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Estampagem dos Aços Inoxidáveis

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<strong>Estampagem</strong> <strong>dos</strong> aços<br />

inoxidáveis<br />

Eduardo Luiz Alvares Mesquita<br />

Engº Mecânico - ACESITA<br />

Léo Lucas Rugani<br />

Engº de Minas e Metalurgista - ACESITA<br />

Consultoria:<br />

Prof. José Angelo Bortoloto<br />

Prof. Titular disciplina Conformação a Frio<br />

de Chapas - Faculdade de Tecnologia de São Paulo - FATEC - SP<br />

DEZEMBRO - 1997


ÍNDICE<br />

1. INTRODUÇÃO. ............................................5<br />

2. O AÇO INOX E OS CUIDADOS COM O SEU MANUSEIO ..............5<br />

3. COMPORTAMENTO MECÂNICO DOS AÇOS INOXIDÁVEIS ............8<br />

4. ESTAMPAGEM DOS AÇOS INOXIDÁVEIS ........................11<br />

4.1 - CORTE E FURAÇÃO. .......................................................11<br />

4.2 - DOBRAMENTO. ..........................................................26<br />

4.3 - REPUXO ................................................................37<br />

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS. ...................................50<br />

6. BIBLIOGRAFIA ...........................................51


1. INTRODUÇÃO<br />

Esta apostila compõe com outras quatro: Manuseio - Transportes e Estocagem;<br />

Soldagem; Conformação e Acabamentos, o Curso básico e modulado “Noções<br />

Básicas de Caldeiraria e Serralheria em Aço Inox”.<br />

Este curso foi estruturado para levar fundamentação teórico-operacional ao parque<br />

reprocessador do aço inox no Brasil, com o objetivo de promover a qualidade <strong>dos</strong> produtos<br />

confecciona<strong>dos</strong> em inox.<br />

Neste módulo, “<strong>Estampagem</strong> <strong>dos</strong> <strong>Aços</strong> <strong>Inoxidáveis</strong>”, pretende-se fazer uma<br />

abordagem aos processos de corte, furação e dobramento por estampos, além do repuxo -<br />

parte central da estampagem, sem a pretensão de esgotar o assunto. O objetivo principal é de<br />

auxiliar as empresas já estabelecidas na busca do seu aperfeiçoamento e de introduzir outras<br />

neste promissor segmento: o mercado <strong>dos</strong> produtos de aço inox.<br />

2. O AÇO INOX E OS CUIDADOS COM O SEU MANUSEIO<br />

Aço inox é o termo empregado para identificar famílias de aços contendo, no mínimo, 11% de<br />

cromo, que lhes garantem elevada resistência à corrosão - conhecida popularmente com<br />

“ferrugem”. O cromo, disperso no aço de forma homogênea, em contato com o oxigênio do<br />

ar forma uma fina camada, contínua e resistente (50 angstrongs; 1angstron = 10 -8<br />

cm) em<br />

toda a sua superfície, que o protege contra ataques corrosivos do meio ambiente.<br />

De uma maneira geral, esta resistência aumenta à medida que mais cromo é adicionado ao<br />

aço. Apesar de invisível, estável e finíssima, esta película (chamada de camada passiva)é<br />

altamente aderente ao aço inox, defendendo-o contra a ação de meios agressivos.<br />

Além do cromo, outros elementos podem ser adiciona<strong>dos</strong> ao aço inox (níquel, molibdênio,<br />

titânio, nióbio, etc.) com o objetivo de elevar sua resistência à corrosão e melhorar suas<br />

propriedades físicas e mecânicas. De acordo com os elementos de liga conti<strong>dos</strong>, os aços<br />

inoxidáveis são agrupa<strong>dos</strong> em famílias com características semelhantes e destina<strong>dos</strong> a<br />

aplicações específicas. Basicamente, distinguem-se 3 famílias de aços inoxidáveis:<br />

à <strong>Aços</strong> martensíticos;<br />

à <strong>Aços</strong> ferríticos e;<br />

à <strong>Aços</strong> austeníticos.<br />

<strong>Estampagem</strong> <strong>dos</strong> aços inoxidáveis<br />

5


Os aços inoxidáveis martensíticos são aços magnéticos que podem atingir altas durezas por<br />

tratamento térmico, além de excelente resistência mecânica. São utiliza<strong>dos</strong> em cutelaria,<br />

instrumentos de medida, lâminas de corte, correntes para máquinas, discos de freio, etc. Estes<br />

aços, de aplicações específicas, não serão aborda<strong>dos</strong> nesta apostila.<br />

Os aços inoxidáveis ferríticos também são aços magnéticos. Normalmente são endurecíveis<br />

por conformação a frio e são utiliza<strong>dos</strong> no estado recozido. São utiliza<strong>dos</strong> em baixelas,<br />

fogões, geladeiras, pias, sistemas de exaustão de gases em motores de explosão, recheio de<br />

colunas de destilação, moedas, etc.<br />

<strong>Aços</strong> típicos: AISI 430 e AISI 409.<br />

Os aços austeníticos são aços não-magnéticos que podem ser endureci<strong>dos</strong> por trabalho<br />

mecânico. Apresentam resistência à corrosão melhorada pela adição do níquel e são<br />

facilmente conforma<strong>dos</strong> a frio, devido uma combinação favorável de propriedades<br />

mecânicas.<br />

São utiliza<strong>dos</strong> para fins estruturais, equipamentos para indústria alimentícia, aeronáutica,<br />

ferroviária, petrolífera, química e petroquímica, papel e celulose, construção civil, etc. O aço<br />

típico desta família é o AISI 304.<br />

A característica básica <strong>dos</strong> aços inoxidáveis é a sua elevada resistência à corrosão. São aços<br />

fáceis de serem trabalha<strong>dos</strong>, aceitam deformações permanentes sem comprometimento de<br />

suas características, são versáteis e de fácil limpeza e manutenção por apresentarem<br />

superfície lisa e, em aplicações arquitetônicas e de decoração, apresentam aspecto estético<br />

atraente valorizando ambientes.<br />

A grande maioria <strong>dos</strong> atributos <strong>dos</strong> aços inoxidáveis é conferida pela camada passiva<br />

anteriormente descrita. Ela apresenta um papel fundamental eliminando-se a necessidade de<br />

revestimentos protetivos externos como fosfatização e pintura, galvanização, bicromatização,<br />

etc, procedimentos largamente utiliza<strong>dos</strong> para melhorar a resistência à corrosão <strong>dos</strong> aços<br />

carbono.<br />

A camada passiva se auto-regenera em presença de oxigênio quando, por exemplo, é<br />

danificada por um risco ou arranhão.<br />

Nesses casos, esta regeneração não garante a homogeneidade da camada passiva e, em<br />

situações críticas e muito agressivas, pode se desenvolver o fenômeno de corrosão no ponto<br />

arranhado. Portanto recomenda-se cuidado extremo para a manutenção desta película.<br />

A ACESITA garante a integridade da camada passiva em to<strong>dos</strong> os aços inoxidáveis que saem<br />

da Usina. Recomenda-se aos reprocessadores e ao parque manufatureiro <strong>dos</strong> aços<br />

inoxidáveis adotar medidas adicionais para evitar danos à camada passiva durante o<br />

manuseio, processamento e estocagem de bobinas, chapas e produtos intermediários.<br />

6 <strong>Estampagem</strong> <strong>dos</strong> aços inoxidáveis


No processamento na fábrica deve-se tomar uma série de cuida<strong>dos</strong> adicionais:<br />

à Proceder limpeza criteriosa <strong>dos</strong> equipamentos e ferramentas que processam<br />

simultaneamente aços inoxidáveis e aços carbono. Neste caso, recomenda-se o uso<br />

de ferramentas exclusivas para a conformação <strong>dos</strong> aços inoxidáveis (limas, serras,<br />

brocas, etc).<br />

Caso isto não seja economicamente viável, é imprescindível adotar a prática de<br />

limpar as ferramentas antes de se iniciar o serviço. Esta limpeza poderá ser feita com<br />

querosene, que também é um bom lubrificante.<br />

à Durante o fluxo de produção, devem ser toma<strong>dos</strong> cuida<strong>dos</strong> especiais para se evitar<br />

danos ao material, seja pelo manuseio inadequado, seja pelo uso de ferramentas<br />

danificadas, impróprias ou desgastadas.<br />

à Em qualquer situação, é uma boa prática conformar o aço inox com a película<br />

protetora de PVC ou polietileno que evita danos maiores à superfície do aço inox.<br />

