17.04.2013 Views

Maria Helena da Cruz Coelho 25 (2).pdf - Estudo Geral ...

Maria Helena da Cruz Coelho 25 (2).pdf - Estudo Geral ...

Maria Helena da Cruz Coelho 25 (2).pdf - Estudo Geral ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

DOUTOR CÓNEGO AVELINO DE JESUS DA COSTA<br />

O PROFESSOR, O MESTRE (*)<br />

Quereria desde já afirmar que as breves palavras que pronunciarei<br />

não se confinam a uma mera expressão individual. Elas<br />

são partilha<strong>da</strong>s por to<strong>da</strong>s as medievalistas, discípulas do Prof.<br />

Doutor Cónego Avelino de Jesus <strong>da</strong> Costa, que nas mesmas se<br />

revêem, sendo eu, a sua aluna mais velha na carreira, que tenho<br />

a responsabili<strong>da</strong>de de as proferir, mas não menos a honra de as<br />

dedicar ao Mestre, em seu e meu nome.<br />

«Nec mutetur» — esta a divisa do arcebispo de Braga D. Pedro,<br />

figura que o Prof. Doutor Avelino tão desenvolvi<strong>da</strong> e soli<strong>da</strong>mente<br />

estudou na sua tese de doutoramento, defendi<strong>da</strong> em 1959, sobre<br />

0 bispo D. Pedro e a organização <strong>da</strong> diocese de Braga, com 2 volumes<br />

e 1192 páginas, e que recebeu, ao tempo, o distinguido prémio<br />

Alexandre Herculano. Obra que, aliás, actualmente, com a sua<br />

espantosa vitali<strong>da</strong>de, amplia e actualiza com vista à sua reedição.<br />

Deste fun<strong>da</strong>dor <strong>da</strong> Sé de Braga se ouviu agora falar demora<strong>da</strong> e<br />

pormenoriza<strong>da</strong>mente no «Congresso Internacional Comemorativo<br />

do IX Centenário <strong>da</strong> Sé de Braga» que em si mesmo mais não<br />

foi que a colheita — bem frutuosa, diga-se — <strong>da</strong> semente que<br />

o mesmo Professor vinha de há dois anos lançando. E que pelo<br />

seu empenho e dedicação germinou.<br />

Se evocámos aqui a divisa de D. Pedro foi para a aplicarmos<br />

agora ao estudioso do referido prelado. Porque também ele a<br />

(*) Estas palavras foram proferi<strong>da</strong>s na homenagem ao Prof. Doutor<br />

Cón. Avelino de Jesus <strong>da</strong> Costa, organiza<strong>da</strong> pelo Centro Cultural Frei<br />

Agostinho <strong>da</strong> <strong>Cruz</strong> e Diogo Bernardes, em Ponte <strong>da</strong> Barca, no dia 11 de<br />

Novembro de 1989. Apenas se abor<strong>da</strong>m aqui alguns aspectos mais relacionados<br />

com a investigação e ensino no âmbito <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Letras<br />

de Coimbra, uma vez que mais oradores se encarregaram de analisar outros<br />

muitos ângulos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e obra do homenageado.<br />

( 1<br />

) Realizado entre 18 e 22 de Outubro de 1989, e cujos 4 volumes<br />

de Actas foram apresentados a público em Agosto de 1990.


310 <strong>Maria</strong> <strong>Helena</strong> <strong>da</strong> <strong>Cruz</strong> <strong>Coelho</strong><br />

adoptou. No cumprimento de uma recomen<strong>da</strong>ção que lhe foi <strong>da</strong><strong>da</strong><br />

pelo arcebispo de Braga, quando se preparava para integrar o<br />

corpo docente <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Letras de Coimbra, sensivelmente<br />

deste teor: — «vá, mas só lhe peço que nunca se esqueça de que é<br />

clérigo e de Braga».<br />

Imutavelmente assim se manteve até hoje.<br />

Não falaremos aqui <strong>da</strong> sua acção pastoral como clérigo, no<br />

seu longo percurso e múltiplas activi<strong>da</strong>des, que o conduziram<br />

