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Mandibulectomia rostral bilateral em cão portador de ... - Vetface.com

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<strong>Mandibulectomia</strong><br />

<strong>rostral</strong> <strong>bilateral</strong><br />

<strong>em</strong> <strong>cão</strong> <strong>portador</strong><br />

<strong>de</strong> osteossar<strong>com</strong>a<br />

¹ Mariana Ramos da Silva, Médica-<br />

Veterinária pela UFRPE; Mestranda<br />

<strong>em</strong> Ciências Veterinárias pela<br />

UFRPE, Recife, PE, BRASIL.<br />

²Laurimar Tomé da Rocha, Mestranda<br />

<strong>em</strong> Farmacologia pela<br />

UFPE, Recife, PE, BRASIL.<br />

³ Fre<strong>de</strong>rico Celso Lyra Maia, Professor<br />

Doutor, Departamento <strong>de</strong><br />

Medicina Veterinária da UFRPE,<br />

Recife, PE, BRASIL.<br />

4 Ana Paula Monteiro Tenório,<br />

Professora Doutora, Departamento<br />

<strong>de</strong> Medicina Veterinária da<br />

UFRPE, Recife, PE, BRASIL.<br />

5 Maria Cristina <strong>de</strong> Oliveira Cardoso<br />

Coelho, Professora Doutora,<br />

Departamento <strong>de</strong> Medicina<br />

Veterinária da UFRPE, Recife,<br />

PE, BRASIL.<br />

6 Fabrício Bezerra <strong>de</strong> Sá, Professor<br />

Doutor, Departamento <strong>de</strong><br />

Morfologia <strong>de</strong> Fisiologia Animal,<br />

UFRPE, Recife, PE, BRASIL.<br />

INTRODUÇÃO<br />

MATERIAL E MÉTODOS<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

CONCLUSÃO<br />

INTRODUÇÃO<br />

Os tumores orais são muito <strong>com</strong>uns na<br />

prática da clínica veterinária, e constitu<strong>em</strong> o<br />

quarto lugar mais freqüente <strong>de</strong> neoplasias <strong>em</strong><br />

cães e gatos (Henry, 2001). Dentre os tumores<br />

menos freqüentes na cavida<strong>de</strong> oral <strong>de</strong> cães<br />

está o osteossar<strong>com</strong>a, que representa cerca<br />

<strong>de</strong> 10% <strong>de</strong> todos os tumores orais (Spodnick<br />

et al., 1992). É uma neoplasia mesenquimal<br />

maligna <strong>de</strong> células primitivas ósseas que produz<br />

matriz extracelular (osteóí<strong>de</strong>), e sua presença<br />

no tumor é a base para o diagnóstico<br />

histológico, diferenciando este <strong>de</strong> outros sar<strong>com</strong>as<br />

(Neville, 2004). Histologicamente, o tumor<br />

ósseo canino po<strong>de</strong> ser subdividido nos<br />

tipos osteoblástico, condroblástico, fibroblástico,<br />

e osteoclástico pobr<strong>em</strong>ente diferenciado<br />

Relata-se neste trabalho o caso <strong>de</strong> um canino,<br />

Poodle, macho, <strong>de</strong> onze anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, <strong>com</strong> diagnóstico<br />

<strong>de</strong> osteossar<strong>com</strong>a osteoblástico <strong>em</strong> região <strong>rostral</strong><br />

da mandíbula. O animal foi submetido à cirurgia para<br />

exérese da massa tumoral. Ressalta-se a importância<br />

do uso <strong>de</strong> técnicas cirúrgicas radicais na melhoria<br />

da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida do paciente, e também a rara<br />

ocorrência <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> tumor na cavida<strong>de</strong> oral <strong>em</strong><br />

cães, sendo esta localização um fator agravante para<br />

o prognóstico da enfermida<strong>de</strong>.<br />

M. RAMOS DA SILVA¹, L. T. ROCHA², F. C. L. MAIA³,<br />

A. P. M. TENÓRIO 4 , M. C. O. C. COELHO 5 , F. B. SÁ 6<br />

ou telangiectásico (Straw, 1996). Sua ocorrência<br />

no esqueleto axial é b<strong>em</strong> menos freqüente<br />

que no esqueleto apendicular, ocorrendo somente<br />

cerca <strong>de</strong> 10% <strong>em</strong> cabeça e pescoço<br />

(E<strong>de</strong>iken, 1981; Huvos, 1991; Johnson et al.,<br />

1997). Entretanto, seu <strong>com</strong>portamento biológico<br />

é similar e, aqueles que <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong><br />

osteossar<strong>com</strong>a do esqueleto axial, também<br />

estão sob gran<strong>de</strong> risco <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> metástases<br />

