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Modulo_Magico_de_Oz - Projeto Círculos de Leitura

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Módulo<br />

O Mágico <strong>de</strong><br />

<strong>Oz</strong><br />

L. Frank Baum<br />

Índice


11<br />

01 – A função do Mágico na constituição do psiquismo, 03<br />

02 – Observando com atenção reconhecemos o Bem e o Mal.<br />

O beijo da Bruxa Boa nos guia e protege na viagem, 05<br />

03 – O encontro com o Espantalho e o Leão: quem foi o “corvo” em nossas vidas?,<br />

04 – A história do Homem <strong>de</strong> Lata: a importância <strong>de</strong> reconhecer o mal, 15<br />

05 – Quando aparecem os <strong>de</strong>safios, a nossa inteligência é posta a prova e os nossos<br />

talentos aparecem, 17<br />

06 – As ajudas e perigos do caminho: “Coisas pequenas e <strong>de</strong>licadas quase me ma–<br />

taram e animaizinhos salvaram a minha vida”, 18<br />

07 – A função do Mágico: antes e <strong>de</strong>pois da viagem, 21<br />

08 – O lí<strong>de</strong>r que é reconhecido por suas realizações, 27<br />

09 – Reflexões Finais, 30<br />

O Mágico <strong>de</strong> <strong>Oz</strong> <strong>de</strong> Frank Baum<br />

2


1. A função do mágico na constituição do psiquismo<br />

No início da história nos é apresentado o contraste entre o<br />

ambiente árido e cinza do Kansas, on<strong>de</strong> Dorothy vive com seus<br />

tios – também cinzas – e a alegria, e espontaneida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Dorothy,<br />

que ama e se alegra com seu cãozinho, o Totó.<br />

Era o Totó que fazia Dorothy rir e evitava que ela ficasse tão<br />

acinzentada como as coisas que estavam ao redor. Totó<br />

não era acinzentado: era um cãozinho preto com pêlo<br />

longo, sedoso – e tinha pequenos olhos negros que<br />

piscavam alegremente em cada lado do focinho engraçado<br />

e pequenino. Totó brincava o dia inteiro e Dorothy brincava<br />

com ele e o amava muito.(p.14)<br />

Pensamos então sobre o que nos torna “cinzas” ou<br />

“coloridos”. Estar “cinza” representaria ter pouca disposição<br />

para apreciar o belo que nos ro<strong>de</strong>ia. O amor, a alegria e a<br />

felicida<strong>de</strong> advindos da interação com a natureza e com as outras<br />

pessoas nos torna “coloridos”. Des<strong>de</strong> o inicio surge o tema da<br />

importância da magia na vida da criança, que se manifesta na<br />

alegria com que espera a chegada do Papai Noel, e da forma<br />

como ouve os contos <strong>de</strong> fadas como Cin<strong>de</strong>rela, Branca <strong>de</strong> Neve,<br />

e tantos outros... A magia precisa ser incentivado nelas, pois é<br />

um aspecto constitutivo do ser humano, base da criativida<strong>de</strong>, da<br />

arte, da imaginação.<br />

3


Dorothy encara com paciência e tranqüilida<strong>de</strong> os difíceis<br />

<strong>de</strong>safios que vêm ao seu encontro, quando um ciclone a carrega<br />

até a estranha terra dos Munchkins. Eles a consi<strong>de</strong>ram uma boa<br />

feiticeira porque os livrara – sem querer – da Bruxa Malvada que<br />

os escravizava. Como a casa <strong>de</strong> Dorothy aterrissa em cima da<br />

Bruxa Má, matando-a, os Munchkins a vêem como sua<br />

salvadora, como alguém que tem po<strong>de</strong>res mágicos. Observamos<br />

como Dorothy insiste em dizer que não é Feiticeira. Pensamos<br />

em momentos quando nos dizem que somos o que não somos,o<br />

perigo que corremos <strong>de</strong> ficarmos seduzidos por uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

que vem dos outros. Os Munchkins continuam vendo Dorothy<br />

como Feiticeira e ela percebe que não adianta insistir pois eles<br />

não conseguiam mudar <strong>de</strong> idéia. O importante é que ela sabe<br />

que não é o que eles dizem que ela é. Ao mesmo tempo, Dorothy<br />

se vê como “uma garotinha comum”, mas nós veremos que ela<br />

se tornará uma gran<strong>de</strong> lí<strong>de</strong>r ao longo <strong>de</strong>ssa jornada:<br />

Quando Boq viu os sapatos <strong>de</strong> prata, disse:<br />

-Você <strong>de</strong>ve ser uma gran<strong>de</strong> feiticeira.<br />

-Por que? – quis saber Dorothy.<br />

-Porque você usa sapatos <strong>de</strong> prata e matou a Bruxa<br />

Malvada. Além disso, tem branco em seu vestido e só<br />

bruxas e feiticeiras usam branco.<br />

-Meu vestido é xadrez, azul e branco –observou Dorothy,<br />

alisando o tecido amassado.<br />

- É bonda<strong>de</strong> sua usar isso – disse Boq – Azul é a cor dos<br />

Munchkins e o branco é a cor das bruxas; assim sabemos<br />

que você é uma bruxa boa.<br />

4


Dorothy não soube o que respon<strong>de</strong>r àquilo, pois todas as<br />

pessoas pareciam pensar que ela era uma bruxa, e ela sabia<br />

muito bem que era apenas uma garotinha comum que por<br />

acaso viera num ciclone, <strong>de</strong> terras estranhas. (pg. 29)<br />

Se Dorothy tivesse acreditado e assumido o papel que os<br />

Munchkins queriam lhe dar, ela não teria recebido ajuda –<br />

somente admiração, adoração. Não teria feito a viagem que a<br />

tornou uma lí<strong>de</strong>r capaz <strong>de</strong> ajudar outras pessoas que também<br />

estavam procurando algo. Veremos que nesse sentido Dorothy<br />

não cometeu o mesmo erro <strong>de</strong> <strong>Oz</strong>, pois este ficou preso por<br />

muito tempo na i<strong>de</strong>alização dos Munchkins, e no medo <strong>de</strong> ser<br />

<strong>de</strong>scoberto pelas Bruxas Más.<br />

2. Observando com atenção reconhecemos o Bem e o Mal. O<br />

Beijo da Bruxa Boa nos guia e protege na viagem<br />

Quando chega à terra dos Munchkins, apesar <strong>de</strong> surpresa,<br />

Dorothy não se apavora e observa com atenção aquelas pessoas<br />

tão diferentes. Conclui que são boas e pe<strong>de</strong>-lhes ajuda para<br />

retornar ao seu lar. Eles consi<strong>de</strong>ram ser isso impossível, graças<br />

aos imensos obstáculos a serem enfrentados. Dorothy chora e<br />

os Munchkins, comovidos, se unem a ela. A Bruxa Boa do Norte<br />

oferece uma solução: sugere que Dorothy vá a Cida<strong>de</strong> das<br />

5


Esmeraldas, on<strong>de</strong> vive o gran<strong>de</strong> Mágico <strong>de</strong> <strong>Oz</strong>, o único que teria<br />

condições <strong>de</strong> ajudá-la. Já surge no seu conselho um tema que<br />

voltará a aparecer diversas vezes: a importância <strong>de</strong> contarmos<br />

nossa história sem medo, confiando que alguém po<strong>de</strong> nos<br />

ajudar:<br />

- Você po<strong>de</strong> caminhar. É uma longa jornada, através <strong>de</strong> um<br />

