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O submundo da cana - Bresser Pereira

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Descobriram-se documentos que comprovam a existência de fraudes no peso <strong>da</strong> <strong>cana</strong>, lesando<br />

os lavradores.<br />

Escravidão<br />

No auge e na decadência do ciclo <strong>da</strong> <strong>cana</strong>-de-açúcar, os escravos cui<strong>da</strong>ram <strong>da</strong> lavoura e<br />

puseram os engenhos para funcionar. A arranca<strong>da</strong> do etanol brasileiro foi <strong>da</strong><strong>da</strong> por lavradores<br />

na maioria negros.<br />

Assim como os escravos sumiram de certa historiografia, os cortadores são uma espécie<br />

invisível nas publicações do setor. Exibem-se usinas high-tech, mas oculta-se a mão-de-obra<br />

<strong>da</strong> roça.<br />

Impressiona na viagem ao mundo e ao <strong>submundo</strong> <strong>da</strong> <strong>cana</strong> a semelhança de símbolos <strong>da</strong><br />

lavoura atual com a era pré-Abolição. O fiscal <strong>da</strong>s usinas é chamado de feitor.<br />

Acumulam-se denúncias de trabalho escravo. É um erro supor que as acusações de<br />

degra<strong>da</strong>ção passem longe do Estado mais rico do país e se limitem ao "Brasil profundo". Uma<br />

delas é narra<strong>da</strong> adiante. Em São Paulo, localiza-se Ribeirão Preto, centro <strong>cana</strong>vieiro tratado<br />

como a nossa "Califórnia".<br />

O presidente Luiz Inácio Lula <strong>da</strong> Silva tem minimizado os relatos sobre trabalho penoso nos<br />

<strong>cana</strong>viais. No ano passado, ele disse que os usineiros "estão virando heróis nacionais e<br />

mundiais porque todo mundo está de olho no álcool".<br />

O medo de retaliações é grande entre os <strong>cana</strong>vieiros. Nenhum nome foi mu<strong>da</strong>do nos textos,<br />

mas algumas pessoas, a pedido, são identifica<strong>da</strong>s apenas pelo prenome ou nem isso. As<br />

entrevistas foram grava<strong>da</strong>s com consentimento.<br />

São muitos esses anti-heróis: segundo os usineiros, há 335 mil cortadores de <strong>cana</strong> no Brasil,<br />

incluindo os 135 mil de São Paulo. No Estado, prevê-se a extinção do corte manual para<br />

2015, junto com as queima<strong>da</strong>s que facilitam a colheita.<br />

Ilma e Rosimira compõem uma espécie em extinção. Por meio milênio, os cortadores,<br />

escravos ou assalariados, viveram tempos difíceis. Nos próximos anos, não será diferente:<br />

com baixa qualificação, eles terão de procurar outros meios de sobrevivência.<br />

Não há sindicato que não constate que<strong>da</strong> nas contratações.<br />

O <strong>cana</strong>vial não está tão longe quanto parece: ao encher o tanque com 49 litros de álcool,<br />

consome-se uma tonela<strong>da</strong> de <strong>cana</strong>; quando se adoça com açúcar o café <strong>da</strong> manhã, milhares de<br />

brasileiros já estão na lavoura de facão na mão.<br />

Riqueza e senzala<br />

Estado mais rico do país tem casos de trabalho escravo; procurador fala em<br />

"apartheid" nos <strong>cana</strong>viais<br />

DOS ENVIADOS AO INTERIOR DE SP<br />

Q uando os fiscais do Ministério do Trabalho e os procuradores do Ministério Público do<br />

Trabalho partem para diligências nos <strong>cana</strong>viais, as chances de encontrarem irregulari<strong>da</strong>des<br />

equivalem às dos clientes dos serviços de "pesque-pague" disseminados pelo interior paulista<br />

fisgarem tilápias sem dificul<strong>da</strong>des: nos lagos, há profusão de cardumes; no campo, as<br />

condições de trabalho dos cortadores estão longe de cumprir plenamente a lei.<br />

Mesmo sem os instrumentos legais de investigação à disposição dos servidores públicos, os<br />

repórteres não passaram por lavoura onde não houvesse infrações.<br />

Em Taiaçu, os trabalhadores saíram para a roça de madruga<strong>da</strong>, em ônibus com luzes

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