquiteto ou qualquer outra coisa, certamente<br />
eu teria levado isso para minha história. O meu<br />
grande prazer é a pesquisa, é agora, neste momento,<br />
definir o meu objeto de trabalho para os próximos<br />
seis meses, porque ele vai me trazer um universo<br />
que não conheço, uma leitura de assuntos que eu<br />
não conheço e que provavelmente vai entrar no<br />
meu trabalho para não sair mais.<br />
42 entrevista / interview<br />
and the warehouse is already becoming small. We<br />
have to rent the neighbor warehouse, which is<br />
something I would not like. I do not want to go<br />
industrial; I do not want to be a businessman. I<br />
want to continue traveling, going to small cities in<br />
Brazil, I want to continue developing projects with<br />
communities; I want to go on making costumes to<br />
films and television...<br />
And how do you deal with these<br />
opposites, with your taste for research<br />
and creation as opposed to the demands<br />
of being a businessman, of responding for<br />
a brand, jobs and market share. How do<br />
you compare that with the activity of an<br />
artisan?<br />
Ronaldo – Firstly, what drives me? Is what has<br />
always driven me; I need to be in these spheres to<br />
continue doing what I do. I cannot be locked inside<br />
this atelier. Secondly, the history of handicraft...<br />
I do not know anyone who has get involved with<br />
handicraft for economic reasons. Those who<br />
entered aiming to make money simply did not<br />
stay long, because the relationship with handicraft,<br />
before anything, starts from a point that is a vision<br />
of world, that is getting emotionally involved with<br />
the Brazilian culture, with a face behind something<br />
hand-made. And believing it can and must be made<br />
feasible so it will not die. Beyond an economic thing<br />
that artisans produce destined to be sold or not,<br />
it presents an anthropological character. Imagine<br />
how disastrous, beyond fixing, is it missing a stitch<br />
in the handicraft cultural embroidery.<br />
Your consistency is not translated into<br />
a characteristic aspect, into regularity. It<br />
is the research that is behind everything<br />
that you do, a theme, involvement.<br />
Ronaldo – That is true. And why is that? Because<br />
it is my comfort zone, I have chosen to do that. If<br />
I had chosen, in the middle of way, to become an<br />
architect or any other thing, I certainly would have<br />
taken that to my history. My biggest pleasure is<br />
research, it is now, at this moment, to define my<br />
goals of work for the next six months, because it<br />
going to bring me a universe that is unknown to<br />
me, a reading of subjects I do not know and that<br />
will probably enter my work to never leave again.
Conte-nos sobre o trabalho com artesãos,<br />
tanto no que diz respeito à incorporação<br />
do artesanato a sua arte, quanto no<br />
envolvimento com a troca de experiências<br />
e projetos de geração de emprego e renda.<br />
Ronaldo – A relação com estes ofícios – uso<br />
essa palavra porque eles são bem diversos – já é<br />
longa. Eu trabalhei por dois anos em São Borja,<br />
na divisa do Rio Grande do Sul com a Argentina,<br />
com artesanato de crina de cavalo e lã. Um ano<br />
e meio com um grupo de couro de peixe no<br />
Pantanal; de bordado cheio e bordado labirinto<br />
na Paraíba e grupo de renda renascença na divisa<br />
da Paraíba com Pernambuco. Em Minas, também,<br />
lá na cidade de Salinas. Como tudo e todo objeto<br />
de pesquisa das minhas coleções, esses ofícios<br />
entram na minha vida, no meu trabalho, para não<br />
sair mais. De alguma forma, eles estão ali. De uma<br />
forma mais clara e explícita em algumas coleções<br />
ou mais implícita em outras. O bordado e o feito<br />
à mão sempre se fazem presente nas minhas<br />
coleções. Da mesma forma que eu vou definir<br />
os tecidos e a estamparia da próxima estação, eu<br />
defino também os bordados e que grupo vai fazer<br />
isso. Então, na maioria das vezes eu nem divulgo,<br />
porque isso para mim já é absolutamente natural.<br />
Eu acho que é legal quando você chega nesse<br />
ponto, nesse tipo de relação. Por exemplo, tem<br />