território que algumas vezes é agradável e em outras é<br />

escuro e terrível. Entretanto, usarei toda a magia que<br />

conheço para evitar que algum mal aconteça a você.<br />

- Não quer vir comigo? – pediu a garota, que começava a<br />

encarar a velhinha como sua única amiga.<br />

- Não, não posso fazer isso – respon<strong>de</strong>u ela – mas vou beijar<br />

você, e ninguém ousa fazer mal a uma pessoa que foi<br />

beijada pela Bruxa Boa do Norte.<br />

Ela se aproximou <strong>de</strong> Dorothy e beijou-a <strong>de</strong>licadamente na<br />

fronte. Quando os lábios tocaram a garota <strong>de</strong>ixaram uma<br />

marca arredondada e brilhante, como Dorothy <strong>de</strong>scobriu<br />

mais tar<strong>de</strong>.<br />

- O caminho para a Cida<strong>de</strong> das Esmeraldas é pavimentado<br />

com tijolos dourados – disse a Bruxa – assim não po<strong>de</strong><br />

errar. Quando chegar até <strong>Oz</strong> não tenha medo <strong>de</strong>le, mas<br />

conte sua história e peça que a aju<strong>de</strong>. (p. 24-25)<br />

Dorothy num primeiro momento pediu que a Bruxa Boa a<br />

acompanhasse concretamente mas compreen<strong>de</strong> quando ela lhe<br />

oferece um outro tipo <strong>de</strong> ajuda, igualmente importante. Após ter<br />

recebido na testa um beijo da Bruxa Boa – que <strong>de</strong>ixou marca e a<br />

acompanhará e protegerá por toda a viagem – e <strong>de</strong> ter sido<br />

presenteada com os sapatos prateados da Bruxa Má , Dorothy<br />

6


parte, satisfeita, com Totó ao seu lado. Aquela terra era dividida<br />

em quatro partes: duas governadas pelas Bruxas Boas, e as<br />

outras duas, pelas Más. O próprio caminho rumo a <strong>Oz</strong> , explica a<br />

Bruxa Boa do Norte, será em alguns momentos agradável, em<br />

outros, “escuro e terrível”. Dorothy está sendo apresentada à<br />

realida<strong>de</strong> da vida, e à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reconhecer que no mundo<br />

há alegrias e tristezas, assim como pessoas boas e más. É<br />

importante saber que existe o bem e o mal, apren<strong>de</strong>r a<br />

diferenciar um do outro. Saber que existem pessoas más não nos<br />

apavora, quando apren<strong>de</strong>mos a i<strong>de</strong>ntificá-las e confiamos nas<br />

ajudas que nos protegem – simbolizadas aqui pelo beijo na testa<br />

da Bruxa Boa do Norte.<br />

A marca do beijo da Bruxa Boa é respeitada on<strong>de</strong> quer que<br />

Dorothy esteja: tanto o Mágico <strong>de</strong> <strong>Oz</strong> quanto os Macacos Alados<br />

e Bruxa Má respeitam essa proteção que Dorothy recebeu. A<br />

marca do beijo abre portas primeiro para que o grupo seja<br />

recebido por <strong>Oz</strong>. Depois <strong>de</strong> vencer outros tantos <strong>de</strong>safios, o<br />

grupo chega finalmente ao Palácio <strong>de</strong> <strong>Oz</strong>. Este, ao saber que a<br />

menina tem a marca <strong>de</strong> um beijo na testa e usa sapatos<br />

prateados, se dispõe a recebê-los, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que individualmente. A<br />

cada um o Mágico <strong>de</strong> <strong>Oz</strong> se apresenta <strong>de</strong> uma forma. Em troca<br />

<strong>de</strong> realizar os pedidos <strong>de</strong> Dorothy e seus companheiros, mas<br />

para todos oferece a mesma tarefa: <strong>de</strong>struir a Bruxa Malvada do<br />

Oeste. Unidos pela tarefa em comum, proposta pelo Mágico <strong>de</strong><br />

7


<strong>Oz</strong>, no dia seguinte seguiram para o Oeste. A Bruxa, furiosa ao<br />

saber da sua presença, enviou lobos e corvos para eliminá-los. O<br />

Lenhador e o Espantalho conseguem vencê-los, mas são<br />

<strong>de</strong>rrotados pelos Macacos Alados. Ao ver o beijo estampado na<br />

testa <strong>de</strong> Dorothy, os Macacos Alados <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>m respeitá-la,<br />

conduzindo-a com o Totó e o Leão para o palácio da Bruxa.<br />

A Bruxa Má sabe que po<strong>de</strong> escravizar Dorothy pois a<br />

menina ainda não conhece como usar seu po<strong>de</strong>r: “Assim, a Bruxa<br />

Malvada riu para si mesma e pensou ‘Ainda posso tornar<br />

Dorothy minha escrava, pois ela não sabe usar seu po<strong>de</strong>r” (p.<br />

100). Num primeiro momento Dorothy, “pôs-se a trabalhar sem<br />

reclamar, com a mente focalizada em trabalhar tanto quanto<br />

pu<strong>de</strong>sse, pois estava contente já que a Bruxa Malvada resolvera<br />

não matá-la”(p. 101). Todas as noites Dorothy levava, escondida<br />

da Bruxa, comida para o Leão que estava aprisionado. Temida<br />

por todos os Winkies, povo que dominava, a Bruxa não ousa<br />

bater em Dorothy, “por causa da marca em sua testa” (p. 101), a<br />

marca do beijo da Bruxa Boa. Dorothy não sabia disso, e “tornou-<br />

se muito triste quando começou a pensar que seria mais difícil<br />

que nunca voltar para o Kansas e ver a tia”. Ela chorava<br />

“amargamente por várias horas e Totó sentava-se ao lado <strong>de</strong>la e<br />

olhava seu rosto, ganindo baixinho para <strong>de</strong>monstrar como se<br />

sentia triste por sua pequena dona” (p. 101).<br />

8


Sabendo que os sapatos prateados possuíam po<strong>de</strong>res<br />

mágicos a Bruxa pretendia apossar-se <strong>de</strong>les. Certo dia conseguiu<br />

apanhar um e jurou que logo se apossaria do outro. Dorothy,<br />

zangada, sem pensar, atirou sobre ela o bal<strong>de</strong> <strong>de</strong> água que tinha<br />

na mão. Dentro <strong>de</strong> poucos minutos a Bruxa se <strong>de</strong>rreteu<br />

completamente. Dorothy apanhou seu sapato, foi em busca do<br />

Leão e avisou aos Winkies, ali reunidos, que estavam livres da<br />

escravidão. Eles a ajudaram a resgatar o Lenhador e o<br />

Espantalho. Novamente reunidos passaram uns dias no castelo,<br />

on<strong>de</strong> Dorothy encontra o Barrete Dourado da Bruxa e resolve<br />

levá-lo, embora não soubesse do seu encantamento. Decidiram<br />

voltar para exigir <strong>de</strong> <strong>Oz</strong> o cumprimento <strong>de</strong> sua promessa. Os<br />