até à conezia bracarense. Outros, bem mais credenciados que nós,<br />

o farão.<br />

Mas cumpre-nos afirmar que ele foi clérigo, enquanto professor,<br />

enquanto mestre. E de Braga — para cuja história nos remetia<br />

com frequência nas aulas, na sua contagiante vivaci<strong>da</strong>de de nos<br />

falar do seu remoto e riquíssimo passado; ou nos revelava, sempre<br />

e ca<strong>da</strong> vez mais, em renova<strong>da</strong>s facetas, nos variados estudos científicos<br />

que lhe dedicou.<br />

Avelino de Jesus <strong>da</strong> Costa — professor e mestre <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de<br />

de Letras de Coimbra, eis o que queremos aqui evocar.<br />

Ingressa nesta Facul<strong>da</strong>de, depois de ter sido professor do Seminário<br />

diocesano de Braga, em 1952 ( 2<br />

). Lecciona aulas práticas<br />

de Paleografia e Diplomática, Aperfeiçoamento de Paleografia,<br />

Epigrafia e História <strong>da</strong> I<strong>da</strong>de Média, <strong>da</strong>s quais virá mais tarde<br />

a assegurar a regência teórica. Mas a sua docência abrangeu<br />

ain<strong>da</strong> aulas teóricas de disciplinas como Arquivologia e Arquivoeconomia,<br />

do Curso de Bibliotecário-Arquivista — de que foi mesmo<br />

director em 1963 — além de Numismática e História do Cristianismo.<br />

Dirigiu, finalmente, Seminários de História Medieval de<br />

Portugal.<br />

Recordo-o bem — e agora permitam-me a nota pessoal —<br />

a ensinar-nos História <strong>da</strong> I<strong>da</strong>de Média. Começando por nos evocar<br />

a antiga ocupação suévica e visigótica do Norte de Portugal, com<br />

a crescente proeminência de Braga, mas não menos acalorar-se<br />

na defesa <strong>da</strong> sua tese sobre o ermamento parcial em tempos de<br />

Afonso I, aduzindo tais e tão numerosas provas, que só de as ouvirmos<br />

julgávamos desde logo imbatível a sua posição. Como, na<br />

sua perspectiva, o era e sempre foi. Por isso, quando, na Sala dos<br />

( 2<br />

) Uma análise pormenoriza<strong>da</strong> <strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong> e obra, até 1967, se<br />

encontra em P. e<br />

Avelino de Jesus <strong>da</strong> Costa, Curriculum Vitae, Coimbra, 1967.


Doutor Cónego Avelino de Jesus <strong>da</strong> Costa 311<br />

Capelos, se defrontavam o prof. Doutor Torquato de Sousa Soares,<br />

como arguente, e o Prof. Doutor Avelino, como arguido, nas suas<br />

provas para professor extraordinário, discutindo a temática do<br />

ermamento total ou parcial, chovendo argumentos de ambos os<br />

lados, foi o julgado que, peremptoriamente, afirmou sobre as teorias<br />

em debate: «Bem, o Senhor Professor fica na sua que eu fico<br />

na minha»!<br />

Recordo-o também (depois de nos ter ensinado Paleografia<br />

e Diplomática e Epigrafia) a dirigir um Seminário de História<br />

Medieval, em que participava um grupo de alunos bem homogéneo,<br />

alegre e amigo entre si — e o Senhor Professor lembrará alguns —,<br />

que trabalhavam com gosto e afinco. Quanto aprendemos sobre<br />

o ler e criticar as fontes ou conhecer a história eclesiástica do país,<br />

revela<strong>da</strong> nos seus aspectos religiosos, mas não menos nas suas implicações<br />

económicas e sociais!<br />

E quando tive a oportuni<strong>da</strong>de de o coadjuvar na leccionação<br />

prática <strong>da</strong> cadeira de Paleografia e Diplomática e nos Seminários,<br />

que em 1975 e 1976 decorreram, foi um tempo longo de me enriquecer<br />

sempre e mais com o seu saber, bebendo os conhecimentos<br />

que nasciam do trabalho de exegese e aproveitamento de fontes<br />

tão varia<strong>da</strong>s como os documentos régios, os particulares ou as<br />

