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AGRICULTURA FAMILIAR E PEDAGOGIA DA TERRA: UM ESTUDO SOBRE A<br />

BUSCA DA SUSTENTABILIDADE SERTANEJA NA COOPERATIVA<br />

AGROINDUSTRIAL DO COMPARTIMENTO DA BORBOREMA-COOPAIB¹<br />

Viviani Lopes Tinte²<br />

¹Este texto é resulta<strong>do</strong> de uma pesquisa de campo realizada e concluída no Esta<strong>do</strong> da Paraíba no perío<strong>do</strong> de setembro<br />

a dezembro de 2006, estagiária durante este perío<strong>do</strong> da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa<br />

Algodão – PB/ Campina Grande. ²Pedagoga Bacharel pela Universidade de Fortaleza-UNIFOR-2006.2; 2007.1<br />

Bolsista da Especialização em Desenvolvimento Sustentável para o Semi-ári<strong>do</strong> Brasileiro pela Universidade Federal<br />

de Campina Grande-UFCC/ Curso Engenharia Agrícola e Difusora Social da Agencia Mandalla DHSA–PB<br />

(viviani.tinte@terra.com.br)<br />

RESUMO:Este estu<strong>do</strong> tem como objetivo analisar a veracidade da proposta de desenvolvimento<br />

humano sustentável, através da produção de plantas direcionadas para produção de “Biodiesel”.<br />

Para isso, realizamos esta pesquisa com na intenção retratar as relações diversas entre as famílias<br />

de agricultores e os demais personagens que compõem a região <strong>do</strong> semi-ári<strong>do</strong> paraibano, no<br />

Planalto da Borborema-PB, no município de Pocinhos.<br />

Palavras-chave: Agricultura Familiar. Pedagogia. Sustentabilidade.<br />

Introdução<br />

Neste <strong>trabalho</strong> buscamos retratar as relações entre os personagens que compõem a região<br />

<strong>do</strong> semi-ári<strong>do</strong> no Planalto da Borborema – PB, no município de Pocinhos. Temos por objetivo<br />

analisar a veracidade da proposta de desenvolvimento humano sustentável. Em termos<br />

específicos, visamos compreender o processo de inserção <strong>do</strong> sertanejo na busca <strong>do</strong> caminho da<br />

sustentabilidade na cooperativa e as motivações históricas que levaram a cooperativa a atuar no<br />

cultivo da mamona; identificar a abrangência das atividades representativas <strong>do</strong> cotidiano <strong>do</strong>s<br />

membros da cooperativa COOPAIB, na agricultura familiar <strong>do</strong> semi-ári<strong>do</strong> paraibano; e facilitar<br />

ligações e redes de intercâmbio e interação entre os coopera<strong>do</strong>s, para o uso de tecnologias sócioeducativas.<br />

O objeto da pesquisa abrangia o estu<strong>do</strong> das atividades representativas <strong>do</strong> cotidiano <strong>do</strong>s<br />

membros da Cooperativa COOPAIB, que tem como proposta a produção de oleaginosas, em<br />

lavouras familiares da região, em especificidade a mamona, direcionada para produção <strong>do</strong><br />

combustível ecologicamente renovável, biodiesel. Buscamos compreender o papel desempenha<strong>do</strong><br />

pela Cooperativa, na figura de seus membros, a respeito da construção <strong>do</strong> caminho para a<br />

sustentabilidade, na agricultura familiar no semi-ári<strong>do</strong> paraibano. E compreender, também; como<br />

ocorreram as articulações para que os coopera<strong>do</strong>s se fizessem presentes nesse movimento<br />

sociocultural de humanização, mediante a perspectiva da participação e representação dentro da<br />

Cooperativa Agroindustrial <strong>do</strong> Compartimento da Borborema – COOPAIB.<br />

A realidade desta pesquisa fundamenta-se na verificação de uma situação atual em que a<br />

COOPAIB apresenta, como estrutura ideológica de seu funcionamento, a proposta de uma<br />

agricultura familiar com pretensão de sustentabilidade. Observan<strong>do</strong> a expressão<br />

