1 - Preâmbulo Na primeira aula, vimos que a Sociologia foi ...
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Unidade I – OG: Introdução à <strong>Sociologia</strong> Professor: Flany Toledo<br />
otesgimento da vida a vida racional.<br />
Aula 2 - OE: O <strong>que</strong> é Ciência<br />
Nome do(a) aluno(a): Nº Turma:<br />
1 - <strong>Preâmbulo</strong><br />
<strong>Na</strong> <strong>primeira</strong> <strong>aula</strong>, <strong>vimos</strong> <strong>que</strong> a <strong>Sociologia</strong> <strong>foi</strong> resultado da necessidade dos homens<br />
de compreender as relações <strong>que</strong> estabelecem entre si e a natureza da vida coletiva, sob<br />
uma perspectiva nova, independente das convenções e das tradições religiosas. Assim, a<br />
complexidade das relações humanas e da vida coletiva, atingia outra instância do<br />
conhecimento humano, outro processo cognitivo, passando a ser ciências sociais, isto é,<br />
a sociologia como ciência.<br />
Portanto, o aparecimento da sociologia significou, <strong>que</strong> <strong>que</strong>stões concernentes às<br />
relações entre os homens e destes com a sociedade deixavam de ser objeto das crenças<br />
religiosas e do senso comum, passando a interessar também aos cientistas. A<br />
constituição desse novo campo de conhecimento representou a apropriação das relações<br />
humanas por parte do conhecimento científico e o reconhecimento da possibilidade de<br />
entendimento racional da realidade social.<br />
Nesta <strong>aula</strong> veremos como opera as ciências, suas leis e teorias, como <strong>que</strong> a<br />
sociologia <strong>foi</strong> se apropriando desta metodologia para aplicá-la, ao estudo dos homens e<br />
de suas relações com a sociedade. Conheceremos os fundadores desta nova ciência e,<br />
através destes, entenderemos como se deu este processo.<br />
2 – Ciências<br />
2.1. Problemas da vida<br />
No dia a dia, nos deparamos com problemas. Alguns são simples e a solução <strong>que</strong><br />
lhe arranjamos é, quase sempre, um automático “ir vivendo” – continuamos o nosso<br />
embate com as circunstâncias, e o tempo se encarrega de preencher as lacunas, sem<br />
muito alarde. Por outro lado e infelizmente, também nos deparamos com problemas<br />
complexos, faltam-nos palavras, a razão turva, alguns, recorrem ao místico para<br />
conseguirem a necessária tranqüilidade para continuarem a viver. Portanto, há uma<br />
classe especial de <strong>que</strong>stões, relacionadas, sempre, àquilo <strong>que</strong> interfere com o nosso<br />
estar no mundo – os objetos, as pessoas a natureza <strong>que</strong> nos rodeiam. O <strong>que</strong> é isto tudo?<br />
Aliás, o <strong>que</strong> sou eu? Isto é, o <strong>que</strong> eu significo, perante e inserido nisto tudo? Como tudo<br />
se comporta, funciona? E, como devo me comportar perante as coisas e o mundo? Por<br />
<strong>que</strong> se dá isto e não aquilo? De <strong>que</strong> modo explicar este ou a<strong>que</strong>le fenômeno,<br />
acontecimento? Eis algumas das perguntas <strong>que</strong> fazemos a respeito do <strong>que</strong> nos cerca. As<br />
explicações nos ajudam a fazer o ajuste com as coisas, gerando o mundo e a cultura em<br />
<strong>que</strong> viveremos, ou seja, enquanto vivos, continuaremos a interferir na realidade, recriando<br />
o passado, criando o presente e procriando o futuro.
