SIMBOLISMO I - Portal Impacto
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PROF.:<br />
IMPACTO: A Certeza de Vencer!!!<br />
<strong>SIMBOLISMO</strong> EM PORTUGAL - CAMILO PESSANHA<br />
Com a publicação de Oaristos, de Eugenio de<br />
Castro, em 1890, inicia-se oficialmente o Simbolismo<br />
português, durando até 1915, época do surgimento da<br />
geração Orpheu, que desencadeia a revolução<br />
modernista no país, em muitos aspectos baseada nas<br />
conquistas da nova estética.<br />
Conhecidos como adeptos do Nefelibatismo<br />
(espécie de adaptação portuguesa do Decadentismo e do<br />
Simbolismo francês), e, portanto como nefelibatas<br />
(pessoas que andam com a cabeça nas nuvens), os<br />
poetas simbolistas portugueses vivenciam um momento<br />
múltiplo e vário, de intensa agitação social, política,<br />
cultural e artística. Com o episódio do Ultimatum inglês,<br />
aceleram-se as manifestações nacionalistas e<br />
republicanas, que culminarão com a proclamação da<br />
República, em 1910.<br />
Portanto, os principais autores desse estilo em<br />
Portugal seguem linhas diversas, que vão do esteticismo<br />
de Eugênio de Castro ao nacionalismo de Antônio Nobre<br />
e outros, até atingirem maioridade estilística com Camilo<br />
Pessanha: o mais importante poeta simbolista português.<br />
ESTUDO DOS PRINCIPAIS AUTORES E OBRAS.<br />
Além de Raul Brandão, um dos raros escritores<br />
de prosa simbolista, na verdade prosa poética,<br />
representada pela trilogia que compreende as obras A<br />
farsa, Os pobres e Húmus, Eugênio de Castro, Antônio<br />
Nobre e Camilo Pessanha são os poetas mais<br />
expressivos deste estilo em Portugal.<br />
CAMILO PESSANHA (1867-1926).<br />
10<br />
1<br />
<strong>SIMBOLISMO</strong> I<br />
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO<br />
KL 070510<br />
PROT: 3736<br />
VIDA: O maior poeta da geração simbolista em Portugal,<br />
Camilo D’Almeida Pessanha, nasceu em Coimbra, em<br />
1867, mas viveu grande parte de sua vida em Macau, na<br />
China, para onde partiu em 1894. Fixou residência em<br />
Macau em 1916, mas vez por outra visitava seu país<br />
natal. Veio a falecer naquela cidade do Oriente em 1926.<br />
Autor de apenas um livro, Clepsidra, publicado em 1922,<br />
Camilo Pessanha exerceu grande influência,<br />
particularmente na geração de Orpheu, que iniciou o<br />
Modernismo em Portugal.<br />
Considerado um poeta de leitura pouco acessível<br />
para o grande público, um criador que inspirou outros<br />
criadores, passou grande parte da vida em Macau<br />
(China), onde conheceu o ópio e conviveu com a poesia<br />
chinesa, de que foi tradutor para o português.<br />
Os poemas de Camilo Pessanha caracterizam-se<br />
por um forte poder de sugestão e ritmo, apresentando<br />
imagens estranhas, insólitas, não lineares, isto é, repletas<br />
de rupturas e cores – elementos tipicamente simbolistas.<br />
Neles predomina o tema do estranhamento entre<br />
o eu e o corpo; o eu e a existência e o mundo, cujos<br />
elementos mais familiares ao mesmo tempo tornam-se<br />
esquivos, perante uma sensibilidade poética fina e sutil,<br />
mas na qual não se encontram os derramamentos<br />
emocionais, a subjetividade egocêntrica.<br />
ÁGUA MORRENTE<br />
Meus olhos apagados,<br />
Vede a água cair.<br />
Das beiras dos telhados,<br />
Cair, sempre cair.<br />
Das beiras dos telhados,<br />
Cair, quase morrer...<br />
Meus olhos apagados,<br />
E cansados de ver.<br />