“sustentabilidade”, buscamos verificar sua relação com a questão <strong>do</strong> “desenvolvimento humano”<br />

e a história <strong>do</strong> sertanejo, na agricultura familiar. Isso também é a chave que abrirá os pontos para<br />

a reflexão sobre o que seja a identidade social deste campesinato ameaça<strong>do</strong>. A sustentabilidade<br />

da agricultura familiar depende não só da atividade econômica ligada a financiamentos para o


pequeno produtor, mas de to<strong>do</strong>s os demais fatores que integram diversas tecnologias e capitais<br />

sociais presentes em seu contexto.<br />

Durante a pesquisa de campo, que compreendeu o perío<strong>do</strong> de outubro a dezembro <strong>do</strong> ano<br />

de 2006, identificamos a carência de trabalhar a questão da família, em termos de organização,<br />

diante <strong>do</strong> quadro de inserção na economia e sociedade rural brasileira. Entendemos que a<br />

capacitação <strong>do</strong> núcleo-família é a estratégia mais adequada para resgatar a capacidade <strong>do</strong> homem<br />

de fomentar a produtividade associada da região. Percebemos que a cooperativa precisa se<br />

apoiar em tecnologias sociais de baixo investimento, buscan<strong>do</strong>, assim, o caminho para a<br />

sustentabilidade <strong>do</strong> sertanejo, no Planalto da Borborema. Já que a agricultura é familiar, a<br />

pesquisa a<strong>do</strong>tou a família como base de sustentação deste <strong>trabalho</strong>.<br />

A conclusão apresenta uma reflexão final que contrapõe o modelo vigente à busca pelo<br />

caminho da sustentabilidade na agricultura familiar no semi-ári<strong>do</strong> paraibano, resgatan<strong>do</strong> a<br />

dignidade <strong>do</strong> homem <strong>do</strong> campo. A conquista <strong>do</strong> resgate da identidade e a devida consideração<br />

desses princípios no âmbito da construção de novas relações, pode proporcionar transformação<br />

deste cenário hoje ameaça<strong>do</strong>. Pode substituir os conflitos pelo encontro levan<strong>do</strong> a uma mudança<br />

real na postura <strong>do</strong>s faze<strong>do</strong>res de política, de mo<strong>do</strong> que estes passem a considerar as políticas<br />

publicas, este espaço de lutas pelo crescimento e dignidade <strong>do</strong> sertanejo, no rol das prioridades<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> constituí<strong>do</strong>.<br />

Portanto, neste espaço, vem à tona a questão <strong>do</strong>s conflitos e as diferentes disputas que<br />

existem entre os grupos sociais naquele ambiente. Isso foi verifica<strong>do</strong> nas idas ao campo, como<br />

pesquisa<strong>do</strong>ra de estrutura <strong>do</strong>s espaços que permitem, ao mesmo tempo, “a construção de novas<br />

relações sociais que assumem como premissa que os interesses comuns sejam respeita<strong>do</strong>s,<br />

discuti<strong>do</strong>s e compartilha<strong>do</strong>s” (CAMPANHOLA e SILVA,2000;P:78).<br />

1.1 O Sertanejo<br />

A reflexão parte de um momento vivi<strong>do</strong> na presente pesquisa de campo, quan<strong>do</strong><br />

buscamos o contato direto com o Sertão semi-ári<strong>do</strong> da Paraíba. Queríamos, com isso, um estu<strong>do</strong><br />

de caso da cooperativa. Para revermos este cenário, fez-se necessário mostrar como vive o<br />

sertanejo nesta região.<br />

Além disso, num âmbito institucional, foi um desafio identificar e descrever como se<br />

apresentam as Instituições Governamentais e Não-governamentais que abordam esta região onde<br />

esta inseri<strong>do</strong> o sertanejo. Diante da complexidade <strong>do</strong> cenário regional, de turbulência econômica<br />

e incertezas climáticas, reflexão, no amplo aspecto de desenvolvimento sócio-economicocultural-ambiental<br />

local, faz-se necessário.<br />

Uma urgente busca de soluções pragmáticas, providas de ferramental técnico de<br />

eliminação <strong>do</strong>s desperdícios ali incidentes, através <strong>do</strong> emprego da qualidade nos processos de<br />

planejamento e aproveitamento <strong>do</strong> potencial endógeno local, torna-se imperativo e<br />

principalmente, em se tratan<strong>do</strong> <strong>do</strong> resgate da dignidade humana e <strong>do</strong> futuro comprometimento da<br />

qualidade de vida de uma população.<br />

Na reflexão sobre o semi-ári<strong>do</strong> paraibano, tais advertências parecem oportunas, pois a<br />

facilidade com que não se consideram as diversidades regionais, pode ser percebida como tal em<br />

função de sua enorme diversidade, de sua heterogeneidade regional; em suma, por conter uma<br />

grande pluralidade de “pequenos mun<strong>do</strong>s”, ao mesmo tempo moderna e pré-moderno, mun<strong>do</strong>s<br />

que vivem e se influenciam cotidianamente.


