HISTÓRIA - LAM

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HISTÓRIA
HISTORY
A velha
praça
texto / text António Sopa
A velha praça ganhou o cenário tranquilo de certas periferias,
cumprindo agora a valiosa função de parque de estacionamento
automóvel para quem trabalha nos grandes edifícios comerciais
das redondezas. À sombra do seu arvoredo, acolhe-se apenas gente a fazer
horas para qualquer compromisso ou os jovens arrumadores, em cavaqueira,
mas todos os outros se limitam a cruzá-la rapidamente a caminho dos seus
destinos. No final do dia, nos passeios laterais, para os lados da fortaleza, as
mulheres vendem o peixe chegado nos barcos de pesca. Ali, a praça ganha
um movimento diferente, já que acolhe as paragens dos transportes públicos
e é porta de entrada para o antigo cais do Gorjão, nome ganho de um antigo
governador-geral. A essas horas, a praça tem um novo aspecto, esvaziada
agora dos automóveis que a atravancavam, já que o funcionalismo abandonou
as repartições públicas. E quando o princípio da noite chega, após o fecho
das poucas lojas comerciais, torna-se então cenário de amores clandestinos,
abrigo de vagabundos e refúgio de marginais e prostitutas.
Apesar das obras realizadas pelo município, há poucos meses atrás, que lhe
permitiu assumir um ar mais limpo, a praça não perdeu ainda o seu aspecto
de coisa interina, ganho após as obras que lhe fizeram, nos finais da década
de 1930, quando se demoliram os edifícios que a estrangulavam e se pensou
reconstruí-la segundo a arquitectura portuguesa, então em voga. As ideias
nunca ultrapassaram a fase de projecto e, desde então, adquiriu a moldura
que ainda hoje permanece. Nunca se conseguiu desafogá-la completamente
no sentido do mar, em virtude das imposições do porto comercial. Apenas se
demoliu o grandioso Capitania Buildings, após a reconstrução da actual Fortaleza,
e se retirou a estátua em homenagem a António Enes, sufocada pelas
construções portuárias, após acesa polémica travada na imprensa local.
Esta descaracterização foi mais acentuada com a construção dos prédios
modernos que a circundam, como o Fonte Azul, que chegou a ser o mais
alto da cidade; o da Estatística e o dos Organismos Económicos, onde está
actualmente o Ministério da Indústria e Comércio. De antigo mesmo, apenas
sobrou a Casa Amarela, salva por ser a construção de alvenaria mais antiga
da cidade e um dos poucos exemplares da arquitectura indo-portuguesa.
Pensou-se instalar o Museu da Cidade mas, actualmente, aloja-se ali o
Museu da Moeda, onde estão expostas moedas, tésseras e outros objectos
relevantes da vida económica da antiga colónia. A Fortaleza, sobre a Mahumana
qual a imaginação popular vai tecendo histórias e acontecimentos, é uma
Albino
reconstrução praticamente dos nossos dias. Ali se albergam ainda velhos
canhões e outros armamentos, pedras da desaparecida Fortaleza de Sofala e photo /
inscrições, lápides e estátuas que recordam a presença colonial portuguesa. foto