(Spodnick et al., 1992). Este tumor caracteriza-se<br />

pela produção <strong>de</strong> tecido osteói<strong>de</strong><br />

e osso imaturo encontrada no estroma celular<br />

(O<strong>de</strong>ll, 1996). Seus sítios mais <strong>com</strong>uns <strong>em</strong> cabeça<br />

são: seio maxilar, cavida<strong>de</strong> nasal e mandíbula<br />

(Maes et al., 1998). O osteossar<strong>com</strong>a é<br />

localmente invasivo e potencialmente metastático.<br />

As enfermida<strong>de</strong>s metastáticas são as causas<br />

mais <strong>com</strong>uns <strong>de</strong> morte do paciente, sendo<br />

90% <strong>de</strong>stas encontradas nos pulmões e os 10%<br />

restantes localizados <strong>em</strong> outros órgãos ou <strong>em</strong><br />

outros ossos (An<strong>de</strong>rson, 1996; Spodnick et al.,<br />

1992). Alguns fatores <strong>de</strong> risco têm sido associados<br />

ao seu <strong>de</strong>senvolvimento, <strong>com</strong>o: tamanho<br />

do animal, sexo, displasia fibrosa, retinoblastoma<br />

e osteomielite crônica (Straw, 1996).<br />

52 A Hora Veterinária – Ano 25, nº 150, março/abril/2006


Tumefação e dor são os sintomas mais <strong>com</strong>uns po<strong>de</strong>ndo estar<br />

a<strong>com</strong>panhados <strong>de</strong> assimetria facial, h<strong>em</strong>orragia, ed<strong>em</strong>a, mobilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ntal, halitose e paresia (Román, 1999; Neville, 2004).<br />

Atualmente exist<strong>em</strong> muitas opções para o tratamento das<br />

neoplasias orais que inclu<strong>em</strong> cirurgia, radioterapia, quimioterapia,<br />

imunoterapia <strong>com</strong> auto-vacinas, hipertermia e terapia<br />

fotodinâmica. Porém, a radioterapia e excisão cirúrgica radical<br />

ainda são as mediadas <strong>de</strong> eleição e <strong>com</strong> maior índice <strong>de</strong> sucesso<br />

<strong>em</strong> tumores malignos na cavida<strong>de</strong> oral (Dhaliwal, 1998;<br />

Henry, 2001). O prognóstico do osteossar<strong>com</strong>a está estreitamente<br />

relacionado <strong>com</strong> sua localização, e os mandibulares<br />

apresentam um prognóstico muito mais favorável que os localizados<br />

<strong>em</strong> maxila (Henry, 2001). Em razão da escassez <strong>de</strong> dados<br />

na literatura, objetivou-se relatar o caso <strong>de</strong> um osteossar<strong>com</strong>a<br />

osteoblástico mandibular <strong>em</strong> <strong>cão</strong>, seu diagnóstico e<br />

tratamento.<br />

MATERIAL E MÉTODOS<br />

Foi atendido no Hospital Veterinário do Departamento<br />

<strong>de</strong> Medicina Veterinária da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Rural <strong>de</strong><br />

Pernambuco um <strong>cão</strong> poodle, macho, <strong>com</strong> 26 kg, onze anos <strong>de</strong><br />

ida<strong>de</strong>, <strong>com</strong> aumento <strong>de</strong> volume na região <strong>rostral</strong> da mandíbula<br />

(Figura 1). A proprietária relatou crescimento rápido, <strong>de</strong> aproximadamente<br />

um mês. Durante o exame clínico da cavida<strong>de</strong><br />

oral, observou-se lesão nodular irregular <strong>de</strong> consistência firme,<br />

esten<strong>de</strong>ndo-se até a altura dos segundos pré-molares inferiores<br />