Conversan<strong>do</strong> com os agricultores, observamos a necessidade de fortalecimento <strong>do</strong> capital<br />

humano (desenvolvimento <strong>do</strong>s conhecimentos, habilidades, sensibilização e competências das<br />

pessoas), geran<strong>do</strong> assim, motivação para a produção da matéria-prima vocacional da região.<br />

Fizemos a seguir, as grandes motivações para a produção de matéria-prima, o esclarecimento <strong>do</strong><br />

que é realmente o Programa <strong>do</strong> Biodiesel, os benefícios sociais e ambientais que esse novo<br />

combustível pode trazer para a agricultura familiar.<br />

Durante o <strong>trabalho</strong> de pesquisa de campo, percebemos a falta de conhecimento <strong>do</strong><br />

agricultor referente ao Programa. Nas nossas conversas, eles colocaram as seguintes questões: O<br />

que é biodiesel? Para que serve? Quais as vantagens que acarreta? Quais os benefícios previstos<br />

a agricultura familiar? O solo desta terra será compatível à cultura da mamona? Em que perío<strong>do</strong><br />

deverá ser plantada? Como plantar? A quem vender? Qual o valor pago pela minha produção?<br />

Mediante nossas observações, acreditamos que a falta de conhecimento está levan<strong>do</strong> ao<br />

descrédito <strong>do</strong> programa, na região <strong>do</strong> Planalto da Borborema.<br />

Portanto, vemos que estas propostas devem ser discutidas mais a fun<strong>do</strong>, com os próprios<br />

agricultores, para a viabilização <strong>do</strong> funcionamento de redes. A cooperativa tem um grande papel<br />

a desempenhar nesta região. Primeiro, é preciso que se <strong>faça</strong> um planejamento participativo de<br />

médio em longo prazo, incluin<strong>do</strong> o agricultor, como peça fundamental neste processo. Segun<strong>do</strong>,<br />

o fortalecimento das organizações da agricultura familiar, desenvolven<strong>do</strong> habilidades<br />

empreende<strong>do</strong>ras educativas.<br />

Ressaltamos que a produção de oleaginosas em lavouras familiares faz com que o<br />

biodiesel 1 seja uma alternativa importante para a erradicação da miséria no país, pela<br />

possibilidade de ocupação de enormes contingentes de pessoas. Na região semi-árida nordestina,<br />

vivem mais de 2 milhões de famílias em péssimas condições de vida.(JORNAL DA PARAÍBA,<br />

2006, p.13).<br />

Portanto, a inclusão social e o desenvolvimento regional, especialmente via geração de<br />

emprego e renda, devem ser os princípios orienta<strong>do</strong>res básicos das ações direcionadas ao<br />

biodiesel, o que implica dizer que sua produção e consumo devem ser promovi<strong>do</strong>s de forma<br />

descentralizada e não-excludente em termos de rotas tecnológicas e matérias-primas utilizadas.<br />

Contu<strong>do</strong>, o que temos de lamentável é a não valorização também da diversidade de<br />

habilidades <strong>do</strong> sertanejo neste cenário. Enquadra<strong>do</strong> como ultrapassa<strong>do</strong>, na realidade moderna,<br />

passa a ser visto como figura obscura, sem direito de vez e voz. Observamos, que o<br />

conhecimento que o sertanejo traz consigo, não faz senti<strong>do</strong> para muitos que se consideram<br />

peritos no trato com o homem <strong>do</strong> campo. Entre estes peritos, falamos de técnicos agrícolas com<br />

quem tivemos a oportunidade de trabalhar e verificar de perto suas ações.<br />

Para estes peritos, são conhecimentos ultrapassa<strong>do</strong>s, os <strong>do</strong>s camponeses. Esquecem eles<br />

que é a essência deste sertanejo, que busca sempre meios de sobrevivência neste espaço rural,<br />

muitas vezes sem a mínima condição para esta sobrevivência. Ameaça<strong>do</strong> pela seca, por falta de<br />

alimentos, falta de cuida<strong>do</strong>s. È o que podemos buscar como estética <strong>do</strong> sertanejo.<br />

