Habitats costeiros em Portugal e a sua relação com a Europa
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Inês Duarte, Francisco Castro Rego. Diversidade de habitats <strong>costeiros</strong> <strong>em</strong> <strong>Portugal</strong> e a <strong>sua</strong> <strong>relação</strong> <strong>com</strong> a <strong>Europa</strong><br />
DIVERSIDADE DE HABITATS COSTEIROS EM PORTUGAL E A SUA RELAÇÃO<br />
COM A EUROPA<br />
1 Mestre <strong>em</strong> Gestão e Conservação da Natureza, Doutoranda <strong>em</strong> Engenharia Florestal do Instituto Superior de<br />
Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa, inesmarquesduarte@gmail.<strong>com</strong><br />
2 Doutor <strong>em</strong> Forestry and Wildlife and Range Manag<strong>em</strong>ent, Professor Associado do Instituto Superior de Agronomia da<br />
Universidade Técnica de Lisboa, frego@isa.utl.pt<br />
Inês Duarte 1 , Francisco Castro Rego 2<br />
Resumo<br />
Os habitats <strong>costeiros</strong> europeus constitu<strong>em</strong> el<strong>em</strong>entos ecológicos de vital<br />
importância na interface entre os sist<strong>em</strong>as marinho e terrestre. Integrados na Directiva<br />
habitats, são parte constituinte da Rede Natura 2000.<br />
No presente estudo analisam-se os diversos países europeus <strong>em</strong> termos de<br />
riqueza, diversidade e raridade, destes sist<strong>em</strong>as naturais e <strong>com</strong>param-se as diferentes<br />
regiões geográficas (Mediterrâneo, <strong>Europa</strong> Central e Báltico) relativamente à<br />
distribuição de habitats. Os resultados permitiram identificar diferenças significativas<br />
entre as três regiões, b<strong>em</strong> <strong>com</strong>o a necessidade de revisão de algumas classificações<br />
de prioridade de conservação, tendo <strong>em</strong> conta a existência de alguns habitats <strong>com</strong><br />
elevados índices de raridade, ainda não classificados <strong>com</strong>o tal.<br />
Palavras-chave: Halófilos, Diversidade, Dunas, Raridade, Rede Natura 2000<br />
Abstract<br />
European coastal habitats are important ecological el<strong>em</strong>ents in the interface<br />
between marine and terrestrial syst<strong>em</strong>s. Included in <strong>Habitats</strong> Directive, they integrate<br />
Natura 2000 Network.<br />
In this study we analyzed the different European coastal countries, relatively to<br />
habitat richness, diversity and rarity. We studied habitat distribution in the three<br />
European geographic regions (Mediterranean, Central Europe and Baltic). Results<br />
show significant differences between the three regions and clarify about the need of<br />
revision in priority habitat classification, because there are habitats with high level of<br />
rarity that aren’t classified as such.<br />
Keywords: Diversity, Dunes, Halophytic, Natura 2000 Network, Rarity
1. Introdução<br />
Inês Duarte, Francisco Castro Rego. Diversidade de habitats <strong>costeiros</strong> <strong>em</strong> <strong>Portugal</strong> e a <strong>sua</strong> <strong>relação</strong> <strong>com</strong> a <strong>Europa</strong><br />
Os habitats <strong>costeiros</strong> revest<strong>em</strong>-se de particular importância na medida <strong>em</strong> que<br />
constitu<strong>em</strong> a interface entre os sist<strong>em</strong>as terrestres e marinhos. São protegidas por<br />
diversos instrumentos legais, constituindo parte da Reserva Ecológica Nacional<br />
Portuguesa e encontram-se classificadas <strong>com</strong>o Sítios de importância <strong>com</strong>unitária.<br />
Dada a <strong>sua</strong> localização costeira, encontram-se junto à linha de avanço do mar, no<br />
presente cenário de subida do nível médio das águas do mar (Santos, 2002),<br />
sofrendo, simultaneamente graves pressões urbanísticas a montante (Alves et al,<br />
1998). O exercício de ambas as pressões provoca o estreitamento <strong>em</strong>inente destas<br />
áreas. As Directivas Europeias para a conservação dos <strong>Habitats</strong> (Directiva 92/43/CEE)<br />
e as Aves (Directiva 79/409/CEE) estabelec<strong>em</strong> os habitats a integrar na Rede Natura<br />
2000.<br />
Os países da <strong>Europa</strong> distribu<strong>em</strong>-se ao longo de latitudes mais baixas, <strong>com</strong>o no<br />