um grupo de Itabira com o qual trabalho desde<br />
2005, na coleção dedicada ao Carlos Drummond<br />
de Andrade. Hoje, ele é fornecedor como outro<br />
qualquer. Um fornecedor com quem eu brigo para<br />
poder entregar, e brigamos por causa de preço.<br />
Não tem essa relação paternalista.<br />
E qual o seu critério para incorporar<br />
o artesanato ao seu trabalho? Como<br />
garantir que haja geração de renda e<br />
preservação da atividade?<br />
Ronaldo – Eu sempre fiz esse tipo de trabalho<br />
com artesãos, mas pouquíssimos deles eu trouxe<br />
para o meu trabalho, para a minha marca, porque<br />
eu sempre tive muito pudor com relação a isso. Eu<br />
coordenava o trabalho, as artesãs desenvolviam<br />
uma coleção, um produto, que era lançado numa<br />
feira tal e elas usavam meu nome para poder<br />
vender. E eu sempre vi essa dificuldade de ponto de<br />
venda. As pessoas iam para a feira, faziam o maior<br />
sucesso, vendiam rápido. Mas depois o comprador<br />
Tell us about the work with artisans,<br />
both regarding the respect to the<br />
incorporation of handicraft to your art<br />
and in the involvement with the expertise<br />
exchange and projects of generation of<br />
jobs and income.<br />
Ronaldo – The relationship with these crafts – I<br />
use this word because they are very different – is<br />
long. I worked for two years in São Borja, at the<br />
border between Rio Grande do Sul and Argentina,<br />
with horse mane and wool handicraft. A year and<br />
a half with a fish skin group in Pantanal; of full<br />
embroidery and labyrinth embroidery in Paraíba<br />
and a group of renaissance lace in the border<br />
between Paraíba and Pernambuco. Also in Minas,<br />
in the city of Salinas. As everything and every<br />
object of research in my collection, these craft<br />
enter my life and my work not to ever leave again.<br />
Somehow, they will be there. In a more clear and<br />
explicit way in some collections or more implicit<br />
in others. Embroidery and hand-made items have<br />
always been present in my collections. The same<br />
way I am going to define fabrics and patterns<br />
for the nest season, I also define the embroidery<br />
and the group who is going to make it. So, most<br />
of times, I do not even disclose it, as for me it is<br />
absolutely natural. I think it is nice when you reach<br />
this point, in this type of relationship. For example,<br />
there is a group from Itabira with whom I have<br />
worked since 2005, in the collection dedicated to<br />
Carlos Drummond de Andrade. Today, they are a<br />
supplier just like any other. A supplier with whom<br />
there is struggle for delivery, there is struggle for<br />
price. There is no paternalist relationship.<br />
And what are your criteria to<br />
incorporate handicraft to your work? How<br />
to ensure there is income generation and<br />
preservation of the activity?<br />
Ronaldo – I have always done this type of work<br />
with artisans, but not all these groups, only a few<br />
of them, I have brought to my work, to my brand,<br />
because I have always been very timid in this<br />
regard. I coordinated the work, artisans developed<br />
a collection, a product that was launched in a given<br />
fair and they used my name in order to sell. And<br />
I have always seen this difficulty in the purchase<br />
point. People would go to the fair, make successful<br />
sales, and sell very quickly. But then buyers could<br />
entrevista / interview 43
não conseguia encontrar o grupo de novo, o<br />
telefone estava cortado, o envio da encomenda é<br />
caríssimo. Enfim, nada para facilitar e tudo para<br />
dificultar. Com as bordadeiras de Passira (PE), eu<br />
pensei “tenho uma pontos de venda, tenho acesso,<br />
tenho que trazer isso para dentro da minha loja.<br />
Então, a partir da coleção “Turista Aprendiz”<br />
(verão 2010/2011), todas as minhas peças têm<br />
uma etiqueta com o nome da bordadeira, em que<br />
comunidade foi feita peça e o contato delas. Esse<br />
grupo de Passira, por exemplo: tem empresas de<br />
enxoval de luxo de São Paulo, de cama, mesa e<br />
banho, de acessórios, que, através desse contato,<br />
chegou diretamente a elas.<br />