As partículas metálicas e de poeira que porventura se depositarem na superfície das<br />

chapas podem causar riscos durante o processamento posterior do produto.<br />

O arraste de uma chapa sobre a outra causa arranhões de difícil remoção durante o<br />

processamento do produto. Para eliminá-los, o recurso é o lixamento da superfície<br />

danificada com lixas de granulometria cada vez mais finas, para manter o<br />

acabamento superficial especificado, com pesa<strong>dos</strong> reflexos no custo do final do<br />

produto.<br />

à Evitar contaminações da superfície do inox por graxas, óleos e líqui<strong>dos</strong> corrosivos<br />

que danificam a camada passiva.<br />

à Em caso de suspeita de contaminação por resíduos de aço carbono, existe a<br />

necessidade de se proceder a sua remoção e reestabelecer a camada passiva.<br />

Neste caso, dois procedimentos são váli<strong>dos</strong>:<br />

ã tratar as partes afetadas por uma solução levemente aquecida (50 a 60 ºC) de<br />

ácido nítrico a 20%. Na seqüência, a peça deve ser lavada e enxugada.<br />

ã submeter a peça ao jateamento (com esferas de vidro) ou lixamento das partes<br />

afetadas para a remoção da contaminação. O oxigênio do ar deverá ser<br />

suficiente para recompor a camada passiva.<br />

<strong>Estampagem</strong> <strong>dos</strong> aços inoxidáveis<br />

7


De uma maneira resumida, os cuida<strong>dos</strong> recomenda<strong>dos</strong> em todas as fases do processamento são:<br />

1. Recebimento, manuseio<br />

2. Estocagem de bobinas e chapas<br />

3 . Manuseio<br />

4. Fabricação<br />

Etapas Cuida<strong>dos</strong><br />

• Evitar amassa<strong>dos</strong> e arranhões oriun<strong>dos</strong> de<br />

grampos, correntes e dispositivos de fixação<br />

para manuseio. É recomendado revestir estes<br />

elementos com feltro ou plásticos.<br />

• Estocar sempre em lugar limpo, seco e longe<br />

de aços carbono. O ideal é estocar o inox<br />

em galpões sem goteiras e com piso de<br />

borracha.<br />

• Usar equipamentos de estocagem e<br />

movimentação protegi<strong>dos</strong> por plástico,<br />

madeira ou feltro, evitando marcar a<br />

superfície do aço.<br />

• Evitar danos à superfície do material.<br />

• Usar luvas limpas durante o manuseio.<br />

• Evitar contato com substâncias externas,<br />

graxas, óleos e gorduras.<br />

• Evitar o contato com aço carbono ou outros<br />

aços para não contaminar o aço inox.<br />

• Sempre que possível, utilizar ferramentas e<br />

equipamentos exclusivos para trabalhar o<br />

aço inox.<br />

• Não sendo possível, to<strong>dos</strong> os equipamentos<br />

e ferramentas deverão ser limpos antes de sua<br />

utilização para trabalhos com o aço inox.<br />

3. COMPORTAMENTO MECÂNICO DOS AÇOS INOXIDÁVEIS<br />

Os processos de conformação <strong>dos</strong> diversos metais são realiza<strong>dos</strong> a partir de suas respectivas<br />

características mecânicas. Particularidades relativas ao comportamento estrutural de cada<br />

liga metálica definem os esforços mínimos necessários para o dimensionamento <strong>dos</strong><br />

equipamentos e ferramentas a serem utiliza<strong>dos</strong>.<br />

Com o aço inox não é diferente: os processos de sua conformação mecânica são semelhantes<br />

aos <strong>dos</strong> aços carbono, cuja tecnologia é de domínio geral. As diferenças de comportamento<br />

mecânico existentes entre as duas ligas, aço carbono e aço inox, definem diferentes<br />

parâmetros de utilização de equipamentos em cada caso.<br />

O comportamento estrutural <strong>dos</strong> aços inoxidáveis, a exemplo <strong>dos</strong> aços carbono, é definido<br />

pela curva tensão-deformação. Um corpo de prova do material com dimensões padronizadas<br />

é submetido a um esforço de tração crescente até a sua ruptura.<br />

8 <strong>Estampagem</strong> <strong>dos</strong> aços inoxidáveis


O ensaio revela dois domínios bem defini<strong>dos</strong>:<br />

Fig (1)<br />

à o domínio elástico (0-A) onde as deformações não são permanentes. Cada tensão<br />

corresponde a uma deformação própria de cada aço. Cessado o esforço, o corpo de<br />

prova retorna às dimensões iniciais;<br />

à o domínio plástico (B-C) onde para cada tensão corresponde uma deformação<br />

permanente. Uma vez cessado o esforço, em qualquer momento deste domínio, o<br />

corpo de prova não retorna às dimensões iniciais;<br />

à na transição entre os dois domínios (A-B), existe um ponto para o qual o corpo de<br />

prova sofre deformação sem nenhum acréscimo de tensão. Diz-se que o material<br />

“escoa” neste ponto. Nos aços inoxidáveis, esta transição não é tão visível e define-se<br />

o limite de escoamento (LE) como o ponto na curva determinado pela intersecção<br />

de uma paralela à reta que define o domínio elástico (0-A) a 0,2% de deformação<br />

permanente.<br />

O ponto C determina o fim do regime plástico e é definido como limite de resistência (LR).<br />

A curva tensão-deformação é típica para cada aço. O LE <strong>dos</strong> aços carbono (1008) são<br />

ligeiramente mais eleva<strong>dos</strong> do que os aços inox (tipos 430 e 304) para a condição de aços<br />

recozi<strong>dos</strong>. Porém, o LR <strong>dos</strong> aços inoxidáveis são superiores aos <strong>dos</strong> aços carbono.<br />

Aí reside uma diferença básica que vai influir em to<strong>dos</strong> os processos de conformação onde<br />

ocorrem deformações permanentes: o ramo plástico B-C para os aços inoxidáveis é muito<br />

maior do que para os aços carbono. Isto significa que eles suportam deformações maiores<br />

sem ocorrer falha do componente. Dentre os aços inoxidáveis, os aços austeníticos (por<br />

<strong>Estampagem</strong> <strong>dos</strong> aços inoxidáveis<br />

9


exemplo o 304) apresentam este ramo plástico maior do que os aços ferríticos (por exemplo o<br />

430) sendo especifica<strong>dos</strong> para conformações profundas.<br />

Nas operações de conformação onde ocorrem corte e, no caso de dimensionamento de<br />

parafusos, rebites e pinos de fixação, que são submeti<strong>dos</strong> a esforços cortantes, a tensão para<br />

a qual ocorre a ruptura é chamada de tensão de cisalhamento. Esta tensão é cerca de 65<br />

a 70% do LR para os aços inox e de 55 a 60% do LR para os aços carbono.<br />

Uma das diferenças marcantes de comportamento às solicitações entre os vários tipos de aço<br />

é o encruamento - aumento das características (dureza, limites de escoamento, de<br />

resistência e de cisalhamento) pelo efeito de trabalho mecânico.<br />

A fig (2) a seguir mostra a evolução do LE edoLR com a variação de deformações a frio<br />

impostas a aços inoxidáveis tipos 301 (austenítico) , 409, 430 (ferríticos) e aço carbono 1008.<br />

Comparação <strong>dos</strong> encruamentos de aços: austenítico (301), ferríticos (430 e 409) e baixo carbono (1008)<br />

Fig (2)<br />

Essas diferenças de comportamento ao trabalho mecânico a frio, figuras (1) e (2), demonstram<br />

que os esforços necessários para a conformação <strong>dos</strong> aços inoxidáveis são consideravelmente<br />

maiores que os exigi<strong>dos</strong> para os aços carbono.<br />

Além <strong>dos</strong> aços inox apresentarem o LR superior aos <strong>dos</strong> aços carbono em condições<br />

equivalentes, tanto o LE quanto seu LR crescem a uma taxa maior que o crescimento destes<br />

parâmetros <strong>dos</strong> aços baixo carbono.<br />

Dentre os aços inoxidáveis, os aços austeníticos “aceitam” maiores deformações que os aços<br />

ferríticos e assim diz-se que eles são mais “dúcteis”. Este efeito é conferido pelo níquel contido<br />

nos aços austeníticos e ausente nos aços ferríticos.<br />

10 <strong>Estampagem</strong> <strong>dos</strong> aços inoxidáveis


4. ESTAMPAGEM DOS AÇOS INOXIDÁVEIS<br />

<strong>Estampagem</strong> é um conjunto de operações de conformação a frio (corte, furação,<br />

dobramento e repuxo), realizadas na região plástica de deformação <strong>dos</strong> materiais, pela<br />

imposição de uma deformação permanente de uma chapa, com o objetivo de produzir peças<br />

com determinada forma.<br />

As ferramentas que permitem a obtenção da forma desejada são denominadas estampos e<br />

as máquinas que fornecem a energia e os movimentos necessários para a conformação são<br />

denominadas prensas.<br />

De uma maneira geral, os aços inoxidáveis podem ser estampa<strong>dos</strong> de forma semelhante aos<br />

aços carbono. Pequenas adaptações no processo são necessárias em função de<br />

peculiaridades nas suas propriedades mecânicas, conforme mencionado anteriormente.<br />

