Juca Brasileiro na Amazônia
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<strong>Juca</strong> <strong>Brasileiro</strong> <strong>na</strong> <strong>Amazônia</strong><br />
Patrícia Engel Secco<br />
Ilustrações<br />
Edu A. Engel
<strong>Juca</strong> <strong>Brasileiro</strong> <strong>na</strong> <strong>Amazônia</strong><br />
Patrícia Engel Secco<br />
Ilustrações<br />
Edu A. Engel<br />
Projeto Gráfico & Editoração<br />
Lili Tedde<br />
Revisão<br />
Frank de Oliveira<br />
Coorde<strong>na</strong>ção Editorial<br />
Secco Assessoria Empresarial<br />
Concepção e Realização<br />
Patrícia Engel Secco<br />
20.000 exemplares<br />
Editora Boa Companhia<br />
www.projetofeliz.com.br<br />
<strong>Juca</strong> <strong>Brasileiro</strong> <strong>na</strong> <strong>Amazônia</strong><br />
Patrícia Engel Secco<br />
Ilustrações<br />
Edu A. Engel
O Diário de Lica Recicla<br />
Oi, galera!<br />
Eu sou a Lica, a melhor e mais querida amiga do <strong>Juca</strong> <strong>Brasileiro</strong>... E a mais modesta<br />
também, como você já deve ter percebido! Mas você sabe quem é o <strong>Juca</strong>?<br />
Bem, ele é um menino completamente maluco pelo Brasil, e eu sou completamente<br />
maluca por ele (o que é um segredo de estado, pois o <strong>Juca</strong> nem sonha com isso!). Eu<br />
sou a meni<strong>na</strong> mais apaixo<strong>na</strong>da pelo meio ambiente que existe e, se você pensou que<br />
eu também me preocupo com reciclagem, acertou! Gosto tanto de descobrir<br />
maneiras e mais maneiras de reutilizar e reciclar tudo o que as<br />
pessoas normalmente jogam fora que meus amigos até<br />
arranjaram um apelido muito maneiro para mim:<br />
Lica Recicla.<br />
E já que eu estou falando dos meus<br />
amigos, acho legal dizer que eles são<br />
todos pra lá de especiais – cada<br />
um com seus interesses,<br />
mas todos ligados em<br />
<strong>na</strong>tureza, leitura, cul-<br />
tura e muitas outras<br />
coisas baca<strong>na</strong>s. Isso<br />
só mostra que a<br />
nossa trupe é<br />
engajada,<br />
informada e descolada (ainda bem que avisei sobre a modéstia logo<br />
no começo!!!).<br />
Pois é... Sempre que a galera arranja um tempo livre rola uma<br />
aventura legal: nós já viajamos até a <strong>na</strong>scente do rio Tietê, um<br />
rio muito sujo que cruza a cidade de São Paulo, mas que <strong>na</strong>sce<br />
limpinho da silva xavier lá <strong>na</strong> cidade de Salesópolis; já fizemos uma<br />
caminhada pela serra do Mar e acabamos descobrindo uma aldeia<br />
de pescadores muito especial, bem no meio da Mata Atlântica; já<br />
passeamos pelo canyon do Itaimbezinho, lá em Santa Catari<strong>na</strong>,<br />
um lugar lindo e cheio de histórias para contar; e até fizemos uma<br />
viagem pela <strong>Amazônia</strong>, a região mais bonita do planeta (<strong>na</strong> minha<br />
opinião).<br />
Tá certo que a viagem pela <strong>Amazônia</strong> foi um pouquinho cansa-<br />
tiva, mas, com a ajuda do Marco Mateiro, nosso graaaaaande guia e<br />
amigo querido, conhecemos lugares tão interessantes e bonitos que até<br />
parecem um sonho. Mas eles são a mais pura realidade do nosso Brasil,<br />
uma terra pra lá de colorida e com uma diversidade sem igual!<br />
Nossa! Tô até falando como o <strong>Juca</strong>!<br />
Bom, mas eu contei tudo isso porque essa nossa aventura foi tão<br />
irada que só mesmo deixando você ler o meu diário para entender<br />
melhor...<br />
Mas olha lá, hein! Se alguém ousar contar para o <strong>Juca</strong> os meus<br />
comentários mais pessoais, eu vou virar bicho! Aliás, eu vou é virar<br />
onça, onça-pintada, igualzinha à que nós encontramos pertinho do<br />
rio Negro...<br />
Só que essa é outra história que você vai conhecer daqui a<br />
pouco. Por enquanto, é só dar uma lidinha no meu livro secreto<br />
e... manter o bico calado, tá?