No trabalho com os artesãos, tanto entre<br />
os que você desenvolve coleções, quanto os<br />
que você agrega como fornecedores, o que<br />
você percebe como dificuldades e desafios?<br />
Ronaldo – Tem uma coisa que é difícil em<br />
qualquer processo industrial ou empresarial, que<br />
é a gestão. Gestão de produção e de pessoal é uma<br />
coisa difícil não para os artesãos, mas para todo<br />
mundo. Então, pegar esse talento, a alma genuína<br />
desse produto, aparar arestas para que isso chegue<br />
a um determinado público que se quer atingir e<br />
coordenar de forma redonda toda essa produção<br />
não é uma coisa fácil. Se pouquíssimos têm<br />
condições para ser um estilista ou designer, menos<br />
ainda para ser um administrador, um gestor. Esse é<br />
um grande problema: gestão e organização de todo<br />
o processo de produção.<br />
E o que acontece com seus fornecedores?<br />
Há esses problemas?<br />
Ronaldo – Vou dar um exemplo. Hoje, o Brasil<br />
não produz linho. Se quiser um linho de qualidade,<br />
tem que importar. Em uma coleção, comprei<br />
o linho branco, cortei as peças e mandei para as<br />
bordadeiras de Passira. Llá elas têm uma chefe de<br />
produção que montou uma força-tarefa, dobrou<br />
o número de bordadeiras e otimizou a produção.<br />
Uma ficou com a manga, outra com as costas,<br />
outra com a frente. Aí, bordaram, engomaram<br />
e despacharam. Chegou a tempo, tudo certo.<br />
Quando a gente começou a montar, uma frente era<br />
marrom, a outra amarela... Simplesmente porque<br />
ninguém pensou que estávamos lidando com o<br />
agreste pernambucano. Então, uma engomou com<br />
44 entrevista / interview<br />
not find the group again, phone were cut off, the<br />
shipping of orders is very costly. In summary,<br />
nothing for and all against. With the embroiderers<br />
from Passira (PE) I thought “I have purchase sales,<br />
I have access, and I have to bring it inside my store.<br />
Then, since the collection “Apprentice Tourist”<br />
(2010/2011 Summer), all my pieces have a tag with<br />
the name of the embroiderer, the community where<br />
it was made and their contact info. This group<br />
from Passira, for example, has some businesses of<br />
luxury bed and bath and accessories in São Paulo<br />
that, through this contact, have been put in direct<br />
contact with them.<br />
At the work among artisans both<br />
among the ones with whom you develop<br />
collections and among those aggregated<br />
as suppliers, what do you see as difficulties<br />
and challenges?<br />
Ronaldo – There is something that is difficult<br />
in any industrial or business process, which is<br />
management. Production and staff management<br />
is something hard not only to artisans, but to<br />
everybody. Thus, taking this talent, the genuine<br />
soul of this product, trim these ends so that it can<br />
reach a specific desired audience and properly<br />
coordinating all this production is not an easy task.<br />
If only a few ones have conditions to be a fashion<br />
designer, only fewer could be administrators or<br />
managers. This is a big problem: management and<br />
organization of the entire production process.<br />
And what happens to your suppliers Do<br />
they face these problems?<br />
Ronaldo – Let me give you an example. Brazil<br />
does not produce linen, currently. If I want some<br />
quality linen, I have to import. For a collection, I<br />
bought white linen, cut the pieces and sent them<br />
to the embroiderers from Passira. There, they have<br />
a forewoman who gathered a task-force, doubled<br />
the amount to embroiderers and optimized<br />
production. One was in charge of the sleeves,<br />
another one of the back, of the front, and so on.<br />
They embroidered, ironed and shipped. It arrived<br />
on time, everything right. When we started to put<br />
the pieces together, one front was brown, the other<br />
was yellow... Simply because nobody thought we<br />
were dealing with the agreste in Pernambuco. So,<br />
one ironed using water from the river, another one
água do rio, outra com água da cisterna. Imagine a<br />
encrenca, foi tudo perdido.<br />
Então, há uma questão delicada.<br />
Tem que haver a preservação cultural, a<br />