4.1 - CORTE E FURAÇÃO<br />

Corte e furação por estampagem, são processos semelhantes que fazem a separação de<br />

material por cisalhamento utilizando um macho, uma matriz e uma prensa para a produção<br />

em série de peças.<br />

A tensão de cisalhamento é uma das características mais importantes na avaliação da<br />

capacidade do material de ser cortado ou furado. Para os aços inoxidáveis, a tensão de<br />

cisalhamento é cerca de duas vezes maior que a observada nos aços carbono. Por este<br />

motivo, a força exigida para o corte ou furação de aços inoxidáveis é de 50 a 100% maior<br />

que aquela necessária para executar o mesmo serviço em aço carbono.<br />

A prática de aquecer a chapa a ser perfurada ou cortada a uma temperatura de cerca<br />

de180ºC, reduz a força de corte necessária e por conseguinte garante uma sobrevida tanto às<br />

ferramentas quanto às prensas utilizadas. Em contrapartida, esta prática exige investimentos<br />

em operações complementares de aquecimento e posterior polimento para a eliminação <strong>dos</strong><br />

óxi<strong>dos</strong> produzi<strong>dos</strong> pelo aquecimento. Sua adoção exige um estudo econômico para atestar<br />

sua viabilidade.<br />

Os principais parâmetros a serem considera<strong>dos</strong> nas operações de corte e furação por<br />

estampagem são:<br />

à Aproveitamento máximo da chapa (lay out de tira)<br />

à Folgas entre punção (macho) e matriz<br />

à Forças envolvidas na operação de corte<br />

à Dimensionamento da matriz<br />

à Escolha de molas para prensa-chapas<br />

<strong>Estampagem</strong> <strong>dos</strong> aços inoxidáveis<br />

11


à Aproveitamento máximo da chapa (lay out de tira)<br />

O estudo econômico, também chamado de lay out de tira, é o estudo que proporciona<br />

o aproveitamento máximo da chapa ou, em outras palavras, a obtenção da maior<br />

quantidade de peças em uma mesma chapa. Este estudo visa encontrar a melhor<br />

distribuição das peças na chapa bem como calcular as distâncias ótimas entre as<br />

várias peças. As distâncias mínimas necessárias para um corte eficiente e correto são<br />

apresentadas na tabela da Fig (3).<br />

Material Espessura<br />

(mm)<br />

AÇO, FERRO LATÃO, BRONZE FOSFOROSO,<br />

ALUMÍNIO E AÇO INOXIDÁVEL<br />

e ≤ 0,5<br />

0,5


Estudo de aproveitamento: exemplo<br />

Consideremos a peça mostrada na Fig (4) a ser produzida a partir de uma tira de<br />

comprimento L e largura B<br />

Fig (4)<br />

Neste exemplo, S=x.t+(y-t).z(áreadapeça)<br />

B=y+2b<br />

p = passo da ferramenta: p=x+c<br />

a=p+2c<br />

Solução 1 Solução 2<br />

p=x+z+2c<br />

a=p+c<br />

b e c dimensões aconselhadas para o corte correto, tiradas da fig (3).<br />

O número de peças n para cada situação será:<br />

L=a+(n-1).p ⇒<br />

n= L-a<br />

p +1 (L = comprimento da tira)<br />

<strong>Estampagem</strong> <strong>dos</strong> aços inoxidáveis<br />

13


O rendimento, para cada situação é medido por:<br />

η= n.S<br />

LxB x100<br />

L = 1000 mm<br />

A solução 2 apresentada na Fig (4-c) apresenta um rendimento de 71% enquanto que a<br />

solução 1 Fig (4-b) apresenta um rendimento de apenas 49%. A Fig (5) mostra alguns<br />

exemplos de “lay out de tiras” para vários tipos de geometria de peças.<br />

Fig (5)<br />

14 <strong>Estampagem</strong> <strong>dos</strong> aços inoxidáveis


à Folgas entre punção (macho) e matriz<br />

As folgas são definidas em função da espessura das chapas a serem perfuradas. O<br />

mecanismo de perfuração por cisalhamento já foi abordado no Manual Técnico da<br />

ACESITA “Conformação <strong>dos</strong> <strong>Aços</strong> inoxidáveis”, que sugerimos ler.<br />

Recomenda-se, para furos, que as folgas totais não superem a 10% da espessura (5%<br />

por face) para impedir que um excesso de material resultante da perfuração escoe<br />

para dentro da matriz, acompanhando o movimento do punção. Para espessuras<br />

inferiores a 1,00 mm, a folga deve estar situada entre 0,03 e 0,04 mm do raio. A<br />

seção <strong>dos</strong> furos é função das folgas adotadas entre punção e matriz. A Fig (6) mostra<br />

o perfil do corte com as três zonas bem distintas: região deformada, região cisalhada<br />

e região fraturada.<br />

Perfil de uma chapa cortada<br />

Fig. (6)<br />

O dimensionamento de punção e matriz deve levar em conta as tolerâncias da peça a ser obtida.<br />

Como exemplo, vamos dimensionar o ferramental para a produção de uma arruela de aço inox<br />

com diâmetro externo de 30 mm e diâmetro interno de 10 mm, com uma espessura de 1,00 mm.<br />

Fig (7)<br />

<strong>Estampagem</strong> <strong>dos</strong> aços inoxidáveis<br />

15


Considerando-se uma folga de 5% da espessura por face, tem-se:<br />

½ f = 1,00 x 0,05 = 0,05 mm<br />

Para a determinação do diâmetro do macho(punção), deve-se tomar a medida máxima do<br />

furo. Para as dimensões externas, parte recortada da peça, a medida da matriz deve estar na<br />

faixa mínima da tolerância. Esta precaução se deve ao fato de haver desgaste tanto do macho<br />

como da matriz, à medida que se estampam as arruelas.<br />

Desta forma, as dimensões de macho (punção) e matriz devem ser:<br />

Operação Descrição<br />

Furação<br />

Recorte<br />

Punção<br />

Matriz<br />

Punção<br />

Matriz<br />

Medida<br />

nominal<br />

(mm)<br />

10<br />

10<br />

30<br />

30<br />

Tolerância<br />

max (mm)<br />

± 0,20<br />

± 0,20<br />

± 0,20<br />

± 0,20<br />

Folga<br />

(mm)<br />

-<br />

+ 0,10<br />

-<br />

+ 0,10<br />

Final<br />

(mm)<br />

10,20<br />

10,30<br />

29,70<br />

29,80<br />

à Forças envolvidas na operação de corte<br />

A força de corte depende diretamente do tipo de material, da espessura da chapa e<br />

do perímetro de corte. A espessura da chapa e o perímetro de corte são grandezas<br />

facilmente conhecidas. A influência do material na força de corte vem por meio de um<br />

valor tabelado chamado “Pressão Específica de Corte” (k c ), que é uma função da<br />

tensão de ruptura (σ R ). O valor de k c foi determinado experimentalmente em<br />

Material<br />

k c = 80%.σ R<br />

k c (kgf / mm 2)<br />

Recozido Encruado<br />

Aço Carbono até 0,1% C 24 32<br />

Aço Inox 304 50 56<br />

Fig. (8)<br />

16 <strong>Estampagem</strong> <strong>dos</strong> aços inoxidáveis


Desta forma, o cálculo da força de corte F c pode ser feito a partir da fórmula abaixo, que é<br />

função da espessura da chapa, do perímetro de corte e da pressão específica de corte:<br />

onde{<br />

F c = e.p.k c<br />

e = espessura da chapa em mm;<br />

p = perímetro de corte em mm<br />

k c = pressão específica de corte (kgf / mm 2 )<br />

Também de forma experimental, foram determinadas as expressões para o cálculo das:<br />

à força de prensa-chapa (F pc ), definida como sendo a força necessária para manter a<br />

chapa presa sobre a matriz durante a operação:<br />

F pc = 5,4 e.p e,<br />

à força de extração (F ex ), como sendo a força necessária para retirar a chapa cortada<br />

ou furada do macho no retorno da prensa, cujos valores são obti<strong>dos</strong> por:<br />

F ex =(3-5)%F c<br />

F ex = (10 - 20)% F c<br />

para (d/e) > 8<br />

para 2 ≤ (d/e) ≤ 8<br />

Usualmente, F ex = 10% F c<br />

A prática de se construir as arestas de corte inclinadas, tanto para o punção como para a<br />

matriz, diminui a força de corte necessária por possibilitar um corte progressivo.<br />

Conforme mostra a Fig (9), pode-se dispor arestas inclinadas tanto na matriz quanto no<br />

punção.<br />

Quando a parte cortada é a peça final, a inclinação deve ser feita na matriz (9-a).<br />

Entretanto, quando a parte cortada é retalho, a inclinação deve ser feita no punção (9-b).<br />

<strong>Estampagem</strong> <strong>dos</strong> aços inoxidáveis<br />

17


Fig (9)<br />

O gráfico da Fig (10) compara as forças envolvidas quando se utilizam ou não arestas<br />

inclinadas.<br />

Gráfico comparativo das forças de corte<br />

Fig (10)<br />

18 <strong>Estampagem</strong> <strong>dos</strong> aços inoxidáveis


à Dimensionamento da matriz<br />

A primeira etapa no dimensionamento é a determinação da altura (H) da matriz, que<br />