Sexta-feira, 8 horas da noite, depois do jantar<br />
Oba! Hoje foi o último dia de aula e amanhã começam as FÉRIAS!<br />
Ah! Como eu adoro quando chegam as férias!<br />
Nem dá pra acreditar que amanhã eu vou poder acordar <strong>na</strong> hora que eu quiser...<br />
e o melhor de tudo: decidir se vou passar o dia inteirinho sem fazer <strong>na</strong>dica de <strong>na</strong>da<br />
ou se vou jogar vôlei com a galera, tomar um sorvete <strong>na</strong> padoca do Seu Joaquim ou,<br />
ainda, fazer uma visita surpresa para o <strong>Juca</strong>.<br />
Bom, como amanhã não vai me faltar tempo para decidir, o melhor a fazer agora<br />
é deixar a caneta bem aqui em cima desse diário novinho que eu acabei de ganhar da<br />
minha mãe e atender a campainha que não pára de tocar e já está me deixando louca!<br />
Sexta-feira, 10 horas da noite, após um longo e animado papo com o meu<br />
herói<br />
Caramba!<br />
Nunquinha que eu iria adivinhar que era o <strong>Juca</strong> <strong>Brasileiro</strong>, bem aqui, <strong>na</strong> porta<br />
da minha casa!!! Ainda bem que fui atender logo a campainha – imagine só, deixar<br />
o meu herói esperando!<br />
E sabe o que ele queria?<br />
Queria me convidar para uma viagem que a galera vai fazer para a <strong>Amazônia</strong>!<br />
Imagine só! <strong>Amazônia</strong>!<br />
Eu disse que ele podia contar comigo... Afi<strong>na</strong>l, sempre sonhei em conhecer a mais<br />
linda, exuberante e famosa floresta tropical do mundo!!!<br />
Poxa, não vejo a hora de viajarmos! Mas quando a gente vai partir? Ih! Fiquei tão<br />
emocio<strong>na</strong>da que esqueci de perguntar!<br />
Não faz mal, <strong>na</strong>da que eu não possa resolver amanhã. Vou até regular o desper-<br />
tador para me acordar bem cedo... Aí eu vou correndo conversar com o <strong>Juca</strong>!<br />
Boa noite, diário.<br />
4
Sábado, 1 da madrugada, depois<br />
de me virar mais de mil vezes <strong>na</strong><br />
cama<br />
Não tem jeito! Eu me sinto tão<br />
ansiosa por causa dessa viagem que<br />
não consigo dormir... Estou com os<br />
olhos arregalados, olhando para o<br />
teto o tempo todo! Quer dizer, estava!<br />
Acabei de decidir que vou levantar e<br />
começar, agorinha mesmo, uma bela<br />
pesquisa sobre tudo que existe <strong>na</strong><br />
<strong>Amazônia</strong>. Assim, amanhã, quando for<br />
me encontrar com a turma, já vou ter<br />
muita coisa para contar!<br />
Sábado, 3 da madrugada, sentada <strong>na</strong><br />
minha escrivaninha<br />
I<strong>na</strong>creditável! Incrível! Inimaginável!<br />
Eu nunca poderia imagi<strong>na</strong>r que <strong>na</strong> <strong>Amazônia</strong><br />
vivem cerca de ¼ de todas as espécies de seres vivos<br />
do planeta Terra! Isso é simplesmente fantástico!!! E sabe<br />
do que mais?<br />
Acho até que essa viagem vai ser muito mais do que inte-<br />
ressante, pois, se existem mesmo tantos animais por lá, tenho<br />
quase certeza de que vou descobrir algum bem interessante.<br />
Talvez uma formiga que coma borracha de pneu de caminhão,<br />
um besouro descobridor de latas de alumínio em lixões ou até<br />
mesmo uma minhoca capaz de desintegrar plástico...<br />
Bem, mas já é muito tarde, e por hoje chega de pes-<br />
quisa. O melhor a fazer é<br />
dormir e sonhar com as<br />
minhas futuras desco-<br />
bertas... E com o <strong>Juca</strong>...
Sábado, 7:30 da manhã, antes mesmo de levantar<br />
Ai, ai, ai...<br />
Eu me esqueci de desligar o despertador!<br />
Bem feito! Também, quem mandou eu ficar acordada feito<br />
coruja quase a noite toda!<br />
Agora o negócio é lavar o rosto e abrir a janela... Sei muito bem<br />
que hoje o dia vai ser cheio, pois precisamos começar a preparar<br />
a viagem!<br />
Eu fiquei sem dormir, mas bem que a minha pesquisa valeu a<br />
pe<strong>na</strong>. Sabe, até sonhei com o tal inseto comedor de borracha!<br />
Eu sei que foi ape<strong>na</strong>s um sonho. Porém, como daqui a pouco<br />
eu vou até a casa do <strong>Juca</strong>, acho que vou é aproveitar e pedir para<br />
que ele me fale um pouco sobre a borracha <strong>na</strong> <strong>Amazônia</strong>.<br />
Ainda outro dia ele estava dizendo que no fi<strong>na</strong>l do século<br />
XIX as seringueiras daquela região chamavam a atenção de<br />
todo o mundo. Ele me contou que delas era extraído o látex,<br />
justamente para fabricação da borracha... E como a reci-<br />
clagem da borracha é um assunto pelo qual me interesso<br />
muito, vou ver o que ele pode me dizer a respeito!<br />
Pois é, então, já que o dia promete...<br />
– S’imbora, Lica! Levanta!<br />
Sábado, 8:30 da noite, sentada <strong>na</strong> cama, muito,<br />
muito animada<br />
Nossa, que dia!<br />
Assim que eu cheguei à casa do <strong>Juca</strong>, pedi a ele que<br />
me contasse um pouquinho mais sobre a borracha <strong>na</strong><br />
<strong>Amazônia</strong>. Bem, ele é tão gracinha que <strong>na</strong> mesma hora<br />
pegou um livro gigante <strong>na</strong> prateleira e me mostrou muitas<br />
8<br />
coisas interessantes... O livro, bem antigo, contava detalhadamente muitos fatos<br />
do ciclo da borracha. Dessa forma, fiquei sabendo que, por volta de 1890, Ma<strong>na</strong>us,<br />
capital do estado do Amazo<strong>na</strong>s, era o porto mais rico de todo o Brasil!<br />
Outra coisa muito legal que eu e o <strong>Juca</strong> descobrimos foi que a exploração da<br />
borracha não utilizava trabalho escravo. Dessa maneira, trabalhadores de outras<br />
regiões do país e até mesmo de muitas outras <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lidades, principalmente<br />
europeus, vieram para a <strong>Amazônia</strong>. Pelo que vimos <strong>na</strong>s fotografias, até mesmo<br />
os prédios construídos <strong>na</strong> época tinham ares de outro país.<br />
Bem quando estávamos no meio da nossa viagem no tempo e no espaço,<br />
chegaram os outros meninos. Pelo que pude perceber, diário querido, eles<br />
também estavam superansiosos, talvez até mais do que eu.<br />
O Zé Golfinho não parava de falar nem sequer por um instante que<br />
ele iria para o santuário mundial da água doce, enquanto o Edu<br />
Guará ficava o tempo todo dizendo que estava a um dia<br />
de viajar para uma região onde uma única<br />
árvore pode abrigar até 2 mil espé-<br />
cies de animais diferentes! O Marco<br />
Mateiro também não parou quieto<br />
por um só minuto, mas, como ele<br />
é o nosso guia, achamos melhor<br />
ouvir direitinho tudo o que ele<br />
tinha para falar...<br />
Bem, diário, você já<br />
deve ter percebido que a<br />
viagem é amanhã. E,<br />
como eu ainda não<br />
arrumei <strong>na</strong>da, é<br />
melhor me des-<br />
pedir de você.<br />
Até mais!