autenticidade, mas tem que haver uma<br />
profissionalização para que a produção<br />
atenda aos requisitos.<br />
Ronaldo – Sim, claro. Na verdade, é um grande<br />
ciclo. Por mais que eu fale em andar à parte do<br />
poder público, não tem jeito. Essa gestão, essa<br />
organização, tem que vir das esferas do poder.<br />
Sou extremamente otimista. Estamos discutindo<br />
isso no Ministério da Cultura, que tem elementos<br />
facilitadores nesse sentido. Mas, para começar,<br />
esses ofícios de determinada região têm que estar<br />
na escola. As pessoas têm que aprender a bordar na<br />
escola, como parte do currículo. Todas as rendas<br />
que o Nordeste produz estão sendo produzidas na<br />
China por um terço do preço. Se grandes indústrias<br />
não conseguem competir com a China, há como<br />
artesãos enfrentarem isso? Se for ver só a questão<br />
da viabilidade econômica, a gente desiste. Já escutei<br />
muito que é inviável trabalhar com artesanato no<br />
Brasil.<br />
Você acha que o artesanato brasileiro é<br />
negligenciado de alguma forma?<br />
Ronaldo – A relação que nós temos com<br />
artesanato no Brasil ainda é uma relação de país<br />
colonizado. É coisa de pobre, feita por pobre que<br />
as pessoas compram para ajudar. Então, as pessoas<br />
se ofendem quando querem comprar alguma<br />
coisa e descobrem que o preço é maior do que elas<br />
imaginavam. Isso demanda cultura, demanda uma<br />
apropriação cultural das pessoas em relação ao<br />
país. E, principalmente, um investimento no fim<br />
do paternalismo, porque a história do “comprar<br />
para ajudar” é um paternalismo. O que eu vejo<br />
de melhor na arte contemporânea do país tem<br />
influência da arte popular. No diálogo entre esses<br />
segmentos, ganha o país e nós temos condições de<br />
desenvolver um produto sem similar no mundo,<br />
com uma percepção de valor completamente<br />
diferente.<br />
from the pit. Imagine the trouble. It was all lost.<br />
So, there is a sensitive issue. There must<br />
be cultural preservation, authenticity, but<br />
there must also be qualification, so that<br />
production can meet the requirements.<br />
Ronaldo – Yes, of course. Actually, it is a big<br />
cycle. Although I talk about acting independently<br />
from public power, there is no way out. This<br />
management, this organization has to come from<br />
the power spheres. I am extremely optimistic.<br />
We are discussing it at the Ministry of Culture,<br />
which has facilitating elements, in this sense. But,<br />
to start with, these crafts of a given region must<br />
be at schools. People need to learn embroidering<br />
at school, as a part of the course syllabus. All the<br />
income the Northeast produces is being produced<br />
in China for a third of the price. If large industries<br />
cannot compete with China, is there any way<br />
artisans can face it? If we take it only from the<br />
economic feasibility perspective, we give up. I have<br />
heard a lot about how it is impossible to work with<br />
handicraft in Brazil.<br />
Do you think that Brazilian handicraft<br />
is neglected, somehow?<br />
Ronaldo – The relationship we have with<br />
handicraft in Brazil is still a colonized country<br />
relationship. It is something poor, made by the poor<br />
and people buy it as a way of helping. So, people<br />
get offended when they want to buy something and<br />
find out the price is higher that they imagined. It<br />
requires culture, requires a cultural appropriation<br />
of people in relation to the country. And, mainly,<br />
investment towards the end of paternalism,<br />
because the story of “buying to help” is paternalist.<br />
What I see that is best in the contemporary art of<br />
the country receives the influence of popular art. In<br />
the dialogue between these segments, there is gain<br />
to the country and we have conditions to develop<br />
a product without a similar product in the world,<br />
with a completely different perception of value.<br />
entrevista / interview 45
giFT FAiR<br />
Feiras e Eventos<br />
27/08/2011 a 30/08/2011<br />
Local: Expo Center Norte – São Paulo – São Paulo<br />
www.grafitefeiras.com.br<br />
