1 Exclusão Digital: Algumas Reflexões 1. Introdução Atualmente ...
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<strong>1.</strong> <strong>Introdução</strong><br />
<strong>Exclusão</strong> <strong>Digital</strong>: <strong>Algumas</strong> <strong>Reflexões</strong><br />
João Pedro Albino<br />
jpalbino@fc.unesp.br<br />
<strong>Atualmente</strong> vivemos no mundo da Sociedade da Informação, cuja principal<br />
consequência é a explosão informacional, caracterizada, sobretudo pela aceleração dos<br />
processos de produção e de difusão massiva de informação e do conhecimento. Essa<br />
sociedade caracteriza-se pelo elevado número de atividades produtivas que dependem<br />
da gestão de fluxos informacionais, aliado ao uso intenso das novas tecnologias de<br />
informação e comunicação. Culturas e identidades coletivas são uma consequencia<br />
dessa nova era, houve uma padronização de culturas e costumes (WIKIPEDIA, 2008).<br />
Dentre os cientistas que defendem o uso das novas tecnologias de informação temos o<br />
sociólogo Manuels Castells, que considera positivo o papel das novas tecnologias de<br />
informação na geração do conhecimento e na maior velocidade na troca e difusão de<br />
informações dentro da estrutura da sociedade (ARAUJO, 2006). Na visão de Castells<br />
uma das áreas que se beneficia mais intensamente do desenvolvimento dos novos<br />
recursos é a educação, tendo em vista que a TI - Tecnologia da Informação -amplia a<br />
capacidade das pessoas de progredir em seus conhecimentos, criar riqueza e utilizá-la<br />
mais sabiamente que as gerações anteriores.<br />
Ainda de acordo com Araujo (2006), o francês Pierre Levy, também um aficionado<br />
pelas novas tecnologias, ressalta a interação entre as novas tecnologias da informação e<br />
a educação e constata o papel das novas tecnologias intelectuais que ampliam,<br />
exteriorizam e alteram muitas das funções cognitivas humanas, o que ocasiona uma<br />
maior facilidade na reprodução e transferência de informações, do aumento da memória,<br />
das simulações, dentre outros aspectos, que acabam por aumentar o potencial de<br />
inteligência coletiva humana.<br />
Neste contexto, a sociedade do cohecimento ou a nova economia da informação surge<br />
como um novo modo de evitar a exclusão social e para dar oportunidades aos menos<br />
favorecidos, uma vez que, pelo uso dos computadores e da internet, todos poderiam ter<br />
direito ao livre acesso à informação.<br />
Porém, estudo elaborado pela empresa de pesquisa Ipsos Public Affairs revela a<br />
gravidade da exclusão digital no Brasil (Inclusão <strong>Digital</strong>, 2006). Os dados desta<br />
pesquisa recente mostraram que apesar de todo o desenvolvimento tecnológico, do<br />
barateamento dos computadores e da maior possibilidade de acesso à conexão com a<br />
internet, as pessoas das classes D e E, que representam metade da população do País,<br />
não tem acesso ao computador.<br />
Segundo dados do IBGE, apenas 12,46% da população brasileira tem acesso a<br />
computadores e somente 8,31% estão conectados à Internet (IBGE, 2006). A maioria<br />
destes poucos incluídos digitais, cerca de 97%, se concentra na área urbana, acentuando<br />
ainda mais o desnível e deixando as zonas rurais praticamente na escuridão digital.<br />
Estes percentuais expõem o cenário de exclusão digital em que vive grande parte da<br />
população brasileira. Os resultados fazem parte de um estudo que deu origem ao Mapa<br />
da <strong>Exclusão</strong> <strong>Digital</strong> (FGV, 2003).<br />
Com todas estas questões apresentadas anteriormente, neste artigo pretendemos<br />
apresentar e discutir alguns aspectos da exclusão digital, procurando contextualizá-la no<br />
Brasil e apresentar seus aspectos mais importantes.<br />
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2. Conceituando <strong>Exclusão</strong> <strong>Digital</strong><br />
A exclusão digital é um conceito dos campos teóricos da comunicação, sociologia,<br />
tecnologia da informação, História e outras humanidades, que diz respeito às extensas<br />
camadas das sociedades que ficaram à margem do fenômeno da sociedade da<br />
informação e da expansão das redes digitais (WIKIPEDIA, 2008).<br />
No Brasil, o termo "exclusão digital" é mais usado para se referir ao problema,<br />
indicando o lado dos excluídos, enquanto em outros idiomas os termos equivalentes a<br />