Domingo, 10 da noite, em Ma<strong>na</strong>us, no meu quarto<br />
<strong>na</strong> casa da Do<strong>na</strong> Aparecida<br />
Diário querido, é i<strong>na</strong>creditável, mas nós che-<br />
gamos!<br />
Estamos hospedados <strong>na</strong> casa de uma tia do<br />
Marco Mateiro, a Do<strong>na</strong> Aparecida. Ela é uma<br />
senhora muito simpática e, assim que soube da<br />
nossa viagem, fez questão de oferecer sua casa<br />
aqui em Ma<strong>na</strong>us... Muito bom, bom demais, não é?<br />
Mas preciso lhe contar uma coisa, diário:<br />
estou tão cansada que vou dormir como um<br />
anjo! Essa viagem me deixou moída... Como já<br />
é meio tarde, vou me deitar. Afi<strong>na</strong>l, o dia amanhã<br />
vai começar cedo e nós vamos fazer um belo<br />
passeio de barco...<br />
Só que, antes, é melhor dar um pulinho <strong>na</strong><br />
sala para dizer boa noite!<br />
Domingo, 11:45 da noite, novamente no meu<br />
quarto<br />
Nossa, que pulinho mais demorado! Já são quase<br />
meia-noite e eu estou aqui, de olhos bem abertos!<br />
Acontece que fui dizer boa-noite para a<br />
galera da família do Marco e, quando cheguei à sala, não encontrei<br />
ninguém. Estavam todos conversando <strong>na</strong> varanda, apreciando a<br />
noite e olhando para o rio... A Lua, muito linda, se refletia <strong>na</strong>s<br />
águas do rio Negro, e a noite estava especial para contar his-<br />
tórias. Foi por essa razão que a Do<strong>na</strong> Aparecida começou a falar<br />
do boto.<br />
Só para que você entenda melhor, diário, o boto é um tipo de gol-<br />
finho que vive aqui <strong>na</strong> <strong>Amazônia</strong>. Entretanto, <strong>na</strong>s noites de Lua cheia,<br />
exatamente como a noite de hoje, ele sai das águas transformado em<br />
moço <strong>na</strong>morador e vai procurar as meni<strong>na</strong>s solteiras da cidade. Resultado, o<br />
boto acaba fazendo com que muita gente se apaixone por ele. Dizem que é<br />
muito difícil descobrir quando o moço é um boto, mas, se ele estiver usando<br />
chapéu, devemos desconfiar! A Do<strong>na</strong> Aparecida explicou que o chapéu dele serve<br />
para esconder o furinho <strong>na</strong> cabeça que ele usa para respirar quando está <strong>na</strong><br />
água.<br />
Pois é, o papo estava tão bom que nós ficamos por ali, sentados <strong>na</strong>s redes, olhan-<br />
do o rio... Acho que estávamos todos querendo ver se o tal boto aparecia, mas, no<br />
fi<strong>na</strong>l, só vimos mesmo o primo dele, o Zé Golfinho!<br />
O tio do Marco, Seu Olegário, olhou muito preocupado para mim e disse para<br />
eu tomar cuidado enquanto estivesse viajando por aqueles lados. Porém,<br />
pensando bem, eu nem preciso, não é, diário? Você e eu sabemos que o<br />
meu coração já tem dono...<br />
Boa noite!
