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Armando Rocha<br />

Aos meus netos, Diogo e Mariana, para que se<br />

lembrem do seu avô Armando, com os votos<br />

de que venham a ser, pela vida fora, cidadão<br />

honestos, de carácter e úteis a Portugal.


A minha<br />

opinião


Índice<br />

Introdução ................................................................................ 9<br />

Postal de Lisboa … .................................................................. 11<br />

Recordando Cuba ................................................................... 13<br />

Marcello Caetano recordado ................................................... 15<br />

Prisão preventiva ..................................................................... 17<br />

O basquetebol na escola ......................................................... 18<br />

Professor Leite Pinto ................................................................ 20<br />

Lembrando Amália .................................................................. 22<br />

A gare do Oriente ................................................................... 25<br />

Uma morte prematura em Aveiro ............................................ 26<br />

Os gabinetes ministeriais ........................................................ 28<br />

O jornalismo desportivo e a história ........................................ 30<br />

Câmara Aberta ....................................................................... 32<br />

75 anos de basquetebol a falar português! .............................. 34<br />

Morreu um grande patriota ..................................................... 36<br />

Mais vale tarde do que nunca... .............................................. 38<br />

Carros, motoristas, despesas ................................................... 40<br />

Humberto Coelho – treinador português é respeitado<br />

e admirado na Coreia do Sul .................................................. 42<br />

Outras terras, outras gentes – a Coreia do Sul ......................... 44<br />

Desperdícios ........................................................................... 48<br />

A demissão de Pedro Lynce ..................................................... 50<br />

Pode abusar-se da Liberdade? ................................................. 52<br />

As propinas - Quem acode aos nossos impostos? .................... 53<br />

Crime sem castigo? ................................................................. 55<br />

A propósito de dinheiros autárquicos… ................................... 56<br />

Dinheiros públicos… ............................................................... 58<br />

Águeda em passeio ................................................................. 60<br />

O desporto antes e depois do 25 de Abril ................................ 62<br />

Cientista português a trabalhar em Portugal ............................ 65<br />

Vasco Pinto de Magalhães* ..................................................... 67<br />

O EURO 2004 em Águeda ...................................................... 69<br />

Apagar memórias ................................................................... 71<br />

A verdade vem ao de cima? .................................................... 73<br />

Milhões para viagens .............................................................. 75<br />

O hino nacional no desporto ................................................... 77


Parabéns... Os 77 anos de idade... .......................................... 79<br />

A morte de um líder - Yasser Arafat ......................................... 82<br />

A Tomada da Bastilha .............................................................. 84<br />

Progresso? Retrocesso? ........................................................... 87<br />

Catástrofes naturais ................................................................ 90<br />

Desemprego e Programa do Governo ...................................... 92<br />

Iniciação desportiva na Escola ................................................. 94<br />

Viagens de políticos e da Igreja ............................................... 96<br />

É bom sonhar, mas com os pés no chão… ............................... 98<br />

Forças Armadas e a Universidade .......................................... 100<br />

Um “charro” no Dubai … ...................................................... 102<br />

O défice… ............................................................................ 103<br />

Postal de Lisboa - o 10 de Junho… ........................................ 106<br />

Ainda o défice… ................................................................... 108<br />

Postal de Lisboa - travessia aérea e vitórias internacionais ..... 110<br />

Cantar o hino e contestar o governo ..................................... 112<br />

Transparência e rigor ............................................................ 114<br />

Privilégios de candidatos ....................................................... 116<br />

Falar português… ................................................................. 118<br />

Universidades e mordomias .................................................. 120<br />

O republicano que quer ser Rei ............................................. 122<br />

A falta de público no futebol ................................................. 124<br />

Antunes Varela - um português de eleição ............................. 126<br />

Cultura e subsídios ................................................................ 128<br />

Políticos insaciáveis ............................................................... 130<br />

Ter memória / Hino Nacional / O Ensino Universitário ........... 132<br />

Candidaturas presidenciais .................................................... 134<br />

O Crucifixo ........................................................................... 137<br />

Notas soltas .......................................................................... 140<br />

Valores, Académica de Coimbra, censura… ........................... 142<br />

A Constituição da República .................................................. 144<br />

Reconhecimento do mérito, campanha eleitoral ..................... 146<br />

A Burocracia e a Banca Portuguesa ........................................ 148<br />

Eventos culturais ................................................................... 150<br />

Desporto e cultura................................................................. 152<br />