Winkies lamentaram, e como gostaram muito do Lenhador<br />

pediram que ficasse para governá-los.<br />

Em diferentes momentos a figura <strong>de</strong> Dorothy ilustra a<br />

função <strong>de</strong> um lí<strong>de</strong>r ágil, que usa seu instinto. Quando jogou água<br />

na Bruxa, o fez para se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r, sem saber que seria o<br />

suficiente para <strong>de</strong>struí-la. Vemos aqui um tema recorrente na<br />

história: po<strong>de</strong>r chorar e po<strong>de</strong>r sentir raiva são qualida<strong>de</strong>s<br />

fundamentais, que nos ajudam <strong>de</strong> formas inesperadas em<br />

momentos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>, como os que Dorothy<br />

enfrentou ao longo da viagem. Dorothy sabe agir rapidamente,<br />

seguindo seu instinto, conforme o que cada situação pe<strong>de</strong>.<br />

9


Sabemos que na vida, o Mal, representado na história pelas<br />

Bruxas Más, assume diferentes formas, e nunca po<strong>de</strong> ser<br />

<strong>de</strong>struído para sempre. Assim, a Bruxa Má foi “<strong>de</strong>rretida”, mas<br />

não sabemos qual forma tomará <strong>de</strong>pois que for <strong>de</strong>smanchada. O<br />

importante é que naquele momento Dorothy conseguiu se<br />

libertar. Seria uma ingenuida<strong>de</strong> acreditar que se po<strong>de</strong> matar o<br />

mal – o Mal existe, está no mundo, a questão é como se<br />

proteger <strong>de</strong>le, e cada momento vai exigir <strong>de</strong> nós uma forma<br />

especifica <strong>de</strong> agir.<br />

Pensamos então: o que po<strong>de</strong> nos proteger do mal? O<br />

Mágico sabe que ele não tem po<strong>de</strong>r sobre as Bruxas Más.<br />

Acreditar na magia é um fazer <strong>de</strong> conta, importante para nosso<br />

crescimento, mas não é o suficiente para nos protegermos.<br />

Pensamos que o que nos protege é o conhecimento, esse<br />

conhecimento que nos faz pensar em estratégias para nos<br />

protegermos, nos ajudando a não cair em certas armadilhas. O<br />

mal não vinga quando as pessoas usam a cabeça, tem coragem e<br />

amigos. Vemos a importância <strong>de</strong> contar a nossa historia para<br />

alguém que po<strong>de</strong> escutar e pensar em como nos ajudar --- o<br />

tema da confiança nas pessoas é essencial.<br />

3. O Encontro com o Espantalho e o Leão – quem foi o<br />

“corvo” em nossas vidas?<br />

10


Dorothy retoma o caminho e após um longo tempo avista<br />

em um milharal um espantalho recheado <strong>de</strong> palha, preso a um<br />

alto poste. Dorothy, vendo-o piscar um olho, se aproxima, e<br />

aten<strong>de</strong>ndo ao seu pedido, o retira <strong>de</strong> lá. Conversam, contam<br />

suas respectivas histórias e ele resolve acompanhá-la para pedir<br />

um cérebro a <strong>Oz</strong>. Dorothy ajuda a <strong>de</strong>spertar a vonta<strong>de</strong> do<br />

Espantalho <strong>de</strong> sair da situação em que se encontrava, com um<br />

argumento po<strong>de</strong>roso quando ele pergunta a ela se teria certeza<br />

que <strong>Oz</strong> o ajudaria: “Não sei dizer, mas po<strong>de</strong> vir comigo, se quiser.<br />

Se <strong>Oz</strong> não lhe <strong>de</strong>r um cérebro, não po<strong>de</strong> ficar pior do que está<br />

agora” (p.32). Dorothy é bem direta ao nomear a situação do<br />

Espantalho, que concorda, acrescentando, em tom <strong>de</strong><br />

confi<strong>de</strong>ncia: “Isso é verda<strong>de</strong> (...) Não me importo que minhas<br />

pernas e braços sejam empalhados...Mas não quero que as<br />

pessoas me chamem <strong>de</strong> tolo” (p. 33). Eles fazem amiza<strong>de</strong> ao<br />

contar suas histórias, na medida em que vão caminhando e<br />

vencendo os obstáculos que se apresentam no caminho.<br />

Dorothy ajudou o Espantalho dando-lhe coragem. Mas a<br />

primeira ajuda foi dada por um corvo que mostrou ao<br />

Espantalho que esse, ao contrario do que pensava, não era um<br />

homem – como o próprio Espantalho lembra, ao contar para<br />

Dorothy:<br />

11


ele.<br />

- Esse sujeito vai assustar os corvos bem <strong>de</strong>pressa. Ele<br />

parece mesmo um homem – disse o fazen<strong>de</strong>iro.<br />

- Veja, ele é um homem – disse o outro, e eu concor<strong>de</strong>i com<br />

(...) Tive uma vida solitária, porque não tinha nada para<br />

pensar, tendo sido feito há tão pouco tempo. Muitos corvos<br />

e pássaros vinham ao milharal, mas logo que me viam<br />

voavam longe, pensando que eu era um Munchkin, e isso<br />

me agradava muito e me fazia sentir que eu era<br />

importante. De vez em quando, um velho corvo voava por<br />

perto, e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> olhar para mim cuidadosamente pousou<br />

no meu ombro e disse:<br />

- Fico espantado que o fazen<strong>de</strong>iro queira me enganar <strong>de</strong><br />

maneira tão grosseira. Qualquer corvo que se preze po<strong>de</strong><br />

ver que você está só cheio <strong>de</strong> palha.<br />

(...)<br />

Senti-me triste com isso, pois <strong>de</strong>monstrei que não era um<br />

espantalho tão bom, afinal, mas o velho corvo me<br />

confortava, dizendo:<br />

- Se você tivesse cérebro em sua cabeça, seria tão bom<br />

humano quanto qualquer um e um homem melhor do que<br />

alguns <strong>de</strong>les.”<br />

(pg.37-38)<br />

O corvo mostra ao Espantalho que este não era um<br />

homem , por lhe faltar um cérebro. Ao mesmo tempo também<br />

sugere uma solução. Ao ler essa passagem pensamos então em<br />

quem foi o “corvo” em nossas vidas. Alguém que nomeia algum<br />

ponto fraco nosso, um aspecto da nossa personalida<strong>de</strong> que<br />

precisa ainda ser <strong>de</strong>senvolvido, cumpre uma função essencial.. .<br />

Esse tema surge <strong>de</strong> novo no encontro <strong>de</strong> Dorothy com o Leão<br />

Covar<strong>de</strong>. Quando esse ruge para Totó, Dorothy fica muito brava<br />

12


e sai para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r o amigo, <strong>de</strong>smascarando a falsa imagem <strong>de</strong><br />

forte e corajoso que o Leão tinha construído para escon<strong>de</strong>r seu<br />

medo. Po<strong>de</strong>mos dizer que Dorothy foi o “corvo” na vida do Leão:<br />

- Não ouse mor<strong>de</strong>r Totó! Devia ter vergonha, um bicho<br />

gran<strong>de</strong> como você mor<strong>de</strong>r um pobre cachorrinho.<br />

- Eu não mordi o cão – respon<strong>de</strong>u o Leão, esfregando o<br />

nariz com a pata.<br />

- Não, mas tentou. Você não passa <strong>de</strong> um covar<strong>de</strong>! – disse<br />

ela.<br />

- Eu sei – admitiu ele, com a cabeça baixa – Sempre soube.<br />

Mas como posso evitar? (p. 48)<br />

Dorothy quer saber porque o Leão se tornou tão covar<strong>de</strong>, e<br />

ele então lhe conta sua história:<br />

- (...) Todos os outros animais da floresta esperam que eu<br />

seja corajoso, pois o Leão é consi<strong>de</strong>rado o Rei dos Animais.<br />