Meus olhos, afogai-vos<br />
Na vã tristeza ambiente.<br />
Caí e derramai-vos<br />
Como a água morrente.<br />
POEMA COMENTADO<br />
Passou O Outono Já, Já Torna O Frio...<br />
— Outono de seu riso magoado.<br />
Álgido inverno! Oblíquo o sol, gelado...<br />
— O sol e as águas límpidas do rio.<br />
Águas claras do rio! Águas do rio,<br />
Fugindo sob o meu olhar cansado,<br />
Para onde me levais meu vão cuidado?<br />
Aonde vais, meu coração vazio?<br />
Ficai, cabelos dela, flutuando,<br />
E, debaixo das águas fugidias,<br />
Os seus olhos abertos e cismando...<br />
Onde ides a correr, melancolias?<br />
— E, refratadas, longamente ondeando,<br />
As suas mãos translúcidas e frias...<br />
álgido: extremamente frio<br />
CONTEÚDO - 2011
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COMENTÁRIOS<br />
1. Na primeira estrofe, o sujeito lírico diz já ter passado<br />
o Outono, e retornado o inverno com o seu intenso frio. E<br />
esse inverno deixa geladas as águas límpidas do rio e até<br />
o sol. No segundo verso o eu-lírico se dirige a alguém, ao<br />
dizer que no Outono havia o riso, mesmo magoado desse<br />
alguém, que depois vamos perceber que é uma mulher.<br />
2. Há algo que deve ser destacado: note que o outono<br />
se inicia com maiúscula no poema. Tal recurso, muito<br />
comum na poesia simbolista, intensifica a metáfora e a<br />
alegoria contidas numa palavra. Por isso podemos dizer<br />
que o Outono aqui é bem mais que uma das quatro<br />
estações da natureza: ele simboliza um período menos<br />
triste na vida do eu-lírico. Sendo assim, o frio (ou o<br />
inverno) não será apenas um estado do tempo: ele<br />
simboliza, ou reflete, o mau estado de alma do eu-lírico,<br />
um estado de intensa tristeza e melancolia.<br />
3. No começo da segunda estrofe o eu-lírico fala mais<br />
duas vezes das “águas do rio”. Essa repetição não é à<br />
toa: ela serviu tanto para reforçar a imagem do rio como<br />
cenário principal do poema, quanto para demarcar um<br />
elemento da natureza constante na poesia de Pessanha,<br />
que são as águas, correntes e fluídas como são as de um<br />
rio. O eu-lírico pergunta, apreensivo, para essas águas<br />
que fogem do seu olhar (pois não podem ser<br />
aprisionadas), onde elas o levarão. E ao perguntar<br />
“Aonde vais, meu coração vazio?” é como se ele fi zesse<br />
uma analogia entre as águas frias que escorrem fugidias<br />
e o seu coração vazio.<br />
4. Então o sujeito lírico pede ao menos que fiquem (não<br />
sumam com o correr das águas) os cabelos flutuantes e<br />
os olhos “abertos e cismando” da mulher que está<br />
flutuando no rio.<br />
5. Na última estrofe, ele pergunta para onde estão a<br />
correr as melancolias. Tal estado de alma parece ser o<br />
único presente tanto no ambiente externo, na paisagem,<br />
quanto no ser desse eu lírico; é como se as águas do rio<br />
levassem consigo (não se sabe para onde) apenas os<br />
maus sentimentos. Por fim, o eu lírico diz que as mãos da<br />
mulher estão refratadas (que pode significar tanto<br />
refletidas quanto em uma mudança de direção),<br />
“longamente ondeando” no rio. Diz também que as mãos<br />
dela estavam “translúcidas[=diáfanas, pálidas] e frias”, e é<br />
com esses adjetivos que o poeta sugere que a mulher<br />
estava morta.<br />
6. É bom notar aqui outra característica marcante tanto<br />
da obra poética de Pessanha quanto do estilo simbolista:<br />
a sugestão, adquirida neste poema especialmente pela<br />
