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Armando Rocha<br />
Aos meus netos, Diogo e Mariana, para que se<br />
lembrem do seu avô Armando, com os votos<br />
de que venham a ser, pela vida fora, cidadão<br />
honestos, de carácter e úteis a Portugal.
A minha<br />
opinião
Índice<br />
Introdução ................................................................................ 9<br />
Postal de Lisboa … .................................................................. 11<br />
Recordando Cuba ................................................................... 13<br />
Marcello Caetano recordado ................................................... 15<br />
Prisão preventiva ..................................................................... 17<br />
O basquetebol na escola ......................................................... 18<br />
Professor Leite Pinto ................................................................ 20<br />
Lembrando Amália .................................................................. 22<br />
A gare do Oriente ................................................................... 25<br />
Uma morte prematura em Aveiro ............................................ 26<br />
Os gabinetes ministeriais ........................................................ 28<br />
O jornalismo desportivo e a história ........................................ 30<br />
Câmara Aberta ....................................................................... 32<br />
75 anos de basquetebol a falar português! .............................. 34<br />
Morreu um grande patriota ..................................................... 36<br />
Mais vale tarde do que nunca... .............................................. 38<br />
Carros, motoristas, despesas ................................................... 40<br />
Humberto Coelho – treinador português é respeitado<br />
e admirado na Coreia do Sul .................................................. 42<br />
Outras terras, outras gentes – a Coreia do Sul ......................... 44<br />
Desperdícios ........................................................................... 48<br />
A demissão de Pedro Lynce ..................................................... 50<br />
Pode abusar-se da Liberdade? ................................................. 52<br />
As propinas - Quem acode aos nossos impostos? .................... 53<br />
Crime sem castigo? ................................................................. 55<br />
A propósito de dinheiros autárquicos… ................................... 56<br />
Dinheiros públicos… ............................................................... 58<br />
Águeda em passeio ................................................................. 60<br />
O desporto antes e depois do 25 de Abril ................................ 62<br />
Cientista português a trabalhar em Portugal ............................ 65<br />
Vasco Pinto de Magalhães* ..................................................... 67<br />
O EURO 2004 em Águeda ...................................................... 69<br />
Apagar memórias ................................................................... 71<br />
A verdade vem ao de cima? .................................................... 73<br />
Milhões para viagens .............................................................. 75<br />
O hino nacional no desporto ................................................... 77
Parabéns... Os 77 anos de idade... .......................................... 79<br />
A morte de um líder - Yasser Arafat ......................................... 82<br />
A Tomada da Bastilha .............................................................. 84<br />
Progresso? Retrocesso? ........................................................... 87<br />
Catástrofes naturais ................................................................ 90<br />
Desemprego e Programa do Governo ...................................... 92<br />
Iniciação desportiva na Escola ................................................. 94<br />
Viagens de políticos e da Igreja ............................................... 96<br />
É bom sonhar, mas com os pés no chão… ............................... 98<br />
Forças Armadas e a Universidade .......................................... 100<br />
Um “charro” no Dubai … ...................................................... 102<br />
O défice… ............................................................................ 103<br />
Postal de Lisboa - o 10 de Junho… ........................................ 106<br />
Ainda o défice… ................................................................... 108<br />
Postal de Lisboa - travessia aérea e vitórias internacionais ..... 110<br />
Cantar o hino e contestar o governo ..................................... 112<br />
Transparência e rigor ............................................................ 114<br />
Privilégios de candidatos ....................................................... 116<br />
Falar português… ................................................................. 118<br />
Universidades e mordomias .................................................. 120<br />
O republicano que quer ser Rei ............................................. 122<br />
A falta de público no futebol ................................................. 124<br />
Antunes Varela - um português de eleição ............................. 126<br />
Cultura e subsídios ................................................................ 128<br />
Políticos insaciáveis ............................................................... 130<br />
Ter memória / Hino Nacional / O Ensino Universitário ........... 132<br />
Candidaturas presidenciais .................................................... 134<br />
O Crucifixo ........................................................................... 137<br />
Notas soltas .......................................................................... 140<br />
Valores, Académica de Coimbra, censura… ........................... 142<br />
A Constituição da República .................................................. 144<br />
Reconhecimento do mérito, campanha eleitoral ..................... 146<br />
A Burocracia e a Banca Portuguesa ........................................ 148<br />
Eventos culturais ................................................................... 150<br />
Desporto e cultura................................................................. 152<br />
Quem não deve não teme ..................................................... 154
Fair play, procura-se ............................................................. 156<br />
Um Artista sem ambição ....................................................... 158<br />
Pensamento em José Novo .................................................... 161<br />
O basquetebol na Bairrada ................................................... 163<br />
As reformas das pessoas ....................................................... 165<br />
Povo sem memória é povo sem futuro ................................... 167<br />
Português em Roland Garros ................................................. 169<br />
O abuso sindical… ................................................................ 171<br />
Que País é este?... ................................................................ 173<br />
Para reflexão… ou talvez não… ............................................. 176<br />
Os 100 anos de Marcello Caetano ........................................ 179<br />
A outra face da moeda .......................................................... 182<br />
Progresso!... .......................................................................... 184<br />
Ainda Eusébio e Salazar / Linguagem Desbragada ................ 187<br />
Escutas, Panteão Nacional e Música no Coração .................... 190<br />
Serviço Nacional de Saúde / Empresa Privada ....................... 193<br />
Doutoramentos e Grandes Portugueses ................................. 196<br />
Timor. Não há falta de dinheiro… ......................................... 198<br />
O poder dos burocratas ........................................................ 201<br />
Entrevistas .......................................................................... 205<br />
Entrevista à revista “A Briosa” ................................................ 206<br />
Artigo publicado na revista “Espaço de União”,<br />
da SONAE, após entrevista ao Provedor do Grupo ................. 213<br />
Entrevista ao jornal “Soberania do Povo” ............................... 216<br />
Entrevista à revista Magazine<br />
da Associação de Ténis de Lisboa .......................................... 221<br />
Entrevista ao jornal “Região de Águeda” ................................ 223<br />
Entrevista para o Estádio Universitário de Lisboa .................... 227<br />
Intervenções Públicas ........................................................ 235<br />
Desporto Universitário ........................................................... 236<br />
Resenha histórica .................................................................. 236<br />
Desporto em Portugal. Que futuro? ....................................... 241<br />
Rua Alberto Martins, em Coimbra .......................................... 247
“Palavras sem obras são tiro sem bala;<br />
atroam mas não ferem.”<br />
Padre António Vieira, 1655<br />
“A Mocidade Portuguesa é um movimento de<br />
formação integral da juventude que procura dar<br />
à gente moça vigor físico, saúde moral e uma<br />
consciência cívica inspirada no mais alto ideal<br />
patriótico e traduzida com sentido prático.”<br />
Marcello Caetano, 1942<br />
“Aos ânimos fortes, os maus tempos não destroem,<br />
antes redobram as energias; e como tanto para as<br />
empresas como para os indivíduos a vida é luta.<br />
Os que desistem de lutar são indignos de viver,<br />
mas isso não se dirá de nós.”<br />
Salazar, 1964
Introdução<br />
9<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
Ao longo dos tempos, desde estudante da Universidade de Coimbra,<br />
sempre tive preocupações com os jovens, designadamente,<br />
através do desporto e da acção cívica.<br />
Tenho intervido muito, até hoje, na área desportiva, quer como<br />
praticante, quer como dirigente.<br />
Na política, nunca me liguei a qualquer partido, mas não enjeito<br />
a intervenção cívica, nomeadamente em actos eleitorias. Até hoje,<br />
em ditadura e nesta democracia que temos, sempre exerci o meu<br />
direito de voto em total liberdade de consciência.<br />
Por vezes, embora reconhecendo as minhas deficiências de comunicação,<br />
abalancei-me a transmitir algumas ideias, através de<br />
entrevistas e da publicação de textos em jornais como “O Norte<br />
Desportivo” que foram transcritos no meu livro “Reflexões sobre<br />
Desporto Universitário”, publicado em 1969. Outros jornais, especialmente<br />
em tempo de democracia, foram indiferentes aos meus<br />
escritos. Mas os jornais da minha terra de nascimento - Águeda<br />
- abriram as suas colunas e, nos últimos anos, os meus textos têm<br />
aparecido, com alguma frequência, no jornal “Soberania do Povo”<br />
(o semanário mais antigo do País) e no jornal “Região de Águeda”.<br />
Sem outra pretensão que não seja a de exercitar o meu direito de<br />
cidadania, esses artigos ficam agora registados neste livro.<br />
Armando Rocha<br />
Dezembro de 2006
Postal de lIsboa …<br />
11<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
Nestes dias de calor que têm flagelado Lisboa, sabe bem viajar<br />
para os lados dos Estoris.<br />
Os transportes são baratos, cómodos, rápidos e contínuos; portanto,<br />
não há dificuldade, antes grande prazer, em se abandonar por<br />
umas horas o bulício desta grande capital europeia.<br />
Supomos que todo o forasteiro, que visita Lisboa, se não coíbe<br />
de tomar o comboio eléctrico do Cais do Sodré para distrair um<br />
pouco os olhos com a paisagem ribeirinha de tantos encantos que<br />
oferece o nosso belo Tejo. Mesmo os seus habitantes, sempre que<br />
podem, fogem para aquelas paragens. Uns para mais longe, lá<br />
para Cascais, outros para mais perto, ali para Algés, uns e outros<br />
suspiram por respirar um pouco os ares da Costa do Sol.<br />
Também nós o fazemos amiúde e, há dias, embarcámos no Cais<br />
do Sodré para uma viagem das mais curtas. Na nossa frente, dois<br />
meninos com os seus 8 anos de idade, frequentadores da classe<br />
primária de um dos principais colégios de Lisboa, como se depreendia<br />
pelos livros que ostentavam. Aproveitavam o tempo da<br />
viagem a resolver problemas o que, para nós, que sempre lidamos<br />
com a matemática, nos dava grande prazer espiritual, até pela<br />
entreajuda que verificamos em resolverem ambos as dificuldades<br />
que surgiam.<br />
O comboio galgava os quilómetros rapidamente mas, a certa altura,<br />
mesmo em frente dos Jerónimos, os freios contiveram aquela<br />
marcha para se parar fora de qualquer estação. Os passageiros<br />
entreolharam-se! Qualquer coisa de anormal se adivinhava nos<br />
seus rostos!<br />
Assomando à janela, pudemos ver uma mulherzinha estendida no<br />
solo, devido à sua imprevidência, certamente! Seja como for, ela<br />
sofria com os ferimentos e os passageiros do comboio sofriam com<br />
os seus sofrimentos, pensávamos nós! Nada mais natural!
Entretanto, retomámos o nosso lugar, o comboio a sua marcha,<br />
e um dos dois meninos que seguiam na nossa frente disse para<br />
o outro, encolhendo os ombros: “perderem-se cinco minutos com<br />
esta paragem”!...<br />
Um sentimento de repulsa nos invadiu ao escutar estas palavras e,<br />
quando já fora do comboio, o vimos continuar a marcha com os<br />
dois meninos continuando a resolver problemas, aos nossos ouvidos<br />
ecoavam aquelas palavras: “perderam-se cinco minutos com<br />
esta paragem”!…<br />
06/1954<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo”<br />
12
ecordando cuba<br />
13<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
onde se fala de raul castro e de che Guevara<br />
Em Outubro de 1962 realizaram-se, em Havana, os primeiros Jogos<br />
Desportivos Universitários Latino-Americanos. Estava-se nas<br />
vésperas do bloqueio económico dos EUA a Cuba. Em representação<br />
da Federação Internacional do Desporto Universitário fui designado<br />
para a eles assistir, o que me permitiu conhecer aquele<br />
país, com tão belas praias, e seus dirigentes.<br />
Conto dois episódios passados nesses jogos.<br />
1º - Na cerimónia inaugural que teve lugar num estádio de basebol,<br />
estavam as equipas dos diferentes países alinhadas no relvado<br />
frente à bancada central.<br />
À sua frente, num pequeno pódio, encontrava-se o Ministro da<br />
Defesa de Cuba, Comandante Raul Castro (irmão de Fidel) e eu<br />
próprio.<br />
Ambos pronunciámos as alocuções da praxe. A do Ministro era<br />
uma alocução de carácter essencialmente político, com ataques<br />
seguidos aos americanos, os quais eram correspondidos por grandes<br />
ovações por parte da assistência.<br />
A minha foi curta, de carácter essencialmente desportivo.<br />
Quando terminaram as alocuções e foram declarados abertos os<br />
jogos, dirigimo-nos ambos para a tribuna, onde fiquei colocado<br />
ao lado da simpática esposa do ministro Raul Castro, de seu nome<br />
D. Wilma. Foi então que ela me observou: “Não gostou nada do<br />
discurso do meu marido!”. Ao que retorqui: “Porque diz isso?”<br />
“É que nunca bateu palmas durante o discurso!”, disse ela. Tive<br />
então que lhe dizer: “É que não aprecio a intromissão política despudorada<br />
no desporto”. E ela sorriu…<br />
2º - Resolvi ir assistir ao jogo de basquetebol Brasil-Cuba e, pouco<br />
depois de ter chegado à tribuna do Pavilhão, foi-me apresentado<br />
nem mais nem menos que o ministro da Indústria, de nome Che<br />
Guevara. Estava fardado e armado, com um ar muito simpático, de
idealista. Da apresentação passámos à conversa que se prolongou<br />
durante todo o jogo que, afinal, mal apreciámos. Retenho dessa<br />
conversa três apontamentos:<br />
a) referi-lhe que tinha verificado que havia muitos mestiços em<br />
Cuba. E como os mestiços, ao que parece, não eram bem amados<br />
quer por negros quer por brancos, e vice-versa, pressentia que,<br />
mais tarde ou mais cedo, iriam surgir problemas com eles, na ilha.<br />
Che fitou-me com um ar determinado e respondeu-me: “Se isso<br />
vier a suceder, nós exportamo-los… ” Constata-se agora que África<br />
está com uns tantos…<br />
b) referi-lhe que as casas dos estudantes universitários eram antigas<br />
luxuosas moradias dos americanos que haviam abandonado a<br />
ilha. Daí que as comodidades de que usufruíam não poderiam ser<br />
mantidas, quando abandonassem as Universidades.<br />
Che retorquiu-me muito secamente: “Sabe o que é o corte da<br />
cana?”, ao que respondi negativamente. “É que todos os universitários<br />
têm de passar nas férias um período no corte da cana que,<br />
pela sua dureza, os faz pensar que as comodidades referidas são<br />
apenas efémeras”...<br />
c) referiu-me ainda que os recém-licenciados em Medicina eram<br />
obrigados a prestar serviço na província durante dois anos. Nesses<br />
dois anos, uns tantos casavam por lá, outros habituavam-se à vida<br />
provinciana e radicavam-se nessas novas paragens, a ponto de<br />
haver uma razoável cobertura médica nessas regiões afastadas da<br />
capital...<br />
Lisboa, 30/12/1988<br />
Publicado no jornal “Diário Popular” de 09/05/98<br />
14
15<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
Marcello caetano recordado<br />
Marcello Caetano foi um emérito docente da Universidade Portuguesa,<br />
um político de alta craveira e um homem bom que foi, naturalmente,<br />
admirado, adulado e bajulado por muitos e criticado<br />
por outros. Só é criticado quem faz alguma coisa...<br />
Morreu e não quis que os seus restos voltassem para Portugal. Os<br />
seus sentimentos têm sido respeitados e lá repousa no Brasil, longe<br />
dos familiares e dos amigos. Recusou-se a dar “cambalhotas”. Se<br />
as tivesse dado, arriscava-se a ir parar ao Panteão...<br />
Em 26 passado, a família anunciou uma missa por sua alma na<br />
igreja de S. João de Brito.<br />
Lá encontrámos os seus irmãos e os seus filhos, todos. E poucos<br />
mais, mesmo muito poucos. Duas dezenas? Talvez.<br />
Da sua Faculdade, 2 Professores, sendo um acompanhado pela<br />
mãe, viúva de um seu colega e ex-Ministro.<br />
Do seu Governo, 3 Ministros e um Secretário de Estado.<br />
Da sua Administração, um Secretário-Geral e três Directores Gerais.<br />
Presentes também um Secretário de Estado do actual Governo (seu<br />
aluno? Alarcão Troni), um locutor da RTP e um ex-Presidente da<br />
Federação Portuguesa de Futebol.<br />
Certamente que só por não terem lido o anúncio da cerimónia<br />
religiosa é que lá não estiveram presentes os outros seus colegas<br />
da Faculdade, os seus assistentes, os seus outros Ministros e Secretários<br />
de Estado, os políticos e os “amigos” que o apoiaram, etc.,<br />
etc..<br />
“Sic transit. Gloria mundi.”<br />
Paz à sua alma<br />
Lisboa, 27/10/1990<br />
Texto não aceite para publicação no jornal “Público”.
Campeonato do Mundo de “Snipes” (1969) - cumprimentos dos Presidentes<br />
das Federações Internacional e Portuguesa, a Marcello Caetano<br />
16
PrIsão PreventIva<br />
17<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
Os órgãos de comunicação social dedicaram largo noticiário à detenção<br />
de alguns funcionários do INDESP.<br />
Entre os detidos encontra-se o Prof. Mirandela da Costa, com quem<br />
sempre mantive cordiais relações desde o tempo em que exerci o<br />
cargo de director geral dos Desportos e ele era docente na antiga<br />
Escola de Instrutores de Educação Física.<br />
Naturalmente que deploro a situação em que se encontra o Prof.<br />
Mirandela, a quem gostaria de manifestar a solidariedade humana<br />
que o desporto nos ensina e deve ser cultivada.<br />
Certamente que muitos dos que beneficiaram dos seus serviços,<br />
através de contratos-programa, subsídios, empregos, etc., não deixarão<br />
de o ir visitar ao Estabelecimento Prisional de Lisboa.<br />
Por mim, que dele nada recebi a não ser consideração e estima,<br />
procurei fazer essa visita. E telefonei antes para saber em que dias e<br />
a que horas a podia realizar.<br />
E veio um chuveiro de água muito fria através da senhora telefonista:<br />
teria de lá ir em qualquer manhã de dia útil, com o B.I. e 2<br />
fotografias, para preencher um impresso que me daria acesso a um<br />
cartão de entrada com direito a uma visita por mês...<br />
Santo Deus! Tanta burocracia para uma simples pretensão de manifestar<br />
apenas e só solidariedade humana!<br />
Logo que possua a documentação exigida lá irei, embora com as<br />
limitações de tempo de quem tem mais que fazer do que alimentar<br />
a máquina burocrática do Estado Democrático.<br />
Até lá, e porque penso que o Prof. Mirandela continua a ler o Público,<br />
aqui deixo estas linhas de um desportista para outro desportista<br />
que deve estar a passar um mau bocado.<br />
Será que V.Exa., Sr. Director, quererá ter a amabilidade de mandar<br />
publicar esta carta?<br />
Lisboa, 06/09/1995<br />
Texto não aceite para publicação no jornal “Público”.
o basquetebol na escola<br />
Vão distantes os tempos em que comecei a ensaiar os primeiros<br />
cestos, na década de ‘40. Primeiro, no Liceu de José Estêvão, em<br />
Aveiro e, depois, no Clube dos Galitos e na Associação Académica<br />
de Coimbra… Os campos de terra batida, ao ar livre; os balneários<br />
sem água morna sequer; o amadorismo dos atletas, dos treinadores,<br />
dos dirigentes, dos árbitros… Tudo isso fazia com que o basquetebol,<br />
e não só, fosse praticado por verdadeiros carenciados,<br />
como ora se diz… mas que eram de grande dedicação e amor às<br />
camisolas…<br />
Mesmo nessas circunstâncias, havia jogadores – abstenho-me de<br />
citar nomes para, não ferir quem o não merece – que pareciam<br />
vindos de outra galáxia… As deficientes condições logísticas que<br />
enfrentavam eram largamente compensadas pela habilidade e beleza<br />
dos seus gestos na luta “contra” o cesto…<br />
Tive ocasião de ver o contraste entre aquilo que havia de melhor no<br />
planeta – os americanos dos Globetrotters’1950 – que assentava<br />
em estruturas adequadas e aquilo que a Pátria lusitana oferecia…<br />
E, logo aí, me interroguei sobre essa diferença abissal. A conclusão<br />
tirada na altura foi a de que os inúmeros “globetrotters” americanos<br />
se faziam na escola, na universidade… Precisamente ao contrário<br />
do nosso caso em que é o Clube – e que Clubes fantásticos<br />
nós temos - que tem de substituir a Escola… Ainda hoje, infelizmente…<br />
Lembro-me de o Prof. José Esteves, que treinou gratuitamente<br />
(como sucedeu aliás com tantos outros) a Académica de Coimbra,<br />
no início dos anos ’50, contar esta pequena história do basquetebol<br />
americano:<br />
Tinha sido realizado o último encontro do campeonato nacional<br />
universitário dos EUA. A equipa vencedora regressou a casa, de<br />
comboio, durante a noite. Durante a viagem o treinador da equi-<br />
18
19<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
pa recordou ao seu melhor encestador que ele tinha falhado uns<br />
tantos cestos de certa posição do campo… O campeonato acabara<br />
naquela noite! Pois bem, chegada a equipa ao seu destino pelas<br />
4h da madrugada, o certo é que esse jogador universitário, às 9h<br />
dessa manhã, já estava no ginásio a fazer 500 (quinhentos) lançamentos<br />
do local onde falhara durante o jogo, que até vencera…<br />
Devemos dizer que, nas últimas décadas, muito se tem feito para<br />
melhorar as instalações, para se formarem bons agentes de ensino,<br />
para se divulgar a modalidade. O contraste é evidente quando<br />
se fazem comparações com os anos ’50, 60’. Há que sublinhá-lo.<br />
Mas falta um “click” ao desporto português. E esse “click”, em meu<br />
modesto entender, consiste em decretar-se efectivamente, e não só<br />
em meros actos de propaganda, que o DESPORTO ESCOLAR está<br />
na base do desporto verdadeiramente nacional.<br />
Enquanto cada Escola não dispuser de instalações gimnodesportivas<br />
adequadas e de agentes de ensino práticos e competentes,<br />
com horários aceitáveis, não nos poderemos queixar de não trazer<br />
mais medalhas dos Jogos Olímpicos… Já muito têm feito alguns<br />
profissionais que têm representado o País além fronteiras…<br />
Sem base sólida, qualquer edifício pode abanar…<br />
Os dinheiros públicos devem ser sagrados e não deviam ser desbaratados,<br />
ano após ano, em falsas miragens…<br />
Temos para nós que é tudo uma questão de prioridades… Mais!<br />
- é tudo uma questão de coragem e de desapego às glórias vãs do<br />
mundo… político.<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 27/10/2000<br />
e na “Revista do Basquetebol” – Out. 2000
Professor leIte PInto<br />
O Círculo Eça de Queiroz é uma renomada instituição lisboeta do<br />
Chiado.<br />
Nele se reúnem, desde há muito tempo, algumas figuras da intelectualidade<br />
portuguesa, com regularidade, constituindo-se em<br />
“Grupo das 4ªs feiras”.<br />
Aos 97 anos, a lei da vida afastou desse grupo, há um ano, um dos<br />
seus mais destacados membros – o Prof. Eng. Francisco de Paula<br />
Leite Pinto.<br />
Prestei-lhe alguma modesta colaboração nos idos anos ’50, em<br />
especial durante a crise académica que ficou conhecida pela crise<br />
do 40.900 (nº do decreto-lei de 1956 que acabou por não ser<br />
aplicado às Associações de Estudantes depois de debate na Assembleia<br />
Nacional). Nela andaram profundamente envolvidos estudantes<br />
como Jorge Sampaio, João Cravinho, Prostes da Fonseca,<br />
José Bernardino, Sérgio Ribeiro...<br />
Possuidor de uma vasta cultura, era muito humano, descontraído e<br />
cheio de humor. Na casa dos vinte anos, eu procurava estabelecer<br />
a “ponte” entre o Ministério da Educação e aquelas Associações.<br />
Fiquei muito feliz quando o Ministro aceitou a reivindicação da<br />
AAC – que eu patrocinei como pude - ao considerar o dia da Tomada<br />
da Bastilha como feriado académico.<br />
Certa manhã, fui ao seu encontro no Campo de Sant’Ana, tendo-<br />
-me parecido muito abatido. Explicou-me que de facto assim era,<br />
porque nessa manhã se esquecera de ler a página da necrologia<br />
do Diário de Notícias. Daí não se ter apercebido do falecimento<br />
de um seu grande amigo, a cujo funeral não pudera entretanto<br />
assistir. E logo me recomendou que procedesse sempre a esse tipo<br />
de leitura…<br />
Talvez por isso, quando a sua hora se aproximava, dispôs no sentido<br />
de se não dar público conhecimento do passamento a não ser<br />
20
21<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
30 dias depois. Assim sucedeu, pelo que me limitei então a chorar<br />
uma lágrima na missa do 30º dia, no Estoril.<br />
O Grupo das 4ªs feiras evocou a memória desse Homem Bom,<br />
desse Grande Senhor, há dias, no Círculo. Também lá estive a convite<br />
do Dr. Novais de Paula. Onde encontrei velhos amigos e conhecidos,<br />
como o Dr. Baltazar Rebelo de Sousa e Senhora, o Reitor<br />
Justino Mendes de Almeida, os Conselheiros Lúcio Vidal e Alcindo<br />
Costa, o Dr. Seabra Lopes, o Eng. João Paulo Castelo Branco e<br />
também o eterno representante do Brasil em terras lusas, o Embaixador<br />
Dário Castro Alves. Ouvi palavras muito bonitas e pensamentos<br />
de autêntica poesia proferidas pelos Profs. Soares Martinez<br />
e Bigotte Chorão.<br />
Com o pensamento arejado pela memória de um Grande Senhor<br />
do nosso País que foi o Prof. Leite Pinto, deixei-me vaguear uns<br />
tempos pelo Chiado de tantas tradições.<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 25/05/2001
leMbrando aMálIa<br />
“Povo que lavas no rio<br />
que talhas com teu machado<br />
as tábuas do meu caixão…”<br />
Pedro Homem de Mello<br />
A Associação dos Naturais da Colónia de Moçambique, em 1951,<br />
convidou a equipa de basquetebol da Associação Académica de<br />
Coimbra, que era a campeã nacional absoluta, a deslocar-se<br />
àquela parcela de Portugal, para disputar onze jogos em Lourenço<br />
Marques e na Beira.<br />
Quando aguardávamos o embarque no aeroporto da Portela de<br />
Sacavém, apercebemo-nos de que teríamos como companhia a<br />
grande fadista Amália Rodrigues, uma jovem de 30 anos que viajava<br />
com os seus instrumentistas, Raul Néry e Santos Moreira.<br />
E os jornalistas presentes no aeroporto logo nos convidaram para<br />
fazermos uma fotografia com ela!<br />
Só que, pouco tempo antes, tinha sido exibido em Coimbra o filme<br />
“Capas Negras” em que ela contracenava com o Alberto Ribeiro.<br />
E a Academia não gostou... e “proibiu” a exibição... do filme, qual<br />
Autoridade Administrativa! Assim, reunidos todos os jogadores,<br />
deliberou-se não fazer a foto para não nos colocarmos à margem<br />
das leis académicas... o que naturalmente não agradou à Amália...<br />
nem mesmo a nós próprios… E lá embarcámos para a 1ª etapa<br />
até Dakar, durante a qual fizemos as pazes, em especial, graças<br />
ao sentido de humor do Paulo Cardoso (já falecido). Seguiram-se<br />
as paragens em Monróvia, Accra, Robertsfield e Leopoldville até<br />
chegar a Joanesburgo, depois de 26 h de viagem.<br />
Durante as escalas tivemos ocasião de ver o quanto era apreciada<br />
a Amália por terras africanas, já que havia sempre comitivas a<br />
recebê-la e a prendá-la com flores, chocolates, etc.. Naturalmen-<br />
22
23<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
te, também beneficiámos dessas recepções na medida em que os<br />
chocolates acabavam sempre por ser recolhidos por nós, até porque<br />
entendíamos que a Amália não devia engordar...<br />
Em Joanesburgo, a Amália foi para o hotel Carlton e nós fomos<br />
para uma pensão modesta, pela simples razão de que um dos nossos<br />
jogadores não era branco - o simpático e bom rapaz de alma<br />
límpida, Luís de Sousa (hoje cirurgião em Guimarães).<br />
Na Beira, numa das noites depois do jogo, fomos até uma “boite”<br />
nos arredores, onde nos juntámos com a Amália e com... oh felicidade!...<br />
o Dr. António Menano (que residia em Inhaminga).<br />
A certa altura, chegou o manager da Amália que esta apresentou<br />
ao Paulo Cardoso, já muito bem bebido e “enterrado” num maple.<br />
Quando ela referiu o nome Ricardo Ovelha, o Zé Paulo Cardoso<br />
mirou-o de baixo para cima e comentou: “Não parece!...”<br />
Foi uma noite de encanto com aquelas duas estrelas a cantar ao<br />
som da guitarra e da viola... Recordo que, no regresso para a Beira,<br />
o Dr. Menano me cantarolou esta quadra:<br />
Tenho sede de mais alto<br />
Sou como a Mãe de Deus<br />
Que tendo Jesus nos braços<br />
Ainda olhava para os Céus...<br />
Normalmente, a Amália assistia aos nossos jogos e nós íamos<br />
aplaudi-la nos seus espectáculos. Algumas vezes, por simpatia<br />
dela, a fui buscar ao hotel Polana, onde lhe lia os telegramas que<br />
ela recebia de Lisboa! Numa dessas vezes, entrei com ela de braço<br />
dado no camarote do campo de futebol do Sporting e o meu avô,<br />
que residia em Vila João Belo, ao ver-me assim acompanhado,<br />
não resistiu a tamanha emoção e desmaiou... Para ele a Amália<br />
era um mito... não acessível ao seu neto…<br />
Ao assistir, hoje, à passagem da urna com o corpo de Amália em<br />
Campo de Ourique e ao ouvir pela televisão o coro dos Antigos<br />
Orfeonistas da Universidade de Coimbra, a que também pertenci<br />
nos finais dos anos ’40, recordei essa viagem com lágrimas!…<br />
Glória à AMALIA!…<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 28/09/2001
Amália Rodrigues, acompanhada por Raul Nery e Santos Moreira (1950)<br />
24
a Gare do orIente<br />
25<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
Há 11 anos que tenho necessidade profissional de viajar entre o<br />
Porto e Lisboa. E optei pelo comboio. Que até nem é caro, em<br />
especial para a terceira idade. Evito o avião e o automóvel, este<br />
por causa do stress, da segurança e do preço das portagens... que<br />
equivale ao preço do bilhete.<br />
Recentemente, com a entrada em serviço dos alfa pendulares, a<br />
viagem tornou-se muito mais aliciante: melhores carruagens, possibilidade<br />
de uso de computador, etc. Pode-se assim trabalhar, ler,<br />
descansar, conversar… durante as 3 horas do percurso.<br />
Nessas viagens, sem dias certos nem comboios certos, encontro<br />
muitos Juizes Superiores, com os seus muitos processos, e gestores,<br />
com os seus computadores e telemóveis em serviço, sempre a<br />
tocar...<br />
Há dias, pela 1ª vez encontrei um Secretário de Estado, com barba<br />
bem aparada, simpático, acompanhado por 2 assessores que<br />
fizeram aquilo que qualquer pessoa de bom gosto faz. Antes de<br />
embarcar no alfa, às 14 h, foram ao Aleixo comer os filetes com<br />
arroz de polvo que são do melhor que se faz na nossa Terra… e<br />
nem são caros…<br />
A viagem ficou barata para os cofres do Estado (até se dispensou<br />
o motorista), o governante pôde trabalhar no comboio e nunca<br />
perdeu o contacto com o Ministério através do telemóvel.<br />
Oxalá este exemplo frutifique entre aqueles que adoram andar de<br />
avião e helicóptero nas suas andanças ministeriais. Sem se preocupar<br />
com os custos… que os contribuintes pagam!<br />
Parabéns Senhor Secretário de Estado da Segurança Social (Rui<br />
Cunha) e desculpe-me a indiscrição!<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 21/12/2001
uMa Morte PreMatura eM aveIro<br />
Há dias, no novo Pavilhão do Galitos de Aveiro, sucedeu a tragédia!...<br />
Num período de interrupção do jogo de basquetebol em que jogava<br />
o Aveiro Basket para o campeonato da Liga Profissional dos<br />
Clubes de Basquetebol, o atleta/médico Paulo Pinto deixou cair a<br />
garrafa de água no banco e... acabou por falecer! Com um médico<br />
do Benfica a assisti-lo competentemente, mas impotente...<br />
Estamos a falar do basquetebolista português com maior projecção<br />
internacional. Era um atleta de eleição, um Homem íntegro, no<br />
dizer de quem bem o conhecia.<br />
A sua “força” era tal que, mesmo sendo atleta de alta competição,<br />
com tantos treinos nas pernas e tantas deslocações para fora e<br />
dentro do País, conseguiu tempo e ânimo para concluir a licenciatura<br />
em Medicina. E sabe-se bem quão exigente é essa licenciatura...<br />
Até por ser dirigente da Federação Portuguesa de Basquetebol<br />
mas, acima de tudo, como seu admirador, fui a S. João da Madeira<br />
assistir ao funeral do Paulo.<br />
A Família, com a Mãe e o Pai à frente, também ele dirigente de<br />
basquetebol, estava completamente destroçada por ver partir um<br />
dos seus filhos na flor da vida.<br />
Mas sentiram à sua volta um mar de gente que adorava o Paulo.<br />
Via-se no rosto das pessoas que elas estavam ali, fora dos seus<br />
trabalhos, por devoção e admiração.<br />
A Igreja, que não é pequena, estava a abarrotar de pessoas e de<br />
flores... Cá fora, era um mar de gente... O seu treinador, o Carlos<br />
Lisboa, estava a meu lado a rezar o Padre Nosso com uma lágrima<br />
a correr no rosto... Os seus colegas dos outros Clubes, e estariam<br />
lá todos, vindos dos diversos cantos do País, bem como os muitos<br />
dirigentes da Federação, da Liga de Clubes, das Associações Re-<br />
26
27<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
gionais e dos Clubes onde e com quem o Paulo competiu, seguiram<br />
emocionados as cerimónias fúnebres.<br />
Foram os seus colegas de equipa que transportaram a urna, com a<br />
emoção estampada nos rostos...<br />
E ninguém arredava pé... até lhe prestarem a última homenagem<br />
já no cemitério, com uma impressionante salva de palmas como se<br />
ele estivesse a meter mais um dos seus belos triplos...<br />
Vi lá políticos, até por dever de ofício. Mas não resisto a dizer que<br />
o Presidente da Câmara Municipal de Aveiro, Dr. Alberto Souto,<br />
também ele antigo basquetebolista do Galitos, como eu fui muitos<br />
anos atrás, estava lá, acima de tudo, nessa qualidade. Foi o que<br />
eu senti das suas palavras.<br />
Paz à tua alma, Paulo! Continuaremos a recordar-te cá em baixo...<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 14/03/2002<br />
e na “Revista do Basquetebol” – Fev. 2002<br />
Paulo Pinto
os GabInetes MInIsterIaIs<br />
Por vezes entretenho-me a ler o Diário da República, especialmente<br />
a 2ª série. Esse jornal é um manancial de informação importante<br />
e até interessante...<br />
Agora, com a chegada de um novo Governo, foi altura de se ver<br />
quem entra e também quem saiu dos gabinetes de Suas Excelências.<br />
Há dias, dei comigo a ler os louvores que o Primeiro-Ministro António<br />
Guterres concedeu aos que com ele trabalharam mais de<br />
perto. Diz ele que “foi com imensa gratidão pela inestimável<br />
ajuda” que dá público louvor a 168, reparem bem, 168 colaboradores.<br />
Tenho para mim que lhe devem ter prestado directamente serviço<br />
uns tantos mais que não terão sido louvados... Caso contrário, o<br />
louvor expresso perderia sentido... Se é que o não perdeu já com<br />
tantas linhas do Diário da República ocupadas com esse objectivo...<br />
Dias depois, deparo com um Secretário de Estado (dos Transportes)<br />
a louvar 30 pessoas do seu gabinete...<br />
Ao Secretário de Estado Dr. José Magalhães coube em especial<br />
salientar a elevada afabilidade dos seus colaboradores, o que se<br />
regista com agrado, naturalmente.<br />
E dou comigo a perguntar: será que um Primeiro-Ministro precisa<br />
de 124 colaboradores directos? Será que um Secretário de Estado<br />
precisa de 30 colaboradores directos? Quanto custam? Quanto<br />
espaço é necessário para os alojar? E quantos carros para os transportar?<br />
etc., etc.. O que fazem então as Direcções Gerais? E os<br />
Institutos?<br />
Para já não falar da Presidência da República que tem, só nos seus<br />
quadros cerca de 300 funcionários... para além dos que estão dados<br />
à Casa Civil e à Casa Militar...<br />
28
29<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
A política é uma arte muito nobre mas não pode justificar tanto<br />
despesismo, normalmente clientelar...<br />
Julgam, porém, que eu acredito que o novo Poder vai ter menos<br />
pessoal nos seus gabinetes?<br />
E julgam que acredito que alguma vez vamos ter uma Assembleia<br />
da República com uns 100 deputados, mas bem pagos, para terem<br />
qualidade indiscutível?<br />
Oxalá! Mas não acredito...<br />
Ao menos que todos tenham boas férias.<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” em 26/07/2002
o jornalIsMo desPortIvo e a hIstórIa<br />
fontes InquInadas<br />
A responsabilidade dos jornalistas em termos de feitura de história<br />
é muito grande. Estou em crer que eles, ao darem uma notícia,<br />
investigaram sempre as fontes, devidamente.<br />
Só que, de algumas fontes, por vezes, sai água inquinada, a maioria<br />
das vezes sem ser por mal, certamente.<br />
Isto vem a propósito de peça que a TVI, no seu jornal da noite de 8<br />
de Setembro de 2002, pôs no ar acerca das candidaturas às próximas<br />
eleições na Federação de Futebol.<br />
Nessa peça foi afirmado que:<br />
• O agora candidato Artur Jorge jogara pela Académica de Coimbra<br />
a final da Taça de Portugal em 1969 – ano da célebre contestação<br />
académica ao Ministro José Saraiva;<br />
• O Almirante Thomaz presidiu a esse encontro no Estádio Nacional;<br />
• A Académica equipou de branco, em sinal de luto.<br />
Ouvi a notícia com estupefacção pela falta de rigor que ela demonstra.<br />
Intencional? Não sei.<br />
Das 3 afirmações referidas só posso dizer, em verdade, que de<br />
facto a final da Taça de Portugal de 1969 foi disputada sob o signo<br />
da contestação da academia de Coimbra.<br />
Quanto ao resto, posso afirmar e documentar que:<br />
• O excelente avançado centro Artur Jorge não jogou pela Académica.<br />
Estava já no Belenenses? No Benfica? No FC do Porto?... O<br />
avançado centro da Académica foi sim o Manuel António que foi<br />
“bola de prata” nesse ano e hoje é o director do IPO de Coimbra;<br />
• Por indicação expressa de Marcello Caetano fui eu, na altura a<br />
exercer as funções de director geral dos Desportos, quem presidiu<br />
ao encontro, e não o Almirante Thomaz (aliás, não se encontrava<br />
presente qualquer membro do Governo na tribuna);<br />
• A Académica manifestou o seu luto, mas não através do equipa-<br />
30
31<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
mento (branco?) que foi o habitual (de negro). É mais uma notícia<br />
que me trouxe à lembrança a outra relativa ao Eusébio em que ele<br />
diz que o ditador (Salazar) o chamou a S. Bento, por 6 vezes, para<br />
lhe dizer que o Conselho de Ministros o considerava património<br />
nacional, pelo que não era autorizada a sua transferência para o<br />
estrangeiro...<br />
Enfim um puro delírio do grande Embaixador Eusébio... que tem<br />
sido glosado de formas várias... A bem de quê? Não dele certamente,<br />
que não precisa dessas deturpações para continuar a ser o<br />
melhor jogador português, para mim.<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 20/09/2002
câMara aberta<br />
GInásIo<br />
Da leitura do artigo “Habitação, Ponte, Estádio e Ginásio”, publicado<br />
neste jornal, fiquei com a sensação de que a Câmara de Águeda se<br />
prepara para terminar as negociações com o GICA para aquisição do<br />
pavilhão.<br />
E mais se adianta que o futuro pavilhão municipal poderá ser localizado<br />
na zona de Assequins, no Ninho de Águia ou junto à Feira Nova.<br />
Estando, pelos vistos, tudo em aberto não posso deixar de opinar sobre<br />
tema que me é muito caro.<br />
Nos idos anos de 60, em que me ocupava de matéria desportiva, recordo<br />
que a Alemanha do Leste era o país que tinha maior densidade<br />
de pavilhões desportivos face à sua população. Certamente por isso, e<br />
não só... (as hormonas, a gravidez, etc...) tratava-se de uma potência<br />
desportiva de 1º plano a nível mundial.<br />
Verificava-se, então, que a localização desses pavilhões era determinante,<br />
e ainda o é, para as práticas desportivas. Eles situavam-se nas<br />
escolas ou junto às escolas. Tão simples como isso.<br />
É que cada escola é um manancial inesgotável de juventude ávida de<br />
praticar desporto. E os pavilhões, garantidamente, estão ocupados durante<br />
todo o dia. Sim, porque ao fim da tarde/noite também não faltam<br />
os praticantes dos Clubes/Associações. Ou seja, dessa forma os<br />
pavilhões são usados sem parar. Caso contrário, como acontece com<br />
o Pavilhão de Travassô que, embora construído com muita carolice e<br />
dedicação, certamente não pode ter essa ocupação maximizada.<br />
Senhores Autarcas! Pensem mais nas crianças em geral do que no desporto<br />
de competição! Este vem naturalmente, por arrastamento. Mas,<br />
em primeiro lugar, deve estar toda a juventude escolar.<br />
Sei que por vezes é difícil inventar “terrenos” mas a vontade move<br />
montanhas!.<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 27/10/2002<br />
32
33<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
Fachada do Prédio onde nasceu e viveu o autor, em Águeda
75 anos de basquetebol a falar PortuGuês!<br />
É bom chegar a esta idade, depois de muito, mas mesmo muito e<br />
difícil, caminho percorrido!<br />
E é bonito ter chegado com a pujança para que os ideais apontavam<br />
e que os factos agora demonstram no panorama desportivo<br />
nacional!<br />
A partir dos meus 15 anos de vida federativa, vim a conhecer muitos<br />
dirigentes dedicados, esclarecidos e apaixonados pela bola ao<br />
cesto!<br />
E convivi com muitos atletas de eleição que treinavam e disputavam<br />
com alegria os jogos ao sol, à chuva, ao vento, em campos<br />
cimentados e de terra batida e com balneários sem água quente!<br />
E que nem sequer se queixavam dessas condições!<br />
Fui um deles, dos mais modestos embora, mas que sempre acreditei<br />
em que melhores tempos acabariam por chegar!<br />
Já lá vão 52 anos, quando, jovem dirigente da AAC, contratámos o<br />
1º jogo dos Globetrotters realizado na Europa, mais precisamente<br />
em Coimbra, no velho campo de Santa Cruz, por Esc. 25.000$00!<br />
Naturalmente que tenho saudades desses tempos, mas em especial<br />
das amizades com que o basquetebol me brindou e ainda perduram<br />
no Galitos de Aveiro, na Associação Académica de Coimbra,<br />
no Vasco da Gama, no S.L. e Benfica, no Queluz, na Federação...<br />
Mas hoje tenho orgulho em verificar que as condições da prática<br />
do basquetebol são abissalmente diferentes, para melhor!<br />
Quer em Jogos Olímpicos, quer nas Universíadas, nunca perdi um<br />
bom jogo de basquetebol, tal como em Havana, há precisamente<br />
40 anos, nos I Jogos Desportivos Universitários Latino Americanos,<br />
ao lado de Che Guevara – fiel amante da modalidade! É que o<br />
basquetebol, para além do mais, é um jogo muito bonito!<br />
A Federação Portuguesa de Basquetebol e os seus devotados e<br />
competentes dirigentes estão naturalmente de parabéns!<br />
34
35<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
Um voto: Que o basquetebol seja, na Escola, o que o sal é para a<br />
comida!<br />
Publicado na “Revista do Basquetebol”<br />
alusiva ao 75º aniversário da FPB – 17/11/2002
Morreu uM Grande PatrIota<br />
baltazar rebelo de sousa<br />
Acabo de assistir ao funeral do Dr. Baltazar Rebelo de Sousa.<br />
Tinha almoçado com ele e com a Esposa há 8 dias. A saúde estava<br />
abalada, bem se via! Mas foi com grande comoção que ouvi a TV<br />
dar a notícia do seu falecimento, logo no dia 1 de Dezembro!<br />
Era uma data que lhe era muito cara! E, tal como nos tempos em<br />
que militou na Mocidade Portuguesa, não deixava nunca de participar,<br />
como agora sucedeu, nas comemorações dessa data que,<br />
hoje, já poucos celebram… Todos os Valores se vão indo… na voragem<br />
do sensacionalismo que as televisões nos vão impingindo…<br />
Entre a missa em S. Domingos, a que assistiu, e o desfile respectivo,<br />
porém, Baltazar tombou para sempre!<br />
Numa última homenagem, a bela igreja de Santa Isabel encheu-<br />
-se de gente dos mais variados quadrantes. Uns pelos filhos, mas<br />
muitos certamente pelo próprio falecido, todos ouviram uma bonita<br />
missa celebrada pelo Sr. Bispo de Portalegre.<br />
Disse ele que convivera com Baltazar em Moçambique, aquando<br />
da sua governação naquela Província Ultramarina. E contou que,<br />
um dia, no seio da família, Baltazar observou aos filhos que “não<br />
estava em Moçambique para mandar mas sim em missão!…” Que<br />
bela lição de serviço público!<br />
As leituras foram feitas pelos filhos Marcelo e António. E as preces<br />
– que belas – foram feitas pelo filho Pedro e pelos 7 netos.<br />
Baltazar foi um grande Patriota que soube servir a res publica sempre<br />
e acima de tudo, estivesse onde estivesse. Tinha uma postura<br />
de Estado que, nele, era simplesmente natural.<br />
Mesmo exilado durante 17 anos no Brasil, sempre viveu intensamente<br />
as coisas lusófonas. E ultimamente, com a vida a apagar-se,<br />
era uma delícia ver ainda o seu apego às coisas sociais e ao bem<br />
comum.<br />
Gostei muito de ver que a sua urna estava coberta pela Ban-<br />
36
37<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
deira Nacional. Prestou-se justiça a quem serviu bem Portugal.<br />
Paz à sua alma.<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 06/12/2002<br />
Baltazar Rebelo de Sousa em visita ao Estádio Universitário de Lisboa<br />
(1957)
MaIs vale tarde do que nunca...<br />
Há dias recebi em Lisboa um telefonema de um antigo funcionário<br />
da Casa do Desporto do Porto.<br />
Depois da minha saída da Direcção Geral dos Desportos, em meados<br />
de 1973, já lá vão 30 anos, nunca mais tivera contacto com<br />
ele.<br />
O telefonema era para me dizer que acabara de saber que eu,<br />
certamente em romagem de saudade, tinha passado pela Casa do<br />
Desporto num fim de tarde e que um funcionário me reconhecera<br />
e lhe terá dito que eu vinha todas as semanas ao Porto. Na verdade<br />
tive o maior gosto em dinamizar, nos anos ’60, a implementação<br />
de um programa de infra estruturas desportivas que ainda se<br />
encontram de pé... bem à vista.<br />
E sempre que posso, sozinho, gosto de passar uns momentos a<br />
observar cada uma delas – e foram muitas, e que agora até estão<br />
com melhor aspecto, dadas as beneficiações nelas introduzidas<br />
entretanto.<br />
Quis esse funcionário visitar-me na Av. da Boavista, logo a seguir<br />
ao referido telefonema.<br />
Veio para me cumprimentar pessoalmente, dizer-me umas tantas<br />
palavras amáveis e... para me trazer uma fotografia encaixilhada.<br />
Era, nem mais, a minha fotografia assinada pelos respectivos Presidentes,<br />
que as Associações Desportivas do Porto tinham em lugar<br />
de destaque na Casa do Desporto, desde a sua inauguração, em<br />
sinal de reconhecimento.<br />
Ele tinha ficado fiel depositário da mesma, logo após a entrada em<br />
funções do novo delegado da DGD, pós 25 de Abril, porque este<br />
teria dito que já não era o tempo próprio para exibir esse tipo de<br />
recordações...<br />
Não precisei de lhe perguntar quem era esse delegado, cujo percurso<br />
político foi bem marcado pelas ruas da chamada esquerda<br />
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39<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
revolucionária. E agora, uma vez que esse Delegado já faleceu,<br />
ele sentiu coragem para me entregar a fotografia, em nome de<br />
Valores...<br />
Obrigado, Menezes! E Paz à alma do Delegado!<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 07/02/2003
carros, MotorIstas, desPesas<br />
Toda a gente sabe que o País atravessa uma grave crise económica<br />
que não será fácil vencer.<br />
Essa crise, em parte, é devida ao despesismo que se apoderou da<br />
máquina do Estado, a partir mesmo de cima.<br />
Os órgãos de soberania não estão isentos, todos eles, de colaborarem,<br />
talvez sem se aperceberem bem, nesse despesismo.<br />
Uma coisa é a dignidade dos Altos Cargos do Estado, outra bem<br />
diferente é a despesa supérflua ou desnecessária.<br />
Os Gabinetes da Alta Administração do Estado estão cheios de<br />
gente. São secretárias, são adjuntos, são assessores, são consultores...<br />
Pelo menos, quanto ao Governo actual, tenho a sensação de que<br />
terão sido tomadas medidas para aliviar o espaço antes ocupado<br />
com pessoas, certamente muito competentes, mas dispensáveis.<br />
Há uns anos atrás, pessoa amiga estava a instalar mais uma empresa<br />
pública e telefonou-me para saber como se passavam as coisas<br />
em termos de automóveis, motoristas e contínuos no Grupo em<br />
que colaboro. E trata-se do maior Grupo empresarial português.<br />
Fiz-lhe o retrato da situação, que o deixou muito desiludido, quando<br />
lhe referi que no Grupo não há motoristas nem contínuos. O<br />
próprio presidente do Grupo não tem às suas ordens um motorista<br />
sequer.<br />
Como é conhecido do povo, não é assim que os organismos do<br />
Estado procedem.<br />
Mas aceitemos que alguns cargos, pela sua relevância, merecem<br />
esse tratamento. Só que esse tratamento deveria ser feito por excepção<br />
e não por regra.<br />
Há certamente muitas outras funções que aqueles dedicados motoristas<br />
e contínuos poderiam desempenhar com bastante produtividade<br />
para o País e não só para uns tantos senhores. Mas o facto<br />
40
41<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
é que a cultura própria dos nossos dirigentes não está disposta a<br />
ser mudada. Não estará?<br />
Ainda há dias tomei parte num funeral de pessoa bem conhecida,<br />
num domingo à tarde.<br />
E lá encontrei um destacado parlamentar com o BMW da Assembleia<br />
da República, conduzido por um motorista.<br />
Será que esse alto dignatário, nesse dia feriado, não poderia conduzir<br />
ele próprio a viatura oficial, deixando o motorista repousar<br />
com a família? Para além de que o Estado deixava de processar as<br />
horas extraordinárias respectivas...<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 28/03/2003
huMberto coelho – treInador PortuGuês é resPeItado<br />
e adMIrado na coreIa do sul<br />
Desloquei-me recentemente à Coreia do Sul, mais propriamente<br />
a Daegu, 3ª cidade do país, com 2,7 milhões de habitantes. Fui lá<br />
assistir à UNIVERSÍADA de 2003, os Jogos Mundiais Universitários,<br />
a que Portugal concorreu com uma delegação de 70 atletas e dirigentes.<br />
Certo dia, estava no hall do Hotel Inter-Burgo (de raiz espanhola)<br />
quando vejo dirigir-se-me uma pessoa de braços abertos. Era<br />
nem mais nem menos que o seleccionador nacional de futebol<br />
da Coreia do Sul: o nosso bem conhecido Humberto Coelho, com<br />
quem contactei bastante quando ele era jogador/capitão do S. L. e<br />
Benfica e internacional de méritos consagrados, em fins dos anos<br />
60 e princípios dos anos 70. Era ele o defesa central do Benfica<br />
que venceu a Taça de Portugal de ’69. Não lhe entreguei essa Taça<br />
porque o lugar de capitão ainda estava tapado pelo grande Mário<br />
Coluna.<br />
Jantámos ambos e muito conversámos sobre as coisas da nossa<br />
Terra a que ele continua bem ligado até porque a Federação de<br />
Futebol coreana lhe instalou, no seu magnífico apartamento, a RTP<br />
Internacional. E apercebi-me de que está mesmo muito bem cotado<br />
na sociedade coreana. À sua volta estava sempre uma “chusma”<br />
de admiradores a pedir-lhe autógrafos que ele dava com simpatia,<br />
e outros a quererem apertar-lhe a mão.<br />
Na sala ao lado do Hotel jantavam os dirigentes da Esgrima do<br />
top mundial e da Coreia. No final do jantar, ao passarem por nós,<br />
quiseram mesmo prestar a sua homenagem ao homem em quem<br />
a Coreia confia para uns brilharetes internacionais do seu futebol.<br />
O que não será fácil, diga-se.<br />
Pelo seu adjunto, o Prof. Dr. José Augusto, dragão assumido, fiquei<br />
a saber que ele não pode sair à rua… tal o envolvimento que os<br />
passantes lhe dedicam… Era uma autêntica loucura, que eu ava-<br />
42
43<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
liei bem pelo que me foi dado assistir no hotel em Daegu. Ele é<br />
um autêntico embaixador de Portugal na Coreia, que o próprio<br />
Embaixador Dr. Carlos Frota muito respeita e admira. E eu fiquei<br />
muito satisfeito por ver que, também no longínquo Oriente, há um<br />
português que respira sucesso. Parabéns, Humberto Coelho<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 19/09/2003<br />
O autor, acompanhado pelo Presidente e pelo Tesoureiro da FISU,<br />
na Universíada de 2003 - em Daegu, Coreia do Sul
outras terras, outras Gentes – a coreIa do sul<br />
Voltando à minha recente deslocação à Coreia do Sul, tivemos a alegria<br />
de ser recebidos, à chegada a Seoul, pelo embaixador Dr. Carlos<br />
Frota que veio mesmo a deslocar-se, dias depois, a Daegu para viver<br />
de perto a vida da nossa Delegação. Fez-me lembrar o embaixador<br />
Dr. José Nosolini, em S. Sebastian, nos Jogos Internacionais da FISU<br />