Aprendi que se eu rugir bem alto, todas as coisas vivas se<br />

assustam e ficam fora do meu caminho. Sempre que<br />

encontro um homem fico muito assustado, mas dou um<br />

rugido e ele sempre corre tão rápido quanto po<strong>de</strong>. Se<br />

elefantes, tigres e ursos tentassem me enfrentar, eu mesmo<br />

iria fugir...sou muito covar<strong>de</strong>. Mas quando eles escutam<br />

meu rugido todos fogem primeiro, e claro, eu os <strong>de</strong>ixo ir.<br />

- Mas não está certo. O Rei dos Animais não <strong>de</strong>ve ser um<br />

covar<strong>de</strong> – disse o Espantalho.<br />

- Sei disso – respon<strong>de</strong>u o Leão, limpando uma lágrima dos<br />

olhos com a ponta da cauda – Essa é a minha gran<strong>de</strong><br />

tristeza, que torna minha vida infeliz” (p. 50)<br />

A história do Leão nos faz pensar naquelas pessoas que<br />

pelo medo <strong>de</strong> se relacionar afastam-se das outras pessoas . Não<br />

13


são fortes como querem parecer, pelo contrário, e sofrem<br />

bastante por ter que manter essa imagem, como o próprio Leão<br />

nos diz. Essa passagem nos faz pensar que às vezes, se as<br />

pessoas ao nosso redor imaginam que somos<br />

extraordinariamente fortes e inteligentes, acima <strong>de</strong> qualquer<br />

erro, há um risco <strong>de</strong> não po<strong>de</strong>rmos mostrar qualquer ponto<br />

fraco. Pelo medo, nos fechamos. Mas o fechamento, como<br />

vimos, não éa solução. A solução vem <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r falar a verda<strong>de</strong><br />

e assim po<strong>de</strong>r construir uma relação <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> baseada na<br />

sincerida<strong>de</strong>. O Leão sentia-se pressionado a representar o papel<br />

<strong>de</strong> Rei da Selva. Somente na viagem com Dorothy e seus<br />

companheiros é que vai <strong>de</strong>senvolver sua coragem, reconhecendo<br />

a importância daquele tipo <strong>de</strong> coragem que adquirimos quando<br />

confiamos nas pessoas.<br />

4. A história do Homem <strong>de</strong> Lata: a importância <strong>de</strong><br />

reconhecer o mal<br />

14


Durante o trajeto os companheiros <strong>de</strong> viagem se<br />

<strong>de</strong>pararam com o Lenhador <strong>de</strong> Lata, imóvel, segurando um<br />

machado. Ele pediu-lhes que o ajudassem azeitando suas partes<br />

enferrujadas. Atendido, recupera logo os movimentos. Deci<strong>de</strong><br />

acompanhá-los na esperança <strong>de</strong> que <strong>Oz</strong> lhe dê um coração. O<br />

Lenhador <strong>de</strong> Lata tem sua história marcada pela busca do amor e<br />

o medo <strong>de</strong> viver sozinho. Quando os seus pais morrem, ele<br />

conhece uma linda Munchkin e <strong>de</strong>seja casar-se com ela, para<br />

assim não ficar só. A moça, por sua vez, diz que só se casaria com<br />

ele se construísse uma casa para eles morarem. Foi isto que ele<br />

procurou fazer. Porém, havia uma velha, para a qual a jovem<br />

trabalhava, que não queria que ela casasse. Por isso ‘comprou’ a<br />

Bruxa Malvada do Leste para fazer algo terrível contra o<br />

lenhador. A Bruxa encantou o machado do homem, fazendo<br />

com que, aos poucos, o instrumento fosse cortando seus<br />

membros, sem que ele percebesse o mal que o estava afetando.<br />

O Lenhador foi substituindo as partes do corpo por pedaços <strong>de</strong><br />

metal, com a ajuda do funileiro. Não pára para pensar no porque<br />

se aci<strong>de</strong>ntava logo agora que tinha <strong>de</strong>cidido se casar. Segue<br />

construindo obstinadamente a casa, o que apenas provoca mais<br />

ainda a irritação e cruelda<strong>de</strong> da Bruxa:<br />

- A princípio me pareceu uma gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sgraça, pois sabia<br />

que um homem <strong>de</strong> uma perna só não po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>sempenhar<br />

muito bem a função do lenhador. Por isso fui até um<br />

funileiro e pedi para ele fazer uma nova perna <strong>de</strong> lata. A<br />

15


perna funcionou muito bem, <strong>de</strong>pois que me acostumei a<br />

ela; porém minha ação irritou a Bruxa Malvada do Leste,<br />

pois ela prometera á velha que eu não casaria com a bela<br />

moça Munchkin.(p.45)<br />

Irritada, pois ele prossegue na construção da casa, a Bruxa<br />

faz com que o machado vá cortando a outra perna, os braços, a<br />

cabeça e finalmente o coração do lenhador. Quando conta sua<br />

história para Dorothy e o Espantalho, o Lenhador reconhece sua<br />

ingenuida<strong>de</strong> por pensar que po<strong>de</strong>ria sozinho vencer alguém tão<br />

perigoso: “Pensei que tivesse conseguido vencer, e trabalhei mais<br />

rápido que nunca, mas pouco sabia sobre quão cruel minha<br />

inimiga podia ser” (p. 45) Parece que o lenhador e a moça<br />

Munchkin não souberam se fortalecer mutuamente, e foram<br />

muito ingênuos. São por isso, <strong>de</strong> certa forma, responsáveis por<br />

terem se tornado alvo fácil para a cruelda<strong>de</strong> da Bruxa. Na vida<br />

sempre há <strong>de</strong>safios e perigos, e por algum motivo eles não<br />

souberam lidar com os <strong>de</strong>safios, tampouco i<strong>de</strong>ntificar a malda<strong>de</strong>.<br />

A própria moça não estava preparada para a vida, pois nem<br />

<strong>de</strong>sconfiou que a sua patroa faria algo para impedir o<br />

casamento. Nesse momento pensamos sobre a importância <strong>de</strong><br />

saber com quem estamos convivendo, e não contar toda a<br />

verda<strong>de</strong> para aqueles que po<strong>de</strong>m querer impedir nosso<br />

propósito.<br />

16


5. Quando aparecem os <strong>de</strong>safios, a nossa inteligência é<br />

posta a prova e os nossos talentos aparecem.<br />

O grupo se põe a caminho cada vez mais unido. O<br />

Espantalho usa bem as idéias, planeja; o Lenhador a todo<br />

instante livra-os <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s usando seu machado; o Leão,<br />

sempre que é necessário, usa sua força ou seu uivo ameaçador.<br />

Com tais recursos conseguem livrar-se <strong>de</strong> perigos como os<br />

Kalidás, animais perigosíssimos. Surge então a pergunta: mas<br />

então eles já tinham <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>les a inteligência, a coragem, e o<br />

coração? Concluímos que uma coisa é ter as qualida<strong>de</strong>s em<br />

potencia, adormecidas <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nós. Outra coisa é <strong>de</strong>senvolvê-<br />

las, e isso só se dá no fazer. Existe todo um processo.<br />

Nesse sentido, po<strong>de</strong>r realizar a jornada com companheiros<br />

estimula cada um <strong>de</strong>les , que, focados em cada tarefa a ser feita,<br />

em cada <strong>de</strong>safio e inesperado que surge, conseguem ao longo do<br />

caminho criar soluções e assim <strong>de</strong>senvolver as qualida<strong>de</strong>s que<br />

tanto <strong>de</strong>sejavam e procuravam. Em todos nós tudo está em<br />

potencia. Mas na vida, no mundo, o que está somente em<br />

potencia se <strong>de</strong>senvolve quando se torna ação. Se os personagens<br />

do Mágico <strong>de</strong> <strong>Oz</strong> não tivessem feito a viagem juntos, enfrentado<br />

os <strong>de</strong>safios, um dando coragem para o outro, se ajudando<br />

mutuamente, não teriam <strong>de</strong>senvolvido suas qualida<strong>de</strong>s. Nessa<br />