O sertão, com seus ventos bíblicos, calmarias pesadas e noites frias, impressiona. Corta<strong>do</strong><br />

por veredas e árvores retorcidas em desespero, to<strong>do</strong> ele são monótonos caminhos de caatingas e<br />

areais ressequi<strong>do</strong>s. As "pueiras", lagoas mortas, de aspectos lúgubres, são o único oásis <strong>do</strong><br />

1 O biodiesel é uma denominação genérica para combustíveis e aditivos deriva<strong>do</strong>s de fontes renováveis de fontes<br />

renováveis, como dendê, babaçu, soja, palma, mamona, entre outras. No Brasil, as pesquisas com o biodiesel<br />

remontam ao ano de 1980, com os <strong>trabalho</strong>s <strong>do</strong> professor Expedito Parente, da Universidade Federal <strong>do</strong> Ceará, que é<br />

autor da patente PI – 8007957. Essa foi a primeira patente, em termos mundiais, de biodiesel e de querosene vegetal<br />

de aviação.


sertanejo. A serra de Monte Santo, com seus tons azula<strong>do</strong>s é uma cortina de muralha<br />

monumental. As conformações rochosas, no ermo vazio <strong>do</strong> Bendegó, dão a ilusão de ruínas<br />

antigas. Os grandes desmoronamentos rochosos <strong>do</strong> sertão lembram ‘mares de pedras’. Os rios<br />

salga<strong>do</strong>s, quan<strong>do</strong> secam, parecem um fun<strong>do</strong> de mar extinto, uma impressão acentuada pelos<br />

fenômenos ópticos <strong>do</strong> calor. Isso reforça a mítica sertaneja de que "um dia o sertão vai virar mar<br />

e o mar vai virar sertão Euclides da Cunha (2000,p.45).<br />

O sertanejo sabe o nome e as vantagens de cada cacto, de cada mandacaru, de cada<br />

xiquexique. Seus pássaros: o carcará, a acauã... a asa branca. E a natureza, que ele tanto ama, é<br />

sua aliada na luta pela sobrevivência. E ama o sertão. Não se habitua a outro lugar. O sertão o<br />

destrói, hipnotiza. É o homem rude e sereno acostuma<strong>do</strong> desde muito novo com a morte. Um<br />

resistente num lugar onde quase só existe deserto e onde a água torna-se uma miragem. Para<br />

Guimarães Rosa (2000,p.125), as sertanejas são diferentes das mulheres <strong>do</strong> litoral: são rezadeiras,<br />

rendeiras, mocinhas ingênuas, bruxas velhas e alcoviteiras. Mulheres de coragem e<br />

encrenqueiras.<br />

As entrevistas foram realizadas com os coopera<strong>do</strong>s e não-coopera<strong>do</strong>s de municípios<br />

zonea<strong>do</strong>s como aptos para o plantio de mamona, em suas residências urbanas e rurais, onde<br />

mergulharam na existência dialógica, observan<strong>do</strong> a capacidade <strong>do</strong> agricultor de se relacionar com<br />

o meio. Além da pesquisa de campo, da<strong>do</strong>s relativos ao espaço estuda<strong>do</strong> e à população foram<br />

coleta<strong>do</strong>s e organiza<strong>do</strong>s, para comporem o quadro analítico em que se encontra o sertanejo desta<br />

cooperativa e, pensan<strong>do</strong> para além disto, o homem na sua relação processual com o meio.<br />

Como exemplo, citamos uma ação que visa á junção de desenvolvimento humano e<br />

sistêmico ambiental, mediante a promoção da Agência Mandalla DHSA 2 , que é fruto <strong>do</strong><br />

conhecimento de Willy Pessoa, empreende<strong>do</strong>r social (intermediário da empresa Ashoka Brasil,<br />

organização que financia projetos de cunho social), que possui mais de 30 anos de ações e<br />

pesquisas nessa área, além <strong>do</strong>s jovens e seniores da equipe de empreende<strong>do</strong>res sociais que<br />

compõe a entidade. A missão é inovar na criação de difusão de processos indutivos de<br />

transformação sociais, educan<strong>do</strong> a cidade para consumir e capacitan<strong>do</strong> o campo para produzir.<br />