Inquirições. E em homenagem a esse ensinar e aprender apresentei<br />

justamente no «Congresso Histórico de Guimarães» um trabalho<br />

baseado nas Inquirições, súmula em grande parte <strong>da</strong> activi<strong>da</strong>de<br />

desenvolvi<strong>da</strong> por docentes e discentes em tais Seminários ( 3<br />

).<br />

Fechemos o já longo parêntesis pessoal. Para acompanharmos<br />

o Prof. Avelino num colectivo mais amplo, de dedicação institucional,<br />

de produção científica, de orientação de assistentes.<br />

Antes de mais não podemos deixar de salientar a sua dedicação<br />

ao Instituto de Paleografia, que, apesar <strong>da</strong>s suas vicissitudes,<br />

pensamos estar hoje de novo relançado. Professores, como Torquato<br />

de Sousa Soares, criaram um núcleo de documentação,<br />

em microfilmes e fotografias, assaz importante, onde SE reúnem<br />

reproduções de fontes nacionais e estrangeiras (e note-se que<br />

algumas fontes espanholas, desapareci<strong>da</strong>s nos seus arquivos, devido<br />

( 3<br />

) Refiro-me ao estudo, «A população e a proprie<strong>da</strong>de na região<br />

de Guimarães durante o século XIII», sep. <strong>da</strong>s Actas do Congresso Histórico<br />

de Guimarães e sua Colegia<strong>da</strong>, vol. III, Guimarães, 1981.


312 <strong>Maria</strong> <strong>Helena</strong> <strong>da</strong> <strong>Cruz</strong> <strong>Coelho</strong><br />

a um incêndio, já só hoje aqui existem em reprodução). Pierre<br />

David lega-lhe uma importante biblioteca especializa<strong>da</strong> nestes<br />

sectores <strong>da</strong>s então chama<strong>da</strong>s «ciências auxiliares». O Prof. Avelino,<br />

como Director do Instituto por largos anos, her<strong>da</strong> um precioso<br />

património, para mais o engrandecer. Grande número de reproduções<br />

de documentação existente no Arquivo Distrital de Braga,<br />

no Arquivo <strong>da</strong> Torre do Tombo, em Arquivos espanhóis ou no<br />

Arquivo do Vaticano são fruto do seu labor de pesquisa. E para<br />

que todos esses milhares de imagens ou fotografias não fossem<br />

coisas mortas, empenha-se em dá-los a conhecer em trabalhos seus<br />

ou de alunos. Não menos os utilizando, com uma função didáctica,<br />

em obras específicas. Vertente a realçar sobremaneira.<br />

Redige, em 1956, um dos primeiros Manuais de Epigrafia<br />

— que devia ter sido desde logo publicado — por onde aprenderam<br />

os seus e tantos outros alunos desta disciplina.<br />

Ensina as regras de transcrição e edição dos documentos<br />

e textos medievais e modernos, bem como a elaboração de índices,<br />

no seu precioso manual, Normas gerais de transcrição e publicação<br />

de documentos e textos medievais e modernos, em 2. a<br />

edição, saí<strong>da</strong><br />

em 1982, que todo o país conhece — por concordância ou polémica,<br />

como os especialistas tão bem sabem.<br />

Mas a sua obra maior neste campo é o importantíssimo Álbum<br />

de Paleografia e Diplomática Portuguesas, pelo qual estu<strong>da</strong>ram já<br />