17


história po<strong>de</strong>mos ver a importância do ambiente, a influência do<br />

convívio e das circunstancias, assim como <strong>de</strong> nossas ações,<br />

contribuindo para nosso <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

6. As ajudas e perigos do caminho: “Coisas pequenas e<br />

<strong>de</strong>licadas quase me mataram e animaizinhos pequenos<br />

salvaram a minha vida”<br />

Quando navegavam por um rio caudaloso, <strong>de</strong>ntro da<br />

jangada construída pelo Lenhador, o Espantalho fica preso a uma<br />

vara, no meio do rio e o grupo muito triste e <strong>de</strong>sesperado por<br />

não po<strong>de</strong>r fazer nada naquele momento, continua a travessia. Já<br />

na outra margem, ficam olhando <strong>de</strong>solados seu amigo preso, e<br />

tentam pensar em algo para salva-lo. É então que aparece uma<br />

cegonha que os olha lá do alto, e pergunta ao estranho grupo o<br />

que está acontecendo. Dorothy lhe explica e a cegonha resolve<br />

os ajudar. O Espantalho agra<strong>de</strong>ce a cegonha pela ajuda.<br />

Pensamos que todos ajudaram, pois foi a imagem do grupo<br />

<strong>de</strong>solado que chamou a atenção da cegonha. A Cegonha parou<br />

não por ter visto o Espantalho no rio, mas sim por ver a imagem<br />

<strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong>solado. “Tanto o Leão como o Lenhador<br />

sacudiram a cabeça, porque não sabiam a resposta. Assim, eles<br />

ficaram sentados sobre a margem, olhando com tristeza e<br />

ansieda<strong>de</strong> para o Espantalho, até que uma cegonha veio voando,<br />

18


e ao vê-los, parou para <strong>de</strong>scansar à beira da água.”Eles também<br />

ajudam ao explicar para a Cegonha que o Espantalho é bem leve,<br />

que ela po<strong>de</strong>rá carregá-lo sem problemas. A cegonha consegue<br />

resgatá-lo, trazendo-o <strong>de</strong> volta. Ao receber muitos<br />

agra<strong>de</strong>cimentos ela diz: ”Sempre gostei <strong>de</strong> ajudar alguém em<br />

dificulda<strong>de</strong>s” (p. 64).<br />

Na vida há sempre pessoas assim, como a Cegonha,<br />

dispostas a ajudar. Quando conseguimos reconhecer momentos<br />

em que precisamos ficar parados, confiando que uma solução<br />

virá, ela chega das formas mais inesperadas. Des<strong>de</strong> a Odisséia <strong>de</strong><br />

Homero, herói é aquele que também confia e aceita ajudas,<br />

muitas vezes <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconhecidos, que aparecem naquele<br />

momento em que precisamos. Esse tema surge em muitos dos<br />

livros do nosso repertório dos <strong>Círculos</strong> <strong>de</strong> <strong>Leitura</strong>. Kouros, A<br />

Comédia Humana, Noites Brancas, O Conto da Ilha<br />

Desconhecida, e tantos outros sempre nos fazem lembrar <strong>de</strong><br />

como faz diferença na nossa vida po<strong>de</strong>r confiar que, quando<br />

fazemos nossa parte, no mundo vão surgir ajudas as mais<br />

inesperadas. Em algumas histórias, ela vem na forma <strong>de</strong> pessoas<br />

. Em outras, como no conto A Cida<strong>de</strong> dos Cinco Ciprestes, a ajuda<br />

veio através do sonho, quando o homem dorme e faz do<br />

<strong>de</strong>sapontamento seu travesseiro.<br />

19


Há outra passagem em que o tema da ajuda surge, assim<br />

como o tema dos perigos que se apresentam muitas vezes <strong>de</strong><br />

forma disfarçada. É quando o grupo penetra num campo repleto<br />

<strong>de</strong> flores coloridas, as Papoulas Escarlates, com um perfume<br />

<strong>de</strong>licioso, que escon<strong>de</strong> um perigo: adormece as pessoas para<br />

sempre. Dorothy e Totó logo caem adormecidos, e também o<br />

Leão. Dorothy e Totó foram retirados dali facilmente, mas como<br />

o Leão era pesado <strong>de</strong>mais, o Espantalho e o Lenhador não<br />

conseguiram carregá-lo, precisando assim <strong>de</strong>ixá-lo para trás.<br />

Os companheiros avistaram um ratinho que fugia <strong>de</strong> um<br />

Gato do Mato. O lenhador salvou-o, matando o gato. O pequeno<br />

rato se apresenta: é a Rainha <strong>de</strong> Todos os Ratos do Campo. Para<br />

mostrar sua gratidão prometeu que ela e todos os <strong>de</strong>mais<br />

ratinhos estariam sempre dispostos a ajudá-los. Dorothy e seus<br />

amigos pediram-lhe que os ajudasse a salvar o Leão. A força <strong>de</strong><br />

milhares <strong>de</strong> ratinhos reunidos, mais a contribuição <strong>de</strong> Dorothy e<br />

seus amigos, trouxe afinal <strong>de</strong> volta o Leão, que ao saber <strong>de</strong> tudo<br />

que aconteceu conclui:<br />

- Corri tão <strong>de</strong>pressa quanto consegui, mas as flores foram<br />

fortes <strong>de</strong>mais para mim. Como conseguiram me tirar <strong>de</strong> lá?<br />

– perguntou ele, sentando-se e bocejando.<br />

Contaram então a história dos ratos do campo, e sobre<br />

como eles o haviam generosamente salvado da morte; e o<br />

Leão Covar<strong>de</strong> riu, dizendo:<br />

- Sempre pensei em mim como gran<strong>de</strong> e terrível. Ainda<br />

assim, coisas pequenas e <strong>de</strong>licadas como flores quase me<br />

20


mataram, e animaizinhos pequenos como ratos salvaram<br />

minha vida. (p. 73)<br />

O Leão se surpreen<strong>de</strong>, como muitas pessoas se<br />

surpreen<strong>de</strong>m na vida, com o fato <strong>de</strong> que as ajudas e os perigos<br />

po<strong>de</strong>m vir dos lugares mais inesperados, menos óbvios. As<br />

papoulas parecem representar os perigos da vida que muitas<br />

vezes parecem inofensivos, e que até num primeiro olhar nos<br />

parecem coisas boas – como aquelas flores, tão coloridas e<br />

perfumadas. É mais comum que as pessoas sintam medo do que<br />

é maior que elas, ou mesmo daquilo que tem uma aparência<br />

terrível. Mas o Leão apren<strong>de</strong>u que o Mal po<strong>de</strong> vir disfarçado. Daí<br />

a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>rmos a i<strong>de</strong>ntificar se o que nos parece<br />

bom realmente o é. .<br />

7. A função do Mágico: antes e <strong>de</strong>pois da viagem<br />

Como não conheciam o caminho <strong>de</strong> volta, Dorothy e seus<br />

companheiros <strong>de</strong> repente se sentiram perdidos. Dorothy <strong>de</strong>ci<strong>de</strong><br />

pedir a ajuda dos Ratos do Campo e até a Rainha se apresenta.<br />

Esta, notando o Barrete Dourado, conta-lhes o segredo do seu<br />

po<strong>de</strong>r: o dono do Barrete usando certas palavras po<strong>de</strong> solicitar a<br />

ajuda dos Macacos Alados por três vezes. E assim, com seu<br />

auxilio, conseguiram ser levados para a Cida<strong>de</strong> das Esmeraldas; e<br />

pu<strong>de</strong>ram chegar ao Palácio <strong>de</strong> <strong>Oz</strong>. Quando este os recebe, Totó,<br />