caso dos países mediterrâneos, até latitudes mais altas, <strong>com</strong>o no caso dos países do<br />
Báltico. No entanto, a Rede Natura 2000 é <strong>com</strong>um a todos os países europeus, <strong>com</strong> o<br />
objectivo de salvaguardar as espécies e habitats <strong>com</strong> maior interesse para<br />
conservação, formando uma rede de áreas classificadas, sob regime de protecção. Os<br />
sítios classificados, integram os habitats das Directivas, identificados e classificados<br />
nacionalmente e reconhecidos a nível europeu. Alguns destes tipos de habitat são<br />
considerados prioritários para a conservação e assinalados por um (*), por ser<strong>em</strong><br />
considerados <strong>em</strong> risco de desaparecimento, dada a proporção da <strong>sua</strong> distribuição no<br />
espaço <strong>com</strong>unitário europeu.<br />
O presente estudo pretende, <strong>com</strong> base <strong>em</strong> conceitos de Ecologia da Paisag<strong>em</strong><br />
(Turner, 2001) avaliar a distribuição dos habitats <strong>costeiros</strong> na <strong>Europa</strong> e determinar os<br />
índices de raridade existentes, para confrontação <strong>com</strong> as prioridades atribuídas a nível<br />
<strong>com</strong>unitário.<br />
2. Metodologia<br />
A Directiva <strong>Habitats</strong> (92/43/CEE) identifica duas tipologias de habitats <strong>costeiros</strong>: Os<br />
tipo (1) <strong>Habitats</strong> Costeiros e Vegetação Halófila e os tipo (2) Dunas Marítimas e<br />
Interiores. Cada um apresenta ainda diferentes subdivisões.<br />
Identificaram-se 22 países da União Europeia <strong>com</strong> dados <strong>com</strong>pletos e disponíveis<br />
ao público, relativamente a habitats da Directiva 92/43/CEE e <strong>com</strong> presença de<br />
habitats <strong>costeiros</strong> classificados.<br />
Consideraram-se as três regiões geográficas europeias (Mediterrâneo, <strong>Europa</strong><br />
Central e Báltico) e agruparam-se os países por estas regiões. Compararam-se os<br />
países e as regiões <strong>em</strong> <strong>relação</strong> à distribuição, <strong>com</strong>posição e diversidade de habitats<br />
<strong>costeiros</strong>.<br />
Para a análise do Índice de diversidade, calculou-se o Índice de Shannon Wiener<br />
<strong>em</strong> que H’=-∑(pi.ln pi), <strong>em</strong> que pi é a proporção de cada tipo de habitat no total do<br />
país. O cálculo da raridade fez-se <strong>em</strong> <strong>relação</strong> ao inverso da proporção <strong>com</strong> R= ln (1/pi)<br />
(Casquilho, 1998). Analisou-se o grau de raridade de cada habitat e confrontou-se <strong>com</strong><br />
a classificação <strong>com</strong>unitária de prioritário.<br />
3. Resultados e discussão<br />
Da análise à diversidade de habitats <strong>costeiros</strong> (Índice de Shannon Wiener) por país<br />
e por grupo, obtiveram-se os resultados apresentados na Figura1. O Marcadores<br />
MED, CENT e BALT, apresentam os valores de diversidade para o conjunto dos<br />
países de cada um dos grupos Mediterrâneo, <strong>Europa</strong> Central e Báltico,<br />
respectivamente. É visível uma maior diversidade associada aos países do<br />
2
Inês Duarte, Francisco Castro Rego. Diversidade de habitats <strong>costeiros</strong> <strong>em</strong> <strong>Portugal</strong> e a <strong>sua</strong> <strong>relação</strong> <strong>com</strong> a <strong>Europa</strong><br />
mediterrâneo. Os valores obtidos não apresentaram <strong>relação</strong> <strong>com</strong> a área dos países,<br />
sendo que países <strong>com</strong> menores áreas, apresentam valores de diversidade idênticos e<br />
até superiores aos restantes.<br />
4,5<br />
4<br />
3,5<br />
3<br />
2,5<br />
2<br />
1,5<br />
1<br />
0,5<br />
0<br />
Índices de diversidade (Shannon Wiener) por país e por região geográfica<br />
PT ES FR IT SI MT GR BG CY MED IE BE NL DE PL SK RO CENT<br />
E U<br />
Mediterrâneo <strong>Europa</strong> Central Báltico<br />
DK SE FI LT LV EE BALT<br />
Figura 1 – Índices de diversidade por país e por grupo geográfico (MED, CENT, BALT)<br />
A Tabela 1 apresenta os cálculos da raridade dos “<strong>Habitats</strong> Costeiros e Vegetação<br />
Halófila”. Os habitats prioritários (*) encontram-se a sublinhado e os valores de<br />