milhares de alunos. Por isso, atente-se, cm 1983 saíu a sua 4. a<br />

edição,<br />

estando a 5. a<br />

no prelo ( 4<br />

). Nesse Álbum se reproduzem<br />

297 documentos ( 5<br />

). Ilustrando o material de suporte — <strong>da</strong> pedra<br />

e papiro ao pergaminho e papel — e a evolução <strong>da</strong> escrita de 189 a.c.<br />

até c. de 1792, numa exemplificação que vai <strong>da</strong> escrita romana<br />

até às formas mais arrevesa<strong>da</strong>s <strong>da</strong> encadea<strong>da</strong> e processa<strong>da</strong>, passando<br />

pela visigótica, carolina, gótica cursiva ou librária, huma-<br />

( 4<br />

) No espaço que medeou entre a apresentação oral destas notas<br />

e a sua publicação saíu então o novo exemplar do Álbum de Paleografia<br />

e Diplomática Portuguesas, vol. I, Estampas, 5 a<br />

ed. muito melhora<strong>da</strong>,<br />

Coimbra, 1990.<br />

( 5<br />

) Mantendo-se embora o mesmo número de documentos foram,<br />

no entanto, substituí<strong>da</strong>s 43 gravuras por outras mais claras e níti<strong>da</strong>s e<br />

ampliaram-se 10, para tornar os seus textos mais legíveis, além de se incluírem<br />

8 gravuras novas, <strong>da</strong>ndo-se uma níti<strong>da</strong> preferência aos textos em português,<br />

que constituem mais de dois terços dos documentos reproduzidos.


Doutor Cónego Avelino de Jesus <strong>da</strong> Costa 313<br />

nística e suas deriva<strong>da</strong>s. Preocupando-se com uma amostragem<br />

de fontes literárias e documentais e, dentro destas, de todo o tipo<br />

de cartas — de proveniência particular (sobretudo eclesiásticas),<br />

régia ou pontifícia — e com o mais variado conteúdo, como inquirições,<br />

registos paroquiais, forais, livros de contabili<strong>da</strong>de, testamentos,<br />

relatos de viagem ou cartas de reis ou figuras ilustres dirigi<strong>da</strong>s<br />

a pessoas ou instituições não menos prestigia<strong>da</strong>s, como,<br />

por exemplo, a Universi<strong>da</strong>de. Mas porque a Diplomática estava<br />

igualmente dentro <strong>da</strong> sua linha de interesses didácticos e divulgadores,<br />

nas estampas 298 a 312 reproduzem-se diversos sinais de<br />

vali<strong>da</strong>ção, desde os mais antigos <strong>da</strong> chancelaria con<strong>da</strong>l, os sinais<br />

de soberania e ro<strong>da</strong>dos de Afonso Henriques e D. Sancho I, para<br />

apresentar em segui<strong>da</strong> diversas gravuras de selos, em especial<br />

dos nossos monarcas, contributo valiosíssimo para a sigilografia<br />

portuguesa. E para breve se espera o 2.° volume deste Álbum,<br />

que o Prof. Avelino prepara com as Doutoras <strong>Maria</strong> Teresa Veloso<br />

e <strong>Maria</strong> José Azevedo Santos, onde se incluirão as transcrições<br />

destes documentos, elemento fun<strong>da</strong>mental para completar a função<br />

didáctica do mesmo.<br />

Função que, diga-se, a obra largamente ultrapassa. E à qual<br />

gostaríamos de associar uma outra, La chancellerie royale portugaise<br />

jusqu'au milieu du XIII e<br />

siècle, trabalho ampliado <strong>da</strong> comunicação<br />

apresenta<strong>da</strong> no «IV e<br />

Congrès International de Diplomatique»,<br />

realizado em Bu<strong>da</strong>peste, em 1973 ( 6<br />

). Trata-se de um<br />

estudo profundo e modelar dos primórdios <strong>da</strong> nossa chancelaria<br />