Nesta visão o capital humano local surge, como a mais importante semente a ser plantada e<br />

germinada, através de tecnologias sócio-educativas.<br />

Acrescentan<strong>do</strong>, observamos que é possível associar a produção de plantas oleaginosas à questão<br />

<strong>do</strong> desenvolvimento humano com a promoção <strong>do</strong> potencial família, facilitan<strong>do</strong> assim o resgate <strong>do</strong><br />

homem <strong>do</strong> campo. Fomentan<strong>do</strong> também a capacidade produtiva na região, buscan<strong>do</strong>,com isso a<br />

reversão de quadros de debilidades em geral, frutos de uma lenta e <strong>do</strong>lorosa modernização<br />

capitalista que traduz o grau de importância que reveste a propriedade da terra, na vitalidade da<br />

pequena produção e na exploração da mão-de-obra <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res <strong>do</strong> campo.<br />

2 A Agência Mandalla DHSA é uma organização da Sociedade Civil de Interesse Publico (OSCIP), que tem como missão<br />

incentivar processos de desenvolvimento sustentável, facilitan<strong>do</strong> a aplicação e a disseminação de Tecnologias Sociais.


Foto 1:Um Oásis no Sertão da Paraíba: Agência Mandalla DHSA<br />

A Agência Mandalla veio de encontro aos nossos anseios na busca de encontrar alguém<br />

que veja o homem <strong>do</strong> campo em outras perspectivas de vida. A sustentabilidade, como retrata<br />

Willy Pessoa, esta na busca de meios que equilibrem primeiro o ser humano que, por<br />

conseguinte, levará ao equilíbrio <strong>do</strong> meio onde ele vive. A Mandalla é um <strong>do</strong>s caminhos para a<br />

sustentabilidade <strong>do</strong> homem <strong>do</strong> campo.<br />

Este aspecto pedagógico, que enfatiza, Freire como Ga<strong>do</strong>tti e Boff, é relevante neste<br />

<strong>trabalho</strong>, para explicar porque utilizamos a Pedagogia da Terra em junção com agricultura<br />

familiar. Precisamos traçar essa teia, re-educan<strong>do</strong> o homem <strong>do</strong> campo na busca por uma<br />

qualidade de vida melhor, pelo conhecimento. Como retrata bem Freire, a educação liberta<strong>do</strong>ra,<br />

a pedagogia da esperança. È fundamental a busca pela autonomia, mediante a inserção <strong>do</strong><br />

reencontro sincero e crítico no sertão, sem ser sau<strong>do</strong>sista e melancólico. Um reencontro de<br />

pedagogias, obviamente impossível sem a <strong>do</strong> oprimi<strong>do</strong>, mas, aquela que analisa, descobre,<br />

reconstrói, critica, inova, desenvolve, ilustra fatos <strong>do</strong> cotidiano <strong>do</strong> sertanejo, retoma conceitos e,<br />

por fim, o mais importante, reafirma a espera.<br />

O estu<strong>do</strong> de caso da cooperativa nesta linha de pesquisa vem analisar como se encontra o<br />

sertanejo, inseri<strong>do</strong> neste cenário diante da proposta <strong>do</strong> cultivo de oleaginosas para produção de<br />

biodiesel. Será que essa proposta está sen<strong>do</strong> viável para este sertanejo? A análise que faremos<br />

para além da mera espera. Parte da sustentabilidade dessa instituição, juntamente com os<br />

coopera<strong>do</strong>s e sertanejos da região. Esperamos que nos traga resposta mais exata e concisa desta<br />

proposta da busca <strong>do</strong> caminho para a sustentabilidade sertaneja, na cooperativa, por meio da linha<br />

de pesquisa da Pedagogia da Terra.<br />

Conclusão<br />

Esta pesquisa foi uma viagem ao Sertão para melhor conhecer, neste cenário, o sertanejo.<br />

Nossa intenção foi um estu<strong>do</strong> à busca <strong>do</strong> caminho da sustentabilidade, busca de solução para o<br />

conflito para a carência de se trabalhar a família rural como um to<strong>do</strong>. Existem diferentes disputas


entre os grupos sociais no ambiente que verificamos, a falta de uma estratégia de<br />

desenvolvimento de ações interinstitucionais, põe em cheque a capacidade das organizações<br />

governamentais e não-governamentais locais, envolvidas na sobrevivência de seus espaços.<br />