de 1955. O que é raro nas relações entre as Embaixadas e o Desporto<br />
no estrangeiro, a não ser talvez no futebol…<br />
Quando chegámos ao aeroporto de Daegu, tinha uma escolta de 4<br />
polícias até ao carro que me foi distribuído e o meu intérprete era um<br />
estudante a prestar serviço militar. Dali até ao hotel tive escolta de um<br />
polícia de moto. E no hotel só se entrava depois de revistado, tendo<br />
em cada andar a companhia de um segurança, aliás sempre amável.<br />
E havia tropas que circulavam bem armados e com cães pelos corredores<br />
e vizinhança do hotel. A segurança dos jogos tinha um orçamento<br />
de 15 milhões de contos…<br />
Lá fui encontrar velhos amigos das lides do desporto universitário internacional:<br />
entre eles o Scarpiello, com os seus 80 anos, de cadeira<br />
de rodas. Perante a minha admiração por se ter sujeitado, naquelas<br />
circunstâncias, a uma viagem aérea de mais de 11 horas, sem escala,<br />
ele respondeu-me que preferia morrer ali entre os desportistas em<br />
competição do que numa cama de hospital mesmo que muito bem tratado!<br />
Força, “Pilo”! Tive ocasião de assistir à assembleia-geral da FISU<br />
em que foram eleitos os órgãos sociais para o próximo quadriénio. A<br />
luta de blocos veio ao de cima com que força… com a China e a França<br />
muito bem “organizadas” a “dominarem” os cordelinhos de África<br />
e Ásia. Resultado, não foram eleitos quaisquer representantes quer de<br />
Itália (a “mãe” das Universíadas) nem da América Latina. Quanto a<br />
nós tivemos a felicidade de ver eleito o representante português, Pedro<br />
Dias, que teve de enfrentar várias voltas de votação. Mas, também<br />
com a preciosa ajuda de Carlos Lopes (Angola) junto de países africa-<br />
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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
nos, passou a integrar o Comité Executivo, coisa que já não sucedia<br />
desde 1973, ano em que eu próprio fui reeleito em Moscovo, mas de<br />
que fui saneado pelo governo de então, após a revolução de Abril.<br />
De Nebiolo, apenas já só foram feitas breves referências pelo Roch<br />
Campana, Roberto Outeiriño e Constantin Annastassov… “Sic gloria<br />
transit mundi…”.<br />
Nos jogos participaram 174 países, com 4.500 atletas e 3.500 oficiais<br />
que estavam alojados numa “Vila de Atletas” construída para o efeito<br />
e que, depois dos jogos, seria vendida em largas centenas de apartamentos.<br />
A organização era apoiada por 10.000 voluntários que eram<br />
de uma solicitude e amabilidade inexcedíveis.<br />
A cerimónia de inauguração dos jogos, a que presidiu o Presidente<br />
Roo Moo-hyun, teve lugar num belo estádio para 66.500 espectadores<br />
construído para o campeonato do mundo de futebol de 2002, e foi<br />
rodeada de fortes medidas de segurança. Foram mesmo deslocados<br />
para Daegu 4.000 polícias. E o espaço aéreo foi fechado, até porque<br />
constou que se aguardava um atentado químico por parte de terroristas.<br />
O planeamento dos jogos era tão pormenorizado que as 2 Coreias<br />
desfilaram em conjunto com os mesmos trajes. Isto, embora a presença<br />
da Coreia do Norte só tenha sido decidida sobre a hora da abertura<br />
dos jogos. O pormenor desse planeamento expressava-se mesmo na<br />
existência em cada lugar do estádio de um bonito saco contendo um<br />
abanador (o calor húmido apertava) e uma pequena lanterna. Essas<br />
lanternas, todas acesas, proporcionavam um ambiente lindíssimo. E<br />
em pontos estratégicos, as cores dessas luzes desenhavam mensagens<br />
muito bonitas.<br />
A coreografia das cerimónias de abertura e encerramento dos jogos<br />
era deslumbrante. As cores dos fatos dos milhares de rapazes e raparigas<br />
que entravam e saíam do estádio proporcionavam, nas suas<br />
cambiantes, quadros de rara beleza. O início do espectáculo foi de<br />
grande simplicidade: do centro do relvado foi disparado um foguete<br />
que projectou no ar uma nuvem que era nem mais nem menos que o<br />
desenho do conjunto das 2 Coreias.<br />
Houve uma ordem expressa da Organização para que os voluntários<br />
não falassem com os seus “irmãos” do norte nem lhes tirassem fotografias,<br />
a fim de evitar eventuais conflitos diplomáticos.<br />
O bilhete de ingresso no estádio para a cerimónia inaugural custava,
nos melhores lugares, cerca de 26 contos. Diga-se que o nível de vida<br />
lá é muito alto. Mas também se observava que se trabalhava muitíssimo.<br />
O comércio estava aberto noite dentro, mesmo aos sábados. E ter<br />
férias, era considerado um luxo…<br />
A dificuldade da língua só era atenuada com os intérpretes que nos<br />
acompanhavam. Mas sucedeu um caso interessante com um dos portugueses<br />
participantes e um motorista de táxi que o conduzia. Este, a<br />
certa altura, apercebeu-se da nacionalidade do passageiro e logo lhe<br />
falou de Amália Rodrigues, dizendo que tinha uma cassete com os<br />
seus fados…<br />
Desde a nossa chegada à Coreia que se respirava Universíada, tal a<br />
profusão de cartazes, bandeiras e táxis engalanados. Era toda uma<br />
comunidade que aderia aos jogos.<br />
Os nossos atletas tiveram um comportamento digno. As medalhas, em<br />
algumas disciplinas, não ficaram longe. Só que as nossas melhores<br />
atletas optaram por ir aos Campeonatos do Mundo de Paris que se<br />
realizaram na mesma altura.<br />
Acompanhei de perto a nossa equipa de voleibol e os jogadores de ténis<br />
que tiveram uma boa prestação. Jogou-se quase sempre no magnífico<br />
pavilhão da Universidade Católica. Não esqueço o jogo contra<br />
a China a quem vencemos por 3-1. As claques das nossas equipas,<br />
com cartazes e bandeiras, eram constituídas por jovens de uma igreja<br />
coreana ou de escolas que cantavam e lançavam mensagens de apoio<br />
com entusiasmo durante todos os jogos.<br />
Mas a claque que mais me impressionou foi a da Coreia do Norte,<br />
com 300 jovens muito bem vestidos e com canções lindíssimas e sem<br />
descanso.<br />
Nas provas de natação, em que fui convidado a entregar várias medalhas<br />
aos vencedores das provas, convivi de perto com o actual presidente<br />
da Federação Japonesa de Natação, Furuashi, que foi campeão<br />
olímpico nos Jogos de 1952, em Helsínquia. A emoção que denunciava<br />
durante as provas dos seus conterrâneos era bem visível na face…<br />
Na Vila dos Atletas a sua maior diversão era a internet. Fazia-se bicha<br />
para alcançar lugar ao computador.<br />
Os transportes funcionavam muito bem. Não nos esqueçamos que a<br />
Coreia do Sul é um grande fabricante de viaturas ligeiras e pesadas<br />
através da Daewoo, Hyundai, Kya. Esses transportes foram a chave<br />
do sucesso da organização. Lembremos que, para assistir à final de<br />
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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
basquetebol, entre a Rússia e a Sérvia-Montenegro tivemos de andar<br />
80 kms.<br />
Perguntei a vários elementos da delegação se tinham assistido a algum<br />
“toque”, acidente de viação. Que não, foi a resposta. Nas auto<br />
estradas o limite de velocidade é de 100 kms/h o qual é normalmente<br />
respeitado já que há muitas câmaras de vídeo à espreita… À primeira<br />
vista, parece haver grande civismo. Os espaços verdes estão muito<br />
bem cuidados e não se vêem sequer papéis nas ruas e jardins. Chegam<br />
a levar “lixo” para casa para ser depositado nos respectivos recipientes.<br />
A cidade é atravessada por um longo rio que deu origem a vários<br />
canais. Nas suas margens, muito bem cuidadas, estão implantados<br />
recintos de jogos e parques de lazer para crianças e adultos, tudo gratuito.<br />
Aos domingos os carros circulam alternadamente conforme se trate de<br />
matrícula par ou ímpar. Não é obrigatória essa medida mas, de uma<br />
maneira geral, ela é respeitada.<br />
Os motoristas oficiais estavam sempre muito bem vestidos, com fato e<br />
camisa impecáveis e muitos usavam luvas brancas.<br />
O hotel Inter-Burgo é propriedade de espanhóis. Talvez por esse facto,<br />
nele se pode ver a TVE com as suas telenovelas. A Junta de Castilla<br />
y Leon montou no hall do hotel uma grande banca onde se podiam<br />
apreciar o bom presunto pata negra, a tortilla e alguns bons vinhos<br />
espanhóis, numa promoção muito bem organizada e bem apreciada<br />
pelos hóspedes e passantes do hotel.<br />
Foi aí que encontrei o seleccionador nacional de futebol da Coreia do<br />
Sul, o conceituadíssimo, entre os coreanos, Humberto Coelho. Os seus<br />
“fãs” eram numerosíssimos. A todos atendia com a maior simpatia.<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 10/10/2003
desPerdícIos<br />
A nossa vida de cada dia é feita de pequenas coisas às quais, muitas<br />
vezes, não damos qualquer atenção.<br />
As famílias vivem de um orçamento familiar, na maioria dos casos,<br />
bastante apertado. E há famílias e seres humanos isolados que<br />
não têm sequer dinheiro para se alimentar. Isto passa-se mesmo à<br />
nossa porta… não é preciso ir longe.<br />
Esta é a triste realidade dos dias de hoje e que bem gostaríamos<br />
de ver alterada.<br />
Os orçamentos familiares são alimentados, de uma maneira geral,<br />
pelo Estado e pelas empresas, quaisquer que elas sejam.<br />
E as despesas das famílias devem comportar-se dentro de parâmetros<br />
exigentes de satisfação de necessidades indispensáveis.<br />
Os luxos, os desperdícios, quando existem e, infelizmente, estão<br />
por aí e vêem-se à vista desarmada, deverão ser uma excepção só<br />
própria de ricos. E mesmo desses… bom seria que os luxos fossem<br />
trocados por outras coisas mais necessárias.<br />
Isto para chegar à conclusão de que, quanto maiores forem as<br />
receitas dos agregados familiares e menores as suas despesas correntes,<br />
mais eles podem distribuir pelos seus membros. O mesmo<br />
se aplica ao Estado e às empresas de quem depende o dia a dia da<br />
maioria dos nossos concidadãos.<br />
Vejamos então o que podemos fazer apenas e só para nosso<br />
bem.<br />
Podemos começar por apagar as luzes que não estão a ser<br />
necessárias.<br />
Até porque a electricidade que consumimos é em grande parte<br />
importada do estrangeiro e produzida também nas centrais termoeléctricas<br />
que consomem enormes quantidades de fuel que Portugal<br />
tem de comprar no exterior.<br />
Na verdade, o que se passa, em especial nas empresas, escritórios<br />
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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
e serviços do Estado é o seguinte: a brigada da limpeza chega<br />
muito cedo para fazer o seu serviço e começa naturalmente por<br />
acender as luzes. Ficam todas elas acesas. E ao fim da tarde os<br />
empregados e funcionários e mesmo chefias abandonam os seus<br />
postos de trabalho mas não apagam as luzes. Até que vem, já<br />
noite alta, o Segurança que, espera-se, se preocupe com o apagar<br />
das mesmas.<br />
Façam-se umas simples contas e chegar-se-á à conclusão de que<br />
os milhões de pontos de luz acesos, sem necessidade, custam a<br />
todos nós muitos milhões de euros.<br />
Se és amigo de ti próprio poupa na energia eléctrica e aconselha<br />
os outros, em especial os teus filhos, a fazerem o mesmo.<br />
Publicado no jornal “Região de Águeda” de 10/10/2003
a deMIssão de Pedro lynce<br />
Os órgãos de informação trataram exaustivamente do caso da demissão<br />
do Prof. Pedro Lynce.<br />
Do que se leu e ouviu bate-se sempre na mesma tecla: o Ministro<br />
cometeu uma ilegalidade. De boa fé? Não interessa.<br />
Porém, não tenho visto referências ao comportamento do director<br />
geral do Ensino Superior que foi, em meu entender, quem proporcionou<br />
todo este imbróglio. Porquê?<br />
Apenas e só porque ele não terá usado a sua competência para<br />
indeferir pura e simplesmente o requerimento da candidata Diana.<br />
E, uma vez que levou o processo a despacho do Ministro (será que<br />
o Ministro o avocou?), devia ter-se limitado a informar, sem mais<br />
considerações, que a lei não permitia o seu deferimento.<br />
Ao que parece, o director geral quis ser simpático, ou quis, também<br />
ele, fazer “política”. Ora isso é incompatível com o seu estatuto de<br />
funcionário, que não de político.<br />
Escrevi em 1980 que o novo regime de provimento dos directores<br />
gerais os transformava em meras “mulheres a dias”. Isto sem ofensa<br />
para essas serviçais dignas de consideração.<br />
Esse regime faz com que qualquer director geral – haverá excepções,<br />
naturalmente – queira agradar ao seu ministro para se<br />
aguentar no cargo. Nem que para isso se tenha de menosprezar<br />
a Lei.<br />
Há uns tantos anos atrás, em que os directores gerais da função<br />
pública eram vitalícios, como em França aliás, a situação em causa<br />
era impensável. O director geral que actuasse contra a Lei, tinha<br />
os dias contados, mesmo sendo vitalício! Pelos vistos, aqui e agora<br />
não é assim, mas mal.<br />
Sei do que falo, na medida em que exerci aquele tipo de funções,<br />
em regime vitalício, durante 10 anos, e posteriormente, em regime<br />
de comissão, durante 3 anos, quer em ditadura quer em democra-<br />
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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
cia. Por estas e por outras é que se vem reclamando de há muito<br />
a Reforma da Administração Pública. Só que os políticos têm de<br />
aceitar o domínio da Lei sobre as suas conveniências partidárias<br />
ocasionais. Até porque são os políticos afinal que fazem as leis…<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 17/10/2003
Pode abusar-se da lIberdade?<br />
Há dias, na entrada para uma comemoração dos 170 anos no<br />
Supremo Tribunal de Justiça, em Lisboa, passou-se uma cena que<br />
me impressionou fortemente.<br />
Essa cena teve larga difusão na imprensa escrita, nas rádios e nas<br />
televisões. A maioria dos órgãos de comunicação verberou a atitude<br />
de um magistrado judicial que é, nem mais nem menos, o<br />
presidente do Tribunal da Relação de Lisboa. O mesmo que foi<br />
chamado a intervir num recurso apresentado pela defesa de um<br />
político detido preventivamente, não mais do que isso, que é muito,<br />
por causa do processo da pedofilia.<br />
Ele excedeu-se usando termos menos próprios, porquê? Apenas<br />
porque não queria ser filmado nem prestar declarações naquele<br />
lugar e àquela hora.<br />
Ora não será isto um direito do cidadão magistrado como aliás de<br />
qualquer outro cidadão? E o homem não é de ferro…<br />
Será que a liberdade de informação pode violentar esse direito a<br />
seu belo prazer e que eu julgava sagrado - o direito à privacidade?<br />
Parece que não. As câmaras filmam quem querem, onde querem,<br />
contra vontade dos próprios, e depois achincalham-nos na praça<br />
pública com maior ou menor crueldade…<br />
Senhor Magistrado: não o conheço. Fiquei a saber quem era pela<br />
TV. Lamento que tenha usado o termo que usou para qualificar<br />
uma máquina de filmar, mas compreendo a sua reacção já que<br />
quem se não sente não é filho de boa gente.<br />
Para além de que se não presta um grande serviço ao poder judicial<br />
andar a mostrar os seus rostos que, depois, têm de ser protegidos<br />
por seguranças especiais que o Povo tem de pagar através<br />
dos seus impostos. Tudo em nome da liberdade.<br />
Publicado no jornal “Região de Águeda” de 17/10/2003<br />
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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
as ProPInas - queM acode aos nossos IMPostos?<br />
Todos nós, os que pagamos impostos e que não fugimos a eles,<br />
sabemos que os mesmos se destinam a suportar encargos da sociedade<br />
civil e militar.<br />
Tudo bem!.<br />
Na sociedade civil, por exemplo, esses impostos contemplam a escolaridade<br />
obrigatória e não obrigatória. Nesta se inclui o ensino<br />
superior universitário e politécnico.<br />
Tudo bem!<br />
Como, graças a Deus, na vida profissional activa que vou terminar<br />
em breve, sou dos que têm vindo a ser sobrecarregados com<br />
um IRS que se aproxima dos 40%, isso significa que, de cada mil<br />
contos que a entidade patronal me pague, 400 contos vão para<br />
impostos.<br />
Naturalmente que me não queixo desses descontos na condição<br />
de que eles sejam bem aplicados em favor dos que mais precisam.<br />
Mas não em favor dos que menos precisam e até, em muitos casos,<br />
nem sequer pagam impostos ou então são taxados pelo salário<br />
mínimo nacional, ainda que se desloquem de helicóptero para<br />
reuniões de carácter social.<br />
Assiste-se, nesta altura, a um movimento estudantil sem precedentes<br />
contra as propinas. E vai daí, toca a encerrar as escolas a cadeado!<br />
O que suponho ser crime. E invade-se o Senado e insulta-se o<br />
Reitor ou Presidente de Instituto. E corta-se o trânsito… etc., etc..<br />
Calculo eu que os Senhores Professores se sintam indignados com<br />
esta situação já que não podem fazer aquilo de que tanto gostam<br />
certamente: dar aulas que, afinal, são pagas pelo erário público,<br />
ou seja, pelos impostos de quem os paga.<br />
Os estudantes não se queixam de que faltem professores e isso<br />
seria gravíssimo. Eles até serão demais em alguns Departamentos<br />
ou Faculdades.
A falta de instalações, designadamente para a acção social, é um<br />
outro problema a que somos naturalmente sensíveis. É preciso é<br />
saber para quê? Não será para arrumar turmas de cursos sem alunos,<br />
ou de reduzidíssimo número de alunos, que os há e não são<br />
poucos, ou então para alojar alunos que não tenham mérito.<br />
Enfim tudo isto para dizer que bem gostaria que qualquer aluno<br />
com mérito não fique privado de estudar por falta de condições<br />
económicas.<br />
Mas também gostaria que os impostos que pago não se destinem<br />
a um sistema que permite a um qualquer dirigente académico<br />
manter-se durante 8 anos a estudar (?) na Faculdade,<br />
tendo ainda à sua frente mais 3 anos, se tiver sempre aproveitamento,<br />
para concluir o curso. Isso não! A autonomia da<br />
Universidade deveria atalhar casos como este, que não são tão<br />
excepcionais como possa parecer. Uma avaliação independente da<br />
situação seria bem acolhida pela sociedade civil...<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 14/11/2003<br />
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crIMe seM castIGo?<br />
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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
O conhecido processo das viagens feitas por três dezenas de exdeputados<br />
chegou finalmente ao seu termo. E teve um triste fim,<br />
direi mesmo.<br />
Desde logo, confesso que me não repugnam as viagens de eleitos<br />
da Nação, desde que feitas com são critério e parcimónia. Ao que<br />
parece, o sistema que permitiu esses desvarios durante largos anos<br />
já terá sido ultrapassado com um novo regulamento mais apertado.<br />
Ainda bem.<br />
Só que desse processo não saíram bem nem a Assembleia da República,<br />
donde deveria vir o exemplo para os seus eleitores, nem<br />
a Procuradoria Geral da República que terá deixado prescrever<br />
os processos de que se ocupou, ou melhor, não se ocupou com o<br />
empenho minimamente exigível.<br />
Essa mesma Procuradoria que agora deu luz verde ao arquivamento<br />
dos processos!...<br />
Em termos jurídicos, o que se passou nesse domínio não é classificado<br />
de crime? Se é, e parece nisso não haver dúvidas, o crime<br />
ficou sem castigo.<br />
E o erário público ficou desfalcado de mais de 45 mil contos relativamente<br />
a 25 desses senhores deputados… Mas, para que servem<br />
afinal os impostos? Também para suprir estes crimes… certamente.<br />
Se eu pudesse exigir alguma coisa, nesta matéria, sabem o que<br />
era? Que, simplesmente, fossem divulgados os nomes dos tais deputados<br />
que faltaram às suas obrigações a fim de que o Povo pudesse<br />
pensar duas vezes se eles se voltassem a apresentar a votos.<br />
Apenas isto, ao menos isto. Sei que para isso seria preciso haver<br />
coragem… e ela anda arredia da nossa vida política…<br />
Publicado no jornal “Região de Águeda” de 21/11/2003
a ProPósIto de dInheIros autárquIcos…<br />
O Diário de Notícias (Lisboa) de 11 do corrente mês, no sector da<br />
necrologia, tinha estampados 7 anúncios relativos ao falecimento<br />
do pai de um badalado presidente de Câmara da área metropolitana<br />
do Porto.<br />
Esses anúncios ocupavam 3 páginas inteiras de publicidade paga<br />
– um, da Câmara, de página inteira, dois de meia página cada, da<br />
Assembleia Municipal e do SMAS, dois de um quarto de página de<br />
2 empresas municipais, mais dois também de um quarto de página<br />
cada, de 2 Associações ligadas ao presidente da Câmara.<br />
A Câmara repetiu o anúncio no mesmo jornal no dia seguinte agora<br />
já só num quarto de página.<br />
Se isto se passou com um jornal de Lisboa, o que se não terá passado<br />
com os jornais do Porto… pensei eu. Pois bem, nem de propósito,<br />
dias depois, em reunião de gestores de empresas da zona<br />
norte, assisti aos comentários indignados de vários deles face ao<br />
que se passou com os jornais da Invicta. Um escândalo, dizia-se.<br />
Só num deles cada página de publicidade custa a módica quantia<br />
de 2.000 contos, ou seja € 10.000.<br />
Obviamente que considero legítimas estas manifestações de pesar<br />
pelos entes queridos, por parte dos seus amigos, correligionários<br />
e simples concidadãos. E que gastem todo o seu próprio dinheiro<br />
que entendam nas mesmas.<br />
Agora que o façam à custa do erário público/autárquico em overdoses<br />
é que me parece despropositado e anti-social.<br />
Quando se ouvem os discursos de certos políticos locais e regionais<br />
bem conhecidos, a conversa é sempre a mesma: coitados dos desempregados,<br />
as autarquias precisam de mais meios da administração<br />
central para combater esse e outros flagelos, para dar melhores<br />
condições de vida para os munícipes, etc.. Todos os gestores<br />
da res publica têm obrigação de dar o exemplo de parcimónia nos<br />
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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
gastos dos dinheiros que o povo lhes confia através dos impostos.<br />
Em especial, os mais altos dirigentes partidários que se apresentam<br />
permanentemente como defensores da justiça social.<br />
A solidariedade social pratica-se, não se propagandeia a propósito<br />
de tudo e de nada!<br />
A vida também é feita de pequenas coisas que, somadas, fazem ou<br />
não fazem grandes coisas.<br />
Finalmente, fico com curiosidade em saber se algum deputado municipal<br />
teve ou terá coragem para questionar o executivo camarário<br />
sobre este tipo de gastos. Como acontece e bem, em Águeda.<br />
Publicado no jornal “Região de Águeda” de 02/04/2004
dInheIros PúblIcos…<br />
Existem grandes empresas de capitais públicos e também alguns<br />
privados que encerram os seus exercícios com muitos milhões de<br />
lucros. A razão dessa situação fica a dever-se, entre outras, à natureza<br />
da empresa (monopólios…em alguns casos), a uma razoável<br />
gestão e ao mercado que as aprecia. Esta é uma realidade a que<br />
não podemos fechar os olhos. E ainda bem que há quem gere<br />
lucros.<br />
Esses lucros, porém, não devem dar o direito a quem dirige essas<br />
empresas de esbanjarem parte desses lucros em sinecuras escandalosas.<br />
Não é de hoje, não é de ontem, não sei é até quando, mas ainda<br />
tenho esperança em que a justiça e a vergonha desçam à Terra.<br />
Isto vem a propósito de uma situação que me foi relatada como<br />
segue:<br />
Os gestores desse tipo de empresas são eleitos em assembleiasgerais<br />
em que o Estado se faz representar e com um peso grande<br />
nas decisões. Os gestores são eleitos para mandatos normalmente<br />
de 3 anos. E são usualmente recrutados entre os “barões” dos<br />
principais partidos políticos que têm uma “bolsa” de emprego bem<br />
recheada de pessoas muito válidas e também com pouca ou nenhuma<br />
qualidade. No fim dos mandatos, naturalmente eles são<br />
reconduzidos ou são substituídos, consoante as correntes partidárias<br />
estão no poder ou passam à oposição. Pouco interessa a análise<br />
das performances alcançadas. Mesmo assim eles são sempre<br />
os mesmos. Só mudam é de empresa ou de lugar na mesma empresa.<br />
Há uma espécie de acordo tácito entre as várias correntes<br />
políticas nesse sentido.<br />
Quando o eng. Guterres decidiu abandonar o barco português<br />
para se dedicar à política internacional socialista, a coligação PSD/<br />
PP conquistou as rédeas do poder. Daí que, na altura, a classe dos<br />
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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
gestores públicos se tenha agitado a pensar no seu futuro…desenhando-se<br />
logo uma onda de solidariedade pessoal/institucional.<br />
Alguém falou em solidariedade social? Claro que essa é para os<br />
carenciados, cada vez mais carenciados…<br />
Um desses gestores estava a escassos, repito, escassos meses do<br />
fim do mandato e seria daqueles que não sobreviveria à mudança<br />
de rumo político do País. Ele pertencia ao clube de Guterres e tinha<br />
sido “recrutado” para as funções por um ex-ministro socialista,<br />
agora presidente da empresa.<br />
Foi então que a solidariedade partidária funcionou. Como?<br />
Antes que o mandato chegasse ao fim, e o gestor sairia de mãos<br />
a abanar, o seu correligionário “despediu-o” com direito, naturalmente<br />
a ser indemnizado. Com quanto? Umas migalhas de cerca<br />
de 800.000 euros… E quando me relatavam essa situação logo<br />
outrem, que estava por dentro da situação, referiu que havia outra<br />
situação idêntica na mesma empresa em que outro gestor recebeu<br />
“apenas” cerca de 2.400.000 mais o carro…<br />
E nós perguntamo-nos: em nome de quê? Da democracia, não! Da<br />
transparência, nunca! Da competência, quem diria! Da solidariedade<br />
política, isso sim! E bastou.<br />
Finalmente fiz umas pequenas contas para saber: quantos portugueses<br />
da classe média conseguirão ganhar durante toda uma<br />
vida de trabalho esses € 800.000 ou os mais de 2 milhões de €?<br />
Cada um também as pode fazer.<br />
Será que ninguém quer saber destas pequenas coisas do nosso dia<br />
a dia?<br />
E depois não há dinheiro para apetrechar escolas e hospitais…Pois<br />
é! Ele não chega para tantos desmandos…”Quousque tandem…”<br />
Publicado no jornal Soberania do Povo de 2/04 /2004
áGueda eM PasseIo<br />
A ANATA organizou recentemente um passeio para as bandas do<br />
sul, em que incluiu Sintra, Cascais, Aveiras, Tomar e Fátima, a que<br />
aderiram umas 60 pessoas, todas imbuídas do espírito eterno da<br />
Águeda a Linda.<br />
Por esse motivo, foram feitos convites a aguedenses residentes na<br />
Capital do ex-Império que se associaram gostosamente a essa jornada<br />
de confraternização também, e essencialmente gastronómica,<br />
através de um almoço que teve lugar numa magnífica Quinta<br />
em Aveiras de Cima, propriedade de um aguedense de sucesso<br />
- à custa de muito trabalho, certamente - que é o José Henriques<br />
da Silva, do Sardão. Ele e sua Mulher foram uns excepcionais anfitriões.<br />
Também eu quis marcar presença e devo dizer que me não arrependi<br />
de ter trocado o meu passeio/conversa dominical no CIF<br />
pela estrada que percorri para chegar a esse local bem aprazível,<br />
a que não faltava sol nem a sombra necessária ao repasto. Antes<br />
pelo contrário!<br />
Em regime de pic-nic de que já tinha tantas saudades (como o<br />
tempo voa...), lá se comeu do bom e do melhor (os rojões...) que<br />
se “fabrica” (não é afinal Águeda uma floresta de fábricas autênticas?)<br />
na nossa Terra. E bebeu a “pinga” que sabe a qualquer coisa<br />
de muito especial (com que me delicio no Ribeirinho quando vou<br />
a Águeda)... E os doces?...Os seus ataques variados ao estômago<br />
até pareciam feitos de sensações de prazer há muito desejadas.<br />
Eram todos excelentes porque feitos por mãos carinhosas e sábias<br />
que seguiram as receitas caseiras de datas já distantes: era a aletria<br />
que o António Sucena dizia que era receita de minha avó Elisa,<br />
era a barriga de freira, era o arroz doce, era o pão de ló, eram os<br />
sequilhos, eram... Tudo era muito bom e, curiosamente, graças a<br />
Deus, nem sequer deixaram sequelas... a não ser saudades.<br />
60
61<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
O Silva Pinto foi um autêntico “maestro”, com uma voz que bem<br />
poderia passar em S. Carlos. Os seus dotes de “cavador” (agora<br />
que ninguém quer trabalhar a terra) ficaram bem demonstrados<br />
na plantação de uma árvore a significarem que a ANATA não morrerá.<br />
O “fadista” viola veio recordar-me os tempos de Coimbra e<br />
a voz do António Bernardino de Ois da Ribeira... A Luciana parece<br />
que cada vez está mais nova... é uma autêntica força da natureza.<br />
Enfim, uma jornada muito agradável que me leva a agradecer os<br />
mimos gastronómicos que me deliciaram e a felicitar a ANATA pelo<br />
êxito alcançado.<br />
Quando se diz que a sociedade anda tão deprimida, só se fala em<br />
desgraças, em pedofilia, em ataques terroristas, em dúvidas sobre<br />
o Euro 2004, que se pense também que ainda há coisas boas entre<br />
nós – a amizade, a fraternidade, a saudade e a esperança num<br />
futuro melhor em paz.<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” em 16/04/2004<br />
A Direcção da ANATA - 2007
o desPorto antes e dePoIs do 25 de abrIl<br />
Eu deixei a Direcção Geral dos Desportos e a Inspecção Nacional<br />
do Desporto Universitário em Agosto de 1973. Tinha sucedido na<br />
DGD ao Dr. Valadão Chagas, em 1963.<br />
Fiz parte dos órgãos sociais da Federação Internacional do Desporto<br />
Universitário (FISU) de 1955 a 1973 (Portugal só voltou a<br />
estar representado no seu Comité Executivo 30 anos depois), tendo<br />
o Ministério da Educação promovido o meu saneamento dessas<br />
funções, logo após a Revolução de Abril. O Estado português nunca<br />
quis servir-se da minha experiência desportiva internacional e<br />
nacional para o que quer que fosse até hoje...<br />
Não obstante isso, já depois de Abril, fui eleito presidente da Federação<br />
Portuguesa de Ténis e dirigente da Federação Portuguesa de<br />
Basquetebol e Associação de Ténis de Lisboa. E a FISU atribuiu-me,<br />
em 1997, a categoria de Membro Honorário.<br />
Daí que tenha continuado a acompanhar o fenómeno desportivo,<br />
agora já não tanto por dentro, como antes de Abril, mas sempre<br />
interessadamente. Vou aos jogos de futebol, em especial, no Restelo<br />
e acompanho a Sport TV assiduamente.<br />
E tenho assistido ao deturpar da história recente com grande perplexidade<br />
e alguma tristeza. É que as mentiras de tanto repetidas<br />
passam a ser verdades... Como foi o caso, por exemplo, do Eusébio<br />
dizer, ou alguém dizer por ele, que o Conselho de Ministros presidido<br />
por Salazar o tinha considerado património nacional para o<br />
impedir de se transferir para o estrangeiro..., que a selecção de futebol,<br />
em 1966, tinha feito a viagem de Manchester para Londres,<br />
de autocarro... (viemos todos num excelente combóio).<br />
Em 1973, o Desporto nacional era, no seu todo, subsidiado<br />
pelo Estado (DGD-FFD) com 68 mil contos ou seja, ao câmbio<br />
de hoje, cerca de 3 milhões de contos. Hoje, esse número<br />
atinge, certamente, muitos mais milhões. O que significa que<br />
62
63<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
é possível fazerem-se muitas mais coisas. Nos anos ’60, com<br />
o advento dos dinheiros do Totobola, a política era a de se<br />
construírem instalações desportivas modestas, mas operacionais<br />
para a prática desportiva, sem preocupações com as<br />
necessidades do desporto-espectáculo. Foi o caso das largas<br />
dezenas de pavilhões gimnodesportivos e dos tanques de<br />
aprendizagem de natação construídos nas escolas ou junto<br />
às escolas. Considero um desastre a interrupção dessa política.<br />
Hoje, a grande preocupação é a de se construírem infra estruturas<br />
para a comodidade dos atletas (tudo bem) e do público,<br />
o supérfluo. As largas somas investidas têm um reprodutividade<br />
limitada.<br />
O Estado descura a sua obrigação de facultar instalações mínimas<br />
às Escolas e, por outro lado, consome largos recursos<br />
em actividades e eventos que têm mais a ver com o espectáculo,<br />
o efémero. O Desporto Escolar parece que só agora<br />
entrou na agenda política. Ainda bem. Sem desporto escolar<br />
não há verdadeiramente desporto nacional (disse-o em<br />
7/5/1963).<br />
Em termos de dirigentes sempre houve e continua a haver muitos e<br />
bons, só que os tempos mudaram e, agora, também, muitos deles<br />
pensam, legitimamente aliás (a vida está difícil) em compensações.<br />
O dirigismo, presentemente, está muito profissionalizado, em<br />
detrimento da carolice. Para o bem? Talvez.<br />
Vejamos o sector da arbitragem. Antes, esse sector era independente<br />
das Federações e tinha autonomia. As Comissões de árbitros<br />
tinham representantes das Federações e dos próprios árbitros e<br />
eram presididas por alguém designado pela DGD. Está-se agora<br />
melhor com o actual sistema? Parece que não, a avaliar pelo que<br />
a PJ está a fazer. Reconheço que tenho saudades do tempo do Eng.<br />
Sousa Loureiro que deve estar tão triste quanto eu por ver a arbitragem<br />
abrir os tele-jornais.<br />
Em termos de atletas, a alta competição passou a ser o grande<br />
objectivo, com um profissionalismo escandaloso, deixando-se para<br />
segundo plano o amadorismo que existia antes. Mesmo o anterior<br />
profissionalismo corresponderia ao amadorismo de hoje. Quem<br />
bem o pode dizer é o Eusébio.
No caso do atletismo, por exemplo, houve uma estratégia delineada<br />
pela DGD, em finais dos anos ’60, que foi a de se investir no<br />
fundo e meio fundo. Os resultados falaram por si, e de que maneira,<br />
logo a médio prazo!<br />
No ténis, por exemplo, há muitos mais praticantes em termos de<br />
lazer. E na alta competição o panorama é fraco, não obstante o<br />
esforço do João Lagos em trazer grandes eventos para Portugal<br />
que deveriam despertar ambições... Mas não. Ao fim de 15 anos<br />
de Open do Estoril, o que ficou? Uma série de jornadas tenísticas<br />
de bastante nível (não tanto como o do Open de Portugal de 1983,<br />
em que a final foi disputada pelos n os 2 e 5 do mundo – Willander<br />
e Y. Noha – e não como recentemente, em que a final já não é<br />
disputada, normalmente, por jogadores de topo, com custos elevadíssimos<br />
e que de muito positivo tem a ver com a feira de vaidades<br />
que se passeia pelas tendas... Mas há quem aprecie e promova<br />
mediaticamente esse tipo de actividade “desportiva”.<br />
Em termos de agentes de ensino tem de se reconhecer uma evolução<br />
enorme, a todos os níveis. Desde logo, no número de licenciados,<br />
mestres e doutores. Diria porém que gostaria de os ver a<br />
todos mais no campo do que nos gabinetes...<br />
Em resumo, do antes para o depois houve muitas melhorias no<br />
panorama desportivo nacional. O que é absolutamente natural,<br />
até por consequência da adesão à EU, com bateladas de dinheiro a<br />
entrarem nos cofres portugueses. Porém, fica no ar uma interrogação:<br />
com os volumes de dinheiros que foram afectados ao Desporto<br />
nos últimos 30 anos, será que não teria sido possível fazer muito<br />
mais e muito melhor? Os estudiosos do tema têm a palavra.<br />
Eu acredito no futuro que está nas mãos dos nossos jovens desportistas<br />
a quem saúdo.<br />
Este texto foi escrito a pedido do jornalista Norberto Santos, do Record,<br />
tendo o jornal aproveitado apenas a parte que está a “bold” e em itálico<br />
(25/04/2004 - pág. 29)<br />
64
65<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
cIentIsta PortuGuês a trabalhar eM PortuGal<br />
Assisti há dias à comemoração do aniversário da Delegação do<br />
Porto da Cruz Vermelha Portuguesa que teve lugar no Museu Soares<br />
dos Reis, instituição que honra o Porto mas que se projecta<br />
para além da Invicta, dado o notável acervo de obras artísticas<br />
que expõe. Aconselho vivamente uma visita para quem aprecia a<br />
Cultura.<br />
Por esse motivo, tive ocasião de abraçar um velho (sou eu) amigo<br />
das lides académicas coimbrãs, agora Presidente da CVP, o Dr. José<br />
Luís Nogueira de Brito. Também lá encontrei a campeoníssima<br />
Rosa Mota, sempre franzina e modesta, mas uma grande Mulher<br />
que conversa tão bem quanto corre a maratona...<br />
Mas, acima de tudo, tive o privilégio de escutar uma lição do Prof.<br />
Doutor Sobrinho Simões, renomado cientista internacional que<br />
trabalha presentemente no Porto em dedicação exclusiva à investigação.<br />
Nem tudo é mau, afinal, no nosso País!<br />
O tema desenvolvido focava “A Medicina no Século XXI”.<br />
Para além do encanto irradiado pelo ilustre Professor, à laia de<br />
conversa terra a terra, com explicações e diapositivos simples e<br />
compreensíveis por leigos como eu, sobre genoma, ADN, etc., registei<br />
algumas passagens, tais como:<br />
• A medicina enfrenta hoje dois grandes problemas, a saber, o<br />
erro e o conflito de interesses, os mais variados.<br />
• Ao contrário do que alguns intitulados “pedagogos” apregoam,<br />
deve utilizar-se a memória. Mais, a memória deve ser musculada.<br />
• Deve pôr-se uma forte ênfase na prevenção da doença.<br />
• Está na ordem do dia a patologia do envelhecimento.<br />
A comunicação terminou com a enunciação dos grandes desafios<br />
que hoje se colocam à Medicina:<br />
• CURAR – onde se tem obtido grandes progressos;
• PREVENIR – começa a dar-se atenção ao tema;<br />
• CUIDAR – a problemática da 3ª idade está pouco tratada.<br />
Enfim, uma sessão que foi um encanto que até contou com a música<br />
alegre e bem disposta da Tuna do Instituto Superior de Engenharia<br />
do Porto.<br />
Parabéns à Cruz Vermelha Portuguesa, pela obra notável que tem<br />
vindo a desenvolver, há mais de 100 anos.<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” em 07/05/2004<br />
66
vasco PInto de MaGalhães *<br />
67<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
O Estádio Universitário de Lisboa foi inaugurado pelo Ministro Leite<br />
Pinto, em 1956. Já lá vão quase 50 anos.<br />
Ao General Jorge Oom, esgrimista internacional de mérito e primeiro<br />
Inspector do Desporto Universitário, sucedeu o Eng. Vasco<br />
Pinto de Magalhães, rugbista de reconhecida categoria.<br />
Tratava-se de um desportista de excelente fibra, que não era nada<br />
meigo em jogo, a que aliava preocupações didácticas que muito<br />
o marcaram.<br />
Viveu, com o Eng. Nobre Guedes, o espírito olímpico de Pierre de<br />
Coubertain na teoria e na prática.<br />
Era um daqueles que sabia o que queria. E que realizava. E que<br />
deixou obra feita para ficar, como está aqui bem patente.<br />
Foi ele que idealizou e criou o CDUL, um clube que, para além<br />
de ser uma escola de formação, pudesse acolher todos aqueles<br />
estudantes que se distinguissem nas práticas desportivas. Nem que<br />
para tanto tivesse que lutar por uma regulamentação que permitisse<br />
a transferência de atletas consagrados que militassem noutros,<br />
mesmo que grandes, clubes. Ainda estará na memória de uns tantos<br />
esse período agitado.<br />
O CDUL foi mais um dos seus filhos que ainda hoje marca posição<br />
de relevo no desporto. E que até já festejou as suas bodas de ouro,<br />
através de um percurso certamente nem sempre fácil para os seus<br />
dirigentes.<br />
Nessa altura, punha-se-lhe um problema de difícil solução: as instalações<br />
para o CDUL desenvolver a sua actividade.<br />
Foi aí que, uma vez mais, Vasco Pinto de Magalhães pensou grande.<br />
E lutou pela construção de um verdadeiro estádio universitário,<br />
numa altura em que o Estado apostava na criação de instalações<br />
modernas para as Universidades. Foi em Coimbra, foi no Porto e,<br />
naturalmente, também em Lisboa. Aqui, onde existia o bairro da
lata da Quinta da Calçada. Por feliz coincidência, o Eng. Vasco<br />
Pinto de Magalhães tinha uma relação privilegiada com o então<br />
Subsecretário de Estado das Obras Públicas, Eng. Alberto Saraiva e<br />
Sousa, felizmente aqui entre nós.<br />
Daí que, o chegar ao grande Ministro dos anos 50 que foi o Eng.<br />
Arantes e Oliveira, tenha sido um pequeno passo.<br />
O Ministro apadrinhou o projecto e não regateou meios para que<br />
Lisboa, Porto e Coimbra fossem dotados dos seus estádios universitários<br />
que, ainda hoje, cumprem a sua missão.<br />
Na altura, a vida profissional do Eng. Vasco Pinto de Magalhães<br />
era muito intensa, com frequentes deslocações a Angola, mas ele<br />
sabia escolher os seus colaboradores. No caso em apreço, um deles<br />
acompanhava o dia a dia do projecto que foi tomando corpo<br />
até ao dia em que o Ministro da Educação Nacional inaugurou<br />
estas magníficas instalações para os desportistas universitários lisboetas.<br />
Por aqui têm passado milhares de universitários, e não só, que<br />
pela vida fora não esquecem certamente os bons momentos vividos<br />
em treinos, competições e simples lazer. Não é verdade Prof.<br />
Pedro Lynce? Coube mesmo a um desses atletas - Cavaco Silva - ,<br />
então já na qualidade de Primeiro-Ministro, proporcionar os meios<br />
para a recuperação integral deste Estádio.<br />
O Desporto Universitário, acima de tudo, deve ser uma fonte de<br />
saúde, de civismo e de democracia. Como é sabido as regras de<br />
jogo são iguais para todos. E, se os governantes tiverem passado<br />
por essa Escola competitiva, tanto melhor. Não esqueçamos que os<br />
estudantes de hoje serão os dirigentes de amanhã. E quanto mais<br />
bem formados eles forem, tanto melhor para Portugal.<br />
O Eng. Vasco Pinto de Magalhães legou um projecto que nunca<br />
estará acabado. A Família, a quem saudamos respeitosamente, os<br />
seus muitos pupilos e os que foram seus amigos bem o sabem.<br />
Em nome do Governo, OBRIGADO, Eng. VASCO PINTO DE MA-<br />
GALHÃES.<br />
* Elementos para a homenagem ao Eng. Vasco Pinto de Magalhães,<br />
no Estádio Universitário de Lisboa, em 10/06/2004<br />
68
o euro 2004 eM áGueda<br />
69<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
Há anos atrás, alguém disse no Parlamento: Águeda é o País!<br />
Virada a página do século XX, mais precisamente no passado sábado,<br />
Águeda encarnou o País.<br />
Na verdade, devem ter sido milhões os telespectadores que viram<br />
e reviram imagens do jogo treino da selecção nacional de futebol<br />
contra a selecção do Luxemburgo, tendo como pano de fundo a<br />
cidade de Águeda centrada, no caso, no seu bonito e funcional<br />
estádio.<br />
Foi a primeira vez que a equipa das quinas pisou um campo de<br />
futebol em Águeda. O que ficará a marcar a história do desporto<br />
aguedense.<br />
Na impossibilidade de assistir pessoalmente, como bem gostaria,<br />
também estive pregado à televisão para ver em acção os nossos<br />
artistas da bola. Eles são, todos eles são, na verdade muito bons<br />
executantes. Quando querem e estão inspirados, eles enchem o<br />
olho mesmo dos que dizem que não gostam de futebol.<br />
E em Águeda gostei de os ver em acção, especialmente na 1ª<br />
parte, antes da avalanche de substituições que este tipo de jogos<br />
proporciona, para que o seleccionador possa afinar a estratégia e<br />
melhor conhecer os jogadores.<br />
As gentes de Águeda, que tiveram o privilégio de estar presentes<br />
no Estádio, em dia primaveril, devem ter tido uma tarde em cheio,<br />
até porque Portugal ganhou, aliás, com todo o mérito.<br />
Na minha idade, este tipo de acontecimentos traz-me à recordação,<br />
naturalmente, outros eventos também relevantes. Não posso<br />
deixar de lembrar os “magriços” de 1966 cuja saga vivi por dentro.<br />
Eles obtiveram, até hoje, a melhor classificação de sempre em<br />
campeonatos do Mundo. Como não os recordar agora que estamos<br />
numa caminhada rumo à vitória no EURO?<br />
Não vai ser nada fácil, embora tenhamos valor para alcançar essa
meta. Scolari é apenas um treinador campeão do mundo. Isso<br />
diz tudo. Só é pena que ele não tenha disposto dos jogadores em<br />
pleno durante mais tempo. Todos eles são do melhor que há no<br />
mundo, mas eles têm de jogar em equipa. E uma equipa não se<br />
afina em escassas 2/3 semanas... Lembro que para Londres’66, a<br />
dupla Luz Afonso e Otto Glória tiveram todos os jogadores à disposição<br />
durante 2 meses.<br />
E porque não lembrar também esse grande Hernâni, da Venda<br />
Nova, que passeou a sua classe pelo mundo fora, ao serviço da<br />
selecção nacional? Os tempos são outros e Águeda não tem hoje<br />
um sucessor à altura. Mas há-de vir a ter, se Deus quiser.<br />
Em compensação tive o grato prazer de ver na televisão um aguedense<br />
também equipado, junto da selecção, este na qualidade de<br />
assessor de imprensa – cargo muito delicado e de grande responsabilidade<br />
– de que se há-de sair bem. Força Afonso de Melo.<br />
Por Filipe Scolari, por todos os jogadores e por Gilberto Madaíl,<br />
com todos os portugueses que amam a sua Pátria, eu vou fazer<br />
força do princípio ao fim do campeonato.<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” em 04/06/2004<br />
Figo, no Euro 2004 em Águeda<br />
70
aPaGar MeMórIas<br />
71<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
Nem de propósito. Li na última Soberania uma nota de CV sobre o<br />
apagar de memórias em que é referido o querido amigo Horácio<br />
Marçal, a propósito da retirada da placa de inauguração do estádio<br />
de Águeda, cerimónia a que presidira como Governador Civil.<br />
E não é que verifiquei o mesmo no estádio universitário de Lisboa,<br />
quando fui assistir, no dia 10 de Junho, ao jogo de rugby entre a<br />
selecção nacional e os Barbarians?<br />
E resolvi, então, escrever ao actual director daquele estádio a seguinte<br />
carta:<br />
Meu caro João Roquette,<br />
Tenho por hábito não voltar amiúde aos locais onde exerci funções<br />
de direcção. Mantenho, porém, laços sentimentais muito profundos<br />
com aqueles que foram meus colaboradores activos. E guardo deles<br />
a memória do que fizemos juntos.<br />
Assim, ao longo dos tempos, várias vezes fui ao EUL mas ficava-me<br />
pelo edifício do Centro de Medicina Desportiva para aí ser atendido<br />
pelos excelentes médicos e fisioterapeutas que me tratavam das maleitas<br />
que a prática do ténis me provocava.<br />
E fui uma vez apenas à tribuna de honra do EUL, já depois das<br />
obras de beneficiação estarem concluídas, durante o Campeonato<br />
do Mundo de Juniores de Atletismo, nos anos ‘90. Fui lá para dar<br />
um abraço ao meu querido amigo Primo Nebiolo que era ao tempo<br />
presidente da IAAF.<br />
A convite da Federação Portuguesa de Rugby, voltei lá agora para<br />
assistir às comemorações do seu aniversário. E tive tempo para olhar<br />
as paredes do edifício principal do estádio, tendo reparado que havia<br />
nelas algumas placas.<br />
Mas não estava lá, nem mais nem menos do que a placa alusiva à<br />
inauguração do EUL, em 1956. pelo Ministro da Educação, Profes
sor Leite Pinto. Naturalmente, fiquei triste com esse apagar memórias<br />
porque isso ofende a história e a identidade comum.<br />
Calculo que nas obras de beneficiação a que aludi tenha sido necessário<br />
retirar a placa. Mas onde está ela? O director do estádio,<br />
ao tempo, ficou indiferente a esse gesto? Se o fez deliberadamente<br />
não merece o meu respeito. Se isso sucedeu por distracção desse<br />
director, ele não merecia ocupar o lugar.<br />
Caro Amigo,<br />
Daqui me permito sugerir que mande repor a placa que, ou está<br />
guardada numa arrecadação, ou foi no entulho das obras. Faça<br />
justiça agora, ainda que tarde.<br />
A história deve corresponder só e apenas à VERDADE.<br />
Um abraço amigo do<br />
Armando Rocha<br />
Nota: O meu nome também foi riscado do Pavilhão Gimnodesportivo<br />
de Valença, a seguir à revolução de Abril. Quem o fez certamente<br />
que ficou feliz e a mim não me fez diferença...<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” em 18/06/2004<br />
72
a verdade veM ao de cIMa?<br />
73<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
Estive há dias num casamento em Albufeira que começou pelas<br />
16h e se foi prolongando noite dentro.<br />
Houve, assim, muito tempo para conversas com pessoas simpáticas<br />
mais ou menos conhecidas. Entre elas, estavam dois antigos<br />
Ministros de áreas políticas diferentes, mas com quem se podem<br />
abordar os mais variados temas políticos civilizadamente.<br />
Falou-se bastante dos tempos revolucionários de Abril em que se<br />
evidenciaram as várias perspectivas de abordagem do assunto.<br />
Numa coisa se estava de acordo: a degradação da vida política<br />
portuguesa.<br />
Falou-se, por exemplo, no caso dos alunos que frequentavam o<br />
Instituto Superior Técnico e que logo de início se mostravam incapazes<br />
de vencer a matemática que se lhes deparava, a ponto<br />
de começarem a “patinar”. Daí até à desistência do curso era um<br />
pequeno passo. E então apareciam os “pescadores” dos partidos<br />
políticos, todos eles, a aproveitar a maré e a levá-los para uma<br />
carreira política, sem grande necessidade de estudo.<br />
Certamente que o mesmo se passaria noutras Escolas. E o resultado<br />
está já à vista. A classe política, onde pontificaram nomes como<br />
Álvaro Cunhal, Sá Carneiro, Amaro da Costa, Vital Moreira, Veiga<br />
Simão, entre outros, é hoje uma sombra do que gostaríamos de ter<br />
a comandar os destinos do País.<br />
E cada vez será pior, não se tenha dúvidas. Não me referindo já aos<br />
homens de carácter que começam a contar-se com dificuldade.<br />
Há episódios da vida de conhecidos políticos que envergonham<br />
quem alguma vez neles votou, mesmo a coberto de anonimato<br />
partidário. Para bem deles, oxalá esses episódios só continuem no<br />
conhecimento de uns tantos “amigos”.<br />
Uma das figuras que veio à baila foi o Torres Campos que foi director<br />
geral dos Serviços Industriais, no governo de Marcello Caetano
e procurador à Câmara Corporativa, durante a Ditadura. A propósito<br />
de quê? Um dos presentes, antigo governante (anti-salazarista<br />
de sempre) e gestor de empresas privadas de sucesso, a propósito<br />
da falta de carácter de algumas pessoas, contou que em Julho<br />
de 1974 tinha sido convidado pelo Torres Campos, Secretário de<br />
Estado da Indústria, no governo de Vasco Gonçalves, para assumir<br />
a administração de uma delas com a intenção de dela sanear um<br />
colega engenheiro (João Paulo Castelo Branco) que lá se encontrava<br />
há algum tempo. Esse convite foi de imediato rejeitado. Porquê?<br />
Porque o gestor em causa era e é um homem de carácter, sério e<br />
competente.<br />
O interessante nesta história é que, conforme escrevi no livro que<br />
publiquei, Memória (pág. 211), o Torres Campos me dissera em<br />
1995 que ele próprio tinha procurado salvar de ser saneado precisamente<br />
o eng. João Paulo Castelo Branco... que, aliás, já me<br />
tinha desmentido a versão do político que chegou a ser governo<br />
e administrador de empresas públicas de enorme peso na sociedade...<br />
Comentários para quê?<br />
Ainda a propósito, li há tempos na revista Science (Março 2001)<br />
e recentemente na Visão (Fevereiro’2004) que o político Mariano<br />
Gago estava exilado em Paris aquando do 25 de Abril e que, segundo<br />
ele, se não podia ensinar Psicologia no tempo de Salazar.<br />
Ora bem!. Esse senhor - que chegou a ser ministro de Guterres<br />
- estava nessa altura em Paris pela simples razão de que era bolseiro<br />
do Instituto de Alta Cultura (a que se juntava o salário de<br />
assistente no I.S.T.), no tempo em que Veiga Simão foi Ministro da<br />
Educação Nacional.<br />
Não consta que a Ditadura concedesse bolsas de estudo (de valor<br />
apreciável) para as pessoas se exilarem... Além de que até funcionava<br />
ao tempo o Instituto Superior de Psicologia Aplicada...<br />
Onde está afinal a noção de carácter desses ditos democratas dissimulados<br />
que por aí se pavoneiam e enriquecem à custa do Povo?<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” em 06/08/2004<br />
74
75<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
MIlhões Para vIaGens<br />
na asseMbleIa da rePúblIca<br />
É o tempo de se prepararem os orçamentos para 2005 nas empresas,<br />
no Estado e na Assembleia da República, os quais, para o bem<br />
e para o mal, se virão a reflectir no bolso de cada um de nós.<br />
Uma coisa é certa: quanto mais o Estado gastar, mais a população<br />
tem de pagar em impostos e em maus serviços por ele prestados.<br />
É notório o esforço que tem vindo a ser feito por alguns governantes,<br />
e que se louva, para inverter a situação em que o País caiu com<br />
tanto despesismo - nem sequer reprodutivo.<br />
Porém, começam a surgir sinais que me deixam preocupado. Um<br />
deles decorre da leitura que fiz num recente número do Diário de<br />
Notícias que escreveu a toda a largura da página: Assembleia<br />
vai gastar 2,2 milhões de euros em visitas ao estrangeiro.<br />
Não dá para acreditar! Então a contenção orçamental tem de ser<br />
feita apenas pelo Governo e pelas Famílias? E pela Assembleia da<br />
República, não?<br />
Para além disso, a imprensa diária tem vindo a referir que os deputados<br />
podem desdobrar os bilhetes de avião de forma a, com uma<br />
passagem de 1ª classe, poderem viajar 2 pessoas em turística. É a<br />
esposa, é o médico, é o amigo... acompanhante de idosos e não<br />
idosos... Enfim um fartote.<br />
Será que não ficaria bem aos deputados reconhecerem que também<br />
eles têm de fazer alguns sacrifícios e passarem a viajar na<br />
Europa (viagens de menos de 3 horas) em turística?<br />
Ficava-lhes bem e essa atitude até ajudava a melhorarem a imagem<br />
que têm perante a população, tão em baixo ela anda.<br />
Para além de que deve haver alguns deputados que fizeram o seu<br />
baptismo de vôo nessa qualidade. Estarei enganado? Nesses casos,<br />
não sabem nem saberão o que custa a vida... a não ser quando<br />
forem desalojados do parlamento.<br />
Acreditem que quem não faz sacrifícios não tem autoridade moral
para os pedir aos que pagam os seus impostos e sofrem no dia a<br />
dia as dificuldades de manter com dignidade uma família.<br />
Não pretendo aqui analisar o mérito das viagens dos parlamentares.<br />
Mas o certo é que se desconhece a razão por que há tantos<br />
deles a viajar e outro tanto se desconhece a utilidade de muitas<br />
dessas viagens, para além do encanto das visitas a outras terras e<br />
outras gentes.<br />
Pensem em reduzir drasticamente o número de viajantes e de missões,<br />
limitando-as ao essencialmente necessário para o País. Ponham<br />
de lado o apregoado prestígio do País que tanto despesismo<br />
tem gerado! Prestígio são as medalhas dos Jogos Olímpicos!<br />