fragmentação das imagens e pela técnica de não<br />
explicitar fatos ou situações. Só em um momento<br />
sabemos que se trata de uma mulher que flutua no rio,<br />
em “Ficai, cabelos dela, flutuando”. Não há menção direta<br />
de que ela está morta (só fica mais sugerido nos versos<br />
finais). O ambiente não é descrito muito claramente —<br />
apesar de ficar bem forte em nós a sensação de que tanto<br />
a paisagem quanto o estado de espírito do eu lírico são<br />
opressivos, carregados. Tal efeito é obtido principalmente<br />
pelos adjetivos (cansado, vazio, vão(inútil), álgido), e com<br />
esses adjetivos, as demais caracterizações acabam<br />
tornando-se também negativas (águas fugidias, mãos<br />
frias).<br />
ALGUMAS QUESTÕES<br />
01. Leia o poema abaixo e responda ao que se pede.<br />
AS MÃOS DA MORTE<br />
Mãos de finada, aquelas mãos de neve,<br />
De tons marfíneos, de ossatura rica,<br />
Pairando no ar, num gesto brando e leve,<br />
Que parece ordenar, mas que suplica.<br />
Erguem-se ao longe como se as eleve<br />
Alguém que ante os altares sacrifica:<br />
Mãos que consagram, mãos que partem breve,<br />
Mas cuja sombra nos meus olhos fica...<br />
Mãos de esperança para as almas loucas,<br />
Brumosas mãos que vêm brancas, distantes,<br />
Fechar ao mesmo tempo tantas bocas...<br />
Sinto-as agora ao luar, descendo juntas,<br />
Grandes, magoadas, pálidas, tateantes,<br />
Cerrando os olhos das visões defuntas...<br />
GUIMARAENS, Alphonsus de. Poesia. RJ: Agir, 1976.<br />
Assinale a alternativa correta.<br />
a) Nos versos “Mãos de finada, aquelas mãos de neve, /<br />
De tons marfíneos, de ossatura rica,” há o emprego de<br />
sinestesia, figura de linguagem amplamente utilizada no<br />
Simbolismo.<br />
b) É característica da poesia de Alphonsus de<br />
Guimaraens, o abandono da temática intimista em favor<br />
de temas universais.<br />
c) O poeta vale-se da metonímia como o principal recurso<br />
estruturador de seu texto.<br />
d) O poema apresenta características simbolistas como o<br />
registro nebuloso da realidade, aliteração, misticismo e<br />
referências à cor branca.<br />
02. Para responder a essa questão, leia atentamente o<br />
soneto abaixo, de Camilo Pessanha.<br />
Quem poluiu, quem rasgou<br />
os meus lençóis de linho,<br />
Onde esperei morrer, - meus tão castos lençóis?<br />
Do meu jardim exíguo os altos girassóis<br />
Quem foi que os arrancou e lançou no caminho?<br />
Quem quebrou (que furor cruel e simiesco!)<br />
A mesa de eu cear, - tábua tosca de pinho?<br />
E me espalhou a lenha? E me entornou o vinho?<br />
- Da minha vinha o vinho acidulado e fresco...<br />
Ó minha pobre mãe!... Não te ergas mais da cova.<br />
Olha a noite, olha o vento. Em ruína a casa nova...<br />
Dos meus ossos o lume a extinguir-se breve.<br />
Não venhas mais ao lar. Não vagabundes mais,<br />
Alma da minha mãe... Não andes mais à neve,<br />
De noite a mendigar às portas dos casais.<br />
Camilo Pessanha é um poeta cuja produção é identificada<br />
em um movimento que tem por temáticas:<br />
a) O jogo de contrastes de idéias, com temas acerca do<br />
bem/ mal, a musicalidade e sinestesia e a subjetividade.<br />
b) O predomínio do símbolo, as aliterações e o emprego<br />
do vocabulário ligado às sensações.<br />
c) Temas cotidianos e melodramáticos.<br />
d) Denúncias sociais.<br />
e) O melodrama, o culto à natureza e o nacionalismo<br />
REVISÃO IMPACTO - A CERTEZA DE VENCER!!!<br />
CONTEÚDO - 2011