Quem não deve não teme ..................................................... 154


Fair play, procura-se ............................................................. 156<br />

Um Artista sem ambição ....................................................... 158<br />

Pensamento em José Novo .................................................... 161<br />

O basquetebol na Bairrada ................................................... 163<br />

As reformas das pessoas ....................................................... 165<br />

Povo sem memória é povo sem futuro ................................... 167<br />

Português em Roland Garros ................................................. 169<br />

O abuso sindical… ................................................................ 171<br />

Que País é este?... ................................................................ 173<br />

Para reflexão… ou talvez não… ............................................. 176<br />

Os 100 anos de Marcello Caetano ........................................ 179<br />

A outra face da moeda .......................................................... 182<br />

Progresso!... .......................................................................... 184<br />

Ainda Eusébio e Salazar / Linguagem Desbragada ................ 187<br />

Escutas, Panteão Nacional e Música no Coração .................... 190<br />

Serviço Nacional de Saúde / Empresa Privada ....................... 193<br />

Doutoramentos e Grandes Portugueses ................................. 196<br />

Timor. Não há falta de dinheiro… ......................................... 198<br />

O poder dos burocratas ........................................................ 201<br />

Entrevistas .......................................................................... 205<br />

Entrevista à revista “A Briosa” ................................................ 206<br />

Artigo publicado na revista “Espaço de União”,<br />

da SONAE, após entrevista ao Provedor do Grupo ................. 213<br />

Entrevista ao jornal “Soberania do Povo” ............................... 216<br />

Entrevista à revista Magazine<br />

da Associação de Ténis de Lisboa .......................................... 221<br />

Entrevista ao jornal “Região de Águeda” ................................ 223<br />

Entrevista para o Estádio Universitário de Lisboa .................... 227<br />

Intervenções Públicas ........................................................ 235<br />

Desporto Universitário ........................................................... 236<br />

Resenha histórica .................................................................. 236<br />

Desporto em Portugal. Que futuro? ....................................... 241<br />