Segunda-feira, 7 da manhã, prontinha para sair<br />
Ai! Que emoção... Daqui a pouco vamos pegar um barco e seguir pelo<br />
rio Negro até o lugar onde ele encontra o rio Solimões.<br />
Não sei se você sabe, diário, mas as águas do rio Solimões, que vêm<br />
lá dos Andes, são esbranquiçadas, e as do rio Negro são muito, muito<br />
escuras (até o nome já diz, não é?). Os dois rios se encontram aqui bem<br />
pertinho de Ma<strong>na</strong>us e, juntos, formam o rio Amazo<strong>na</strong>s. É justamente<br />
nessa hora que acontece uma coisa incrível: os dois rios se unem, mas<br />
as águas não se misturam imediatamente, e nós podemos ver a divisão<br />
das águas, uma clara e a outra escura, por quase 12 quilômetros! Não<br />
é demais?<br />
Ah! Tenho certeza de que esse passeio vai ser superinteressante<br />
e de que o Zé Golfinho e o <strong>Juca</strong> vão pirar, adorar! O Zé Golfinho vai<br />
explicar que as águas não se misturam porque um rio é muito mais<br />
rápido, frio e profundo do que o outro. Ele também vai dizer que o rio<br />
Solimões é mais denso e que no fi<strong>na</strong>l o que acontece é que o rio Negro<br />
acaba correndo por cima dele, assim como se um rio fosse de vi<strong>na</strong>gre<br />
e o outro de azeite. E tem mais: sei que ele também vai contar que as<br />
águas dos rios só vão se misturar completamente 100 quilômetros<br />
depois do encontro!<br />
Pois é, mas eu preciso esclarecer que só sei tudo isso porque o<br />
Zé Golfinho já contou, recontou e repetiu a mesma história, expli-<br />
cando tudo nos mínimos detalhes, pelo menos umas 20 vezes<br />
durante o café da manhã. E como eu conheço muito bem<br />
o Zé, tenho certeza de que ele vai contar tudo de novo, e<br />
de novo, e de novo!<br />
Agora, o <strong>Juca</strong>... Esse, sim, é que vai ficar perdidaço<br />
da silva em meio a tantas riquezas <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is! Sabe, diário, eu acho<br />
que é justamente aqui, <strong>na</strong> <strong>Amazônia</strong>, o lugar do Brasil onde se pode<br />
encontrar mais e mais riquezas... O que você acha?<br />
Segunda-feira, 8 da noite, prontinha para dormir<br />
Diário querido, o dia hoje foi simplesmente i<strong>na</strong>creditável!<br />
Como eu já tinha adivinhado, o Zé Golfinho não ficou<br />
quieto nem por um só segundo e passou o tempo inteiro<br />
falando da importância da água para a existência da vida.<br />
Ele disse que, apesar de todo mundo pensar que<br />
o planeta Terra tem tanta água que deveria se chamar<br />
planeta Água, a história não é bem essa: de toda água<br />
existente no mundo ape<strong>na</strong>s 3% é água doce, e desse total<br />
somente 1/3 não está congelada. Como é exatamente de<br />
água doce que as plantas, animais e seres humanos precisam<br />
para viver, eu diria que todos nós deveríamos ser como o Zé<br />
Golfinho e cuidar muito bem da água do planeta!<br />
Bem, mas o mais maneiro de tudo foi que ele contou isso<br />
enquanto nós <strong>na</strong>vegávamos pelo rio Amazo<strong>na</strong>s, o maior rio em<br />
volume de água do planeta! Não é realmente uma das coisas<br />
mais malucas para se pensar?<br />
Pois é! Mas agora eu acho que preciso descansar.<br />
Afi<strong>na</strong>l de contas, desde que comecei a pensar nessa<br />
viagem, não durmo direito... E meus olhinhos já estão<br />
fechando!<br />
Boa noite.<br />
12 13
Terça-feira, 8 da noite, encantada<br />
Que maravilha! Depois de dormir como um anjo, acordei bem cedo<br />
e fomos direto visitar alguns parques aqui mesmo <strong>na</strong> cidade de Ma<strong>na</strong>us. É<br />
incrível como uma única região pode abrigar tamanha diversidade!<br />
Nesse parque conhecemos um macaquinho ameaçado de extinção<br />
muito engraçado, chamado sauim-de-coleira. Ele é tão bonitinho que<br />
dá até vontade de levar para casa!<br />
Só que, assim que eu fiz esse comentário (que era só um<br />
comentário, não uma intenção), levei uma enorme bronca do Edu<br />
Guará. Ele disse que o lugar dos animais silvestres era <strong>na</strong> mata e<br />
que, além de tudo, o sauim-de-colera só existe por aqui, <strong>na</strong> região<br />
de Ma<strong>na</strong>us!<br />
Além do macaquinho lindo e fofo, eu pude observar de perto<br />
uma samaumeira, a maior árvore que eu já vi. Pois é, nem preciso<br />
dizer que fiquei simplesmente encantada com ela, que me pareceu a<br />
árvore ideal para ser morada dos meus insetos recicladores!<br />
Sabe, diário, apesar de ter procurado, não encontrei nenhum<br />
14<br />
inseto que parecesse se alimentar de borracha, mas apren-<br />
di com o <strong>Juca</strong> uma lenda linda sobre a samaumeira, tão<br />
linda que eu vou contar para você:<br />
“Era uma época em que não havia dia e a escuridão<br />
tomava conta do mundo. Dois meninos índios, cansados<br />
de viver sem luz, decidiram subir <strong>na</strong> árvore mais alta<br />
da região para ver o que havia lá em cima e, para sua<br />
surpresa, descobriram que era justamente a árvore que<br />
tapava o sol. Espalharam a descoberta por todo o seu<br />
povo e, trabalhando juntos e sem descansar, derrubaram<br />
a frondosa árvore. Entretanto, como a árvore só estava<br />
ali para proteger os índios, decidiu se transformar em rio<br />
assim que tocou o chão: seus troncos viraram o rio Amazo<strong>na</strong>s<br />
e seus galhos passaram a ser seus afluentes, que continuam<br />
até hoje a fornecer água, alimento e proteção aos índios”.<br />
Ai, esse <strong>Juca</strong>...<br />
15
Quarta-feira, 6 da manhã. Vamos viajar de voadeira, oba!!!<br />
Querido diário, hoje o dia vai ser maravilhoso, pois nós vamos passear de canoa...<br />
Canoa não, voadeira, que são aquelas canoas de alumínio bem compridas, com um<br />
motor bem rápido e barulhento atrás!<br />
Vai ser muito divertido, mas, como estão todos <strong>na</strong> sala me chamando, acho melhor<br />
eu dizer tchau, tchau.
