PSICOTERAPIA E MEDITAÇÃO - Sociedade Vipassana de Meditação

programa para tanto. Em vez disso, vivenciamos um desdobramento de etapas, uma abertura, e as coisas
afloram naturalmente no momento certo para elas.
Por causa desse desdobramento natural, achamos que a atenção total na maioria das vezes é
suficientemente forte para lidar com qualquer coisa que apareça. Às vezes, pode, parecer que a batalha é
difícil e podemos até nos perguntar se a mente será suficientemente forte para passar pelas tempestades
inevitáveis. Mas como estamos participando de um processo orgânico, no qual não forçamos, nem esca-
vamos nem escolhemos, esses diferentes padrões psicológicos surgem com um grau de aptidão que torna
possível trabalhar com eles. E torna-se possível trabalhar com eles justamente por causa da nossa
capacidade de apenas observá-los, de ficar com eles e de deixá-los existir sem nenhuma elaboração, sem
nenhuma confusão.
Caso contrário, podemos nos envolver mentalmente com um projeto e nesse caso, a mente está
disposta a lidar com um problema. Essa mentalidade pode criar uma dose maior de sensação de debate, de
sensação de eu e fazer com que percamos o senso do desenrolar natural desse processo todo. Além disso,
se forçarmos alguns dos temas mais importantes de nossa psique, em vez de permitir que eles surjam
naturalmente, podemos nos sobrecarregar pelo que vier à tona.
Não é útil ou necessário criar uma polaridade ou um conflito entre essas duas áreas ou níveis mentais,
o meditativo e o psicológico. O domínio psicológico da compreensão é de grande importância para nossas
vidas e fornece um valioso complemento ao que aprendemos na meditação. E existem muitas técnicas de
investigação psicológica que podem servir melhor que a meditação à finalidade de uma compreensão
mais profunda. Quando estamos investigando nossos padrões psicológicos, deveríamos usar os
instrumentos mais apropriados para esse trabalho.
A finalidade da prática disciplinada da meditação é a de estabilizar a conscientização e de abri-la para
a natureza essencial da mente. Assim que começamos a meditar, quando estivermos realmente en-
xergando o surgimento momentâneo e passageiro dos fenômenos e a natureza da própria consciência, não
estaremos lidando de modo tão explícito com o conteúdo específico do nosso condicionamento. Pelo
contrário, estaremos mais sintonizados com a natureza transitória e sem identidade dos fenômenos. Dessa
forma, poderemos nos aprofundar muito na nossa prática e até atingir níveis de genuína realização.
Mas esses momentos de despertar podem não resolver tudo. Na maioria das vezes, encontramos outra
tarefa totalmente diferente: a de integrar nossas novas introvisões e a consciência em todas as outras áreas
da nossa vida, incluindo o setor psicológico. Apesar da nossa profunda introvisão, podemos ver padrões
no nível de conteúdo que afetam negativamente nossos relacionamentos, nossa vida e que poderemos
explorar vantajosamente para tornar a vida mais fácil para nós mesmos e para os que nos cercam. Até os
mais experientes em meditações profundas podem sentir a necessidade de trabalhar produtivamente no
nível psicológico.
Portanto, pode ocorrer um maravilhoso relacionamento entre esses dois níveis da mente. Quanto mais
lucidez e maturidade tivermos no nível psicológico, tanto mais fácil é acomodar-se no processo da
meditação, simplesmente observando o surgimento e o desaparecimento da experiência, porque deixamos
de nos prender tantas vezes no debate com os conteúdos, com os conflitos emocionais.