"brecha digital" ou "fissura digital" são preferidos (como no inglês digital divide e o<br />
francês fracture numérique). Os dois termos, porém, não são sinônimos perfeitos, pois<br />
enquanto "exclusão digital" se refere apenas a um dos lados da questão, "brecha digital"<br />
faz referência à própria diferença entre excluídos e incluídos.<br />
De acordo com Araujo (2006), muitos dos defensores dos avanços introduzidos pela<br />
evolução das tecnologias de informação têm como principal ponto de vista as questões<br />
técnicas, tais como ampliação das redes de cabeamentos, aumento da velocidade de<br />
transmissão, desenvolvimento de inteligências artificiais, comercialização de<br />
equipamentos e serviços. Quando o tema da exclusão digital é considerado, muitos<br />
desses defensores continuam presos ao conceito material do problema.<br />
Segundo Ferrari (2003), a exclusão digital, pelas características e o contexto que a<br />
envolve, tende a crescer numa especial virtualidade, sob uma muralha digital que<br />
procura convencer as pessoas que a inclusão está ali. Esta muralha nada mais é do que o<br />
intenso apelo consumista, em arranjos de notável inteligência mercadológica, que exige<br />
como suporte a infra-estrutura da informática. Neste sentido, continua a autora, é de se<br />
supor que o acesso a esses equipamentos e mesmo às ferramentas amigáveis de conexão<br />
com a Internet, sejam franqueados mais e mais a um número cada vez maior de pessoas.<br />
Porém, segundo o filósofo Pierre Lévy,<br />
“... não basta estar na frente de uma tela, munido de todas as interfaces<br />
amigáveis que se possa pensar, para superar uma situação de<br />
inferioridade. É preciso antes de mais nada estar em condições de<br />
participar ativamente dos processos de inteligência coletiva que<br />
representam o principal interesse do ciberespaço.” (LÉVY, 1999, p.<br />
238).<br />
Cabe então, segundo Ferrari (2003), aos interessados no autêntico processo de inclusão,<br />
reclassificar os personagens e paisagens desta história. Há que se reconhecer cidadãos,<br />
além de consumidores e assim buscar a superação do bloqueio referido por Lévy (1999).<br />
A introdução da nova ordem mundial ainda vem acentuar mais as desigualdades sociais<br />
e econômicas, principalmente em países em desenvolvimento, afirma Araujo (2006). O<br />
número de pessoas vivendo em condições miseráveis tem aumentado significativamente<br />
e as desigualdades econômicas e sociais têm-se tornado mais críticas. De fato, muitos<br />
pesquisadores apontam o crescente desemprego, a queda dos valores salariais e os<br />
processos de terceirização como reflexos da automação e da migração dos recursos da<br />
produção para o investimento financeiro, somente viável após a implantação da rede<br />
global, interligando os mercados de capitais.<br />
Após a popularização da internet durante sua primeira década de uso comercial no<br />
Brasil, o país encara o desafio de expandir o uso dessa tecnologia — restrita a 17,5% da<br />
população (CDI, 2003). Apesar de esse número ainda ser baixo, a ferramenta de<br />
navegação (browser) oferecida livremente a partir de 1995 já é conhecida por grande<br />
parte dos brasileiros. Não há como ignorar a abreviação do termo world wide web (ou o<br />
2
acrônimo www), a palavra e-mail (correio eletrônico) e o símbolo @ 1 —eles também<br />
fazem parte do cotidiano dos excluídos digitais, pois estão presentes em embalagens de<br />
produtos e são citados na televisão.<br />
Com a entrada das classes C e D no universo digital, é possível que a internet, hoje<br />
acessada principalmente pelas classes A e B, sofra transformações. A volta ao acesso<br />
discado dificulta o uso de ferramentas desenvolvidas para internautas com conexões de<br />
banda larga. De acordo com o Ibope//NetRatings, 5,3 milhões de usuários residenciais<br />
brasileiros têm esse tipo de acesso rápido (ARAUJO, 2006).<br />
É possível que as fornecedoras de serviços voltem sua atenção para esse novo público,<br />
adaptando-se à nova realidade. A inserção de grupos atualmente excluídos parece<br />
inevitável e conta com iniciativas "facilitadoras", como telecentros, programa PC<br />
Conectado e projetos de inclusão digital financiados pelo setor privado.<br />
A flexibilidade da internet poderá ser observada de forma intensa com a chegada desses<br />