Rua Alberto Martins, em Coimbra .......................................... 247


“Palavras sem obras são tiro sem bala;<br />

atroam mas não ferem.”<br />

Padre António Vieira, 1655<br />

“A Mocidade Portuguesa é um movimento de<br />

formação integral da juventude que procura dar<br />

à gente moça vigor físico, saúde moral e uma<br />

consciência cívica inspirada no mais alto ideal<br />

patriótico e traduzida com sentido prático.”<br />

Marcello Caetano, 1942<br />

“Aos ânimos fortes, os maus tempos não destroem,<br />

antes redobram as energias; e como tanto para as<br />

empresas como para os indivíduos a vida é luta.<br />

Os que desistem de lutar são indignos de viver,<br />

mas isso não se dirá de nós.”<br />

Salazar, 1964


Introdução<br />

9<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

Ao longo dos tempos, desde estudante da Universidade de Coimbra,<br />

sempre tive preocupações com os jovens, designadamente,<br />

através do desporto e da acção cívica.<br />

Tenho intervido muito, até hoje, na área desportiva, quer como<br />

praticante, quer como dirigente.<br />

Na política, nunca me liguei a qualquer partido, mas não enjeito<br />

a intervenção cívica, nomeadamente em actos eleitorias. Até hoje,<br />

em ditadura e nesta democracia que temos, sempre exerci o meu<br />

direito de voto em total liberdade de consciência.<br />

Por vezes, embora reconhecendo as minhas deficiências de comunicação,<br />

abalancei-me a transmitir algumas ideias, através de<br />

entrevistas e da publicação de textos em jornais como “O Norte<br />

Desportivo” que foram transcritos no meu livro “Reflexões sobre<br />

Desporto Universitário”, publicado em 1969. Outros jornais, especialmente<br />

em tempo de democracia, foram indiferentes aos meus<br />

escritos. Mas os jornais da minha terra de nascimento - Águeda<br />

- abriram as suas colunas e, nos últimos anos, os meus textos têm<br />

aparecido, com alguma frequência, no jornal “Soberania do Povo”<br />

(o semanário mais antigo do País) e no jornal “Região de Águeda”.<br />

Sem outra pretensão que não seja a de exercitar o meu direito de<br />

cidadania, esses artigos ficam agora registados neste livro.<br />

Armando Rocha<br />

Dezembro de 2006


Postal de lIsboa …<br />

11<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

Nestes dias de calor que têm flagelado Lisboa, sabe bem viajar<br />

para os lados dos Estoris.<br />

Os transportes são baratos, cómodos, rápidos e contínuos; portanto,<br />

não há dificuldade, antes grande prazer, em se abandonar por<br />

umas horas o bulício desta grande capital europeia.<br />

Supomos que todo o forasteiro, que visita Lisboa, se não coíbe<br />

de tomar o comboio eléctrico do Cais do Sodré para distrair um<br />

pouco os olhos com a paisagem ribeirinha de tantos encantos que<br />

oferece o nosso belo Tejo. Mesmo os seus habitantes, sempre que<br />

podem, fogem para aquelas paragens. Uns para mais longe, lá<br />

para Cascais, outros para mais perto, ali para Algés, uns e outros<br />

suspiram por respirar um pouco os ares da Costa do Sol.<br />

Também nós o fazemos amiúde e, há dias, embarcámos no Cais<br />

do Sodré para uma viagem das mais curtas. Na nossa frente, dois<br />

meninos com os seus 8 anos de idade, frequentadores da classe<br />

primária de um dos principais colégios de Lisboa, como se depreendia<br />

pelos livros que ostentavam. Aproveitavam o tempo da<br />

viagem a resolver problemas o que, para nós, que sempre lidamos<br />

com a matemática, nos dava grande prazer espiritual, até pela<br />

entreajuda que verificamos em resolverem ambos as dificuldades<br />

que surgiam.<br />

O comboio galgava os quilómetros rapidamente mas, a certa altura,<br />

mesmo em frente dos Jerónimos, os freios contiveram aquela<br />

marcha para se parar fora de qualquer estação. Os passageiros<br />

entreolharam-se! Qualquer coisa de anormal se adivinhava nos<br />

seus rostos!<br />

Assomando à janela, pudemos ver uma mulherzinha estendida no<br />

solo, devido à sua imprevidência, certamente! Seja como for, ela<br />

sofria com os ferimentos e os passageiros do comboio sofriam com<br />

os seus sofrimentos, pensávamos nós! Nada mais natural!