Mas pensem nisto, de alto a baixo.<br />
Em termos de viagens presidenciais então, a partir do Dr. Soares, é<br />
ver quem mais quilómetros faz por esse mundo fora...<br />
Não resisto a reflectir ainda sobre o caso de um ex-Primeiro-Ministro<br />
que declarava mesmo que o seu maior prazer era o de viajar!<br />
E, então, orientou a sua vida nesse sentido! Abandonou o barco a<br />
meio do mandato, “encaixou-se” na Caixa como assessor (figura<br />
que dá para tudo e mais alguma coisa) para receber um alto salário<br />
e aí vai ele através da Internacional Socialista por esse mundo<br />
fora... Seria interessante saber quantos dias de trabalho efectivo o<br />
Eng. Guterres dá à Caixa por ano! Ou será que a I.S. tem a faculdade<br />
de poder ter como “destacado” ou em comissão de serviço<br />
esse alto funcionário?<br />
E, como nesta nossa terra já tudo é possível, também não se poderá<br />
estranhar que um conhecido fundador do CDS, agora convertido<br />
à “esquerda” se tenha “galpelizado”, até porque a idade da<br />
reforma começa a espreitar...<br />
Continuo a dizer que a política é uma actividade tão nobre como<br />
qualquer outra actividade profissional, mas não se deve esticar a<br />
corda....<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” em 03/09/2004<br />
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77<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
o hIno nacIonal no desPorto<br />
Naturalmente, segui com grande atenção o desenrolar dos Jogos<br />
Olímpicos de Atenas 2004.<br />
Uma vez mais, o mundo assistiu a dois espectáculos de grande<br />
nível cultural, por ocasião das cerimónias de abertura e de encerramento<br />
dos Jogos. Não fosse a Grécia detentora de uma cultura<br />
milenária riquíssima...<br />
Foram eles, na verdade, uma delícia para os nossos olhos que andam<br />
encharcados em “lágrimas” com tantas desgraças que assolam<br />
o mundo e que nos entram diariamente em casa, através das<br />
várias televisões nacionais e estrangeiras.<br />
Em termos de competições, a caixa mágica proporcionou-nos momentos<br />
de rara beleza na ginástica, de grande competitividade nas<br />
modalidades de equipa, no atletismo, na natação (que monstros a<br />
fazerem tempos inimagináveis), na canoagem, etc., etc.. Foi pena<br />
o que se passou com a equipa nacional de futebol, recheada de<br />
estrelas que, talvez pela sua juventude, se tenham esquecido de<br />
que há outras estrelas no mundo... O resultado viu-se: regressaram<br />
a casa mais cedo e sem honra. Mas esperemos que tenham<br />
aprendido a lição, os jogadores e os dirigentes!<br />
As medalhas alcançadas representam muito trabalho e uma fé indomável<br />
só própria de campeões que foram os que as receberam<br />
e aqueles a quem foram atribuídos diplomas de mérito. Parabéns<br />
para esses bravos rapazes.<br />
Não passou despercebida a ninguém a cena do “rapto” feito na<br />
ponta final da maratona ao nosso irmão do Brasil que a poderia<br />
ter vencido, não fosse o tresloucado do irlandês.<br />
E, tanto quanto li, o Vanderley Lima nem sequer se mostrou amargurado<br />
com o facto de ter sido prejudicado na sua classificação. A<br />
sua humildade deve ser realçada tal como a dos nossos Obikwelu,<br />
Sérgio Paulinho e Rui Silva que não precisaram de hotéis de 5 es
trelas como algumas estrelas americanas e se contentaram com o<br />
refeitório da aldeia olímpica, para demonstrar a sua grande classe<br />
mundial. Não esqueço a alegria com que aquele deu a volta ao<br />
Estádio com a nossa bandeira nacional. Ele que nasceu na Nigéria!...<br />
Há sempre, neste tipo de competições de alto rendimento, um pormenor<br />
que me chama a atenção e que é a cerimónia, sempre<br />
digna, do hino que é tocado com a proclamação dos vencedores<br />
das provas.<br />
Como disse atrás fiquei triste com o sucedido na maratona com o<br />
Lima. Mas, Deus é grande: quando se entoava o hino de Itália, a<br />
consagrar o vencedor dessa extenuante prova, era ver o medalhado<br />
com o ouro, Stefano Baldini, cantar o seu hino com uma garra<br />
fora do comum... Via-se que ele sabia a letra do hino e que tinha<br />
boa voz.<br />
Que diferença essa, em relação à maioria dos nossos internacionais<br />
de futebol!... E eles têm tido tantas oportunidades de demonstrar<br />
o seu amor à terra que os viu nascer!... Mas, diga-se, não lhes<br />
deve ser atribuída a culpa. Serão antes os professores, na escola,<br />
que se deverão preocupar com isso? Parece que sim.<br />
Publicado no jornal “Região de Águeda” em 03/09/2004<br />
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79<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
Parabéns... os 77 anos de Idade...<br />
Aos 6 anos de idade, a criança prepara-se para entrar na escola<br />
primária e assim começar uma vida de estudo e de afirmação.<br />
O jornal Região de Águeda afirmou-se logo como adulto. Parabéns<br />
pois ao dinamizador do projecto – um empresário de referência<br />
no difícil e exigente mundo da indústria, o Eng. Adolfo Roque -,<br />
à Direcção e a todos os seus colaboradores, pelo muito que deram<br />
em favor da divulgação cultural, empresarial e desportiva de tudo<br />
o que gira à volta de Águeda que tanto amamos.<br />
Há dias, a lei da vida fez com que completasse mais um ano - já<br />
são 77, que eu procuro levar de consciência tranquila. E resolvi<br />
“convocar” os meus filhos, noras e netos para um encontro familiar,<br />
precisamente na terra que me viu nascer, e que passou pelo<br />
excelente leitão do Vidal...<br />
Aproveitei assim a data para relembrar tempos idos, já que a seguir<br />
à escola do Adro, comecei a peregrinar por Aveiro, Coimbra<br />
e Lisboa.<br />
Quis mostrar aos meus netos, o Diogo e a Mariana, a escola onde<br />
aprendi a ler, escrever e contar com professores exigentes e muito<br />
competentes. A escola agora virou Biblioteca e Junta de Freguesia.<br />
E assisti à missa das 11h30, na igreja matriz, onde há cerca de 70<br />
anos eu, com o Afonso Guerra, ajudávamos monsenhor Bernardino<br />
nas celebrações eucarísticas.<br />
Fui, naturalmente, ao cemitério rezar uma oração pela minha Avó<br />
e pelos meus Pais. E percorri as ruas onde repousam tantos amigos<br />
com quem convivi, mais ou menos esporadicamente, ao longo do<br />
tempo.<br />
Fui ao cais das Laranjeiras recordar um rio onde até se podiam<br />
disputar provas de natação e se podia lavar a roupa (“Povo que<br />
lavas no rio...” escreveu Pedro Homem de Mello) tal a limpidez das
águas. Hoje, mete dó o estado dessas águas. Será que o Homem<br />
não é capaz de modificar esse estado de coisas? Gasta-se tanto dinheiro<br />
em coisas supérfluas... Já se não podem beber as “águas do<br />
Botaréu”. Passei pelo Hospital Conde de Sucena e recordei as figuras<br />
do Senhor Dr. Breda e do Dr. Mateus que, com outros distintos<br />
clínicos, tantas vidas salvaram e fizeram do mesmo um hospital de<br />
referência no País. Passei junto à Câmara Municipal e não pude<br />
deixar de recordar o velho campo de S. Sebastião, onde deram os<br />
primeiros pontapés na bola o Hernâni e o Adolfo... Hoje, o novo<br />
Estádio Municipal dá um ar de modernidade à cidade com o que<br />
nos devemos congratular.<br />
Passei pela Rua de Baixo e demorei-me algum tempo em frente<br />
do local onde o artesão e assumido benfiquista Xico Balreira fazia<br />
prodígios da madeira. E a ele associei a memória do notabilíssimo<br />
pintor João Breda.<br />
De passagem, olhei com desgosto para o local que serviu de sede<br />
ao Orfeão onde actuei no seu Rancho Infantil. Prédio em completa<br />
degradação. Até me pareceu que estava em Lisboa, onde existem<br />
muitos prédios nesse mesmo estado.<br />
Que saudades senti dos pastéis da Gininha do Candeeiro no caminho<br />
para o Palácio da Justiça que o Conselheiro Orlando Gomes<br />
da Costa fez construir em Águeda para substituir instalações muito<br />
degradadas ao tempo e que não prestigiavam a Justiça! Obrigado<br />
Orlando.<br />
Era lá que se situava a muito conceituada Escola Técnica que tantos<br />
profissionais competentíssimos “produziu”. Hoje, há mais escolas<br />
secundárias. Sinal de progresso. Só espero que o seu nível seja<br />
conforme as necessidades do exigente mercado de trabalho.<br />
Águeda sempre marcou pontos no mapa industrial português. Valente<br />
de Almeida, Silva & Irmão, etc., etc. não podem ser esquecidos.<br />
Mas hoje, basta dar uma volta pelo raso de Paredes, Assequins,<br />
Vale de Grou, para se ver a pujança do sector. Pode dizer-se<br />
que, em Águeda, se faz de tudo para uma casa. E eu sempre fiz<br />
questão de ter em minhas casas os materiais made in Águeda que<br />
mostro com orgulho aos que me visitam.<br />
Dizer que gostava mais da Águeda do meu tempo do que da de<br />
agora não digo. Mas que tenho saudades dela, lá isso tenho.<br />
Continuam os aguedenses a ser essencialmente individualistas?<br />
80
81<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
Isso não pode dar bons frutos. Há quanto tempo não há um Presidente<br />
da Câmara, de Águeda? Sem que isso desmereça quem devotadamente<br />
exerce as funções. Longe de mim esse sentimento.<br />
Publicado no jornal “Região de Águeda” de 29/10/2004
a Morte de uM líder - yasser arafat<br />
O Mundo assistiu à agonia de um líder que muito se distinguiu nas<br />
lutas, terroristas e diplomáticas, por um Estado independente – a<br />
Palestina. A comunicação social dedicou horas e horas, em especial<br />
a realçar as virtudes do cidadão, não sem deixar de aflorar uma ou<br />
outra mancha devida às actividades terroristas, a que também se<br />
dedicou. Uma coisa é a luta democrática em que vale quase tudo<br />
desde a argumentação mais ou menos séria até à própria mentira.<br />
Pode não se concordar com isso, mas é assim mesmo. Outra coisa<br />
é lutar-se com tiros, desvio de aviões e bombas que atinjam inocentes<br />
quer se trate de crianças quer de adultos.<br />
Sem querer entrar na discussão do que é legítimo ou não é, em<br />
termos de luta pelo poder, designadamente por uma independência,<br />
confesso que detesto a luta armada onde quer que ela se pratique,<br />
a não ser em defesa dos sagrados interesses da Pátria.<br />
Pois bem. Morreu Yasser Arafat que eu vi de perto.<br />
Sentados na tribuna do Estádio Lenine, em Moscovo, em 1973,<br />
a assistirmos à cerimónia de inauguração da Universíada (Jogos<br />
Mundiais Universitários), ficamos a 1m de distância conforme se<br />
vê na foto junta. Ele não falou com ninguém à sua volta a não ser<br />
com o seu assessor (ao seu lado). Aparentava ser o mais pacífico<br />
dos cidadãos.<br />
Da outra vez que dei pela sua “presença”, estava eu no apartamento<br />
da Delegação portuguesa na Aldeia Olímpica de Munique,<br />
nos Jogos de 1972, que ficava a uns 50 m do apartamento da Delegação<br />
israelita. E assisti, por fora, ao desenrolar do drama que<br />
levou ao assassínio de uma dúzia de atletas de Israel e a que se<br />
associou, na altura, o braço do agora celebrado falecido.<br />
Não mais esqueci essas imagens. Que Arafat descanse em Paz.<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 26/11/2004<br />
82
83<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
Arafat na Universíada de Moscovo - 1973
a toMada da bastIlha<br />
Em 25 de Novembro de 1920, um grupo de bravos estudantes de<br />
Coimbra tomou de assalto a Casa dos Lentes, em plena Alta da<br />
cidade, e dela fez a sede da Associação Académica de que tenho<br />
gratas recordações.<br />
Em Lisboa, todos os anos se comemora essa data, com a presença<br />
de umas boas centenas de antigos estudantes que tomam por sua<br />
conta o Casino do Estoril, através da Associação presidida pela<br />
dinâmica Drª Fátima Lencastre.<br />
No passado sábado assim foi também. É a altura de se reverem<br />
velhas amizades e de se recordarem cenas de outros tempos a<br />
maioria das quais nos fazem parecer que ainda somos jovens. Pelo<br />
menos de espírito.<br />
Tive por companhia, na mesa 34, os Professores Almeida Costa<br />
e Veiga Simão, com as suas simpáticas Senhoras, uma delas, a<br />
Zinha, nossa conterrânea com quem tive ocasião de recordar os<br />
tempos de escola primária, dos passeios no Botaréu, dos lanches<br />
na Pauliceia. Ouvir o Prof. Veiga Simão falar de temas universitários,<br />
de alta tecnologia, da política americana, etc., etc. é uma<br />
delícia. Ouvir o Prof. Almeida Costa falar de coisas que ele bem<br />
conheceu por dentro fez com que a noite fosse curta para tanto<br />
saber feito de experiência e estudo<br />
Sim, porque hoje ouvem-se acima de tudo “bocas”, pouca coisa<br />
sustentada em estudos rigorosos e credíveis. Só que essas “bocas”<br />
alimentam a sofreguidão das lutas partidárias, mas não fazem escola<br />
- até porque já há muita gente que está farta da ignorância<br />
e, até, da má fé de muitos palradores que pululam na sociedade<br />
portuguesa.<br />
Falar com gente que sabe, que tem conhecimentos baseados em<br />
estudos independentes e sérios, constitui um privilégio para quem<br />
tem essa sorte, como é o meu caso.<br />
84
85<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
O espectáculo com que a Associação brindou os seus sócios teve<br />
por base os Antigos Tunos da Universidade de Coimbra que, sob a<br />
batuta do Maestro Augusto Mesquita, interpretaram lindos trechos<br />
musicais, tendo mesmo a sua Orquestra de Tangos trazido para o<br />
palco “La Cumparsita” e outras melodias tão do agrado da vetusta<br />
assistência.<br />
A Tuna, que muito deve ao Prof. Políbio Serra e Silva, grande médico<br />
e cientista, era composta por algumas dezenas de antigos e<br />
actuais estudantes da Universidade de Coimbra, com idades compreendidas<br />
entre os 18 e os 80 anos!...<br />
Foi justa a homenagem que a Associação dos Antigos Estudantes<br />
de Coimbra em Lisboa prestou, na ocasião, àquele distinto Professor.<br />
Durante o espectáculo, retive uma historieta contada pelo Tito<br />
Costa Santos. Lembrou ele que, enquanto caloiro dos anos ‘50,<br />
estava com vários colegas na Alta, com as obras em curso para os<br />
novos edifícios universitários, quando se aperceberam de que estava<br />
a chegar um Governante, no caso, o Subsecretário de Estado<br />
das Obras Públicas, Eng. Alberto Saraiva e Sousa. Com ele vinham<br />
outros dignitários do Estado, cujos motoristas ali ficaram, junto aos<br />
carros, à espera que a visita às obras terminasse. Logo houve um<br />
estudante que se apercebeu de que, no automóvel do membro do<br />
Governo, estava no banco da frente uma caixa com charutos... Era<br />
pois uma presa com bastante interesse...<br />
Assim, um dos estudantes convidou os motoristas para tomarem<br />
uma bica, o que foi recusado, uma vez que eles não se podiam<br />
afastar das viaturas. Só que, em tom convincente, a malta comprometeu-se<br />
a mobilizar ali mesmo uns caloiros para tomarem conta<br />
dos carros enquanto eles fossem tomar a bica. E lá os convenceram.<br />
Escusado será dizer que os charutos foram parar a boas mãos,<br />
tendo sido substituídos, numa prova de boa vontade, por uns cigarritos.<br />
Quando o Eng. Saraiva e Sousa chegou ao automóvel logo se<br />
apercebeu da situação. Mas, com grande fair play, gracejando,<br />
ofereceu uma outra caixa de charutos aos estudantes que o haviam<br />
“roubado”... Essa caixa (só a caixa) ainda hoje está na posse<br />
do Tito!
Assim se divertiam os estudantes nesses recuados anos ’50. Hoje<br />
divertem-se a fechar a Universidade a cadeado, a invadir o Senado<br />
e a insultarem o Magnífico Reitor...<br />
Saímos do Casino do Estoril, alta madrugada, com as belas vozes<br />
– já no outono embora – do Luiz Goes, Almeida Santos, Alcindo<br />
Costa... a recordarem-nos as serenatas do nosso tempo.<br />
Publicado no jornal “Região de Águeda” de 26/11/2004<br />
e no boletim de Dezembro de 2004, “Capa e Batina”.<br />
Comemoração da Tomada da Bastilha - 1990<br />
86
ProGresso? retrocesso?<br />
87<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
A democracia está instalada no nosso País já lá vão 30 anos. Reconhece-se<br />
que, de uma maneira geral, a maioria das pessoas não<br />
põe em causa a liberdade de que goza.<br />
Quanto ao resto, os analistas e os fazedores de opinião debruçam-<br />
-se a fazer os seus raciocínios sobre se o País está ou não melhor<br />
do que no tempo da ditadura.<br />
Normalmente, aqueles que só vêem virtudes na democracia – e<br />
tem muitas – apregoam que o País está muito melhor. Falam em<br />
auto-estradas, em novos hospitais, em muitas universidades e politécnicos,<br />
em mais dinheiro na carteira, etc., etc.<br />
Mesmo os que não são fervorosamente democratas, ainda que a<br />
contra gosto, compreendem que assim é. Mas será que o acesso à<br />
saúde melhorou nestes 30 anos? Parece que sim.<br />
Será que nas escolas básicas e secundárias se ensina melhor? Temos<br />
dúvidas.<br />
Será que temos mais licenciados? Não resta qualquer dúvida, mas<br />
para quê, se bastantes estão desempregados e até há cursos que<br />
estão desertos por falta de procura e sem relação com o trabalho?<br />
Será que os professores são melhores e que estão mais bem preparados?<br />
Uns tantos, certamente, outros obtêm créditos de promoção<br />
que nada têm a ver com o seu curso. “Fabricam-se” mestrados<br />
e doutoramentos só para se justificarem cursos que depois ficam<br />
desertos de alunos. Mas, apesar disso, os professores têm de ser<br />
pagos.<br />
Será que, em termos de solidariedade social, se melhorou? Indubitavelmente,<br />
e especialmente quanto à classe política, autárquica<br />
e sindical. Seria impensável atribuir reformas, pela totalidade, a<br />
políticos com apenas 4, 8 ou 12 anos de “serviço público”. O mesmo<br />
se diria relativamente a autarcas a quem basta terem exercido
funções durante 20 anos, para terem a reforma por inteiro. Para<br />
essas reformas por inteiro, pagas à custa do erário público, ou<br />
seja, com o dinheiro de todos nós, não se torna necessário fazer<br />
os descontos durante os 36/40 anos e que são obrigatórios para<br />
outro qualquer vulgar cidadão deste País.<br />
Será que o País lucra alguma coisa com o despesismo, com tantas<br />
viagens ao estrangeiro de tantos políticos, a começar pelos últimos<br />
PR’s, que se consolaram certamente, muitas das quais de duvidosa<br />
utilidade para Portugal, cada vez mais afastado do pelotão da<br />
frente?<br />
Aos mais altos ex-dignitários do Estado, com mandatos completos<br />
ou não (?), concedem-se-lhes mordomias de viatura, motorista,<br />
secretária e gabinete. Como compaginar isso com os elogios aos<br />
intérpretes da primeira República? Para já não falar num Primeiro-Ministro<br />
que, depois de abandonar o barco, é anichado, devidamente<br />
motorizado, pelo seu sucessor, no banco estatal, onde<br />
pouco deve pôr os pés, na medida em que a família política em<br />
que está inserido reclama a sua presença na estranja. E a que corresponde<br />
um salário de alguns milhares de euros... e, mais tarde,<br />
uma reforma das tais que envergonham Bagão Félix.<br />
Os funcionários públicos viram melhoradas as suas condições remuneratórias?<br />
Certamente hoje recebem bastante mais, mas também<br />
gastam mais e até têm de pagar o IRS, o que não sucedia<br />
antes.<br />
A justiça está melhor? Não obstante os magistrados terem passado<br />
a ser os “funcionários” mais bem pagos relativamente aos outros,<br />
com a emancipação do ministério público da magistratura judicial,<br />
e a continuarem todos a ter direito a 3 meses de férias, nem sequer<br />
me atrevo a dar opinião.<br />
Comparemos o que é comparável. Ao fim e ao cabo, com os progressos<br />
verificados, e são muitos e variados, seria natural que a<br />
conclusão a tirar do curso dos 30 anos de democracia colocasse<br />
Portugal, ao menos, na mesma escala de valores de 1974, ou seja,<br />
a par com a Espanha, e acima da Irlanda e da Finlândia e muito<br />
acima da Grécia... A realidade, porém, mostra-nos que apenas a<br />
Grécia oscila connosco no último lugar da Europa dos 15, tendo<br />
os outros países “descolado” há muito. E há países do Leste que<br />
também já estão à nossa frente, caso da Eslovénia, por exemplo.<br />
88
89<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
Para exemplificar o nosso afastamento da Europa autêntica, apesar<br />
de nela integrados, refiro que estive há dias em Bruxelas, a convite<br />
de uma organização internacional. No hotel onde fiquei instalado,<br />
que não era de topo de gama, só o quarto custava, por dia, um<br />
valor que apenas permitiria que eu só lá estivesse alojado durante<br />
5 dias num mês, se o tivesse de pagar com a minha pensão de<br />
reforma que, diga-se, é das mais altas do antigo funcionalismo<br />
de carreira.<br />
Será bom que todos nós reflictamos na situação grave por que<br />
passa o País – que está doente – para ver se se consegue dar a<br />
volta...<br />
O português médio é bom trabalhador desde que os exemplos<br />
venham de cima e o entusiasmem.<br />
Por isso, sou dos que acreditam que, com trabalho sério e sem<br />
corrupção, se poderá avançar!...<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 24/12/2004
catástrofes naturaIs<br />
Ao longo dos tempos, desde que o mundo é mundo, sempre houve<br />
catástrofes naturais com maior ou menor dimensão.<br />
Normalmente, delas resultaram vítimas humanas e prejuízos materiais<br />
incalculáveis<br />
O buraco do ozono tem sido responsabilizado, nos últimos tempos,<br />
por grandes inundações, furacões, etc. que tudo arrasam nas<br />
mais variadas regiões do globo. Os media, com destaque para as<br />
televisões, dão-nos hoje em dia, o retrato dessas situações que<br />
nós consideramos tanto mais dramáticas quanto mais perto de nós<br />
elas se passam.<br />
O que se passou recentemente no sudoeste asiático, com muitos<br />
milhares de mortos e desaparecidos, despertou pelo mundo fora<br />
uma onda de solidariedade notável, a par de alguns comportamentos<br />
indignos da pessoa humana.<br />
Louvavelmente, Portugal também lá está a actuar, no sentido de<br />
ajudar a minorar os estragos causados naquelas populações indefesas.<br />
Ainda bem. Louvemos os voluntários que estão a dar o seu<br />
melhor.<br />
Qualquer cidadão responsável pára um bocado no seu dia a dia e<br />
fica a pensar na desgraça dos outros e também no que em Portugal<br />
sucedeu de muito gravoso, no domínio das forças da natureza.<br />
O terramoto de 1755 não pode deixar de ser associado às imagens<br />
que, agora, as televisões nos oferecem em doses maciças. E,<br />
mais recentemente, quem não se lembra das inundações na zona<br />
de Odivelas no inverno de 1967/68? Quantas desgraças sucederam<br />
só nesses dois fenómenos naturais!...<br />
Sobre esta última catástrofe, um ex-Ministro de Salazar contou-me<br />
que, em reunião do Conselho de Ministros dedicada ao assunto, o<br />
Ministro da Economia, Dr. Correia de Oliveira, fez uma exposição<br />
de tal forma dramática sobre as vítimas das enxurradas que se co-<br />
90
91<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
moveu fortemente! E mais disse que estavam a ser recebidas bastantes<br />
manifestações de solidariedade por parte de outros países<br />
amigos, com promessas de auxílio às vítimas e à reconstrução.<br />
Salazar, no final dessa exposição, virou-se para o Ministro das Finanças,<br />
Dr. Ulisses Cortez, e perguntou-lhe se, não obstante o esforço<br />
de guerra que era muito pesado, as finanças públicas tinham<br />
capacidade para resolver, por si só, a situação.<br />
Tendo a resposta sido afirmativa, Salazar recomendou que, sem<br />
qualquer ponta de arrogância, o governo português agradecesse<br />
esses apoios, mas que entendia que eles seriam bem mais necessários<br />
noutros países muito carenciados…<br />
Curiosamente, a poderosa Índia acaba de tomar idêntica postura<br />
face às consequências do tsounami que também a atingiu!<br />
É caso para nos interrogarmos sobre se seria possível, a Portugal,<br />
tomar hoje essa mesma posição face a uma calamidade parecida<br />
com a da década de ’60.<br />
Publicado no jornal “Região de Águeda” de 14/01/2005
deseMPreGo e ProGraMa do Governo<br />
1. O desemprego…<br />
Ouvi há dias, na rádio, parte de uma entrevista feita a um jovem<br />
deputado eleito recentemente para S. Bento, não sei por que partido.<br />
Disse ele:”acabei agora o meu curso de geologia, andava à procura<br />
de emprego e desafiaram-me para integrar a lista de deputados<br />
o que eu aceitei.” Eu nem queria acreditar no que estava a<br />
ouvir…<br />
Assim, aí temos um deputado à AR sem qualquer experiência sobre<br />
o que é trabalhar no dia a dia, ainda que não por culpa dele.<br />
Certo é que o desemprego que grassa na juventude com estudos<br />
superiores, devido em especial a uma demagogia enorme na<br />
criação de cursos, muitos deles sem interesse algum para o mercado<br />
de trabalho, se deve essencialmente ao sistema corporativo<br />
em que se transformaram algumas classes profissionais. Como a<br />
dos professores doutores: quanto mais alunos houver, mais e mais<br />
professores são necessários e mais financiamento o Estado terá de<br />
assegurar, sem se cuidar de saber qual o impacto que esse financiamento<br />
terá na economia real do País. E que não será brilhante<br />
certamente.<br />
Pois bem, não se deve é combater o desemprego sem olhar a<br />
meios. E o desemprego só se combate com a criação de novos<br />
postos de trabalho produtivo o que, naturalmente, cabe às empresas<br />
fazer e de que temos excelentes exemplos<br />
Pelos vistos, porém, a política continua a ser um excelente e rendoso<br />
empregador. E quem paga estes “estágios”, sem retorno para<br />
o bem público, na AR? O contribuinte, claro está. Ao menos, este<br />
deputado vai experimentar a sensação de pagar uma bica por metade<br />
do preço que se paga ao balcão de qualquer estabelecimento<br />
de restauração… Para começar não é mau de todo.<br />
2. A avaliação do desempenho …<br />
Cada vez vejo menos televisão, recheada que está de lugares comuns<br />
e exploração da miséria alheia e sensacionalismos como são<br />
92
93<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
muitos dos telejornais. Refugio-me nas transmissões de eventos<br />
desportivos internacionais, em programas musicais e culturais bem<br />
como numa ou noutra telenovela portuguesa. E como gosto de<br />
recordar matérias que estudei quando jovem e de aprender mais<br />
alguma coisa, vejo com regularidade o concurso “Um contra todos”<br />
da RTP1.<br />
Um destes dias dou com uma senhora professora de físico-químicas<br />
a ter de escolher uma de três respostas para a pergunta:<br />
quantos graus tem um ângulo recto? 90, 180 ou 0 graus? E não é<br />
que a senhora não acertou!...<br />
Assim, como é que se pode exigir mais aos alunos que são ensinados<br />
por professores com este nível científico/cultural?<br />
Felizmente, porém, que existem muitos belíssimos professores no<br />
ramo das ciências. Só que ganham todos o mesmo, quer sejam<br />
competentes quer sejam menos competentes.<br />
A avaliação do mérito tem de ser considerada um meio essencial<br />
para se alcançar o objectivo da excelência.<br />
O tempo do salário igual para trabalho igual deve ser substituído<br />
pelo tempo do salário igual para desempenho igual, nas diferentes<br />
gradações organizacionais.<br />
3. Programa de Governo…<br />
Acabo de ouvir o discurso de José Sócrates de apresentação do<br />
programa de governo. Foi feito em estilo tenso, de quem parecia<br />
estar zangado com a vida, mas com muita convicção. Nele se contém<br />
uma catadupa de boas ambições e uma fartura de promessas<br />
de interesse. Tratou-se de um discurso destinado a um povo<br />
adulto, civilizado e não corporativo. Bom sinal. Dele destaco a intenção<br />
de redução das férias judiciais pelo impacto que pode ter<br />
no andamento da justiça. Aguardemos pela resposta da respectiva<br />
corporação.<br />
Em suma, gostei de quase tudo o que ouvi. Agora aguardo pelos<br />
desenvolvimentos com esperança de que o País melhore sem fracturas.<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” em 01/04/2005
InIcIação desPortIva na escola<br />
Participei há dias numa cerimónia, realizada na sede do Comité<br />
Olímpico de Portugal, de grande significado para a iniciação desportiva<br />
na Escola.<br />
Tratou-se da assinatura de um Protocolo estabelecido entre a Federação<br />
Portuguesa de Basquetebol e a COMPAL.<br />
Nessa parceria que foi apadrinhada pelo novo Secretário de Estado<br />
da Juventude e Desporto, Dr. Laurentino Dias, na sua primeira<br />
intervenção pública como governante, e pelo Presidente do COP,<br />
Com. te Vicente de Moura, os Presidentes da COMPAL, Dr. A. Pires<br />
de Lima, e da Federação de Basquetebol, Mário Saldanha, foi firmado<br />
um compromisso do maior interesse para a juventude.<br />
Nele, aponta-se para a mobilização, em 2005 e 2006, de 639<br />
escolas espalhadas pelo País onde se fará a movimentação de<br />
500.000 alunos, com idades entre os 10 e os 17 anos, enquadrados<br />
por 5.000 agentes de ensino, tudo à volta do basquetebol 3<br />
contra 3.<br />
O envolvimento do Departamento do Desporto Escolar do Ministério<br />
da Educação é fundamental para o êxito deste projecto.<br />
É com acções desta magnitude que o desporto português se pode<br />
desenvolver, até porque da quantidade, naturalmente, sai a qualidade.<br />
Mas, acima de tudo, o 3 contra 3 é uma excelente forma<br />
de se ter a juventude ocupada numa actividade sã e não ocupada<br />
com muitos dos deseducativos programas que a TV lhe proporciona<br />
no dia a dia em que ela, a maioria das vezes, está só em casa<br />
enquanto os pais ou estão no trabalho ou a fazer compras.<br />
É claro que as condições para a boa prática do basquetebol passam<br />
pela existência de pavilhões gimnodesportivos. E sabemos que, infelizmente,<br />
nem todas as escolas os possuem. Mas tem-se progredido<br />
alguma coisa nesse domínio. Esperamos que este projecto<br />
contribua também para levar os governantes a proporcionar boas<br />
94
95<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
condições para a prática desportiva aos jovens que frequentam as<br />
escolas públicas. Seguindo aliás o exemplo das escolas privadas.<br />
Temos esperança nos resultados desta acção de massificação do<br />
basquetebol. Força para os coordenadores da acção!<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 15/04/2005
vIaGens de PolítIcos e da IGreja<br />
A situação económico-financeira do País é deveras preocupante de<br />
há uns anos para cá. E, pelos vistos, o remédio não vai ser encontrado<br />
com facilidade pelo ministro das Finanças.<br />
Para se chegar a esta situação, muito contribuíram os políticos que<br />
nos têm vindo a governar, muitos autarcas incluídos. Na medida<br />
em que não souberam resistir à ideia do despesismo fácil e, porque<br />
não, irresponsável.<br />
Tem de se reconhecer que nem todas as despesas públicas implicam<br />
um retorno económico imediato. É o caso das despesas sociais<br />
com a pobreza reconhecida factualmente e não fraudulenta, como<br />
continuam a surgir notícias nesse sentido.<br />
O Estado não se coíbe de distribuir fontes de despesa como é o<br />
caso das viaturas de alta cilindrada em situações cuja justificação<br />
é mais que duvidosa. É agora o caso dos conselheiros do Tribunal<br />
Constitucional. Perguntar não ofende. Mas talvez haja uma resposta<br />
convincente para esta dúvida. Só que ninguém se digna dá-la. E<br />
os carros dos “ex-qualquer coisa” continuam…<br />
Bom seria que o Estado procedesse à avaliação dos custos/benefícios<br />
das acções que promove.<br />
A começar pela Presidência da República. Com Mário Soares e<br />
Jorge Sampaio, as despesas com viagens ao estrangeiro dispararam<br />
em flecha. Mesmo as viagens com empresários às dezenas<br />
suscitam reservas até porque nem todos, pelo seu comportamento<br />
empresarial, mereceriam sequer embarcar no avião.<br />
Uma coisa é certa: não é por falta de acções de relações públicas<br />
dos PR’s que o País não devia estar melhor situado nos índices de<br />
consideração internacional e que, infelizmente, são cada vez mais<br />
arrasadores. Já alguma vez um PR pensou em fazer um balanço<br />
sério sobre a utilidade dos gastos que cada viagem proporcionou<br />
ao Povo português? Talvez chegasse, com facilidade, à conclusão<br />
96
97<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
de que esses gastos foram desproporcionados relativamente à intenção<br />
de afirmação de Portugal no mundo.<br />
Ser miserabilista, nunca! Ser gastador, para mais em demasia, é<br />
pecado. Mas não sei se o agnosticismo entende o que é pecar. É<br />
que custa bastante pagar impostos; e mais custa saber que parte<br />
deles é esbanjada com falsas vaidades, designadamente com os<br />
Falcon’s sempre no ar…<br />
Como aquela de que acaba de ser “vítima” o Senhor Cardeal Policarpo!<br />
Eu explico: com a morte do Santo Padre João Paulo II – um<br />
Papa cuja acção será difícil esquecer nos tempos que aí vêm – era<br />
natural que D. José tivesse de se deslocar ao Vaticano. Mas, pelos<br />
vistos, nem houve urgência nessa deslocação. Pois bem, o nosso<br />
venerando PR J. Sampaio estendeu-lhe o tapete que foi a oferta de<br />
uma viagem especial num Falcon da Força Aérea. Eu ainda compreendia<br />
que o PR o convidasse para o acompanhar nessa viagem.<br />
Mas não foi esse o caso. Não gosto de confusões! E a Igreja deveria<br />
saber resistir a “esmolas” destas… Diariamente há carreiras<br />
aéreas para Roma e uma passagem em classe executiva serviria<br />
perfeitamente ao Senhor Cardeal…<br />
Quanto custou aos contribuintes esta viagem de falso prestígio do<br />
Falcon?<br />
Registe-se, contudo, a magnanimidade de um PR laico e agnóstico<br />
para com o seu opositor na questão do aborto! O Senhor Cardeal<br />
deveria ter presente que, com políticos, não há almoços grátis…<br />
Não resisto aqui a relatar o que observei acerca de 2 conhecidos<br />
Bispos portugueses. Nas minhas deslocações semanais entre Lisboa<br />
e Porto, ao longo de anos, cruzei-me com gente de todas as<br />
condições sociais. Numa delas, a caminho do Porto, ao percorrer o<br />
Alfa-Pendular, para esticar as pernas, dou com o emérito Bispo de<br />
Setúbal sentado numa carruagem Turística. Passados alguns dias,<br />
no mesmo percurso, deparei-me com o Bispo das Forças Armadas<br />
numa carruagem Conforto. Não se trata de uma crítica, apenas do<br />
registo de comportamentos.<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 22/04/2005
é boM sonhar, Mas coM os Pés no chão…<br />
Portugal tem vindo a ser citado, em termos estatísticos relativos<br />
aos diversos índices, nos últimos lugares dos países europeus. O<br />
que se lamenta naturalmente. E se fica a dever, em grande parte,<br />
aos governos que temos tido, todos eles, ainda que a uns mais do<br />
que a outros, na medida em que não têm conseguido alterar a<br />
mentalidade dos portugueses em geral, para além das asneiras<br />
praticadas, quer por incompetência, quer por uma certa mediocridade<br />
política.<br />
Não obstante esta realidade, os portugueses não desperdiçam<br />
uma oportunidade para se considerarem “os maiores”: vai haver<br />
eleição para Presidente do Parlamento Europeu, logo se perfila um<br />
político polivalente sempre à tona de água - o Dr. Soares – mas<br />
o certo é que acaba por ser eleita uma francesa (de quem Soares,<br />
depreciativamente, disse que seria uma boa dona de casa…); vai<br />
vagar o lugar de secretário-geral da NATO, logo se perfila um português,<br />
de real mérito – o Dr. Vitorino - mas o certo é que acaba<br />
por ser escolhido um inglês; morre um grande Papa, João Paulo<br />
II, logo uns tantos perfilam D. José Policarpo, como o candidato<br />
ideal, mas o certo é que foi eleito um outro Cardeal, precisamente<br />
o alemão D. J. Ratzinger. Está em aberto a escolha do novo Alto<br />
Comissário para os Refugiados, logo se perfila um político que entregara<br />
à oposição o pântano em que deixou o País – o Eng. Guterres.<br />
Como português, espero que ele vença esta competição que<br />
tem mais 7 candidatos. Para quem tem a ambição de uma carreira<br />
internacional que permite muitas viagens à borla, não compreendemos<br />
a razão que o levou a recusar (?) o lugar de Presidente da<br />
Comissão Europeia. Ou seria porque, na altura, o candidato favorito<br />
era, sem dúvida, o espanhol Aznar? Neste lugar, de desistência<br />
em desistência, acabou por se sentar um português – Dr. Barroso<br />
– a quem naturalmente desejo boa sorte.<br />
98
99<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
Já agora, não posso deixar de registar o bom desempenho que<br />
teve o Dr. Cutileiro à frente da OSCE, assim como me lembro da<br />
passagem do doutor Amaral pela presidência da Assembleia Geral<br />
das Nações Unidas, em que ele tudo terá feito para tentar “refundar”<br />
a ONU, convencido de que era ele o Secretário Geral. Enfim<br />
mania das grandezas que, a somar a outras atitudes anti-Bush,<br />
deram como resultado que, em recente visita a Portugal do Subsecretário<br />
de Estado americano, este recusou deslocar-se ao Ministério<br />
dos Negócios Estrangeiros… e foi só a S. Bento onde o doutor<br />
Amaral teve de se deslocar.<br />
Acabo de ter conhecimento da rápida eleição do novo Papa Bento<br />
XVI ao 2º dia de votações no Conclave.<br />
E logo tive de ouvir as opiniões de uns tantos laicos / agnósticos /<br />
não crentes, a começar por Soares, Louçã e Sousa Tavares. Este,<br />
bem acolitado pela pivot da TVI, Moura Guedes, parecia estar a<br />
“julgar” o Cónego Rêgo que não partilhava dos ataques de Tavares/M.Guedes<br />
à figura do Cardeal Ratzinger. Mas quem julgam<br />
que são estes senhores não crentes perante a dimensão intelectual,<br />
cultural e mundial do novo Papa?<br />
O novo Pontífice, bem auxiliado pela Cúria Romana, saberá certamente<br />
retomar em mãos o legado de João Paulo II, para bem da<br />
humanidade. Assim o esperamos.<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 29/04/2005
forças arMadas e a unIversIdade<br />
Lembro-me de ter tido uma conversa com o Prof. Veiga Simão,<br />
quando ele desempenhava as funções de Ministro da Defesa, lá<br />
para 1998, em que me referiu que estava a trabalhar num projecto<br />
de que resultaria a criação da Universidade das Forças Armadas.<br />
Esse projecto implicaria naturalmente uma racionalização de recursos<br />
humanos e logísticos existentes, na medida em que essa<br />
futura Universidade coordenaria o, aliás notável, “espólio” do Instituto<br />
dos Altos Estudos Militares (Exército) e dos Institutos Superior<br />
Naval de Guerra e de Altos Estudos da Força Aérea, bem como das<br />
Academias Militar e da Força Aérea e da Escola Naval. O que essa<br />
racionalização induziria em termos de capacidades, de eficiência,<br />
de melhoria de qualidade e de custos é bem fácil de avaliar.<br />
E se alguém tinha competência e autoridade intelectual para desencadear<br />
e implementar um projecto dessa importância esse alguém<br />
era, sem dúvida, o responsável pela criação da Universidade<br />
de Lourenço Marques nos idos anos de ’60, aliás contra a corrente<br />
política dominante ao tempo, mas que, ao contrário, teve o aval<br />
final de Salazar. Ele acreditou no jovem professor doutorado em<br />
Física em Cambridge e com 20 valores em Coimbra. E Moçambique,<br />
sabe-se, muito reconhecida está ao primeiro Reitor da sua<br />
Universidade, como o demonstrou ainda recentemente.<br />
Para além de ser uma autoridade reconhecida nos domínios da<br />
Educação, quer a nível nacional quer a nível internacional, Veiga<br />
Simão viu esse sonho, mais um, que tão útil seria certamente para<br />
as Forças Armadas, adiado e mandado para a gaveta com a sua<br />
substituição no Ministério da Defesa, por Jaime Gama. O curioso é<br />
que esse projecto foi mesmo aprovado em Conselho de Ministros<br />
que depois o enviou para a Assembleia da República onde ficou<br />
“sepultado”. Ao falar aqui da figura do Prof. Veiga Simão, bom<br />
seria que o primeiro-ministro Guterres explicasse seriamente as<br />
100
101<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
razões por que deixou cair o Prof. Veiga Simão e que só uma cobardia<br />
sem nome e uma partidarite aguda de gente medíocre procuraram<br />
e procuram esconder ao País. Espero bem que em breve<br />
a acção desenvolvida ao tempo pela Procuradoria Geral da República<br />
possa ver a luz do dia…<br />
Mas adiante!<br />
Acabo de ler que o tal projecto estará a ser recuperado pelo actual<br />
Ministro da Defesa. Assim sendo, bom será que ele seja capaz de<br />
o pôr de pé em boas condições e com a dignidade que o assunto<br />
merece.<br />
Tudo isto para dizer que há Homens com visão estratégica esclarecida<br />
e competência que, por vezes, até parece que incomodam<br />
a mediocridade que grassa na política caseira. Veiga Simão é um<br />
deles!<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” em 20/05/2005<br />
O Ministro da Educação, Veiga Simão (ao centro),<br />
em visita à Casa do Desporto, no Porto, em 1972
uM “charro” no dubaI …<br />
Há um Homem de que nos devemos orgulhar que é o Embaixador<br />
António Monteiro, que foi ministro dos Negócios Estrangeiros do<br />
governo cessante e que, pelos vistos, está actualmente na “prateleira”<br />
daquele ministério.<br />
As suas qualidades de diplomata de eleição, amplamente demonstradas<br />
ao longo da sua carreira (Angola, Nações Unidas…) vieram<br />
uma vez mais ao de cima na tentativa, bem sucedida, de libertar<br />
um português, I. Ferreira – pelos vistos actor/cineasta de enormes<br />
méritos, mas que eu e muitos dos meus amigos desconhecíamos<br />
– o qual, não sendo já sequer um adolescente, cometeu um crime<br />
em país de rigorosos costumes no domínio das drogas.<br />
As relações pessoais estabelecidas pelo Embaixador por esse mundo<br />
fora contribuíram decisivamente para o “milagre” da libertação,<br />
em escassas semanas, da detenção daquele consumidor de droga<br />
que, por muito importante que seja no mundo do cinema, não<br />
pode constituir exemplo a seguir pela nossa juventude.<br />
Diga-se ainda que o prestígio de António Monteiro por aquelas<br />
bandas subiu tão alto que nem sequer o deixaram pagar o hotel, a<br />
viatura e o motorista usados durante a estada no Golfo.<br />
E, já agora, ocorre perguntar porque razão o Doutor Amaral não<br />
apela a um dos seus diplomatas de confiança para tratar do caso<br />
do piloto ainda retido na Venezuela. Dado que o actual governo é<br />
de esquerda certamente que tem boas condições para pressionar<br />
o também de esquerda, e talvez democrático, governo de Hugo<br />
Chavez…<br />
Publicado no jornal “Região de Águeda” em 20/5/2005<br />
102
o défIce…<br />
103<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
Escrevo estas linhas em data marcada ainda por uma prudente e<br />
acertada gestão do silêncio à volta das contas públicas, por parte<br />
do PM Sócrates, sem ter anunciado qualquer medida concreta que<br />
irá tomar.<br />
Só que o sol não pode ser escondido por uma peneira e o défice<br />
das contas públicas aí está, calculado até à centésima (que preciosismo):<br />
6,83%. O que deve assustar os economistas que, sendo<br />
reconhecidos como autênticos “barras” da matéria, têm sido os<br />
maiores responsáveis pela gestão do orçamento geral do Estado e<br />
apêndices, ao longo dos 31 anos que já leva a democracia portuguesa.<br />
Os ministros das Finanças dos sucessivos governos devem<br />
estar, nesta altura, a fazer o acto de contrição pois o resultado das<br />
suas políticas está, agora, bem à vista. De todos eles, ressalvo apenas<br />
o Prof. Hernâni Lopes e a Drª Manuela Ferreira Leite que mostraram<br />
ter a coragem de remar contra a maré… Os outros “sábios”<br />
não devem ter tido força política, porque competência não lhes<br />
faltava certamente… Para além deles, uma figura é incontornável<br />
– a do governador do Banco de Portugal, nomeado à esquerda e<br />
à direita. Deveria ser ele o guardião do templo até porque é uma<br />
personalidade benquista nos meios políticos e económicos. Para<br />
minha grande surpresa, ele afirmou no passado dia 15: “Reconheço<br />
que a situação era ainda pior do que eu temia e, na verdade,<br />
o País está confrontado com uma crise orçamental grave”.<br />
E eu tenho o direito de perguntar: então o Dr. V. Constâncio está<br />
à frente do Banco de Portugal há mais de 10 anos (até teve como<br />
administrador o actual ministro das Finanças) e sai-se agora com<br />
esta afirmação espantosa? O que andou ele lá a fazer estes anos<br />
todos? Será que justifica assim as suas mordomias que, corre na<br />
internet, atingem largos milhares de euros mensais?<br />
Ouviu-se, também, o Dr. J. Sampaio dizer que “há vida para
além do défice” a propósito da luta que então travava a Drª Ferreira<br />
Leite… E, agora, do longínquo Japão, apela à auto-estima<br />
dos portugueses… nos quais se incluem os que lutam diariamente<br />
para arranjar sustento para a sua família, sabe Deus com que sacrifício!<br />
A este apelo o país benfiquista já respondeu com a emotiva vitória<br />
no campeonato da Liga que levou a uma mobilização impressionante<br />
de milhões de portugueses e outros lusófonos por esse<br />
mundo fora, a saírem à rua a vitoriar os seus heróis. Essa causa de<br />
facto foi mobilizadora.<br />
Tenho, porém, as mais sérias dúvidas sobre idêntica resposta ao<br />
apelo do Dr. Sampaio, em relação aos sacrifícios que as classes<br />
mais desprotegidas vão ser inevitavelmente obrigadas a fazer. Até<br />
porque lêem com frequência que as grandes empresas, tais como<br />
a PT, a EDP, a Galp e a Banca, por exemplo, têm vindo a apresentar<br />
lucros de milhões e mais milhões, sem que isso se reflicta nos<br />
preços a pagar pelo consumidor…<br />
Em minha casa, anos ’80, foram recebidas 2 cartas a convidar à<br />
passagem à reforma pelo simples facto de que a idade dos visados<br />
era de 60 anos. E quantas delas não emanaram do então ministro<br />
das Finanças, Dr. Cadilhe? Milhares…<br />
20 anos depois reconhece-se que a idade de reforma tem de ser<br />
aumentada. Aqui está um simples exemplo de curta visão estratégica<br />
do então ministro…<br />
O actual Governo tem uma tarefa difícil na sua frente o que, aliás,<br />
é comum a uns tantos outros governos ocidentais.<br />
Portugal, porém, na cauda das estatísticas do mundo dito civilizado,<br />
vai ter muito mais dificuldade em encontrar remédio para as<br />
suas maleitas do que outros mais ricos. Confia-se em que as medidas<br />
a tomar sejam baseadas também no bom senso.<br />
Bom senso esse que leva, naturalmente, a fazer reformas estruturais<br />
e não só conjunturais. Agora digo: há mais vida para além<br />
das eleições…<br />
Não se poderá exigir sacrifícios a uma população que já os passa<br />
em larga medida, se o exemplo não vier de cima.<br />
A começar pelas reformas dos políticos. Continuarão elas a ser<br />
concedidas, pelo máximo, ao fim de 12 anos em S. Bento? Continuarão<br />
elas a ser acumuláveis com outras reformas a que o po-<br />
104
105<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
lítico tenha direito? Continuar-se-á a contar em dobro o tempo<br />
de serviço dos autarcas, sem que lhes corresponda o respectivo<br />
desconto para a CGA? Continuarão a ser pagas reformas de 20<br />
mil euros a personalidades que serviram em autênticas empresas<br />
públicas, ainda que com o estatuto de sociedades anónimas?<br />
Continuarão a ser gastos, em viagens dos políticos de S. Bento, milhões<br />
e milhões de euros? Para quê duzentos e tal deputados? Não<br />
ficaríamos mais bem servidos com apenas uma centena? Continuarão<br />
os Serviços da Presidência da República a necessitar de cerca<br />
de 300 funcionários? Precisará um Primeiro-Ministro de centena e<br />
meia de colaboradores (vid. Guterres)? Necessitarão os gabinetes<br />
dos ministros e dos secretários de Estado das dezenas (cada gabinete)<br />
de adjuntos, assessores, secretárias, motoristas, etc.?<br />
Ainda recentemente, um Secretário de Estado requisitou mais 3<br />
viaturas (já dispõe de 3) para o seu “staff”e um outro governante<br />
quis uma viatura da mais alta cilindrada… A impressão que tenho<br />
é que Sócrates é avesso a esse tipo de vaidades. E ainda bem.<br />
Ouvi o doutor Amaral dizer que a sua categoria e de mais 2 outros<br />
doutores esmagava os ministros do anterior Governo. Vaidade e<br />
ambição não lhe faltam. Mas estou em crer que não é com gente<br />
que esmaga, em especial macro economistas, que Portugal se<br />
salvará. Acredito, nisso sim, que precisamos de bons micro economistas<br />
competentes, em termos latos, que tenham trabalhado nas<br />
empresas e saibam o que é o dia a dia das mesmas. Os engenheiros<br />
fazem falta, mas para já temos um que até é o PM, a quem<br />
desejamos boa sorte.<br />
Senhores governantes: se o exemplo não for dado por vós, não<br />
esperem que a auto-estima se solte dos corações do povo.<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” em 10/06/2005
Postal de lIsboa<br />
o 10 de junho…<br />
1. O 10 de Junho dos antigos combatentes no Ultramar<br />
Num magnífico dia de sol desci até à beira rio, na aprazível zona da<br />
Torre de Belém, esta cada vez mais bonita, a apontar os mares da<br />
aventura que os portugueses de antanho abraçaram numa epopeia<br />
sem par na história da humanidade… E que Luiz Vaz de Camões<br />
cantou, para delícia dos vindouros que continuam a lê-lo…<br />
Já lá não encontrei alguns dos que, em anos interiores, costumava<br />
ver, nesta cerimónia de recordação dos companheiros caídos nas<br />
terras africanas e no oriente. Também esses já partiram.<br />
Reconheci o general Ricardo Durão, com o mesmo porte atlético<br />
com que desfilou em 1956, levando o estandarte, na inauguração<br />
do Estádio Universitário de Lisboa. Continua em boa forma.<br />
Em toda aquela gente se notava uma saudade e uma alegria incontidas<br />
quando se abraçavam efusivamente e recordavam episódios<br />
passados nos idos anos de ’60 e princípios de ’70.<br />
Curiosamente, não descortinei nessa cerimónia nenhuma das vedetas<br />
da tropa que enchem os écrans das Televisões e as colunas<br />
dos jornais. E interroguei-me: será que essa gente não combateu<br />
de facto em Angola, Guiné, Moçambique? Não têm camaradas que<br />
derramaram o seu sangue, sob as suas ordens nas antigas colónias?<br />
Parece que não… Uns tantos desertaram das fileiras, é certo, mas<br />
não eram esses que esperava lá ver… Tal como os políticos gerados<br />
pela nova democracia, também esses altos militares devem estar a<br />
gozar de uma vida confortável fora das fileiras, nas suas reformas<br />
ou negócios…<br />
Não obstante essas ausências, o fervor patriótico daquele povo<br />
anónimo era deveras contagiante mesmo para os jovens, que eram<br />
muitos, no decorrer da cerimónia que, sendo muito simples, foi muito<br />
bonita. Os discursos feitos por pessoas que amam e acreditam<br />
na Pátria, a entrega das coroas de flores na base do monumento,<br />
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107<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
a cerimónia inter religiosa celebrada por 2 sacerdotes (onde estaria<br />
o Bispo das Forças Armadas?), as marchas militares, a cargo da<br />
magnífica Banda do Exército e o toque emotivo dos clarins não me<br />
deixaram indiferente.<br />
E reflecti sobre se, com gente desta têmpera, a Pátria alguma vez<br />
pode morrer…<br />
Acredito que, com mais ou menos dificuldades, e elas serão muitas<br />
nos tempos próximos, os nossos vindouros hão-de saber dar a volta<br />
por cima…<br />
Como português, estou grato a todos aqueles que, ao longo dos<br />
anos, comemoram o 10 de Junho desta maneira simples e genuína,<br />
mesmo sem apoios oficiais porque esses, este ano, foram todos para<br />
Guimarães onde a anual cerimónia despesista foi mais uma feira de<br />
vaidades, com condecorações a esmo, algumas delas de duvidosa<br />
justificação. A política devia ter limites.<br />
2. A auto estima dos portugueses<br />
Ultimamente o PR Sampaio tem vindo, e bem, a apelar, à auto estima<br />
dos portugueses para se vencer a crise que desabou sobre nós.<br />
Nem de propósito, o Benfica ganhou o campeonato da Liga, depois<br />
de um jejum de mais de 10 anos. E, como os benfiquistas são milhões,<br />
logo saíram à rua, não só em Portugal, como no estrangeiro,<br />
por esse mundo fora. Foi bonito ver essa onda de solidariedade<br />
desportiva…<br />
Mas, que ouvi eu, na altura, na SIC-Notícias, da boca do seu correspondente,<br />
um tal José Milhases? Apenas isto: “Os portugueses,<br />
aqui, em Moscovo são meia dúzia de gatos pingados”. Será que o<br />
Dr. Balsemão reconhece a “qualidade” deste seu funcionário moscovita<br />
que deve desconhecer o significado da expressão auto estima?<br />
Ou será ele também um gato pingado a pedir transferência de<br />
capital?<br />
3. O barbeiro<br />
Foram já anunciados os aumentos dos impostos – IVA, combustíveis,<br />
IRS, etc.. Pois bem, em consequência do clima gerado com esses<br />
anúncios, o meu barbeiro já tomou a iniciativa de aumentar em 13%<br />
o custo do seu serviço de corte de cabelo… Para onde vamos?…<br />
Publicado no jornal “Região de Águeda” em 17/06/2005
aInda o défIce…<br />
1. Ainda o défice…<br />
Tem estado na ordem das preocupações dos portugueses a situação<br />
calamitosa a que chegaram as contas públicas.<br />
Até parece que os economistas andam divertidos com simulações<br />
de mais décima menos décima. Uns puxando para cima, outros<br />
para baixo, conforme a cor da camisola…<br />
Esta crise, desde logo, teve o grande mérito de, entre outras coisas,<br />
pôr a nu a situação escandalosa de que tem vindo a beneficiar a<br />
classe política de uma maneira geral. Até aqui, quem se atrevia a<br />
pôr em causa as suas reformas e acumulações das mesmas, os seus<br />
subsídios de reintegração, os tempos a dobrar dos autarcas, os salários<br />
e as reformas elevadíssimas de gestores públicos sob a capa<br />
de empresas/sociedades anónimas de que, afinal, todos nós somos<br />
“accionistas” etc., etc.? E vieram ao de cima valores de euros que,<br />
até agora, estavam no segredo dos bolsos de uns tantos, em que,<br />
aliás, se não pode toca, face ao estafado excesso de garantias de<br />
direitos adquiridos… Ao mesmo tempo que se não ousa falar ou se<br />
fala pouco em deveres de cidadania…<br />
Deve reconhecer-se ao PM Sócrates e ao Ministro das Finanças o<br />
mérito corajoso de dizerem que vão afrontar essas situações de<br />
privilégios injustificáveis. Podiam ter ido mais longe? Certamente,<br />
como no caso do exagerado número de deputados com assento em<br />
S. Bento que apenas constitui fonte de despesa sem retorno. Mas<br />
aceita-se que se não pode fazer tudo de uma vez só. Lá chegaremos…<br />
Com esta palavra de aplauso e de estímulo não posso, porém, deixar<br />
de pensar que os lobbies são muito fortes e que tudo farão por<br />