21


que já ajudara Dorothy no inicio da historia, seguindo o Ciclone,<br />

faz cair uma cortina atrás da qual visualizaram um homem velho,<br />

pequeno. Ele parecia tão assustado quanto eles. E nada lhe<br />

restou fazer senão se revelar : “Sou apenas um homem<br />

comum”(p. 120). Finalmente <strong>Oz</strong> po<strong>de</strong> contar sua verda<strong>de</strong>ira<br />

história. Depois <strong>de</strong> tanto tempo sozinho, escon<strong>de</strong>ndo seu<br />

segredo, confia em Dorothy e seus companheiros. Explica que<br />

trabalhava num circo, era ventríloquo e <strong>de</strong>pois tornou-se<br />

balonista. Certa vez, não conseguindo frear o balão foi levado<br />

pelos ares e acabou aterrissando na linda terra que viria a se<br />

tornar, com sua chegada, a Cida<strong>de</strong> das Esmeraldas:<br />

- Desci aos poucos e não me machuquei. Mas me encontrei<br />

no meio <strong>de</strong> estranhos, que me vendo <strong>de</strong>scer das nuvens,<br />

imaginaram que eu fosse um gran<strong>de</strong> Mago. Claro, eu <strong>de</strong>ixei<br />

que eles pensassem que sim, porque estavam com medo <strong>de</strong><br />

mim e prometi fazer qualquer coisa que <strong>de</strong>sejassem. Só<br />

para me divertir e manter o povo ocupado or<strong>de</strong>nei que<br />

construíssem essa cida<strong>de</strong> e o meu palácio; e eles o fizeram<br />

<strong>de</strong> boa vonta<strong>de</strong> e direito. (...) A Cida<strong>de</strong> das Esmeraldas foi<br />

construída há muitos anos, pois eu era jovem quando o<br />

balão me trouxe até aqui, e agora sou um homem bem<br />

velho (...) Tenho sido bom para as pessoas e elas gostam <strong>de</strong><br />

mim, mas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o palácio foi construído eu me fechei<br />

aqui e não os vejo. (pg. 122).<br />

<strong>Oz</strong> explica então porque se fechou em seu Palácio e<br />

assumiu o papel <strong>de</strong> Gran<strong>de</strong> e Terrível Mágico por tanto tempo:<br />

22


- Um dos maiores medos que tenho eram as bruxas, pois<br />

não tenho nenhum po<strong>de</strong>r mágico e logo <strong>de</strong>scobri que as<br />

bruxas eram capazes <strong>de</strong> fazer coisas maravilhosas. (...)<br />

Felizmente as bruxas do Norte e Sul eram boas, e soube que<br />

não me queriam mal. Porém, as do Leste e do Oeste eram<br />

terrívelmente más, e se não pensassem que eu tinha mais<br />

po<strong>de</strong>r do que elas teriam me <strong>de</strong>struído com certeza. (p.<br />

122).<br />

Nessa passagem po<strong>de</strong>mos refletir sobre como se chega em<br />

um novo lugar. Dorothy chegou à Cida<strong>de</strong> das Esmeraldas <strong>de</strong><br />

forma diferente <strong>de</strong> <strong>Oz</strong>. Ele chegou sozinho e sem a marca da<br />

proteção da Bruxa Boa. <strong>Oz</strong> tampouco contou com companheiros<br />

durante o tempo em que mobilizou aquele povo a construir a<br />

Cida<strong>de</strong> das Esmeraldas. As pessoas gostavam <strong>de</strong>le como<br />

governante, mas ele estava sozinho. <strong>Oz</strong> sabia que, por estar só,<br />

não tinha forças suficientes para se proteger do Mal. Dorothy<br />

consegue vencer as forças do Mal, representadas pela Bruxa,<br />

porque conta com a ajuda <strong>de</strong> seus amigos e da marca do beijo da<br />

Bruxa Boa, simbolizando um tipo <strong>de</strong> proteção que ela merecia e<br />

que vem <strong>de</strong> algo maior .<br />

<strong>Oz</strong> sente-se muito aliviado, pois finalmente chegou a ajuda<br />

que <strong>de</strong>sesperadamente há tanto tempo esperava. Vendo que as<br />

duas Bruxas Malvadas estavam mortas, agora, livre <strong>de</strong>sse perigo,<br />

23


po<strong>de</strong> partir <strong>de</strong> <strong>Oz</strong> e voltar para sua terra natal. O Mágico <strong>de</strong> <strong>Oz</strong><br />

teve um papel muito importante na vida dos habitantes da<br />

Cida<strong>de</strong> das Esmeraldas, pois, sem ele, eles não teriam sido<br />

mobilizados a construir a cida<strong>de</strong>. <strong>Oz</strong> também teve um papel<br />

fundamental na vida <strong>de</strong> Dorothy, do Leão, do Homem <strong>de</strong> Lata e<br />

do Espantalho. Foi por acreditarem nos po<strong>de</strong>res extraordinários<br />

do Mágico que eles se puseram a caminho e foi no caminho que<br />

<strong>de</strong>senvolveram a sua amiza<strong>de</strong> e os seus talentos. O conceito <strong>de</strong><br />

crescimento que se <strong>de</strong>staca no texto leva em conta os diferentes<br />

aspectos do psiquismo – razão, sentimento, coragem. E o que se<br />

torna evi<strong>de</strong>nte é que, em um ser humano integrado nenhum<br />

<strong>de</strong>les se manifesta in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente dos <strong>de</strong>mais.<br />

Quando retornam a <strong>Oz</strong> eles já fizeram a travessia,<br />

cresceram e por isso po<strong>de</strong>m se relacionar com o Mágico <strong>de</strong> outra<br />

forma. Eles po<strong>de</strong>m entrar “nos bastidores”, por trás da magia,<br />

porque já tinham realizado a viagem.Sabem que o que os fez<br />

crescer foi po<strong>de</strong>r ter acreditado no Mágico, nesse “outro que<br />

sabe o que eu ainda não sei”. Depois que passam a saber que <strong>Oz</strong><br />