(<strong>bilateral</strong>mente) <strong>com</strong> expansão para face vestibular e<br />

lingual, fort<strong>em</strong>ente a<strong>de</strong>rida e recoberta por mucosa oral. Às<br />

radiografias, o crânio evi<strong>de</strong>nciou uma lesão que mesclava áreas<br />

<strong>de</strong> radiopacida<strong>de</strong> e radiolucência difusas e periféricas <strong>com</strong><br />

<strong>de</strong>slocamento das raízes dos incisivos inferiores e esten<strong>de</strong>ndo-se<br />

até a altura dos 2° pré-molares inferiores (Figura 2); o<br />

tórax revelou pequena área <strong>de</strong> fibrose pulmonar e o exame <strong>de</strong><br />

ultrasonografia da região abdominal d<strong>em</strong>onstrou presença <strong>de</strong><br />

massa possivelmente neoplásica no fígado. Foi realizado exame<br />

<strong>de</strong> citologia aspirativa do tumor, sendo observadas apenas<br />

células inflamatórias. Clinicamente, além da lesão mandibular,<br />

o animal apresentava-se <strong>de</strong>bilitado, obeso e <strong>com</strong> dificulda<strong>de</strong><br />

<strong>em</strong> se alimentar há uma s<strong>em</strong>ana.<br />

Figura 1. Poodle, 13 anos, macho, <strong>com</strong> aumento <strong>de</strong> volume <strong>em</strong><br />

região <strong>rostral</strong> da mandíbula <strong>bilateral</strong>mente.<br />

A Hora Veterinária – Ano 25, nº 150, março/abril/2006<br />

Figura 2. A radiografia <strong>de</strong> crânio revela um padrão <strong>de</strong><br />

“raios <strong>de</strong> sol” do trabeculado no interior do tumor.<br />

Após avaliação clínica optou-se pelo tratamento cirúrgico<br />

<strong>com</strong> exérese do tumor e amputação da área a<strong>com</strong>etida<br />

através <strong>de</strong> mandibulectomia <strong>rostral</strong> <strong>bilateral</strong>. No dia seguinte,<br />

e após um jejum alimentar <strong>de</strong> 12 horas, o paciente foi encaminhado<br />

para cirurgia. O procedimento pré-anestésico foi realizado<br />

<strong>com</strong> acepromazina, na dose <strong>de</strong> 0,1mg/kg/IM, <strong>com</strong> indução<br />

<strong>de</strong> propofol na dose <strong>de</strong> 5mg/kg/IV e, logo após, proce<strong>de</strong>u-se a<br />

intubação orotraqueal. A manutenção foi feita <strong>com</strong> isofluorano.<br />

O ato cirúrgico consistiu na excisão do tumor através <strong>de</strong><br />

incisão da mucosa ao redor da massa <strong>com</strong> posterior <strong>de</strong>slocamento<br />

da pele, mucosa alveolar e musculatura adjacentes ao<br />

osso <strong>de</strong> toda região <strong>rostral</strong> da mandíbula até altura dos 4º prémolares<br />

(Figura 3). Posteriormente, <strong>com</strong> auxílio <strong>de</strong> serra para<br />

osso, cinzel e martelo, foi feita a osteotomia dos ramos horizontais<br />

mesial às raízes dos 1º molares inferiores (<strong>bilateral</strong>mente)<br />

conferindo marg<strong>em</strong> <strong>de</strong> segurança <strong>de</strong> 1,5cm (Figura 4),<br />

sutura <strong>de</strong> tecidos subcutâneos e pele. Para controle da h<strong>em</strong>orragia<br />

foi utilizada cera <strong>de</strong> osso <strong>de</strong>ntro do canal medular. A<br />

mucosa vestibular foi suturada na mucosa sublingual <strong>com</strong> fio<br />

vicryl 4-0 e a pele <strong>em</strong> excesso foi reduzida <strong>com</strong> queiloplastia<br />

<strong>em</strong> elipse utilizando-se mononylon 3-0. O fragmento mandibular,<br />

<strong>de</strong> aproximadamente 10 cm, foi <strong>de</strong>vidamente acondicionado<br />