tentar, se não inutilizar, pelo menos amaciar as medidas entretanto<br />
anunciadas. Na verdade, muita gente será atingida pela austeridade<br />
e sacrifícios que estão a caminho. Simplesmente, se essa situação<br />
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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
for acompanhada por exemplos que venham dos mais poderosos<br />
(vid. classe política) não haverá razões para contestação de maior,<br />
a qual se cingirá às ultrapassadas centrais sindicais cuja linguagem<br />
parou no tempo. À primeira cedência por parte do PM Sócrates, a<br />
caixa de Pandora abrir-se-á com consequências imprevisíveis.<br />
Isto, a propósito do que já se ouve e lê acerca da reivindicação de<br />
umas 2 a 3 dezenas de deputados que se sentem atingidos nos seus<br />
direitos ditos adquiridos… para o futuro… A sensibilidade da questão,<br />
acima de tudo moral, não permite, a meu ver, transigências.<br />
Ou seja, ou comem todos ou… há-de ser o que Deus quiser…<br />
Aguardemos pois, com paciência, pela implementação das medidas<br />
entretanto anunciadas, independentemente do facto de os Partidos<br />
terem de enfrentar as urnas em Outubro próximo e deverem, acima<br />
de tudo, pensar no País. Porque uma coisa é o anúncio de medidas<br />
corajosas e moralizadoras, outra coisa é pô-las em prática.<br />
2. Investimento público<br />
Consideramos que o investimento público, dentro do limite do possível,<br />
deve ser estimulado, em parceria com o investimento privado,<br />
porque daí resultará a criação de riqueza e de postos de trabalho<br />
que tão necessários são para um adequado equilíbrio social.<br />
Já li, porém, uma notícia que me deixou perplexo. Numa altura de<br />
contenção de despesas como aquela que atravessamos, aponta-se<br />
para a construção de mais um edifício em S. Bento. Para quê? Para<br />
que possam ser atribuídos gabinetes individuais a todos os 230 deputados.<br />
Ao que parece, actualmente, eles ocupam gabinetes para<br />
2 eleitos cada um.<br />
Será isto um investimento? Ou antes um desperdício fora do tempo?<br />
Que mais valia trará esse “investimento” ao povo português?<br />
Nenhum, direi eu, face à qualidade de grande parte dos eleitos:<br />
Para além de que se terá de destruir uma área verde bonita e que,<br />
como todas as áreas verdes, devem ser, isso sim, preservadas. A<br />
este respeito, não li nem ouvi nada da parte dos ecologistas, que<br />
também os há na própria Assembleia da República… Devem estar<br />
apertados!...<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” em 24/07/2005
Postal de lIsboa<br />
travessIa aérea e vItórIas InternacIonaIs<br />
1. A Primeira Travessia Aérea do Atlântico Sul<br />
Foi em 1922 que dois ilustres oficiais aviadores da Marinha portuguesa<br />
levaram a efeito a primeira travessia aérea do Atlântico Sul.<br />
Iniciada em Lisboa, em 30 de Março, teve escalas em Las Palmas,<br />
S. Vicente, Porto-Praia, Penedos de São Pedro e São Paulo, Fernando<br />
Noronha, Recife, Bahia, Porto Seguro e Vitória; terminou no Rio<br />
de Janeiro, em 17 de Junho seguinte.<br />
O sucesso da viagem ficou a dever-se, naturalmente, à grande<br />
coragem e sabedoria de Gago Coutinho e Sacadura Cabral que<br />
conduziram os 3 aviões utilizados na viagem, e foi suportada nos<br />
métodos científicos de navegação aérea nocturna a grande distância<br />
e num sextante especialmente concebido pelo primeiro.<br />
Com essa viagem, uma vez mais se manifestou a vontade indómita<br />
dos portugueses na descoberta de novos caminhos a ligar povos<br />
distantes.<br />
Porque se tratou de um feito notável, a Casa da América Latina,<br />
dirigida pelo diplomata Dr. Mário Quartin Graça, fez bem em organizar<br />
uma exposição alusiva àquela travessia, quando passa o<br />
83º aniversário da mesma.<br />
Um professor de História fez o relato circunstanciado da travessia<br />
e das suas vicissitudes, perante uma assistência em que se destacavam<br />
algumas altas patentes da Armada e da Aeronáutica, bem<br />
como o sempre presente Embaixador Dário Castro Alves. Lá encontrei,<br />
entre outros, o António Luís Sucena Ribeiro de Melo, meu<br />
companheiro na Escola do Adro, com quem recordei tempos idos<br />
do Botaréu.<br />
O agrado com que visitei a exposição veio a ser redobrado quando<br />
me apercebi de que muitas das peças e dos livros expostos faziam<br />
parte da colecção carinhosamente construída por um aguedense<br />
que, da Borralha partiu para o Brasil onde teve êxito, nos muitos<br />
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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
anos que lá passou. Trata-se do Comendador José da Silva Henriques<br />
a quem felicito pela sua bela iniciativa que fez com que a<br />
história fosse recordada e não postergada como se faz muito por<br />
aí…<br />
2. Vitórias internacionais<br />
O andebol português acaba de se qualificar para o campeonato<br />
do Mundo. Fiquei naturalmente satisfeito com essa vitória. Mas<br />
mais satisfeito fiquei pelo facto de ter ouvido da boca de um dos<br />
principais artífices dessa vitória, um atleta com mais de 250 internacionalizações,<br />
que iria sacrificar o seu ritmo de participação na<br />
selecção nacional “ porque era chegada a hora de tratar de completar<br />
a sua formação académica no ISMAI – Gestão do Desporto”.<br />
Parabéns Carlos Resende. Se todos os desportistas pensassem da<br />
mesma forma, não haveria tantas situações de grandes atletas em<br />
dificuldades após o término das suas carreiras, especialmente no<br />
futebol.<br />
Tiago Monteiro, numa prova de competitividade reduzida, subiu ao<br />
pódio em Indianápolis. Não obstante a desistência de uns tantos<br />
carros de grande categoria, o seu 3º lugar entre 6 concorrentes, é<br />
de saudar vivamente. O que talvez não devesse ter acontecido foi<br />
o facto de dois governantes terem enviado as saudações da praxe.<br />
Não bastaria a do Secretário de Estado dos Desportos? Enfim, somos<br />
uns exagerados… Para o bem e para o mal…<br />
Publicado no jornal “Região de Águeda” em 24/06/2005
cantar o hIno e contestar o Governo<br />
1. Cantar o hino nacional em público<br />
Acabo de assistir pela TV ao encontro entre as selecções nacionais<br />
de râguebi da África do Sul e da França, para o Torneio das 6 Nações.<br />
O enorme estádio em que foi disputado o jogo estava repleto de<br />
um público entusiasta.<br />
Uma imagem desse evento impressionou-me fortemente. Foi a<br />
do momento em que se tocaram os hinos nacionais respectivos.<br />
Ambos foram cantados por uma sul-africana com uma excelente<br />
voz. E ela foi acompanhada pelas vozes dos jogadores africanos e<br />
europeus perfilados no terreno que, salvo um ou outro, cantavam<br />
com fervor e bem alto.<br />
Bem gostaria de ver a mesma atitude em todos, mas todos, os jogadores<br />
que envergam as cores nacionais, ainda que muitos deles<br />
radicados em clubes estrangeiros.<br />
Mas fica-me uma dúvida: será que nas escolas de ensino básico e<br />
secundário as nossas crianças são motivadas no canto coral pelos<br />
seus professores?... Que saudades eu tenho do meu professor dessa<br />
disciplina no Liceu de Aveiro, o Pe. António…<br />
2. A contestação ao governo<br />
Os últimos dias foram agitados pelas anunciadas greves dos professores<br />
em dias de exames do secundário que vieram a ter uma<br />
resposta pronta e firme, com sucesso, por parte da Ministra da Educação.<br />
Não podemos nem devemos deixar de realçar o comportamento<br />
digno de muitos professores que obstaculizaram, a contra<br />
gosto ou não, aos graves prejuízos que os sindicatos pretenderam<br />
desferir, em última análise, aos indefesos alunos e suas famílias.<br />
Mesmo assim, ainda houve uns tantos alunos que ficaram à espera<br />
dos seus “educadores”. A agitação provocada pelas medidas que<br />
o Governo tem vindo a tentar implementar com vista à redução da<br />
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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
despesa do Estado, e que deveria ser compreendida por todos os<br />
portugueses, põe-nos uma interrogação: será que as medidas de<br />
austeridade só devem ser acatadas por uns tantos, sem poder reivindicativo?<br />
As classes especiais, mais favorecidas por privilégios<br />
conquistados antes, nada terão a ver com a situação do País?<br />
O certo é que foi o laxismo do Estado em que todos, mas todos,<br />
desde os governos provisórios, tiveram a sua culpa, nos conduziram<br />
à actual situação, não obstante o manancial de dinheiros da<br />
Europa que nos afogou numa onda despesista, muitas das vezes,<br />
com reduzido controlo estatal ou autárquico. Fez-se muita coisa<br />
boa, é certo, mas, com o mesmo dinheiro, sem desvario nem corrupção,<br />
poder-se-ia ter feito muito mais… Alguém tem dúvidas?<br />
Acabamos de entrar no verão, pelo que é natural que os ânimos<br />
tendam a “arrefecer”, com o calor, os ímpetos dos sindicatos das<br />
magistraturas, das polícias, dos médicos, dos enfermeiros, novamente<br />
dos professores, etc. etc.<br />
Mas seria interessante que o Governo, para além dos sinais muito<br />
positivos que já deu, no sentido da moralização do sistema político,<br />
se não esqueça de dar mais um: que diga (sim ou não) se já<br />
fez com que os regulamentos das reformas do Banco de Portugal,<br />
Caixa Geral dos Depósitos, EDP e GALP fossem alterados, acabando-se<br />
com o desaforo das reformas milionárias dos seus administradores<br />
que as conquistam com uns escassos anos de trabalho.<br />
Acabar com essa afronta a quem luta no dia a dia pela sua sobrevivência<br />
não poderá nunca ser considerado demagogia. A não ser<br />
assim, fica-se com a ideia de que não se quererá prejudicar, no<br />
futuro, a reforma de Vítor Constâncio e de mais uns tantos… que<br />
se juntarão aos Mira Amaral, Campos e Cunha…<br />
Aguarda-se por esse sinal inequívoco das intenções do governo,<br />
já que ninguém entende que apenas se limita o montante dessas<br />
reformas quando acumuladas com o exercício de outras funções<br />
públicas…<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo“ de 24/06/2005
transParêncIa e rIGor<br />
1. Transparência<br />
“Transparência” é uma das palavras que têm vindo a ser usadas a<br />
esmo, em especial pelos nossos políticos. Por tudo e por nada se<br />
apregoam as atitudes transparentes na gestão da coisa pública.<br />
Tratam-se de boas intenções que todos os responsáveis políticos,<br />
e não só, deveriam levar à prática. Só que a prática deixa muito a<br />
desejar em relação a uns tantos. Outros há, sim senhor, que são<br />
bem transparentes nos seus actos públicos, o que é justo reconhecer.<br />
Mas, infelizmente, o que deveria ser regra quase aparece como<br />
excepção. Em termos de transparência, basta ler os jornais em que<br />
todos os dias surgem notícias de situações menos claras, em especial<br />
no domínio autárquico, com os tribunais a contas, quer com<br />
falta de tempo e condições para produzirem sentenças atempadas,<br />
quer com prescrições.<br />
Há dias, o DN titulava uma página inteira assim: «TC arrasa contabilidade<br />
dos partidos políticos. Tribunal abre processos contra dirigentes<br />
por existência de “dolo”. PS, PSD e CDS/PP repetem irregularidades».<br />
Este exemplo de falta de transparência na gestão de<br />
dinheiros de todos nós tem de levar a uma interrogação: com que<br />
moral se pretende aumentar o financiamento dos Partidos Políticos<br />
à custa do erário (exaurido) público, como ciclicamente se vem<br />
falando? Será uma heresia “democrática”dizê-lo, mas atrevo-me a<br />
apontar para que os Partidos assentem a sua base financeira nas<br />
quotas dos seus filiados, até porque são eles que virão a ser os<br />
mais beneficiados quando o seu Partido ganhar… Talvez seja de<br />
estudar o caso do kit do Benfica… e encarar de vez a redução do<br />
número de deputados para 100, esses pagos devidamente desde<br />
que escolhidos com base nos seus curricula, mas em que o simples<br />
mas trabalhoso colar de cartazes tenha um peso reduzido…<br />
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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
2. Rigor<br />
Outra das palavras que está na moda e se aplica a torto e a direito<br />
é a palavra “rigor”. Pois bem, quando ouço um político usar<br />
o termo para reforçar a credibilidade das suas propostas perante<br />
o povo, recuo no tempo 55 anos e logo me vem à mente a figura<br />
de um Catedrático da Faculdade de Ciências da Universidade de<br />
Coimbra – o Doutor Manuel dos Reis. Ele foi meu Professor de<br />
Astronomia e Mecânica Celeste. Para além de ser um sábio da<br />
matemática, tinha umas excepcionais qualidades de expositor que<br />
lhe permitiam tratar uma matéria tão complexa como a da ciência<br />
dos astros de uma forma extraordinariamente simples e aliciante<br />
para os seus alunos. Uma das características desse Professor consistia<br />
no rigor posto em tudo o que era feito no Observatório Astronómico<br />
da Universidade e que era o prolongamento do que se<br />
passava nos exames das suas cadeiras. Ele não admitia um erro de<br />
uma centésima num cálculo das coordenadas de uma estrela. Esse<br />
erro, aparentemente sem relevância, era sinónimo de reprovação.<br />
Assim se passou com o meu velho amigo e grande glória da Académica,<br />
o interior esquerdo, Nana. Um ofício que o dactilógrafo<br />
tivesse de rasurar era sinónimo de novo ofício até não ter erros…<br />
Essa preocupação de rigor ainda hoje a mantenho.<br />
Os tempos de agora são outros e muitos dos que me lerem acharão<br />
ridículas estas preocupações de rigor a sério. Porque o rigor<br />
hoje apregoado aos sete ventos é um rigor a brincar.<br />
A tal ponto que, ainda bem recentemente, um conceituado economista<br />
da nossa praça errou as contas do défice, não numa centésima,<br />
mas em muitos milhões de euros, não obstante contar com<br />
uma equipa de excelência que deve apoiá-lo no Banco de Portugal<br />
– um organismo que devia primar pelo rigor… E, logo a seguir, o<br />
próprio Ministro das Finanças, também conceituado economista,<br />
mandou para Bruxelas umas contas do PEC igualmente erradas<br />
em muitos milhões…<br />
Há 55 anos o aluno que errasse por uma centésima era reprovado.<br />
Hoje, ao economista que erra em muitos milhões de euros, nada<br />
acontece… a não ser obter uma reforma sumptuária… Quousque<br />
tandem abutere Catilina patientia nostra?<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” em 22/07/2005
PrIvIléGIos de candIdatos<br />
1. Coragem<br />
Não é a primeira vez que aqui registo, com surpresa, aliás, mas<br />
com agrado, a coragem com que o PM Sócrates tem actuado nestes<br />
primeiros meses de governação. Efectivamente, ele destapou<br />
a panela onde se acomodam as mais variadas situações de privilégios<br />
e sinecuras de que uns tantos, que são muitos afinal, têm<br />
beneficiado, nestes 31 anos pós revolução.<br />
Pelo que se tem ouvido, o PM parece estar disposto a corrigir o<br />
rumo dessas situações, o que não será fácil, dados os interesses<br />
instalados, alguns deles em Corporações bem poderosas.<br />
Com o aproximar das eleições autárquicas, surgiu agora mais uma<br />
situação que, no mínimo, se tem de considerar escandalosa. Trata-<br />
-se de quê, afinal? Vejamos:<br />
A lei actual prevê que os candidatos a autarcas tenham dispensa<br />
de actividade profissional durante os 30 dias que precedem a<br />
campanha respectiva. Mais informou o PM de que estarão nessa<br />
situação cerca de 5.000 candidatos… Sim, são 5.000.<br />
Considerando que o mês de férias por excelência é o de Agosto,<br />
essa situação levará a que, uma semana após o regresso a casa,<br />
vindos das férias, muitos desses milhares de veraneantes entrarão<br />
novamente em férias, pois já se sabe que o trabalho das campanhas<br />
cai sempre nos mesmos que são alguns deles. Quando<br />
o discurso oficial vai no sentido da produtividade como um dos<br />
meios por excelência para se combater o nosso atraso, o sistema<br />
político português com isso não se preocupa. Mas pede sacrifícios<br />
aos trabalhadores… Com estes exemplos não acredito que a mobilização<br />
da mão de obra portuguesa corresponda aos apelos que<br />
lhe são feitos. O Senhor PM tem aqui uma boa oportunidade para<br />
promover a revogação do referido dispositivo legal. Se o fizer já,<br />
isso será um sinal bem positivo da governação.<br />
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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
2. Venezuela<br />
Sabe-se que o piloto Luís Santos, que se encontra detido na Venezuela<br />
como arguido num processo de tráfico de droga, lá continua<br />
a “apodrecer” à ordem da justiça (?) de Hugo Chávez. Essa situação,<br />
a avaliar pelo que a nossa prestigiada Polícia Judiciária e a<br />
própria Procuradoria-Geral da República disseram, será intolerável<br />
num estado de direito.<br />
Não sei qual tem sido o empenho do Doutor Amaral no caso. Será<br />
ele capaz de repetir o êxito do Embaixador António Monteiro no<br />
Dubai? Para já, tarda…<br />
Porém, haverá uma cartada que poderia ser jogada, se é que o<br />
não foi já. O Senhor Presidente Jorge Sampaio tem corrido mundo<br />
a afirmar o prestígio de Portugal. Ainda agora regressou do Chile<br />
(onde teve de reconhecer que o seu crescimento económico tem<br />
sido notável, mas só a partir da ditadura de Pinochet – que praticou<br />
muitas maldades condenáveis, é certo) e do Paraguai que devem<br />
ter um interesse estratégico muito grande para Portugal, dada a<br />
sua proximidade… Numa dessas viagens ficou-me a impressão de<br />
que o Dr. Sampaio estabeleceu bons contactos com o ditador Fidel<br />
Castro que, seguramente, é amigo de Chávez. Não seria de tentar<br />
a sorte por essa via?<br />
3. Estímulos presidenciais<br />
Ainda a propósito de visitas do PR, é sempre com agrado que vejo<br />
o Dr. Sampaio por esse País fora em visitas temáticas a chamar a<br />
atenção para o que de bom se faz com mão de obra portuguesa e<br />
empresários de grande categoria que os há e não são poucos.<br />
Sabe-se, porém, que há muitíssimas empresas que enfrentam<br />
grandes dificuldades para sobreviverem, grande parte delas também<br />
por culpa de patrões menos escrupulosos…<br />
Pois bem, mesmo que já esteja a dobrar a última esquina do seu<br />
percurso presidencial, não seria de vermos o PR fazer uma visita<br />
a um conjunto dessas empresas em dificuldade para injectar um<br />
pouco de ânimo aos seus sacrificados trabalhadores? Quem sabe<br />
se, com esse estímulo, elas não dariam a volta por cima…<br />
É mais agradável ser recebido em ombros do que em ambientes<br />
adversos, mas há ossos do ofício a que se não deve fugir…<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” em 29/07/2005
falar PortuGuês…<br />
1. Quem reprova ? O professor ou o aluno ?<br />
A simpática Drª Edite Estrela, que suponho ser professora do ensino<br />
secundário, de formação, embora agora seja política no activo,<br />
tem um programa na Rádio Renascença com muito interesse. Ela<br />
ensina a falar/escrever bom português, com exemplos sugestivos<br />
que escolhe com bom critério.<br />
Devo dizer que eu próprio, embora tenha tido excelentes professores<br />
de português na Escola Primária de Águeda e no Liceu de<br />
Aveiro, tenho aprendido muito com as suas lições radiofónicas.<br />
Trago este tema para o jornal porque, na semana em que foram<br />
divulgados os resultados dos exames de matemática do ensino secundário,<br />
os jornais (até em editorial e em manchete), as rádios e<br />
as televisões (em horário nobre) agrediram os nossos ouvidos e os<br />
nossos olhos com notícias e comentários em que se propalava que<br />
70% dos alunos reprovaram ou chumbaram. Não é assim. Quem<br />
reprova é o professor e não o aluno. É o aluno que é reprovado<br />
pelo professor.<br />
A maioria dos jornalistas que assim falava é gente nova que deve<br />
ter tido professores não exigentes ou não competentes. Nunca é<br />
tarde para se aprender. Que tal umas lições de bom português<br />
nas redacções dos órgãos de comunicação social? É que não é só<br />
na Escola que se aprende. E a Comunicação Social tem um papel<br />
importantíssimo neste domínio, pela penetração que tem na população.<br />
Bom seria não termos de ser confrontados, constantemente, com<br />
discursos feitos em mau português. A Língua é o maior património<br />
cultural de um povo, pelo que deve ser bem tratada pelos cidadãos.<br />
Assim se evitaria ouvir dizer ou ler, por parte de gente estimável<br />
mas com especiais responsabilidades, por exemplo: “estamos<br />
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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
cientes que…” em vez de “estamos cientes de que…” (J. Sócrates);<br />
“póssamos…” em vez de “possamos…” ministro Jaime Silva);<br />
“cidadões…” em vez de “cidadãos” (vídeo do professor da Fac.<br />
Letras, M. Carrilho), etc. etc. Muitos outros exemplos poderiam ser<br />
citados, infelizmente, até porque quem é que não caiu já numa<br />
dessas “gaffes”?<br />
A tarefa não é fácil. Cabe aos professores na Escola, ao Sindicato<br />
dos Jornalistas, entre outros, fazer alguma coisa para inverter esta<br />
situação.<br />
2. Corrupção na Justiça?<br />
A corrupção é um fenómeno universal disseminado por todo o<br />
mundo e que está presente nos mais variados domínios da actividade<br />
económica e não só. Usa meios sofisticadíssimos para alcançar<br />
os seus objectivos, normalmente consubstanciados em lucros<br />
avultados mas ilícitos.<br />
Já ouvimos falar de corrupção nas autarquias, nos governos, nas<br />
escolas, no desporto, em cooperativas, etc. etc.. Mas estávamos<br />
longe de pensar que essa praga tinha chegado também à Justiça<br />
portuguesa. Pois bem, o Diário de Notícias fez manchete no passado<br />
dia 12 com “PJ investiga corrupção no Tribunal de Comércio<br />
de Lisboa”.<br />
Quero acreditar que se trata de uma brincadeira de mau gosto<br />
pois uma democracia consolidada como a nossa não tem espaço<br />
para uma tal situação.<br />
Publicado no jornal “Região de Águeda” em 29/07/2005
unIversIdades e MordoMIas<br />
1. Universidade em família<br />
A última função que exerci no Estado, antes de me aposentar e de<br />
rumar para a Sonae, foi na Inspecção Geral de Educação. Naturalmente<br />
que sou sensível às notícias que dela (agora desdobrada na<br />
Inspecção Geral do Ensino Superior) emanam.<br />
Ficou-se a saber não há muito tempo que numa Universidade –<br />
mais precisamente a UTAD – serão raros os membros da equipa<br />
reitoral ou do pessoal dirigente administrativo que não tenham<br />
elementos familiares a trabalhar na instituição. Só o administrador<br />
da Universidade terá uma quota (docentes incluídos) em que entrarão<br />
a mulher, filhos, nora, cunhados e primos por afinidade.<br />
A Universidade teria ao seu serviço uma frota automóvel constituída<br />
por 32 viaturas operacionais, além de 19 alugadas. Dessas,<br />
a Reitoria dispunha de 19. E limite de gastos, ao que parece, não<br />
havia.<br />
Com cerca de 30 telemóveis distribuídos pela equipa reitoral, directores<br />
de serviço e motoristas não existiria controlo de chamadas.<br />
Certamente que a UTAD não será a única nessa situação. Ou<br />
será?<br />
Lembro-me, a propósito, dos tempos em que o Reitor da Universidade<br />
de Coimbra se deslocava no seu automóvel. E o seu prestígio<br />
era enorme. E a Universidade cumpria o seu papel com escassos<br />
recursos. Não estamos nos meados do século XX, é certo. Mas<br />
tenho a sensação de que se caiu no exagero do facilitismo e do<br />
despesismo.<br />
E dou comigo a perguntar-me: foi para isto que a Assembleia da<br />
República queimou as pestanas dos deputados a discutir e a aprovar<br />
acaloradamente a Lei da Autonomia Universitária que se encontra<br />
em vigor?<br />
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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
Mas o pior é que todos, ministros, secretários de estado, deputados,<br />
assobiam para o ar… como se fossem alheios ao que fizeram…<br />
desde o período revolucionário. E ninguém lhes pede contas. O<br />
“Zé pagode” que pague a factura que começa só agora a preocupar<br />
alguns dos senhores reitores que terão ajudado ao descalabro<br />
e estão na contingência de só virem a ter dinheiro para pagarem<br />
os salários… nos tempos próximos. Se é que o terão mesmo?...<br />
Lição a tirar: as Universidades estão pobres financeiramente mas<br />
quem legislou, se calhar, entrou na política com uma mão à frente<br />
e outra atrás e hoje está bem na vida… sem nenhum peso na<br />
consciência.<br />
2. Universidades e Tecnologias<br />
Felizmente que existem em algumas Universidades núcleos de investigadores<br />
que têm trazido para o mercado produtos de excelência.<br />
Foi o caso de que a RTP nos deu conta recentemente com a<br />
presença nos ecrãs do Prof. Epifânio da Franca (IST). Com alguns<br />
dos seus colaboradores universitários criou a Chipidea cujo negócio<br />
consiste na concepção de circuitos integrados analógicos e digitais<br />
que se espalham por Paris, Leuven, Gdansk, Suzhou, Tóquio,<br />
Macau, New Jersey, Texas e que já facturou em 2004 mais de € 20<br />
milhões.<br />
Refiro ainda o caso da Enabler que nasceu na Sonae com o Eng.<br />
António Murta (Universidade do Minho) e que atingiu € 28 milhões<br />
de facturação em Inglaterra, Alemanha e Brasil. Recentemente,<br />
tive ocasião de saber que, em Izmir (Turquia), a equipa do Eng.<br />
Murta esteve ocupada a montar os sistemas informáticos necessários<br />
à organização da Universíada que teve a presença de 8.300<br />
participantes.<br />
Isto para dizer que massa cinzenta não falta a Portugal. Ela precisa,<br />
isso sim, de ser estimulada em prejuízo de gastos que só os<br />
políticos da nossa terra conseguem desbaratar, muitas vezes em<br />
proveito próprio.<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” em 16/09/2005
o rePublIcano que quer ser reI<br />
Quando se nasce, o percurso de vida das pessoas, de uma maneira<br />
geral, é uma incógnita. Por vezes, nasce-se pobre e o futuro torna-<br />
-se risonho. Outras vezes nasce-se rico e o futuro torna-se negro.<br />
O sucesso ou insucesso na vida dependem, em grande parte, da<br />
vontade das pessoas. Há as que lutam, estudam, trabalham e se<br />
esforçam por alcançar o sucesso e há ainda as que nada disso fazem<br />
e acabam na mediania, se não mesmo na pobreza. Para não falar<br />
de uma boa saúde, sem a qual nada feito.<br />
Claro está que há quem nasça em berço de ouro e que só precisará<br />
de não fazer muitas asneiras para seguir uma vida de opulência e<br />
mesmo de ociosidade. Em relação a esses, há quem desenvolva um<br />
sentimento de inveja, o que não é o meu caso. Tenho é pena da<br />
sua condição de inutilidade perante a sociedade que os rodeia. E<br />
há excepções: são aqueles que, tendo nascido nesse berço, actuam<br />
como seres normais na sociedade competitiva que nos envolve. E,<br />
felizmente, são muitos.<br />
Numa sociedade profundamente (não em termos quantitativos) politizada,<br />
como está a sociedade portuguesa, dou comigo a pensar<br />
muitas vezes nas carreiras dos nossos políticos: o que fizeram ou<br />
não fizeram ao longo da vida? Qual o seu percurso profissional? Os<br />
testemunhos de carácter ou falta dele de que deram provas? As derivas<br />
em que se deixaram enredar? Enfim, como chegaram tão alto<br />
(alguns com os bolsos cheios por enriquecimento súbito)?<br />
Com perto de 100 anos de República, o País tem assistido a evoluções<br />
interessantes e menos interessantes, a um pouco de tudo.<br />
Agora que estamos no século XXI, parece que uma certa Monarquia<br />
está a espreitar… E está a espreitar de uma forma sofisticada – ou<br />
não estivéssemos nós na era da alta tecnologia…<br />
Os monarcas são pessoas como as outras mas que, em regra, nasceram<br />
num berço de ouro. Foram educados em boas Escolas e Univer-<br />
122
123<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
sidades. Aprenderam as boas maneiras da convivência, mas nunca<br />
souberam o que era ter de entrar ao serviço de uma empresa, do<br />
Estado ou de uma instituição, a hora certa, manter-se lá a trabalhar<br />
até às tantas e só depois ir para casa tratar da mesma, por vezes,<br />
sem a garantia do salário devido.<br />
É justo prestar homenagem àqueles monarcas, e houve muitos na<br />
nossa história, que exerceram as suas funções com dignidade e alto<br />
sentimento do amor à Pátria. E ainda os há por esse mundo fora,<br />
felizmente. Só que a ambição de certos plebeus deixou de conhecer<br />
limites. Querem ser monarcas e, para isso, há que estudar formas<br />
de lá chegar por via democrática… Olhemos ao nosso redor. Temos<br />
um candidato a PR que se assume de republicano, e de outras coisas,<br />
que nasceu no seio de uma família honrada que conseguiu um<br />
estatuto económico de certo relevo, por via da educação, durante<br />
o Estado Novo. Não lhe faltaram condições para cursar a Universidade.<br />
Teve sempre condições para desenvolver actividade política,<br />
sem pensar no dinheiro que tinha de ganhar exercendo profissão<br />
concreta. Teve a maior sorte de ter ao seu lado uma Senhora que<br />
se encarregava, sabe Deus com que esforço, de gerir, com sucesso,<br />
o negócio herdado. E, quando a política activa em que se envolveu<br />
com determinação, vendo as ideologias não como um meio mas<br />
como um fim, o levou ao exílio em França (onde vagamente leccionou…),<br />
teve sempre o apoio financeiro da retaguarda familiar e de<br />
capitalista com larga visão estratégica… Enfim, mesmo na adversidade,<br />
viveu sempre à grande e à francesa. O trabalho puro e duro<br />
nunca foi o seu forte… Com o 25 de Abril a sua vida passou a ser<br />
uma vida de sucesso político pessoal e familiar.<br />
Fez coisas boas como o combate ao totalitarismo que os revolucionários<br />
do MFA nos quiseram impingir. Sujou o seu nome com a<br />
descolonização que aceitou, subscreveu (não só ele) e de vez em<br />
quando defende, nos termos em que foi feita. Bem ou mal, foi tudo<br />
neste País, mesmo sem ler dossiers... E agora, com idade a merecer<br />
repouso, o seu instinto monárquico-democrata leva-o a lutar por<br />
um 3º mandato… Até para ajudar o delfim João a manter-se no<br />
poder, por agora só autárquico… Os monárquicos que se cuidem!<br />
Como sou republicano, não votarei em Soares.<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” em 23/09/2005
a falta de PúblIco no futebol<br />
No dia do meu aniversário, resolvi levar o meu neto Diogo ao futebol.<br />
Jogava nesse dia, no estádio do Bessa, o clube a que estou<br />
ligado sentimentalmente há 60 anos – a Associação Académica de<br />
Coimbra.<br />
Assim, depois de soprar as muitas velinhas do bolo feito pela minha<br />
nora Marta, lá fomos os dois conduzidos pelo meu filho Fernando.<br />
Dirigi-me à bilheteira para comprar os bilhetes de ingresso.<br />
“Quanto custa cada bilhete?”, perguntei eu. “Vinte euros, cada<br />
um e a criança de 11 anos também paga”, foi a resposta…<br />
Fomos para a bancada da claque da Académica que disparava<br />
“gritos” próprios de gente sem qualquer formação… Uma tristeza…<br />
Com bastante sofrimento lá foram passando os 90 minutos de<br />
jogo. Por sinal, um jogo fraco, sem grande nível técnico, e que<br />
terminou com a vitória do Boavista por 2-1.<br />
Nesta era dos novos estádios do Euro 2004, foi a primeira vez que<br />
visitei o estádio do Bessa que me deixou boa impressão, de uma<br />
maneira geral. Só que, para se entrar para as cabeceiras, tem de<br />
se subir uma centena de degraus que nem são suaves. São mesmo<br />
de tirar o fôlego a um maratonista.<br />
Não sei se alguma vez o estádio encheu completamente, a avaliar<br />
pelos números divulgados semana a semana. No jogo a que<br />
assisti, estariam umas escassas 2.000 pessoas – o que dá um aspecto<br />
desolador ao recinto, só compensado pela policromia das<br />
cadeiras.<br />
O mesmo se está passando na maioria dos outros campos de futebol.<br />
As excepções à regra situam-se, naturalmente, no Dragão, na<br />
Luz e em Alvalade e nem sempre.<br />
O certo é que a comodidade dos estádios novos é convidativa para<br />
os espectadores. Então porque é que eles não acorrem aos jogos?<br />
124
125<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
Uma das razões é, sem dúvida, o preço dos ingressos. Na verdade,<br />
numa época de aflições económicas nos lares de muitos<br />
portugueses, quem pode dispor facilmente de 20 euros/pessoa,<br />
crianças incluídas, para assistir ao espectáculo? Que, nem sempre<br />
é de fino recorte técnico, proporcionado por clubes em situação de<br />
falência técnica e por atletas pagos a níveis escandalosos.<br />
E, pela amostra, os clubes nem sequer se preocupam em semear<br />
para colher frutos mais tarde, escancarando as portas dos estádios<br />
às crianças em jogos que sabem que vão ter muito mais lugares<br />
não vendidos do que lugares vendidos.<br />
Oxalá o bom senso venha a imperar na política de preços da Liga<br />
de Clubes.<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” em 07/10/2005
antunes varela - uM PortuGuês de eleIção<br />
Filho de Pais simples e humildes, sem meios de fortuna, foi aluno<br />
brilhante da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra,<br />
tendo sido Presidente da Associação Académica de Coimbra. Foi<br />
assistente do Prof. Pires de Lima e doutorou-se com distinção. Foi<br />
orador oficial do Orfeão Académico de Coimbra, na sua digressão<br />
a Madrid e Salamanca. Nessa qualidade, proferiu um discurso<br />
perante o Ministro da Educação de Espanha, Prof. Ibañez Martin,<br />
que este, anos depois, já como Embaixador em Portugal, recordava<br />
com grande emoção. Nesse discurso, de belo recorte literário e<br />
muito bem dito, Varela comparava Coimbra a Salamanca citando<br />
Unamuno: “…onde cada pedra é uma alma e cada alma um segredo…”.<br />
Dedicou a sua vida ao Direito Civil e ao Direito Processual Civil. O<br />
Código Civil de 1966, que substituiu o de 1867, do Visconde de<br />
Seabra, deve ser considerada uma obra que não desmerece no<br />
confronto com as melhores codificações estrangeiras. Os trabalhos<br />
preparatórios e o ante projecto foram elaborados por uma Comissão<br />
presidida pelo Prof. Vaz Serra, tendo a sua revisão final cabido<br />
a Pires de Lima e Antunes Varela. Sem se esquecer a colaboração<br />
dada naturalmente por outros professores da Faculdade de Direito<br />
de Lisboa, pode dizer-se que a Universidade de Coimbra, através<br />
dos seus Professores, Salazar, presidente do Conselho de Ministros,<br />
Vaz Serra, presidente da Comissão, e Antunes Varela, ministro da<br />
Justiça, ficou para sempre ligada a essa obra jurídica.<br />
Como um dos maiores civilistas portugueses contemporâneos, Antunes<br />
Varela, à frente do Ministério da Justiça, no consulado de<br />
Salazar, produziu legislação de largo alcance (lembre-se o regime<br />
da propriedade horizontal, entre muitos outros).<br />
Grande publicista e notável conferencista, Varela foi director da<br />
centenária “Revista de Legislação e de Jurisprudência” que é a<br />
126
127<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
mais antiga da especialidade e fora fundada por Chaves e Castro.<br />
Nessa Revista publicou notáveis anotações a Acórdãos do Supremo<br />
Tribunal de Justiça. Para se ver da qualidade desse Professor bastará<br />
citar, entre muitas outras obras da maior qualidade técnica,<br />
o “Direito das Obrigações”, o “Código Civil anotado” (c/ Pires de<br />
Lima), as “Lições de Processo Civil”, as “Lições de Direito de Família”.<br />
Cristão convicto, de inultrapassável coerência ideológica, muito<br />
empenhado no progresso económico e social, Antunes Varela não<br />
escapou aos ventos abrilistas, em que suportou enormes dificuldades,<br />
pelo que teve de se exilar no Brasil, mais propriamente na<br />
Bahia, onde se instalou como um vulgar advogado, sem meios de<br />
fortuna, que ia mesmo à barra dos tribunais, onde naturalmente<br />
alcançou grande prestígio. Lá publicou também um livro sobre “Direito<br />
das Obrigações”.<br />
Após a sua jubilação na Universidade de Coimbra, passou a leccionar<br />
noutras Universidades portuguesas e brasileiras, onde era<br />
especialmente apreciado.<br />
Fui seu adjunto na direcção do Centro Universitário de Coimbra,<br />
nos anos 50, e depois acompanhei-o na administração da SONAP<br />
onde ele era o presidente do conselho de administração. Daí que<br />
estas palavras revelem alguma emoção. Tenho porém a certeza<br />
de que existirá um consenso generalizado de admiração por esse<br />
grande português que acaba de partir… Paz a sua alma!<br />
Publicado no jornal “Região de Águeda” de 21/10/2005
cultura e subsídIos<br />
De vez em quando, para não dizer, com alguma frequência, assiste-se<br />
a debates sobre o financiamento da cultura, nas suas mais<br />
variadas formas de expressão: teatro, música, cinema, etc.<br />
Normalmente, está de um dos lados o produtor dos actos considerados<br />
culturais e do outro lado está o financiador ou não financiador.<br />
Raro se chega a uma conclusão diversa daquela que leva o<br />
espectador a concluir que o dinheiro gasto nunca é suficiente para<br />
os desejos dos artistas/produtores.<br />
Sinceramente não sei de que lado estará a razão. Mas lá que nesse<br />
campo existe a ideia de uma subsidiodependência muito grande<br />
parece que é indiscutível.<br />
Tenho o maior respeito, mesmo admiração, por todos aqueles que<br />
dedicam a sua vida a criar, sejam poemas/prosa, sejam coreografias,<br />
seja música, enfim todo e qualquer espectáculo/programa<br />
que não atente contra os princípios e valores da sociedade em que<br />
vivemos. Ao contrário, tenho um solene desprezo pelos programas,<br />
e muitos são, que ofendem o desenvolvimento harmonioso<br />
das crianças e a decência, e que nos entram pela casa dentro,<br />
todos os dias, através da “caixa mágica”.<br />
As boas vontades que por aí imperam não podem, porém, evitar<br />
que se faça uma avaliação da qualidade do que elas oferecem ao<br />
público consumidor.<br />
A forma mais simples de fazer essa avaliação consiste em registar<br />
a adesão, ou falta dela, aos produtos oferecidos. E essa avaliação<br />
é inexorável, num ou noutro dos sentidos.<br />
Pois bem, tive ocasião de assistir em Lisboa a dois espectáculos<br />
culturais de que gostei francamente.<br />
Um foi a revista à portuguesa “A Canção de Lisboa”. Trata-se de<br />
mais uma excelente produção de Filipe La Féria que consegue, sem<br />
subsídios estatais, segundo julgo saber, atrair o público que acorre<br />
128
129<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
ao Politeama vindo em excursão dos mais variados pontos do País.<br />
Porque é que ele consegue essa grande adesão da população? Só<br />
encontro uma palavra para a classificar: qualidade!<br />
O outro espectáculo a que acabo de assistir foi a ópera “Carmen”<br />
de Bizet, no Coliseu dos Recreios. A comprovar o que digo atrás,<br />
até tive o grato prazer de lá encontrar um conterrâneo que hoje<br />
exerce medicina em Aveiro e que já não via há muito tempo – o<br />
Jorge Pinho e Melo - e que também ele se integrou numa dessas<br />
excursões culturais periódicas, em autocarro, organizadas pela D.<br />
Manuela Maia.<br />
O Coliseu tinha a plateia completamente cheia, tal como nos outros<br />
quatro espectáculos que proporcionou em Lisboa, depois de<br />
ter actuado no Porto e na Figueira da Foz. Todos estes espectáculos<br />
foram integrados na digressão europeia da Grande Ópera de Kazan,<br />
em celebração dos 1.000 anos dessa cidade da Tartária.<br />
Mesmo com preços que não são muito modestos para a época que<br />
atravessamos, o público não faltou para ovacionar os mais de 100<br />
artistas e músicos em palco. Porquê? De novo encontro a palavra<br />
adequada: qualidade!<br />
Curiosamente, à mesma hora, realizava-se também no Politeama,<br />
em frente do Coliseu, o espectáculo “A Canção de Lisboa”. E assim<br />
se cruzaram duas autênticas multidões que tinham em comum o<br />
desejo de apreciar produtos de qualidade, que são naturalmente<br />
fruto de muito trabalho e suor.<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 04/11/2005
PolítIcos InsacIáveIs<br />
Continuo a pensar que o Eng. Sócrates tem demonstrado, nas suas<br />
intenções, um espírito reformista que é de louvar.<br />
Será que ele está sofrendo muitas resistências para levar a cabo as<br />
suas ideias, designadamente quando se trata de medidas moralizadoras<br />
da classe política que temos tido desde Abril’74? Não pretendo<br />
dizer que não haja e não tenha havido gente séria nessa classe.<br />
Mas a maioria… deixa muito a desejar.<br />
Ainda agora o que se passou com a entrada em vigor do diploma<br />
da Assembleia da República relativo às benesses (citando M. Soares)<br />
de que usufruíam os autarcas foi simplesmente lamentável.<br />
O que a certamente programada burocracia dos senhores deputados<br />
fez para que os recentes eleitos pudessem ficar fora da alçada<br />
da Lei só deve envergonhar quem assim procedeu. Mas nada disso<br />
os envergonha porque, afinal, essa situação não era mais do que<br />
uma manifestação de solidariedade para com os seus camaradas<br />
autarcas. E assim sendo, vamos ter de continuar a olhar para esses<br />
senhores como uns privilegiados que trabalham 4 anos como se<br />
tivessem trabalhado 8 anos, para efeitos de reforma. E assim foi<br />
Sócrates desfeiteado.<br />
E tudo isto se passa precisamente numa época em que o governo<br />
está a aumentar a idade da reforma para os funcionários públicos.<br />
A desgraça destes é não serem nem políticos, nem tão pouco órgão<br />
de soberania.<br />
A situação financeira e económica do País impõe sacrifícios que todos<br />
temos de compreender, mesmo que a contra gosto.<br />
Mas que sejam todos a contribuir nessa cruzada que Sócrates está a<br />
empreender, e bem!<br />
Essas benesses, a que muitos chamam “direitos adquiridos”, estão a<br />
criar grandes dificuldades ao governo, com os sindicalistas na primeira<br />
linha de fogo, como era de prever. Outra coisa não seria de<br />
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131<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
esperar. Eles também andam nisto há 30 anos… sem saber o que<br />
significa a palavra renovação! E eu pergunto-me: será que a política<br />
de redução / eliminação de benesses / direitos adquiridos só vai<br />
atingir os mais fracos? E deixa de fora os poderosos?<br />
Aponto 2 exemplos: O dos ex-Presidentes da República e o dos ex-<br />
-Presidentes da Assembleia da República. Reconheço o melindre da<br />
situação, mas não será que, em democracia, todos os cidadãos são<br />
iguais perante as leis? Não está em causa, como é óbvio, nem o<br />
nome nem a dignidade das pessoas. Mas, por alma de quem é que<br />
os contribuintes têm de pagar as mordomias desses senhores, por<br />
mais respeitáveis que sejam e por melhor ou pior que tenham desempenhado<br />
os seus cargos, depois de abandonarem os mesmos?<br />
Compreende-se que se lhes criem condições para terem uma reforma<br />
digna, como deve suceder, aliás, a todos os trabalhadores que<br />
efectuaram os seus descontos para a segurança social ao longo da<br />
vida.<br />
Agora, para além dessa reforma, que já de si é excepcional e suficientemente<br />
confortável, atribuir aos ex-PR uma instalação num imóvel,<br />
uma secretária, um assessor(a), viatura de cilindrada elevada (e<br />
sua manutenção) e motorista, tenho de considerar uma verdadeira<br />
afronta que será própria de países ricos, o que não é decididamente<br />
o nosso caso. O mesmo direi relativamente aos ex-Presidentes da<br />
AR, embora só com viatura, motorista e pouco mais… Quanto custa<br />
tudo isso?...<br />
Segundo a imprensa acaba de relatar, o antigo palacete da Tapada<br />
das Necessidades, com 250 m 2, que vai ser a nova “casa” de Jorge<br />
Sampaio, quando ele também passar à situação de “ex”, está a ser<br />
objecto de uma recuperação cujo custo estará estimado em 120 mil<br />
contos. Será que esse dinheiro não seria mais bem utilizado, por<br />
exemplo, num Hospital ou num Centro de Saúde ou numa Escola?<br />
Alguém se preocupa, por exemplo, em fazer a avaliação dos gastos<br />
dos Chefes de Estado em viagens ao estrangeiro face ao eventual<br />
retorno em prestígio e negócios para o País? Só M. Soares terá à<br />
sua conta o equivalente a 22 voltas ao mundo… Contudo, as estatísticas<br />
internacionais colocam Portugal cada vez em pior lugar no<br />
ranking dos países da UE… Valha-nos Deus.<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 11/11/2005
ter MeMórIa / hIno nacIonal / o ensIno unIversItárIo<br />
1. Ter memória - A inexorável lei da vida não deixará certamente<br />
de se manifestar, mais cedo do que mais tarde, talvez mesmo<br />
através duma coisa… chamada próstata, por muito que se não<br />
queira admitir essa situação. Não tenhamos dúvidas. A idade não<br />
perdoa!<br />
Até lá, porém, procurarei exercitar a memória. É o que vou fazer<br />
agora, uma vez mais.<br />
Lembro-me de, em miúdo, ir com minha mãe à consulta do Sr.<br />
Dr. Breda, ao Hospital de Águeda. Não mais me saiu da memória<br />
o conselho dado no sentido de que me faria bem uma colher de<br />
vinho tinto para me estimular o apetite… Ainda hoje sigo o conselho,<br />
já não, porém, à colher…<br />
O Hospital era um local de excelência, reconhecido mesmo como<br />
o melhor do distrito de Aveiro. Desde os médicos, todos, às enfermeiras<br />
Irmãs religiosas, tudo funcionava bem e atempadamente.<br />
Tenho para mim que esse clima era devido, em grande parte, ao<br />
timoneiro que, diariamente e sem olhar a horários, vinha de Barrô.<br />
A seu lado, muito chegado, estava o Dr. Mateus Barbas dos<br />
Anjos.<br />
Quem, de Águeda, até aos anos 70, não passou pelas competentíssimas<br />
mãos clínicas de ambos?<br />
Quando Deus levou o Sr. Dr. Brêda logo Águeda sabia que o Hospital<br />
se mantinha em boas mãos: o novo Director, Dr. Mateus, era o<br />
natural sucessor do mestre. E assim continuou, gozando do mesmo<br />
prestígio, agora já com novas técnicas cirúrgicas próprias de quem<br />
se continuava a actualizar, em especial no contacto com os lentes<br />
da Universidade do Porto, dado o bom relacionamento dispensado<br />
sempre ao seu antigo aluno.<br />
Oposicionista ao antigo regime, nunca deixou de ser respeitado<br />
por todos, mas todos, os aguedenses.<br />
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133<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
Qualquer doente do foro oncológico que fosse enviado pelo Hospital<br />
Conde de Sucena para o IPO de Lisboa levava com ele uma<br />
recomendação do Dr. Mateus o que significava um acompanhamento<br />
desvelado do Prof. Gentil, designadamente através de uma<br />
enfermeira estagiária que, por acaso, também era de Águeda, de<br />
nome Esmeralda Pais Gomes. E o Dr. Mateus telefonava assiduamente<br />
para saber da evolução da doença.<br />
Creio sinceramente que só por manifesto esquecimento dos autarcas<br />
de Águeda é que, ao calcorriarem-se as ruas da cidade, se não<br />
encontra uma com o nome de Dr. Mateus Barbas dos Anjos.<br />
2. Hino nacional – Já por diversas vezes manifestei a minha estranheza<br />
pelo facto de a maioria dos jogadores da selecção nacional<br />
de futebol não cantarem o hino nacional no início dos jogos<br />
internacionais. Pois bem nos 2 últimos jogos a situação alterou-se<br />
de tal maneira que apenas o brasileiro naturalizado Deco ficou de<br />
boca fechada. Fiquei muito contente com a atitude dos jogadores.<br />
Que seja para manter!<br />
3. O ensino umiversitário – Através de recente entrevista dada<br />
pelo Reitor da Universidade de Lisboa ao jornal Público/Rádio Renascença,<br />
ficou-se a saber que as despesas associadas ao seu pessoal<br />
“comem” 99,7% do seu orçamento. As Universidades não<br />
lutaram pela total autonomia? Souberam usá-la bem? Então de<br />
quem é a culpa desse desvario? Não é dos contribuintes certamente…<br />
Pobres contribuintes…<br />
Apurar responsabilidades é que não se usa…<br />
Publicado no jornal “Região de Águeda” de 11/11/2005
candIdaturas PresIdencIaIs<br />
Têm estado na ordem do dia da comunicação social as candidaturas<br />
presidenciais.<br />
São as apresentações das candidaturas, são as apresentações dos<br />
programas dos candidatos, são as entrevistas às televisões, são as<br />
entrevistas às rádios, são os sites da Internet, são os almoços, são<br />
os jantares, são as visitas cirúrgicas a hospitais, a faculdades, a<br />
feiras, a ruas e vielas…<br />
Mesmo que se não queira, somos bombardeados diariamente com<br />
notícias mais ou menos interessantes sobre o assunto.<br />
Devo dizer que, das apresentações dos programas a que assisti<br />
pela televisão, o mais bem conseguido foi o de Alegre: bem estruturado,<br />
bem lido, bem dito. O apelo a favor da Pátria comoveume…<br />
a fazer esquecer comportamentos dos princípios da década<br />
de ’70!<br />
Sem querer menosprezar qualquer das candidaturas que estão no<br />
terreno, começo por dizer que só há três delas que são para levar<br />
a sério. A do simpático e coerente Jerónimo e a do eloquente agitador<br />
de ideias Louça são candidaturas que apenas têm duas preocupações:<br />
por um lado usarem tempo de antena de 1ª categoria…<br />
e, por outro lado, atacarem o, por eles, denominado candidato da<br />
direita…<br />
Na verdade, com hipóteses de disputarem o lugar de Presidente da<br />
República, apenas se perfilam Soares, Alegre e Cavaco.<br />
Chegado aqui, das actuações de todos eles, até agora, começo<br />
a aperceber-me de que há um candidato e dois (ou quatro) “anti<br />
candidatos”e que pouco mais acrescentam aos seus discursos. Cavaco<br />
não tem respondido aos ataques (entrevistadoras incluídas)<br />
e faz bem. Os jogos ganham-se a meter golos limpos e não só a<br />
fazer anti-joga no meio campo, a fazer faltas, até maldosas! Sim,<br />
porque a dureza dos golpes, por vezes, leva à amostragem do<br />
134
135<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
cartão vermelho… No caso, esse cartão está no povo que não é<br />
estúpido. Estamos, pois, perante dois sexagenários e um octogenário.<br />
Até pela minha idade, ficar-me-ia muito mal, desprezar a<br />
experiência e o saber dos idosos. Sempre os respeitei e assim faço.<br />
Se o cargo em disputa fosse o de Rei de Inglaterra, considerava-os<br />
a todos em igualdade de circunstâncias. Mas não é.<br />
O esforço financeiro que o Estado vai exigir aos contribuintes para<br />
pagar este tipo de eleições representa algumas dezenas de milhões<br />
de euros, ou seja largos milhões de contos.<br />
Isto é, quanto menos eleições presidenciais se realizarem, menos<br />
menos sofrerão os contribuintes nos seus bolsos.<br />
Significa isto que, por força das leis da vida, os dois sexagenários<br />
mereçam a minha escolha, não obstante Soares estar convencido<br />
(estará?) que tem uma saúde de ferro. Ele merece, isso sim, um<br />
descanso por longos anos, entre todos os que o admiram…<br />
Chegado aqui e, embora nada contando a minha opinião para<br />
o caso, constato que não tenho a possibilidade de eleger pessoa<br />
com um perfil de um Guilherme Braga da Cruz, de um Daniel Serrão,<br />
de um Hernâni Lopes ou de um Medina Carreira. Tenho assim<br />
de me limitar a analisar os “curricula” dos dois sexagenários.<br />
E faço a opção a favor de quem se apresenta com obra feita (mesmo<br />
com algumas asneiras pelo caminho) e um percurso académico<br />
e profissional mais adequado ao que o País precisa. Acho<br />
que Cavaco não tem o dom da simpatia, mas penso que é sério,<br />
honesto, trabalhador e sólido intelectualmente - e está na idade<br />
adequada!... Assim, é nele que espero votar, face à “ementa” que<br />
os políticos nos põem à disposição em 22 de Janeiro próximo.<br />
Já agora, acrescento duas pequenas notas:<br />
1. Considero lamentável a sugestão lançada por deputados do PS<br />
ao seu não-candidato para que suspendesse o mandato, por razões<br />
éticas. Qual ética? Que Deus me perdoe, mas penso que essa<br />
auto-suspensão teria um efeito único: o de retirar a mordomia<br />
do carro e motorista ao seu não-candidato, durante o período da<br />
suspensão do mandato. Não seria isso que daria gozo aos seus<br />
camaradas?<br />
2. Muito apreciaria ouvir de todos os candidatos a Presidente, uma<br />
declaração no sentido de que, se forem eleitos, renunciarão ao<br />
direito a uma casa e sua manutenção, uma viatura, um motorista,
combustível, secretária, assessor, etc., quando saírem do cargo e<br />
outra explicitando quantas voltas ao mundo esperam dar, durante<br />
o mandato, em Falcon ou AirBus.<br />
3. Ao menos honrem os Homens da I República!<br />
Publicado no Jornal “Soberania do Povo” de 09/12/2005<br />
136
o crucIfIxo<br />
137<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
Portugal tem uma História de muitos séculos, não de alguns lustres!<br />
Tentar apagar essa história, pejada de acontecimentos heróicos<br />
e dificilmente imagináveis nos dias de hoje, a par de algumas<br />
passagens menos felizes, tem sido o objectivo de uns tantos que<br />
pululam por aí como erva daninha!<br />
Felizmente, porém, que ainda há quem galhardamente procure<br />
remar contra essa maré de águas sujas. Um dos que mais se tem<br />
distinguido nessa é o Prof. José Hermano Saraiva que, há mais de<br />
30 anos, nos entra em casa semanalmente, pela TV, com programas<br />
inultrapassáveis em comunicabilidade e transmissão da ideia<br />
de Pátria. Faz gosto ouvi-lo.<br />
Tudo serve para se tentar apagar as raízes e os factos – sim, factos<br />
– que, mesmo mais recentes, marcaram a nossa sociedade. Nem<br />
que para isso se tenha de usar o argumento da bomba (como foi<br />
o caso da destruição da estátua a Salazar, em Santa Comba Dão)<br />
ou o argumento da Constituição, em cujas bases marxistas se fixou<br />
logo a seguir ao 25 de Abril. Tenho sérias dúvidas que, em referendo,<br />
o povo português viesse alguma vez a dizer que concordava<br />
em que o Estado fosse considerado laico, tal como está a ser<br />
entendida essa laicidade. Sim, porque quem votou a Constituição<br />
foram os políticos que, mesmo amedrontados e com má consciência,<br />
se viram arrastados pelas chamadas forças de esquerda mais<br />
radicais… a quem não tiveram a coragem de dizer basta!<br />
Aceita-se, naturalmente, que essa laicidade apenas garanta a liberdade<br />
religiosa numa sociedade que todos gostaríamos que fosse<br />
tolerante, aberta e plural!<br />
Isto vem a propósito da retirada dos crucifixos das Escolas. Na verdade,<br />
o País está mergulhado numa crise sem precedentes, e não<br />
só em termos económico-financeiros, mas parece que apostou em<br />
matérias que só servem para dividir ainda mais a sociedade civil.