régia, analisando a sua ambiência político-cultural, os seus oficiais<br />

e as subscrições e sinais de vali<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s cartas, trabalho ilustrado<br />

com 22 gravuras entre reproduções de sinais, selos e documentos.<br />

Pelo que, e bem ilustrativo do seu real valor, acaba de receber uma<br />

carta, <strong>da</strong>ta<strong>da</strong> de Marburgo de 29 de Agosto do presente ano, em<br />

que o Prof. Peter Rück, Director do Instituto de Ciências Auxiliares<br />

<strong>da</strong> História <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Marburgo, afirmando ter tido<br />

a dita de conhecer o Álbum de Paleografia e este trabalho, com o seu<br />

magnífico apêndice, escreve: «je vous prie de le republier <strong>da</strong>ns le<br />

volume qui sortira à la suite de notre colloque (Chez Thorbeck/<br />

( 6<br />

) Trabalho publicado na Revista Portuguesa de História, t. xv,<br />

Coimbra, 1975.


314 <strong>Maria</strong> <strong>Helena</strong> <strong>da</strong> <strong>Cruz</strong> <strong>Coelho</strong><br />

/Sigmaringen) avec un commentaire centré sur les symboles graphiques».<br />

No convite, o elogio merecido.<br />

Nesta sequência de obras, que tanto nos disseram, lembrarei<br />

ain<strong>da</strong> o estudo Os mais antigos documentos escritos em português.<br />

Revisão de um problema histórico-linguístico ( 7<br />

), onde com mestria<br />

aplica todo o seu saber de crítica diplomática para se desembaraçar<br />

de falsificações e cópias ou estabelecer <strong>da</strong>tas críticas, a fim<br />

de nos demonstrar que o testamento de Afonso II, de 1214, é o<br />

primeiro documento <strong>da</strong>tado, escrito em português, saído pois<br />

<strong>da</strong> chancelaria de um monarca, que tanto inovou administrativa<br />

e institucionalmente.<br />

Mas retroce<strong>da</strong>mos no tempo. Para evocarmos a sua missão<br />

an<strong>da</strong>rilha de percorrer, de 1959 a 1962, subsidiado pela Fun<strong>da</strong>ção<br />

Calouste Gulbenkian, os principais arquivos portugueses e os eclesiásticos<br />

de Astorga, Compostela, Lugo, Mondonhedo, Orense,<br />

Samora e Tui e o Archivio Segreto del Vaticano, a fim de inventariar<br />

os documentos pontifícios do século XIII, referentes a Portugal.<br />

Para apresentar finalmente à Fun<strong>da</strong>ção um inventário<br />

que regista mais de 1500 documentos pontificios, na sua maior<br />

parte originais ( 8<br />

). Obra insana e infelizmente pouco conheci<strong>da</strong>.<br />

Tal relatório já devia, há muito, ter sido publicado, porque fun<strong>da</strong>mental<br />

para o estudo <strong>da</strong>s relações diplomáticas de Portugal<br />

com a Santa Sé. To<strong>da</strong>via, por parte do seu autor, a obra continua<br />

— sempre acrescentando mais fontes e empenhando-se vivamente<br />

no seu estudo e publicação. Lembremos, a título de exemplo,<br />

a análise que fez do Bulário Português do século XIII (1198-1303),<br />

na homenagem ao Dr. Alberto Feio, saí<strong>da</strong> em 1986. E eis que<br />

finalmente veio a lume, no presente ano de 1989, a colheita de<br />

uma longa sementeira, a edição do Bulário Português. Inocêncio III<br />

(1198-1216), <strong>da</strong> autoria do Prof. Avelino de Jesus Costa e <strong>Maria</strong><br />

Alegria Fernandes Marques, publicado pelo Instituto Nacional<br />

de Investigação Científica. E outras se lhe seguirão, não duvi<strong>da</strong>mos,<br />

<strong>da</strong><strong>da</strong> a capaci<strong>da</strong>de orientadora do Mestre e o diligente e dedicado<br />

labor <strong>da</strong>s suas discípulas.<br />

Será de salientar que o Prof. Avelino, desde 1975, se encontra<br />

( 7<br />

) <strong>Estudo</strong> publicado na Revista Portuguesa de História, t. XVII,<br />

Coimbra, 1979.<br />

( 8<br />

) Trata-se do Bulário Português do século XIII (1198-1303).