<strong>em</strong> recipiente contendo formol 10% e enviado para exame<br />

Figura 3. Fotografia intrabucal da massa tumoral.<br />

53


Figura 4. Esqu<strong>em</strong>a d<strong>em</strong>onstrando as proporções dimensionais<br />

das margens do tumor (círculo) e as secções cirúrgicas entre<br />

os 4ºs pré-molares e 1°s molares inferiores (seta).<br />

histopatológico. O animal recuperou-se após a anestesia<br />

retornando aos parâmetros consi<strong>de</strong>rados normais. Foram prescritos<br />

tramadol 2 mg/kg/QID/VO por 10 dias, meloxican 0,2 mg/<br />

kg/SID/VO por 3 dias, associação <strong>de</strong> espiramicina e metronidazol<br />

22 mg/Kg/SID/VO por 8 dias. O proprietário foi orientado quanto<br />

aos cuidados requeridos nas duas primeiras s<strong>em</strong>anas após a<br />

cirurgia, e re<strong>com</strong>endou-se uso do colar elizabetano, higiene oral<br />

<strong>com</strong> clorexidina 0,12% QID/10 dias, além <strong>de</strong> dieta pastosa por<br />

um período <strong>de</strong> 15 dias até cicatrização.<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

A colocação do tubo gástrico é re<strong>com</strong>endada no pósoperatório<br />

imediato <strong>em</strong> casos <strong>de</strong> mandibulectomias, pois confere<br />

uma melhor nutrição e hidratação para o paciente até que<br />

haja adaptação ao seu novo estilo <strong>de</strong> vida, além <strong>de</strong> evitar<br />

atrito na área recém-operada (Birchard, 1990). No caso aqui<br />

relatado esta manobra não foi realizada. Contudo, no 2º dia<br />

após o ato cirúrgico, o animal retornou adaptando-se à alimentação<br />

pastosa, auxiliado pelo proprietário <strong>com</strong> movimentação<br />

da língua para apreensão do alimento. Alguns pontos<br />

<strong>de</strong> sutura da mucosa vestibular que estava a<strong>de</strong>rida ao coto<br />

r<strong>em</strong>anescente soltaram-se <strong>bilateral</strong>mente, mas não foi necessária<br />

nova intervenção, pois a ferida cicatrizou por segunda<br />

intenção. Segundo Harvey (1985) são <strong>com</strong>uns áreas <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>iscência <strong>em</strong> cirurgias bu<strong>com</strong>axilofaciais extensas, <strong>com</strong>o no<br />

caso da mandibulectomia. Houve gran<strong>de</strong> manipulação dos<br />

tecidos envolvidos durante a cirurgia além <strong>de</strong> ser uma região<br />

<strong>de</strong> intensa mobilida<strong>de</strong> do pós-operatório, fatores que contribu<strong>em</strong><br />

para as <strong>de</strong>iscências. No 13º dia após o ato cirúrgico o<br />

animal retornou <strong>com</strong> a ferida cirúrgica cicatrizada, mas apresentando<br />

frouxidão <strong>de</strong> pele na região <strong>rostral</strong>, que foi r<strong>em</strong>o<strong>de</strong>lada<br />

posteriormente <strong>de</strong> forma natural. O animal recebeu alta<br />

após 15 dias voltando a se alimentar <strong>com</strong> ração seca.<br />

Como o tumor po<strong>de</strong> esten<strong>de</strong>r-se a uma distância além da<br />

aparente no exame clínico e na análise das margens<br />

radiográficas, a recidiva local após a cirurgia é o principal probl<strong>em</strong>a<br />

segundo Neville (2004). Pensando nisso, foram instau-<br />

rados retornos quinzenais e mensais além <strong>de</strong> a<strong>com</strong>panhamento<br />

radiográfico <strong>de</strong> tórax e crânio para se <strong>de</strong>tectar possíveis<br />

metástases. O estudo histopatológico da neoplasia foi utilizado<br />

para fins <strong>de</strong> diagnóstico e também para classificação quanto<br />

ao tipo histológico. À microscopia fragmentos da massa<br />

neoplásica da mandíbula possuíam abaixo do epitélio <strong>de</strong> revestimento,<br />

a partir do tecido conjuntivo, intensa proliferação<br />

<strong>de</strong> células mesenquimais mal diferenciadas que cresciam <strong>de</strong><br />