Primeiro, é o aborto que, para além de agitar muito naturalmente<br />
as consciências dos que nele se envolvem, tem sido tema recorrente<br />
discutido na rua, com deputada actriz a dar espectáculo…<br />
Agora, pelo facto de a Constituição dizer que Portugal é um Estado<br />
laico, toca a remover, mesmo silenciosamente, os símbolos cristãos<br />
que os estudantes viam nas paredes das salas de aula. Ainda não<br />
há muito tempo, os tínhamos visto substituídos por “posters” do<br />
Che Guevara, do Mao Tsé Tung, etc… E agora, as paredes vão ficar<br />
nuas? Ou lá porão as fotos dos sucessores de Thomaz e Salazar?<br />
Já viram quanto isso vai custar aos contribuintes? Sai Soares, entra<br />
Sampaio, sai Sampaio entra não sei quem… e por aí fora, lá se vão<br />
gastando mais uns milhões com figuras terrenas e passageiras.<br />
Por mais que os laicos e os agnósticos façam em contrário, CRISTO<br />
viverá sempre entre nós. Há 2 mil anos, pode dizer-se que também<br />
teve de viver em clandestinidade… Hoje tal não se passará porque<br />
o bom povo cristão de Portugal o não consentirá…<br />
Os senhores políticos devem tratar bem da res publica e deixar-se<br />
de perseguir o que na história está já registado como património<br />
cultural e moral da Nação centenária, herdada de D. Afonso<br />
Henriques. Curiosamente, este ataque sem nome aos cristãos e à<br />
igreja católica não é compaginável com a atitude que os políticos<br />
laicos, agnósticos ou maçons de destaque assumem quando lhes<br />
dá jeito comparecerem em Igrejas para funerais de um dos seus<br />
ou onde se celebram Te Deum’s que arrastam as televisões… e lá<br />
ficam, muito bem comportadinhos na fotografia… Suprema hipocrisia…<br />
Será que eles pensaram alguma vez na figura que fazem<br />
com essas presenças só para uso externo?...<br />
Por ironia do destino, ou propositadamente, este tema não poderia<br />
mesmo ter sido levantado em melhor momento – a época natalícia<br />
- para ser executado!...<br />
138
139<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
Sem valores e sem símbolos históricos bem ensinados na Escola,<br />
Portugal não passará de uma aldeia periférica da Europa.<br />
É NATAL, meus amigos! Por isso desejo Boas Festas a todos!<br />
Publicado no Jornal “Região de Águeda” em 30/12/2005
notas soltas<br />
1. Burocracia – Há dias fui à Conservatória do Registo Automóvel<br />
em Lisboa. Fiquei com boa impressão das instalações e da organização<br />
dos serviços com muitos “guichets” e funcionários amáveis.<br />
Mas… uma senhora, com ar desesperado, sentou-se ao meu lado<br />
e desabafou: Eu e meu marido somos emigrantes na Suiça. É a 2ª<br />
vez que nos fazem vir a estes Serviços para tratar de um assunto<br />
que, na Suiça, leva 5 minutos a resolver… Será assim?<br />
2. À mulher de César não basta… - Numa altura em que a<br />
crise que assola os bolsos dos portugueses trabalhadores, tenho<br />
de estar de acordo que é preciso fazer sacrifícios. O Governo não<br />
tem outra alternativa que não seja a de prosseguir também com o<br />
emagrecimento do Estado devorador dos impostos que todos pagamos.<br />
Essa política, para ser razoavelmente aceite pela população,<br />
tem naturalmente de começar pelos políticos que nos governam.<br />
O exemplo tem de vir de cima. Se não, está tudo estragado! Pois<br />
bem, neste final do ano fiquei triste ao saber que o Eng. Sócrates<br />
tinha ido de férias para as neves suíças… Já não lhe chegaram as<br />
férias de verão no Kénia, quando o País estava a arder… Espero<br />
bem, ao menos, que não se tenha feito deslocar em Falcon, para<br />
os pilotos fazerem horas de voo…<br />
3. O Europeu de Futebol dos Sub-21 – Fiquei muito contente<br />
por saber que o campeonato vai ser disputado em Portugal, sendo<br />
o Estádio de Águeda um dos a utilizar na prova. Uma boa notícia<br />
para os aguedenses! Oxalá a cidade saiba aproveitar essa dádiva<br />
da F.P. Futebol, potenciando a sua imagem.<br />
4. Desemprego – Um dos maiores flagelos que atormenta as famílias<br />
é o desemprego. Para os que já estão nessa situação, sem o<br />
desejarem, para os que poderão vir a cair nessa situação e para os<br />
jovens que tiraram os seus cursos… para nada…<br />
O Governo prometeu a criação de largas dezenas de milhares de<br />
140
141<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
postos de trabalho. Só que, quem pode criar esses postos, são as<br />
empresas e a economia está praticamente estagnada… Mesmo assim,<br />
o grande empregador, o desmesurado empregador, continua<br />
a ser o Estado que é dirigido por políticos, entre os quais muitos há<br />
bem intencionados, mas outros há, que nem tanto. Vejamos! No<br />
Diário da República de 17 de Agosto último, li que um político de<br />
1º plano – vice-presidente da A.R. (não bebeu a água do Botaréu)<br />
nomeou seu motorista um funcionário aposentado que será, naturalmente,<br />
uma pessoa muito estimável e competente. A esse motorista<br />
será creditada uma remuneração correspondente a 1/3 do<br />
8º escalão da sua carreira, acrescida da remuneração suplementar<br />
que as mordomias (LOFAR) da A.R. contêm e mais o subsídio de<br />
risco, subsídio de refeição, subsídio de lavagem da viatura, bem<br />
como a compensação por trabalho prestado em dia de descanso<br />
semanal ou complementar ou feriado… Isto só com os políticos!...<br />
De acordo com a política de combate ao desemprego, não seria<br />
mais curial e moral contratar um dos cidadãos que se debatem<br />
com a falta de trabalho?...<br />
Bem prega Frei Tomaz… Com políticos destes, bem pode o povo<br />
berrar!...<br />
5. O Voto – Por estas e por outras é que se depara hoje em dia<br />
com caixotes do lixo da cidade de Lisboa exibindo autocolantes<br />
que dizem simplesmente isto: “Votar é mijar contra o vento”.<br />
6. O Desporto em Democracia – Ao ler o livro “Académica Sempre<br />
– a poética do futebol” da autoria do Professor, poeta e cantor<br />
de baladas de Coimbra, Carlos Carranca, deparei com esta passagem:<br />
“…No Portugal da Ditadura o futebol servia como factor de<br />
congregação, aproximava as classes, era o espaço da democracia<br />
possível. Hoje é o espelho da segregação, da democracia que temos…”<br />
O autor é considerado um homem de esquerda mas, acima de<br />
tudo, é um homem de carácter, um homem sério.<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 06/01/2006
valores, acadéMIca de coIMbra, censura…<br />
1. Valores e Publicidade – Já aqui escrevi sobre o défice existente<br />
em termos de hino nacional no meio futebolístico. É costume atirar<br />
sempre as culpas para a Escola que não dedicará agora o tempo<br />
suficiente para ensinar a cantar o hino aos jovens. Mas será? O<br />
certo é que, nos recintos desportivos, em jogos internacionais, nós<br />
assistimos ao povo a cantá-lo a plenos pulmões, o que é salutar e<br />
demonstra que os Pais passaram aos filhos essa mensagem…<br />
Recentemente, uma grande empresa – a PT – resolveu dar uma<br />
mão à causa do hino nacional. Da melhor maneira? Talvez não<br />
seja, na medida em que a PT se aproveita do hino para, simplesmente,<br />
publicitar os seus produtos… Onde estão os Valores por<br />
que Portugal se deve pautar? A publicidade não tem limites! Vende<br />
tudo! É o corpo da mulher, é o corpo do homem, etc. etc..<br />
Por este andar, não poderei estranhar que, amanhã, venha a ouvir<br />
o hino nacional a publicitar a Coca-Cola… com o Presidente Bush<br />
colocando a mão no coração…<br />
2. Académica de Coimbra – É o clube de futebol da minha paixão<br />
de há 60 anos para cá. Sempre vivi intensamente as suas vitórias<br />
(não foram muitas, é certo) e sofro em silêncio quando não joga<br />
bem. Uma das razões para a minha paixão está baseada no facto<br />
de os jogadores da Académica, de uma maneira geral, serem também<br />
estudantes, com grande sucesso profissional, alguns. Quantos<br />
médicos, advogados, engenheiros, professores, etc. tiraram os<br />
seus cursos, enquanto envergavam a camisola negra!... Conheço<br />
e sou amigo de tantos!...<br />
Os tempos mudaram e a Académica teve de se adaptar, com alguma<br />
dor, certamente, para quem a tem no coração.<br />
Hoje, a Académica está abrasileirada demais para o meu gosto.<br />
Nem por isso deixo de ir ao campo vê-la jogar: para ganhar como<br />
foi o caso do último Sporting/Académica e para perder como foi<br />
142
143<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
o caso do recente Boavista/Académica. Mas nem tudo são tristezas.<br />
O Marcelo acaba de concluir, na Universidade de Coimbra, a<br />
licenciatura em Engenharia Civil e o Nuno Piloto a de Bioquímica<br />
(esta com 19 valores). Estes atletas mostram assim que o espírito<br />
da Académica não morreu. É pena as excepções serem poucas. E<br />
também se espera que a elas se venha a juntar mais uma – a do<br />
estudante da Faculdade de Letras, jovem José Castro, que está escolhido<br />
para o Europeu de Esperanças, a lembrar o Alberto Gomes<br />
e o Bentes!<br />
3. A censura – Não é segredo para ninguém que existia censura<br />
nos jornais durante a Ditadura que foi substituída pela Democracia.<br />
Havia, porém, um sector onde essa censura se não fazia sentir:<br />
o desporto! Pois bem, ouvi há dias dizer a um historiador de méritos<br />
reconhecidos – José Pacheco Pereira – que “…a censura não<br />
permitia que se dissesse mal dos árbitros…”. Será que o nome de<br />
Calabote não figurava nas notícias dos jornais? Também os historiadores,<br />
por vezes, não devem ser levados a sério… Ser-se de<br />
esquerda, por si só, não dá direito a dizer-se que a Ditadura só<br />
cometeu crimes e nenhuma virtude teve… Sei bem o que sofri com<br />
a liberdade de imprensa existente na actividade desportiva nesse<br />
tempo!... Pelo menos, nesse tempo, não existiram processos com<br />
a extensão do “Apito Dourado” que, estou em crer, vai dar em<br />
nada… a avaliar pelo estado a que a justiça chegou.<br />
Não resisto a transcrever aqui uma opinião do Professor de história,<br />
Carlos Carranca, homem de esquerda, que escreveu: “…No<br />
Portugal da Ditadura o futebol servia como factor de congregação,<br />
aproximava as classes, era o espaço da democracia possível. Hoje<br />
é o espelho da segregação, da democracia que temos…”.<br />
Publicado no jornal “Região de Águeda”, de 13/01/2006
a constItuIção da rePúblIca<br />
A chamada esquerda tem sempre invocado a Constituição da República<br />
como sendo o garante primeiro do progresso e do desenvolvimento<br />
do nosso País. Por outro lado, a chamada direita invoca-a<br />
para dizer que ela, para além de muitas virtualidades que encerra,<br />
tem dispositivos que impedem esse progresso e desenvolvimento.<br />
Em que ficamos, afinal?<br />
Constatamos que, à sombra da Constituição, nos últimos 30 anos,<br />
foram constituídos 17 Governos, presididos por 12 Primeiros Ministros.<br />
Em pastas-chaves, tivemos 19 ministros das Finanças e, na<br />
Economia/Indústria e Energia, os mesmos 19, e na Educação mais<br />
um – 20. Com tanta variedade de figuras à frente da governação,<br />
o resultado está à vista. Ninguém se entende e o povo sofre.<br />
A linha política comum aos partidos que nos têm governado tem-<br />
-se consubstanciado numa subsidio-dependência tremenda e<br />
numa incapacidade objectiva de resposta ao desafio que é a integração<br />
de Portugal na Europa. Embora dizendo que defendem políticas<br />
diferentes, os partidos têm permitido – sem quererem, talvez<br />
– a instalação de uma corrupção generalizada no Estado, e não só,<br />
a qual afronta o comum dos cidadãos.<br />
A começar por cima, não é segredo para ninguém que, mesmo na<br />
Assembleia da República, alguns há que, protegidos pelos partidos<br />
e pela imunidade parlamentar, fazem a sua vidinha enriquecendo<br />
de uma forma surpreendente. Cite-se o exemplo do mais conhecido<br />
dirigente do partido que apoia o governo e continua a falar<br />
grosso que, segundo a revista SÁBADO (11/11/05), em 2004, terá<br />
declarado às Finanças rendimentos de mais de 180 mil euros e<br />
no Tribunal Constitucional mais de 460 mil euros. Desses tantos<br />
milhares de euros o político em causa apenas terá ganho cerca<br />
de 55 mil euros como deputado, o que, convenhamos, de facto, é<br />
muito pouco!!! E por isso se ouvem vozes importantes reclamarem<br />
144
145<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
aumentos de ordenados para os políticos… a maioria, trabalham<br />
por conta de outrem… Haja decência!<br />
De todos os políticos conhecidos do bloco central que têm andado<br />
na engrenagem, quantos é que não aumentaram substancialmente<br />
os seus activos patrimoniais e financeiros? Se se fizesse uma listagem<br />
dos que, ao contrário, pouco ou nada retiraram do facto de<br />
terem usado a política, o seu número não seria grande, certamente.<br />
Sim, porque também há políticos que se preocupam, apenas e<br />
só, em servirem a res publica, há que reconhecê-lo e que louvar.<br />
Tudo isto para dizer que, sem partidos políticos, não há democracia<br />
possível. Mas que os partidos, dada a sua actuação no terreno,<br />
terão falhado redondamente a sua missão, disso tenho poucas dúvidas.<br />
Até no campo da formação da juventude que anda desorientada<br />
mas que, creiam, sabe o que quer!<br />
Precisamos de menos deputados, mas bem qualificados (e não carreiristas),<br />
que dêem voz ao interior nas suas legítimas aspirações<br />
a uma vida melhor e sem sobressaltos; ao interior que empobrece<br />
dia a dia e se espanta com o enriquecimento de uns tantos instalados<br />
no ar condicionado dos palácios onde nada falta.<br />
Será que a culpa dos nossos atrasos está na Constituição? Ou nos<br />
(todos) que a louvam e dizem defendê-la a todo o custo, sem olhar<br />
para o futuro que está à nossa frente?...<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 20/01/2006
econhecIMento do MérIto, caMPanha eleItoral<br />
1. Condecoração – Há dias, em cerimónia simples realizada no<br />
Palácio de Belém, o Sr. Presidente da República condecorou o Eng.<br />
Belmiro de Azevedo com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique.<br />
Tive a honra de ser convidado para o efeito e assim me juntei<br />
aos seus familiares e amigos mais próximos, onde predominavam<br />
os seus colaboradores e ex-colaboradores directos na Sonae, bem<br />
como os maiorais da COTEC.<br />
Fiquei enternecido, especialmente com as manifestações de afecto<br />
dos seus netos que, muito compostinhos, enriqueceram a cerimónia,<br />
como que a dizer que acreditam nas instituições e nos homens<br />
que as servem! Foi muito bonito!<br />
A Pátria reconheceu assim, finalmente, o que o homenageado tem<br />
feito a criar riqueza por esse mundo fora (14 países), com dezenas<br />
de grandes prestigiadas empresas, sem salários em atraso para os<br />
seus cerca de 60.000 trabalhadores…<br />
Mas, até aqui, tal como em tantos outros domínios, Portugal se<br />
atrasou, na medida em que já antes, o Rei de Espanha o tinha<br />
condecorado em cerimónia de alto nível…<br />
Parabéns, Belmiro e Margarida!<br />
2. Campanha eleitoral – Finalmente, chega ao fim a campanha<br />
eleitoral para a Presidência da República. E dou comigo a pensar<br />
se as pessoas não terão ficado fartas de tão prolongada e arrastada<br />
campanha ao longo de vários meses…<br />
Foram horas e horas de rádio e televisão e páginas e páginas de<br />
jornais com pouquíssimas novidades. Os candidatos bem se esforçaram<br />
por fazer passar as suas mensagens. Eu devo ter estado<br />
muito desatento, mas o que ouvi e li foi mais ou menos o seguinte:<br />
Cavaco a dizer que respeitará a Constituição, estará atento aos<br />
problemas do País e ajudará o governo a levar o seu mandato até<br />
ao fim; e os outros candidatos, fundamentalmente, a provocarem<br />
146
147<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
doentiamente Cavaco, chegando mesmo o candidato mais velho<br />
a ser insultuoso para com o Professor de Economia que foi primeiro-ministro.<br />
Ideias novas, talvez, só Louçã as tentou lançar… ao<br />
vento.<br />
O que não custaram estes tempos de antena e os outros encargos?<br />
O que parece ser de ciência certa é que o erário público – os<br />
impostos pagos pelo povo – vai ter de liquidar uma factura de 12<br />
milhões de euros…<br />
Na verdade, quem diz que somos pobres está muito enganado.<br />
Somos antes um País rico que aguenta com luxos como estes…<br />
Uma eleição a que correspondesse uma campanha de apenas 2<br />
semanas e em que só tivesse direito a subvenção do Estado quem<br />
alcançasse pelo menos 25% dos votos seria suficiente para se avaliar<br />
das capacidades dos candidatos, evitando-se um folclore como<br />
aquele a que vimos de assistir, e um grande desperdício de tempo<br />
e de dinheiros públicos… tão necessários à melhoria das condições<br />
de vida dos mais desfavorecidos.<br />
Já agora, ao menos que ninguém fique sem votar no dia 22.<br />
Publicado no jornal “Região de Águeda” de 20/01/2006
a burocracIa e a banca PortuGuesa<br />
1.Burocracia - Tem vindo a lume o anúncio de muitas medidas<br />
que visam eliminar/atenuar o monstro da burocracia que afecta<br />
a vida dos cidadãos. Só quem tem necessidade de se abeirar dos<br />
serviços públicos, para obter uma simples certidão ou uma autorização<br />
para um mero acto administrativo, se apercebe das horas<br />
perdidas, dos transportes necessários às deslocações, do dinheiro<br />
gasto, etc..<br />
Há pois que felicitar sinceramente José Sócrates, pela coragem que<br />
tem vindo a revelar no combate a esse e outros monstros. Oxalá<br />
que os executantes dessa política tenham o mesmo “élan” que o<br />
Primeiro-Ministro para pôr de pé essas medidas que, certamente,<br />
não agradam aos actuais detentores desse poder na Administração…<br />
Até porque, nesse poder, reside, em grande parte, a corrupção<br />
que grassa ao nível do Estado, segundo é voz corrente!<br />
A propósito da burocracia, que não é de agora, é de sempre, não<br />
resisto a contar um episódio que vivi por dentro, na minha qualidade<br />
de director geral dos Desportos. Isto passou-se em 1969. Os<br />
dirigentes eleitos para os corpos gerentes dos organismos desportivos<br />
(clubes, associações regionais e federações nacionais) eram<br />
obrigados, por lei, a subscrever uma Declaração prevista no Decreto-Lei<br />
nº 27 003 – a repudiar o comunismo – mas que se reconhecia<br />
ser uma mera formalidade burocrática, sem outro alcance<br />
que não fosse a de complicar a vida desses organismos. Assim<br />
sendo, mesmo sem se ter alterado a legislação aplicável, propus<br />
ao Subsecretário de Estado da Juventude e Desportos, Dr. Francisco<br />
Elmano Alves, que se eliminasse a referida exigência, o que foi<br />
aceite sem relutância.<br />
Outra medida burocrática que me parecia merecer revisão era a<br />
que obrigava o director geral dos Desportos a consultar a Direcção<br />
Geral de Segurança sobre a idoneidade política dos indivíduos<br />
148
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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
referidos atrás. Como não tinha ideia de que essa medida, por<br />
mim, tivesse alguma vez sido aplicada em casos – que os houve<br />
– de informação negativa por parte da DGS, também propus a sua<br />
abolição, o que igualmente foi aceite pelo Governo de Marcello<br />
Caetano. Ou seja, o combate à burocracia vem de longe e nunca<br />
estará concluído. E quanto maior for a máquina funcional do Estado<br />
mais difícil se torna acabar com ela…<br />
2. Lucros da banca e das grandes empresas com capitais<br />
públicos – Desde o princípio de Janeiro que não há dia em que se<br />
não anunciem novos aumentos de preços dos produtos indispensáveis<br />
à vida comezinha dos cidadãos que constituem o povo. É a<br />
electricidade, é o gás, é a água, são os combustíveis, os transportes<br />
e as portagens; são os IMI’s, é o IRS, são as comissões bancárias,<br />
enfim, é um ver se te avias… Muitos dos aumentos são superiores<br />
à inflacção prevista para 2006. E, quanto a aumentos salariais<br />
e de reformas/ aposentações, o panorama é simplesmente mau<br />
para quem serve ou serviu o Estado e não tem poder reivindicativo.<br />
Como exemplo, dizem-me que, nos últimos anos, a minha pensão<br />
de aposentação já perdeu 8 pontos de poder de compra!<br />
Ao mesmo tempo, começam a aparecer na imprensa os resultados<br />
das grandes empresas e da Banca. Só os 3 maiores bancos portugueses<br />
somaram lucros, em 2005, de mil e 300 milhões de euros.<br />
Então esses fabulosos lucros não permitiriam ser utilizados de forma<br />
a não causticar tanto os Clientes desses bancos e empresas?<br />
Esperar-se-ia, digo eu, em relação à banca, uma intervenção moderadora<br />
do Banco de Portugal! Mas não, nada disso. O Governador<br />
do Banco deve estar mais preocupado com o esquema de<br />
reformas da instituição! Sim, porque, a seguir à oportuna intervenção<br />
de José Sócrates em termos de reformas escandalosas, até<br />
agora, ao que parece, não se passou nada, a não ser a nomeação<br />
de uma comissão… E segue-se a escandalosa reforma do presidente<br />
da PT…<br />
Aproveito para dizer que não gostei da atitude do Primeiro-Ministro,<br />
ao renovar o mandato do adulado Governador, precisamente<br />
no dia seguinte à eleição de Cavaco Silva. Foi, no mínimo, deselegante.<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 10/02/2006
eventos culturaIs<br />
Lisboa tem sido palco de manifestações culturais muito boas. No<br />
passado mês de Janeiro, tivemos oportunidade de ouvir no Centro<br />
Cultural de Belém, com casa esgotada, o excelente concerto<br />
“Wiener Gala Strauss”, interpretado pela orquestra austríaca “K&K<br />
Philharmoniker”.<br />
No Coliseu, ainda está em cena o musical “Miss Saigon”, que tem<br />
tido enorme audiência nos grandes palcos mundiais. Lá estava,<br />
uma vez mais, um “autocarro” de aveirenses que não faltam a<br />
estes grandes eventos musicais.<br />
E assistimos, também no CCB, com lotação esgotada igualmente,<br />
à exibição do “Ballet Nacional de España”. Confesso que, sempre<br />
que tenho oportunidade, não falto a uma exibição desse Ballet.<br />
No decurso do espectáculo, revivi algumas deslocações que fiz a<br />
Espanha onde tenho boas amizades, especialmente feitas no desporto.<br />
E veio-me à memória um episódio que não resisto a contar.<br />
No ano 1948, era eu estudante em Coimbra, tive o ensejo de assistir<br />
na Universidade ao doutoramento honoris causa do Chefe de<br />
Estado espanhol Generalíssimo Francisco Franco que se fez transportar<br />
num Mercedes blindado, coisa rara ao tempo. Sim, porque<br />
agora, até um presidente de câmara não hesitou em comprar um<br />
topo de gama com essa característica… O povo que pague…<br />
O programa da visita de Franco incluía um espectáculo no Teatro<br />
de S. Carlos. Para ele, pensou-se no “Verde Gaio” que era o<br />
melhor de que Portugal dispunha nessa altura. Só que o Caudilho<br />
estava habituado a um nível mais elevado de cultura… Para<br />
resolver o problema, o Dr. José Figueiredo, director do S. Carlos,<br />
lembrou-se de recorrer ao talento de Guilhermina Suggia, que era<br />
então considerada a melhor violoncelista do mundo! Como se vê,<br />
sempre houve grandes talentos na Pátria portuguesa!<br />
150
151<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
Foi com grande dificuldade que a Senhora se deixou convencer a<br />
fazer um recital, cujas peças escolheu, não sem logo ter estabelecido<br />
o seu preço – 25 contos, uma autêntica fortuna em 1948.<br />
Preocupado com o preço, o Dr. Figueiredo transmitiu o teor da<br />
conversa havida com a artista ao Ministro da Educação, Prof. Dr.<br />
Fernando Pires de Lima que, também tendo achado elevada a verba<br />
exigida, levou o tema ao Doutor Salazar. Curiosamente, contrariamente<br />
ao que esperava ser a reacção do Presidente do Conselho,<br />
este limitou-se a comentar: “O senhor Ministro sabe tocar<br />
rabecão?…”. Perante a resposta: “Eu não sei!...!”, Salazar rematou:<br />
“Então…pague…”.<br />
Isto foi no tempo em que não entravam diariamente em Portugal<br />
milhões de euros da União Europeia… para serem gastos sabe<br />
Deus como, infelizmente.<br />
A par desses milhões, os portugueses também vão importando<br />
práticas políticas menos saudáveis. Veja-se o alarido que o ex-ministro<br />
e actual deputado do PS, Pina Moura, tem provocado pela<br />
situa-ção, quanto a mim, reprovável de misturar política com negócios…<br />
Mas já ninguém fala do também socialista senhor Schroder,<br />
ex-Chanceler da Alemanha que, mal se viu apeado do governo<br />
e com mau perder nas eleições, tratou logo de se gaseificar<br />
por pipe-line… Exemplos não faltam, mas estas democracias tudo<br />
suportam…<br />
Publicado no jornal “Região de Águeda” de 17/02/2006
desPorto e cultura<br />
Há dias, o canal de televisão “Eurosport” proporcionou a uns tantos<br />
milhões de espectadores um espectáculo de enorme beleza, ao<br />
transmitir a cerimónia inaugural dos Jogos Olímpicos de Inverno<br />
que teve lugar nos Estádio Comunal de Torino (não como cá, nele<br />
jogam a Juventus e o Torino…).<br />
Nos jogos estão inscritos 83 países, com alguns milhares de atletas<br />
que competem durante 17 dias. Portugal também lá está com um<br />
único atleta, Danny Silva, que participa na prova de cross.<br />
Para além do desfile das delegações dos diferentes continentes, os<br />
cenários apresentados tinham como pano de fundo a história de<br />
Itália ao longo dos séculos, não esquecendo a evolução da maquinaria<br />
industrial, desde a simples bigorna até às motorizadas e aos<br />
Fórmula 1. Colaboraram na organização 25.000 voluntários!!!<br />
Aos equipamentos multicolores dos e das atletas, juntaram-se os<br />
trajes dos intervenientes dos diferentes quadros que compunham<br />
o espectáculo de luz e cor. O dedo de G. Armani também lá estava<br />
em peças determinadas… O design arrojado e tecnologicamente<br />
futurista e bem concebido em todos os pormenores não passou<br />
despercebido. Tratava-se de um guarda-roupa belíssimo e de<br />
luxo.<br />
O apoio dado, especialmente, pela FIAT e a família Agnelli foram,<br />
certamente, decisivos para esta realização que envolve muitos milhões,<br />
quase tantos como os da OPA sobre a PT!!! Só uma cidade<br />
rica como é Torino se podia dar ao luxo de se abalançar a tão<br />
elevados gastos.<br />
Os efeitos de luzes e som, com verdadeiros artistas a interpretar<br />
alguns números do programa que decorreu sempre em bom ritmo,<br />
impressionaram fortemente. Um grande actor italiano fez ouvir a<br />
sua voz a declamar uma peça de intenso significado. Os e as numerosas<br />
bailarinas executaram peças de belíssimo efeito, ao som<br />
152
153<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
de coros e orquestra de grande categoria. O desenho dos anéis<br />
olímpicos e do skiador, com figuras humanas, em diversas posições<br />
competitivas, na pista, não são esquecíveis. E que dizer dos acrobatas<br />
que desenharam a pomba da Paz em posição vertical, como<br />
que a realçar o espírito da Paz entre os povos. Foi simplesmente<br />
assombroso! Tal como o acender da chama olímpica que foi transportada<br />
por grandes nomes italianos medalhados nas competições<br />
dos desportos de Inverno, também deslumbrou!<br />
Comoveu-me ouvir a saudação feita emotivamente pela mulher do<br />
Beatle John Lennon, bem como a evocação, feita por Peter Gabriel,<br />
que deu voz à canção “Imagine” (imaginem todos vós um mundo<br />
a viver em paz…).<br />
O transporte da bandeira olímpica foi feita por 8 mulheres famosas<br />
no mundo, tais como Sofia Loren, Susan Sarandan, Isabel Allende<br />
e a atleta olímpica moçambicana Maria Mutola, tudo sob o<br />
olhar de 21 Chefes de Estado e 15 Chefes de Governo, não esquecendo<br />
o nosso amigo, com aspecto de comovido, Juan António<br />
Samaranch.<br />
Como não podia deixar de ser - está-se em Itália - ainda se ouviu<br />
a voz inconfundível desse “monstro” que é Luciano Pavarotti…, que<br />
não tem o direito de se reformar, digo eu.<br />
Nos tempos conturbados que vivemos, registe-se, com agrado, o<br />
facto de não se ter verificado qualquer incidente a toldar o ambiente<br />
fraterno dos jogos, talvez porque o dispositivo de segurança<br />
funcionou bem.<br />
Finalmente, será que a compra dos direitos televisivos desta cerimónia<br />
custaria mais do que alguns programas, sem qualquer interesse<br />
ou mesmo de duvidoso interesse, que as nossas TV’s nos<br />
proporcionam?...<br />
PS: Como pude ouvir ao locutor da televisão, confunde-se muitas<br />
vezes a expressão “Jogos Olímpicos” com “Olimpíadas”. Pois bem,<br />
os Jogos realizam-se de 4 em 4 anos; e a palavra Olimpíada significa<br />
o período que medeia entre os Jogos.<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 17/02/2006
queM não deve não teMe<br />
Se bem me lembro, até há pouco mais de 30 anos, o licenciado<br />
em direito que pretendesse seguir a carreira da magistratura, tinha<br />
de se apresentar a um concurso de admissão. Uma vez aprovado,<br />
era colocado numa comarca de 3ª classe para exercer as funções<br />
de delegado do Ministério Público. Ao fim de 3 a 6 anos, normalmente,<br />
mudava para comarca de 2ª e de 1ª (cidades capitais de<br />
distrito). Ou seja, andava uma década a participar nos julgamentos<br />
dos tribunais, mas não com a competência de julgar. Isso cabia<br />
aos Juízes. Depois desta longa caminhada a “aprender” a julgar,<br />
fazia um concurso para Juiz. Se aprovado, era colocado numa das<br />
comarcas de 3ª classe por onde tinha já andado mas, agora, com a<br />
suprema responsabilidade de julgar as causas a dirimir. E assim ia<br />
prosseguindo a sua carreira, até chegar aos Tribunais da Relação e<br />
ao Supremo Tribunal de Justiça.<br />
Havia um respeito generalizado da população pelos magistrados,<br />
alicerçado, certamente, em carreiras muito trabalhadas e exigentes<br />
interpretadas por homens (não me lembro de ouvir falar então em<br />
Senhoras juízes) competentes, sérios, honestos e incorruptíveis.<br />
Com a implantação da nossa democracia, muitas coisas mudaram<br />
no País. Umas para melhor, outras para pior! O Ministério da<br />
Justiça passou a ser comandado por advogados, cuja formação<br />
profissional é, naturalmente, muito diversa da dos Professores de<br />
Direito e dos próprios Juízes. O novo poder político operou então<br />
uma mudança, com largos reflexos no futuro, nas carreiras judiciárias,<br />
em que se separaram a magistratura judicial da do Ministério<br />
Público. Cada uma foi para seu lado.<br />
Como consequência, os julgamentos em tribunal passaram a ser<br />
feitos, desde logo, por juízes jovens licenciado(a)s a quem foi proporcionado<br />
um curso acelerado no Centro de Estudos Judiciários…<br />
e não por juízes que tiveram de colher a experiência que era obri-<br />
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155<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
gatória no anterior regime, durante 10 anos, ao lado de juízes de<br />
carreira… Sejamos justos: muitos desses jovens têm certamente<br />
reais méritos e qualidades. O certo é que, ao fim de 30 anos com<br />
o novo sistema a funcionar, toda a gente fala na crise da Justiça.<br />
Essa crise atingiu tal ponto que os senhores políticos, a começar<br />
pelo Dr. Jorge Sampaio, começam a agitar-se por causa das escutas<br />
telefónicas, que só podem ser autorizadas por um juíz, mesmo<br />
de 1ª instância. O que significa que os senhores políticos não<br />
acreditam na competência e seriedade de todos os juízes. O que<br />
é gravíssimo!<br />
E, então, parece apontar-se para uma solução que iria no sentido<br />
de as escutas aos telefones dos senhores políticos só poderem<br />
ser feitas com autorização de juízes de tribunais superiores ou de<br />
uma Comissão Especial que, no fundo, iria fiscalizar os actos dos<br />
próprios Juízes!<br />
Eu pensava que, em democracia, todos os cidadãos gozavam dos<br />
mesmos direitos. Em Portugal, pelos vistos, não!<br />
Os senhores políticos terão direito a julgamento de tribunal superior<br />
e os outros cidadãos terão direito a julgamento em tribunal<br />
vulgar?... As notícias dos jornais são fartas a denunciar actos<br />
de corrupção entre políticos eleitos democraticamente e tutelados<br />
desses políticos!...<br />
Então quer-se um regime de excepção para os senhores políticos?<br />
O povo exige que as polícias investiguem os crimes, designadamente<br />
os económicos, de pedofilia, etc.. Como é que elas podem<br />
investigar se não tiverem, em tempo útil, os meios necessários,<br />
como as escutas telefónicas para actuarem?<br />
Quem não deve, não teme!... Meus Senhores!...<br />
Eu não tenho formação jurídica, mas tenho a impressão, que sei de<br />
antemão não ser politicamente correcta, de que bom seria repor a<br />
situação existente há 30 anos, acabando-se com as carreiras paralelas<br />
da magistratura e do Ministério Público. Será que o advogado,<br />
aliás ilustre e inteligente, que comandou essa reforma ainda<br />
nela se reverá? Não acredito que, passados todos estes anos, ainda<br />
nela se reveja.<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 10/03/2006
faIr Play, Procura-se<br />
Assisti hoje, pela tv, às cerimónias de investidura do Prof. Cavaco<br />
Silva como Presidente da República. A cerimónia seguiu-se a<br />
um frenesim enorme de protagonismo do Presidente Sampaio nos<br />
últimos dias em que deteve o poder. Foram visitas e mais visitas,<br />
até aos continentes asiático e africano, foram mensagens, foram<br />
recados que foi espalhando pelo País!<br />
A cerimónia decorreu com grande elevação, embora com pormenores<br />
que me merecem uns comentários breves: por uma questão<br />
de bom senso, não seria de ter usado uma forma simples de dar<br />
a conhecer à enorme plateia da Assembleia da República o teor<br />
da acta de validação dos resultados eleitorais? A senhora deputada<br />
encarregada de ler o fastidioso texto até referiu os «númaros»<br />
(sic) dos artigos da lei! A Drª Edite Estrela deve ter-se arrepiado…<br />
Quem não sentiu frio foram certamente alguns bloquistas (Rosas,<br />
foi excepção) que usaram a gola alta em vez da gravata que até<br />
Jerónimo usou! Ouvi com muita atenção os bons discursos de Jaime<br />
Gama e de Cavaco Silva. Em especial o do novo Presidente<br />
pareceu-me muito bem estruturado e tocando os pontos essenciais<br />
que urge encarar de frente e resolver, não esquecendo o sentido<br />
de uma “estabilidade dinâmica e reformista”, rigor, exigência e<br />
excelência que devem nortear todos os portugueses. Tenho para<br />
mim que Sócrates não poderia ter agora melhor aliado! Que não<br />
esmoreça a sua onda reformadora, são os meus desejos.<br />
Os aplausos da chamada direita foram a demonstração de que se<br />
continua a viver para o espectáculo em que a esquerda (mas não<br />
toda) prefere distinguir-se pelo afastamento das regras de uma<br />
convivência civilizada. Foi pena que os seus silêncios representem,<br />
afinal, a sua “aversão” ao espírito democrático que se devia ter<br />
afirmado, ao menos, pela boa educação, numa cerimónia especial<br />
como aquela da posse do PR. Que democratas são estes, afinal?<br />
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157<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
Mas, para mim, a maior surpresa (?) foi a atitude do considerado “pai<br />
da democracia” que, encontrando-se a escassos 100 metros da Fundação<br />
Mário Soares, onde passa o seu tempo, se escapuliu do Palácio<br />
de São Bento, sem se preocupar em dar um simples e formal aperto<br />
de mão ao seu adversário na campanha eleitoral. Foi feio! Esta falta<br />
de fair play ficou-lhe muito mal! É ele, afinal de contas, um autêntico<br />
democrata?... Em resumo, imperou em São Bento a falta de fair play<br />
para além do povo que se viu impedido, por razões de segurança,<br />
certamente, de participar naquilo que deveria ser uma festa popular,<br />
uma vez que Cavaco foi para Belém porque o povo assim decidiu.<br />
Sou dos que entendem que Jorge Sampaio, homem sério e honesto,<br />
depois da experiência que teve, poderia ser bem aproveitado, por<br />
exemplo, em missões no estrangeiro. Para além de outras qualidades,<br />
ele domina admiravelmente as línguas mais faladas no mundo!<br />
Na hora da saída de Belém, o Estado, e muito bem, atribui-lhe uma<br />
reforma de valor compatível com as funções que exerceu ao longo de<br />
10 anos. E que devia ser suficiente para poder levar uma vida digna,<br />
sem necessidade de outras fontes de rendimento. Mas não é assim! O<br />
actual Estado, gastador, resolveu atribuir-lhe ainda um palacete nas<br />
Necessidades (disse a comunicação social que as obras de beneficiação<br />
foram orçadas em 120 mil contos) cuja manutenção passa a ser<br />
suportada pelos nossos impostos que também suportarão as despesas<br />
com o potente AUDI e com o motorista. O cidadão Jorge Sampaio,<br />
enquanto Presidente, optou por utilizar a sua casa particular. Que<br />
deve ser de bom nível. Se assim não fosse, não teria nela recebido<br />
em visita particular os… Reis de Espanha… Caberá perguntar: então<br />
agora, que abandona o poder, essa casa já não serve para fazer a sua<br />
vida de simples cidadão?...<br />
Mudando de assunto. A vitória do Benfica sobre o Liverpool foi notável,<br />
porque se verificou no campo do adversário e nos proporcionou<br />
as belas imagens dos dois golos, magníficos em qualquer estádio do<br />
mundo. Parabéns e boa sorte, Benfica!<br />
Além do mais, foi um jogo em que, nele sim, imperou o fair play, com<br />
a claque inglesa a incitar a sua equipa, mesmo a perder, e a aplaudir,<br />
no final da partida, os jogadores benfiquistas! Foi bonito!...<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 17/03/2006
uM artIsta seM aMbIção<br />
Participei, há dias, numa homenagem a uma figura que deixou<br />
marcas indeléveis na academia de Coimbra.<br />
Os livros de quintanistas da Universidade, nos tempos em que essa<br />
figura calcorreava as vielas e tascas de Coimbra, têm neles registadas<br />
as linhas firmes de artistas que caricaturava os estudantes<br />
como ninguém. Talvez que 50% dessas caricaturas eram da sua<br />
autoria. Com o produto desse trabalho – 50 escudos - lá ia vivendo…<br />
A sua passagem pelo Teatro de Estudantes da Universidade de<br />
Coimbra ficou assinalada com excelentes cenários que só ele era<br />
capaz de idealizar e que correram mundo com sucesso.<br />
Com um simples guardanapo de papel, ele fazia desenhos que encantavam<br />
crianças e adultos. De traço firme, sem interrupções, ele<br />
produziu quadros notáveis, imbuídos de arte e significado. Tenho<br />
alguns deles que guardo com o maior carinho.<br />
Era um actor de enorme talento, cuja intervenção no célebre “Zip-<br />
Zip” ficou na memória dos tele-espectadores. Fialho Gouveia, Raul<br />
Solnado e Carlos Cruz revelaram ao País um actor de excelência<br />
mas que nunca abraçou a profissão porque era extremamente modesto<br />
e desprovido de qualquer ambição. Em palco era um gigante!<br />
Não tinha o culto do dinheiro. Vivia o dia a dia com os poucos<br />
escudos que ganhava a fazer as caricaturas e um ou outro quadro<br />
e uma outra decoração. Foi ele o responsável pela decoração do<br />
Itamaraty de Brasília, tal a qualidade dos seus trabalhos.<br />
Contava anedotas como ninguém. E, como actor de enorme gabarito,<br />
acompanhava as anedotas com a interpretação fiel de um<br />
bêbedo, de uma criança, de um gato, de um cão. Publicou mesmo<br />
um livrinho – “Cãopêndio” – pondo a cabeça de um cão nas mais<br />
variadas figuras…<br />
158
159<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
De uma simples palavra compunha um poema interessantíssimo.<br />
Lembro-me daquele que, num jantar entre antigos estudantes, ele<br />
fez num guardanapo de papel branco, a propósito do pimento. É<br />
que, na altura, se estava a falar de sardinhas assadas… que, claro,<br />
necessitam desse fruto da terra, para melhor serem saboreadas.<br />
Ele escreveu:<br />
O Pimento<br />
o pimento<br />
é filho<br />
do pimenteiro<br />
e irmão<br />
do pimentão<br />
verde o primeiro<br />
o segundo não<br />
o primeiro<br />
já era verde<br />
antes da legião<br />
o segundo vermelho<br />
antes da revolução<br />
alguns mudaram de cor<br />
e outros... de opinião!<br />
Um dia, em 1976, no meio de uma confraternização coimbrã, apercebi-me<br />
de que ele não tinha qualquer retaguarda em termos de<br />
saúde, para além de não ter bens de fortuna. E ele era uma pessoa<br />
a quem, enquanto jovem, tinha sido retirado um pulmão!...<br />
Estava também presente o Dr. António Almeida Santos, ao tempo<br />
Ministro da Comunicação Social, a quem pus o problema. E logo<br />
ali o ministro – o amigo – prometeu resolver o problema, através<br />
da nomeação como director de serviços, o que lhe dava acesso<br />
aos benefícios da ADSE. Quando se desencadeou o processo, verificou-se<br />
que o Tóssan não tinha sequer o 5º ano! Mas, para que<br />
serve a amizade? O Dr. Almeida Santos pediu ao Tóssan que lhe<br />
apresentasse todos os documentos que atestassem os seus trabalhos<br />
artísticos realizados. E falou ao Ministro da Educação, Ten.