O sertanejo se encontra num cenário de superação <strong>do</strong> conflito, busca de dignidade e<br />

identidade, de melhorias da qualidade de vida neste lugar. E, além disso, as políticas públicas<br />

não se mostram adequadas com a cultura local, são determinadas por interesses próprios. Daí<br />

resultam em fracasso e, mais que isso, contribuem para a desmobilização deste cenário.<br />

Essas análises nos levaram a uma discussão sobre conhecimento e identificação, o que a<br />

cooperativa poderia oferecer por meio da organização social da agricultura familiar, na intenção<br />

de facilitar o acesso às informações, financiamentos, infra-estrutura e merca<strong>do</strong>s. O universo é<br />

varia<strong>do</strong>, dá para a cooperativa trabalhar de maneira coletiva e autogestionária com o sertanejo. È<br />

preciso os produtores rurais manterem a produção e criarem um sistema cooperativista rentável<br />

para terem acesso a linhas de crédito, defasagem tecnológica, conhecimento de gestão<br />

empresarial da parte <strong>do</strong>s sócios coopera<strong>do</strong>s. È difícil mudar a mentalidade de quem sempre<br />

produziu como emprega<strong>do</strong> e convencer sócios de uma empresa autogestionária, onde to<strong>do</strong>s são<br />

<strong>do</strong>nos.<br />

Esse movimento de valorização <strong>do</strong> agricultor e <strong>do</strong> lugar onde está inseri<strong>do</strong>, só pode<br />

ocorrer com base na ética <strong>do</strong> encontro, a partir da disposição de dialogar com este ser Martin<br />

Buber (1982 e 1974), de percebê-lo, de valorizar sua história e seu mo<strong>do</strong> de vida que aos poucos<br />

está sen<strong>do</strong> destruí<strong>do</strong> por intervenções externas.<br />

Essas intervenções não conseguem fugir a uma lógica global que insiste em adaptar<br />

realidades como se to<strong>do</strong>s os seres fossem iguais. A diversidade é o fundamento para a<br />

concretização de uma ecopedagogia, a pedagogia da esperança, da construção <strong>do</strong> saber popular,<br />

pensan<strong>do</strong>-a com o reconhecimento da diversidade, o que dará senti<strong>do</strong> ao sertanejo, por meio de<br />

tecnologias sócio-educativas. Ao percorrer o Sertão, entristecemo-nos ao ver não só a falta de<br />

alimento e água para os animais como também para o próprio homem.<br />

Por fim, gostaríamos de dizer que a conclusão alcançada não tem o caráter de fim,<br />

encerra<strong>do</strong>! Na verdade, devem ser vistas como novas pistas a serem percorridas; critican<strong>do</strong>,<br />

construin<strong>do</strong>, reconstruin<strong>do</strong>, opon<strong>do</strong>, inovan<strong>do</strong> este cenário. O Sertão, lugar fantástico onde mora<br />

o sertanejo. O sertanejo, que se desloca para o urbano em busca de uma sensação de aconchego,<br />

de prazer pela sobrevivência. A imagem de pobreza e desamparo que se costuma ligar ao Sertão<br />

pode ser vista nos aglomera<strong>do</strong>s de pessoas que buscam um futuro melhor, tentan<strong>do</strong> poder, juntos,<br />

trilhar este caminho, o renascimento desse lugar, para que possa ser (re) valoriza<strong>do</strong> pelo próprio<br />

sertanejo e pelos faze<strong>do</strong>res e implementa<strong>do</strong>res de políticas públicas.<br />

Sair da nossa linearidade científica e transcender, este foi o desafio. As idéias tornam-se<br />

reais a partir <strong>do</strong> verdadeiro senti<strong>do</strong> que damos a elas, ao mun<strong>do</strong> não somente imaginário.<br />

Pudemos sentir sua verdadeira originalidade com as outras pessoas, neste cenário. Observan<strong>do</strong> o<br />

Sertão, esse lugar que produz um mo<strong>do</strong> de sobrevivência tão próprio e peculiar, e que, no<br />

entanto, vem sen<strong>do</strong> desmobiliza<strong>do</strong> ao longo da história <strong>do</strong> país, percebemos que é possível<br />

reencontrarmos essa essência humana, que nos permite perceber o outro, enquanto nos<br />

percebemos nele.<br />

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