Dado o exposto, iniciaremos com um exemplo bem simples: Imaginem uma<br />
criança, <strong>que</strong> tenha se perdido, em um passeio num grande par<strong>que</strong> ou reserva florestal,<br />
afastado de qual<strong>que</strong>r cidade. Entretanto, encontra uma cabana, algumas reservas de<br />
alimento e decide permanecer no local até <strong>que</strong> a encontrem. Quando a noite se aproxima,<br />
o frio se assevera, a criança então, resolve colher material para fazer uma fogueira. Sai à<br />
cata trazendo para sua cabana vários objetos, logo constata <strong>que</strong> alguns <strong>que</strong>imam e<br />
outros não. Organiza as informações apreendidas em forma de lista:<br />
a) Queimam: cabos de vassoura, pernas de mesa, galhos de arvores;<br />
b) Não <strong>que</strong>imam: pedras, frutas, ferro, tijolos.<br />
A lista lhe é útil na medida em <strong>que</strong> permite coletar o material desejado. Rareando<br />
os galhos e os cabos de vassouras, a criança tenta encontrar algum padrão, algo<br />
regular na sua lista, algo <strong>que</strong> seja capaz de orientá-la na busca de novos materiais<br />
para a fogueira. Comparando os objetos, reunindo-os em um conjunto, conclui<br />
<strong>que</strong>:<br />
todos os objetos cilíndricos <strong>que</strong>imam,<br />
portanto,<br />
para todo x (se x é cilíndrico, x se <strong>que</strong>ima).<br />
Novamente, atrás de objetos, orientado por sua lista, recolhe uma velha<br />
bengala e alguns tocos de lápis, avista também uma corrente enferrujada e uma porta<br />
velha de madeira, reflete <strong>que</strong> não há motivos para carregá-los já <strong>que</strong> não atendem ao prérequisito<br />
da lista: ser cilíndrico. Numa outra empreitada, a criança volta com três latas<br />
vazias, um eixo de ferro e algumas garrafas, deixando de recolher a porta e um caixa de<br />
papelão. Após inúmeras tentativas, a noite, como se trata de uma criança esperta, chega<br />
as seguintes conclusões:<br />
a) a forma cilíndrica não tem grande relação com a inflamabilidade (<strong>que</strong>imar);<br />
b) ainda <strong>que</strong> a “generalização cilíndrica” não seja de grande utilidade, é fato <strong>que</strong><br />
os galhos, a bengala e os lápis <strong>que</strong>imam;<br />
E é possível <strong>que</strong> a criança, refletindo, comparando, observando os novos montes<br />
de objetos, conclua, devido à experimentação, <strong>que</strong>:<br />
para todo x (se é de madeira, x <strong>que</strong>ima),<br />
o <strong>que</strong> representaria uma solução mais feliz <strong>que</strong> a anterior. Esta nova solução levaria a<br />
criança a arrastar a velha porta, antes ignorada, e afastar o caixote de papelão, alguns<br />
cadernos, alguns trapos e tapetes surrados. Por acaso, ou por necessidade, a criança<br />
poderia constatar <strong>que</strong> roupas e papeis também são inflamáveis. Isso a levaria a uma nova<br />
generalização, o processo pode se repetir muitas vezes 1 ...<br />
Percebemos <strong>que</strong> cada generalização se presta a explicar certas coisas (“este<br />
objeto <strong>que</strong>ima por<strong>que</strong> é cilíndrico”) e permitem lançar algumas deduções, (“este objeto<br />
deve <strong>que</strong>imar por<strong>que</strong> é de madeira”). Observando, organizando, experimentando, intuindo<br />
e deduzindo, a criança se movimenta em seu contexto e resolve a <strong>que</strong>stão <strong>que</strong> o<br />
1 Exemplo adaptado do original de G. C. PIMENTEL, Chemistry - Chemical Education Material Study, San<br />
Francisco. Editora W. H. Freeman & Co., 1960.