Cor. Victor Alves, para se encontrar uma solução. Com esses papéis,<br />
o Tóssan conseguiu uma equivalência que lhe valeu o acesso<br />
à função pública. Oh sorte, no meio do azar!... Meses depois fui<br />
visitá-lo ao Hospital Santa Maria, onde esteve internado durante 6<br />
meses a tratar uma gravíssima infecção respiratória…<br />
Continuas presente entre nós, Tóssan!<br />
Publicado no jornal “Região de Águeda“ de 31/03/2006<br />
160
PensaMento eM josé novo<br />
161<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
Já vão passados 53 anos sobre a minha fixação em Lisboa. Alugada<br />
casa, era necessário fazer os contratos da água, da luz e do gás.<br />
Essa tarefa não era simples: alguma papelada e muita espera…<br />
Meu Pai sugeriu-me que procurasse um ilustre aguedense que vivia<br />
no Rossio, no hotel Metropole, salvo erro. Era o velho Conde<br />
Águeda que meu Pai acompanhara, ainda jovem, em campanhas<br />
políticas, até porque era dos poucos que, ao tempo, possuía carta<br />
de condução…<br />
Lá fui, apresentei-me como filho do João Rocha, de Águeda, e logo<br />
os braços se abriram… Expliquei-lhe ao que ia… e ele, que era<br />
administrador das C.R.G.E., logo me tranquilizou, dizendo que o<br />
assunto teria rápida solução…<br />
No dia seguinte, apareceu em minha casa, em Campo de Ourique,<br />
um diligente funcionário da Companhia que, fazendo rasgados<br />
elogios ao Senhor Conde, me resolveu o problema com a<br />
maior simplicidade! Não esqueço esse episódio! E fiquei na altura<br />
a pensar na importância de se ter alguém, com poder, na capital…<br />
Ainda hoje!<br />
Passaram-se os anos e um dia, apareceu-me no Campo dos Mártires<br />
da Pátria, onde tinha o meu gabinete, um antigo companheiro<br />
de escola primária. Ia pedir-me ajuda para a sua pretensão de<br />
ter um alvará de agência de viagens na Mourisca do Vouga. Ele<br />
aguardava essa concessão havia já 2 anos, não obstante as reiteradas<br />
promessas de um deputado à Assembleia Nacional, também<br />
aguedense, mas sem êxito…<br />
Lembrei-me, na altura, da diligência que fizera no hotel Metropole!...<br />
Fui com o amigo ao SNI e, no dia seguinte, o José Novo<br />
recebeu a notícia da concessão do alvará…<br />
Fiquei muito contente por ter ajudado um aguedense a que me<br />
ligava uma forte amizade cimentada nas brincadeiras de escola e
na garagem além da Ponte… Ele era um rapaz voluntarioso, destemido,<br />
mesmo atrevido, sem medo, e com um coração de pomba.<br />
Naturalmente fui acompanhando, pela vida fora, a sua actividade<br />
e não estranhei que tivesse assumido com garbo e competência o<br />
cargo de comandante dos Bombeiros Voluntários de Águeda, de<br />
que meu Pai foi um dos fundadores.<br />
Os seus méritos, que eram muitos, já foram reconhecidos, ainda<br />
em vida, pelos seus concidadãos, das mais variadas formas.<br />
Afastado, há muitos anos, da cidade onde nasci, nunca a esqueci<br />
e, sempre que preciso de algo em Águeda, socorro-me do velho<br />
amigo João Resende da Fonseca e, até há poucos dias, também do<br />
José Novo… Fiquei mais pobre, agora…<br />
O seu falecimento, em sofrimento, comoveu-me profundamente.<br />
Paz à sua alma!<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 07/04/2006<br />
162
o basquetebol na baIrrada<br />
163<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
Disputou-se, há dias, o torneio da Final 8 da Taça de Portugal de<br />
Basquetebol. O palco do torneio foi o novo pavilhão de Anadia.<br />
A prova foi disputada pelos gigantes, especialmente americanos,<br />
do Aveiro Basket, Belenenses, Benfica, CAB Madeira, Ginásio Figueirense,<br />
Lusitânia dos Açores, FC Porto e Queluz-Sintra. Esses<br />
artistas deliciaram a numerosa assistência que encheu sempre o<br />
novo e magnífico pavilhão, ao longo dos 4 dias de prova.<br />
Com larga visão da autarquia presidida pelo dinâmico Prof. Litério<br />
Marques, uma vasta área da cidade foi destinada a parque desportivo<br />
de que já fazem parte 2 campos de futebol relvados com<br />
iluminação artificial, piscinas e 2 pavilhões gimnodesportivos. E…<br />
já está terreno reservado para a implantação de uma zona escolar<br />
que vai da infância até ao 12º ano.<br />
Quer dizer, estão a ser criadas condições para a juventude de Anadia<br />
poder crescer e aprender sadiamente.<br />
A prova começou com a assistência a acompanhar o bairradino<br />
José Cid a cantar o hino nacional, o que foi comovente.<br />
Os jogos foram todos eles disputadíssimos até aos últimos segundos,<br />
com as claques bem afinadas e entusiásticas e muito correctas,<br />
a darem um exemplo de como se devem apoiar as equipas.<br />
Especialmente, na final, entre o FC Porto e o SL Benfica, que os<br />
nortenhos venceram bem, o DESPORTO saiu como o grande vencedor…<br />
até porque o pavilhão estava super lotado com mais de<br />
1500 espectadores, e muita gente lá fora… por razões de segurança.<br />
A arbitragem coube à fina flor dos homens do apito, alguns deles<br />
internacionais. E, no meio deles, estava uma flor: uma árbitra, a<br />
Sónia Teixeira (economista), que actuou de tal forma que, enquanto<br />
aqui e ali se ouviam protestos dos jogadores calmeirões contra<br />
decisões masculinas, a colega era obedecida sem reticências…
Será caso para dizer: mulheres ao apito!... Parabéns Sónia!<br />
Lá, se despediu das lides um dos melhores árbitros portugueses de<br />
todos os tempos: obrigado, António Pimentel!<br />
À margem dos jogos, a Câmara de Anadia procurou cativar os<br />
seus hóspedes, tendo proporcionado uma visita, acompanhada de<br />
um bom leitão e não inferior espumante, ao Museu do Vinho. Aí,<br />
perante essa estrutura, eu pensei, não sei se a sério se a brincar:<br />
não seria de entregar a gestão hospitalar às autarquias? Por essa<br />
via, talvez os doentes tivessem melhores condições em termos de<br />
infra estruturas para se curarem…<br />
Ao abandonar Anadia, no domingo, fiquei com a sensação de que<br />
o investimento feito pela Autarquia nesta prova, que teve a Sport<br />
TV presente nos 4 dias, vai ter um bom retorno. Foi o que pressenti<br />
de algumas opiniões de quem é estranho à Bairrada… e que participaram<br />
nesta excelente organização da Federação Portuguesa<br />
de Basquetebol.<br />
Aproveitando a presença dos elementos directivos da Federação<br />
em terras bairradinas, foi celebrado um protocolo entre a Câmara<br />
Municipal de Cantanhede e aquela Federação. Estive presente e<br />
também gostei muito do que ouvi, em termos de preocupações,<br />
por parte do Presidente, Prof. Dr. João Moura, relativamente à ocupação<br />
dos tempos livres da “sua” juventude que muito está a beneficiar<br />
da presença do meu “velho” júnior da AAC, Amoroso Lopes.<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 03/04/2006<br />
164
as reforMas das Pessoas<br />
165<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
Está na ordem do dia a sustentabilidade do regime de segurança<br />
social que veio inquietar, de que maneira, as pessoas já reformadas<br />
e aquelas que aguardam pela sua vez… Caberá perguntar<br />
porque se chegou a uma situação tão delicada, para não dizer<br />
dramática?<br />
Os políticos que chegaram ao governo deixaram entrar no sistema<br />
milhares de pessoas que nunca tinham descontado para a segurança<br />
social, para além de terem criado condições para que políticos<br />
se pudessem reformar por inteiro com apenas 4 anos de trabalho<br />
como presidentes da Assembleia da República, ou 8 anos para<br />
os deputados (entretanto esses períodos foram alargados para 8 e<br />
12 anos). A juntar a isto, aos autarcas contaram-lhes o tempo de<br />
serviço a dobrar… E os médicos, por exemplo, que no final da carreira<br />
requeressem a passagem à exclusividade, passaram a poder<br />
reformar-se com o valor que auferem à data da reforma…<br />
Todos eles, como se depreende facilmente, não contribuíram ao<br />
longo do tempo, como deviam, com os descontos adequados que<br />
deveriam sustentar as suas reformas… Daí até ao colapso financeiro<br />
do sistema era uma questão de mais ou menos tempo…<br />
Foi o próprio Estado que legislou levianamente. Mas há culpados?<br />
Já não falo do escândalo das reformas do Banco de Portugal (para<br />
quando a revisão do regime para a qual foi criada uma comissão<br />
especial? Mais uma comissão...) e da Caixa Geral dos Depósitos.<br />
José Sócrates teve coragem em denunciar a situação de pré-falência<br />
da Segurança Social procurando enfrentá-la com medidas que<br />
são dolorosas, mas necessárias, para se evitarem maiores desgraças<br />
para as gerações futuras. Só não tenho a certeza de que essas<br />
medidas atinjam TODOS, mas mesmo TODOS… É que, há dias,<br />
um Juiz sindicalista, na televisão, ressalvava a hipótese de determinadas<br />
especificidades virem a ser tidas em conta na anunciada
eforma do sistema… Estou a pensar nos políticos, magistraturas,<br />
etc…. Se houver essas especificidades, não conte o governo com a<br />
compreensão da generalidade da população…<br />
Quanto aos autarcas, já algo foi feito recentemente quando se<br />
acabou com o escândalo do tempo contar a dobrar… mesmo<br />
descontando a demora propositada (?) do diploma na própria AR<br />
…que se não esquece. Parabéns, Sócrates! Quem quiser dar-se ao<br />
trabalho de consultar o Diário da República, II série, nº 208, de<br />
28 de Outubro último, pode constatar uma série de situações que<br />
urge serem reconsideradas:<br />
a) Há reformas (em euros) que fazem pensar no conceito de justiça<br />
social: uma técnica especialista com €7.327, dois Juízes com<br />
€5.663 e mais quatro com €5.498, um investigador com €4.491,<br />
12 médicos com mais de €4.200, um professor com €5.015 e mais<br />
cinco com mais de €4.491;<br />
b) Impressiona a quantidade de autarcas que se reformaram, com<br />
o tempo a contar a dobrar. Mas como são ainda novos, eis que vemos<br />
alguns deles novamente eleitos para novo mandato… É sinal<br />
que, não obstante o desgaste da actividade autárquica, eles estão<br />
ainda em boa forma física… Sem nos preocupar-nos com os vereadores<br />
e presidentes de Juntas de freguesia, que foram muitos,<br />
citam-se apenas os Presidentes das Câmaras de: Alcoutim, Aljezur,<br />
Amadora, Ansião, Arraiolos, Belmonte, Castanheira de Pêra, Castro<br />
Marim, Constância, Fafe, Lagoa-Algarve, Lamego, Lousada,<br />
Marco de Canaveses, Marinha Grande, Marvão, Moita, Monção,<br />
Montijo, Mora, Moura, Nazaré, Odemira, Oliveira do Hospital,<br />
Ovar, Penacova, Ponte de Sôr, Póvoa de Varzim, Sesimbra, Soure,<br />
Torres Novas, Vendas Novas, Vila Franca de Xira e Vila Nova de<br />
Paiva.<br />
Na verdade, a situação actual é insustentável e bem anda José<br />
Sócrates na sua caminhada reformista, mas que tem de ir mais<br />
fundo. Para quê, por exemplo, 230 deputados à AR, que tem orçamentada<br />
para despesas correntes, em 2006, a módica quantia de<br />
mais de 90 milhões de euros! Será que a democracia portuguesa<br />
não se bastaria com 100 deputados, até mais bem pagos, para<br />
não terem mesmo pretexto para se furtarem às votações?...<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 12/05/2006<br />
166
167<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
Povo seM MeMórIa é Povo seM futuro<br />
Em Lisboa, junto à Torre de Belém, está implantado o Forte do<br />
Bom Sucesso. Aí foi construído, em 1994, o Monumento aos Combatentes<br />
do Ultramar que procura traduzir, através de um simples<br />
pórtico de grande dimensão e enorme simplicidade, a ligação entre<br />
todos os povos envolvidos na guerra do ex-Ultramar português,<br />
sem constrangimentos nem ressentimentos. Com ele se homenageam<br />
aqueles que serviram Portugal como simples combatentes.<br />
A homenagem é feita através das lápides colocadas na própria<br />
parede do Forte, por iniciativa do Ministro da Defesa Veiga Simão,<br />
onde estão gravados os nomes de todos os que morreram ao serviço<br />
da Pátria. O Forte foi recentemente recuperado por decisão do<br />
Ministro da Defesa Paulo Portas e, de tal forma ficou, que merece<br />
ser visitado, até pelas vistas que dele se desfrutam.<br />
Foi nesse local que, uma vez mais, no passado dia 10, compareceram<br />
mais de 1.000 antigos combatentes (naturalmente, os<br />
desertores e a nomenklatura do poder político abrilista não compareceram)<br />
para recordar os camaradas caídos na guerra. Muitos<br />
ostentavam orgulhosamente as condecorações conquistadas por<br />
actos heróicos, designadamente o Comandante Alpoim Calvão, o<br />
mais condecorado de todos.<br />
Daqueles rostos com quem nos cruzámos, já um tanto marcados<br />
pelo tempo, jorravam saudades e mais saudades do período passado<br />
em África, e não esconderam uma lágrima ao toque dos clarins.<br />
As suas conversas recordavam as terras que foram abandonadas<br />
devido, designadamente, segundo José António Saraiva in Diário<br />
de Notícias de 26/01/1979, à desintegração da hierarquia militar<br />
a que a insurreição dos capitães deu início e que o MFA, infiltrado<br />
pelo PCP no Exército, explorou ao máximo, indo ao encontro, afinal,<br />
da estratégia africana da URSS.<br />
Não posso deixar de lembrar que, ainda com Salazar no poder,
havia negociações secretas com o Presidente da Zâmbia, K. Kaunda,<br />
através do Eng. Jorge Jardim, com vista a encontrar-se uma<br />
solução pacífica e honrosa para o problema. Pena foi que, com a<br />
chegada de Marcello Caetano ao poder, aquele negociador tenha<br />
perdido força e tudo foi por água abaixo…<br />
Perguntei a um daqueles combatentes desconhecidos se achava<br />
que tinha valido a pena o sacrifício feito quando era jovem. A resposta<br />
veio pronta: por Portugal, sim!...<br />
Será que nós, aqui na Metrópole, merecemos tanto sacrifício daqueles<br />
homens? Tenho dúvidas…<br />
O reconhecido patriota general Heitor Almendra justificou o encontro<br />
do passado dia 10. E o Dr. Teixeira Pinto fez um interessante<br />
discurso virado para o multiculturalismo tendo afirmado, entre<br />
outras coisas, que “Portugal significa o contrário de racismo e xenofobia”.<br />
Fiquei reconfortado com o banho de portugalidade autêntica a<br />
que assisti. Por acaso, no dia seguinte, no programa da RTP2 dessa<br />
noite em que, ao recordar-se o 1º da Maio de 1975, se via o povo<br />
– Mário Soares incluído – a cantar a plenos pulmões o hino nacional,<br />
um cidadão de primeiro plano manteve-se de boca fechada:<br />
Álvaro Cunhal, nem mais!<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 16/06/2006<br />
168
169<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
PortuGuês eM roland Garros<br />
Disputou-se, recentemente, em França o célebre torneio de ténis<br />
do circuito ATP, no caso em terra batida, que leva até Paris os maiores<br />
nomes do ténis mundial.<br />
A par do torneio para os melhores, também lá se disputa o torneio<br />
de juniores. A este torneio só têm acesso os 73 melhores jogadores<br />
do mundo, dessa categoria. O “ranking” é fundamental para as<br />
aspirações dos jovens.<br />
Pois bem, em Portugal, o campeão nacional figurava em 35º lugar<br />
desse “ranking”, conquistado, aliás, em bastantes torneios por esse<br />
mundo fora. E, por isso, teve a possibilidade de se apresentar com<br />
a elite mundial júnior em Roland Garros.<br />
Humildemente, mas com ambição, entrou em campo e conseguiu<br />
resultados notáveis, ao derrotar o nº 2 da Austrália, o nº 2 de França<br />
e o nº 1 dos Estados Unidos. Acabou por ser eliminado apenas<br />
nos quartos de final, às mãos do júnior eslovaco que acabou por<br />
ser o vencedor do torneio.<br />
O atleta de que falamos é o Pedro Sousa, filho de grandes tenistas<br />
e empresários de sucesso (no CIF e no Centro de Ténis de Monsanto),<br />
nem mais que a Graça Cardoso e o Manecas de Sousa.<br />
O jovem, além de ser um bom tenista, não descura os estudos,<br />
pois está no 12º ano. Para quem diz que o desporto de competição<br />
é antagónico dos estudos, aqui está um exemplo do contrário<br />
dessa ideia. É tudo uma questão de programação do tempo… e<br />
força de vontade.<br />
Até agora tem sido o próprio pai que o tem treinado. Se ele chegou<br />
onde chegou, tudo leva a crer que possa ainda progredir na sua<br />
carreira tenística. Estou em crer, porém, que, a partir de agora, ele<br />
terá de partir para o estrangeiro (Espanha? Estados Unidos?) para<br />
poder vir a dar muitas mais alegrias aos portugueses amantes do<br />
ténis.
Caso por cá continue a treinar, será mais um caso de sucesso relativo,<br />
como foram, por exemplo, os casos notáveis, para nós, do<br />
Nuno Marques e do Cunha e Silva, a quem não faltavam condições<br />
naturais para serem dos melhores…<br />
Num País em estado de depressão, exemplos como o do Pedro<br />
Sousa fazem-nos bem!<br />
Pedro Sousa é um exemplo de muito trabalho, muito trabalho,<br />
muito trabalho e de dedicação a uma causa! Parabéns!<br />
Publicado no jornal “Região de Águeda” de 23/06/2006<br />
170
o abuso sIndIcal…<br />
171<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
É um dado adquirido que os sindicatos são indispensáveis a uma<br />
verdadeira democracia. Tem de se reconhecer que o mundo sindical<br />
é complexo e exige a servi-lo pessoas empenhadas, conhecedoras<br />
do meio e, acima de tudo, esclarecidas.<br />
A prosa que se segue vem a propósito da forma de recrutamento<br />
das pessoas que integram as direcções dos sindicatos que eu, aliás,<br />
desconheço. Chegou, porém, até mim, pelo menos um caso, que<br />
dá para pensar, mesmo que não se deva fazer generalizações.<br />
Um rapaz, filho de família séria e honesta, vivendo com algumas<br />
dificuldades, lutou desde novo por ser alguém entre os seus concidadãos.<br />
Possuindo inegáveis qualidades de trabalho e aplicação<br />
e dotado de boas aptidões para uma determinada área de ensino,<br />
alcançou as habilitações para ser professor de escola preparatória.<br />
Concorreu, de seguida, às vagas do Ministério da Educação, tendo<br />
sido colocado numa escola da capital. Em pouco tempo se efectivou<br />
e deu azo às suas qualificações com sucesso.<br />
Mas ele tinha ambição, o que é louvável, e, não querendo ficar por<br />
ali, matriculou-se na Faculdade de Medicina, o que significou um<br />
esforço enorme para a sua vida no dia a dia…<br />
Chega entretanto o 25 de Abril. E logo o mundo sindical se agitou<br />
e de que maneira!... Criaram-se muitos sindicatos, nomeadamente<br />
no âmbito da Educação, para os quais era necessário encontrar<br />
dirigentes.<br />
Um dos fundadores de um determinado sindicato na área dos professores,<br />
seu colega, procurou-o e disse-lhe que precisava dele<br />
para integrar a lista dos corpos sociais do mesmo para o que seria<br />
requisitado ao Ministério. E mais lhe terá dito que o seu trabalho<br />
consistiria apenas em fazer umas assinaturas e em participar numa<br />
ou noutra reunião…<br />
Essa requisição permitia-lhe dedicar-se ao curso de Medicina, com
mais tempo, mantendo o salário de professor, sem ter que exercer<br />
efectivamente na escola. Daí que aceitou o convite.<br />
O tempo foi passando, o curso foi terminado com êxito e, logo a<br />
seguir, tirou uma especialidade, daquelas onde se ganha muito<br />
dinheiro, e montou consultório. Como ele era bom profissional,<br />
um hospital central também o contratou, em regime de avença.<br />
Lá tem estado até que o Governo, agora, através da Ministra da<br />
Educação, resolveu pôr cobro a muitas situações consideradas intoleráveis.<br />
Vai daí, o número de professores requisitados está a<br />
ser drasticamente diminuído (em 2002, só na Educação, eles eram<br />
cerca de 3.000 e, nessa altura, a Profª Drª Mariana Cascais, do<br />
CDS, começou a cortar…) vindo agora para cerca de 450, pelo que<br />
os sindicatos tiveram que se adaptar às novas disponibilidades do<br />
Ministério…<br />
A pessoa que tenho vindo a referir, talvez por não fazer falta ao<br />
sindicato, foi das “sacrificadas” e teve de optar por continuar a ser<br />
professor do quadro ou a ser médico, mesmo deixando o Hospital.<br />
Feitas as contas, optou por continuar a ser professor, onde ganha<br />
mais do que ganhava no Hospital, e a ter consultório médico.<br />
Ou seja, este senhor esteve mais de 30 anos ausente da Escola,<br />
a ser pago pelo Orçamento de Estado, para, afinal, fazer a vida<br />
aqui descrita. Isto não será um abuso sindical?... E será um caso<br />
excepcional?...<br />
Claro está que ninguém tem culpa disto… porque julgo que a<br />
Constituição terá lá um artigo a dizer que a culpa deve morrer<br />
solteira!...<br />
Adenda:<br />
Acabo de ver o jogo de Portugal com a Holanda. Ganhámos! É<br />
o que interessa. Felipão e os seus jogadores estão de parabéns!<br />
Agora há que pensar no próximo jogo com a Inglaterra, com serenidade,<br />
fé e cabeça fria!<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 30/06/2006<br />
172
que País é este?...<br />
173<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
Acabamos de passar por um salutar portuguesismo frenético que<br />
atravessou toda a sociedade por causa do futebol.<br />
Veio à baila a célebre equipa dos “Magriços” de 1966 que só caiu<br />
aos pés da Inglaterra nas meias finais desse campeonato do Mundo,<br />
em jogo que teve lugar em Londres contra a Rússia, do Yaschin,<br />
e que venceu para se classificar em 3º lugar.<br />
Na altura eu desempenhava as funções de director geral dos Desportos,<br />
tendo acompanhado por dentro a preparação da selecção<br />
nacional. Testemunhei o trabalho exaustivo realizado pela Federação,<br />
presidida pelo benfiquista Justino Pinheiro Machado, através<br />
do seu secretário-geral, o Afonso Lacerda. O seleccionador, Manuel<br />
da Luz Afonso, o treinador, Otto Glória, e a equipa médica,<br />
chefiada pelo Dr. Silva Rocha, deram aos “Magriços” tudo o que<br />
sabiam para que eles realizassem em campo grandes exibições,<br />
algumas delas até à exaustão.<br />
Não havia grandes somas de dinheiro em jogo, mas o apego à<br />
luta por parte dos jogadores era o mesmo, como se essas somas<br />
estivessem em jogo.<br />
Em termos de apoios, o governo deu o possível, como atrasar a incorporação<br />
no Exército de alguns jogadores que estavam em risco<br />
de serem mobilizados para Angola. Este apoio durou apenas os<br />
dois meses de estágio e de participação no campeonato.<br />
O Chefe de Estado e o Governo, enquanto a equipa esteve em<br />
Inglaterra, naturalmente que seguiam com o maior interesse a sua<br />
progressão a caminho das meias finais… Mas, não mais do que<br />
isso. Coube-me, a mim, em representação do Governo, deslocar-<br />
-me a Liverpool, para assistir ao Portugal-Coreia, já o campeonato<br />
ia nos quartos de final. Passaram 40 anos e, agora, na Alemanha,<br />
não faltou o apoio institucional e mesmo pessoal dos mais altos<br />
dignitários do Estado à selecção nacional. Constatámos as presen-
ças em terras germânicas do Presidente da República, do Primeiro<br />
Ministro (3 vezes e sem gravata…), do Ministro da Presidência, do<br />
Secretário de Estado dos Desportos e do próprio ex-Chefe de Estado<br />
Jorge Sampaio. Eles encabeçaram afinal o fortíssimo apoio<br />
popular traduzido em manifestações difíceis de igualar por qualquer<br />
outra actividade. Os rapazes portaram-se muito bem pois é<br />
preciso ver que no campeonato do mundo estava a elite do futebol<br />
global. Regista-se que até ficaram pelo caminho selecções como a<br />
Espanha, a Inglaterra, a Argentina e… o Brasil… Para alegria de<br />
todos nós, a equipa de Scolari quase que igualou a façanha dos<br />
“Magriços” de 1966. Tal como nessa altura, Portugal morreu apenas<br />
na praia… de Munique. Ficou desta vez em 4º lugar o que é<br />
muitíssimo bom para o “ego” de um pequeno País.<br />
Devo confessar que me emocionei sempre que via os nossos atletas,<br />
com excepção do luso-brasileiro Deco, a cantarem sentidamente<br />
o hino nacional, o que não era costume há uns tempos<br />
atrás…<br />
E, não sei porquê, vem-me à memória a Amália Rodrigues que<br />
foi, na verdade, uma artista de reputado nível internacional, passeando<br />
(e encantando) a sua voz inconfundível pelos grandes palcos<br />
mundiais, a começar pelo Olympia (1956), de Paris, por N.York,<br />
Roma, Tóquio…<br />
A sua vida de glória acabaria por vir a ser amesquinhada pelos<br />
pseudo democratas de Abril que chegaram a apelidá-la de fascista…<br />
Mas os tempos foram passando e foi a própria democracia<br />
que acabou por fazer justiça ao colocá-la no Panteão Nacional…<br />
depois do versátil Mário Soares a ter condecorado com a Ordem<br />
Militar de Santiago de Espada. E continuam hoje a aparecer grandes<br />
revelações que cantam o fado por esse mundo fora… e que a<br />
juventude adora.<br />
E Fátima? Sempre teve na Cova da Iria milhares e milhares de<br />
fieis devotos, desde que os pastorinhos, já todos a repousarem no<br />
Céu, revelaram as aparições numa azinheira, em 1917.<br />
Com ditadura ou com democracia, o santuário de Fátima continua<br />
a “encher” e cada vez mais… São centenas de milhares de fiéis<br />
que, com sacrifício enorme, lá se deslocam mensalmente, muitos<br />
deles, de longe e a pé… num supremo sacrifício… Fátima foi, é e<br />
será sempre Fátima.<br />
174
175<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
Pois bem, também agora, uns tantos trouxeram à baila o apoio ao<br />
Estado Novo dos 3 FFF – Fado, Fátima e Futebol. Quer queiram<br />
quer não, é assim, agora e ontem, com os 3 FFF, que o Portugal<br />
mais profundo vibra. Não é certamente com a justiça, com a saúde,<br />
com a segurança social, com o ensino, com o ambiente ou com<br />
a segurança que o País vibra!<br />
Afinal que País é este em que não existem VALORES que estejam<br />
acima da política? Só há valores que andam ao sabor das marés?<br />
É triste!<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 14/07/2006
Para reflexão… ou talvez não…<br />
1. Publicidade - Para além de frequentes “spots” publicitários na<br />
televisão, de há uns tempos para cá, a cidade de Lisboa foi invadida<br />
por um sem número de cartazes de publicidade de grande<br />
dimensão da responsabilidade da Santa Casa da Misericórdia de<br />
Lisboa, focando a sua notável obra assistencial. Deve dizer-se que<br />
essa obra tem vindo a ser realizada ao longo de centenas de anos<br />
em favor dos mais desfavorecidos. Naturalmente que os recursos<br />
financeiros para ajudar os mais desfavorecidos nunca são demais.<br />
Antes, são sempre escassos. Daí que gastar mal esses recursos<br />
deve ser evitado e reprovado. Ora a Santa Casa tem, entre outras,<br />
uma fonte de rendimento que lhe permite essas ajudas e que são<br />
os Jogos de apostas e lotaria que não têm concorrência legal.<br />
Tenho para mim que a Santa Casa, como instituição, não necessita<br />
do tipo de publicidade a que me estou referindo, já que o seu Departamento<br />
de Jogos, esse sim, publicita e bem os seus produtos<br />
para atrair os apostadores, numa lógica de mercado.<br />
Ou seja, como instituição, considero que a publicidade à instituição<br />
é desajustada pelo volume de verbas que envolverá. Outro<br />
tanto não digo relativamente à publicidade aos jogos de azar. A<br />
não ser que aquela queira significar, das duas, uma coisa: a) que a<br />
instituição, agora, está a ser muito bem dirigida o que não sucedia<br />
antes; b) ou então não tem onde gastar melhor esse dinheiro.<br />
Quanto a a) lembro a gestão do Dr. José Guilherme de Melo e<br />
Castro, nos anos ’60, que viu longe, ao investir com as verbas<br />
do Totobola, na construção do Centro de Recuperação do Alcoitão<br />
que, passados 40 anos, ainda é hoje um centro especializado de<br />
referência. E muitos outros que lhe sucederam também fizeram<br />
boa obra.<br />
Não há muito tempo, também uma empresa pública ou de capitais<br />
públicos se fartou de investir em publicidade institucional em tudo<br />
176
177<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
que era sítio. Sucede que essa empresa era e é monopolista, sem<br />
possibilidade de concorrência, na sua actividade, nem mais nem<br />
menos que na aviação. Quem não se lembrará de tantos “spots”<br />
da ANA? Será que as companhias aéreas de transporte de passageiros<br />
tinham hipótese de utilizar outros aeroportos que não os de<br />
Lisboa, Porto, Faro, Funchal, etc.? Claro que não. Então, para quê<br />
os rios de dinheiro a escorrerem para as agências de publicidade?<br />
Pessoas conhecedoras do meio quiseram fazer-me crer que esse<br />
tipo de negócio implica normalmente comissões para os bolsos de<br />
uns tantos. Mas eu não acredito.<br />
Não é que me não tenham contado que, no início dos anos ’80,<br />
houve um sindicalista muito ligado ao Poder que quis influenciar a<br />
nomeação de uns determinados gestores para uma empresa pública<br />
“apetitosa” para os partidos políticos. Com o argumento “escondido”<br />
de que assim essa empresa poderia “financiar” o partido<br />
em que eles militavam. Graças a Deus que o Ministro da tutela,<br />
Veiga Simão, se opôs a esse “negócio”, apenas e só porque era<br />
um homem sério. Passados anos, esse Ministro acabou mesmo por<br />
abandonar o tal partido, desiludido…<br />
2. CPLP - Com a pompa e circunstância possíveis, ajudadas pelos<br />
bólidos emprestados pela Líbia, realizou-se em Bissau mais uma<br />
cimeira da CPLP. Lá se encontraram os Chefes de Estado e de Governo,<br />
com excepção de Lula.<br />
Estarei enganado ou os nossos representantes efectuaram as suas<br />
deslocações em aviões separados? A ser assim, quanto custaram<br />
as viagens de 2 “Falcon’s”? Se aqueles altos dignitários quisessem<br />
(mas, ao que parece, não quiseram), os custos tinham sido<br />
reduzidos a… metade. E até aproveitavam as horas de voo para<br />
falarem…<br />
Na verdade, os sacrifícios pedidos ao povo limitam-se mesmo ao<br />
povo sem poder reivindicativo… Para os políticos, os sacrifícios...<br />
não contam… Já agora, para que serve afinal a CPLP? Só cria<br />
despesa!...<br />
3. Timor – Tenho para mim que Timor não tem, ainda, condições<br />
para ser um Estado independente, contrariamente ao que pensaram<br />
alguns dos políticos portugueses de referência, tais como,<br />
Guterres, Sampaio, Melícias e outros. Passaram poucos anos e a<br />
que se assiste? Lembram-se que foi a Fretilin que assumiu o poder
em Timor, nem que para o efeito tenha assassinado militares portugueses,<br />
logo após Abril de 74. Alkatiri foi um deles, que ajudou<br />
a escorraçar os portugueses daquele território. Agora, a contas<br />
com a justiça, esse mesmo Alkatiri contratou uma série de bons advogados<br />
portugueses, indonésios, etc., para o defenderem. Onde<br />
é que ele ganhou tanto dinheiro que lhe permite essa defesa de<br />
luxo?<br />
Os políticos, onde quer que se encontrem, de uma maneira geral,<br />
pensam neles, neles e só neles…<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 18/08/2006<br />
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179<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
os 100 anos de Marcello caetano<br />
No passado dia 18, assisti na Basílica da Estrela, em Lisboa, a<br />
uma missa de acção de graças por alma do Professor Marcello<br />
Caetano. A Basílica estava repleta de cidadãos que quiseram prestar<br />
mais uma homenagem a esse grande Homem e Patriota, que<br />
a história não vai esquecer certamente, não obstante os esforços<br />
da esquerda activa que tudo faz para mostrar o político derrotado<br />
pelo 25 de Abril e nada mostra ou refere do muito que ele fez pelo<br />
povo português. Sabem quem criou a ADSE? Sabem quem criou<br />
o salário para os rurais? Sabem quem deu uma machadada no<br />
condicionamento industrial? Sabem quem fez a Reforma Educativa<br />
(sob a batuta de Veiga Simão)? Sabem quem lançou os Planos de<br />
Fomento? Já se esqueceram… Eu lembro: foi o governante Marcello<br />
Caetano.<br />
Não posso esquecer que Marcello Caetano, quando desembarcou,<br />
ido do Funchal, em S. Paulo, foi alojado num hotel, sem que ele<br />
tivesse possibilidade de pagar a conta! E foi um antigo aluno que o<br />
fez por ele e o foi buscar para o alojar em sua casa. Considerado<br />
pela esquerda como um “ditador”, não tinha amealhado fortuna,<br />
enquanto governante, como outros verdadeiros ditadores o têm<br />
feito ao longo dos tempos e se pavoneiam mesmo nas democracias<br />
avançadas que os recebem com todas as honras! Ou seja,<br />
afinal há “ditadores” e ditadores…<br />
Veio depois a fixar-se no Rio de Janeiro, onde passou os 6 anos<br />
de exílio. Quando chegou a essa cidade, solicitou ao seu colega<br />
Pedro Calmon, que intercedesse no sentido de ele se poder alojar<br />
numa cela de um convento beneditino, onde passou os primeiros<br />
26 dias cariocas. Depois, instalou-se em apartamento onde viveu<br />
até terminar os seus dias, em 1980, sustentado pelo salário digno<br />
que a prestigiada Universidade Gama Filho lhe proporcionava.<br />
Marcello retribuiu à Universidade com aulas magistrais que eram
muito disputadas pelos alunos e, finalmente, com o notável acervo<br />
bibliográfico (25.000 obras) que conseguira fazer transportar para<br />
o Brasil. E lá está a atestar a obra científica de um dos maiores<br />
professores de Direito que Portugal alguma vez teve. Recusou-se a<br />
regressar a Portugal porque lhe era exigido um requerimento para<br />
o efeito. “Requerer um direito? Nunca”.<br />
A imprensa portuguesa dedicou algumas colunas ao evento. Li-as<br />
com toda a atenção até porque a história se vai escrevendo com<br />
esses textos, muitos deles enviesados pelas canetas canhotas… E<br />
não pude deixar de verificar que algo se escreveu que não corresponde<br />
à verdade. Por exemplo, a citação de uma expressão de<br />
Francisco Sousa Tavares que dizia que os lusitos e os chefes de<br />
quina da Mocidade Portuguesa usavam um cinto adornado pela<br />
“serpente salazarista na fivela”, apenas serviu para denegrir essa<br />
Organização a que pertenci e servi com o maior agrado até porque<br />
me proporcionou, e aos rapazes e raparigas da altura, uma<br />
formação desportiva e cívica que, hoje, não é proporcionada por<br />
qualquer partido político… A verdade é que esse “S” colocado na<br />
fivela do cinto tinha um simples significado: “Servir”.<br />
Li também um artigo do ex-presidente Sampaio em que refere que,<br />
durante a greve académica de 1962, tinha visto Marcello Caetano<br />
“(…) em cima de um carro, no estádio universitário, a prestar<br />
esclarecimentos aos estudantes… e a convidar-nos para jantar no<br />
Castanheira de Moura (…)”. Sucede que eu era responsável pelo<br />
Estádio Universitário de Lisboa e também lá estava, a receber o<br />
Reitor Marcello Caetano quando ele chegou. O que eu vi foi diferente<br />
do agora relatado pelo antigo dirigente associativo Jorge<br />
Sampaio. O que eu vi foi o Reitor, logo que saiu da viatura, começar<br />
a dialogar com os estudantes (que já estavam de saída do Estádio),<br />
mas não em cima do carro. Alguém está a ver o Professor Marcello<br />
Caetano empoleirado num carro? Sampaio viu. Eu não vi. Quem<br />
se empoleirou na guarita de acesso ao estádio foi, sim, o Prof. de<br />
Letras Lindley Cintra que perorou aos estudantes dizendo, ele sim,<br />
que o Reitor os convidava para jantarem no restaurante Castanheira<br />
de Moura, ao Lumiar. Sucede também que eu, que estava<br />
próximo do Reitor, não o ouvi delegar naquele Prof. esse convite. O<br />
certo é que, quando os estudantes chegaram ao restaurante, não<br />
havia jantar para ninguém… Ainda a propósito do que escreveu J.<br />
180
181<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
Sampaio sobre as forças económicas autoritárias e conservadoras<br />
que “(…) se afundaram, felizmente, em 1974, com o 25 de Abril.”<br />
(o sublinhado é meu), não posso deixar de recordar o trabalho que<br />
foi feito pela economista Aurora Murteira, em 1985, sobre o Sector<br />
Empresarial do Estado, no domínio da Indústria e da Energia, em<br />
que se diz que os revolucionários de Abril fizeram investimentos<br />
nessas áreas, sem terem levado em conta as consequências do<br />
choque petrolífero de 1973. E assim se investiram, a preços de<br />
1985, 2 biliões de contos, ou seja, o equivalente a 10 biliões de<br />
euros… irrecuperáveis, sem falar nas indemnizações compensatórias…<br />
Foi, pelos vistos, uma felicidade para J. Sampaio…<br />
Também é certo que li dois outros artigos dignos de quem os escreveu:<br />
foram eles dos Professores Veiga Simão e Adriano Moreira,<br />
curiosamente, duas personalidades que, em fases diferentes, estiveram<br />
em ruptura com Marcello Caetano. Mas a sua inteligência<br />
esteve acima dos arrufos… Parabéns!<br />
Estou certo que daqui a mais cem anos, ainda se falará do Professor<br />
Doutor Marcello Caetano. Ao contrário do que sucederá com<br />
quem o derrubou!...<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo”
a outra face da Moeda<br />
1. Tecnologias – Os calores do verão amolecem as pessoas. Toda<br />
a gente sabe que os povos do norte são mais produtivos do que<br />
os do sul. Mesmo em Portugal se diz que o trabalhador nortenho<br />
trabalha mais do que o algarvio. Claro que o calor não é estranho<br />
a essa apreciação. Trabalhar com 20-25 graus ou menos é muito<br />
diferente de trabalhar com mais de 30 graus à sombra. O corpo<br />
amolece com essas altas temperaturas…<br />
Lembro-me dos tempos em que trabalhei na Tabaqueira e me tive<br />
de confrontar com os sindicatos e Comissão de Trabalhadores,<br />
bastante activos, que reclamavam por tudo e por nada!<br />
Diziam, na altura, que as condições de trabalho da fábrica não<br />
eram boas… E eu pensava que, trabalhando em ambiente com<br />
ar condicionado, como era o caso, seria bem melhor do que na<br />
maioria das fábricas que o não tinham… Mas a insatisfação dos<br />
homens é uma coisa natural e até desejável, embora por vezes<br />
toque o irracional…<br />
Pois bem, estamos agora no tempo de se incensar a aplicação das<br />
novas tecnologias a tudo e todos. Ainda bem que o conhecimento<br />
tem evoluído de uma forma fantástica para bem da humanidade. E<br />
tem havido portugueses (muitos? poucos?) que têm ajudado a esse<br />
progresso, trabalhando em centros de investigação renomados por<br />
esse mundo fora. Sim, porque os portugueses não são piores do<br />
que os outros. Direi que eles apenas precisam de bom enquadramento<br />
que, a existir, os revela da melhor maneira.<br />
De entre as tecnologias hoje mais vulgares, destaca-se, pela sua<br />
divulgação, a informática. Não há escola que não tenha já computadores<br />
e internet! Não há Junta de Freguesia que não proporcione<br />
cursos de informática aos seus cidadãos! O Governo não se<br />
tem poupado a esforços para proporcionar o acesso a esses meios<br />
a toda a gente. E, ao fazê-lo, tem consciência que até está a criar<br />
182
183<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
postos de trabalho, na medida em que todas as máquinas acabam<br />
por sofrer avarias que é preciso reparar… por alguém qualificado<br />
que saiba fazê-lo. As crianças adoram ter o seu computador e os<br />
pais – os que podem – não lhos regateiam. Para seu bem? Ou<br />
para seu mal?... Aqui falo com a experiência de ter já netos que,<br />
nos seus 9-12 anos, têm o privilégio de possuir essas máquinas<br />
em casa. E que vejo eu? Tenho a humildade de afirmar que o de<br />
12 anos é mais expedito do que eu. Sabem porquê? Simplesmente<br />
porque não tem receio de fazer asneiras informáticas, talvez por<br />
inconsciência!... E eu tenho…<br />
Nas coisas da vida, diz-se que não há bela sem senão!... Assim:<br />
2. O estudo do Português - Com aquelas ferramentas, as crianças<br />
desenvolvem o espírito de pesquisa, mas viciam-se na “navegação”<br />
do cíber espaço ao ponto de deixarem de ler livros. Quando<br />
acordam, não dispensam a televisão com o canal Panda! E se<br />
vão para a escola de manhã, quando regressam a casa, atiram a<br />
mochila com quilos e quilos de livros para o chão e vão direitos ao<br />
computador (ou à Play-Station), onde se começam a distrair com as<br />
“mensagens”… (sabe Deus a sua qualidade) e com a “descoberta”<br />
de sensações por vezes pouco recomendáveis…<br />
Neste ambiente, como é que se consegue tempo para a leitura<br />
de livros educativos que exercitem o português? Isto, para mim, é<br />
um drama de difícil solução. Sim, porque, sem leitura e redacção<br />
de textos, as crianças ficam com um défice enorme no capítulo do<br />
raciocínio para bem exporem as suas ideias. Dir-se-á que é aos<br />
Pais que cabe a tremenda tarefa de acompanhar as crianças no<br />
seu desenvolvimento corporal e intelectual. Só que, na sociedade<br />
hodierna, com quotas ou sem quotas, os Pais têm que ganhar o<br />
sustento da Família e não lhes sobra tempo para esse real acompanhamento.<br />
Será que um esforço adicional dos Pais, no sentido<br />
de “obrigarem” os filhos pequenos a fazerem uma redacção diária<br />
e a ler umas tantas páginas de um livro de bom autor é possível?<br />
Direi mesmo que se, efectivamente, não lhes for possível, os resultados,<br />
a prazo, são irremediáveis e que, quem vai sofrer, são os<br />
futuros adultos! Pensem nisto. E não falo sequer da matemática!!!<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 01/09/2006
ProGresso!...<br />
1. Acessibilidades – Depois de umas semanas passadas com a<br />
família à beira mar, no Algarve, que estava cheio como um ovo,<br />
com “bichas” por todo o lado, especialmente nas caixas Multibanco<br />
(muitas vezes sem dinheiro, deixando os clientes desesperados…),<br />
resolvi dar uma volta pelo interior.<br />
A pretexto de ir ver um jogo de basquetebol de qualificação do<br />
campeonato da Europa, fui de abalada até Trancoso, terra que eu<br />
não conhecia. Segui por Torres Novas, Castelo Branco e Guarda.<br />
Sempre em auto-estrada. Resultado: não cheguei a entrar em nenhuma<br />
dessas cidades. O progresso também implica sacrifícios,<br />
naturalmente. Neste caso, para a actividade económica dessas cidades.<br />
Quem fica a ganhar são as estações de serviço gasolineiras…<br />
A viagem demorou cerca de 4 horas para fazer os 400 quilómetros<br />
do percurso. De todos eles, só tive de pagar portagem entre Alverca<br />
e a saída da A1 para Torres Novas. Pude apreciar a obra de<br />
engenharia que são os túneis da Gardunha que, uma vez abertos,<br />
facilitaram enormemente o trânsito automóvel. Graças ao conceito<br />
das SCUTS, vias sem portagem, as pessoas até pensam que<br />
elas não custam dinheiro! Mas só aparentemente! É agradável não<br />
pagar portagem mas, se pensarmos um bocadinho, chegamos à<br />
conclusão meridiana de que as “portagens virtuais” foram e são<br />
pagas com os nossos impostos. Que cada vez doem mais. Isso só<br />
se nota quando se recebe a factura do IRS – estamos na altura de<br />
isso suceder – e a comparamos com a do ano anterior!...<br />
Chegado a Trancoso, deparei com uma vila pacata, muito limpa,<br />
com o casario junto à muralha do castelo, a recordar a batalha<br />
contra os castelhanos (em número muito superior) em 1385, um<br />
largo enorme onde ainda hoje se realiza a feira franca criada por<br />
Dom Diniz, completamente cheia de feirantes e de povo, como<br />
184
185<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
pude comprovar. É nesse largo que está implantada uma capelinha<br />
erigida para comemorar o casamento daquele Rei com Isabel – a<br />
Rainha Santa.<br />
As novas construções foram desenhadas por quem sabe respeitar<br />
a tradição pelo que aos contrastes não falta harmonia em Trancoso…<br />
a quem D. Afonso Henriques concedeu foral, entre 1157 e<br />
1169, já lá vão muitos anos…<br />
Fiquei instalado num hotel de Turismo excelente, de construção<br />
recente, muito acolhedor e a que não falta uma piscina coberta,<br />
aparelhos de fitness e um belo solário, com um pessoal atenciosíssimo.<br />
E que dizer do local onde se disputou o jogo entre as selecções<br />
nacionais de Portugal e da Macedónia? Direi apenas que se trata<br />
de um bonito pavilhão, com os topos envidraçados, de estrutura<br />
de madeira nórdica, com capacidade para cerca de 1.000 pessoas<br />
(chega muito bem) e que estava completamente cheio. A minha<br />
curiosidade não resistiu a perguntar ao presidente da Câmara o<br />
nome do autor do projecto. Claro, trata-se de um dos nomes sonantes<br />
da arquitectura portuguesa, Arq. Gonçalo Birne.<br />
Acrescento que, naquele belo ambiente, com muita juventude a<br />
cantar o hino nacional e a gritar por PORTUGAL, os nossos atletas<br />
levaram de vencida os macedónios, o que naturalmente deixou<br />
felizes os trancosenses e não só.<br />
E perdoe-se-me o desabafo! Por motivo da minha dedicação ao<br />
basquetebol, tenho assistido em variadas cidades de província<br />
– cito só Anadia e Tondela – a jogos disputados em pavilhões com<br />
qualidade e que convidam à sua frequência. Recordo que nos ’70<br />
dei o meu contributo para que a escola Preparatória de Águeda<br />
fosse construída com um pavilhão gimnodesportivo, que ainda lá<br />
está. Depois disso apareceu o pavilhão do Ginásio que não satisfaz,<br />
segundo ouço dizer, as necessidades do desporto aguedense.<br />
Tantos anos passados, será que Águeda não merece ser dotada de<br />
uma infra-estrutura mais digna, em termos de desportos de salão?<br />
Não esqueço e até relevo a mais valia que representou para a terra<br />
o Estádio de futebol em que a autarquia meteu a cabeça.<br />
Voltando à viagem, direi que optei por regressar pela IP5, que está<br />
muito melhor, quase toda transformada em auto-estrada. E, na<br />
saída para as Talhadas, não hesitei e virei para Águeda… É que
não podia deixar de ir dar um abraço ao meu colega e amigo dos<br />
tempos da Escola do Adro, João Resende, e, outrossim, não podia<br />
regressar a Lisboa sem trazer uns folares e uns pastéis da Casa<br />
Brás.<br />
Como pormenor, insignificante talvez para muitos, apreciei a atitude<br />
da Câmara de Águeda, ao colocar umas placas na subida para<br />
o Tribunal a permitir o estacionamento de viaturas até 15 m. O<br />
tempo suficiente para uma pessoa poder resolver um assunto ligeiro<br />
na Baixa da cidade. A vida também é feita de pequenos nadas!<br />
À laia de conclusão: sem querer pôr em dúvida a forma discutível<br />
como os dinheiros da UE têm sido gastos, o País está muito bem<br />
servido de vias de comunicação para longas distâncias. Houve um<br />
enorme progresso, não há dúvidas.<br />
2. Gare do Oriente – há anos escrevi aqui a verberar a falta de<br />
uma sala de espera na gare do Oriente, em Lisboa. Acabei de<br />
verificar que, finalmente, ela está a ser montada e até é bonita e<br />
funcional: Parabéns à REFER.<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 02/09/2006<br />
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187<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
aInda eusébIo e salazar / lInGuaGeM desbraGada<br />
Tenho sido leitor assíduo do jornal Diário de Notícias. Esse jornal<br />
está a promover agora uma colecção de moedas dedicadas a<br />
Grandes Figuras Portuguesas.<br />
Como não podia deixar de ser, uma dessas figuras é a lenda do futebol,<br />
Eusébio, felizmente ainda hoje celebrado justamente como o<br />
maior jogador português de futebol de todos os tempos.<br />
Na minha qualidade de director geral dos Desportos, tive o prazer<br />
de acompanhar de perto a sua carreira, nos anos ’60 e princípios<br />
de ’70, para poder testemunhar o seu enorme valor em campo, só<br />
suplantado pela sua humildade como homem.<br />
A sua figura tem sido tratada exaustivamente na imprensa, na rádio<br />
e na televisão. Foi-lhe erigida uma estátua no estádio da Luz<br />
e foi-lhe feita uma biografia, pelo Sr. João Malheiro. Tudo bem!<br />
Só que, nessa biografia, o seu autor, certamente por razões de<br />
ordem não desportiva, introduziu abusivamente uma ideia que é<br />
uma pura falsidade.<br />
Na verdade, nela se inculca que Salazar inviabilizou a ida<br />
de Eusébio para o estrangeiro, considerando-o património<br />
nacional.<br />
Feita essa afirmação, logo o jornalismo desportivo, e não só, se<br />
encarregou de passar a mensagem, de tal forma que, a propósito,<br />
agora, da referida moeda do DN, na sua página 39, em sub-título,<br />
essa mensagem é repetida dizendo mesmo que a transferência do<br />
jogador seria para a Juventus (Itália). Ora, uma mentira, muitas<br />
vezes repetida, passa a ser uma verdade… Só do meu conhecimento,<br />
isso sucedeu com o Expresso, com o Público e na TV. Existem<br />
mesmo vídeo cassetes da SIC, que passavam nos Alfas Pendulares,<br />
em que se diz que Salazar chamou Eusébio a S. Bento por 6<br />
vezes, o que também não é verdadeiro. Posso afirmar que Eusébio<br />
se encontrou com Salazar uma única vez e que foi no regresso de
Londres, do campeonato do mundo de 1966. Tenho procurado fazer<br />
a rectificação desses escritos, mas sem êxito. Já o escrevi, como<br />
me competia, por amor à verdade, no meu livro de “memórias”.<br />
Até que, no jornal “A Capital” de 28-09-2004, em resultado de<br />
um trabalho de investigação da Profª Ana Santos para uma tese<br />
de doutoramento, está escrito em título de 1ª página: “Novas investigações<br />
colocam em causa um dos mitos portugueses do<br />
século XX – foi o Benfica e não Salazar a impedir Eusébio de<br />
jogar no estrangeiro”. Aí se encontram os testemunhos do, ao<br />
tempo, advogado de Eusébio, Dr. Silva Resende que foi presidente<br />
da FPF e do histórico jornalista, Sr. Alfredo Farinha, a contrariarem<br />
frontalmente a tese de J. Malheiro.<br />
Felizmente, ainda estão vivos antigos dirigentes do glorioso S. L. e<br />
Benfica que poderão testemunhar em desfavor da tese que o DN<br />
volta a trazer à liça. Graças a Deus, os 2 últimos ministros da Educação<br />
de Salazar (de 1962 a 1968), Inocêncio Galvão Telles e José<br />
H. Saraiva, ainda estão vivos e poderão negar peremptoriamente,<br />
como inclusivamente se chegou a dizer, que o assunto da transferência<br />
de Eusébio alguma vez tenha sido discutido em Conselho<br />
de Ministros!<br />
Tenho para mim que os senhores jornalistas, quando escrevem,<br />
é para dizer a verdade, só que, se as suas fontes são de “águas<br />
inquinadas”, essa verdade acaba por ser atraiçoada.<br />
Só dando voz a todos os que conhecem os assuntos se pode esclarecer<br />
a opinião pública. E, neste caso concreto, eu até estava por<br />
dentro…<br />
Linguagem desbragada - Alguns políticos usam, por vezes, uma<br />
linguagem que me faz interrogar sobre se estou a viver numa democracia<br />
que se diz avançada!<br />
Há dias, li no Expresso que o mediático bloquista Dr. Francisco Louçã<br />
terá dito “Temos o Carrapatoso Corleone, o Belmiro Corleone e<br />
o Paulo Corleone”. Assim se terá pretendido afirmar uma prática/<br />
tendência mafiosa àqueles gestores que são do melhor que existe<br />
no País. Se eu pudesse dar um conselho àquele professor universitário,<br />
dir-lhe-ia que lançasse uma empresa e que a gerisse de<br />
forma a criar, ao menos, 0,1% dos postos de trabalho existentes,<br />
por exemplo, no Grupo de Belmiro de Azevedo. Por mim eu ficaria<br />
feliz, porque haveria mais 39 trabalhadores com salários em dia.<br />
188
189<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
Só assim se terá autoridade moral absoluta para falar de temas<br />
sociais agudos. Especialmente quem vive à sombra do orçamento<br />
de Estado, como é o caso dos políticos, deve ter mais contenção na<br />
linguagem, que chega a atingir o insulto, mesmo o gratuito.<br />
Também li no Diário de Notícias que um dirigente sindical do sector<br />
da educação (!), de Coimbra, se terá referido ao Primeiro-Ministro<br />
e à Ministra da Educação como “canalha”. Esse dirigente<br />
é certamente um dos ainda muitos professores requisitados para<br />
exercerem funções sindicais, que recebem o vencimento do Ministério.<br />
E os governantes não reagem a estes insultos? Na negativa,<br />
será caso para dizer que o País está mesmo doente.<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 22/09/2006.<br />
A parte relativa a «Eusébio e Salazar» também foi publicada no jornal<br />
“Diário de Notícias” de14/09/2006.