Doutor Cónego Avelino de Jesus <strong>da</strong> Costa 315<br />

na direcção científica <strong>da</strong> linha 3 do Centro de História <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de<br />

e <strong>da</strong> Cultura (antes Centro de <strong>Estudo</strong>s Históricos, onde também<br />

colaborava desde 1972), que se propõe, justamente, o «<strong>Estudo</strong><br />

e publicação de fontes de História Medieval de Portugal». E nesse<br />

divulgar do nosso repositório documental serão ain<strong>da</strong> de evidenciar<br />

as publicações de Documentos de D. Sancho I (1174-1211), aí tendo<br />

colaborado também Rui de Azevedo e Marcelino Pereira ( 9<br />

) e os<br />

dois volumes do Livro Preto que orientou e em que trabalhou com<br />

Leontina Ventura e <strong>Maria</strong> Teresa Veloso ( 10<br />

). É óbvio que o seu<br />

afã de publicação dos monumentos escritos não se fica por aqui,<br />

bastando recor<strong>da</strong>r a continuação dos Documentos Particulares <strong>da</strong><br />

Academia Portuguesa <strong>da</strong> História ( 11<br />

), <strong>da</strong>ndo sequência e trabalhando<br />

com o especialista e seu grande amigo Rui de Azevedo;<br />

a publicação do Liber Fidei ( 12<br />

) e a sua participação no volume II<br />

do Synodicon Hispanum, dedicado a Portugal ( 13<br />

). Mas desses<br />

trabalhos outros falarão por certo.<br />

Como, ao termos destacado essencialmente as suas obras mais<br />

do âmbito do Centro de História e do Instituto de Paleografia<br />

— cuja direcção muito nos orgulhamos de ter recebido —, não<br />

estamos a esquecer os inúmeros (direi centenas, entre obras e artigos<br />

em Enciclopédias e Dicionários) e valiosíssimos outros estudos,<br />

em que a vi<strong>da</strong> eclesiástica e tantas vezes a diocese bracarense<br />

emergem mais acentua<strong>da</strong>mente, como, para só citar os mais recen-<br />

( 9<br />

) Publicado o volume I, em Coimbra, Centro de História <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de<br />

de Coimbra, 1979.<br />

( 10<br />

) O primeiro volume do Livro Preto <strong>da</strong> Sé de Coimbra, saldo em<br />

Coimbra, em 1977, foi transcrito por Rocha Ma<strong>da</strong>hil. A edição crítica<br />

dos segundo e terceiro volumes devem-se aos autores acima referidos e<br />

publicaram-se em Coimbra, respectivamente, em 1978 e 1979. O volume IV<br />

está no prelo, à espera <strong>da</strong> conclusão dos índices.<br />

( 11<br />

) Documentos Medievais Portugueses. Documentos Particulares,<br />

vol. IV, t. r, AD. 1716-1123, organizado por Rui Pinto de Azevedo e concluído<br />

por Avelino de Jesus <strong>da</strong> Costa, Lisboa, Academia Portuguesa <strong>da</strong><br />

História, 1980.<br />

( 12<br />

) Liber Fidei Sanctae Bracarensis Ecclesie, edição crítica de<br />

P. e<br />

Avelino de Jesus <strong>da</strong> Costa, ts. I e II, Braga, 1965, 1978. E muito em<br />

breve sairá o terceiro e último volume.<br />

( l3<br />

) Synodicon Hispanum, dirigido por Antonio Garcia y Garcia,<br />

II, Portugal, por Francisco Cantelar Rodriguez, Avelino de Jesus <strong>da</strong> Costa,<br />

Antonio Garcia y Garcia, Antonio Gutierrez Rodriguez, Isaías <strong>da</strong> Rosa<br />

Pereira, Madrid, 1982.