preocupa (colher material inflamável para a fogueira), ajustando-se ao meio, ajustando o<br />
meio e até o controlando.<br />
Assim, provavelmente, nossos antepassados criaram o mundo em <strong>que</strong> estamos.<br />
Através de sentenças declarativas (<strong>que</strong> declaram alguma coisa sobre algo) <strong>que</strong> tratam<br />
das coisas e de suas propriedades e das relações <strong>que</strong> elas mantém entre si e com o<br />
mundo, transmitiram estas informações acerca do contexto no qual viviam, pela<br />
linguagem (simbologia <strong>que</strong> sintetiza a experiência vivida). Isto é, o homem transmite – por<br />
meio da linguagem, de geração em geração, suas experiências, suas vivencias fazendo<br />
surgir a cultura, <strong>que</strong>, por sua vez é transmitida pela escola, pelos livros, e formam uma<br />
intrincada rede em <strong>que</strong> somos apanhados, mesmo antes de termos uma clara consciência<br />
do <strong>que</strong> está acontecendo.<br />
Bem, de acordo com o exemplo acima, podemos colher alguns dos procedimentos<br />
mais utilizados nas ciências naturais e por conseqüência nas ciências sociais:<br />
Observação, organização, separação, classificação, experimentação, dedução, etc.<br />
Vamos entender, então, como funcionam estes procedimentos para a explicação de<br />
algum fenômeno (acontecimento ou experimento), seja físico ou social.<br />
2.2 – Do bom senso a ciência.<br />
<strong>Na</strong>s circunstâncias descritas o homem vai vivendo. As coisas, os objetos têm o<br />
status <strong>que</strong> o bom senso lhes atribui – entenda-se bom senso ao discurso ordinário (do dia<br />
a dia). Cada objeto, aparece como se fosse isolado do rol das coisas, possui um nome,<br />
um rótulo, ocupa um lugar no espaço e no tempo (o <strong>que</strong> nos permite concluir <strong>que</strong> esta<br />
árvore florida é a “mesma” <strong>que</strong> víamos, quase seca e sem folhas, no outono passado),<br />
mesmo diferente, o identificamos por meio de certas características <strong>que</strong> costumamos<br />
atribuir-lhe. Não duvidamos desse status, já <strong>que</strong> para a vida comum é indispensável<br />
confiar, em certa medida, no <strong>que</strong> diz o bom senso. Portanto, o bom senso é o guia<br />
utilizado pelo homem comum na resolução de seus problemas. À medida <strong>que</strong> os<br />
problemas se sucedem, as investigações se tornam mais minuciosas. Exigindo respostas<br />
satisfatórias para as <strong>que</strong>stões <strong>que</strong> o preocupam, o homem altera os dados da experiência<br />
vulgar. Da mesma forma pela qual o escultor, a partir do mármore, chega à estátua <strong>que</strong>,<br />
sem deixar de ser mármore, é fruto de sua inventividade, a ciência principia acomodada<br />
ao bom senso, mas termina acomodando-se às suas invenções. Criticando o saber <strong>que</strong> o<br />
bom senso proporciona, modelando-o, reformulando-o, refletindo, atinge-se o saber<br />
denominado saber cientifico. O método cientifico, em relação aos objetos da experiência<br />
ordinária, impõe certa ordem, classificando, descrevendo, medindo, explicando. Parte-se<br />
de alguns dados comuns (uma vez <strong>que</strong> é impraticável partir do nada) e se elabora esse<br />
núcleo inicial de informações até <strong>que</strong> explicações satisfatórias sejam obtidas. Aquilo <strong>que</strong><br />
nos preocupa fica, desse modo, resolvido. A solução, provisória, submete-se a novas<br />
críticas e o progresso resulta de análises de explicações inadequadas, em busca de<br />
soluções sucessivamente mais satisfatórias. Exceções, fatos “anômalos” ou singulares e<br />
falhas são apontados. Uma nova proposta surge, contornando as deficiências da anterior<br />
e condensando os resultados obtidos. O processo se repete, interminavelmente, no<br />
anseio de dar à circunstância um aspecto ordenado e “compreensível”. Assim, muitas<br />
ciências nasceram das preocupações diárias do homem. A geometria, como se sabe,<br />
surgiu de <strong>que</strong>stões práticas, relacionadas com a mensuração de terras. A biologia<br />
também deve muito às preocupações ordinárias com a saúde e a reprodução, etc.<br />
Podemos dizer, então, <strong>que</strong> entre os muitos fatores <strong>que</strong> estimularam e sustentaram<br />
a investigação científica ao longo de sua larga história, figuram duas preocupações<br />
