Da Epopéia Matogrossense - Biblioteca Virtual José de Mesquita
Da Epopéia Matogrossense - Biblioteca Virtual José de Mesquita
Da Epopéia Matogrossense - Biblioteca Virtual José de Mesquita
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
A Feliciano Galdino<br />
DA EPOPÉA MATOGROSSENSE<br />
Bom Jesus<br />
11<br />
11<br />
Foi esta imagem fabricada na villa <strong>de</strong><br />
Sorocaba por mãos <strong>de</strong> uma mulher;<br />
trouxe-a comsigo um Pedro <strong>de</strong> Moraes...<br />
e não po<strong>de</strong>ndo continuar o caminho<br />
pelas difficulda<strong>de</strong>s que naquelles tempos<br />
havia, arriba e <strong>de</strong>ixa a imagem em um<br />
rancho coberto <strong>de</strong> palha... o que<br />
sabendo-se nesta villa, foi mandado<br />
buscal-a...<br />
(Chronicas <strong>de</strong> Cuiabá, anno <strong>de</strong> 1729)<br />
Mãos <strong>de</strong> mulher, na velha e heróica Sorocaba,<br />
fizeram esta augusta imagem do Senhor.<br />
Trouxe-a não um extranho, um advena, um emboaba,<br />
Mas Pedra <strong>de</strong> Moraes, paulista sem temor.<br />
Dura a rota, cruel a jornada, em que acaba<br />
o animo do mais ru<strong>de</strong> e audaz <strong>de</strong>sbravador:<br />
− rios nove a vencer, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Araritaguaba,<br />
serras e boqueirões medonhos a transpor !<br />
Mas quando, baldo o esforço, a energia vencida,<br />
param em Camapuan, <strong>de</strong>salentadamente,<br />
vem a imagem buscar uma turma luzida,<br />
que, entre festas e gáudio, ás minas a conduz<br />
e doando o Bom Jesus á Cuyabá virente,<br />
a linda Cuyabá consagra ao Bom Jesus!<br />
A Fernando Campos<br />
JOSÉ DE MESQUITA<br />
A heroína do carandá<br />
Começava a povoar-se o sertão, lento e lento.<br />
Nas catas, a faiscar, o ouro virgem fulgia.<br />
E abre-se nas monções, que sobem dia a dia,<br />
a tragédia da entrada e o ru<strong>de</strong> povoamento.<br />
Eis que se lhes <strong>de</strong>fronta a indômita energia<br />
do fero payaguá, num rechaço cruento,<br />
oppondo ao invasor a lança e o arco violento,<br />
que da barranca a flecha irosa <strong>de</strong>spedia.<br />
E ahi, no Carandá, enfrentam-se as três raças,<br />
e, na pugna cimmeria, inscreve-se o tremendo<br />
conflicto secular, repleno <strong>de</strong> <strong>de</strong>sgraças...<br />
. . . no districto do Carandá lhes sahio<br />
hum gran<strong>de</strong> tumulto <strong>de</strong> Payagoas . . .<br />
oppondosse unicamente Pimentel na sua<br />
canoa auxiliado <strong>de</strong> Maria mullata natural<br />
do Alentejo... Morto Pimentel, esgotado<br />
em sangue sustentou ainda a forte<br />
maltrona por espaço <strong>de</strong> uma hora a<br />
peleja com toda a brutina furia... lhe que<br />
exausta do sangue passou <strong>de</strong>sta a eterna<br />
vida.<br />
(Chronicas do Cuyabá, anno do 1733)<br />
E avulta, como á luz da ribalta eschyliana,<br />
essa extranha Mulher que, ao morrer, combatendo,<br />
baptiza com o seu sangue a terra cuyabana!<br />
12