316 <strong>Maria</strong> <strong>Helena</strong> <strong>da</strong> <strong>Cruz</strong> <strong>Coelho</strong><br />

tes, aqueles em que analisa as Bibliotecas e tesouros <strong>da</strong>s Sés de<br />

Braga e Coimbra ( 14<br />

), ou a Santíssima Eucaristia nas constituições<br />

diocesanas portuguesas ( 15<br />

). <strong>Estudo</strong>s de história religiosa e sobre<br />

a sua terra que, por sua sugestão, muitas de nós também já fomos<br />

conduzi<strong>da</strong>s a abor<strong>da</strong>r, em diversos artigos ( 16<br />

). A economia de tempo<br />

exige-nos parcimónia, embora o curriculum do homenageado a<br />

contrarie.<br />

E, porque o tempo urge, teremos de abreviar. Mas não podemos<br />

esquecer o Mestre que orientou tantas teses de licenciatura e de<br />

doutoramento.<br />

Muitas <strong>da</strong>s teses de licenciatura que se guar<strong>da</strong>m no Instituto<br />

de Paleografia sobre mosteiros ou igrejas foram elabora<strong>da</strong>s sob<br />

a direcção do Prof. Avelino ( 17<br />

). E eu tive a felici<strong>da</strong>de de ver<br />

a minha, sobre O mosteiro de Arouca do século X ao XIII, publica<strong>da</strong><br />

em 1977 e agora reedita<strong>da</strong> ( 18<br />

), tendo recebido do Mestre o mesmo<br />

carinho <strong>da</strong> primeira hora, na nota crítica que teve a amabili<strong>da</strong>de<br />

de escrever para o efeito. Já defendi<strong>da</strong>s foram duas teses de dou-<br />

( 14<br />

) A Biblioteca e o Tesouro <strong>da</strong> Sê de Coimbra nos séculos XI a XVI,<br />

Coimbra, 1983; A Biblioteca e o Tesouro <strong>da</strong> Sé de Braga nos séculos XV<br />

a XVIII, Braga, 1985.<br />

( 15<br />

) «A Santíssima Eucaristia nas Constituições Diocesanas Portuguesas<br />

desde 1240 a 1954», sep. <strong>da</strong> revista Lusitania Sacra, 2. a<br />

série, t. I,<br />

Braga, 1989.<br />

( 16<br />

) E aqui recor<strong>da</strong>mos a sua entrega à realização do «Seminário<br />

de História, Etnografia, Poesia sobre as Terras <strong>da</strong> Nóbrega e <strong>da</strong> Barca»,<br />

tendo levado um grupo de docentes <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Letras a colaborar,<br />

embora, infelizmente, nunca tenham saído as Actas e muitos dos trabalhos<br />

se encontrem inéditos. Assim foram apresentados os estudos de <strong>Maria</strong><br />

Teresa Nobre Veloso, «Pontebarquenses na Universi<strong>da</strong>de de Coimbra,<br />

séc. XVI-l. a<br />

metade do séc. XIX», <strong>Maria</strong> José Azevedo Santos, «Subsídios<br />

para o estudo do concelho de Ponte <strong>da</strong> Barca, segundo o inquérito paroquial<br />

de 1845», <strong>Maria</strong> Rosa Ferreira Marreiros, «A evolução do regime<br />

senhorial no Julgado <strong>da</strong> Nóbrega de 1290 a 1307», <strong>Maria</strong> Alegria Fernandes<br />