permanentes, <strong>que</strong> se constituíram nos motivos mais importantes para <strong>que</strong> o homem se<br />
desse a esforços no campo da Ciência. Um deles é de caráter prático: o Homem procura,
constantemente, melhorar a posição estratégica em <strong>que</strong> se situa face ao mundo onde vive<br />
e, para tanto, busca encontrar meios eficazes de prever o curso dos acontecimentos <strong>que</strong><br />
têm lugar à sua volta e, sempre <strong>que</strong> possível, tenta controlá-los para disso retirar proveito.<br />
Quão bem sucedida, tem sido a pesquisa na perseguição desse objetivo, é evidenciado<br />
pelo campo vasto e continuamente crescente das aplicações tecnológicas, tanto<br />
construtivas como destrutivas, <strong>que</strong> imprimiram seu selo característico em todos os<br />
aspectos da civilização contemporânea.<br />
A segunda motivação básica para a investigação científica em <strong>que</strong> o homem se<br />
empenha, não envolve preocupações de ordem prática: reside simplesmente em sua<br />
curiosidade intelectual, em seu desejo profundo e persistente de chegar a conhecer e<br />
compreender o mundo <strong>que</strong> habita. Tão forte é essa necessidade de conhecimento e<br />
compreensão <strong>que</strong>, na ausência de informação factual adequada, mitos são<br />
freqüentemente invocados para responder perguntas acerca do Que e do Porquê das<br />
coisas, dos fenômenos empíricos. Gradualmente, como <strong>vimos</strong>, esses mitos cedem<br />
lugares a conceitos e teorias <strong>que</strong> surgem como frutos de pesquisa científica, no campo<br />
das Ciências <strong>Na</strong>turais, assim como na psicologia e nas disciplinas históricas e<br />
sociológicas.<br />
Qual a natureza, das explicações <strong>que</strong> a ciência, nesse sentido amplo, pode<br />
oferecer-nos e <strong>que</strong> espécie de compreensão do mundo fornecem elas? Estes são os<br />
assuntos <strong>que</strong> serão desenvolvidos em nossas próximas <strong>aula</strong>s.<br />
Filosofando (tarefa complementar) 2<br />
1) Quais são os procedimentos “científicos” <strong>que</strong> podemos retirar do exemplo<br />
dado no item - ‘2.1. Problemas da vida’?<br />
2) Baseado ainda no mesmo exemplo da <strong>que</strong>stão anterior, descreva uma<br />
situação similar, onde utilizamos alguns dos procedimentos citados.<br />
3) Descreva como passamos do bom senso a ciência.<br />
4) Quais são os principais fatores <strong>que</strong> estimulam o homem à investigação<br />
científica?<br />
5) Leia o texto com rigor:<br />
“Todos os homens, por natureza, desejam conhecer. Sinal disso é o prazer <strong>que</strong> nos<br />
proporcionam os nossos sentidos; pois, ainda <strong>que</strong> não levemos em conta a sua utilidade, são<br />
estimados por si mesmos, (...)<br />
Por outro lado, não identificamos nenhum dos sentidos com a Sabedoria, se bem <strong>que</strong> eles<br />
nos proporcionem o conhecimento mais fidedigno do particular. Não nos dizem, contudo, o porquê<br />
de coisa alguma – p.ex., por <strong>que</strong> o fogo é <strong>que</strong>nte: só nos dizem <strong>que</strong> o fogo é <strong>que</strong>nte.<br />
(...)Com efeito, <strong>foi</strong> pela admiração <strong>que</strong> os homens, assim hoje como no começo, foram<br />
levados a filosofar; perplexos, de início, ante as dificuldades mais óbvias, avançaram pouco a<br />
pouco até resolverem problemas maiores, como as mudanças da Lua, as do sol e das estrelas,<br />
assim como a gênese do universo 3 ”.<br />
a) Relacione a citação acima com nossa <strong>aula</strong>, principalmente com os fatores<br />
<strong>que</strong> estimulam os seres humanos, a investigar o mundo de modo rigoroso e<br />
metódico, isto é, cientificamente. Disserte a respeito.<br />
2 A tarefa complementar visa aprofundar o entendimento do aluno acerca da <strong>aula</strong>. Não é obrigatória e<br />
nem vale nota. O aluno <strong>que</strong> quiser resolvê-la fará por vontade própria e poderá discutir suas respostas<br />
com o professor pessoalmente nos plantões de dúvidas de sua unidade. Portanto, as respostas não<br />
devem ser enviadas virtualmente, mas, sim discutidas presencialmente. Logo, o aluno <strong>que</strong> se propor a<br />
fazê-la deverá ter disponibilidade para freqüentar os plantões.<br />
3 Aristóteles, Metafísica, Porto Alegre, Globo, 1969, Livro I 980a – 982b25.