Entretanto, retomámos o nosso lugar, o comboio a sua marcha,<br />

e um dos dois meninos que seguiam na nossa frente disse para<br />

o outro, encolhendo os ombros: “perderem-se cinco minutos com<br />

esta paragem”!...<br />

Um sentimento de repulsa nos invadiu ao escutar estas palavras e,<br />

quando já fora do comboio, o vimos continuar a marcha com os<br />

dois meninos continuando a resolver problemas, aos nossos ouvidos<br />

ecoavam aquelas palavras: “perderam-se cinco minutos com<br />

esta paragem”!…<br />

06/1954<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo”<br />

12


ecordando cuba<br />

13<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

onde se fala de raul castro e de che Guevara<br />

Em Outubro de 1962 realizaram-se, em Havana, os primeiros Jogos<br />

Desportivos Universitários Latino-Americanos. Estava-se nas<br />

vésperas do bloqueio económico dos EUA a Cuba. Em representação<br />

da Federação Internacional do Desporto Universitário fui designado<br />

para a eles assistir, o que me permitiu conhecer aquele<br />

país, com tão belas praias, e seus dirigentes.<br />

Conto dois episódios passados nesses jogos.<br />

1º - Na cerimónia inaugural que teve lugar num estádio de basebol,<br />

estavam as equipas dos diferentes países alinhadas no relvado<br />

frente à bancada central.<br />

À sua frente, num pequeno pódio, encontrava-se o Ministro da<br />

Defesa de Cuba, Comandante Raul Castro (irmão de Fidel) e eu<br />

próprio.<br />

Ambos pronunciámos as alocuções da praxe. A do Ministro era<br />

uma alocução de carácter essencialmente político, com ataques<br />

seguidos aos americanos, os quais eram correspondidos por grandes<br />

ovações por parte da assistência.<br />

A minha foi curta, de carácter essencialmente desportivo.<br />

Quando terminaram as alocuções e foram declarados abertos os<br />

jogos, dirigimo-nos ambos para a tribuna, onde fiquei colocado<br />

ao lado da simpática esposa do ministro Raul Castro, de seu nome<br />

D. Wilma. Foi então que ela me observou: “Não gostou nada do<br />

discurso do meu marido!”. Ao que retorqui: “Porque diz isso?”<br />

“É que nunca bateu palmas durante o discurso!”, disse ela. Tive<br />

então que lhe dizer: “É que não aprecio a intromissão política despudorada<br />

no desporto”. E ela sorriu…<br />

2º - Resolvi ir assistir ao jogo de basquetebol Brasil-Cuba e, pouco<br />

depois de ter chegado à tribuna do Pavilhão, foi-me apresentado<br />

nem mais nem menos que o ministro da Indústria, de nome Che<br />

Guevara. Estava fardado e armado, com um ar muito simpático, de


idealista. Da apresentação passámos à conversa que se prolongou<br />

durante todo o jogo que, afinal, mal apreciámos. Retenho dessa<br />

conversa três apontamentos:<br />

a) referi-lhe que tinha verificado que havia muitos mestiços em<br />

Cuba. E como os mestiços, ao que parece, não eram bem amados<br />

quer por negros quer por brancos, e vice-versa, pressentia que,<br />

mais tarde ou mais cedo, iriam surgir problemas com eles, na ilha.<br />

Che fitou-me com um ar determinado e respondeu-me: “Se isso<br />

vier a suceder, nós exportamo-los… ” Constata-se agora que África<br />

está com uns tantos…<br />

b) referi-lhe que as casas dos estudantes universitários eram antigas<br />

luxuosas moradias dos americanos que haviam abandonado a<br />

ilha. Daí que as comodidades de que usufruíam não poderiam ser<br />

mantidas, quando abandonassem as Universidades.<br />

Che retorquiu-me muito secamente: “Sabe o que é o corte da<br />

cana?”, ao que respondi negativamente. “É que todos os universitários<br />

têm de passar nas férias um período no corte da cana que,<br />

pela sua dureza, os faz pensar que as comodidades referidas são<br />

apenas efémeras”...<br />

c) referiu-me ainda que os recém-licenciados em Medicina eram<br />

obrigados a prestar serviço na província durante dois anos. Nesses<br />

dois anos, uns tantos casavam por lá, outros habituavam-se à vida<br />

provinciana e radicavam-se nessas novas paragens, a ponto de<br />

haver uma razoável cobertura médica nessas regiões afastadas da<br />

capital...<br />

Lisboa, 30/12/1988<br />

Publicado no jornal “Diário Popular” de 09/05/98<br />

14


15<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

Marcello caetano recordado<br />

Marcello Caetano foi um emérito docente da Universidade Portuguesa,<br />

um político de alta craveira e um homem bom que foi, naturalmente,<br />

admirado, adulado e bajulado por muitos e criticado<br />

por outros. Só é criticado quem faz alguma coisa...<br />

Morreu e não quis que os seus restos voltassem para Portugal. Os<br />

seus sentimentos têm sido respeitados e lá repousa no Brasil, longe<br />

dos familiares e dos amigos. Recusou-se a dar “cambalhotas”. Se<br />

as tivesse dado, arriscava-se a ir parar ao Panteão...<br />

Em 26 passado, a família anunciou uma missa por sua alma na<br />

igreja de S. João de Brito.<br />

Lá encontrámos os seus irmãos e os seus filhos, todos. E poucos<br />

mais, mesmo muito poucos. Duas dezenas? Talvez.<br />

Da sua Faculdade, 2 Professores, sendo um acompanhado pela<br />

mãe, viúva de um seu colega e ex-Ministro.<br />

Do seu Governo, 3 Ministros e um Secretário de Estado.<br />

Da sua Administração, um Secretário-Geral e três Directores Gerais.<br />

Presentes também um Secretário de Estado do actual Governo (seu<br />

aluno? Alarcão Troni), um locutor da RTP e um ex-Presidente da<br />

Federação Portuguesa de Futebol.<br />

Certamente que só por não terem lido o anúncio da cerimónia<br />

religiosa é que lá não estiveram presentes os outros seus colegas<br />

da Faculdade, os seus assistentes, os seus outros Ministros e Secretários<br />

de Estado, os políticos e os “amigos” que o apoiaram, etc.,<br />

etc..<br />

“Sic transit. Gloria mundi.”<br />

Paz à sua alma<br />

Lisboa, 27/10/1990<br />

Texto não aceite para publicação no jornal “Público”.