Quarta-feira, quase noite, <strong>na</strong> varanda da Do<strong>na</strong> Aparecida,<br />
vendo o pôr-do-sol mais lindo do mundo<br />
Não dá nem para acreditar no pôr-do-sol que eu estou vendo<br />
daqui: o céu está todinho pintado das cores mais incríveis que<br />
você pode imagi<strong>na</strong>r: laranja, azul, amarelo, vermelho... É uma<br />
imagem tão linda que só mesmo uma boa fotografia para<br />
mostrar o que eu não estou conseguindo expressar... Então,<br />
não se preocupe, eu já tirei um montão de fotos e prometo<br />
que vou colar uma bem bonita aqui <strong>na</strong>s suas pági<strong>na</strong>s, junti-<br />
nho com a foto da onça-pintada que nós vimos hoje!<br />
Aliás, deixa eu contar logo sobre a onça...<br />
Nós estávamos passeando de voadeira (com o motor<br />
desligado, claro) por um igarapé, que é um caminho de<br />
rio formado por entre as florestas inundadas, quando o<br />
Tonico, nosso barqueiro, ficou quieto, apreensivo. Acho<br />
que o Marco também percebeu algo, pois pediu silêncio <strong>na</strong><br />
mesma hora. Ficamos bem quietinhos, e acho que até os<br />
outros animais também resolveram colaborar, pois, durante<br />
uns poucos minutos, tive a sensação de que a mata estava<br />
completamente em silêncio.<br />
Ninguém sabia ao certo o que estava acontecendo<br />
até que o Tonico cutucou o Marco e disse baixinho que<br />
“ela” estava bem ali, do lado esquerdo do igarapé. Todos<br />
nós viramos a cabeça ao mesmo tempo e demos de cara<br />
com o animal mais lindo que eu já vi <strong>na</strong> minha vida,<br />
uma onça-pintada. Tá certo que ela desapareceu <strong>na</strong> mesma hora, mas eu até con-<br />
segui pegar a máqui<strong>na</strong> fotográfica e tirar duas fotos... Não sei se saíram boas,<br />
mas pelo menos a cauda, lá longe, eu consegui fotografar!<br />
O Edu Guará, que sabe tudo sobre os bichos, ficou encantado. Disse que<br />
tivemos a maior sorte do mundo, pois é muito difícil encontrar uma onça durante<br />
passeios <strong>na</strong> floresta. O Tonico concordou com ele e disse que era muito mais fácil<br />
encontrar uma sucuri, a maior cobra do mundo, do que uma onça... Eu, hein!<br />
Pra falar a verdade, eu bem que fiquei um pouco assustada com essa con-<br />
versa toda de bichos enormes e perigosos... E acho até que o <strong>Juca</strong> percebeu, pois<br />
<strong>na</strong> mesma hora começou a falar sobre o uirapuru, um pássaro cujo canto é tão<br />
bonito que, enquanto está cantando, todos os outros ficam quietos. Ele disse que<br />
o canto do uirapuru pode se prolongar por até 15 minutos e que é justamente<br />
durante o amanhecer e o entardecer que ele mais gosta de cantar.<br />
E como eu estou aqui <strong>na</strong> rede, assistindo a um lindo entardecer, o que<br />
poderia ser melhor agora do que ouvir o canto do uirapuru?<br />
Quarta-feira, 7 e meia da noite, no quarto, saltitante<br />
Diário, só vou escrever umas poucas frases:<br />
Melhor do que o canto do uirapuru ao entardecer é ouvir o canto do uira-<br />
puru <strong>na</strong> companhia do <strong>Juca</strong>. E foi justamente o que aconteceu hoje à<br />
tarde! O <strong>Juca</strong> apareceu <strong>na</strong> varanda, só para assistir ao pôr-do-sol ao<br />
meu lado. E logo em seguida nós ouvimos um canto longo, melodioso,<br />
muito bonito, como se fosse uma sinfonia...<br />
mundo!<br />
É, diário, acho que sou a garota mais sortuda do
Quinta-feira, 4 da tarde, após uma visita à cidade<br />
Depois de ler tanto sobre as construções maravilhosas de Ma<strong>na</strong>us, eu<br />
fi<strong>na</strong>lmente pude vê-las de perto, e fiquei encantada.<br />
O Teatro Amazo<strong>na</strong>s não podia ser mais bonito! O <strong>Juca</strong> amou seu telha-<br />
do verde-amarelo e chegou a dizer que todas as casas deviam ter telhas<br />
dessas cores, pode?<br />
Conhecemos também a Alfândega Municipal e o Largo da Matriz,<br />
com seu famoso relógio. Puxa, é até estranho pensar em como a vida<br />
por aqui mudou depois do ciclo da borracha...<br />
Não sei se eu cheguei a comentar, diário, mas por volta de<br />
1910 a borracha produzida <strong>na</strong> Malásia começou a fazer forte<br />
concorrência à brasileira, pondo fim a um exuberante ciclo de<br />
riqueza <strong>na</strong> região... O que não diminui, de forma alguma, a<br />
minha vontade de descobrir, exatamente por aqui, os insetos<br />
devoradores de borracha!<br />
Pois é, parece brincadeira, mas a reciclagem da<br />
borracha, principalmente dos pneus de borracha, tem<br />
sido objeto de pesquisa de muita gente. Hoje em dia os<br />
pneus usados podem ser transformados em tapetes<br />