é obtida pela relação:<br />

3<br />

H ≥ Fc<br />

A distância de uma aresta de corte com as laterais da matriz depende do tipo de aresta:<br />

à circular (raio ou circunferência);<br />

à face paralela;<br />

à encontro de arestas em ângulo.<br />

Também existem valores orientativos para as distâncias entre os furos de parafusos, pinos de<br />

guia e arestas de corte. As diferentes distâncias entre elementos da matriz são apresentadas<br />

nos desenhos da Fig (11).<br />

Fig. (11)<br />

<strong>Estampagem</strong> <strong>dos</strong> aços inoxidáveis<br />

19


Matrizes acima de 200 mm são necessariamente construídas em partes (postiços), em<br />

função tanto de distorções provenientes de tratamento térmico quanto da diminuição<br />

da altura necessária para suportar o esforço de corte. Isto porque o dimensionamento<br />

da altura do postiço é feito em função da força de corte incidente sobre ele. Ou seja,<br />

cada postiço deverá suportar os esforços correspondentes ao perímetro de corte que<br />

ele possui. A Fig (12) mostra exemplos de matrizes construídas com postiços.<br />

Exemplo de construção de matrizes<br />

Fig 12<br />

A seguir, na Fig (13), mostramos vários exemplos de matrizes construídas com postiços<br />

20 <strong>Estampagem</strong> <strong>dos</strong> aços inoxidáveis


Fig (13)<br />

<strong>Estampagem</strong> <strong>dos</strong> aços inoxidáveis<br />

21


à Escolha de molas<br />

As molas utilizadas em estampos devem ser escolhidas entre as molas comerciais de<br />

forma criteriosa. Existem vários tipos e tamanhos de molas para estampos que são<br />

comercializadas de forma a atender a maioria das aplicações.<br />

As molas possuem características específicas que são:<br />

ã constante elástica;<br />

ã curso útil da mola.<br />

A constante elástica mostra a força que esta mola vai exercer em seus apoios quando<br />

sofrer uma unidade de comprimento de compressão. Esta característica pode ser<br />

representada em gráficos. No gráfico, pode-se determinar a força que a mola exerce<br />

quando se encontra comprimida de um certo valor.<br />

O curso total da mola é o valor que a mola pode ser comprimida até que suas espiras<br />

se encostem, curso que nunca deve ser atingido.<br />

Toda a nomenclatura para as partes da mola e dimensões específicas se encontra na<br />

figura 14.<br />

Fig. (14)<br />

A escolha de uma mola pode ser obtida seguindo-se o exemplo abaixo:<br />

Exemplo:<br />

Deseja-se estampar um furo de 4mm de diâmetro em uma chapa de aço inox de 0,5 mm de<br />

espessura com k c = 50 kgf/mm 2 .<br />

22 <strong>Estampagem</strong> <strong>dos</strong> aços inoxidáveis<br />

D - Diâmetro externo<br />

di - Diâmetro interno<br />

da - Diâmetro do arame<br />

f - Flexa ou Curso total da mola<br />

dm - Diâmetro médio<br />

L - Comprimento livre<br />

p - Passo = da +f<br />

n - Número de espiras


Solução:<br />

1º. Cálculo das forças de corte e de extração:<br />

F c = π.d.e.k c ⇒ π x 4 x 0,5 x 50 = 314 kgf<br />

F ex =5%F c ⇒ 314 x 0,050 = 15,7 kgf<br />

2º. Escolha da mola:<br />

O bom senso indica escolher uma mola com carga útil de pelo menos 3 vezes a força de<br />

extração. Seja a mola com as seguintes características:<br />

D=30mm<br />

d a =6 mm<br />

f = 0,5 mm por espira<br />

F = 50 kgf (carga útil da mola para a flecha f indicada)<br />

Adota-se uma pré-tensão f 1 para garantir a extração da peça, cujo valor é definido por:<br />

f 1 /F ex =f/F ⇒ f 1 =(f.F ex )/F<br />

f 1 = (0,50 x 15,7) / 50 = 0,157 mm<br />

Para garantia de que as espiras não se toquem, impõe-se um curso útil por espira de<br />

Δ f u =f-(f 1 +f 2 ) sendo f 2 = 0,1 mm.<br />

Nesta situação, Δ f u = 0,5 - (0,157 + 0,1) = 0,245 mm<br />

A distribuição <strong>dos</strong> cursos menciona<strong>dos</strong> pode ser vista na figura 15, que apresenta o gráfico<br />

de carga (força) x curso (compressão ou flecha)<br />

Gráfico de distribuição <strong>dos</strong> cursos por espira<br />

Fig. (15)<br />

<strong>Estampagem</strong> <strong>dos</strong> aços inoxidáveis<br />

23


3º. Cálculo do número de espiras<br />

Supondo-se um curso de extração no estampo de 1 mm, 0,5 mm de espessura da peça e 0,5<br />

mm de penetração do punção na matriz, calcula-se o número de espiras da mola para atender<br />

este curso determinado, como se segue:<br />

Curso de extração 1<br />

n =<br />

=<br />

Δ fu 0, 245<br />

n = 4 espiras<br />

Com o valor do passo da mola p = da + f (fig 14) =6+0,5=6,5, calcula-se o comprimento<br />

livre da mola, através da fórmula abaixo:<br />

L ≈ (n-1) p + 1,5 da L ≈ (4-1) x 6,4 + 1,5 x 6<br />

L ≈ 28,5 mm<br />

4º. Determinação do alojamento da mola no estampo<br />

O curso de pré-tensão para as 4 espiras da mola é definido por:<br />

f pre =f 1 x 4 = 0,157 x 4 ⇒ f pre = 0,628 mm<br />

e o comprimento pré-tensionado da mola será:<br />

Lpre =L-fpre = 28,5 - 0,628 ⇒ Lpre = 27,87 mm<br />

O valor de L pre deve ser a altura do alojamento da mola no estampo. As molas podem ser<br />

montadas de duas formas nos estampos: montagem simples (fig 16-a) e montagem em<br />

paralelo (fig 16-b), que permite a utilização de um número maior de molas menores montadas<br />

lado a lado.<br />

Fig (16)<br />

24 <strong>Estampagem</strong> <strong>dos</strong> aços inoxidáveis


Além das molas tradicionais, helicoidais de arames de seção circular ou retangular, existem<br />

molas de poliuretano e mola tipo prato que podem ser utilizadas em estampos. Para estes tipos<br />

de mola, o cálculo é semelhante ao apresentado anteriormente, sendo as particularidades de<br />

cada uma delas fornecidas pelos fabricantes.<br />

A seguir, ilustramos alguns equipamentos de corte e perfuração de chapas de aços<br />

inoxidáveis, bem como a concepção de matrizes de furação de chapas:<br />

Fig. (17)<br />

<strong>Estampagem</strong> <strong>dos</strong> aços inoxidáveis<br />

25


4.2 - DOBRAMENTO<br />

No dobramento, a chapa sofre uma deformação por flexão em prensas que fornecem a<br />

energia e os movimentos necessários para realizar a operação. A forma é conferida mediante<br />

o emprego de punção e matriz específicas até atingir a forma desejada.<br />

Prensa dobradeira e dobramento de perfis<br />

Fig (18)<br />

Para comprimentos de dobra considera<strong>dos</strong> pequenos, utilizam-se estampos que possuem a<br />

forma a ser dobrada. Para fabricação de perfis dobra<strong>dos</strong> ou alguns tipos de peças com<br />

comprimentos de dobras considera<strong>dos</strong> grandes, utilizam-se prensas dobradeiras/viradeiras<br />

26 <strong>Estampagem</strong> <strong>dos</strong> aços inoxidáveis


com matrizes e machos (punções) universais (processo considerado no Manual Técnico de<br />

Conformação da ACESITA). O dobramento pode ser conseguido em uma ou mais operações,<br />

com uma ou mais peças por vez, de forma progressiva ou em operações individuais.<br />

Dobramento em prensas dobradeiras em várias operações<br />

Fig. (19)<br />

Os estampos de dobra, em geral, recebem peças semiprocessadas vindas de outros estampos<br />

de corte ou simplesmente recortadas por guilhotinas.<br />

Na operação de dobramento deve-se levar em conta quatro fatores importantes:<br />

à a capacidade elástica do material;<br />

à o raio interno mínimo da peça a ser dobrada;<br />

à o comprimento desenvolvido da peça;<br />

à as forças que atuam na operação de dobramento.<br />

<strong>Estampagem</strong> <strong>dos</strong> aços inoxidáveis<br />

27


à Capacidade elástica do material<br />

O dobramento é uma operação onde ocorre uma deformação por flexão. Quando<br />

um metal é dobrado, a sua superfície externa fica tracionada e a interna comprimida.<br />