Campeonato do Mundo de “Snipes” (1969) - cumprimentos dos Presidentes<br />

das Federações Internacional e Portuguesa, a Marcello Caetano<br />

16


PrIsão PreventIva<br />

17<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

Os órgãos de comunicação social dedicaram largo noticiário à detenção<br />

de alguns funcionários do INDESP.<br />

Entre os detidos encontra-se o Prof. Mirandela da Costa, com quem<br />

sempre mantive cordiais relações desde o tempo em que exerci o<br />

cargo de director geral dos Desportos e ele era docente na antiga<br />

Escola de Instrutores de Educação Física.<br />

Naturalmente que deploro a situação em que se encontra o Prof.<br />

Mirandela, a quem gostaria de manifestar a solidariedade humana<br />

que o desporto nos ensina e deve ser cultivada.<br />

Certamente que muitos dos que beneficiaram dos seus serviços,<br />

através de contratos-programa, subsídios, empregos, etc., não deixarão<br />

de o ir visitar ao Estabelecimento Prisional de Lisboa.<br />

Por mim, que dele nada recebi a não ser consideração e estima,<br />

procurei fazer essa visita. E telefonei antes para saber em que dias e<br />

a que horas a podia realizar.<br />

E veio um chuveiro de água muito fria através da senhora telefonista:<br />

teria de lá ir em qualquer manhã de dia útil, com o B.I. e 2<br />

fotografias, para preencher um impresso que me daria acesso a um<br />

cartão de entrada com direito a uma visita por mês...<br />

Santo Deus! Tanta burocracia para uma simples pretensão de manifestar<br />

apenas e só solidariedade humana!<br />

Logo que possua a documentação exigida lá irei, embora com as<br />

limitações de tempo de quem tem mais que fazer do que alimentar<br />

a máquina burocrática do Estado Democrático.<br />

Até lá, e porque penso que o Prof. Mirandela continua a ler o Público,<br />

aqui deixo estas linhas de um desportista para outro desportista<br />

que deve estar a passar um mau bocado.<br />

Será que V.Exa., Sr. Director, quererá ter a amabilidade de mandar<br />

publicar esta carta?<br />

Lisboa, 06/09/1995<br />

Texto não aceite para publicação no jornal “Público”.