escutas, Panteão nacIonal e MúsIca no coração<br />
No Diário de Notícias de 5 do corrente mês, na página 17, em<br />
caixa, está a transcrição de algumas escutas telefónicas feitas a<br />
pessoal político, em 24 de Maio de 2003, a propósito do processo<br />
da Casa Pia:<br />
“JS – Quer dizer, o teu nome anda por lá, não é? Nos depoimentos.<br />
FR – Exactamente. Tá metido na m…(omito a palavra), na lama (…)<br />
FR – Mas como isto, pá, tá tudo a ser registado, pá, acho melhor,<br />
pá, teres cuidado com a língua, pá!<br />
JS – Ó, eu tenho o c… (omito a palavra), pá! Tu desculpa lá, é que<br />
a mim não me intimidam, nem…<br />
FR – Depois, dizem que tu, pá, que tu não defendes o Estado de<br />
direito, pá. Que não sabes o…<br />
JS – Pois, eu não conheço o Estado de direito!<br />
FR – Que não conheces a separação de poderes…<br />
JS – P… que os p… (omito as palavras)… os poderes…<br />
FR – Tá bem!”<br />
Ao ler esta transcrição, e a ser assim, eu nem queria acreditar no<br />
que estava debaixo dos meus olhos! É com este tipo de políticos<br />
que as camadas jovens aprendem a falar bom português? Creio,<br />
sinceramente, que não!<br />
Começo agora a perceber as razões que têm levado uns tantos<br />
políticos com altas responsabilidades a defenderem a tese de que<br />
há que limitar as escutas, das mais sinuosas formas, porque, dizem<br />
eles estão, em causa os direitos, as liberdades e as garantias…<br />
Tal como já escrevi neste jornal, o meu comentário é apenas o de<br />
que quem não deve, não teme! E se alguns dos senhores políticos<br />
temem será porque, lá no fundo, devem alguma coisa?<br />
Panteão Nacional - Há dias o Panteão - local destinado ao repouso<br />
daqueles que por obras de excelência se foram da lei da<br />
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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
morte libertando - foi palco de cerimónia que reuniu as mais altas<br />
figuras do Estado que entenderam prestar uma homenagem a um<br />
militar que tem no seu currículo o facto de ter captado a inteira<br />
confiança de Salazar, a ponto de este o ter nomeado adido militar<br />
português em Washington e director-geral da Aviação Civil. Foi um<br />
homem que tinha a ambição de ser designado como 1º Subsecretário<br />
de Estado da Aeronáutica, mas que viu o lugar ser ocupado<br />
por outro oficial, não sei se melhor ou pior do que ele. Esse militar<br />
zangou-se com o Estado Novo, que até ali servira certamente com<br />
o maior empenho, e passou-se para a oposição de onde partiu em<br />
campanha eleitoral para a Presidência da República. Nela declarou<br />
alto e bom som que, se fosse eleito, “obviamente demitia Salazar”.<br />
Como não ganhou as eleições, não teve essa oportunidade<br />
e partiu para o exílio, onde acabou mesmo por ser deixado à sua<br />
sorte pelo PCP. Até que, ao encontrar-se com uma brigada da PIDE,<br />
na fronteira espanhola, foi lamentavelmente abatido.<br />
Humberto Delgado, quando se demitiu de Director-Geral da Aviação<br />
Civil, para iniciar a sua carreira política na oposição, foi deixar<br />
um cartão de cumprimentos ao Ministro das Comunicações. Por<br />
acaso, eu estava no gabinete, e fui eu que recebi o cartão…<br />
Sem querer opinar sobre a circunstância da colocação de Humberto<br />
Delgado no Panteão, limitei-me a constatar que não faltou<br />
à referida homenagem aos seus 100 anos um largo número de<br />
políticos do mais alto nível. Só lá faltou o Povo, que respondeu<br />
com o seu alheamento… a avaliar pelas fotos e pelas transmissões<br />
televisivas… Tal como sucedeu aliás na cerimónia no Largo do Município<br />
no passado dia 5 de Outubro.<br />
Música no coração - Uma vez mais, Filipe La Féria teve a generosidade<br />
de me convidar para uma estreia, agora, do “Música no<br />
Coração”.<br />
Sem subsídios do Estado, ele conseguiu montar um espectáculo de<br />
enorme qualidade que, julgo, se irá manter em palco por muito<br />
tempo, como aliás tem sucedido com as suas anteriores criações:<br />
“Passa por mim no Rossio”, “Maldita Cocaína”, “My Fair Lady”,<br />
“Amália”…<br />
Digo isto porque os desempenhos de Anabela/Lúcia Moniz, Carlos<br />
Quintas e Joel Branco, a par do coro de “freiras” - onde pontificam<br />
as vozes excelentes de Lia Altavila, Helena Vieira, Helena Afonso…
e de um conjunto de crianças – que prenunciam que o futuro está<br />
aí – , são a garantia de um êxito total no panorama cultural português,<br />
onde há muitas vozes a queixar-se da falta de apoios do<br />
Estado!...<br />
Creio que a ANATA prestaria um bom serviço aos aguedenses se<br />
organizasse uma excursão a Lisboa para assistirem a um agradável<br />
evento, a exemplo do que, aliás, já foi anunciado por outras<br />
terras, mesmo de Espanha…<br />
Afinal, também há coisas muito boas em Portugal! Aproveitemo-<br />
-las!<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 19/10/2006<br />
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193<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
servIço nacIonal de saúde / eMPresa PrIvada<br />
Há uns anos atrás, dirigi-me ao meu Centro de Saúde, em Lisboa,<br />
para uma consulta médica que me proporcionaria a passagem de<br />
uma receita. Marcada previamente, lá me dirigi no dia e hora fixados<br />
pelo Centro. Às 14h, com mais 29 outros “doentes”, começou<br />
a espera pelo Senhor Doutor. Uma hora depois, eram 15h, ele<br />
entrou em passo estugado… Logo veio uma Enfermeira (?) dizer<br />
aos doentes que o Senhor Doutor só atenderia 15 dos 30 que<br />
aguardavam a sua vez…<br />
Achei que os doentes não tinham culpa do atraso do médico e<br />
resolvi dizer à Senhora Enfermeira (?) que o Senhor Doutor teria<br />
de proporcionar a consulta aos 30 previamente marcados… Fezse<br />
um silêncio de chumbo na sala de espera e as pessoas ficaram<br />
a olhar umas para as outras, incrédulas quanto à sua sorte… em<br />
serem efectivamente atendidas ou não… Foi chamado o 1º, depois<br />
o 2º e por aí adiante, até chegar a minha vez. Fui o 30º…<br />
Mas fiquei satisfeito por toda aquela gente bem humilde ter sido<br />
atendida! Quanto à qualidade do atendimento das pessoas, nada<br />
posso dizer, naturalmente.<br />
Desde criança que me habituei a utilizar os serviços médicos preventivos.<br />
Fui, pois, umas tantas vezes ao consultório desse grande<br />
médico e Homem que foi o Sr. Dr. António Breda, pela mão de minha<br />
Mãe. Passaram os anos e, de há um tempo a esta parte, tenho<br />
ido ao IPO, para consultas regulares de prevenção. Quando iniciei<br />
essas consultas, ainda estava com uma actividade profissional intensa.<br />
Assim, levava o computador para o Hospital, onde sabia<br />
que teria de esperar umas 3 horas pela minha vez, dado que todas<br />
as pessoas eram convocadas para a mesma hora - 9h da manhã…<br />
A observação que eu fazia da forma como o sistema funcionava<br />
levou-me a, muito respeitosamente, perante o médico especialista,<br />
pôr em causa esse sistema. Ele ouviu os meus comentários e
achou-os pertinentes… tendo prometido pensar neles. A minha<br />
sugestão era muito simples: (a) dividir o período da consulta (4<br />
horas por exemplo) em 4 partes; (b) a cada hora corresponderiam<br />
x consultas; (c) as pessoas seriam convocadas pelo hospital para o<br />
início de cada hora, com uma folga adequada para as eventuais<br />
faltas…<br />
Pois bem, mais uma vez, a semana passada fui a Palhavã, com<br />
uma marcação para a 11h10m. Fui atendido às 11h15m! E como<br />
isto tem vindo a suceder nas últimas consultas (e se a consulta tiver<br />
de ser adiada, recebe-se em casa um postal a marcar o novo dia<br />
da mesma), tenho para mim que o actual sistema funciona bem.<br />
Parabéns, Dr. João Amaro!<br />
Numa altura em que tanto mal se diz do Serviço Nacional de Saúde,<br />
umas vezes com razão outras talvez não, é com satisfação que<br />
relato esta experiência. Está, também, nas nossas mãos contribuir<br />
pela introdução de melhorias no funcionamento dos serviços públicos,<br />
não nos devendo resignar perante situações injustificáveis.<br />
É que, melhor organização não implica necessariamente maiores<br />
custos. Antes pelo contrário. Ao fazer este elogio merecido não<br />
posso no entanto deixar de registar o espectáculo dado por algumas<br />
senhoras de bata branca, funcionárias do hospital, a fumarem<br />
à saída das portas… esquecendo que o exemplo é fundamental<br />
para se evitar o cancro do pulmão… E elas estão no IPO…<br />
Empresa Pública<br />
Há alguns meses atrás, nos meus passeios diários na zona do<br />
Restelo, reparei numa viatura dos CTT-Expresso, “estacionada” no<br />
parque onde a PSP tem as viaturas que vai rebocando por mau<br />
estacionamento na cidade. Estranhei o facto, mas as semanas iam<br />
passando e ela lá continuava.<br />
Resolvi enviar, no passado mês de Agosto, uma mensagem ao presidente<br />
dos CTT, que tenho por pessoa competente e empenhada,<br />
a dar conhecimento da situação, o que ele agradeceu prometendo<br />
ir averiguar o que se passava.<br />
Até hoje, porém, a referida viatura não foi removida de lá…<br />
Costumo dizer que a unidade de medida do tempo em Portugal<br />
passou a ser, desde há muito, o semestre…<br />
Empresa Privada<br />
Soube há dias que uma empresa privada instalada nos arredores<br />
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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
de Lisboa fabrica um produto que lhe custa € 0,80/milheiro. Essa<br />
empresa tem uma outra fábrica na Roménia a quem esse custo é<br />
de € 0,25/milheiro. Lá, nas máquinas, operam engenheiros, aqui<br />
operam pessoas com a 4ª classe… Lá, trabalha-se aos fins de semana<br />
e em 3 turnos, sem alcavalas. Aqui, o sábado custa mais<br />
175%... etc., etc. e o posto de trabalho tem um seguro de vida…<br />
que os sindicatos garantem…<br />
Sem, de forma alguma, querer dizer que os romenos estão a ser<br />
bem pagos, o que acho é que a corda tanto estica que o fenómeno<br />
da “globalização” acabará por mais e mais “deslocalizações”…<br />
Publicado no jornal “Diário de Notícias” de 02 e 06/11/2006<br />
e no jornal “Soberania do Povo” de 10/11/2006
doutoraMentos e Grandes PortuGueses<br />
1- Doutoramentos - Praticamente desconhecido do grande público,<br />
um oficial do Exército, não de elevada patente, foi projectado no meio<br />
castrense pós 25 de Abril para as mais altas funções do Estado, depois<br />
de corajosamente ter encabeçado a luta contra o totalitarismo que as<br />
forças da esquerda extremista impuseram, durante alguns meses, ao<br />
povo português mas que, embora derrotadas, deixaram raízes bem<br />
fundas na sociedade de que ainda hoje, especialmente as organizações<br />
económica e educativa sofrem as respectivas consequências. Faz<br />
agora precisamente 31 anos que esse oficial deu o peito às balas que,<br />
porém, e ainda bem, não foram disparadas pelos seus antagonistas.<br />
Estou a falar do General António Ramalho Eanes que, durante 10<br />
anos, exerceu o alto cargo de Presidente da República.<br />
Nunca tive relações com ele, a não ser as que decorriam de um cumprimento<br />
de circunstância a que não era alheia a sua Mulher.<br />
Independentemente de qualquer apreciação que se possa fazer à sua<br />
conduta política e partidária, emerge sempre, a ideia de um Homem<br />
Sério e de Carácter.<br />
Trago hoje aqui a sua figura pelo facto, para mim relevante, de ao<br />
longo do seu percurso pós presidencial e partidário se ter remetido<br />
a uma vida discreta, longe dos holofotes, sem andar à procura de<br />
notoriedade balofa, nem de instalações sumptuárias para o seu “munus”.<br />
Ele resolveu, pura e simplesmente, dedicar-se ao estudo de um<br />
período da nossa história civil muito rica em acontecimentos que não<br />
devem ser esquecidos, mas tratados com verdade!<br />
E vai daí, em vez de procurar dar azo à sua vaidade, embrenhou-se<br />
numa tarefa delicada e de grande risco, na medida em que não é fácil<br />
alcançar um doutoramento numa Universidade de prestígio, para<br />
mais estrangeira. Estudou, investigou e, aos 72 anos, submeteu-se a<br />
provas públicas na Universidade de Navarra, tendo como arguentes<br />
notáveis mestres dessa e das nossas universidades (Jorge Miranda<br />
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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
e Manuel Braga da Cruz). Teve a acompanhá-lo durante as provas<br />
pouca gente, segundo os relatos que li. Do actual Poder Político, não<br />
tive registos de monta! Poucas personalidades se dignaram dar-lhe os<br />
parabéns, o que é triste! Em todo o caso, na defesa da sua tese sobre<br />
Ciência Política, lá estava a sua Família, ou seja, estava a instituição<br />
mais nobre que hoje a sociedade possui. No final, o júri, por unanimidade,<br />
deliberou aprová-lo com distinção. E os poucos que o acompanharam<br />
em Navarra ficaram certamente muito satisfeitos. Diz-se<br />
que por trás de um grande Homem está sempre uma grande Mulher:<br />
é o caso! Por isso, este texto também consubstancia uma cordial saudação<br />
à Drª Manuela Eanes, que era filha de um Amigo que muito<br />
me honrou e de quem sou admirador pela Obra que tem realizado a<br />
favor das crianças.<br />
O facto de que falo trouxe-me à lembrança a atitude de outra alta<br />
individualidade que optou por receber (não sei se a pedido?) doutoramentos<br />
“honoris causa” por tudo quanto é sítio. Até consta que mesmo<br />
sem unanimidade. Parabéns Senhor General Ramalho Eanes!<br />
2 - Grandes Portugueses – Com grande espavento, a regressada<br />
apresentadora da RTP, Maria Elisa, lançou um concurso para se saber<br />
quem é o maior Português da nossa história, a exemplo aliás do que<br />
já foi feito noutros países.<br />
E para “ajudar” foram feitas sugestões públicas de nomes, os mais<br />
diversos e controversos. Até se chegou a exigir que não se esquecesse<br />
o Doutor Salazar! Como se ele pudesse ser riscado da história recente<br />
do nosso País… Contrariamente ao que pode suceder com uma estátua<br />
ou com o nome de uma Ponte ou de uma Avenida, o espírito e o<br />
pensamento nem à bomba serão destruídos!...<br />
Pois bem, não mais tive notícias desse concurso. No tempo das avançadas<br />
tecnologias em que, cá e por esse mundo fora, uma hora depois<br />
do encerramento das urnas de uma qualquer eleição, já é possível<br />
conhecer o seu resultado, o que se passará com este concurso?<br />
Tenho para mim que o resultado do mesmo não agrada mesmo nada<br />
à “intelectualite” portuguesa dominante. Estarei enganado? Se fosse<br />
Saramago o “eleito”, de certeza que já era conhecido esse resultado!<br />
Tem a palavra, Senhora Dona Maria Elisa. E não demore muito!<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 15/12/2006<br />
O ponto 2 também foi publicado no “Diário de Notícias”, de 27/12/2006
tIMor. não há falta de dInheIro…<br />
Tenho para mim que há novos países que não têm condições para<br />
se aguentarem sozinhos. Eles nasceram fundamentalmente na cabeça<br />
de uns tantos naturais desses territórios para quem a ambição<br />
de poder não tem limites. No fundo, eles almejam ser presidentes<br />
de república, ministros, deputados, embaixadores, intermediários<br />
de negociatas… E dirão lá para consigo que, depois, alguém, de<br />
fora, há-de pagar esse delírios…<br />
Por outro lado, a Organização das Nações Unidas fica contentíssima<br />
quando é criado mais um país, mesmo que seja artificial. Por<br />
essa razão, a sua máquina engorda, aumentam os seus empregos,<br />
há quem passe a viajar mais e a ter uma influência que antes não<br />
tinha…<br />
É claro que, para pagar os custos desta megaloestrutura, há que ir<br />
buscar o dinheiro a algum sítio… E esse sítio só poderá ser o bolso<br />
dos contribuintes de uns tantos países ricos e menos ricos… alguns<br />
deles sem cheta para mandar cantar um cego…<br />
Poderia dizer-se que todo este folclore vale a pena em nome da<br />
democracia que varre os espíritos desde o século passado. Só que,<br />
de democratas, pouco têm grande número de países. De tal forma<br />
que, com uma grande frequência, rebentam conflitos étnicos por<br />
esse mundo fora, em especial em África. E lá terão de prestar assistência<br />
os capacetes azuis… que custam muito dinheiro… e pouco<br />
ou nada resolvem… Os conflitos no médio oriente já há muito<br />
que praticamente “dispensam” os serviços das Nações Unidas…<br />
Com toda esta ineficiência, a máquina da ONU continua impávida<br />
e serena a alimentar vaidades que mais tarde ou mais cedo se terão<br />
de extinguir. E só não acabam mais cedo do que seria de desejar<br />
porque os EUA vão despejando para os cofres da Organização<br />
milhões de dólares. Sei bem que estas ideias são próprias de um<br />
discurso politicamente incorrecto, nos tempos que correm, para o<br />
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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
enxame de democratas que governam o mundo… Isto vem a propósito<br />
de um simples facto que os órgãos de informação trouxeram<br />
ao conhecimento público: 6 senhores deputados – seis - da nossa<br />
Assembleia da República deslocaram-se a… Timor para significar<br />
o apoio da veneranda Assembleia ao povo timorense e, naturalmente,<br />
aos seus órgãos de poder! E porquê? Pela simples razão<br />
de que o povo de Timor se não entende e entrou, há muito, numa<br />
balbúrdia que nem as forças internacionais, GNR incluída, conseguem<br />
dominar! Como é possível tanta falta de humildade democrática<br />
que leva ao confronto nas ruas, ao incêndio de casas, ao<br />
assassínio sem piedade de naturais, às violações, aos roubos?...<br />
Seria preciso fazer deslocar 6, logo 6, ilustres deputados a Timor<br />
para deixar uma palavra de solidariedade? As viagens não são baratas,<br />
as ajudas de custo aumentam a despesa e o tempo “perdido”<br />
por eles poderia ser mais bem empregue, em defesa dos seus<br />
próprios eleitores portugueses…<br />
E diz o Governo, com propriedade aliás, que não há dinheiro para<br />
satisfazer necessidades básicas das populações continentais e insulares…<br />
Lamenta-se ter de dizer que não há dinheiro para matar<br />
a fome a quem precisa mas, para viajatas à meia dúzia, sempre se<br />
arranjam uns tostões…<br />
Sou dos que louvo sem reservas a atitude reformista de José Sócrates.<br />
Não deve ter dependido dele essa deslocação. Estou mesmo<br />
em crer que ele foi um autêntico achado para impor alguma ordem<br />
nas finanças públicas. Outros políticos com “folhas de (menos<br />
bom) serviço” prolongadas e mais recheadas em democracia não<br />
seriam capazes de ter a coragem de enfrentar os muitos lobies<br />
que estão implantados na sociedade! Para ser honesto, porém,<br />
não gostei que as famigeradas reformas dos administradores do<br />
Banco de Portugal levassem tanto tempo, mais de um ano, a serem<br />
“reformadas”!<br />
Termino, interrogando-me: será que Portugal deveria ter “fugido”<br />
de Timor, nos termos em que o fez em 1974, sem ao menos termos<br />
feito uma consulta ao seu povo? O próprio Mário Soares defendeu<br />
a integração na Indonésia dessa ex-província ultramarina. E agora,<br />
até o jurista descolonizador, Almeida Santos, teve necessidade de<br />
justificar a descolonização de Timor com 125 páginas do seu mais<br />
recente livro (II volume) “Da Descolonização de cada Território em
particular”, de 416 páginas, ou seja com 28% do texto!… Seria<br />
bom lembrarmo-nos de que, se a “inteligência revolucionária de<br />
1974” tivesse deixado Timor entregue a Portugal, esse território<br />
seria hoje, a exemplo do que sucedeu com os Departamentos Ultramarinos<br />
franceses como a Martinica, Reunião, etc., considerado<br />
região ultra-periférica da União Europeia com todas as vantagens<br />
daí inerentes… Os revolucionários portugueses optaram por criar<br />
antes um simulacro de país independente… que, ainda por cima,<br />
nos consome recursos e sacrifícios humanos não despiciendos<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 22/12/2006<br />
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o Poder dos burocratas<br />
201<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
Em geral, toda a gente diz que a máquina estatal tem funcionários<br />
a mais. Os sindicatos dizem precisamente o contrário. Talvez nos<br />
devêssemos fixar no meio termo…<br />
Tivemos uma longa vivência na função pública e lá encontrámos<br />
funcionários competentes e diligentes a par, naturalmente, de outros<br />
menos competentes e menos diligentes.<br />
Em certa medida, o poder político, que sofre de uma doença que<br />
se pode apelidar de diarreia legislativa, tem grande culpa nos deficientes<br />
serviços que o Estado presta aos contribuintes ao enxamear<br />
esses serviços com gente em número descabido que tem como<br />
recomendação mais a sua filiação partidária do que a sua competência.<br />
Mas em regime parlamentar, nada se pode fazer contra<br />
essa “invasão”…<br />
À parte muitas e honrosas excepções, dignas do maior apreço,<br />
todo e qualquer funcionário que se senta atrás de uma secretária<br />
(de madeira ou de aço) tem um pendor enorme para se assumir<br />
detentor de poder. E quantos mais funcionários houver a tratar de<br />
um qualquer assunto numa repartição pública maior resistência<br />
esse assunto terá de vencer, para desespero do impetrante. Na<br />
verdade, a burocracia é um autêntico polvo consumidor de energias<br />
e de custos legais e de pequena (?) corrupção…<br />
Através da imprensa tive há dias conhecimento de uma situação<br />
que é paradigmática e que se conta numa dúzia de linhas. Tratouse<br />
de um dos milhões de contribuintes deste País que foi posto<br />
perante uma execução fiscal que resultaria de não lhe ter chegado<br />
ao conhecimento a notificação do imposto devido. Como confiar<br />
nos CTT que atravessam um período de enorme turbulência?...<br />
Esse contribuinte opôs-se à execução propondo-se prestar uma<br />
hipoteca sobre imóveis, para o que se dirigiu à Conservatória do<br />
Registo Predial indicada na caderneta respectiva. Lá, foi informado
que a Conservatória se situava noutro edifício… não sem receber<br />
os impressos necessários bem como a informação errada de que<br />
os modelos constantes da Internet já não eram válidos… Na nova<br />
Conservatória tem de esperar uma hora para ser atendido por<br />
uma burocrata que rejeitou os documentos e as informações dadas<br />
na outra Conservatória e recusou a hipoteca. Porém, mediante<br />
insistência do contribuinte, o Chefe entendeu que a hipoteca podia<br />
ser registada… Vai agora ao Serviço Fiscal que resolve pequenos<br />
problemas entretanto surgidos com os impressos… de forma célere…<br />
Nem tudo é mau, afinal!<br />
Volta à Conservatória, tira a senha e fica à espera uma hora. Entretanto,<br />
outras pessoas tiravam senhas mais baixas para outros<br />
guichets, mas acabavam por ser atendidas no guichet dos registos,<br />
uma vez que conheciam a funcionária… Chegada a sua vez,<br />
o contribuinte ouviu, da funcionária que o atendera duas horas<br />
antes, o contrário de tudo o que esta lhe dissera e por isso lhe recusava<br />
o registo da hipoteca… Então, na sua dupla qualidade de<br />
contribuinte mas também de advogado, argumentou de forma que<br />
a funcionária acabou por dar o dito por não dito e cedeu… Para<br />
esse tipo de serviço, sem qualidade, o contribuinte pagou centenas<br />
de euros e ainda teve de ouvir que a certidão não lhe seria entregue<br />
antes de três semanas a um mês… Nestas diligências o contribuinte<br />
gastou horas com a ineficiência do Estado, desembolsou<br />
muitos euros e foi pessimamente servido…<br />
Será que isto vai continuar assim, não obstante estar em vigor o<br />
“espírito” do SIMPLEX? Ou será que o SIMPLEX emigrou? Ou afinal<br />
ainda está para chegar?...<br />
Termino com uma pergunta: Não seria de experimentar mandar<br />
para casa, com os respectivos vencimentos em dia, um terço dos<br />
funcionários que, em princípio, só servirão para criar entropia nos<br />
Serviços? Os outros dois terços que ficassem teriam naturalmente a<br />
tendência para simplificar a vida dos cidadãos eliminando diligências<br />
escusadas ou supérfluas e que levam por vezes (?) à pequena<br />
corrupção... E talvez se pudesse começar pelos Registos…Tentar<br />
não custa…<br />
Cabe ao Poder Político a obrigação de legislar no sentido daquelas<br />
eliminações. Mas as chefias, ao menos, têm a obrigação de<br />
apresentar sugestões construtivas e não serem apenas agentes<br />
202
203<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
passivos do Estado… Lembro-me que, em funções directivas no<br />
Estado, propus ao Governo a abolição da entrega das célebres declarações<br />
anti-comunistas previstas no Decreto-Lei nº 27003 para<br />
os dirigentes desportivos. Marcello Caetano aceitou a sugestão e<br />
assim foram eliminados muitos milhares de folhas de papel selado,<br />
de registos e de tempo perdido… Isto foi em 1970!<br />
Termino fazendo votos por que os aguedenses festejem em Paz e<br />
Amor o Natal de Jesus.<br />
Lisboa, 12/12/2006<br />
Publicado no jornal Soberania do Povo
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entrevIstas<br />
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ArmAndo rochA A minhA opinião
entrevIsta à revIsta “a brIosa”<br />
A Briosa: Gostaria que nos falasse sobre a actividade da<br />
Secção de Basquetebol da Associação Académica de Coimbra,<br />
enquanto seu atleta e dirigente, designadamente, sobre<br />
a deslocação da equipa a África, em 1951.<br />
AR - De forma alguma podia rejeitar o convite de “A Briosa” para<br />
falar sobre a Secção de Basquetebol da Associação Académica.<br />
Todo aquele que envergou a capa e batina na Lusa-Atenas leva<br />
consigo uma chama que, bem viva, os tempos não conseguem<br />
apagar: os anos passam, a Académica continua!...<br />
Por toda a parte, quer seja no Continente, quer no Ultramar, quer<br />
mesmo no estrangeiro, o “estudante de Coimbra” não fica indiferente<br />
às manifestações da sua Academia. Os organismos culturais<br />
e as secções desportivas têm-no verificado através dos tempos, nos<br />
seus contactos com os meios a onde têm levado a sua arte e a sua<br />
graça. Quantos quilómetros não têm andado muitos que abandonaram<br />
Coimbra por força das exigências da vida actual (duvido<br />
que não preferissem prolonga a sua vida académica eternamente…)<br />
para irem aplaudir, com a sua presença, aqueles que, dentro<br />
da sua capa e batina ou da sua equipa, são os seus “descendentes”…<br />
Quantos, curvados ao peso dos anos, emblema na lapela,<br />
nos dizem que Coimbra não morreu para eles… Que momentos<br />
de felicidade o verem-se de novo rodeados pelo ambiente que já<br />
lhes pertenceu também!...<br />
Quantos exemplos de dedicação à Academia Coimbrã, se não podiam<br />
citar!... Sem ferir susceptibilidades, permito-me lembrar dois<br />
nomes: - Um que já não pertence ao reino dos vivos – o Capitão<br />
Pina Cabral. Quem haverá que o não conheça ou, pelo menos,<br />
não tenha ouvido falar nele? Quem haverá além disso, que duvide<br />
que tivesse sido a A. Académica a ditar a sua sentença final?...<br />
Outro, que a geração actual não viu, por certo, mas que, supe-<br />
206
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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
rior ao rolar dos anos, ficará para sempre, como sendo “o maior<br />
cantor dos fados de Coimbra” – o Dr. António Menano. Para os<br />
representantes da A. Académica em terras africanas, a quando da<br />
visita da secção de Basquetebol, no ano passado, a par de tantas<br />
recordações inolvidáveis, a que mais se gravou no nosso espírito<br />
foi precisamente aquele em que Menano, solicitado pelas várias<br />
dezenas de “estudantes de Coimbra”, no Choupal da Beira, em<br />
plena floresta, se dispôs a pegar na guitarra e a cantar os “seus<br />
fados…” Quando um colega lhe colocou a capa aos ombros, vi-o<br />
apalpar carinhosamente o tecido com os seus dedos delicados, de<br />
verdadeiro artista, e rolarem-lhe as lágrimas pelas faces em que<br />
se vêem as rugas dos anos e dos climas africanos. Que momento<br />
esse!... Indescritível!...<br />
De novo se ouviram os trinados daquele que passeou a sua arte<br />
por esse mundo além… Oh! Mas quanto ele sofria, a cantar os<br />
versos que todos nós conhecemos… Que suavidade tinha a sua<br />
voz ao pronunciar:<br />
Tenho sede de mais alto<br />
Sou como a Mãe de Deus<br />
Que, tendo Jesus nos braços,<br />
Ainda olhava pr’ós céus…<br />
Ele que, um anos antes, se tinha furtado à emoção do contacto<br />
com o Orfeão Académico, organismo a que pertencera e a quem<br />
dera tantos louros!... Mas, como é caprichoso o destino: perante<br />
a embaixada desportiva académica, não pudera isolar-se… A própria<br />
saudade chamava-o, vencendo-o a ele próprio. Nas horas em<br />
que conviveu com a “malta”, cada palavra sua era uma conta do<br />
rosário das suas recordações!... Era o eco da sua voz moça e distante,<br />
repercutindo-se pelas ruas da cidade-doutora, em noites de<br />
luar, no silêncio manso das brancas madrugadas…<br />
A sua dedicação à Academia chega ao ponto de ter manifestado<br />
como o seu maior desejo o ser levado aos ombros de estudantes<br />
para a Conchada, na sua viagem derradeira…<br />
A Briosa: Qual o percurso da Secção até ao Campeonato Nacional?<br />
Falando desta visita que a Secção de Basquetebol da A. Académica<br />
fez a África, ostentando o título de Campeão Nacional da
modalidade, perguntar-se-á: como conseguiu a referida secção<br />
guindar-se a essa posição máxima? É o que, a traços largos, vou<br />
tentar contar. Deixarei passar muitos factos em claro?! – A minha<br />
memória não é imensa. Procurarei, no entanto, ser o mais fiel possível<br />
à História da Secção que começou no tempo em que os Drs.<br />
Carlos Gonsalves, Escobar, Arruda, Alberto Ferreira, no ginásio do<br />
A.C.E., passavam algumas das suas horas livres. Foi no advento<br />
do basquetebol em Portugal que essa equipa alcançou posição de<br />
relevo.<br />
Outros não menos valorosos atletas envergaram a camisola negra,<br />
sem conseguirem, no entanto, as melhores classificações nos campeonatos<br />
que disputaram.<br />
No ano de 1947 pensou-se, numa espécie de “Congresso da Secção”,<br />
em rever o trabalho anterior. Por que razão não se ganham<br />
campeonatos? (Embora não considere este o fim primário do desportista,<br />
é agradável que tal se verifique). Posto assim o problema,<br />
chegou-se facilmente à conclusão de que era indispensável a iluminação<br />
do campo de Santa Cruz e a vinda de um técnico para<br />
preparar as equipas.<br />
Um obstáculo se erguia: a falta de dinheiro… Sim pois se nem<br />
equipamentos havia – quantas vezes se treinava descalço e os calções<br />
eram improvisados com…camisolas; não havia com que comprar<br />
petróleo para os atletas tomarem um banho quente, nos dias<br />
invernosos…Assistiam, portanto, à Secção de Basquetebol as piores<br />
condições materiais. Os que hoje presenciam as exibições da<br />
Académica não calculam o que foram esses anos de luta árdua por<br />
parte dos seus elementos, aliás de uma dedicação sem limites.<br />
Só uma vontade indómita de vencer, tornar realidade o sonho de<br />
ser “campeão”, ao qual se associavam aqueles outros dois sonhos<br />
- iluminação e técnico - era pertença da Secção…<br />
Com a colaboração preciosa da Câmara Municipal (presidida pelo<br />
Brig. Correia Cardoso que era assessorado pelo eng.téc. Baganha),<br />
pode hoje treinar-se, à noite, no campo de Santa Cruz. Assim,<br />
enquanto muitos colegas se divertem nos cinemas, a passear,<br />
ou recostados nos belos “maples” nas suas casas, trabalhava-se<br />
quase todas as noites naquele recinto, desde a hora em que foi realizada<br />
a 1ª condição para o progresso da modalidade… Pensa-se<br />
então na vinda de um técnico competente. Vários foram aborda-<br />
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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
dos mas chegou-se à triste conclusão de que…não havia dinheiro<br />
para a manutenção dum compromisso nesse sentido. O desânimo,<br />
no entanto, não penetrava na família basquetista e optou-se por<br />
que tal cargo fosse desempenhado por um atleta da Secção que,<br />
estudando, conseguiu pôr-se a par dos pormenores do basquetebol<br />
moderno. Deve reconhecer-se que a missão era espinhosa<br />
para o eleito cujo nome se impunha para um desempenho cabal:<br />
Cerveira (presentemente, como médico, está a especializar-se em<br />
Londres).<br />
De um momento para o outro, aqueles atletas que costumavam<br />
entrar em campo sem saberem bem qual o seu papel na equipa,<br />
ouviam atentamente o que rezavam os livros sobre as técnicas<br />
americanas, arrastados pela forma como o Cerveira se dispôs ao<br />
trabalho.<br />
Hoje como ontem, no ginásio do A.C.E. se efectuava a leitura… e<br />
se punham em prática os conceitos extraídos das publicações mais<br />
modernas em que até a tradução era difícil…<br />
Uma era nova havia começado: a ginástica, considerada fundamental,<br />
era ministrada pelo prof. José de Sousa Esteves, gratuitamente.<br />
Todos os pormenores do Basquetebol, os mais elementares,<br />
foram atendidos: a corrida com e sem bola, a rotação, os passes<br />
mais variados, os lançamentos, etc., etc.. Apurada assim a técnica<br />
individual, passou-se à parte táctica em que, como se sabe, a A.<br />
Académica passou a jogar consistentemente à zona…<br />
Com um trabalho desta natureza, em profundidade, os resultados<br />
práticos não se podiam esperar. Toda a época de1947-48 serviu<br />
para “assentar ideias” e, em 1948-49, começando-se por vencer<br />
o Campeonato Regional, alcançou-se o título máximo, sem qualquer<br />
derrota!... Os que tiveram a felicidade de presenciar o último<br />
encontro contra o Vasco da Gama, no Porto, em plena época<br />
de exames, puderam verificar o quanto pode a vontade de servir<br />
a camisola negra! As lágrimas que, fora e dentro do rectângulo,<br />
se derramaram, eram bem a prova da satisfação íntima do dever<br />
cumprido, depois de tanto trabalho…nem sempre devidamente<br />
compreendido…<br />
Igualmente em 1949-50, a A. Académica alcançou o título máximo.<br />
Desta vez, ainda em período de exames, o Vasco da Gama<br />
serviu de adversário na “final” que teve por palco o campo do
Olivais. Num ambiente escaldante, em que se temia a derrota pois<br />
havia meses que os estudos não permitiam a realização de um<br />
único treino, esses briosos atletas repetiram a façanha do ano anterior,<br />
nas piores condições… Só o muito amor à camisola os levou<br />
a fazer das fraquezas forças para subjugar um adversário que se<br />
preparou diariamente para o referido jogo.<br />
Embora não seja pessoa indicada para falar da técnica da Académica,<br />
devo dizer que considero como fundamental para se terem<br />
alcançado os dois Campeonatos de Portugal, o facto de existirem<br />
na “Briosa” jogadores com características especiais. O “quadro”<br />
base recaia em Paulo Cardoso, Luís de Sousa, Aníbal Costa, Araújo<br />
e Sá e A. Serra e Moura. Sem melindre para aqueles outros que<br />
ajudaram às vitórias da Académica com Travanca, A.Godinho, F.<br />
Serra e Moura, José Manuel, Lúcio, Alberto Martins, Morgado, Brás<br />
dos Santos, etc., desejava apreciar aqueles cinco individualmente.<br />
Paulo Cardoso, o “capitão”, duma calma impressionante, era a<br />
mola-real de todos os contra-ataques; que melhor para o definir<br />
se disser que a nossa principal “arma” era o contra-ataque?<br />
Luís de Sousa, jogador feito nos juniores, cedo se impôs a toda a<br />
crítica e se guindou à posição máxima entre os defesas nacionais<br />
(presentemente está na carreira ascendente…ainda…)<br />
Aníbal Costa, com uma velocidade extraordinária, uma ameaça<br />
constante para o adversário, pois das suas mãos saiam normalmente<br />
2 pontos, o que o levou a ser considerado o melhor encestador<br />
português. – Passe rápido de Paulo Cardoso, “cesto” de<br />
Aníbal!<br />
Araújo e Sá era aquele jogador de grande sobriedade que conseguia<br />
desbaratar por completo uma defesa, perigosíssimo na área<br />
do lance-livre.<br />
Por último, A. Serra e Moura, o nosso “Toninho”, era o jogador do<br />
tipo fino, sem poder físico para se impor, conseguia, no entanto,<br />
por meio de “fintas” desconcertantes, ser o principal colaborador<br />
do Aníbal e do Araújo, quando não era ele próprio que enviava<br />
o adversário para fora do seu caminho e realiza magistralmente<br />
as cestas, verdadeiramente dignas de “olés”. Considero-o, salvo o<br />
devido respeito por outras opiniões, o melhor jogador português<br />
dos últimos tempos. Como se vê, tratava-se de jogadores que, com<br />
características diversas uns dos outros, se completavam admira-<br />
210
211<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
velmente, constituindo a equipa mais homogénea que deve ter<br />
pisado os campos de Portugal e que praticavam a defesa à zona<br />
com uma precisão cronométrica, como os internacionais espanhóis<br />
Galindez, Imédio, Barceñas e outros tiveram ocasião de verificar<br />
em Madrid e o seleccionador de Castela, Borrero, acentuou na<br />
sua crítica ao jogo que a Académica realizou em 10-12-1950 no<br />
Frontón Recoletos.<br />
Não podia deixar de olhar agora para o “banco” onde se sofre…<br />
para o local donde emanam as ordens preciosas para os jogadores.<br />
Os meus olhos fixam-se em Alberto P. Valejo, o orientadortreinador<br />
que, seguindo o caminho trilhado pelo Cerveira, levou a<br />
Académica aos 2 títulos máximos, chegando mesmo a tomar parte<br />
activa nos prélios finais dos referidos campeonatos.<br />
A sua obra, dentro da Secção de Basquetebol, pode apelidar-se<br />
de grande. Como estudante, tem prejudicado a sua vida académica<br />
– o seu único senão – para se consagrar de alma e coração<br />
ao desporto. Se todos os jogadores são dignos dos mais rasgados<br />
elogios, pois que têm vencido muitos obstáculos e incompreensões<br />
de toda a natureza por parte até de quem lhes devia prestar o<br />
seu mais incondicional auxílio… nesses elogios se deve envolver<br />
Alberto Valejo….<br />
Para aqueles que dizem não ser possível praticar desporto sem<br />
com isso prejudicar os estudos, aponta-se-lhes o exemplo dos jogadores<br />
da Secção de Basquetebol que não só são bons atletas<br />
como também óptimos estudantes (cite-se a percentagem elevada<br />
dos que estão hoje formados…).<br />
E para aqueles outros que não concebem atletas amadores dos melhores<br />
em apuro técnico, apontam-se-lhes os mesmo exemplos, que<br />
levam o seu amadorismo ao extremo de comprarem os próprios<br />
equipamentos… com que representam a nossa A. Académica…<br />
A Associação Académica de Coimbra já pensou alguma vez no que<br />
deve a esses briosos atletas da Secção de Basquetebol?!!!<br />
Muito mais havia para dizer mas… fiquemos por aqui… A paciência<br />
dos leitores não é imensa…<br />
Lisboa, 05/05/1952<br />
Entrevista de: Pedro Homero (Director da revista “A Briosa”)
Académica - equipa Campeã Nacional de Basquetebol, em 1949/50<br />
A equipa da Académica escutando o Dr. António Menano<br />
212
213<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
artIGo PublIcado na revIsta “esPaço de unIão”, da<br />
sonae, aPós entrevIsta ao Provedor do GruPo<br />
“O meu conhecimento do estilo de actuação do Grupo e a minha<br />
experiência nas empresas da Sonae dão-me a convicção profunda<br />
de que o seu estilo de actuação é bastante correcto e leal. A função<br />
do Provedor é detectar desvios a este estilo de actuação, ajudar a<br />
corrigi-los. De preferência, prevenir. Ao fim e ao cabo, é garantir o<br />
respeito pelas regras do jogo.”<br />
É com estas palavras que o Provedor do Grupo Sonae, o Dr. Armando<br />
Rocha, caracteriza as funções que desempenha desde Janeiro,<br />
depois de, no final de 1996, o então Conselho de Presidentes ter<br />
instituído a Provedoria do Grupo Sonae.<br />
Como salienta o primeiro titular do cargo, a criação da figura do<br />
Provedor, num grupo privado de tão grande dimensão, com um<br />
importantíssimo volume de negócios e uma vasta malha de colaboradores,<br />
clientes e fornecedores é uma “demonstração de coragem”.<br />
“Não creio que alguém pense que um grupo que cria, por<br />
vontade própria, uma função como esta, com as atribuições que lhe<br />
estão conferidas por Estatuto, o faz porque tem problemas. Fá-lo<br />
porque acredita que o seu estilo de actuação se pauta pelas regras<br />
da lealdade e da transparência das relações e porque não quer tolerar<br />
entorses a este estilo”, diz o Dr. Armando Rocha, depois de<br />
lembrar que normalmente a ideia do “provedor do cliente” está<br />
associada às empresas concessionárias de serviços públicos.<br />
Nos termos do Estatuto, são três as atribuições da Provedoria do<br />
Grupo Sonae ( a designação é anterior à reorganização da Sonae<br />
Investimentos e à criação Inparsa): a “afirmação e promoção pela<br />
via apropriada dos direitos e interesses legalmente protegidos dos<br />
clientes, utentes ou fornecedores das empresas”; a “reposição da<br />
justiça e da regularidade violadas” e a “melhoria da qualidade e<br />
eficiência dos serviços prestados pelas empresas”.<br />
Genericamente, o Estatuto confere poderes ao Provedor para dar
o andamento que entender oportuno a “reclamações, queixas ou<br />
sugestões que lhe sejam dirigidas por clientes, fornecedores e colaboradores<br />
das empresas do universo Sonae.” O Provedor tem a<br />
faculdade de proceder à “investigação oficiosa” de qualquer assunto<br />
que, pela sua importância ou reflexo na imagem numa qualquer<br />
empresa ou no Grupo, “imponha uma tomada de posição<br />
interna ou pública”, naturalmente sem prejuízo dos procedimentos<br />
legais que a situação exigir. O Provedor pode também propor a<br />
adopção de quaisquer medidas que tenham por objectivo ou efeito<br />
“melhorar as condições de relacionamento das empresas com<br />
colaboradores, investidores, clientes ou fornecedores”.<br />
É caso para dizer que a função é indissociável do titular do cargo.<br />
O próprio Estatuto o reconhece quando indica que a escolha do<br />
Provedor – que é nomeado pelo Presidente da Direcção da Sonae<br />
Investimentos – “deve recair sobre cidadão de reconhecida integridade,<br />
probidade e independência” e determina que ele goze de<br />
“total autonomia no desenvolvimento da sua actividade”, o que<br />
torna o exercício do cargo incompatível com quaisquer funções em<br />
empresas do Grupo.<br />
A imagem pública do primeiro Provedor e o seu currículo profissional<br />
atestam a preocupação de ajustar a personalidade do titular do<br />
cargo à função que lhe está cometida. O Dr. Armando Rocha goza<br />
de um indesmentível prestígio pessoal e, quem o conhece, associa<br />
facilmente o seu temperamento sereno e prudente com uma postura<br />
ética exigente e um rigor técnico incontestável. Desempenhou<br />
cargos de destaque no Estado – foi, nomeadamente, director-geral<br />
da Educação Física e dos Desportos e inspector-geral do Ministério<br />
da Educação e liderou o Gabinete Coordenador do Combate à<br />
Droga – e foi administrador de empresas. Antes da sua ligação ao<br />
Grupo Sonae, iniciada em 1989, foi administrador, entre outras,<br />
da Sonap, da Companhia Mineira do Lobito, da Tabaqueira e da<br />
União de Bancos Portugueses.<br />
Instituída há tão pouco tempo, a Provedoria não tem ainda um<br />
historial. “Verdadeiramente, tive um processo importante, desencadeado<br />
pelo eng. Belmiro de Azevedo, suponho que a partir de uma<br />
queixa que chegou ao seu conhecimento”. Mas o balanço é “muito<br />
positivo”. “Tive a melhor colaboração da empresa em causa”, conta.<br />
“De tal modo que, mesmo enquanto o processo decorria, foram<br />
214
215<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
introduzidas correcções aos procedimentos instituídos para prevenir<br />
mais situações irregulares”. Obrigado ao dever e sigilo, relativamente<br />
a cada processo em fase de instrução, o Provedor faz um<br />
relatório de cada caso, que envia para a empresa em causa, para<br />
a administração da “sub-holding” e para a Direcção do Grupo.<br />
Das conclusões é sempre dado conhecimento ao reclamante. No<br />
final de cada ano, o Provedor fará também um relatório da sua<br />
actividade, com divulgação num órgão interno do Grupo, a que<br />
juntará as recomendações que a experiência lhe aconselhar. “Penso<br />
que a minha actuação se dirige tanto para dentro como para fora<br />
das empresas, mas admito que a sua importância estará mais nas<br />
recomendações que eu possa fazer no sentido de se corrigirem procedimentos.<br />
A actuação da Provedoria tende mais a ter um carácter<br />
preventivo”, diz o Dr. Armando Rocha.<br />
“Como lhe disse, o conhecimento que tenho do estilo de actuação<br />
do Grupo diz-me que o seu estilo de actuação é genericamente correcto<br />
e leal. Por isso confio plenamente em que, também da parte<br />
das hierarquias, e de um modo geral de todos os colaboradores,<br />
esta é não só uma convicção generalizada mas igualmente uma<br />
preocupação assumida no dia a dia. Há vontade de melhorar. E é<br />
sempre possível melhorar”.<br />
Junho ‘1997<br />
Autor: Dr. Duarte Calvão (Jornalista)
entrevIsta ao jornal “soberanIa do Povo”<br />
SPD - Como nasceu este seu entusiamo pelo dirigismo desportivo<br />
e que dura até hoje?<br />
AR - Lembro-me de, ainda criança de tenra idade, ir acompanhar<br />
o meu Pai aos campos de futebol para apoiar o Recreio Desportivo<br />
de Águeda. Ele que fora um seu pundonoroso defesa, conforme<br />
consta de fotografia publicada neste jornal, recentemente. Depois<br />
ia para a Alta Vila apanhar bolas de ténis, quando o meu Pai lá<br />
jogava com alguns alunos da Escola Central de Sargentos. E, no<br />
Liceu de Aveiro, com 15 anos, já era o seu chefe da secção desportiva.<br />
Regresso uns anos atrás e vejo-me, de bicicleta, a passar pela<br />
Mourisca, pela casa do Dr. Costa e Melo e lá íamos para Albergaria<br />
a Velha jogar o ténis, por falta de campo público em Águeda…<br />
SPD - E que diferenças fundamentais encontra nestes anos<br />
em que tem vivido esse dirigismo tão por dentro?<br />
AR - As diferenças são profundas. Destaco o amadorismo de antes,<br />
em que se jogava apenas por amor à camisola, e o profissionalismo<br />
de agora, em que só se vêem cifrões… e que cifrões! Antes,<br />
tratava-se - de uma maneira geral - de uma actividade lúdica e<br />
agora estamos perante um negócio das actividades atléticas.<br />
SPD- Já não há carolas…<br />
AR - Estão em vias de extinção… Já poucos, e que são honrosas<br />
excepções, estão dispostos a doar o seu tempo graciosamente ao<br />
desporto de competição… Hoje, há muita gente a viver apenas, ou<br />
por acrescento, do dirigismo desportivo. Ou são ordenados, ou são<br />
cartões de crédito, ou são negócios à margem… Não pretendo,<br />
com isto, condenar quem quer que seja! Até porque eu próprio<br />
fui profissional do desporto, quando exerci as funções de director<br />
geral da Educação Física e dos Desportos.<br />
SPD- Como assim?<br />
AR - Limito-me apenas, isso sim, a constatar factos.<br />
216
217<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
SPD- Tem acompanhado, ao longo dos anos, a participação<br />
de atletas aguedenses nas provas desportivas nacionais?<br />
AR - Especialmente, através da “Soberania do Povo”, agora com<br />
um excelente suplemento, tenho acompanhado de longe os êxitos<br />
do desporto da nossa terra.<br />
SPD- Que nomes é que destacaria?<br />
AR - Haveria muitos a destacar, certamente. Mas limito-me a um<br />
que foi quase da minha geração: o Hernâni, um internacional de<br />
futebol que foi um atleta simplesmente fabuloso! E ainda é um<br />
Homem com “H” grande!<br />
SPD- Como tem visto a figura do desportista de Águeda no<br />
conjunto do desporto português?<br />
AR - Algumas excepções, como o Hernâni, o Raúl Ribeiro, na arbitragem,<br />
o Carlos Ala, no motociclismo, o Bério, na natação,<br />
ombreiam com o que de melhor existia ou existe no País. Tenho<br />
dúvidas em considerar Águeda uma cidade desportiva ou de desportistas.<br />
É que lhe faltam mais estruturas adequadas a um desenvolvimento<br />
desportivo de alto rendimento.<br />
SPD- Como é que comenta isso?<br />
AR - Devo dizer-lhe que, por força das minhas funções actuais na<br />
Federação Portuguesa de Basquetebol, tenho vindo a apreciar o<br />
muito que nesse domínio se tem feito pelo País fora… E, quando<br />
entro num dos Pavilhões de Desportos, para assistir a um jogo<br />
internacional – ainda há dias o palco foi Vale de Cambra -, eu<br />
interrogo-me: porque razão Águeda não tem uma coisa destas? E<br />
lembro-me do tempo (anos ’70) em que influenciei a construção<br />
da Escola Preparatória por cima da fábrica da telha, para nela ser<br />
implantado um modesto pavilhão…<br />
Ao tempo, o dinheiro era escasso. Digo-lhe que em 1973, último<br />
ano em que estive à frente da DGD, o orçamento do Estado para<br />
todo o desporto federado foi de 68 mil contos… Agora, suponho<br />
que se pode falar em 17 milhões de contos…<br />
SPD- Quem foi, e porquê, a seu ver, a grande figura aguedense<br />
de todos os tempos, em termos desportivos?<br />
AR - Falei atrás num atleta de eleição, o Hernâni. Agora refiro o<br />
nome do Eng. Carlos Rodrigues, um dirigente também de eleição.<br />
Houve alguns outros, sem dúvida.<br />
SPD- Que sente que tem faltado a Águeda, para acompa-
nhar o resto do País em termos de evolução desportiva?<br />
AR - Já referi que sem infra-estruturas adequadas, localizadas nas<br />
escolas ou junto às escolas, não se pode ir longe. As potencialidades<br />
escolares de Águeda são excelentes. Só há que saber aproveitá-las,<br />
pondo à sua disposição técnicos competentes, horários escolares<br />
adequados e recintos convidativos às práticas desportivas…<br />
O resto vem por si… Da quantidade é que surge a qualidade…<br />
SPD- Que grandes acontecimentos desportivos destacaria<br />
que tiveram Águeda como palco ou como cidade protagonista?<br />
AR - Apenas me lembro das chegadas da Volta a Portugal em bicicleta<br />
e dos campeonatos mundiais de motocross.<br />
SPD- Muito pouco como se vê… E que cidadãos aguedenses<br />
nomearia, na sua qualidade de dirigente desportivo?<br />
AR - O Neca Carneiro foi, seguramente, um dos maiores. Deixo<br />
aqui uma palavra de muito apreço ao Dr. Horácio Marçal, pelo<br />
muito que tem feito, especialmente em termos de apoio médico<br />
desportivo, no concelho e clubes de Águeda.<br />
SPD- Que obras ou acontecimentos destacaria nos seus mandatos<br />
como dirigente desportivo?<br />
AR - A conquista do campeonato nacional escolar de ginástica<br />
(1943), a conquista do Campeonato Nacional de Basquetebol,<br />
como chefe da secção da A. Académica de Coimbra (1950), a 1ª<br />
exibição dos Globetrotters na Europa (Coimbra), o início da participação<br />
de Portugal nas Universíadas (1955), a construção dos Estádios<br />
Universitários de Lisboa e Coimbra, de numerosos pavilhões<br />
gimno-desportivos e de tanques de aprendizagem de natação e<br />
das primeiras residências para estudantes universitários construídas<br />
de raiz (no INEF).<br />
SPD- Há mais?<br />
AR - Sim, por exemplo, o Centro de Estágio de Desportistas, no Estádio<br />
Nacional, a Casa do Desporto do Porto, o Centro de Medicina<br />
Desportiva e Saúde Escolar em Lisboa e no Porto, a elaboração<br />
dos Planos de Fomento Gimno-desportivos e da I Carta Desportiva<br />
Nacional, a criação das Escolas de Instrutores de Educação Física<br />
de Lisboa e do Porto, a cobertura médico desportiva do País, o<br />
acompanhamento da preparação da selecção nacional de futebol,<br />
no Campeonato do Mundo de 1966, a realização do I Open de<br />
218
219<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
Portugal de Ténis para jogadores do circuito profissional (1982) e<br />
os Torneios de Ténis Sport Goofy…<br />
SPD- Que balanço faz dos últimos 20 anos do desporto aguedense?<br />
AR - Suponho que foi feito muito nesses anos mas que muito mais<br />
seria desejável ter-se feito. Em qualquer caso, as instalações do C.<br />
Ténis e a abertura da Piscina às Escolas são exemplos a seguir.<br />
SPD- Algum deles o ligou de alguma forma a Águeda?<br />
AR - Apenas e só alguma influência para se construir o pavilhão<br />
gimnodesportivo na Escola Preparatória. Para àlém de ter disponibilizado<br />
um subsídio do Fundo de Fomento do Desporto de 1000<br />
contos para a construção da piscina municipal, que se terá perdido<br />
pela inoperância de quem estava à frente da Autarquia, na altura.<br />
SPD- Quais foram os episódios mais marcantes da sua longa<br />
carreira de dirigente desportivo nacional?<br />
AR - Destaco a possibilidade que me foi oferecida de colaborar,<br />
ao mais alto nível, no desenvolvimento do desporto universitário<br />
e do desporto federado. E de ter ocupado funções dirigentes,<br />
por eleição, ao longo de mais de 20 anos no Comité Executivo da<br />
Federação Internacional do Desporto Universitário (FISU). Nessa<br />
qualidade, tive a rara oportunidade de, em 1962, me deslocar a<br />
Cuba, para presidir aos I Jogos Desportivos Universitários Latino-<br />
Americanos, e em que mantive duas conversas de 1 hora e 30m<br />
cada, com Che Guevara…<br />
SPD- Trabalhou com Salazar…<br />
AR - E não esqueço o episódio em que o Doutor Salazar, quando<br />
confrontado com as opiniões divergentes de dois Ministros sobre<br />
a criação da Confederação da Educação Física e Desportos, terá<br />
referido que o Desporto tem de se considerar como uma coisa<br />
muito séria – que não é para rir. “Porque ao Director Geral dos<br />
Desportos nem os dentes se lhe vêem”…<br />
E já agora permito-me referir a tristeza que me provoca o grande<br />
Eusébio, esquecido/ influenciado/… andar a propagar que Salazar<br />
o chamou várias vezes a S. Bento para lhe comunicar que o Conselho<br />
de Ministros o “nacionalizara”… para não poder jogar fora<br />
de Portugal…<br />
SPD- Não foi assim?
AR - Felizmente que ainda há pessoas vivas que podem testemunhar<br />
que o Conselho de Ministros da altura nunca se pronunciou<br />
sobre a sua carreira futebolística e que só a Direcção do S.L.Benfica<br />
poderia obstaculizar a sua ida para o estrangeiro… Eusébio não<br />
precisa destes “devaneios” para continuar a ser considerado o<br />
maior futebolista português!<br />
SPD- Como vê o futuro do Desporto em Águeda?<br />
AR - Continuo a ser optimista! E aguardo por uma sapatada desportiva<br />
na nossa Águeda como parece vai ser o caso do Estádio<br />
Municipal.<br />
Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 05/01/2001<br />
Jornalista: Afonso Melo<br />
220
221<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
entrevIsta<br />
à revIsta MaGazIne da assocIação de ténIs de lIsboa<br />
RM- Quando é que se começou a interessar pelo ténis?<br />
AR - Desde muito novo que acompanhava o meu pai ao campo<br />
de ténis da Alta Vila, em Águeda. Recordo-me que, ainda não<br />
frequentava a escola primária, já assistia aos jogos, apanhava as<br />
bolas e foi nessa altura que ganhei gosto pelo ténis.<br />
Quando fui para o liceu em Aveiro jogava com os meus amigos e<br />
na universidade também. Tive sempre muito interesse pela modalidade<br />
e esta atitude manteve-se pela vida fora. Já na idade adulta<br />
tive o prazer de criar a Escola de Ténis do Jamor, com a colaboração<br />
do Prof. Alfredo Vaz Pinto e do Raul Peralta, projecto esse que<br />
formou muitos campeões portugueses.<br />
Tenho acompanhado a evolução do ténis e tenho jogado em bastantes<br />
torneios sociais, desde o de Vale de Lobo, organizado pelo<br />
Sr. Appleton Figueira, nos anos 70. Nesse torneio tive a honra de<br />
fazer par com a nº 1 de Espanha, Ana Maria Estalella. Hoje vou<br />
dando umas bolas, mas mais ocasionalmente. Tenho a noção das<br />
minhas capacidades físicas pelo que já só jogo pares. O ténis para<br />
mim é um divertimento, um passatempo, uma forma de procurar<br />
e adquirir saúde.<br />
RM- Acha que o ténis tem condições para se transformar<br />
num desporto rei?<br />
AR - Chegar ao nível do futebol é praticamente impossível. Transformar<br />
o ténis num desporto espectáculo no nosso País, onde não<br />
há grande tradição da modalidade, é muito difícil. É claro que,<br />
noutros países, reconheço que o ténis tem uma expressão diferente,<br />
mas em Portugal há relativamente poucas pessoas a interessarem-se<br />
por um ténis de massas. Por isso mesmo, considero que<br />
não estão criadas as condições para fazer do ténis um desporto<br />
rei.<br />
RM - Qual a melhor política para o desenvolvimento do ténis?