para automóveis, cones de trânsito, protetores de<br />
estacio<strong>na</strong>mento. Eles podem ainda ser utilizados como combustível <strong>na</strong> indústria<br />
de cimento ou, ainda, moídos e misturados ao asfalto de estradas. Mas, assim<br />
como todas as pessoas ligadas à reciclagem, eu acho que muita coisa pode ser<br />
descoberta e, por essa razão, estou procurando os insetos.<br />
O Edu Guará, o Marco e até mesmo o <strong>Juca</strong> já disseram que isso é lou-<br />
cura e que eu não vou encontrar <strong>na</strong>dica de <strong>na</strong>da, nem mesmo uma única<br />
formiguinha que come borracha. Será?<br />
Sexta-feira. Despedida<br />
Hoje, nós vamos embora de Ma<strong>na</strong>us e só de pensar eu já<br />
fico muito triste. Vamos tomar um barco até Parintins, onde<br />
acontece o maior festival folclórico do país. O <strong>Juca</strong> não fala<br />
em outra coisa e já contou a história do boi Capricho-<br />
so e do boi Garantido muitas vezes, parece até o Zé<br />
Golfinho falando da água!<br />
Bem, mas depois eu conto mais sobre Parintins e<br />
sobre os bois, pois agora nós vamos todos nos despe-<br />
dir da Do<strong>na</strong> Aparecida e do Seu Olegário, que foram<br />
tão baca<strong>na</strong>s nos recebendo aqui em Ma<strong>na</strong>us.
Sábado, 10 da manhã, em Parintins, <strong>na</strong><br />
casa da família do Tonico<br />
Diário, não pude escrever antes, pois a<br />
viagem para Parintins foi tão bonita que eu<br />
não consegui desgrudar os olhos da paisagem.<br />
Chegamos aqui ontem à noite e<br />
fomos direto para a casa dos parentes<br />
do Tonico, o barqueiro lá de Ma<strong>na</strong>us. Ele<br />
conhece o Seu Olegário há muitos anos<br />
e, quando ouviu contar que nós viríamos<br />
até Parintins, ofereceu <strong>na</strong> mesma hora<br />
um lugar para ficarmos.<br />
A Do<strong>na</strong> Aparecida adorou a idéia,<br />
pois, segundo ela, “é sempre bom<br />
ter gente conhecida por perto para<br />
tomar conta das crianças”. Tá certo<br />
que ninguém por aqui é criancinha,<br />
mas todos nós gostamos muito do<br />
convite... Principalmente quando soubemos<br />
que a Do<strong>na</strong> Graça é a melhor<br />
quituteira da cidade!<br />
Olha, diário, não vá pensando que<br />
somos todos interesseiros, mas a comida<br />
da Do<strong>na</strong> Graça é realmente sensacio<strong>na</strong>l!<br />
Ontem mesmo já pudemos experimentar<br />
suas delícias: comemos um peixe muito<br />
gostoso, o pirarucu, assado com todo o<br />
carinho e temperado com alguns ingredientes<br />
especiais. E, de sobremesa, doce<br />
de cupuaçu, uma fruta com um gosto<br />
muito especial.<br />
Sábado, 9 da noite. Contação de história <strong>na</strong> cozinha<br />
Por aqui todo mundo diz que o melhor lugar da casa é a cozinha, e não há como<br />
duvidar disso. Agora mesmo estamos todos sentados aqui <strong>na</strong> cozinha da Do<strong>na</strong> Graça,<br />
ouvindo o <strong>Juca</strong> contar a história do boi pela milésima vez. Mas como hoje nós visitamos<br />
a cidade e pudemos ver que metade da população se veste de azul e torce para<br />
o boi Caprichoso enquanto a outra metade se veste de vermelho e torce para o boi<br />
Garantido, estamos todos prestando muita atenção no que o <strong>Juca</strong> diz... Quer conhecer<br />
a história?<br />
“A mãe Catiri<strong>na</strong> estava esperando um bebê e, como toda mulher grávida tem uns<br />
desejos diferentes, ela resolveu comer língua de boi. O pai Francisco, com medo de<br />
que seu bebê <strong>na</strong>scesse com cara de boca de vaca de língua melada, matou o melhor<br />
boi do rebanho do seu patrão. Entretanto, quando o patrão do pai Francisco soube da<br />
morte do seu boi favorito, ficou muito bravo, tão furioso que mandou prender o coitado<br />
(também, quem mandou matar o boi do patrão, não é?).<br />
A mãe Catiri<strong>na</strong>, muito chateada, procurou o pajé de uma tribo indíge<strong>na</strong>. Ela estava<br />
arrependida e queria fazer qualquer coisa para ressuscitar o boi. O pajé, com muita<br />
pe<strong>na</strong> dela e de seu barrigão, fez uma reza tão bem feita que o boi voltou a viver. Com<br />
o boi vivo, o patrão soltou o pai Francisco e tudo terminou em festa, a festa do Boi-<br />
Bumbá.”<br />
E por falar em festa, pe<strong>na</strong> que a gente não vai estar aqui para o festival de Parintins.<br />
É que ele só acontece uma vez por ano, em junho. E como junho não é tempo de<br />
férias, acho que vamos ter de nos contentar em conhecer a cidade e suas tradições, o<br />
que já é muito baca<strong>na</strong>!<br />
23
Domingo, 10 da noite. Outra varanda<br />