Estas tensões aumentam a partir de uma linha interna neutra, chegando a valores<br />

máximos nas camadas externa e interna.<br />

Em outras palavras, em um dobramento a tensão varia de um máximo negativo na<br />

camada interna para zero na linha neutra e daí sobe a um máximo positivo na<br />

camada externa (fig 20).<br />

Retorno elástico<br />

Fig (20)<br />

Desta forma, uma parte da tensões atuantes na seção dobrada estará abaixo do limite de<br />

escoamento (LE) e a outra parte supera a este limite, conferindo à peça uma deformação<br />

plástica permanente. Uma vez cessado o esforço de dobramento, a parte da seção que ficou<br />

submetida a tensões inferiores ao LE por ter permanecido no domínio elástico, tende a retornar<br />

à posição inicial anterior ao dobramento. Como resultado, o corpo dobrado apresenta um<br />

pequeno “retorno elástico” ou efeito mola (spring back) que deve ser compensado durante a<br />

operação de dobramento.<br />

Como indicação, a tabela da figura 21 mostra o retorno elástico de alguns tipos de aços<br />

inoxidáveis austeníticos em relação ao raio interno de dobra e à espessura da chapa.<br />

Tipo do<br />

Aço Inoxidável<br />

302 e 304<br />

301<br />

Retorno elástico para dobramento a 90º<br />

Raio de dobramento (e = espessura da chapa)<br />

1e 6e 20e<br />

2°<br />

4°<br />

Fig. (21)<br />

28 <strong>Estampagem</strong> <strong>dos</strong> aços inoxidáveis<br />

4°<br />

13°<br />

15°<br />

43°


Em alguns casos, é utilizada a prática de se efetuar uma calibragem em estampo específico, já<br />

compensado o retorno elástico, para dar as dimensões finais da peça. Este procedimento é<br />

viabilizado em produção seriada onde o custo do estampo calibrador pode ser diluído no<br />

preço da unitário da peça (fig.22).<br />

Fig. (22)<br />

à Raio interno mínimo<br />

Quanto menor o raio de dobramento, maiores são as tensões desenvolvidas na<br />

região tracionada. Um excessivo tracionamento provocado por um pequeno raio de<br />

dobramento pode vir a romper as fibras externas da chapa dobrada.<br />

Define-se o raio interno mínimo de dobra, como o menor valor admissível para o raio<br />

para se evitar grande variação na espessura da chapa na região dobrada. Este valor<br />

é função do alongamento que o material sofre ao ser tracionado e da espessura da<br />

chapa que está sendo dobrada.<br />

<strong>Estampagem</strong> <strong>dos</strong> aços inoxidáveis<br />

29


Fig (23)<br />

Para a determinação do raio mínimo, costuma-se utilizar a relação:<br />

R min = 50e<br />

Al%<br />

e<br />

−<br />

2<br />

onde R min = raio mínimo<br />

Al% = alongamento % da chapa<br />

e = espessura da chapa<br />

Por exemplo, o raio de dobramento mínimo para uma chapa de 1,5 mm de aço inox 304 com<br />

alongamento garantido de 60% é de:<br />

Rmin = (50 x 1,5) / 60 - 1,5/2 = 0,94 mm<br />

à Comprimento desenvolvido<br />

Quando se quer produzir uma peça dobrada, é necessário conhecer a dimensão<br />

inicial da chapa a ser utilizada - o chamado comprimento desenvolvido da peça.<br />

A variação da espessura da chapa na região da dobra impede que o comprimento<br />

desenvolvido seja simplesmente a soma <strong>dos</strong> comprimentos retos e curvos da peça.<br />

Deve-se levar em conta esta variação de espessura da região dobrada, para se obter<br />

o exato comprimento da chapa que vai dar origem à peça.<br />

O comprimento desenvolvido da região dobrada é obtido pela fórmula:<br />

Onde, L e = 0,0175 α (R i +t 4<br />

2 )<br />

0,0175 = π / 180<br />

α = ângulo de dobramento<br />

R i = raio de dobramento<br />

e = espessura<br />

f = fator de correção<br />

30 <strong>Estampagem</strong> <strong>dos</strong> aços inoxidáveis


A tabela da figura 24 mostra os valores de f (fator de correção) em função da relação do raio<br />

de dobramento com a espessura da chapa<br />

Fator de correção da variação da espessura<br />

R i /e 5 3 2 1,2 0,8 0,5<br />

Exemplo<br />

f 1,0 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5<br />

Fig. (24)<br />

Calcular o comprimento desenvolvido da chapa utilizada para fabricar o perfil U da fig.25<br />

Material: aço inox 304<br />

Alongamento: 37,5%<br />

Espessura e=3mm<br />

Largura b = 20 mm<br />

Comprimentos c = 40 m<br />

d=20mm<br />

Fig 25<br />

<strong>Estampagem</strong> <strong>dos</strong> aços inoxidáveis<br />

31


Cálculo do raio mínimo:<br />

R i = (50 x 3 37,5) - (3 2) = 2,5 mm<br />

Cálculo do comprimento desenvolvido da região dobrada:<br />

R i /e = 2,5 3 = 0,833 ⇒ f = 0,65<br />

L d = 0,0175 x 90 x (2,5 + 0,65 x3÷2) = 5,47 mm<br />

O comprimento desenvolvido da peça será:<br />

L=2L d +c+2d=2x5,47+40+2x20=90,940 mm<br />

A largura da chapa onde o perfil vai ser dobrado é b = 20 mm<br />

Neste caso, especifica-se uma chapa de 3,0 x 20 x 90,940 mm de aço inox 304 para<br />

fabricar o perfil da figura 25.<br />

à Forças que atuam na operação de dobramento<br />

As principais forças que atuam na operação de dobramento são:<br />

ã a força de dobramento (F d );<br />

ã a força de prensa-chapa (F pc )e,<br />

ã a força lateral (F lat )<br />

Numa dobra simples em matriz, parte da chapa fica presa pelo prensa chapa e a outra parte<br />

permanece livre, todo o conjunto funcionando como uma viga em balanço (fig.26).<br />

Forças, distâncias e momentos num processo de dobra simples<br />

Fig. (26)<br />

32 <strong>Estampagem</strong> <strong>dos</strong> aços inoxidáveis


O punção ao descer exerce a força de dobramento (F d) sobre a parte em balanço da chapa,<br />

que começa a se deformar. Parte desta força é transferida à parede lateral da matriz à medida<br />

que a chapa se deforma. A força lateral é máxima quando a chapa atingir uma posição de<br />

45º com a horizontal (fig 27).<br />

Fig.(27)<br />

A tensão necessária para vencer o limite elástico e o encruamento do material para que haja<br />

deformação plástica (permanente) é a tensão de dobramento σ, cujos valores são defini<strong>dos</strong><br />

pelas relações da tabela da Fig (28), que levam em consideração coeficientes de segurança<br />

para garantir o sucesso do processo.<br />

Tipo de Processo d<br />

Sem calibragem 2xσ rup<br />

Com calibragem 8xσ rup<br />

Fig (28)<br />

A calibragem corresponde ao endireitamento da peça dobrada (fundo do U ou laterais de V,<br />

por exemplo). A operação de dobramento com calibragem minimiza o efeito do retorno<br />

elástico. Para se calcular as forças que atuam no dobramento, consideram-se:<br />

ã o comprimento da dobra (b);<br />

ã a espessura da dobra (e);<br />

<strong>Estampagem</strong> <strong>dos</strong> aços inoxidáveis<br />

33


e definem-se:<br />

ã a distância entre o ponto de aplicação da força até a região engastada que, no<br />

caso é a própria espessura da chapa (e)<br />

ã distância do centro da mola do prensa chapa até a face da matriz (a)<br />

Tipo de força Tipo de dobramento Valor da força<br />

Força de dobramento (F d )<br />

Dobramento simples (F ds )= bxe<br />

6<br />

x (F du )= bxe<br />

3<br />

Dobramento em U (Fpc ) = (15 a 20%) (Fdu )<br />

Força de prensa chapa (Fpc) Dobramento em L (Fpc )= Fxe d<br />

a<br />

Força lateral (F ) lat (F )= lat Fd<br />

2<br />

A seguir, mostramos alguns tipos de estampos específicos para comprimentos de dobra<br />

pequenos para perfis tipo cantoneira (perfil em L), perfis em U e estampo para dobramentos<br />

em ângulos diferentes de 90° e/ou para correção de retorno elástico.<br />

Dobras em L<br />

Fig (30)<br />

34 <strong>Estampagem</strong> <strong>dos</strong> aços inoxidáveis<br />

x d σ<br />

x d σ


Duas formas distintas para o acionamentro do prensa chapa<br />

Dobra em U<br />

Fig (31)<br />

<strong>Estampagem</strong> <strong>dos</strong> aços inoxidáveis<br />

35


Estampo para dobramento em U com ângulos diferentes de 90° ou correção do retorno elástico<br />