maneira anárquica e infiltrativa. Estas células mal diferenciadas<br />

possuíam intenso pleomorfismo celular e nuclear, sendo<br />

também freqüentes as figuras <strong>de</strong> mitoses anômalas. Elas diferenciavam-se<br />

ora <strong>em</strong> fibroblastos que formavam feixes conjuntivos,<br />

ora <strong>em</strong> osteoblastos que sintetizavam matriz óssea<br />

imatura. Em algumas áreas há tentativa <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> osso<br />

osteônico (Figura 5). Figuras <strong>de</strong> apoptose <strong>em</strong>bora não foss<strong>em</strong><br />

freqüentes podiam ser visualizadas. O padrão do tumor<br />

primário era acrescido <strong>com</strong> a presença <strong>de</strong> lençóis <strong>de</strong> células<br />

fusiformes atípicas, o que caracterizava a variante fibroblástica<br />

do osteossar<strong>com</strong>a concordando <strong>com</strong> Costa et al. (2001). Concluiu-se<br />

<strong>com</strong> base nos achados histopatológicos, tratar-se <strong>de</strong><br />

um osteossar<strong>com</strong>a osteoblástico do tipo mo<strong>de</strong>radamente<br />

proliferativo.<br />

A cavida<strong>de</strong> oral é um dos locais menos favoráveis para o<br />

surgimento <strong>de</strong> neoplasias <strong>em</strong> se tratamento <strong>de</strong> marg<strong>em</strong> <strong>de</strong> segurança<br />

para ressecção tumoral, sendo este local um fator<br />

agravante para o prognóstico da enfermida<strong>de</strong>. Withow (1996)<br />

re<strong>com</strong>enda marg<strong>em</strong> mínima <strong>de</strong> 3 cm³ <strong>em</strong> casos <strong>de</strong><br />

osteossar<strong>com</strong>as, porém <strong>em</strong> <strong>de</strong>terminadas raças esta dimensão<br />

po<strong>de</strong> representar a cefalometria total do animal. No presente<br />

relato, obtiv<strong>em</strong>os uma marg<strong>em</strong> cirúrgica <strong>de</strong> 1,5 cm³. Acreditamos<br />

que <strong>em</strong> se tratando <strong>de</strong> cavida<strong>de</strong> oral, a marg<strong>em</strong> <strong>de</strong> segurança<br />

<strong>de</strong>ve ser pon<strong>de</strong>rada pelo bom senso do cirurgião. Além<br />

disso, solicitar exames histopatológicos das margens ósseas<br />

do tumor é outro fator a ser consi<strong>de</strong>rado durante o planejamento<br />

cirúrgico.<br />

Em se tratando <strong>de</strong> protocolos quimioterápicos para tumores,<br />

segundo Straw (1996), a maioria dos fármacos são<br />

mielossupressores e pod<strong>em</strong> favorecer a instalação <strong>de</strong> infecções<br />

profundas após a r<strong>em</strong>oção cirúrgica do tumor. Por este<br />

motivo, optamos por não aplicar a quimioterapia no pós-operatório.<br />

O objetivo maior era o restabelecimento da qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> vida do paciente a curto e médio prazo, e entend<strong>em</strong>os que<br />

seria prejudicada <strong>com</strong> uso da quimioterapia. Uma maior<br />

Figura 5. Proliferação <strong>de</strong> osteoblastos <strong>com</strong> síntese <strong>de</strong> matriz<br />

óssea e calcificação. H.E - 400X.<br />

54 A Hora Veterinária – Ano 25, nº 150, março/abril/2006


sobrevida relatada, muitas vezes, <strong>com</strong> <strong>em</strong>prego <strong>de</strong><br />

quimioterapia tumoral é uma via <strong>de</strong> mão dupla quando o foco<br />

principal é a retomada da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida do paciente, muitas<br />

vezes, a curto prazo.<br />

Doze meses após a cirurgia, o paciente encontrava-se<br />

s<strong>em</strong> apresentar recidiva e, mesmo tendo sido retirado cerca <strong>de</strong><br />

60% do corpo da mandíbula, d<strong>em</strong>onstrava sinais <strong>de</strong> adaptação,<br />

alimentando-se b<strong>em</strong> e retomando suas ativida<strong>de</strong>s no convívio<br />

social da família s<strong>em</strong> <strong>de</strong>sconforto aparente (Figura 6).<br />