novos internautas. Essa capacidade de adaptação foi vista na década passada, a partir do<br />
momento em que os internautas "estrearam" o uso da ferramenta pagando R$ 25 por dez<br />
horas de conexão. A competição entre provedores criou, então, uma batalha de ofertas,<br />
até que surgiram os provedores gratuitos com acesso ilimitado.<br />
2.<strong>1.</strong> Dados da <strong>Exclusão</strong> <strong>Digital</strong><br />
A exclusão digital é atualmente um tema de debates entre governos, organizações<br />
multilaterais (ONU, OMC), e o terceiro setor (ONGs, entidades assistencialistas).<br />
Políticas de inclusão digital incluem a criação de pontos de acesso à internet em<br />
comunidades carentes (favelas, cortiços, ocupações, assentamentos) e capacitação<br />
(treinamento) de usuários de ferramentas digitais (computadores, DVDs, vídeo digital,<br />
som digital, telefonia móvel). As comunidades carentes, os mais pobres e pessoas com<br />
uma posição econômica desprivilegiada são excluídas digitalmente, pois não tem acesso<br />
à tecnologia (WIKIPEDIA, 2008).<br />
Para se ter uma visão mais ampla da questão da exclusão digital, foi criado o CDI–<br />
Comitê para a Democratização da Informática. O CDI é uma organização não<br />
governamental e sem fins lucrativos que tem como missão institucional promover a<br />
inclusão social utilizando a tecnologia da informação como um instrumento para a<br />
construção da cidadania e, portanto, procura suprir a carência de políticas públicas<br />
mais sérias para inclusão digital (FERREIRA, 2003).<br />
Agregando dados do IBGE e do Sistema de Avaliação do Ensino Básico, do Ministério<br />
da Educação, foi gerado um Mapa da <strong>Exclusão</strong> <strong>Digital</strong>, apontando uma série de<br />
informações relevantes quanto ao tema. Este mapa, segundo Neri (2003b) estabelece<br />
uma plataforma par análise de medidas de inclusão social com o intuito de balizar ações<br />
estratégicas por parte das instituições da sociedade civil e dos diversos níveis de<br />
governo, buscando motivar o debate em nível nacional e local contra a chamada<br />
apartheid 2 digital. O trabalho desenvolvido buscou traçar perfis nos diversos segmentos<br />
1 @ em informática é o símbolo de endereço. “At” em inglês significa "em a","em o", ou "na","no".<br />
Assim, os endereços de correio eletrônico significam, por exemplo: fulano.de.tal@google.com — usuário<br />
fulano.de.tal no domínio google.com. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/%40.<br />
2 Apartheid, literalmente vida separada, é uma palavra de origem africana, adotada legalmente em 1948<br />
na África do Sul para designar um regime segundo o qual os brancos detinham o poder e os povos<br />
restantes eram obrigados a viver separadamente, de acordo com regras que os impediam de ser<br />
verdadeiros cidadãos. No nosso caso tem o sentido de pessoas impedidas de serem cidadãos com acesso à<br />
internet.<br />
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da sociedade da extensão do acesso, dos determinantes e conseqüências da tecnologia<br />
da informação.<br />
Contando com a iniciativa do CDI e desenvolvia pelo CPS – Centro de Políticas Sociais<br />
da Fundação Getúlio Vargas – FGV – contou com apoio financeiro de diversas<br />
empresas.<br />
Além de inúmeras tabelas e gráficos, o documento gerado, que é atualizado anualmente,<br />
contém ainda um banco de dados amigável através do qual organizações, estudantes,<br />
pesquisadores e gestores de políticas públicas podem colher informações em diversas<br />
modalidades em nível municipal, estadual e nacional. O inteiro teor da pesquisa está<br />
disponível para download no site www.cdi.org.br.<br />
Nos estudos realizados no tocante à gravidade da exclusão digital no Brasil mostram<br />
que apesar de todo o desenvolvimento tecnológico, as pessoas das classes D e E, ou seja<br />
metade da população brasileira, não tem acesso ao computador. Apenas 12,46% da<br />
população brasileira tem acesso a computadores e somente 8,31% estão conectados à<br />
Internet (IBGE, 2006). A maioria destes poucos incluídos digitais, cerca de 97%, se<br />
concentra na área urbana, acentuando ainda mais o desnível e deixando as zonas rurais<br />
praticamente na escuridão digital. Estes percentuais expõem o cenário de exclusão<br />
digital em que vive grande parte da população brasileira.<br />