Fig. (32)<br />

36 <strong>Estampagem</strong> <strong>dos</strong> aços inoxidáveis


4.3 - REPUXO<br />

O repuxo ou embutimento é uma operação de estampagem onde uma chapa, inicialmente<br />

plana, é transformada em um corpo oco sem que haja aparecimento de rugas e trincas. As<br />

ferramentas que permitem a obtenção da forma desejada são chamadas de estampos,<br />

constituí<strong>dos</strong> por um punção, uma matriz e um sujeitador chamado de prensa-chapa.<br />

Durante a operação de repuxo, o punção obriga a chapa penetrar na matriz movido pela<br />

ação de uma força denominada de força de repuxo (F R ). O material da chapa flui para dentro<br />

da matriz, configurando gradativamente as paredes laterais da peça.<br />

A geometria da aplicação da deformação é mostrada na Fig (33).<br />

Fig (33)<br />

As tensões que atuam no processo, são diferentes em cada região da peça, gerando<br />

variações na sua espessura.<br />

Fig. (34)<br />

<strong>Estampagem</strong> <strong>dos</strong> aços inoxidáveis<br />

37


Basicamente, existem quatro regiões com deformações distintas:<br />

à a parte plana do fundo da peça cuja espessura final é praticamente a mesma do<br />

blank, quase não apresentando deformação;<br />

à o raio do fundo da peça onde ocorre significativa deformação na espessura;<br />

à o raio da matriz onde se verifica um aumento de espessura pelas diferenças<br />

entre as tensões de tração, compressão e a componente tangencial;<br />

à as paredes laterais onde ocorre um decréscimo gradual da espessura até o fundo da<br />

peça.<br />

Fig (35)<br />

Os principais parâmetros envolvi<strong>dos</strong> na operação de repuxo, são:<br />

à a capacidade de alongamento do material;<br />

à a capacidade de embutimento do material - relação de repuxo;<br />

à a redução percentual;<br />

à o ferramental (matriz, punção e folgas);<br />

à a velocidade de conformação<br />

à os lubrificantes utiliza<strong>dos</strong><br />

à as forças que atuam na operação de repuxo<br />

38 <strong>Estampagem</strong> <strong>dos</strong> aços inoxidáveis


à Capacidade de alongamento do material<br />

A capacidade de alongamento é função da velocidade de endurecimento pelo<br />

trabalho mecânico a frio de cada material. Esta capacidade é medida pelo<br />

coeficiente de encruamento n (tangente à sua curva tensão deformação).<br />

Em materiais com elevado coeficiente de encruamento, a deformação localizada<br />

causa um incremento rápido da resistência mecânica e o material se torna capacitado<br />

a resistir cada vez mais à deformação.<br />

Em materiais de pequeno coeficiente de encruamento, a deformação localizada<br />

causa uma estricção (redução de seção) e uma perda da resistência mecânica.<br />

Comparativamente, os aços baixo carbono e o inox tipo 430 apresentam coeficientes<br />

n iguais a 0,22 enquanto que para o aço inox 304 este coeficiente atinge a n =<br />

0,48.<br />

A capacidade de endurecimento de um aço é uma função que depende basicamente<br />

de sua composição química.<br />

à Capacidade de embutimento do material<br />

A capacidade de embutimento de um material depende da sua relação de<br />

deformação plástica que é uma medida da resistência à estricção do material.<br />

A severidade máxima de repuxo é a condição limite de repuxo para uma única<br />

operação. É determinada para os aços inoxidáveis, a partir da relação prática,<br />

válida para o intervalo de 25 a 600 de d/e.<br />

βο max = 2,15 - 0,001 . d<br />

e<br />

onde d é o diâmetro do punção e “e” é a espessura da chapa.<br />

A relação abaixo é chamada de relação de repuxo em função da geometria da peça,<br />

βο = D<br />

d<br />

onde D é o diâmetro do blank edodiâmetro do punção.<br />

ã Se βο≤βο max , a peça poderá ser repuxada em apenas uma operação.<br />

ã Se βο>βο max , a peça necessariamente deverá ser estampada em mais de uma<br />

operação de repuxo.<br />

<strong>Estampagem</strong> <strong>dos</strong> aços inoxidáveis<br />

39


à Redução percentual<br />

A redução numa operação de repuxo é expressa por:<br />

Redução % =<br />

100 (D - d)<br />

D<br />

A redução % varia de 40 a 60% para os aços inoxidáveis austeníticos e de 40 a 55%<br />

para os aços ferríticos. Em estampagem profunda, o grau de redução varia de acordo<br />

com o raio da matriz utilizada. À medida que os raios das matrizes decrescem,<br />

diminuem também a estampabilidade <strong>dos</strong> aços inoxidáveis. A tabela da figura 36,<br />

mostra as reduções <strong>dos</strong> aços inoxidáveis austeníticos em função <strong>dos</strong> raios das<br />

matrizes.<br />

Raio da Matriz (*) Redução (%)<br />

15 e<br />

10 e<br />

5e<br />

2e<br />

(*) e = espessura do blank<br />

Fig.(36)<br />

50a60<br />

40a50<br />

30a40<br />

0a10<br />

Para o caso de βο>βο max , empregam-se reduções sucessivas (repuxos sucessivos)<br />

que consistem em dividir a operação de repuxo em várias etapas para que, em cada<br />

uma delas, a condição limite não seja atingida. Para os aços inox é freqüente se<br />

estabelecer a seguinte relação de redução: 35, 30, 20 e10%. A relação de redução<br />

vai diminuindo em cada operação sucessiva, pelo aumento progressivo do<br />

encruamento.<br />

à Ferramental - matriz, punção e folgas<br />

O ferramental deve ser projetado e construído levando-se em conta tanto a matériaprima<br />

(aço inox, aço carbono, bronze, etc), quanto a quantidade de peças a serem<br />

produzidas.<br />

O desgaste do conjunto matriz - punção é função do tipo de metal a ser embutido. Um<br />

metal de alta dureza causa maior desgaste que um metal macio; um metal oxidado<br />

aumenta a abrasão de duas a cinco vezes.<br />

Os aços inoxidáveis provocam alto desgaste por abrasão e tendem a aderir à matriz<br />

e ao punção e, por este motivo, recomenda-se o uso de materiais que minimizem esta<br />

adesão: aços ferramentas de alta dureza trata<strong>dos</strong> com cromo duro, punção e matriz<br />

endurecidas por tratamento de nitretação; matrizes compostas com a face de trabalho<br />

fabricadas com bronze alumínio.<br />

40 <strong>Estampagem</strong> <strong>dos</strong> aços inoxidáveis


Existem tabelas de seleção de materiais para ferramental em diferentes aplicações que podem<br />

servir de referência. Como exemplo, a figura 37 mostra alguns materiais recomenda<strong>dos</strong> para<br />

a confecção de punção e prensa-chapa para produção de pequenas, médias e grandes<br />

séries de peças.<br />

Descrição / ferramenta<br />

Peças de até 76 mm<br />

(seção cilíndrica e quadrada)<br />

Peças redondas<br />

(até 305 mm)<br />

Punção<br />

10.000<br />

peças<br />

W1 ou 4140<br />

cementado<br />

100.000<br />

peças<br />

W1 ou S1<br />

cementado<br />

1.000.000<br />

peças<br />

A2 ou D2<br />

Prensa-chapa W1 ou O1 W1 ou O1 W1 ou O1<br />

Punção<br />

Prensa-chapa<br />

Ferro fundido<br />

ligado<br />

Ferro fundido<br />

ligado<br />

Fig.(37)<br />

O1 A2 ou D2<br />

Ferro fundido<br />

ligado<br />

O1 ou A2<br />

A deformação da matéria-prima é levada a efeito, principalmente nos raios de curvatura da<br />

matriz, com as tolerâncias variando em função da espessura do blank.<br />

Os parâmetros de embutimento que dependem da espessura da matéria-prima, que são:<br />

ã raio da matriz;<br />

ã raio do punção;<br />

ã folgas matriz - punção<br />

As relações utilizadas para definir os parâmetros acima menciona<strong>dos</strong> são:<br />

onde R m é o raio da matriz e,<br />

onde δ é a folga punção matriz.<br />

Rm = 0,8 (D − d) x e<br />

δ = e + 0,07 10 x e<br />

<strong>Estampagem</strong> <strong>dos</strong> aços inoxidáveis<br />

41


A Fig (38) apresenta, como referência, os intervalos recomenda<strong>dos</strong> para o raio da matriz R m,o<br />

raio do punção reafolga matriz - punção δ em função da espessura do blank.<br />

Aço carbono<br />

Aço inox austenítico<br />

Aço inox ferrítico<br />

Aço inox martensítico<br />

e = espessura do material<br />

Material R m r folga ()<br />

4a8 e<br />

5a8 e<br />

7a15 e<br />

7a15 e<br />

Fig. (38)<br />

2e<br />

4e<br />

5e<br />

5e<br />

1,05 a 1,15 e<br />

1,20 a 1,40 e<br />

1,15 a 1,20 e<br />

1,15 a 1,20 e<br />

à Velocidade de conformação<br />

A velocidade de embutimento é um fator crítico. Uma velocidade excessiva, pode<br />

conduzir a fraturas ou a uma redução excessiva de parede na peça repuxada,<br />

principalmente em metais de menor dutilidade (maleabilidade).<br />

A velocidade de conformação deve ser escolhida à luz das seguintes considerações:<br />

