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uma abordagem sócio-crítica da modelagem matemática - Alexandria

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JUSSARA DE LOIOLA ARAÚJO<br />

reais por meio de modelos. Skovsmose (1994), entretanto, afirma que esta não é a única forma<br />

de uso <strong>da</strong> <strong>matemática</strong> na socie<strong>da</strong>de: parte <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de é construí<strong>da</strong> por meio <strong>matemática</strong>. O<br />

autor defende a tese de que a <strong>matemática</strong> é utiliza<strong>da</strong> para formatar a reali<strong>da</strong>de: é o poder<br />

formatador <strong>da</strong> <strong>matemática</strong>. Segundo essa tese, parte de nossa reali<strong>da</strong>de é projeta<strong>da</strong> por meio de<br />

modelos matemáticos. Um exemplo disso é o Índice de Desenvolvimento H<strong>uma</strong>no (IDH): com<br />

base em modelos matemáticos, um número entre 0 e 1 é associado a ca<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, país ou<br />

qualquer outra locali<strong>da</strong>de. Baseados nesse índice, governos ou instituições internacionais, por<br />

exemplo, decidem como distribuir fundos para atingir determinado objetivo. Uma ci<strong>da</strong>de com<br />

IDH próximo de 1, por exemplo, devido à sua classificação relativamente alta, pode não ser<br />

seleciona<strong>da</strong> para receber fundos que poderiam resolver alguns de seus problemas.<br />

Assim, modelos matemáticos são usados para criar <strong>uma</strong> “situação real” que não existia<br />

anteriormente. De acordo com Christensen, Skovsmose e Yasukawa (2008), “nós não estamos<br />

meramente descrevendo o mundo por meio <strong>da</strong> <strong>matemática</strong>, mas sim, transformando-o em<br />

categorias acessíveis através <strong>da</strong>, e calculável em, <strong>matemática</strong>.” 9 (p. 89). A educação<br />

<strong>matemática</strong> <strong>crítica</strong> questiona o fato de esse poder atribuído à <strong>matemática</strong> não ser<br />

problematizado pela socie<strong>da</strong>de.<br />

Evidencia-se, assim, o relevante papel <strong>da</strong> <strong>matemática</strong> na construção <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<br />

tecnológica, o que é foco de discussão de EMC. E boa parte dessa construção é feita por meio<br />

<strong>da</strong> <strong>modelagem</strong> <strong>matemática</strong>. Justifica-se, portanto, <strong>uma</strong> <strong>abor<strong>da</strong>gem</strong> <strong>da</strong> <strong>modelagem</strong> <strong>matemática</strong><br />

na educação <strong>matemática</strong> segundo a educação <strong>matemática</strong> <strong>crítica</strong>.<br />

Se trabalharmos com <strong>modelagem</strong> <strong>matemática</strong> na educação <strong>matemática</strong> e não<br />

discutirmos questões como o uso <strong>da</strong> <strong>matemática</strong> na socie<strong>da</strong>de, a ideologia <strong>da</strong> certeza e o poder<br />

formatador na <strong>matemática</strong>, podemos estar contribuindo para a manutenção de <strong>uma</strong> socie<strong>da</strong>de<br />

injusta ou até mesmo reforçando tal situação. Por isso, sustento <strong>uma</strong> <strong>abor<strong>da</strong>gem</strong> <strong>da</strong> <strong>modelagem</strong><br />

na educação <strong>matemática</strong> que não se preocupe, apenas, em <strong>da</strong>r instrumentos matemáticos aos<br />

estu<strong>da</strong>ntes ou em apresentar a eles exemplos de aplicação <strong>da</strong> <strong>matemática</strong> à reali<strong>da</strong>de (o que<br />

poderia reforçar concepções absolutistas <strong>da</strong> <strong>matemática</strong>). Mais que isso, pretendo que a<br />

<strong>modelagem</strong> os faça refletir sobre a presença <strong>da</strong> <strong>matemática</strong> na socie<strong>da</strong>de, seja em benfeitorias<br />

ou em problemas sociais, e reagir contra as situações <strong>crítica</strong>s que a <strong>matemática</strong> também ajudou<br />

a construir.<br />

As idéias discuti<strong>da</strong>s nessas três subseções constituem o que quero dizer quando falo em<br />

abor<strong>da</strong>r a <strong>modelagem</strong> <strong>matemática</strong> segundo a educação <strong>matemática</strong> <strong>crítica</strong>.<br />

9 Tradução de “We are not merely describing the world through mathematics but rather transforming it<br />

into categories accessible through and computable in mathematics.” (CHRISTENSEN, SKOVSMOSE &<br />

YASUKAWA, 2008, p. 89).<br />

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