Em gran<strong>de</strong> parte dos casos <strong>de</strong> tumores localizados na<br />

cavida<strong>de</strong> oral os animais são encaminhados ao sacrifício, resultando<br />

na maioria das vezes, <strong>em</strong> <strong>de</strong>sconforto <strong>em</strong>ocional para<br />

o proprietário e sua família, assim <strong>com</strong>o, não permitindo um<br />

estudo mais aprofundado <strong>de</strong> técnicas cirúrgicas alternativas<br />

<strong>em</strong> casos <strong>de</strong> tumores orais que pod<strong>em</strong>, <strong>em</strong> vez <strong>de</strong> sofrimento,<br />

promover conforto e b<strong>em</strong>-estar. Consi<strong>de</strong>ramos que as técnicas<br />

cirúrgicas radicais pod<strong>em</strong> ser b<strong>em</strong> <strong>em</strong>pregadas nos casos<br />

<strong>de</strong> tumores orais, visto que, os cães não possu<strong>em</strong> hábitos<br />

mastigatórios s<strong>em</strong>elhantes aos humanos. Assim, a ausência<br />

<strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong>ntários e suporte mandibular ou maxilar, não<br />

são fundamentais no exercício <strong>de</strong>sta função, po<strong>de</strong>ndo estes<br />

animais se adaptar<strong>em</strong> totalmente à condições mutilantes e <strong>com</strong><br />

boa qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. Em pesquisa feita <strong>com</strong> proprietários <strong>de</strong><br />

cães, cujos animais tiveram que ser submetidos a técnicas <strong>de</strong><br />

mandibulectomia ou maxilectomia, a maioria teve relutância<br />

inicial <strong>em</strong> optar pelo tratamento cirúrgico, porém 85% <strong>de</strong>stes<br />

ficaram satisfeitos após <strong>de</strong>cidir<strong>em</strong> pela retirada radical do tumor<br />

(Fox, 1997). No caso aqui relatado, os proprietários do<br />

animal mostraram-se felizes e satisfeitos <strong>com</strong> o resultado. O<br />

fator estético, portanto, <strong>de</strong>ve ser colocado <strong>em</strong> segundo plano<br />

quando está <strong>em</strong> questão a preservação da vida do paciente.<br />

CONCLUSÃO<br />

A Hora Veterinária – Ano 25, nº 150, março/abril/2006<br />

Figura 6. Paciente<br />

<strong>com</strong> proprietária<br />

<strong>em</strong> foto recente,<br />

365 dias após o<br />

procedimento<br />

cirúrgico.<br />

O tratamento cirúrgico por meio da técnica <strong>de</strong><br />

mandiculectomia <strong>rostral</strong> <strong>bilateral</strong>, <strong>em</strong> animais <strong>portador</strong>es <strong>de</strong> tumores<br />

na cavida<strong>de</strong> oral, é uma alternativa na melhoria da qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> vida <strong>de</strong>sses animais a curto e médio prazo. A alternativa<br />

cirúrgica utilizada proporcionou a preservação da vida do paciente<br />

<strong>com</strong> qualida<strong>de</strong> e satisfação dos proprietários.<br />

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Résumé<br />

Une mandibulectomie <strong>rostral</strong> bilatérale chez un<br />

chien atteint d’ostéosar<strong>com</strong>e<br />

M. Ramos da Silva et al.<br />

Les auteurs rapportent le cas d’un chien caniche, mâle, âgé<br />

d’onze ans, atteint d’une ostéosar<strong>com</strong>e ostéoblastique dans<br />

la region <strong>rostral</strong> <strong>de</strong> la mandibule. L’animal a été soumis à une<br />

opération pour l’estirpation <strong>de</strong> la masse tumorale. Ce travail<br />

revele l’importance <strong>de</strong> l’<strong>em</strong>ploi <strong>de</strong> techniques chirurgicales<br />

radicales pour améliorer la qualité <strong>de</strong> vie <strong>de</strong> l’animal. Il s’agit<br />

aussi d’un cas d’une tumeur rare dans la cavité orale <strong>de</strong>s chiens,<br />

localisation qui cointrubue pour agraver le pronostic <strong>de</strong> la<br />

maladie.<br />

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