ã uso de matéria prima de qualidade uniforme;<br />

ã peças simétricas de baixa severidade de redução;<br />

ã lubrificação adequada;<br />

ã qualidade do ferramental;<br />

ã pressão do prensa-chapa;<br />

ã qualidade da prensa.<br />

42 <strong>Estampagem</strong> <strong>dos</strong> aços inoxidáveis


Para os aços inoxidáveis austeníticos a velocidade máxima de conformação é da<br />

ordem de 9a12m/min. À medida que estas condições pioram, as velocidades de<br />

conformação se reduzem. Em condições piores, pode se estabelecer os valores<br />

indicativos de6a9m/min. para os aços austeníticos e de4a6m/min. para os aços<br />

ferríticos.<br />

à Lubrificantes<br />

Em geral, utiliza-se um lubrificante para evitar os contatos metal-metal que levam à<br />

adesão a frio entre eles. Com esta finalidade, o lubrificante deve ser aplicado<br />

uniformemente em toda a superfície metálica.<br />

Freqüentemente, à medida que se aumenta a efetividade de um lubrificante, aumenta<br />

também a dificuldade de sua remoção. No caso <strong>dos</strong> aços inox, devido ao seu apelo<br />

estético esta remoção deve ser considerada principalmente no caso de necessidade<br />

de recozimento posterior, onde a queima <strong>dos</strong> resíduos <strong>dos</strong> lubrificantes podem<br />

manchar a peça.<br />

Existem vários tipos de lubrificação:<br />

ã lubrificação de película grossa, que evita totalmente o contato metal-metal;<br />

ã lubrificação de película fina ou mista, que permite algum contato metal-metal;<br />

ã lubrificação de fronteira, que permite uma aderência física entre o lubrificante e<br />

a superfície, o que reduz a espessura do filme;<br />

ã lubrificação de pressão extrema, onde as superfícies metálicas mudam pela<br />

ação de uma reação química que forma compostos de baixa resistência e<br />

cedem facilmente à aplicação de uma deformação;<br />

ã lubrificação de película sólida onde a separação metal-metal é feita pela<br />

interposição de uma capa de substâncias sólidas. O mecanismo desta<br />

lubrificação é idêntico ao da película grossa.<br />

Alguns lubrificantes atacam determina<strong>dos</strong> metais, inclusive aos aços inoxidáveis.<br />

Lubrificantes a base de chumbo e zinco promovem a corrosão intergranular nos aços<br />

inoxidáveis quando estes são submeti<strong>dos</strong> a tratamento térmico ou trabalho a quente e<br />

por isso devem ser evita<strong>dos</strong>.<br />

A seleção de um lubrificante é tão crítica que algumas indústrias modificaram seus<br />

processos de fabricação somente para permitir o uso de lubrificante de mais fácil<br />

remoção.<br />

A tabela da figura 39 relaciona os lubrificantes mais comumente utiliza<strong>dos</strong>,<br />

classifica<strong>dos</strong> pela facilidade de remoção por meio aquoso ou por desengraxantes<br />

e/ou solventes.<br />

<strong>Estampagem</strong> <strong>dos</strong> aços inoxidáveis<br />

43


Redução<br />

r%<br />

Lubrificante Eliminação<br />

Base Tipo<br />

com<br />

Veículo<br />

Aquoso<br />

com<br />

Desengraxante/<br />

Solvente<br />

Efetividade<br />

de<br />

aplicação<br />

r% ≤ 10 Aquosa Emulsão de óleo 5 - 20% 10 8 6<br />

11 ≤ r% ≤ 20 Aquosa Solução de sabão 5 - 20% 10 3 6<br />

21 ≤ r% ≤ 40 Aquosa<br />

% > 40 Aquosa<br />

r% ≤ 10 Oleosa<br />

11 ≤ r% ≤ 20 Oleosa<br />

21 ≤ r% ≤ 40 Oleosa<br />

% > 40 Oleosa<br />

Pasta diluída de sabão e<br />

graxa<br />

Emulsão de óleo p/ uso<br />

pesado, com Cl - eS =<br />

Pasta pigmentada<br />

sabão/graxa<br />

Pasta cera/sabão/borax<br />

Óleo residual de processo<br />

Óleo mineral<br />

Óleo mineral c/ 10 - 30% de<br />

ácido graxo<br />

Idem com 2 - 20% de óleo<br />

clorado ou sulfuradoi<br />

Áci<strong>dos</strong> graxos<br />

Óleo mineral com 5 - 50% de:<br />

- óleo clorado não<br />

emulsionável<br />

- óleo clorado emulsionável<br />

Óleo fosfatado concentrado<br />

Mistura de óleo mineral com<br />

pastas pigmentadas<br />

sabão/graxa<br />

Fig (39)<br />

6<br />

10<br />

5<br />

8<br />

8<br />

8<br />

8<br />

7<br />

6<br />

5<br />

8<br />

6<br />

5<br />

8<br />

3<br />

3<br />

10<br />

10<br />

10<br />

8<br />

6<br />

8<br />

8<br />

6<br />

8<br />

7<br />

10<br />

8<br />

6<br />

6<br />

8<br />

7<br />

8<br />

6<br />

6<br />

7<br />

5 5 9<br />

Obs: Os lubrificantes foram classifica<strong>dos</strong> em notas de zero a dez, com o valor zero<br />

correspondendo ao pior comportamento e dez ao melhor comportamento.<br />

A redução da coluna à esquerda se refere à porcentagem de redução de diâmetro de peças<br />

cilindricas.<br />

44 <strong>Estampagem</strong> <strong>dos</strong> aços inoxidáveis


O pó de grafite e graxa de sulfeto de molibdênio só se recomendam em aplicações a altas<br />

temperaturas.<br />

à Forças que atuam na operação de repuxo<br />

As forças que atuam na operação de repuxo são as forças de repuxo e de prensachapa.<br />

Considerando:<br />

Resistência à tração do aço inox (σ B ) emkgf/mm 2<br />

Fator de correção da severidade de repuxo (s) s = 1,2 x<br />

βο− 1<br />

βοmax −1<br />

Área de atuação do prensa-chapa (Ac ) Ac = π<br />

4 (D2 2 2<br />

-d0 )emcm<br />

Pressão do prensa-chapa (p) p=0,25[(β0-1) 2 + 0,5d<br />

100e ] σ B em kgf / cm2<br />

Definem-se:<br />

Força de repuxo (F R ) ⇒ F R = π .d.e.σ B .s<br />

Força do perensa chapa (F pc ) ⇒ F pc =p.A c<br />

à Cálculo <strong>dos</strong> blanks<br />

A seguir mostramos como calcular blanks de peças cilíndricas e não cilindricas.<br />

ã Cálculo de blanks cilindricos:<br />

Os diâmetros <strong>dos</strong> blanks cilindricos são calcula<strong>dos</strong> pelas fórmulas abaixo, de acordo<br />

com a forma da peça.<br />

Fig (40)<br />

<strong>Estampagem</strong> <strong>dos</strong> aços inoxidáveis<br />

45


Exemplos:<br />

Calcular os blanks das figuras acima, onded=50mm;d 1= 50 mm; d 2 =55mmeh=100mm<br />

2<br />

Cálculo do blank da fig (40-a) ⇒ D= 50 + 4 x 50 x 100<br />

β 0 = 150<br />

50 = 3,00 sendo β 0max<br />

50<br />

= 2,15 - 0,001 x = 2,09<br />

080 ,<br />

= 150 mm<br />

Como β 0 >β 0max , a peça será estampada em mais de uma operação de repuxo.<br />

2<br />

Cálculo do blank da fig (40-b) ⇒ D= 55 + 4 x 50 x 100<br />

β0 = 15174 ,<br />

50<br />

= 3,03 sendo β0max = 2,15 - 0,001 x 50<br />

= 2,09<br />

080 ,<br />

= 151,74 mm<br />

Também neste caso, a peça será estampada em mais de uma operação de repuxo.<br />

ã Cálculo de blanks não cilindricos<br />

Seja por exemplo, calcular o blank da cuba de pia de aço inox da figura 41.<br />