No quadro 1 apresentamos um quadro comparativo dos estados brasileiros mais<br />
incluídos e os menos incluídos digitalmente, mostrando que a região Sul e Sudeste do<br />
país, além de manterem a dianteira nas questões econômicas apresentam também o<br />
maior número de incluídos digitais.<br />
3. <strong>Reflexões</strong> Finais<br />
Quadro <strong>1.</strong> Comparativo Inclusão x <strong>Exclusão</strong> <strong>Digital</strong>.<br />
Os cinco Estados MAIS<br />
incluídos<br />
1º Distrito Federal 1º Maranhão<br />
2º São Paulo 2º Piauí<br />
3º Rio de Janeiro 3º Tocantins<br />
4º Santa Catarina 4º Acre<br />
5º Paraná 5º Alagoas<br />
Os cinco Estados MENOS<br />
incluídos<br />
Fonte: Boletim Informativo do CDI, 2003.<br />
A “<strong>Exclusão</strong> D“Eigxcitluasl”ãoé Duigmita l”? fenômeno social que aflige a população<br />
devido a má distribuição de renda e deficiência da educação pública, deixando a<br />
população carente marginalizada tecnologicamente.<br />
Como pudemos refletir neste pequeno texto, hoje no Brasil, apenas 10 a 11% da<br />
população têm contato com computadores e internet. Cerca de 89% dos brasileiros são<br />
excluídos digitais, pois apenas 8% da população acessa à Internet a partir de casa.<br />
Como conseqüência pode-se antever que o excluído digital é marginalizado, gerando<br />
uma competição por empregos de forma desigual, pois as melhores oportunidades são<br />
oferecidas às pessoas que tenham acesso à computadores, seja na sua educação formal,<br />
seja por cursos profissionalizantes.<br />
Além disso, por não ter acesso às informações e serviços, o excluído digitalmente não<br />
tem como exercer plenamente a sua cidadania, o que consequentemente pode ocasionar<br />
e acelerar sua baixa estima.<br />
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O que se precisa então são iniciativas como as do CDI e FGV que promovam a inclusão<br />
digital. Um projeto do governo federal (Inclusão <strong>Digital</strong>, 2008) como o dos telecentros<br />
busca compensar esta falha. Pesquisa realizada pelo governo mostram que o<br />
desinteresse da parcela da população das classes D e E em adquirir um computador<br />
pode ser explicado ao fato de que essas pessoas nunca usaram um computador, ou seja,<br />
não há por que gastar dinheiro com algo em que se desconhece seus benefícios.<br />
Enfim, para tentar minimizar a exclusão digital no Brasil são necessárias algumas<br />
atitudes proativas e de continuidade, tais como: a redução do custo do equipamento,<br />
práticas educacionais que estimulem o uso dos recursos de informática por meio de<br />
redes de acesso ao público, dentre outros.<br />
Referências<br />
Inclusão <strong>Digital</strong>, Telecentros procuram minimizar a exclusão digital no Brasil,<br />
http://www.inclusaodigital.gov.br/inclusao/noticia/telecentros-procuram-minimizar-aexclusao-digital-no-brasil/,<br />
acessado em 01/05/2008.<br />
Wikipédia, Sociedade da Informação,<br />
http://pt.wikipedia.org/wiki/Sociedade_da_informa%C3%A7%C3%A3o, acessado em<br />
01/05/2008.<br />
ARAUJO, Marcos da Silva, A Dinâmica da <strong>Exclusão</strong> <strong>Digital</strong> na Era da Informação,<br />
http://www.webartigos.com/articles/88/1/a-dinamica-da-exclusao-digital-na-era-dainformacao/pagina<strong>1.</strong>html,<br />
webartigos, 2006. Acessado em 27/04/2008.<br />
IBGE, A ENCE aos 50 anos: Um olhar sobre o Rio de Janeiro, Escola Nacional de<br />
Ciências Estatísticas, Rio de Janeiro, 2006.<br />
CDI, Boletim Informativo do Comitê para Democratização da Informática, Ano 2, nº<br />
12, Maio, 2003.<br />
FERREIRA, Roseli, As Faces da <strong>Exclusão</strong> <strong>Digital</strong> e o Esforço da Inclusão, Programa<br />
de Pós-Graduação em Multimeios, Departamento de Multimeios do Instituto de Artes<br />
da Unicamp, 2003.<br />
http://www.iar.unicamp.br/disciplinas/am625_2003/roseli_artigo.html. Acessado em<br />
01/05/2008.<br />
LEVY, Pierre. Cibercultura. 1 ª edição, São Paulo: Editora 34, 1999.<br />
NERI, Marcelo Cortês (Coord.), Mapa da <strong>Exclusão</strong> <strong>Digital</strong>, Instituto Brasileiro de<br />
Economia, Centro de Políticas Sociais, FGV, 2003.<br />
NERI, Marcelo Cortês (Coord.), O Mapa da <strong>Exclusão</strong> <strong>Digital</strong>, Revista Conjuntura<br />
Econômica, maio, 2003b.<br />
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