Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
33<br />
www.oxfam.ca<br />
3. SENSIBILIZAÇÃO SOBRE HIV/SIDA<br />
“Eu sou natural da Gorongoza; sou orfã de pai e mãe; cresci na<br />
casa de pessoas trabalhando como empregada doméstica. Com<br />
12 anos já estava casada e fugi. Apanhei o primeiro homem que<br />
me aceitou, e assim comecei a minha vida como trabalhadora de<br />
sexo. De boleia em boleia cheguei a muitos lugares - Zimbabwe,<br />
África do Sul, Botswana, Nampula, Maputo - e assim acabei<br />
chegando a Guro aonde estou a viver desde 2001.<br />
“Há 3 anos atrás comecei a<br />
ficar muito doente, sentia<br />
muita fraqueza, tinha febres e<br />
borbulhas em todo o corpo. A<br />
Julinha vinha-me visitar e<br />
aconselhava, insistia para eu<br />
fazer o teste de HIV. Mas eu<br />
recusava, no fundo tinha<br />
medo, pois sabia que do<br />
tanto que andei por aí eu só<br />
poderia estar com HIV.<br />
Hoje já me sinto melhor,<br />
as borbulhas estão a<br />
passar, sinto vertigem<br />
de vez em quando, mas<br />
consigo andar, sair de<br />
casa, ir até o Canto de<br />
Aconselhamento da<br />
OMES para conversar<br />
com as activistas.<br />
“Conheci a Julinha quando assistia a peças de teatro que as<br />
activistas da OMES faziam na comunidade. Muitas vezes eu quiz<br />
ir ao curandeiro, mas a Julinha insistia que o curandeiro só me<br />
faria perder tempo e dinheiro e que com o HIV o tempo era<br />
precioso.<br />
“No ano passado decidi ir fazer o teste e como não tinha dinheiro,<br />
a Julinha deu-me algum para eu ir a Catandica fazer o teste. O<br />
teste saiu positivo e nesse dia chorei muito. Desejei morrer! Para<br />
que viver se não tenho ninguém nesta vida? Sou orfã, tenho filhos<br />
grandes, ninguém precisa de mim nesta vida e eu já estou<br />
cansada de sofrer.<br />
“A minha melhor amiga afastou-se, nunca veio visita-me. Às<br />
vezes eu ouvia os vizinhos ou as pessoas que passavam em<br />
frente a minha casa comentar: “esta aqui nem é pessoa mais, é<br />
um cadáver! Só está à espera de morrer!”. Aquilo me doía tanto,<br />
provocava tanta dor no meu coração e dava-me mais vontade de<br />
morrer.<br />
“Comecei a fazer o tratamento este ano e caiu-me muito mal. As<br />
minhas pernas incharam, fiquei com borbulhas em todo o corpo.<br />
Fiquei desanimada e não queria levantar-me mais da cama. A<br />
Julinha visitava-me, insistia para eu sair de casa, trazia-me para o<br />
Canto de Aconselhamento da OMES, ficava a conversar comigo<br />
até que os meus nervos acalmassem.