ART MuNdi – 8ª FeiRA MuNdiAl de<br />
ARTesANATo<br />
02/09/2011 a 11/09/2011<br />
Local: Mendes Convention Center – Santos – São<br />
Paulo<br />
www.artmundisp.com.br<br />
FeiARTe – 30ª FeiRA iNTeRNAcioNAl<br />
de ARTesANATo<br />
16/09/2011 a 25/09/2011<br />
Local: <strong>Centro</strong> de Eventos do Pantanal – Cuiabá –<br />
Mato Grosso<br />
www.feiartemt.com.br,<br />
ART VAle – edição soRocAbA – 3ª<br />
FeiRA iNTeRNAcioNAl de culTuRA<br />
e ARTesANATo e FesTA dAs NAções<br />
14/10/2011 a 23/10/2011<br />
Local: Clube União Recreativo – Sorocaba – São<br />
Paulo<br />
www.tmlpromoeventos.com.br<br />
46 eu faço / i make<br />
Fairs and Events<br />
3º sAlão especiAl<br />
05/10/2011 a 07/10/2011<br />
Local: Serraria Souza Pinto – Belo Horizonte –<br />
Minas Gerais<br />
www.centrocape.org.br<br />
sAlão iNTeRNAcioNAl do<br />
ARTesANATo – 4ª exposição<br />
iNTeRNAcioNAl de ARTesANATo<br />
02/11/2011 a 06/11/2011<br />
Local: Pavilhão de Exposições Expobrasília –<br />
Brasília – Distrito Federal<br />
www.salaodoartesanato.com.br<br />
NATAl ARTesANAl – 6ª FeiRA de<br />
ARTigos NATAliNos ARTesANAis<br />
10/11/2011 a 15/11/2011<br />
Local: Complexo Cultural da Urca – Poços de<br />
Caldas – Minas Gerais<br />
www.feiradenatalpocosdecaldas.com.br<br />
22ª FeiRA NAcioNAl de ARTesANATo<br />
22/11/2011 a 27/11/2011<br />
Local: <strong>Centro</strong> de Exposições Expominas – Belo<br />
Horizonte – Minas Gerais<br />
www.feiranacionaldeartesanato.com.br
Eu Faço / I Make<br />
aline veloso de Matos<br />
FOTOS / PHOTOS Pedro Gil<br />
“EU VIVO DO LIXO!” Esta é a forma a um só<br />
tempo sintética e múltipla com a qual Aline Veloso<br />
de Matos define aquilo que é, hoje, seu trabalho e<br />
sua forma de ver o mundo. Afinal de contas, são 17<br />
anos vividos a transformar resíduos em arte, boa<br />
parte deles dedicados também a ensinar o ofício e<br />
a mostrar aos mais diversos públicos que há beleza<br />
e utilidade onde a maioria enxerga apenas restos<br />
de consumo, que embalagens vazias, latas, tampas,<br />
pedaços de plástico e papel trazem em si formas e<br />
objetos que dependem apenas da criatividade para<br />
se revelar.<br />
Graduada em Relações Públicas, o que Aline<br />
menos fez em sua vida foi exercer essa profissão.<br />
Pouco depois de formada, percalços da vida a<br />
desafiaram a buscar uma alternativa de atividade<br />
e renda. A solução foi encontrada no gosto por<br />
reaproveitar coisas, gosto este que já a havia<br />
ajudado a pagar seus estudos com a venda de papel<br />
artesanal e produtos derivados, como agendas e<br />
pastas.<br />
Da união do gosto com a necessidade nasceram<br />
bijuterias de garrafa pet, bolsas de lata, brinquedos<br />
de embalagem tetra pak e o que mais os materiais e<br />
a criatividade permitissem. Vendidos inicialmente<br />
com a ajuda de amigos e no boca a boca, hoje seus<br />
objetos podem ser vistos até em outros países,<br />
como Itália, Espanha e França, onde encontraram<br />
espaço na loja da De Bruille, que reúne artesanato<br />
de resíduos do mundo todo.<br />
Nessa trajetória, Aline testemunhou uma<br />
mudança de mentalidade na sociedade. Quando<br />
começou, sua passagem pelas ruas à cata de<br />
material era vista com um misto de estranheza e<br />
pena. Ao longo dos anos, ela viu essa percepção se<br />
transformar em admiração, na medida em que a<br />
consciência ambiental abriu os olhos das pessoas<br />
para a importância e a beleza dos objetos nascidos<br />
do reaproveitamento de restos.<br />
Autodidata, Aline se tornou instrutora,<br />
ministrando oficinas para catadores de recicláveis<br />
e para comunidades por meio de contratos com o<br />
Instituto Nenuca de Desenvolvimento Sustentável<br />
(Insea) e com a Companhia Energética de Minas<br />
Gerais (Cemig). Seu objetivo é ver os catadores<br />
aderirem ao artesanato com resíduos como forma<br />
de agregar valor ao seu trabalho.<br />
“I LIVE OUT OF GARBAGE!” This is the<br />
synthetic and multiple definition with which Aline<br />
Veloso de Matos describes her current work and<br />
the way she perceives the world. After all, she has<br />
made a living out of transforming waste into art<br />
for 17 years, good part of which also dedicated to<br />