Como é gostoso sentar <strong>na</strong> varanda e apreciar a noite! Aos<br />
poucos nossos olhos se acostumam com a escuridão e a gente<br />
começa a ver um monte de coisas bonitas ao redor...<br />
Ainda mais depois de um dia gostoso como o de hoje. Estou<br />
tão bem aqui que acho que ficaria nessa rede até amanhã de<br />
manhã... Tchau, diário.<br />
Segunda-feira, 9 da manhã. A caminho de Belém<br />
Aqui estamos nós, viajando novamente... Vou sentir<br />
muita falta da Do<strong>na</strong> Graça e de Parintins, e acho que os<br />
meninos também. Cada um de nós ficou mais encantado<br />
do que o outro com o lugar, e no último dia até compra-<br />
mos camisetas dos bois.<br />
Bem, nem preciso falar que o Zé Golfinho e o <strong>Juca</strong><br />
compraram camisetas do boi Caprichoso, camisetas azuis.<br />
Afi<strong>na</strong>l, não tem vermelho <strong>na</strong> bandeira do Brasil, e azul é<br />
a cor da água! Já o Edu Guará e o Marco Mateiro com-<br />
praram camisetas do boi Garantido, vermelhas. Eu, que<br />
adoro tanto o azul quanto o vermelho, acabei ficando<br />
com as duas.<br />
Além do mais, como o estado do Pará é uma das<br />
mais ricas províncias minerais do planeta, e eu uma das<br />
meni<strong>na</strong>s mais preocupadas com reciclagem do país,<br />
decidi vestir hoje a camiseta vermelha, justamente a cor<br />
escolhida para a reciclagem dos metais... Só que<br />
não precisa contar isso para ninguém, tá? Deixa<br />
todo mundo pensar que estou de vermelho por<br />
causa do boi Garantido!<br />
Segunda-feira, meio-dia, em Belém<br />
Diário, não sei se o <strong>Juca</strong> leu por cima dos<br />
meus ombros, ou leu dentro dos meus olhos,<br />
mas o fato é que ele descobriu! Descobriu que<br />
eu estou vestindo vermelho só por causa da reci-<br />
clagem dos metais... E mais, não só descobriu tudo<br />
como também foi supergracinha me contando que o<br />
Pará é uma das mais ricas províncias minerais do planeta!<br />
Ah! Não pense você que eu já sabia de tudo o que ele<br />
me disse, porque eu não sabia, mesmo! Sabia ape<strong>na</strong>s<br />
que aqui havia muito metal, mas não tinha nem idéia de<br />
que o Pará possuía reservas de ouro, alumínio, cobre,<br />
estanho, manganês, zinco, ferro, caulim, granito e muitos<br />
tipos de gemas! Isso mesmo, gemas, pedras preciosas!<br />
Não é sensacio<strong>na</strong>l?<br />
Pelo que o <strong>Juca</strong> me contou, é exatamente aqui no Pará,<br />
<strong>na</strong> região de Belém, que se encontra a maior fábrica de alu-<br />
mínio do Brasil... Ai! Será que eu ainda consigo descobrir<br />
alguma coisa sobre os meus insetos recicladores? Quem sabe<br />
eu não os levo até lá? Quem sabe eles não se interessam por eles?<br />
Quem sabe...<br />
24 25
Segunda-feira, meio-dia e meia, ainda em Belém<br />
Diário, só vou escrever um pouquinho... É que eu<br />
estou meio triste! Falei seriamente sobre os insetos<br />
com o <strong>Juca</strong> e com o Edu Guará, achando que eles iriam<br />
me ajudar, mas, em vez disso, riram da minha cara.<br />
Riram não, o Edu riu muito! O <strong>Juca</strong> até que disfarçou!<br />
Mas o resultado fi<strong>na</strong>l é que os dois me convenceram<br />
de que essa minha busca é inútil e que esses insetos<br />
não existem: nem as formigas comedoras de borra-<br />
cha, nem os besouros que procuram alumínio, nem<br />
as minhocas que desintegram plástico.<br />
Então, pronto! Acabou! Acabou o meu sonho de<br />
bióloga em busca de insetos recicladores! Deixo essa<br />
missão para os biólogos do futuro, e, por enquanto,<br />
vou continuar aproveitando a viagem...<br />
Terça-feira, 10 da noite, olhando o rio<br />
Belém é linda e, assim como Ma<strong>na</strong>us, tem muitas<br />
construções imponentes do começo do século. Sabe,<br />
é que a cidade também foi muito beneficiada pelo<br />
ciclo da borracha...<br />
Mas, pensando bem, o que eu mais gostei de<br />
conhecer foi o Mercado do Ver-o-Peso, um mercado pra<br />
lá de antigo, construído por volta de mil seiscentos e oitenta<br />
e pouco, quando os portugueses resolveram cobrar impostos<br />
de tudo que entrava e de tudo que saía da <strong>Amazônia</strong>... Hoje<br />
em dia é um lugar muito especial, no qual os comerciantes<br />
vendem os produtos trazidos pelos barcos do rio e da flores-<br />
ta. Lá a gente pode encontrar de tudo, de peixes frescos até<br />
um colar de sementes, de uma cesta de palha até plantas<br />
medici<strong>na</strong>is. Eu mesma comprei muita castanha-do-pará e<br />
me fartei de tanto comer açaí! Hum, que delícia!<br />
Olha, diário, estou adorando Belém e mal posso esperar<br />
até conhecer a ilha de Marajó... Vamos para lá amanhã!<br />
Até mais!