é um homem, ele passa a ter a função <strong>de</strong> um reconhecedor<br />

privilegiado, alguém que reconhece o aprendizado que fizeram<br />

na travessia, resolvendo juntos os <strong>de</strong>safios que se apresentaram<br />

no caminho. Eles pe<strong>de</strong>m para o Mágico fazer o ritual <strong>de</strong><br />

reconhecimento – quando entrega um coração para o Lenhador,<br />

o líquido da coragem para o Leão, e o cérebro para o Espantalho<br />

24


o Mágico está fazendo um ritual <strong>de</strong> passagem. Esse ritual nos fez<br />

lembrar <strong>de</strong> outros rituais - como quando nos formamos em um<br />

curso e recebemos um diploma dos professores e diretores. O<br />

diploma simboliza um reconhecimento, e faz parte do ritual que<br />

ele seja entregue por alguém que reconhece nosso esforço e<br />

sucesso. Pensamos que é muito importante contarmos com<br />

pessoas que po<strong>de</strong>m observar e reconhecer, nomear nossas<br />

conquistas. Vemos essa necessida<strong>de</strong> no diálogo dos<br />

companheiros <strong>de</strong> Dorothy com <strong>Oz</strong>:<br />

- Não po<strong>de</strong> me dar um cérebro? – perguntou o Espantalho.<br />

- Você não precisa que eu lhe dê um cérebro. Está<br />

apren<strong>de</strong>ndo alguma coisa todo dia. Um bebê tem cérebro,<br />

mas não sabe muita coisa. A experiência é a única coisa que<br />

traz conhecimento e quanto mais tempo estamos na terra,<br />

mas experiência conseguimos. (p. 123)<br />

(...)<br />

- E quanto à minha coragem? – perguntou ansiosamente o<br />

Leão.<br />

- Você tem muita coragem, tenho certeza – respon<strong>de</strong>u <strong>Oz</strong> –<br />

Tudo o que precisa é um pouco <strong>de</strong> confiança em si mesmo.<br />

Não há nenhuma criatura viva que não tenha medo quando<br />

enfrenta o perigo A coragem verda<strong>de</strong>ira é enfrentar o<br />

perigo quando se está com medo, e esse tipo <strong>de</strong> coragem<br />

você tem até <strong>de</strong>mais.<br />

- Talvez eu tenha, mas ...Vou ficar infeliz a menos que me<br />

dê um pouco do tipo <strong>de</strong> coragem que nos faz esquecer que<br />

estamos com medo. (p. 124)<br />

25


Com o auxilio <strong>de</strong> Dorothy, <strong>Oz</strong> fabricou um balão que<br />

<strong>de</strong>veria levá-los <strong>de</strong> volta ao Kansas. Mas este subiu antes que a<br />

menina pu<strong>de</strong>sse alcançá-lo, pois ela precisou sair correndo atrás<br />

– como no início da história – do Totó. Todos ali queriam que<br />

eles ficassem e que o Espantalho os governasse. Dorothy queria<br />

voltar para os seus tios, para o seu lar.Os Macacos Alados não<br />

pu<strong>de</strong>ram levá-los, não lhes era permitido entrar em outros<br />

países. Mas a aconselharam a procurar Glenda, a Bruxa Boa do<br />

Sul. Lá foram eles, esperançosos. Tiveram, como sempre, que<br />

vencer inúmeros <strong>de</strong>safios. Atravessaram inclusive uma cida<strong>de</strong><br />

on<strong>de</strong> todos e tudo era <strong>de</strong> porcelana. Constataram o quanto seus<br />

habitantes eram medrosos, frágeis e inseguros. Nessa Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Porcelana, não havia lí<strong>de</strong>r. E todos tinham muito medo <strong>de</strong> se<br />

machucar. O medo os fazia evitar experiências e contato com<br />

outras pessoas, e era justamente essa falta <strong>de</strong> contato humano<br />

que os tornava frágeis. Afinal, nós crescemos quando nos<br />

relacionamos com as outras pessoas.<br />

8. O Lí<strong>de</strong>r que é reconhecido por suas realizações<br />

Chega um momento em que o grupo passa por uma<br />

belíssima floresta on<strong>de</strong> o Leão disse que gostaria <strong>de</strong> viver para<br />

sempre. Ali se <strong>de</strong>param com muitos animais, que reunidos<br />

26


discutem seus problemas. Ao avistarem o Leão dirigem-se a ele<br />

chamando-o <strong>de</strong> O Rei dos Animais. Contaram-lhe que uma feroz<br />

criatura os ameaçava, impedindo que vivessem em paz. O Leão<br />

prometeu que a <strong>de</strong>struiria se eles o elegessem <strong>de</strong> fato o Rei dos<br />

Animais. Ele cumpriu a promessa livrando-os da fera, e tornou-se<br />

seu lí<strong>de</strong>r, prometendo voltar logo para ocupar sua função, assim<br />

que Dorothy estivesse em segurança no Kansas.<br />

A viagem prosseguiu, e enfrentaram juntos novas<br />

dificulda<strong>de</strong>s. Até que com a ajuda dos Macacos Alados chegaram<br />

a uma bela terra, rica e feliz, a terra <strong>de</strong> Glinda, a outra Bruxa Boa.<br />

Glinda recebeu-os no seu castelo. Conhecendo suas dificulda<strong>de</strong>s<br />

prometeu ajudá-los. Aqui vemos <strong>de</strong> novo um tema recorrente: a<br />

importância <strong>de</strong> contarmos nossos problemas para a pessoa<br />

a<strong>de</strong>quada que possa talvez nos ajudar:<br />

- O que posso fazer por você, minha menina?<br />

Dorothy contou à Bruxa toda a sua história: como o ciclone<br />

a trouxera para a Terra <strong>de</strong> <strong>Oz</strong>, como encontrara seus<br />

companheiros e as maravilhosas aventuras que tinham<br />

passado.<br />

-Meu maior <strong>de</strong>sejo agora é voltar para o Kansas, porque tia<br />

Em certamente está pensando que alguma coisa horrível<br />

aconteceu comigo – contou a menina. (p. 158)<br />

Glinda ensinou a Dorothy o que fazer para retornar ao<br />

Kansas. Mas antes queria saber o que fariam os <strong>de</strong>mais quando<br />

ela partisse. O Espantalho voltaria à Cida<strong>de</strong> das Esmeraldas, on<strong>de</strong><br />

27


agora era governador. O lenhador regressaria para governar os<br />

Winkies, seu povo. O Leão sentia-se no <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> voltar para<br />

aquela floresta on<strong>de</strong> fora eleito o Rei dos Animais e on<strong>de</strong> seria<br />

muito feliz, agora com a coragem adquirida. Então os Macacos<br />

Alados os levam para seus <strong>de</strong>stinos. E os sapatos prateados –<br />

cujo segredo Glinda revelara – levaria a menina <strong>de</strong> volta ao lar:<br />

- Seus Sapatos <strong>de</strong> Prato irão carregar você pelo <strong>de</strong>serto –<br />

disse Glinda – Se soubesse do po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>les, po<strong>de</strong>ria ter<br />

voltado para sua tia Em no mesmo dia em que chegou até<br />

esse país.<br />

- Bem, mas nesse caso eu não teria meu maravilhoso<br />

cérebro! Po<strong>de</strong>ria ter passado a vida inteira num milharal –<br />

afirmou o Espantalho.<br />

- Nem eu teria meu belo coração – disse o Homem <strong>de</strong> Lata –<br />

e po<strong>de</strong>ria ficar enferrujando para sempre naquele mesmo<br />

lugar na floresta.<br />

- E eu teria continuado um covar<strong>de</strong> para sempre – <strong>de</strong>clarou<br />

o Leão – E nenhuma criatura na floresta teria nada <strong>de</strong> bom<br />

para dizer <strong>de</strong> mim.<br />

- Tudo isto é verda<strong>de</strong>, e estou contente por po<strong>de</strong>r ter sido<br />

útil para esses bons amigos. Mas agora que cada um tem o<br />

que mais <strong>de</strong>sejava e cada um está contente em ter uma<br />

terra para governar, acho que está na hora <strong>de</strong> voltar para o<br />