AR - Para mim não há desporto verdadeiramente nacional sem<br />
haver desporto escolar. A escola está na base de tudo e, por isso<br />
mesmo defendo que o ténis tem que ser leccionado nas escolas.<br />
Caso contrário, nunca vamos conseguir enraizar o ténis nas camadas<br />
mais jovens. É preciso muito treino e uma estrutura sólida e<br />
sustentada para formar os futuros campeões.<br />
É óbvio que podemos constituir equipas de uns tantos bons jogadores.<br />
Basta para isso que haja dinheiro. A realidade é que nem<br />
todos os miúdos têm acesso ao ténis.<br />
Futuramente gostaria de ver o ténis com maior expressão.<br />
Para que tal aconteça é preciso que se unam esforços, os dirigentes<br />
dêem as mãos e que o dinheiro disponível seja bem gasto, estabelecendo-se<br />
prioridades bem objectivas e realistas. De contrário, o<br />
ténis continuará a arrastar-se com uns fogachos de vez em quando,<br />
num mar de vaidades não sustentadas.<br />
RM - Que diferenças existem entre o ténis praticado há 30<br />
anos e o actual?<br />
AR - As diferenças são evidentes. Há agora muitas mais pessoas<br />
a praticar e os jogos são mais competitivos. No entanto, nos anos<br />
60 assistimos a uma explosão de jogadores para o que muito contribuiu<br />
a Escola de Ténis do Jamor. Daí saíram grandes jogadores,<br />
alguns que vieram a ser competentes treinadores. Será que, antigamente,<br />
a formação era mais estruturada e sustentada?<br />
Como amante da modalidade, assisti a momentos de ténis inesquecíveis.<br />
O balanço é naturalmente positivo e ao longo destes<br />
anos vivi muitas emoções, não esquecendo a final do 1º Open de<br />
Portugal, em 1982, que foi disputada pelo Matts Willander e o Y.<br />
Noah que aquele venceu. Do Sport Goofy guardo as melhores recordações<br />
pelo que representou em termos de divulgação do ténis<br />
nas camadas jovens.<br />
222<br />
Dezembro ‘2003<br />
Jornalista: Drª. Joana Taveira
223<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
entrevIsta ao jornal “reGIão de áGueda”<br />
Região de Águeda - Ainda em criança acompanhava o seu Pai,<br />
defesa do Recreio Desportivo de Águeda, aos campos de futebol<br />
e de ténis. Pode dizer-se que começou aí a sua relação com<br />
o desporto?<br />
AR - Efectivamente, desde muito novo que acompanhava o meu<br />
Pai ao campo de ténis (de terra batida) da Alta Vila, em Águeda.<br />
Ele disputava partidas animadas com, entre outros, o Neca Carneiro<br />
e uns tantos cadetes da Escola Central de Sargentos. Recordome<br />
que, ainda não frequentava a escola primária, já assistia aos<br />
jogos e apanhava as bolas. Foi nessa altura que ganhei o gosto<br />
pelo ténis que comecei a praticar já no Liceu de Aveiro (no campo<br />
do Parque, de cimento) e que continuei, na Universidade de Coimbra<br />
(no Clube Tiro e Sport) e pela vida fora, até hoje.<br />
RA - Acaba de receber mais uma distinção “Prémio Mérito Desportivo/Personalidade<br />
do século XX, da Confederação do Desporto<br />
de Portugal”. O que é que representou para si essa distinção?<br />
AR - Para mim o que mais me sensibilizou nessa distinção da CDP<br />
foi, acima de tudo, a iniciativa da proposta ter partido da Federação<br />
Académica do Desporto Universitário. Porquê?<br />
Na verdade, o primeiro saneamento que sofri depois do 25 de<br />
Abril foi o de dirigente, a nível internacional, da Federação Internacional<br />
do Desporto Universitário. Os novos Poderes, de Avelãs<br />
Nunes, etc. quiseram afastar-me dessa actividade que eu exercia<br />
graciosamente. E conseguiram… com grande mágoa minha.<br />
O facto de serem os dirigentes actuais do Desporto Universitário<br />
que quiseram testemunhar o seu apreço pelo que fiz em prol dessa<br />
causa, durante largos anos, foi muito gratificante. O resto já<br />
esqueci.<br />
RA - Entre as várias distinções, louvores e condecorações que
ecebeu, há alguma mais especial para si?<br />
AR - Todas elas têm, naturalmente, muito significado, pois representam<br />
afinal apreço por parte de meus concidadãos. Mas posso<br />
realçar duas: a outorga pelo Chefe de Estado, Almirante Américo<br />
Thomaz, de Grande Oficial da Ordem de Instrução Pública e a atribuição<br />
do grau de Membro Honorário da Federação Internacional<br />
do Desporto Universitário, pela mão do saudoso Primo Nebiolo,<br />
em Palermo.<br />
RA - Foi praticante de várias modalidades e ajudou à conquista<br />
de alguns campeonatos nacionais, até que foi forçado a afastar-se<br />
por motivos de doença. Foi certamente uma fase difícil<br />
da sua vida…<br />
AR - Já passaram mais de 50 anos em que tive de renunciar às<br />
práticas desportivas, por um período de cerca de 15 anos. Nessa<br />
altura comecei a ter a noção do que é a solidariedade de colegas<br />
desportistas que me visitavam amiúde. Solidariedade que eu tenho<br />
procurado cultivar pela vida fora. Lembro-me, como se fosse hoje,<br />
que se realizou em 1951 um concurso para Professor Catedrático<br />
de Medicina na Universidade de Coimbra, sendo candidatos<br />
ao lugar o Prof. Almeida Lima e o Prof. Diogo Furtado, ambos de<br />
Lisboa. O meio médico mobilizou-se à volta desse concurso. E eu,<br />
estudante de Coimbra, também não quis faltar ao acontecimento,<br />
numa altura em que já me encontrava em fase adiantada de<br />
convalescença. Eis que alguém me chama: era, nem mais, o Sr.<br />
Dr. António Breda! E ele mostrou a vários colegas o símbolo do<br />
milagre da estreptomicina. Esse milagre era eu, que tive a ajuda<br />
do também, aguedense, Eng. Albano de Mello, então Subsecretário<br />
de Estado do Governo de Salazar, e que fora guarda redes do<br />
Recreio, no tempo do meu Pai que conseguira mandar vir da Suiça<br />
esse medicamento ainda raro no mercado.<br />
RA - Visita Águeda com frequência? Como é que vê o seu crescimento?<br />
AR - Fiz o Liceu em Aveiro, a Universidade em Coimbra e a minha<br />
vida profissional começou praticamente em Lisboa, em 1952.<br />
Como vê, vivi muito tempo fora de Águeda. Vinha a Águeda nas<br />
férias, enquanto meus Pais eram vivos e, também eles, lá passavam<br />
férias.<br />
Venho esporadicamente a Águeda, para dar um abraço ao João<br />
224
225<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
Resende e ao José Morais e pouco mais. Uma vez, já a trabalhar<br />
na Sonae, coube-me organizar um jogo de futebol entre colaboradores.<br />
E eu escolhi o campo do Recreio e o ex-internacional Raul<br />
Ribeiro, para arbitrar o jogo. Tive, então, uma agradável surpresa,<br />
quando entrei nas instalações do Clube e lá vi uma fotografia da<br />
equipa antiga que meu Pai integrava… Que ternura!<br />
Naturalmente, a terra tem-se desenvolvido, no bom sentido, estou<br />
em crer. Mas haverá sempre descontentes com o tipo de desenvolvimento<br />
que se queira analisar. Eu, porque não vivo cá, não tenho<br />
que me queixar.<br />
Em todo o caso, o desenvolvimento em termos escolares é digno<br />
de nota, dado o número de estabelecimentos de ensino básico, secundário<br />
e politécnico que operam em Águeda. A Escola tem uma<br />
enorme responsabilidade na formação das gerações futuras.<br />
RA – Quando vem a Águeda gosta do que vê?<br />
AR - Gosto de ver tudo o que represente progresso. E há muitas<br />
coisas nesse sentido. Outras há de que não gosto tanto. Mas a vida<br />
é assim...<br />
RA – Que memórias guarda de Águeda?<br />
AR - De passagem por Águeda, nunca deixo de dar um salto ao<br />
Botaréu, ao Adro da Igreja, à Rua de Cima (aí para comprar os folares<br />
e os pastéis feitos com a receita da Gininha do Candeeiro…).<br />
E gosto de recordar... os meus ascendentes e outros amigos, o contacto<br />
com o rio, a primeira comunhão, as cerimónias da Semana<br />
Santa, com padres que eram extraordinários oradores e música<br />
sacra da melhor qualidade, as procissões com as bandas de música<br />
a alegrar as ruas, etc, etc..<br />
RA – Costuma acompanhar os resultados do Recreio Desportivo<br />
de Águeda?<br />
AR - À segunda-feira, costumo ler o noticiário relativo aos jogos<br />
de fim de semana. E uma das minhas preocupações é a de saber<br />
como se comportou o Recreio. Sei que não está em perigo de descida.<br />
Já não é mau. Mas calculo que a sua vida é difícil num mundo<br />
competitivo com regras por vezes adulteradas...<br />
Lembro-me de, há anos, ter ido a Peniche, com o Dr. Orlando Costa,<br />
ver uma sua vitória que muito me alegrou.<br />
RA – Fale-me agora um pouco da sua vida empresarial.<br />
AR - Tenho uma vida dedicada ao Estado, com uma carreira cons-
truída degrau a degrau. Mas também o sector empresarial me não<br />
passou ao lado. Assim, ajudei a criar empresas como a SONERO<br />
que se dedicava ao transporte de emigrantes para a Europa evoluída.<br />
Quando abandonei, em 1973, a Direcção Geral dos Desportos,<br />
passei à SONAP, como administrador por parte do Estado,<br />
e mais tarde, já depois de saneado pelo Torres Campos, tive uma<br />
passagem pela Companhia Mineira do Lobito. Entretanto, ajudei à<br />
criação, a pedido do Dr. Almeida Santos, do Centro de Estudos e<br />
Profilaxia da Droga. Voltei à actividade empresarial na TABAQUEI-<br />
RA, em 1980. Em Coimbra, com o Dr. Mendes Silva e outros amigos,<br />
ajudei à criação da EUROBUS que se destinava à construção<br />
de autocarros de passageiros (hoje opera nas suas instalações a<br />
MARCOPOLO). Depois, foi a vez da Clínica de Serviços Médicos<br />
Computorizados, onde vim a encontrar o nosso conterrâneo Dr.<br />
Henrique de Melo. À FAMEL dei uma boa ajuda, junto do Governo,<br />
a pedido do saudoso Augusto Valente de Almeida.<br />
Desde 1989 que tenho vindo a prestar colaboração nesse mundo<br />
fantástico que é a SONAE que tem à sua frente um Homem que<br />
será, nem mais, o arquétipo dos empresários portugueses, com<br />
quem ainda muito aprendi.<br />
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02/01/2004<br />
Jornalista: Drª Isabel Moreira
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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
entrevIsta Para o estádIo unIversItárIo de lIsboa<br />
Dr. João Roquette - Gostava de esclarecer consigo algumas<br />
coisas sobre o Estádio Universitário de Lisboa. Em primeiro<br />
lugar, quais as razões que levaram à construção deste<br />
equipamento desportivo no seio da cidade universitária?<br />
Depois, quem foi o principal responsável pela ideia e pela<br />
sua construção?<br />
AR - Numa carta escrita pelo Eng. Vasco Pinto de Magalhães, em<br />
1954, ao então Ministro das Obras Públicas, Eng. Eduardo Arantes<br />
e Oliveira, o assunto foi despoletado. Essa carta reflecte bem<br />
as preocupações que existiam na altura pela falta de instalações<br />
desportivas.<br />
Ainda me lembro bem que, quando vim de Coimbra para Lisboa e<br />
ajudei a criar a secção de basquetebol do CDUL, nós íamos jogar<br />
em terrenos de piso cimentado, ao ar livre, em Xabregas, no Rio<br />
Seco... sem um mínimo de condições para a sua prática. Então<br />
para o rugby, que era a menina bonita do Eng. Pinto de Magalhães,<br />
só havia campos pelados...<br />
JR - A minha dúvida reside em saber se a construção deste<br />
equipamento não teria sido originariamente idealizada<br />
tendo em vista os estudantes da Universidade Clássica.<br />
AR - Antes de existir a Cidade Universitária, aqui, onde hoje estão<br />
algumas das suas Faculdades, também já existia a Universidade<br />
Técnica. Aparte uma ou outra Faculdade/Instituto que dispunham<br />
de algumas infra-estruturas desportivas, a generalidade das escolas<br />
não as possuía. Assim sendo, quando foi feito o plano da Cidade<br />
Universitária, este espaço, onde nos encontramos, foi destinado<br />
ao EUL para servir todos os estudantes universitários de Lisboa.<br />
Aqui estava implantado o “bairro de lata” da Quinta da Calçada.<br />
Tratava-se de um bairro muito degradado que implicou ter de se<br />
vencerem muitas dificuldades para se proceder ao realojamento
das famílias que nele viviam. Lembro-me de o Eng. Arantes e Oliveira,<br />
que pretendia que as obras de construção do estádio avançassem<br />
rapidamente, me ter pedido ajuda para a deslocação das<br />
pessoas, que não queriam sair daqui. Tratou-se de um problema<br />
social de grande complexidade.<br />
JR - São quase contemporâneos os estádios universitários<br />
de Lisboa, Coimbra e Porto, embora os anos das suas inaugurações<br />
sejam diferentes. Primeiro foi o do Porto, depois o<br />
de Lisboa e só depois o de Coimbra.<br />
AR - Os contextos eram diferentes. Em Coimbra, a Universidade<br />
concentrava-se toda na alta da cidade, onde naturalmente não<br />
era possível construir-se um estádio. No Porto, as faculdades não<br />
dispunham de terrenos que pudessem albergar o seu estádio, só<br />
que, com a construção da ponte da Arrábida, ficaram libertos os<br />
terrenos de acesso que foi possível afectar ao estádio universitário.<br />
A determinação e visão estratégica do Eng. Vasco Pinto de<br />
Magalhães, como inspector do Desporto Universitário, no seio da<br />
Mocidade Portuguesa, e que acompanhei de perto como sub-inspector,<br />
apontava para a existência de um estádio em cada uma das<br />
cidades de Lisboa, Porto e Coimbra.<br />
Aqui, na capital, tivemos a felicidade de ter estes muitos hectares<br />
de terreno para construir este belíssimo espaço desportivo que ainda<br />
hoje honra a cidade, como excepcional fonte de saúde...<br />
Em Coimbra, teve de se ir para uma das margens do Mondego.<br />
Tratou-se de uma construção deveras complicada, com as fundações<br />
em estacaria, que implicaram elevados custos. Ainda que longe<br />
da Universidade, para encurtar distâncias, sonhámos mesmo<br />
com a implantação de um teleférico a ligar o pátio da Universidade<br />
ao estádio... Mas isso não passou de um sonho...<br />
JR - Deixe-me fazer-lhe outra pergunta: o estádio do Porto<br />
ocupa 7 hectares, o de Coimbra 14 e o de Lisboa 40. Vim<br />
a descobrir que a inauguração do EUL, em 27 de Maio de<br />
1956, foi feita num ano em que estes terrenos ainda eram<br />
propriedade municipal. Através do Decreto-Lei nº 41.545/58,<br />
o Ministério das Finanças fez a transferência dos 40 hectares<br />
para o Património do Estado, por 22.000 contos. O que<br />
significa que, em 1956, quando é inaugurado o estádio, os<br />
terrenos eram municipais. É a seguir à inauguração ou terá<br />
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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
sido preparada antes, que é feita aquela transferência?<br />
AR - A obra nasceu muito do voluntarismo das pessoas... O Eng.<br />
Pinto de Magalhães tinha uma vantagem... a de ser cunhado do<br />
Subsecretário de Estado das Obras Públicas... A mobilização de<br />
boas vontades foi decisiva para juntar a Câmara Municipal de Lisboa,<br />
o Governo e a Mocidade Portuguesa... Na altura, estavam<br />
na ordem do dia as cidades universitárias. Lembro-me de o Comissário<br />
Nacional da Mocidade Portuguesa ter enviado, em visitas<br />
de estudo, o Dr. Francisco Alambre dos Santos e o Arq. Norberto<br />
Correia, pela Europa fora, para trazerem as novidades no domínio<br />
das actividades circum-escolares. Eu próprio me interessei pelo assunto<br />
quando, no período de 1953 a 1955, acompanhei os Jogos<br />
Internacionais da FISU.<br />
Assim, o que aqui está é o produto de uma reflexão do que foi feito<br />
na altura, noutras paragens. Em àparte, direi que, nesse período,<br />
as pistas de atletismo na Alemanha evoluíram para os 500 metros...<br />
o que nos levou a implantar aqui inicialmente uma pista com<br />
essa metragem... Nem se queira saber as dificuldades que tivemos<br />
de vencer para arranjar jorra para as pistas!<br />
Tudo avançava a grande velocidade para que se chegasse ao fim<br />
da obra. Depois houve que regularizar algumas coisas que dependiam<br />
do Ministério das Finanças, como a troca/afectação de<br />
património.<br />
Diga-se que foram mesmo criadas a CANIU - Comissão Administrativa<br />
das Novas Instalações Universitárias para o Porto e Lisboa<br />
e a CAPOCUC - Comissão Administrativa do Plano de Obras da<br />
Cidade Universitária de Coimbra, sendo eu, nelas, o delegado do<br />
Ministério da Educação.<br />
JR - Temos uma dúvida: quem administrou o EUL, numa primeira<br />
fase, foi o Armando Rocha?<br />
AR - Efectivamente, fui o primeiro director do EUL, de 1956 a<br />
1960.<br />
JR - Isso significa que em 1956 a administração do estádio<br />
foi entregue à Mocidade Portuguesa, através do Armando<br />
Rocha...<br />
AR - Assim foi, por nomeação do Comissário Nacional da Mocidade<br />
Portuguesa, Prof. Dr. Gonçalves Rodrigues.<br />
JR - E foi nomeado como tal... ou na altura não existia essa
figura...?<br />
AR - Nessa altura, foi criado, em Ordem de Serviço da Mocidade<br />
Portuguesa, o lugar de director do EUL. Era um hobby. Era o meu<br />
hobby na altura. Não existia qualquer remuneração...<br />
JR - Nós temos um problema. É que só conseguimos saber<br />
quem foram os directores a partir da publicação da lei orgânica,<br />
ou seja, a partir de 1989, e que foram: o Miranda<br />
Ferreira, o Vasco Lynce, o Dr. Lemos, o Prof. Mil-Homens e,<br />
a seguir, eu próprio... De antes do Miranda Ferreira não temos<br />
qualquer testemunho das pessoas que geriram o EUL...<br />
Consegue dar-nos uma ajuda?<br />
AR - Vamos lá ver... Tudo o que era desporto universitário dependia<br />
da Mocidade Portuguesa, através da Direcção de Serviços Universitários,<br />
a cargo do Prof. Dr. Guilherme Braga da Cruz que foi<br />
Reitor da Universidade de Coimbra. Como sabe, em 1962, houve<br />
uma crise académica em Lisboa, que se desenrolou essencialmente<br />
aqui mesmo na cidade universitária. Como director do EUL, eu<br />
próprio, fui confrontado com uma manifestação de estudantes no<br />
estádio, que consegui desmobilizar pelo facto de ter obtido, do comandante<br />
da força policial que havia sido destacada, a libertação<br />
de 3 estudantes que estavam detidos junto à cantina. Logo após,<br />
essa manifestação, veio a redobrar de intensidade com a chegada<br />
aqui do Reitor da Universidade Clássica, Prof. Dr. Marcello Caetano...<br />
mas isso é história que não vem agora ao caso! Pois bem!<br />
Uma das consequências dessa crise foi a criação informal, por parte<br />
do Ministro da Educação Nacional, Prof. Dr. Francisco Leite Pinto,<br />
da Inspecção Nacional do Desporto Universitário. Era assunto<br />
que tinha sido abordado, pela primeira vez, no II Congresso da<br />
Mocidade Portuguesa, em 1958, em que o Eng. Pinto de Magalhães<br />
e eu próprio apresentámos teses defendendo a independência<br />
do desporto universitário da tutela da Mocidade Portuguesa. A<br />
nomeação do primeiro Inspector - também como hobby - recaiu na<br />
minha pessoa. Acumulei essas funções com as de director do EUL<br />
até 1960, altura em que as passei ao Eng. João Lopes Raimundo.<br />
Colaborava também na direcção do EUL o Trovão do Rosário que<br />
era estudante do INEF e que veio a estar à frente do estádio durante<br />
vários anos.<br />
O agora Prof. Dr. Alberto Trovão do Rosário é a pessoa que lhe<br />
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231<br />
ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
poderá dar a pista a seguir.<br />
JR - Ele doutorou-se...<br />
AR - Com uma tese sobre a Organização do Desporto em Portugal.<br />
JR - O Dr. Vasco Lynce, quando cá esteve como director do<br />
EUL, tinha um coordenador dos serviços técnico-desportivos<br />
que era o Trovão do Rosário... sem funções de direcção... A<br />
seguir ao Trovão do Rosário, houve comissões...<br />
AR - Já antes do 25 de Abril havia uma comissão administrativa do<br />
EUL, com um responsável pelas contas...<br />
JR - Depois, temos vários nomes, por exemplo, o Nuno Barros...<br />
AR - Se a memória me não atraiçoa, o Prof. Nuno Barros não foi<br />
director do EUL. Foi, isso sim, secretário-geral do CDUL que tinha<br />
a sua sede no estádio.<br />
JR - Há aqui uma questão... O Prof. José Esteves, do Estádio<br />
Nacional, diz-me que foi director do EUL, antes do 25 de<br />
Abril...<br />
AR - Talvez... Se foi... só se foi depois de Agosto de 1973, altura<br />
em que deixei as funções de director geral dos Desportos.<br />
JR - Eu sei que o José Esteves esteve em Macau e foi também<br />
director do estádio. Os próprios encarregados o confirmam.<br />
Depois houve 2 ou 3 pessoas a seguir... O Trovão do Rosário<br />
poderá ajudar-nos...<br />
Deixe-me pôr-lhe uma última questão, que tem a ver com<br />
o CDUL, e que é sempre uma questão histórica, importante<br />
e sensível. Ainda hoje, há muitas pessoas que, quando falam<br />
do estádio universitário, fazem uma ligação ao CDUL...<br />
Quando vêm aqui, julgam que vêm ao CDUL... Mesmo pessoas<br />
com cargos importantes...Há uma série de conotações<br />
em que o CDUL eo EUL quase que se confundem...<br />
AR - O CDUL é anterior ao Estádio... No CDUL é que nasceu a<br />
ideia... O fundador do CDUL, Eng. Vasco Pinto de Magalhães, para<br />
ter o “seu” CDUL a funcionar em pleno, precisava de instalações<br />
próprias... Era um sonho que foi acalentado e desenvolvido por<br />
toda aquela gente do CDUL, no sentido da construção de um estádio<br />
universitário junto às Faculdades. Assim, quando a ideia forte<br />
da construção da cidade universitária aqui toma forma, a ideia
lançada pelas gentes do CDUL estava subjacente àquela outra. O<br />
próprio Comissário Nacional da M.P., que era Professor na Faculdade<br />
de Letras, foi um grande entusiasta da ideia. Sem receio de<br />
desmentido, pode dizer-se que o CDUL está na génese do EUL.<br />
JR - O que está a querer dizer é que os centros desportivos<br />
universitários estão na génese dos estádios universitários...<br />
AR - Exactamente, no que diz respeito a Lisboa e ao Porto (neste<br />
caso foi importante a acção do presidente do CDUP, Prof. Dr. Jaime<br />
Rios de Sousa). Em Coimbra, a situação era diferente... porque já<br />
existia a Associação Académica. Mas foram esses núcleos desportivos<br />
universitários que, de facto, levaram a ideia em frente...<br />
Na altura, sem a existência do CDUL, tenho dúvidas de que se<br />
construísse o EUL... tal como aqui está...<br />
JR - Deixe-me pôr-lhe uma questão provocatória... Hoje, estamos<br />
num momento em que a “governance” do EUL está a<br />
ser equacionada... E não gostava de terminar esta conversa<br />
sem lhe perguntar: o Armando Rocha, que acompanhou<br />
e tem acompanhado todo este percurso de 50 anos, o que<br />
acha que pode ajudar a manter este ideal do EUL, como<br />
equipamento desportivo único? O que pode ajudar a manter<br />
esta ideia com enorme êxito?<br />
AR - Quanto a mim, este estádio tem tido um grande sucesso porque<br />
se tem mantido fora da alçada da autoridade universitária...<br />
que não tem, naturalmente, vocação para gerir este tipo de equipamentos...<br />
É certo que o EUL não deve estar afastado das Universidades,<br />
mas a sua gestão deve ser independente das autoridades<br />
académicas. Numa sociedade aberta como é a nossa, a gestão<br />
deve caber a pessoas que vivem o desporto... que gostam do desporto...<br />
De contrário, passará a ser mais uma peça da infernal e<br />
muitas vezes improdutiva máquina burocrática que vem afogando<br />
os cidadãos... no caso os desportistas... que a procurem...<br />
Lisboa, 25 de Março de 2006<br />
Entrevista feita pelo Dr. João Roquete, director do EUL, à data<br />
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ArmAndo rochA A minhA opinião
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Intervenções PúblIcas<br />
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ArmAndo rochA A minhA opinião
desPorto unIversItárIo<br />
resenha hIstórIca<br />
Comecei a dar o meu contributo ao desporto universitário quando,<br />
em 1945, entrei na Universidade de Coimbra, o mesmo é dizer na<br />
Associação Académica de Coimbra. Ambas recordo com saudade<br />
e com gratidão pelo muito que deram de formação e espírito de<br />
solidariedade.<br />
Nunca recusei o meu modesto contributo em acções de valorização<br />
do desporto universitário. E já esqueci mesmo a ofensa que<br />
em 1974 me foi feita pelo Governo português quando, pressionado<br />
por uns tantos extremistas, mandou eliminar-me dos corpos<br />
directivos da Federação Internacional do Desporto Universitário<br />
(FISU) para que havia sido eleito democraticamente, pelo conjunto<br />
de algumas dezenas de delegações dos países filiados nessa federação.<br />
Integrei os corpos sociais da FISU, de 1955 a 1974. Desde<br />
essa data, não mais houve um português no executivo da FISU...<br />
Não era agora que recusava o amável convite que a Federação<br />
Académica do Desporto Universitário (FADU) me formulou para<br />
falar sobre o passado do desporto universitário. Aqui estou, pois,<br />
para dar o meu testemunho independente, como sempre o fiz, sobre<br />
tema tão do meu agrado. Não prometo, porém, ficar apenas<br />
pela história, dentro dos 15 minutos que me foram reservados, já<br />
que aproveito para focar alguns temas apenas pela rama, naturalmente.<br />
Desde que existem universidades em Portugal sempre se praticou<br />
desporto. Eram poucos os praticantes? Eram muitos? O que se<br />
pode afirmar é que o desporto praticado o era a título individual,<br />
não organizado. Haverá, contudo, que referir os casos da AAC e<br />
das Associações de Estudantes do I.S. Técnico e do I. S. Agronomia<br />
como sendo o embrião do desporto universitário organizado.<br />
A Mocidade Portuguesa, nos anos 40, começou a organizar os Jogos<br />
Desportivos Universitários com estudantes das Universidades<br />
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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
de Coimbra, Lisboa e Porto, os quais não tinham que ser filiados<br />
naquela Organização. Participei neles em 1946, 1950 e 1951. Era<br />
então Inspector do Desporto Universitário o General Jorge Oom,<br />
a que sucedeu o Eng. Vasco Pinto de Magalhães, ambos falecidos<br />
recentemente.<br />
Em Coimbra, a AAC, com nome sonante nos mundos do futebol<br />
e do basquetebol, não se ocupava do desporto inter-Faculdades.<br />
Em 1952, o Prof. Guilherme Braga da Cruz desafiou-me para, no<br />
âmbito do Centro Universitário da MP, organizar os 1os Torneios<br />
Inter-Faculdades, o que foi levado a cabo com bastante interesse<br />
por parte dos estudantes.<br />
Entretanto, o CDUP (1949) e o CDUL (1952) davam os primeiros<br />
passos na organização do desporto nas Universidades do Porto e<br />
de Lisboa, com uma forte vertente federada.<br />
Por outro lado, o movimento académico lisboeta, com a criação da<br />
R.I.A., começou a pôr em causa a organização do desporto universitário<br />
sob a égide da MP. No II Congresso Nacional da MP, em<br />
1956, as posições assumidas pelo Eng. Vasco Pinto de Magalhães<br />
e por mim próprio agitaram as águas a tal ponto que levaram o<br />
Ministro da Educação, Prof. Leite Pinto, a criar, em 1957, a Inspecção<br />
Nacional do Desporto Universitário para a qual me convidou e<br />
que aceitei com duas condições: despachar com o próprio Ministro<br />
e exercer o cargo graciosamente, em acumulação com as minhas<br />
funções profissionais no Ministério das Comunicações.<br />
Já como INDU preparei, com uma equipa de que faziam parte,<br />
entre outros, o ex-presidente da AEIST, Eng. Prostes da Fonseca, e<br />
o Prof. Eduardo Trigo, o I plano de Fomento do Desporto Universitário.<br />
Documento simples mas objectivo e realista e que foi muito<br />
bem aceite pelo Ministro Galvão Telles. Foi esse Plano o embrião<br />
dos futuros Planos de Fomento do Desporto Nacional elaborados<br />
ao tempo em que exerci o cargo de director geral dos Desportos<br />
(1963-73).<br />
A construção de infra-estruturas desportivas foi uma preocupação<br />
grande da equipa que tinha responsabilidades no DU e que teve eco,<br />
em especial, junto do Ministro das Obras Públicas, Arantes e Oliveira.<br />
Eu próprio representei o Ministro da Educação na CANIU e na CA-<br />
POCUC em que dediquei muitas horas de reflexão aos projectos dos<br />
Estádios Universitários de Lisboa e de Coimbra e da nova sede da AAC.
Os referidos estádios bem como o do Porto, para além do pavilhão<br />
da Tapada da Ajuda, a piscina do IST e os Centros de Medicina<br />
Desportiva são marcos que não esqueço pela satisfação que me<br />
proporcionaram. Sem essas instalações, o DU seria o que é hoje?<br />
Foi entretanto promulgada, nos anos ’60, legislação que criou um<br />
lugar de professor de educação física nas Universidades do Porto<br />
e de Coimbra. É que, sem agentes com formação no campo da<br />
educação física, não se pode pensar a sério em desporto, como<br />
forma de cultura.<br />
Na nossa terra, o desporto é, em grande medida, considerado<br />
como um simples divertimento do povo. Divertimento que, tantas<br />
vezes, toca as raias da alienação!<br />
Como se vê... ontem como hoje.<br />
Só uma mudança radical de mentalidade poderia modificar essa<br />
maneira de estar no desporto. Daí que tenha defendido a obrigatoriedade<br />
da educação física na Universidade, já em 1958. Conseguiu-se<br />
apenas que, nas Reformas das Faculdades de Engenharia<br />
e de Medicina, de 1960, se tenha consagrado o princípio de se<br />
libertar uma tarde semanal para o desporto, a insistência do Prof.<br />
Guilherme Braga da Cruz. E advoguei, também, em 1960, a criação<br />
do seguro desportivo, em parte substituído pela assistência<br />
médica desportiva gratuita que era facultada aos praticantes universitários.<br />
Com base nos campeonatos regionais, organizados em Lisboa pela<br />
COCRUL, passaram a realizar-se os CNU – um deles em Lourenço<br />
Marques, em 1968 (o Reitor Prof. Veiga Simão tinha sido atleta<br />
da AAC) – onde se revelaram alguns excelentes praticantes. E a<br />
AAC, o CDUL e o CDUP marcavam posição de relevo em algumas<br />
Federações Nacionais e em contactos internacionais, como ainda<br />
hoje sucede.<br />
E das provas nacionais, em 1955, deu-se o salto para o palco internacional.<br />
S. Sebastian (1955), Paris (1957), Turim (1959), Sofia<br />
(1961), Porto Alegre (1963), Budapeste (1965), Tóquio (1967)<br />
(Lisboa’69 viu cancelada a Universíada), Turim e Sestrière (1970)<br />
e Moscovo (1973) foram Universíadas em que atletas portugueses<br />
participaram, tendo o Prof. Fernando Almada conquistado a<br />
medalha de bronze, em judo, em Tóquio. Outras provas houve –<br />
como o campeonato do mundo de Judo (Lisboa’68) que Portugal<br />
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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
até organizou.<br />
Sempre considerei o amadorismo como um estado de espírito em<br />
que a noção do lucro está arredada. Tenho a consciência de que<br />
pensar assim é considerado errado pela nova vaga do dirigismo<br />
desportivo. O movimento olímpico é o exemplo acabado da hipocrisia<br />
desportiva. Este comentário é feito apenas para significar<br />
que, apreciando embora o desporto espectáculo e os seus artistas,<br />
como homens que são, nunca me deixei inebriar pelos resultados<br />
que são fruto de meios de pagamento, no âmbito do desporto<br />
universitário.<br />
Alguém escreveu um dia: “homens forte, homens sadios, sem dúvida<br />
por patriotismo, por valorização económica, por defesa orçamental,<br />
mas homens saudáveis com juízo claro, carácter forte,<br />
consciência recta”.<br />
Não sei se os presentes alguma vez se interrogaram como eu o<br />
fiz: não será começar pelo telhado a construção de um edifício,<br />
dedicando esforços e dinheiro ao DU? E a resposta que dei a mim<br />
mesmo foi esta: quer se queira quer não, os futuros dirigentes da<br />
Nação – em sentido amplo – são os universitários de hoje. Serão<br />
eles que, amanhã, terão as alavancas do poder. Serão, pois, eles,<br />
que poderão facilitar/criar as condições para que o desporto seja<br />
visto como uma forma essencial de cultura que une os homens,<br />
ricos, remediados e pobres. Todos eles, misturados, a praticar uma<br />
modalidade desportiva, têm de obedecer às mesmas regras. Em<br />
que outras actividades funciona de facto esse princípio da igualdade<br />
perante a lei?<br />
Conscientemente, dediquei todas, mas todas, as minhas horas<br />
de lazer à causa desportiva universitária. E acreditei em que uma<br />
nova geração dirigente poderia dar a volta ao problema.<br />
Temos um Primeiro-Ministro que foi atleta do CDUL. Como ele,<br />
muitos outros atletas e dirigentes da AAC, do CDUL e do CDUP<br />
foram, de há 15 anos para cá, e ainda são, Ministros, Secretários<br />
de Estado, Directores Gerais e Empresários de sucesso. Deixo a Vós<br />
a resposta à pergunta: fizeram eles o que deles se esperava em<br />
termos de Desporto?<br />
Oxalá este Congresso possa contribuir para alertar as consciências<br />
de quem tem as rédeas do poder.<br />
Tal como em1963 continuo a pensar que sem desporto escolar não
há desporto verdadeiramente nacional. Esse é para mim, o cerne<br />
da questão. E, enquanto se não dotarem todas as escolas secundárias<br />
de instalações adequadas – refiro-me em especial a pavilhões<br />
gimnodesportivos – e de professores de campo (não de gabinete),<br />
uma acusação forte impende sobre quem tem poder de decisão e<br />
decide quer obras necessárias sim, mas sumptuárias para quem é<br />
pobre (caso da nave do Estádio Nacional que custará vários milhões<br />
de contos1) quer “bolsas” a acrescer a prémios chorudos,<br />
ainda que merecidos. E mais não digo.<br />
Direi, isso sim, que, nesta minha caminhada no DU, para além de<br />
muito ter aprendido com Jorge Oom e Vasco Pinto de Magalhães,<br />
fui sempre acompanhado por uma pleiade de rapazes formidáveis<br />
em competência e em dedicação: Prostes da Fonseca, Eduardo Trigo,<br />
Vieira de Carvalho, Borges de Araújo, Sá Lima, Paulo Jorge,<br />
foram alguns desses muitos.<br />
Termino com uma sugestão. A de que se preste justiça póstuma<br />
ao muito que o Eng. Vasco Pinto de Magalhães2 fez pela causa do<br />
Desporto Universitário em Portugal. E que homenagem mais justa<br />
do que a de dar o seu nome ao Estádio Universitário de Lisboa?<br />
Disse.<br />
Esta palestra foi proferida no Congresso da Federação Académica do<br />
Desporto Universitário realizado na Universidade de Trás-os- Montes e<br />
Alto Douro – Vila Real – 24/11/1990<br />
1 O Ministro Couto dos Santos deu-me conhecimento, pouco tempo depois de ter<br />
proferido estas palavras, de que o PM Cavaco Silva resolvera abandonar a ideia da<br />
construção da nave, tendo optado antes pela construção no local de uma piscina<br />
olímpica.<br />
2 A homenagem proposta veio a ter lugar, 14 anos mais tarde, em 05/10/2004, sob<br />
a presidência da Ministra da Ciência e Ensino Superior, Profª Graça Carvalho e com<br />
a presença do ex.Ministro Pedro Lynce que esteve presente no Congresso de 1990<br />
na qualidade de Director Geral do Ensino Superior.<br />
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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
desPorto eM PortuGal. que futuro?<br />
O amigo Dr. Carlos Gonçalves desafiou-me a trazer aqui alguma<br />
da minha vivência no campo desportivo que começou no Liceu de<br />
Aveiro, com o falecido Prof. João Infante, e seguiu seu caminho<br />
na Associação Académica de Coimbra e depois na organização<br />
do Desporto Universitário pela mão do saudoso Prof. Guilherme<br />
Braga da Cruz. Desporto Universitário esse que me facultou uma<br />
rede de conhecimentos fabulosa. Depois, foi a fase mais intensa e<br />
mais gratificante que pude viver, levado pelo Prof. Inocêncio Galvão<br />
Telles, com quem muito aprendi.<br />
A minha falta de paciência, nesta idade avançada em que me encontro,<br />
já não dá para grandes pesquisas.<br />
Neste velhinho Palácio da Independência passei excelentes horas<br />
de convívio com esclarecidos Dirigentes da Mocidade Portuguesa.<br />
Mas agora, neste regresso, tenho de pedir perdão pelo facto de<br />
certamente não saber corresponder já àquilo que minimamente<br />
me é exigido.<br />
Fica-me, a mim, porém, a consolação de rever pessoas ilustres e<br />
amigas. Muito obrigado pela Vossa presença.<br />
Para se falar de Desporto não se pode deixar de começar por dar<br />
umas pinceladas sobre o olimpismo. E, desde logo, recordo com<br />
saudade o Eng. Francisco Nobre Guedes que muito me ensinou<br />
sobre o mesmo.<br />
As raízes do olimpismo - Está a começar uma nova Olimpíada –<br />
período de 4 anos compreendido entre os Jogos Olímpicos. Abordemos<br />
pois essa matéria, terminados há pouco tempo os Jogos de<br />
Atenas.<br />
Nas sociedades mais antigas, a competição assentava na ideia de<br />
domínio, de luta selvagem.<br />
Mais tarde, na Grécia antiga, o espírito competitivo passou a assentar<br />
na lealdade e no respeito por regras bem precisas. E aí nasceu
o Olimpismo na sua fase inicial. Foi num contexto de amadorismo<br />
elitista que o desporto moderno conheceu o seu desenvolvimento,<br />
em especial na América do Norte e na Europa industrializada.<br />
Foi então que o Barão Pierre de Coubertin, em 1894, estabeleceu<br />
um novo quadro baseado na ética, assente em valores do jogo e<br />
do risco, no exemplo digno e no respeito absoluto pelas regras. As<br />
regras são iguais para todos: quer sejam ricos quer sejam pobres,<br />
operários ou doutores...<br />
O Olimpismo não é mais do que um projecto acima de tudo educativo,<br />
apelando à virilidade, à emancipação dos jovens, à própria<br />
higiene e saúde pública.<br />
Os segundos Jogos Olímpicos, da era moderna, fizeram salientar,<br />
em termos de imagem corporal, a vitória do Homem criador e<br />
mestre dele próprio sobre o Homem indivíduo.<br />
A educação e o desporto estão indissociavelmente ligados desde o<br />
princípio do século XX. Como?<br />
Em primeiro lugar como escola de cidadania, quer com a adaptação<br />
dos jovens ao sistema político-cultural dominante (fim do século<br />
XIX), quer dando aos jovens os conhecimentos e as capacidades<br />
de compreensão que lhes permitam emancipar-se do sistema ou<br />
mesmo de o transformar a prazo.<br />
A primeira guerra mundial marcou o fim de uma época tendo o<br />
desporto passado a ser, depois de 1925, uma escola de não discriminação.<br />
Espalhou-se por todo o mundo e passou a ter uma<br />
dimensão económica de relevância com o advento do profissionalismo.<br />
Os valores humanistas e educativos consagrados pelo olimpismo<br />
foram-se adaptando às sucessivas alterações das próprias sociedades.<br />
E agora? - Nos finais do século XX, essas alterações foram tão radicais<br />
no domínio do conhecimento e das tecnologias que se pode<br />
dizer que se passou à escola dos decisores em que se vive num<br />
mundo sectário, identitário em que os grupos sociais, desprovidos<br />
de referências sólidas e de valores, se sentem marginalizados e<br />
procuram cerrar fileiras à volta da sua “corporação”.<br />
Hoje em dia, vemo-nos confrontados com a escola dos media graças<br />
ao poder da televisão, dos telefones celulares e da internet<br />
que ultrapassaram o quadro da escola tradicional e a família, ver-<br />
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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />
dadeira célula de qualquer sociedade digna. A escola dos media<br />
transforma os desportistas de elite em heróis e referências para a<br />
juventude.<br />
Do olimpismo de Coubertin ficou a palavra.<br />
A realidade é esta: o amadorismo deu lugar ao profissionalismo<br />
desenfreado.<br />
Mas uma coisa é certa: ainda há muita gente que pratica o desporto<br />
pelo desporto. A escola tradicional e a Universidade devem<br />
continuar a fomentar a prática desportiva entre os estudantes, sem<br />
se deixarem abater pelos fogachos de uma medalha, ainda que<br />
muito apetecida e bem vinda.<br />
A actividade desportiva pura, aos poucos, foi evoluindo num sentido<br />
único passando a ter foros de indústria (um negócio afinal...)<br />
que movimenta somas astronómicas (com corrupção à mistura)<br />
com a entrada da Televisão em força. Os contratos publicitários<br />
que envolvem os Jogos Olímpicos e os Campeonatos Mundiais,<br />
Europeus e de Clubes de futebol e de atletismo são negociados por<br />
especialistas de alto nível. Daí resultam espectáculos que são vistos<br />
por milhões e milhões de tele-espectadores nos cinco continentes.<br />
E ainda bem.<br />
Pergunta-se: e para onde vai todo esse dinheiro?<br />
Até se constata que os dirigentes desportivos da alta roda mundial<br />
vivem desafogadamente, deslocam-se em classe executiva, são<br />
hospedados em hotéis topo de gama e recebem pocket money diário<br />
de fazer inveja a um quadro superior da nossa administração.<br />
Os artistas, treinadores incluídos, são pagos principescamente. Fazem<br />
autênticas fortunas em pouco tempo. Nem que para isso se<br />
deixem tentar pelo falseamento de resultados através do doping.<br />
Mas, como se trata de uma profissão de desgaste rápido, logo o<br />
governo lhes atribui benefícios fiscais de que outros bem necessitados<br />
não usufruem.<br />
Aos clubes, que são o suporte essencial do fenómeno desportivo,<br />
a política é muito sensível e perdoa dívidas, até inventa toto-negócios<br />
que não são correspondidos por aqueles. E, quando o Estado<br />
tem o arrojo de mandar cobrar as dívidas, o clamor que se levanta<br />
nos meios de comunicação social faz temer o pior para a integridade<br />
física do político que se atreveu a suscitar a questão.<br />
Há estudiosos que dizem que os clubes portugueses de futebol de
nomeada – que são os que nos interessam – não cumprem as suas<br />
obrigações fiscais e nem sempre têm os salários em dia. Salários<br />
que são uma afronta para quem trabalha no dia a dia no duro, ou<br />
mesmo com a mente.<br />
E sabe-se que bastantes desses salários são pagos a estrangeiros<br />
muitos deles de duvidosa valia técnica. Mas, contra isso nada se<br />
pode fazer pois então cairia o Carmo e a Trindade.<br />
E até parece que no futebol nacional o mercado não funciona na<br />
medida em que não se vêem clubes a encerrar portas como sucede<br />
com as empresas que não vingam. O problema vai sendo adiado<br />
porque há sempre alguém que, mesmo sabendo que o Clube não<br />
tem viabilidade económica, sacrifica tudo a uma eventual efémera<br />
notoriedade que passa pela aparição nos écrans da televisão e<br />
nas páginas dos jornais. Mas que também pode levar à barra dos<br />
tribunais.<br />
Não devo porém deixar de referir o quanto me orgulha o facto de<br />
termos jogadores de primeiro plano, não só no futebol mas também<br />
no hóquei em patins, no basquetebol e no rugby, para já não<br />
falar do Mourinho e outros colegas como Humberto Coelho, por<br />
esse mundo fora, a alimentar a nossa auto estima elevando bem<br />
alto o nome de Portugal! Esses emigrantes de luxo formaram-se<br />
aqui e constituem alimento para muitos outros jovens seguirem<br />
as suas pisadas. É como se fosse mercadoria a exportar... o que<br />
naturalmente interessa à balança de pagamentos...<br />
Bem gostaria de ter um outro discurso, mas a minha consciência<br />
não deixa.<br />
Já cheguei a ter uma intervenção pessoal que levou um Governo a<br />
mandar parar um projecto que estava em fase de lançamento, em<br />
1990 e em que se tinham gasto verbas da ordem dos 2 milhões<br />
de contos...<br />
O governo anunciou que iria mandar construir uma nave desportiva<br />
no Estádio Nacional que custaria 13 milhões de contos... Elevei<br />
a minha voz contra esse despudor argumentando com o facto de<br />
o Estado dizer que não dispunha de verbas para dotar todas as escolas<br />
de Portugal de modestos pavilhões gimnodesportivos... Então<br />
se era assim como é que esse mesmo Estado se dispunha a gastar<br />
os 13 milhões numa única instalação?<br />
Alguém fez chegar este meu protesto, desenvolvido num congres-<br />
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so do Desporto Universitário que teve lugar na UTAD, em Vila Real,<br />
ao Chefe do Governo que achou que eu tinha razão. Só que a<br />
simples anulação da empreitada, não evitou que os referidos 2<br />
milhões de contos entretanto despendidos, nos preliminares, tivessem<br />
levado uns tantos à barra do tribunal!... Que absolveu alguns<br />
mas condenou outros...<br />
Se me perguntam: mas é ou não essencial haver futebol? Basquetebol?<br />
Andebol? Rugby? etc.?<br />
A minha resposta só pode ser uma: SIM, sem dúvida, mas não a<br />
qualquer preço.<br />
Aceita-se que os clubes cometam as loucuras que entenderem...<br />
Só se não deve aceitar é que o façam sem regras e sem equidade,<br />
antes com benefícios que podem, em última análise, prejudicar<br />
terceiros.<br />
Algumas histórias passadas<br />
Para amenizar um pouco esta intervenção, vou contar algumas<br />
passagens da minha vida desportiva que julgo de interesse transmitir,<br />
e de que destaco as relativas a:<br />
1. Final da Taça de Portugal 1969;<br />
2. Criação da Corporação dos Desportos;<br />
3. Ministro – só se anuncia a inauguração, não a intenção;<br />
4. Eusébio – património nacional?<br />
5. Greve dos árbitros futebol em Maio de 1974;<br />
6. Ministro, Rosa Mota e CNID.<br />
Finalmente, Que futuro? - O Estado não deve ser interventivo<br />
no desporto associativo, mas não pode deixar de ter uma atitude<br />
de vigilância. Porém, deve caber-lhe intervir quando os superiores<br />
interesses nacionais o imponham.<br />
Não compreendo mesmo como não foi já autonomizado o sector<br />
da arbitragem que tanta polémica tem dado desde que, depois da<br />
revolução dos cravos, o integraram nas federações.<br />
Se se quiser falar seriamente, há que centrar na escola o desenvolvimento<br />
do desporto nacional. Lá “residem” largas centenas de<br />
milhares de potenciais desportistas. Sem querer ofuscar minimamente<br />
o trabalho dos clubes desportivos na formação de atletas,<br />
deve caber à escola o trabalho de base nesse como noutros domí-
nios da educação. Mais instalações desportivas nas escolas, mais<br />
agentes de ensino no terreno, mesmo que se tenham de sacrificar<br />
as legítimas ambições quanto a mestrados e doutoramentos, são<br />
metas a que só o Estado e o Poder Local podem dar resposta.<br />
Para isso, há que saber o que se quer (o que não é tão fácil assim...),<br />
de seguida estabelecer prioridades, calendarizá-las e executá-las<br />
sem intuitos puramente eleitorais.<br />
Os recursos financeiros são naturalmente escassos, mas com eles<br />
pode fazer-se muita coisa, desde que se afaste o supérfluo e o<br />
luxo. Mas até parece que somos um país rico, a avaliar, entre outras<br />
iniciativas, pela construção dos 10 bonitos e funcionais estádios<br />
de futebol para o Euro 2004, onde o espectador goza de<br />
comodidade nunca antes vista.<br />
Portugal merece caminhar no sentido do progresso e bem estar da<br />
sua juventude!<br />
Palestra proferida em 20/01/2005<br />
na SOCIEDADE HISTÓRICA DA INDEPENDÊNCIA DA PORTUGAL<br />
Publicada no jornal “Soberania do Povo” de 28/01/2005<br />
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rua alberto MartIns, eM coIMbra<br />
A Câmara Municipal de Coimbra deliberou perpetuar a figura de<br />
um dos seus concidadãos ilustres, dando o nome de Alberto Martins<br />
a uma rua da cidade. E encarregou-me de dizer umas palavras<br />
nesta simples, mas muito significativa cerimónia. Obrigado pela<br />
honra que esse convite representa para mim, um velho académico<br />
coimbrão que nunca voltou costas à cidade onde estudou e se<br />
preparou para a vida!<br />
Conheci o Alberto da Cunha Martins nos finais da década de ‘40,<br />
quando ele ingressou na equipa de basquetebol da Associação<br />
Académica de Coimbra e começou a dar nas vistas, ainda como<br />
júnior.<br />
Atleta com habilidade e físico adequado para a modalidade, no<br />
velho campo de Santa Cruz, ainda em terra batida e com balneários<br />
sem água quente…, ele era dos mais assíduos aos treinos.<br />
E os treinadores com quem trabalhou, primeiro com o Alberto Valejo<br />
– para quem a Académica era tudo na vida – e depois com<br />
o Professor José Esteves, souberam bem aproveitar as suas excelentes<br />
capacidades para o levarem até à equipa principal onde se<br />
firmou por mérito próprio.<br />
Com a equipa, foi jogar a Madrid, em 1950, a convite da Frente de<br />
Juventudes, numa deslocação feita em autocarro dos Oliveiras que<br />
foi custeado pelos acompanhantes, adeptos da equipa. Lembrome<br />
dos Drs. Oliveira Martins, José Simões e José Barata.<br />
Ele foi um dos grandes animadores dessa excursão à capital espanhola,<br />
sempre com o microfone do autocarro na mão… a irradiar<br />
simpatia e boa disposição…<br />
Sucede, porém, que chegados a Madrid, as saudades de sua Mãe<br />
irromperam noite alta no hotel e vai daí ele querer regressar. É que<br />
ele estava profundamente arreigado à sua cidade, não apreciando<br />
dela estar longe. Continuou a treinar como atleta, com o maior
interesse e empenho, mas sem nunca descurar os estudos que o<br />
levaram mesmo à respeitada carreira do professorado primário,<br />
onde exerceu o seu magistério com grande dignidade e profissionalismo.<br />
Começou, então, a estudar o basquetebol, com muitas leituras especializadas<br />
e frequentando cursos de actualização. Assim se fez<br />
um treinador competente e respeitado quer pelos seus muitos pupilos<br />
quer pelos dirigentes regionais e nacionais do basquetebol.<br />
Nessa qualidade, levou a sua e nossa Académica a conquistar,<br />
com todo o mérito, campeonatos nacionais absolutos de basquetebol<br />
e Taças de Portugal nos anos ’50 e ‘60.<br />
Foi um treinador da Académica, por quem passaram, aliás, sucessivas<br />
gerações que, ainda hoje, recordam com saudade as qualidades<br />
humanas do grande pedagogo que foi o Alberto Martins.<br />
Treinou também o Olivais, o Sport e o Sangalhos.<br />
Já depois de abandonar Coimbra por razões profissionais, tive<br />
oportunidade de o acompanhar especialmente, quando se deslocava<br />
ao Ultramar em que ele fazia questão de me visitar na Direcção<br />
Geral dos Desportos, com a condição de eu o acompanhar até<br />
ao avião que o levava a África.<br />
Tal como seu irmão Augusto, também ele era uma memória viva<br />
das coisas desportivas. Não havia equipa antiga que ele não soubesse<br />
relembrar; não havia resultado de jogo de que ele se não<br />
lembrasse…<br />
Os seus escritos na imprensa regional e as suas intervenções na<br />
rádio eram muito apreciadas pelos seus inúmeros leitores e ouvintes<br />
que lhe reconheciam, também aí, grande capacidade de comunicação.<br />
Outra faceta não menos digna de destaque era a sua vasta cultura<br />
geral e a sua memória poética. Era uma delícia ouvi-lo recitar poesia,<br />
da melhor. Também ele foi tocado, na verdade, por essa arte<br />
tão própria desta cidade de Coimbra, que teve enormes poetas<br />
que a imortalizaram para todo o sempre!...<br />
Ao longo da vida, temos de reconhecer que a saúde lhe foi madrasta<br />
em demasia, mas ele nunca desistiu de lutar, muitas das<br />
vezes com um ou outro poema a balbuciar-lhe nos lábios... Até por<br />
isso, constitui, em certa medida, uma lição para os seus companheiros<br />
que ainda cá estão dos quais alguns deles o acompanham<br />
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nesta justa e atempada homenagem. Homenagem que é prestada<br />
a uma figura que se impôs à consideração da sociedade conimbricense,<br />
por boas razões. Duvido de que, aqui em Coimbra, alguém<br />
não soubesse quem era o Alberto Martins. Por todas as razões, a<br />
Câmara lhe outorgara já a Medalha de Ouro da Cidade e o Governo<br />
a Medalha de Mérito Desportivo.<br />
Se havia quem adorasse a Académica, Alberto Martins era um deles.<br />
Se há homens bons ao cimo da terra, Alberto Martins era um deles.<br />
Se há conimbricense que merece ser homenageado por esta Coimbra<br />
que todos amamos, é Alberto Martins.<br />
Como amigo de longa data do Alberto, agradeço à Câmara desta<br />
cidade estar aqui, a comungar num mesmo sentimento de BEM<br />
HAJA, com todos os seus amigos. Esta Rua será, de ora avante,<br />
local de peregrinação para todos nós.<br />
Palavras proferidas na cerimónia de inauguração<br />
da Rua Alberto Martins, em Coimbra, em 09/07/2005.
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