Quarta-feira, 9 da noite, <strong>na</strong> ilha de Marajó<br />
Hoje o dia foi glorioso. Aliás, como eu estou muito poeta, eu diria que foi esplen-<br />
doroso... Não só porque chegamos à maior ilha fluvial do planeta, mas porque o <strong>Juca</strong><br />
segurou <strong>na</strong> minha mão, não é demais!? Mas como não aconteceu <strong>na</strong>da além disso e<br />
como talvez ele só estivesse mesmo me ajudando a subir em um búfalo, acho mais<br />
interessante contar sobre eles, os búfalos...<br />
Pois bem, <strong>na</strong> ilha de Marajó, os búfalos são muito comuns. Eu até ouvi dizer que<br />
a quantidade desses animais por aqui é maior do que a população de seres humanos.<br />
Dá pra acreditar? Enfim, eles estão mesmo por toda parte, e o mais interessante é que<br />
são utilizados como meio de transporte! Foi por isso que resolvi subir em um, para dar<br />
uma voltinha!<br />
Também fiquei muito surpresa ao saber que aqui <strong>na</strong> ilha de Marajó os índios desen-<br />
volviam, há mais de 1.500 anos, um artesa<strong>na</strong>to tão peculiar e interessante que passou<br />
a ser estudado no mundo inteiro, a cerâmica marajoara. As peças eram tão bonitas<br />
que continuam sendo feitas até hoje por artesãos preocupados em preservar e mesmo<br />
renovar a cultura marajoara, o que é muito bom.<br />
28
Quinta-feira, 5 da manhã. Pororoca<br />
Diário, eu ainda não tinha contado <strong>na</strong>da para você, mas nós vamos<br />
ver a pororoca!<br />
Não sei se você sabe, mas pororoca, uma palavra que vem do tupi<br />
e significa “grande estrondo”, é exatamente o nome de uma grande<br />
onda, formada quando as águas do mar se encontram com a foz de<br />
um rio. Como eu estou falando do rio Amazo<strong>na</strong>s, a pororoca aqui é<br />
realmente sensacio<strong>na</strong>l!<br />
Conto mais quando eu voltar!<br />
Quinta-feira, 10 da noite, da última noite<br />
A pororoca é o que há! É muito, muito legal! Não sei<br />
nem se eu consigo explicar, mas vamos lá: as águas do rio<br />
Amazo<strong>na</strong>s se encontram com as águas do oceano Atlântico,<br />
cada uma correndo <strong>na</strong> direção contrária da outra e a toda velo-<br />
cidade. O resultado é uma onda enorme, com mais ou menos<br />
3 metros de altura, correndo rio abaixo a uma velocidade incrível por<br />
quase 40 minutos. É um espetáculo que, além de lindo, é o sonho de<br />
qualquer surfista!<br />
O Zé Golfinho quase não conseguiu resistir, mas, para surfar <strong>na</strong> poro-<br />
roca, é preciso trei<strong>na</strong>r muito. Bem, ele disse que da próxima vez não<br />
deixa passar, não!<br />
Próxima vez... Isso me faz lembrar que hoje é o nosso último dia por<br />
aqui. Amanhã, voltamos para Belém e de lá vamos para casa. Foram<br />
dias deliciosos, nos quais, além de nos divertirmos muito, aprendemos<br />
coisas inimagináveis sobre nosso país!<br />
Então, diário, acho que o melhor a fazer é parar de escrever e<br />
arrumar as malas. Tchau!<br />
P. S.: Para o Zé não ficar muito triste, fiz um desenho com ele<br />
surfando <strong>na</strong> pororoca.
Sábado, 8 da manhã. Lar, doce lar<br />
Diário, ontem o dia foi tão corrido que nem consegui escrever. Mas, aqui estou eu,<br />
de volta a minha casa querida, deitada <strong>na</strong> minha caminha aconchegante e com uma<br />
preguicinha muito gostosa...<br />
Acho que eu vou é guardar a minha caneta, virar para o lado e aproveitar para<br />
fechar os olhinhos e dormir mais um pouco, pois eu ainda estou de férias... Quem sabe<br />
eu não sonho com a <strong>Amazônia</strong> ou, melhor ainda, com o <strong>Juca</strong>?<br />
Até mais, diário!<br />
Pois é, acabou assim o relato da nossa viagem pela <strong>Amazônia</strong>. Eu espero sincera-<br />
mente que você tenha gostado e que, lendo meu diário, tenha conseguido captar um<br />
pouquinho da emoção que sentimos ao conhecer aquela região.<br />
Eu continuei de férias por mais duas sema<strong>na</strong>s. Nesse período aconteceu tanta coisa<br />
legal e interessante que só mesmo se você continuasse lendo meu diário. Mas como eu<br />
acho que já sabe segredos demais a meu respeito, não pretendo deixar você ler nem<br />
mais uma única pági<strong>na</strong>..<br />
Bem, só para matar a sua curiosidade, é bom deixar claro que... sobre aquele assun-<br />
to... É, aquele assunto, <strong>na</strong>da aconteceu! Em outras palavras, eu e o <strong>Juca</strong> <strong>Brasileiro</strong> não<br />
estamos <strong>na</strong>morando. Ainda não!<br />
Mas como eu acredito piamente que tudo <strong>na</strong> vida é uma questão de tempo e<br />
que quem espera sempre alcança, continuo por aqui.<br />
Com carinho,<br />
32<br />
Lica Recicla