Kansas. (p. 159)<br />

Nessa passagem vemos o tema da importância <strong>de</strong> saber quando<br />

se separar. Dorothy e seus amigos ficaram juntos o tempo<br />

necessário para que cada um conseguisse o que procurava. Uma<br />

vez tendo atingido seu objetivo, chega o momento propicio para<br />

28


a separação. As experiências vividas em comum seguem <strong>de</strong>ntro<br />

<strong>de</strong> cada um como uma reserva <strong>de</strong> força, coragem, e<br />

crescimento. Os “sapatos” que tem po<strong>de</strong>res mágicos simbolizam<br />

o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> fazer a viagem. Representam os meios que nos levam<br />

a conhecer o mundo e também nos levam <strong>de</strong> volta ao lar, nosso<br />

porto seguro. Dorothy cresceu no caminho e ajudou no<br />

crescimento <strong>de</strong> seus companheiros. Ela se sentiu muito contente<br />

<strong>de</strong> ter sido útil no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong>les, e sabe<br />

reconhecer que chegou o momento da separação, pois cada um<br />

tem uma nova tarefa especifica a cumprir. Por ter aprendido,<br />

sabe que a lembrança e o aprendizado nunca irão abandoná-los.<br />

Dorothy e seus companheiros se <strong>de</strong>senvolveram na travessia que<br />

fizeram, e representam o herói no sentido mais amplo <strong>de</strong> que<br />

nos fala a filósofa Hannah Arendt na Condição Humana:<br />

O herói revelado pela historia não precisa ter qualida<strong>de</strong>s<br />

heróicas; originalmente, isto é, em Homero, a palavra herói<br />

era apenas um modo <strong>de</strong> <strong>de</strong>signar qualquer homem livre que<br />

houvesse participado da aventura troiana. Em Homero, a<br />

palavra heros sem duvida implicava distinção, mas uma<br />

distinção que estava ao alcance <strong>de</strong> qualquer homem livre.<br />

Em nenhum momento tem o significado ulterior <strong>de</strong><br />

“semi<strong>de</strong>us”, resultante talvez da <strong>de</strong>ificação dos antigos<br />

heróis épicos ) e do qual se podia contar uma historia. A<br />

conotação <strong>de</strong> coragem, que hoje reputamos a qualida<strong>de</strong><br />

indispensável a um herói, já está, <strong>de</strong> fato, presente na mera<br />

disposição <strong>de</strong> agir e falar, <strong>de</strong> inserir-se no mundo e começar<br />

uma historia própria,. E esta coragem não está<br />

necessariamente nem principalmente associada a<br />

29


disposicao <strong>de</strong> arcar com as conseqüências; o proprio ato do<br />

homem que abandona seu escon<strong>de</strong>rijo para mostrar quem<br />

é, para revelar e exibir sua individualida<strong>de</strong>, já <strong>de</strong>nota<br />

coragem e até mesmo ousadia.”. (pg. 99).<br />

Conforme afirmara Glinda, os sapatos têm po<strong>de</strong>res<br />

maravilhosos e conseguem colocá-la bem em frente à nova casa<br />

que o tio havia construído. O reencontro com Tia Emily foi lindo,<br />

repleto <strong>de</strong> alegria e <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong>. Anuncia uma nova realida<strong>de</strong> –<br />

agora colorida- representada pela nova casa que tio Henry<br />

construiu.<br />

9. Reflexões finais<br />

Como a filósofa Hannah Arendt afirma, se alguém ama o<br />

mundo e ama as crianças, vai querer apresentar o mundo a elas,<br />

para que elas se sintam fazendo parte <strong>de</strong>le e possam, quando<br />

crescerem, ter a chance <strong>de</strong> agir e criar no mundo. A melhor<br />

forma <strong>de</strong> apresentar o mundo é através das histórias que fazem<br />

parte da herança da humanida<strong>de</strong>. Se amamos o mundo e “se<br />

amamos nossas crianças o bastante para não expulsa-las do<br />

mundo, e abandoná-las aos seus próprios recursos”, as<br />

preparamos para a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> empreen<strong>de</strong>r alguma coisa<br />

nova e imprevista por nós, as preparamos “para a tarefa <strong>de</strong><br />

renovar o mundo”.<br />

30


Frank Baum, no prefácio do livro O Mágico <strong>de</strong> <strong>Oz</strong> mostra<br />

essa importância <strong>de</strong> se contar historias para as crianças, ao<br />

escrever que “o folclore, as lendas, os mitos e os contos <strong>de</strong> fadas<br />

acompanham a infância através dos tempos, pois toda criança<br />

saudável adora histórias fantásticas e manifestamente irreais. As<br />

fadas aladas <strong>de</strong> Grimm e An<strong>de</strong>rsen trouxeram mais felicida<strong>de</strong> aos<br />

corações infantis do que qualquer outra criação humana”.<br />

Lewis Carrol, em Alice no País das Maravilhas, outro<br />

clássico da literatura, escreve no final sobre essa mesma idéia. A<br />

história termina com Alice acordando <strong>de</strong> seu sonho e o contando<br />

para a irmã. Esta ficou pensando nas histórias que Alice lhe<br />

contara, e sentiu que estava entrando também num sonho,<br />

igualmente maravilhoso. No seu sonho já via Alice adulta,<br />

contando historias para crianças:<br />

Por fim, ela imaginou que esta mesma irmãzinha seria no<br />

futuro uma mulher adulta, que ela conservaria nos anos<br />

mais maduros o coração simples e amoroso da sua infância,<br />

que ela reuniria ao redor <strong>de</strong> si outras criancas, fazendo os<br />

olhinhos brilharem <strong>de</strong>sejosos <strong>de</strong> mais uma história<br />

estranha, talvez até com o sonho do País das Maravilhas do<br />

passado, e que ela se compa<strong>de</strong>ceria <strong>de</strong> suas tristezas<br />

simples e encontraria prazer em todas as suas alegrias<br />

simples, lembrando-se da sua própria infância e dos dias<br />

felizes <strong>de</strong> verão. (p.172)<br />

Pensamos que esses livros na realida<strong>de</strong> são como sonhos,<br />

produtos do nosso mundo interno. Ilustram toda nossa riqueza<br />

31


que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os tempos <strong>de</strong> Homero é a mesma – a feiticeira Circe, o<br />

Ciclope, Cilas, Carib<strong>de</strong>s, a <strong>de</strong>usa Palas Atenas, Penélope...e<br />

Ulisses, que como Dorothy só queria voltar para seu lar, sua<br />

Ítaca. Sabemos do papel privilegiado que tinham os aedos na<br />

Grécia Antiga, aqueles contadores <strong>de</strong> histórias que não nos<br />

<strong>de</strong>ixavam esquecer quem éramos. Nos <strong>Círculos</strong> <strong>de</strong> <strong>Leitura</strong>,<br />

continuamos a tradição milenar dos aedos, contando essas<br />

historias que, como nos lembra o poeta e filósofo Unamuno, os<br />

outros sonharam para nós:<br />

Ler, ler, ler<br />

Viver a vida que os outros sonharam<br />

Ler, ler, ler<br />

Porque a alma se esquece<br />

Das coisas que passaram<br />

32


<strong>Círculos</strong> <strong>de</strong> <strong>Leitura</strong><br />

35


Realização:<br />

Instituto Fernand Brau<strong>de</strong>l <strong>de</strong> Economia Mundial<br />

Rua Ceará, 02 – Higienópolis - 01243-010 São Paulo – SP.<br />

Tel: (11) 3824-9633 Fax: 3825-2637<br />

www.brau<strong>de</strong>l.org.br - ifbe@brau<strong>de</strong>l.org.br<br />

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