The Old Plaza
T he old plaza has been allocated the tranquil aspect of certain outdoor
settings, and now fulfils the valuable function of a car park for those
working in the large commercial buildings around. Its trees provide shade only
for those killing time before an appointment or for the young parkers, as they
stand chatting, but everyone else limits themselves to crossing it quickly en route
to their destinations. At the end of the day, on the walks along the fortress side,
women sell fish brought by the fishing boats. There, the plaza has a different
movement, thanks to the public transport stops and the fact that here is lies
the entrance to the old Gorjão quay, a name inherited from a former Governor-
General. At this time of the day, the plaza has a new aspect, emptied of the cars
that blocked it, since the civil servants have all left their offices. And when night
falls, after the few shops close, it becomes the setting for clandestine love, a
shelter for tramps and for the hideout of marginals and prostitutes.
In spite of municipal work carried out a few months ago to smarten it up,
the plaza has still not lost the makeshift aspect it took on after the work carried
out at the end of the 1930’s, when the buildings that were choking it were
demolished and the intention was to re-build it according to the then vogue
of Portuguese architecture. These ideas never got past the planning stage,
and since then it has acquired its current framework. They never managed to
completely un-choke it on the seaward side, because of the constraints of the
commercial port. They merely demolished the grandiose Capitania Buildings,
after the rebuilding of the current Fortress, and removed the statue honouring
António Enes that was suffocated by the port buildings, after a heated debate
in the local press.
This loss of character was strengthened by the construction of the modern
buildings that surround it, such as the Fonte Azul, which came to be the highest
in the city, the Statistics building and the Economy Offices building, that currently
houses the Ministry for Industry and Commerce. Of the truly old buildings, only
the Casa Amarela remained, saved because it was the oldest masonry building
in the city and one of the few examples of Indo-Portuguese architecture. It was
initially planned to have the City Museum installed there, but nowadays it houses
the Currency Museum, exhibiting coins, tesseras and other relevant objects from
the economic life of the former colony. The Fortress, around which popular
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HISTÓRIA
HISTORY
Paralelamente, na antiga capela, guardam-se
os restos mortais do Imperador Ngungunhane,
numa urna de madeira finamente lavrada pelo
escultor Paulo Come, que teve igualmente a
intervenção do pintor Malangatana Valente.
Numa outra das antigas casernas, uma pequena
exposição arqueológica, revela o passado das
populações africanas locais.
Poucos saberão, hoje em dia, que a velha
praça está ligada às origens de Xilunguíne.
Que o antigo campo de tiro da primitiva
fortaleza foi, ao longo dos tempos, assumindo
os mais variados retratos. O mais célebre, que
a internacionalizou, foi feito pelo fotógrafo
Inácio Pó, no seu apogeu, nos frenéticos anos 20. Nesse tempo, a praça era
toda pavimentada ao estilo português, rodeada por quiosques de madeira e
vidro, o primeiro dos quais erguido nos anos 80 do século XIX. Ao centro,
um belíssimo coreto de ferro fundido acolhia semanalmente a banda militar.
Era sob o seu arvoredo, nas esplanadas dos restaurantes e cafés, que a cidade
toda se acolhia, estabelecendo-se novos conhecimentos e reafirmando-se
velhas amizades. Ali se reuniam os comerciantes, na expectativa de concretizarem
lucrativos negócios, oficiais da Marinha e do Exército, em comissão
de serviço, políticos e o grande funcionalismo público ávido de conhecer os
últimos boatos, as famílias respeitáveis, a que se resumia toda a nobreza local,
imagination weaves stories and events, is a practically modern reconstruction.
Old houses and other weapons are housed there, together with stones from
the long-gone Sofala Fortress and inscriptions, memorial stones and statues
recording the Portuguese colonial presence. Also, in the old chapel, the mortal
remains of Emperor Ngungunhane are kept in a finely worked wooden urn,
made by the sculptor Paulo Come, with additional work by painter Malangatana
Valente. In another of the old mansions there is a small archaeological exhibition
showing the past of the local African populations.
Few will know today that the old plaza is linked with the origins of Xilunguíne.
That the old firing range of the primitive fortress gradually took on the most

e todo um mundo de anónimos aventureiros a caminho da vizinha União. A
chegada do “vapor” era também dia grande na povoação. Todos desciam à
Baixa para saber notícias da antiga Metrópole, através da correspondência
e dos jornais. Depois, pacatamente, lá pelas onze horas, regressavam todos
a casa, usando os velhos eléctricos que saíam então da praça.
Depois, tudo mudou. A cidade tinha inevitavelmente crescido e outros
gostos modelavam então a existência dos citadinos. A demolição dos velhos
quiosques, que sobreviviam já numa lenta agonia, vieram acelerar o seu
abandono. E a praça ganhou desde então aquele ar modesto e provinciano,
saudosa das grandezas de outros tempos.
varied aspects over the years. The most famous
image, which put it on the international scene,
was the photograph taken by Inácio Pó, during
its heyday, in the roaring twenties. At that
time, the plaza was completely paved in the
Portuguese style and surrounded by glass and
wood kiosks, the first of which was erected in
the 1880’s. In the centre, a beautiful wrought
iron bandstand housed weekly performances
by the military band. The city meeting place
was beneath its trees, on the esplanades of
the restaurants and cafes. There, people made
new contacts and re-affirmed old friendships. It
was also there that the merchants met hoping
to make profitable new deals. Navy and Army
officers, politicians and senior civil servants keen
to hear the latest rumours, respectable families,
including all of the local nobility, and a whole
world of anonymous adventurers on their way from the neighbouring Union also
met there. The arrival of the “steamboat” was also an important day. Everyone
would go downtown to glean news of the old Metropolis from letters and the
newspapers. Then, at around 11 o’clock, they would all peacefully return home
on the old trolley cars that used to leave from the plaza.
Then, everything changed. The city had inevitably grown and new tastes
had come to define its citizens’ lives. The demolition of the old kiosks that
were still clinging to life in slow agony only accelerated its abandonment. And
since then, the plaza has assumed a modest and provincial air, dreaming of
its former glory.
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