Fig (41)<br />

46 <strong>Estampagem</strong> <strong>dos</strong> aços inoxidáveis


As dimensões do blank vão ser o comprimento desenvolvido pela largura desenvolvida da<br />

cuba acresci<strong>dos</strong> de uma borda para o contato com o prensa chapa. As dimensões<br />

desenvolvidas são tomadas em relação à fibra média (metade de espessura). O comprimento<br />

desenvolvido das regiões dobradas (, , e ) é calculado pela fórmula apresentada na<br />

página 30:<br />

L d = 0,0175.α (R i +f e<br />

2 )<br />

Comprimento Largura<br />

= =10-5-0,80 = 4,20 mm<br />

= = = = 0,0175 x 90 x (5 + ½ 0,8)<br />

= 8,51 mm<br />

= =90-2x5,8=78,40 mm<br />

=480-2x5=470 mm<br />

= = 4,20 mm<br />

= = = 8,51 mm<br />

= = 78,40 mm<br />

=280-2x5=270 mm<br />

Comprimento desenvolvido Largura desenvolvida<br />

A=2x4,2+4x8,51 + 2 x78,4 + 470<br />

A = 669,24 mm<br />

Portanto, o material necessário para recortar o blank teórico será:<br />

0,8 x (669,24 x 469,24)<br />

A=2x4,2+4x8,51 + 2 x78,4 + 270<br />

B = 469,24 mm<br />

A nossa cuba é uma peça retangular com 4 raios de 60 mm formando a concordância das<br />

paredes laterais. Na operação de repuxo de peças não cilindricas, os raios de repuxo<br />

apresentam um comportamento idêntico ao de uma peça cilindrica. Por esta razão, considerase<br />

um cilindro imaginário em cada raio de repuxo, com raios e altura iguais aos do produto.<br />

Os cantos devem ser recorta<strong>dos</strong> para aliviar o contato entre blank e prensa-chapa, para<br />

facilitar o escoamento do metal.<br />

Para se determinar o recorte do excesso de material do blank já calculado, calcula-se o<br />

diâmetro do cilindro imaginário (D ci) desenhando-o conforme o mostrado na figura 42.<br />

<strong>Estampagem</strong> <strong>dos</strong> aços inoxidáveis<br />

47


O valor de D ci é determinado por:<br />

2<br />

Dci = d + 4. d .h , onde<br />

2<br />

1<br />

Fig. (42)<br />

d 2 =2 x (60 + 10) = 140 mm (diâmetro correspondente ao raio externo da aba da cuba)<br />

d 1 =2x60=120 mm (diâmetro correspondente ao raio de concordância das<br />

paredes laterais)<br />

h=90 mm (profundidade da cuba<br />

2<br />

Dci = 140 + 4x120x9 0 = 250,66 mm<br />

A cota da tangente ao D ci é dada por:<br />

t= D ci<br />

32<br />

250, 66<br />

=<br />

32<br />

= 7,83<br />

Com estes valores, pode-se traçar o blank teórico para o primeiro teste (“try-out”) do estampo<br />

com o objetivo de se definir o blank real.<br />

ˆ3ˆ2 = 7,83<br />

β 0 =<br />

250, 66<br />

120<br />

= 2,07 sendo β0max = 2,15 - 0,001 x 120<br />

= 2,00<br />

080 ,<br />

Para calcularmos a força de repuxo, utiliza-se a fórmula da página 45,<br />

F R = π.d.e.σ B.s<br />

48 <strong>Estampagem</strong> <strong>dos</strong> aços inoxidáveis


onde:<br />

σ B = 50 kgf/mm 2 ,<br />

s = 1,2 x β<br />

β0<br />

0 −1<br />

max−<br />

208 , −1<br />

= 1,2 x = 1,31<br />

1 200 , − 1<br />

o diâmetro d é substituído pelo diâmetro equivalente definido por:<br />

d eq = 1,13 S, S = área transversal do macho de repuxo.<br />

No nosso caso, a área S é:<br />

S=+2x+2x+4x= 57.600 +2x9.600 +2x21.600 + 11.309,73<br />

S = 131.309,73<br />

O valor da força de repuxo necessária é então:<br />

F = π x 1,13 x R 131309 . , 73 x 0,80 x 50 x 1,31 = 67.407,47 ≅ 67 toneladas<br />

<strong>Estampagem</strong> <strong>dos</strong> aços inoxidáveis<br />

49


5. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Este manual técnico contém as informações básicas para o desenvolvimento <strong>dos</strong><br />

conhecimentos de profissionais interessa<strong>dos</strong> no assunto. As informações nele contidas, são<br />

gerais e servem como uma primeira abordagem prática. Em nenhum momento se pretendeu<br />

esgotar o assunto tratado.<br />

Diferenças de comportamento mecânico entre os aços inoxidáveis e aços carbono exigem,<br />

para a conformação do inox, equipamentos mais robustos para conformar as mesmas<br />

espessuras.<br />

Porém, em grande parte <strong>dos</strong> casos, o maior grau de encruamento <strong>dos</strong> aços inoxidáveis pode<br />

ser compensado pela sua excelente resistência à corrosão atmosférica, viabilizando o<br />

emprego de espessuras menores do que aquelas especificadas para os aços carbono. E, com<br />

espessuras reduzidas, os componentes e peças de aços inox ficam mais leves e os esforços de<br />

conformação podem se aproximar daqueles exigi<strong>dos</strong> para a conformação <strong>dos</strong> aços carbono.<br />

Vale a pena enfatizar a absoluta necessidade de se proceder a limpeza criteriosa <strong>dos</strong><br />

equipamentos e ferramentas que processam simultaneamente aços inoxidáveis e aços<br />

carbono. Neste caso, recomenda-se o uso de ferramentas exclusivas para a conformação <strong>dos</strong><br />

aços inoxidáveis. Caso isto não seja economicamente viável, é imprescindível adotar a<br />

prática de limpar as ferramentas antes de iniciar o serviço. Em qualquer situação, é uma boa<br />

prática conformar o aço inox com a película protetora de PVC ou polietileno. Em suspeita de<br />

contaminação por resíduos de aço carbono, existe a necessidade de se proceder a sua<br />

remoção e restabelecer a camada passiva. O processo consiste em tratar as partes atingidas<br />

por solução levemente aquecida (50 a 60 ºC) de ácido nítrico em concentração de 20%. Na<br />

seqüência, a peça deve ser lavada e enxugada. Uma solução alternativa é submeter a peça<br />

ao jateamento ou lixamento das partes afetadas para remoção da contaminação. O oxigênio<br />

do ar deverá ser suficiente para recompor a camada passiva.<br />

A tabela a seguir mostra o desempenho comparativo <strong>dos</strong> aços inoxidáveis produzi<strong>dos</strong> pela<br />

ACESITA, disponíveis no mercado brasileiro<br />

Austeníticos<br />

Ferríticos<br />

<strong>Aços</strong><br />

301<br />

304<br />

304L<br />

316<br />

316L<br />

409<br />

430<br />

Limite de<br />

Escoamento<br />

(MPa)<br />

250 a 370<br />

240 a 350<br />

240 a 350<br />

250 a 370<br />

240 a 350<br />

180 a 320<br />

250 a 430<br />

Desempenho<br />

Perfuração Dobramento Calandragem<br />

C<br />

B<br />

B<br />

B<br />

B<br />

A<br />

A/B<br />

Martensítico 420 250 a 450 B/C C C/D<br />

A= excelente B = bom C = razoável D = não recomendado.<br />

50 <strong>Estampagem</strong> <strong>dos</strong> aços inoxidáveis<br />

B<br />

A<br />

A<br />

A<br />

A<br />

A<br />

A<br />

B<br />

A<br />

A<br />

A<br />

A<br />

A<br />

A


6. BIBLIOGRAFIA<br />

à Fabrication of Chromium - Nickel<br />

Stainless Steel - 300 Series - International Nickel Publication<br />

à Forming of Stainlen Steel and heat resisting alloys - Metal Handbook vol 4<br />

à Mexinox “El Embutido de Aceros Inoxidables” - Mexico<br />

Elaborado por El Dr. Rafael R. Ruiz Vázquez<br />

à Berruti Aldo - Stampi e Presse<br />

à Oehler - Kaiser - Herramientas de Troquelar, Estampar y Embutir<br />

à Bortoloto J. A. - Apostila de <strong>Estampagem</strong>.<br />

As informações contidas nesta publicação, resultam de testes de laboratório e de consultas às referências<br />

bibliográficas tradicionais e respeitáveis.<br />

O desempenho <strong>dos</strong> aços inoxidáveis em serviço ou durante a fabricação de produtos, pode sofrer alterações<br />

com mudanças de temperatura, PH, traços de elementos contaminantes, bem como em função do estado de<br />

conservação e correta ajustagem <strong>dos</strong> equipamentos de soldagem ou conformação, sendo ainda a adequada<br />

qualificação de mão-de-obra operacional de grande importância no processo. Por estas razões, as informações<br />

contidas nesta publicação, devem ser consideradas apenas como referência inicial para testes ou para uma<br />

especificação mais precisa por parte do comprador. A Acesita não se responsabiliza por perdas<br />

e/ou prejuízos decorrentes da utilização inadequada das informações aqui contidas.<br />

<strong>Estampagem</strong> <strong>dos</strong> aços inoxidáveis<br />

51

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