Marques, «O mosteiro de S. Martinho de Castro. Subsídios para a sua<br />

história na I<strong>da</strong>de Média», Leontina Ventura, «João Peres de Aboim — <strong>da</strong><br />

terra <strong>da</strong> Nóbrega à Corte de Afonso III» Revista de História Económica<br />

e Social, 18, 1986, <strong>Maria</strong> <strong>Helena</strong> <strong>da</strong> <strong>Cruz</strong> <strong>Coelho</strong>, «A Terra e os Homens <strong>da</strong><br />

Nóbrega no século XIII», in Homens, Espaços e Poderes. Séculos XI-XVI, I.<br />

Notas do Viver Social, Lisboa, 1990.<br />

( 17<br />

) Entre muitos outros, recordo estudos sobre os mosteiros de<br />

Lorvão, Fiães, S. João de Tarouca ou sobre a Sé Velha de Coimbra.<br />

( 18<br />

) Reedita<strong>da</strong> pela Câmara Municipal de Arouca, em 1988.


Doutor Cónego Avelino de Jesus <strong>da</strong> Costa 317<br />

toramento, que à sua dedica<strong>da</strong> e capacíssima orientação científica<br />

se devem — a de <strong>Maria</strong> Teresa Nobre Veloso sobre D. Afonso II.<br />

Relações de Portugal com a Santa Sé durante o seu reinado ( 19<br />

),<br />

onde, a partir deste contexto, se demonstra a imprescindibili<strong>da</strong>de<br />

do estudo dos documentos pontifícios para uma compreensão<br />

global <strong>da</strong> historiografia portuguesa; e a de <strong>Maria</strong> José Azevedo<br />

Santos, Da visigótica à carolina. A escrita em Portugal de 882<br />

a 1172 ( 20<br />

), que, pelo estudo <strong>da</strong> escrita, nos problematiza to<strong>da</strong> a<br />

ambiência cultural alto-medieva. E a breve trecho será <strong>Maria</strong><br />

Alegria Fernandes Marques que nos oferecerá um trabalho sobre<br />

«O Papado e Portugal no tempo de D. Afonso III (1<strong>25</strong>4-1279)».<br />

Mas mais, muito mais. Sempre que nos falta a obra esclarecedora<br />

deste problema religioso ou político-institucional, aí está<br />

a prodigiosa memória do Prof. Avelino para no-la aconselhar;<br />

sempre que duvi<strong>da</strong>mos <strong>da</strong> leitura paleográfica desta ou <strong>da</strong>quela<br />

palavra no documento, aí está o seu saber para nos eluci<strong>da</strong>r;<br />

sempre que lhe pedimos a sua revisão crítica para uma publicação<br />

de fontes ou um estudo, aí está a sua disponível e idónea apreciação.<br />

Não irei mais longe. E quanto haveria ain<strong>da</strong> a dizer!<br />

Retomamos as ideias iniciais — Doutor Avelino de Jesus <strong>da</strong><br />

Costa, o professor, o mestre, o eclesiástico.<br />

Professor e Mestre pelo muito que a todos nos ensinou e<br />

ensina, pela escola de medievalistas que criou em Coimbra, a qual<br />

tudo fará para lhe ser digna sucessora. Na pessoa de um eclesiástico.<br />

Que com os seus discípulos partilhou alegrias, em cerimónias<br />

de casamento, ou as tristezas, em missas reza<strong>da</strong>s por alma de nossos<br />

progenitores ou colegas desaparecidos.<br />

Professor Avelino, a esta homenagem nos associamos com<br />

todo o nosso sentir, querer e reconhecimento. Pedindo-lhe que nos<br />

continue a ensinar a sermos Professores, Mestres e Colegas, unidos<br />

e atentos, numa vi<strong>da</strong> profissional e intelectual, mas não menos numa<br />

vi<strong>da</strong> quotidiana, humana, feita de bons e m?us momentos.<br />

( 19<br />

) Defendi<strong>da</strong> em Dezembro de 1988.<br />

( 20<br />

) Apresenta<strong>da</strong> em Março de 1989.<br />

MARIA HELENA DA CRUZ COELHO

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!