teaching the craft and showing a wide variety of<br />
audiences that there is beauty and utility where<br />
most people only see garbage, demonstrating that<br />
empty packages, cans, lids, pieces of plastic and<br />
paper carry shapes and objects which only depend<br />
on creativity to be revealed.<br />
Although having a public relations degree,<br />
Aline has never exercised this profession. Shortly<br />
after graduation, mishaps in life challenged her to<br />
look for an alternative activity and income source.<br />
The solution was found through her joy in reusing<br />
things, something that had already helped her<br />
paying for her education, by selling handcrafted<br />
paper and related products, such as notebooks and<br />
folders.<br />
From this union between joy and necessity, PET<br />
jewelry, tin bags and milk carton toys were created,<br />
as well as anything else allowed by her materials<br />
and creativity. Initially sold with the help of friends<br />
and by word of mouth, her objects can be currently<br />
found abroad, in countries such as Italy, Spain and<br />
France, having conquered their space at De Bruille<br />
stores, which gather waste material handicraft<br />
from all over the world.<br />
Throughout her journey, Aline has witnessed<br />
a shift in society’s thinking. In the beginning, her<br />
wandering through the streets collecting material<br />
was perceived with a mixture of strangeness and<br />
pity. Throughout the years, she saw this perception<br />
change into admiration, since environmental<br />
awareness opened people’s eyes to the importance<br />
and beauty of objects created from recycled waste.<br />
Being a self-taught person, Alice became an<br />
instructor and promotes workshops for recyclable<br />
material collectors and communities through<br />
partnerships with Insea (Instituto Nenuca de<br />
Desenvolvimento Sustentável, Nenuca Sustainable<br />
Development Institute) and Cemig (Companhia<br />
Energética de Minas Gerais, Minas Gerais State<br />
Power Company). Her goal is to influence the<br />
collectors to adopt waste handicraft as a way of<br />
aggregating value to their work.<br />
eu faço / i make 47
onde encontrar<br />
WHERE TO FIND<br />
Associações do Acre<br />
(Página 12 / Page12)<br />
Cooperativa de Produtos e Serviços Econômicos e Solidários<br />
do Acre (Cooesa)<br />
Carlos e Maria de Fátima Taborga<br />
Tel. 55 68 3223-8062 / 3223-0010 / 9981-1394 / 9978-7543<br />
carlostaborga@hotmail.com<br />
Cooperativa de Artesãos Mulheres Arte de Vencer (Cooper Mav)<br />
Othília Batista Melo de Sampaio<br />
Tel. 55 68 3224-1973 / 9971-2452 / 8121-4752<br />
tilinhasampaio@yahoo.com.br<br />
Elsio Moriani<br />
(Página 18 / Page 18)<br />
Brasília – Distrito Federal<br />
Tel. 55 31 3382-3485 / 8408-4696<br />
E-mail: elsiobsb@gmail.com<br />
Marlene Alves da Costa e Gilda da Silva Barreto<br />
(Página 28 / Page 28)<br />
Dona Marlene<br />
Tel: 55 92 9239-5239<br />
Gilda Barreto<br />
Tel: 55 97 8114-9152<br />
Artesanato de Pernambuco<br />
(Página 36 / Page 36)<br />
Sérgia Almeida<br />
Tel. 55 81 3227 2687 / 8764-2234<br />
sergiaalmeida@bol.com.br<br />
sergiaalmeida@hotmail.com<br />
Associação Acreana Buriti da Amazônia<br />
Marcia Silvia de Lima<br />
Tel. 55 68 3026-1678 / 68 9995-9388<br />
buritidaamazonia@ibest.com.br<br />
Thiago Rethalho<br />
(Página 23 / Page 23)<br />
Tel: 55 31 3686-7440 / 9443-2034<br />
E-mail: rethalhoarte@gmail.com<br />
http://rethalhoarte.blogspot.com/<br />
Cícero Resende Chaves<br />
(Página 33 / Page 33)<br />
Tel. 55 32 3354-1588<br />
Caixa Postal nº 12<br />
CEP: 36.340-970<br />
Resende Costa - MG<br />
cicero.r.chaves@hotmail.com
22ª Feira Nacional<br />
de artesanato<br />
O Brasil Feito a Mão<br />
Toda a diversidade do<br />
artesanato e da cultura<br />
brasileira em<br />
um só lugar<br />
WELL COME<br />
All the diversity of<br />
brazilian handcraft and<br />
culture in<br />
just one place<br />
Expominas - Belo Horizonte - MG<br />
22 a 27<br />
de novembro<br />
dia 22 só para lojistas<br />
22rd to 27th<br />
of november<br />
22rd only for professional buyers<br />
www.feiranacionaldeartesanato.com.br<br />
31 3282 8280 - fna@centrocape.org.br