raridade calculados encontram-se na coluna da direita. Torna-se evidente que muitos<br />
habitats carec<strong>em</strong> de uma classificação de prioritário, dado que apresentam valores<br />
elevados de raridade, enquanto que outros, <strong>com</strong>o são ex<strong>em</strong>plo os 1120 e 1150, não<br />
terão valores tão elevados e são prioritários para a conservação da natureza na<br />
<strong>Europa</strong>.<br />
A identificação precoce destes valores e a reavaliação da classificação de<br />
prioridades de conservação, pode melhorar o processo de gestão dos habitats da<br />
Rede Natura 2000, tanto neste caso dos habitats tipo (1) “<strong>Habitats</strong> Costeiros e<br />
Vegetação Halófila”, <strong>com</strong>o para os restantes tipos de habitat da Rede natura 2000,<br />
caminhando para uma rede europeia de conservação cada vez mais equilibrada <strong>com</strong><br />
as necessidades de intervenção.<br />
3
Código<br />
habitat<br />
Inês Duarte, Francisco Castro Rego. Diversidade de habitats <strong>costeiros</strong> <strong>em</strong> <strong>Portugal</strong> e a <strong>sua</strong> <strong>relação</strong> <strong>com</strong> a <strong>Europa</strong><br />
Tabela 1 - Cálculo do índice de raridade dos <strong>Habitats</strong> Costeiros e Vegetação Halófila<br />
Referências Bibliográficas<br />
Designação habitat<br />
Área<br />
(ha)<br />
Proporção<br />
(pi)<br />
Raridade<br />
(ln1/pi)<br />
1110 Bancos de areia perm cob… 2584220,19 34,72% 1,06<br />
1120* * Bancos de posidónias… 355288,29 4,77% 3,04<br />
1130 Estuários 384532,76 5,17% 2,96<br />
1140 Lodaçais e areais … 605573,70 8,14% 2,51<br />
1150* * Lagunas costeiras 448732,37 6,03% 2,81<br />
1160 Enseadas e baías p… 862363,85 11,59% 2,16<br />
1170 Recifes 1179216,19 15,84% 1,84<br />
1180 Estruturas submarinas… 17458,42 0,23% 6,06<br />
1210 Vegetação anual ...acum de detrit…<br />
Vegetação perene ... calhaus<br />
46869,40 0,63% 5,07<br />
1220 rolados 12881,24 0,17% 6,36<br />
1230 Falésias <strong>com</strong> veg atlânt bált 21540,15 0,29% 5,85<br />
1240 Falésias <strong>com</strong> veg medit Limonium<br />
Falésias c flora end cost<br />
54694,01 0,73% 4,91<br />
1250 macaronésias 4367,44 0,06% 7,44<br />
1310 Salicornia e ou sp anuais 68841,38 0,92% 4,68<br />
1320 Prados de Spartina 30540,27 0,41% 5,50<br />
1330 Prados salgados atlânticos 91817,86 1,23% 4,40<br />
1340* * Prados salgados interiores 3662,94 0,05% 7,62<br />
1410 Prados salgados mediterrânicos 90086,48 1,21% 4,41<br />
1420 Matos halófilos medit e termoatlân 89039,42 1,20% 4,43<br />
1430 Matos halonitrófilos 31447,63 0,42% 5,47<br />
1510* * Estepes salgadas medit 41749,13 0,56% 5,18<br />
1520* * Vegetação gipsófila 84669,91 1,14% 4,48<br />
1530* * Estepes salg e sapais panónicos 260170,50 3,50% 3,35<br />
1610 Ilhas «esker» do Báltico 3124,68 0,04% 7,78<br />
1620 Ilhéus e peq ilhas Báltico boreal 44834,00 0,60% 5,11<br />
1630* * Prados cost do Báltico boreal 19884,70 0,27% 5,93<br />
1640 Praias ar c veg viv Báltico boreal<br />
Enseadas estreitas do Báltico<br />
1088,39 0,01% 8,83<br />
1650 Boreal 4822,09 0,06% 7,34<br />
Total 7443517,41 100,00%<br />
Alves, J; Santo, M.D; Costa, J; Gonçalves, J; Lousã, M., 1998, <strong>Habitats</strong> naturais e s<strong>em</strong>i-naturais<br />
de <strong>Portugal</strong> Continental - Tipos de habitat mais significativos e Agrupamentos vegetais<br />
característicos, ICN. Scarpa. Lisboa<br />
Casquilho, J.1998.E<strong>com</strong>osaico: Índices para o diagnóstico de proporções de <strong>com</strong>posição,<br />
Dissertação para obtenção do grau de Doutor <strong>em</strong> Engenharia Florestal Instituto Superior de<br />
Agronomia. Universidade Técnica de Lisboa.<br />
Directiva Comunitária 92/43/CEE de 21 de Maio de 1992 relativa à preservação dos habitats<br />
naturais e da fauna e da flora selvagens, UE<br />
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Rosenzweig, M. 1995, Species Diversity in space and time, Cambrige University Press,<br />
Melbourne, Australia<br />
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Turner, M; Grdner, R; O’Neil, R; 2001. Landscape Ecology in theory and practice.Springer-<br />
Verlag, New York, Inc. USA<br />
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