o basquetebol na escola<br />

Vão distantes os tempos em que comecei a ensaiar os primeiros<br />

cestos, na década de ‘40. Primeiro, no Liceu de José Estêvão, em<br />

Aveiro e, depois, no Clube dos Galitos e na Associação Académica<br />

de Coimbra… Os campos de terra batida, ao ar livre; os balneários<br />

sem água morna sequer; o amadorismo dos atletas, dos treinadores,<br />

dos dirigentes, dos árbitros… Tudo isso fazia com que o basquetebol,<br />

e não só, fosse praticado por verdadeiros carenciados,<br />

como ora se diz… mas que eram de grande dedicação e amor às<br />

camisolas…<br />

Mesmo nessas circunstâncias, havia jogadores – abstenho-me de<br />

citar nomes para, não ferir quem o não merece – que pareciam<br />

vindos de outra galáxia… As deficientes condições logísticas que<br />

enfrentavam eram largamente compensadas pela habilidade e beleza<br />

dos seus gestos na luta “contra” o cesto…<br />

Tive ocasião de ver o contraste entre aquilo que havia de melhor no<br />

planeta – os americanos dos Globetrotters’1950 – que assentava<br />

em estruturas adequadas e aquilo que a Pátria lusitana oferecia…<br />

E, logo aí, me interroguei sobre essa diferença abissal. A conclusão<br />

tirada na altura foi a de que os inúmeros “globetrotters” americanos<br />

se faziam na escola, na universidade… Precisamente ao contrário<br />

do nosso caso em que é o Clube – e que Clubes fantásticos<br />

nós temos - que tem de substituir a Escola… Ainda hoje, infelizmente…<br />

Lembro-me de o Prof. José Esteves, que treinou gratuitamente<br />

(como sucedeu aliás com tantos outros) a Académica de Coimbra,<br />

no início dos anos ’50, contar esta pequena história do basquetebol<br />

americano:<br />

Tinha sido realizado o último encontro do campeonato nacional<br />

universitário dos EUA. A equipa vencedora regressou a casa, de<br />

comboio, durante a noite. Durante a viagem o treinador da equi-<br />

18


19<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

pa recordou ao seu melhor encestador que ele tinha falhado uns<br />

tantos cestos de certa posição do campo… O campeonato acabara<br />

naquela noite! Pois bem, chegada a equipa ao seu destino pelas<br />

4h da madrugada, o certo é que esse jogador universitário, às 9h<br />

dessa manhã, já estava no ginásio a fazer 500 (quinhentos) lançamentos<br />

do local onde falhara durante o jogo, que até vencera…<br />

Devemos dizer que, nas últimas décadas, muito se tem feito para<br />

melhorar as instalações, para se formarem bons agentes de ensino,<br />

para se divulgar a modalidade. O contraste é evidente quando<br />

se fazem comparações com os anos ’50, 60’. Há que sublinhá-lo.<br />

Mas falta um “click” ao desporto português. E esse “click”, em meu<br />

modesto entender, consiste em decretar-se efectivamente, e não só<br />

em meros actos de propaganda, que o DESPORTO ESCOLAR está<br />

na base do desporto verdadeiramente nacional.<br />

Enquanto cada Escola não dispuser de instalações gimnodesportivas<br />

adequadas e de agentes de ensino práticos e competentes,<br />

com horários aceitáveis, não nos poderemos queixar de não trazer<br />

mais medalhas dos Jogos Olímpicos… Já muito têm feito alguns<br />

profissionais que têm representado o País além fronteiras…<br />

Sem base sólida, qualquer edifício pode abanar…<br />

Os dinheiros públicos devem ser sagrados e não deviam ser desbaratados,<br />

ano após ano, em falsas miragens…<br />

Temos para nós que é tudo uma questão de prioridades… Mais!<br />

- é tudo uma questão de coragem e de desapego às glórias vãs do<br />

mundo… político.<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 27/10/2000<br />

e na “Revista do Basquetebol” – Out. 2000


Professor leIte PInto<br />

O Círculo Eça de Queiroz é uma renomada instituição lisboeta do<br />

Chiado.<br />

Nele se reúnem, desde há muito tempo, algumas figuras da intelectualidade<br />

portuguesa, com regularidade, constituindo-se em<br />

“Grupo das 4ªs feiras”.<br />

Aos 97 anos, a lei da vida afastou desse grupo, há um ano, um dos<br />

seus mais destacados membros – o Prof. Eng. Francisco de Paula<br />

Leite Pinto.<br />

Prestei-lhe alguma modesta colaboração nos idos anos ’50, em<br />

especial durante a crise académica que ficou conhecida pela crise<br />

do 40.900 (nº do decreto-lei de 1956 que acabou por não ser<br />

aplicado às Associações de Estudantes depois de debate na Assembleia<br />

Nacional). Nela andaram profundamente envolvidos estudantes<br />

como Jorge Sampaio, João Cravinho, Prostes da Fonseca,<br />

José Bernardino, Sérgio Ribeiro...<br />

Possuidor de uma vasta cultura, era muito humano, descontraído e<br />

cheio de humor. Na casa dos vinte anos, eu procurava estabelecer<br />

a “ponte” entre o Ministério da Educação e aquelas Associações.<br />

Fiquei muito feliz quando o Ministro aceitou a reivindicação da<br />

AAC – que eu patrocinei como pude - ao considerar o dia da Tomada<br />

da Bastilha como feriado académico.<br />

Certa manhã, fui ao seu encontro no Campo de Sant’Ana, tendo-<br />

-me parecido muito abatido. Explicou-me que de facto assim era,<br />

porque nessa manhã se esquecera de ler a página da necrologia<br />

do Diário de Notícias. Daí não se ter apercebido do falecimento<br />

de um seu grande amigo, a cujo funeral não pudera entretanto<br />

assistir. E logo me recomendou que procedesse sempre a esse tipo<br />

de leitura…<br />

Talvez por isso, quando a sua hora se aproximava, dispôs no sentido<br />

de se não dar público conhecimento do passamento a não ser<br />

20


21<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

30 dias depois. Assim sucedeu, pelo que me limitei então a chorar<br />

uma lágrima na missa do 30º dia, no Estoril.<br />

O Grupo das 4ªs feiras evocou a memória desse Homem Bom,<br />

desse Grande Senhor, há dias, no Círculo. Também lá estive a convite<br />

do Dr. Novais de Paula. Onde encontrei velhos amigos e conhecidos,<br />

como o Dr. Baltazar Rebelo de Sousa e Senhora, o Reitor<br />

Justino Mendes de Almeida, os Conselheiros Lúcio Vidal e Alcindo<br />

Costa, o Dr. Seabra Lopes, o Eng. João Paulo Castelo Branco e<br />

também o eterno representante do Brasil em terras lusas, o Embaixador<br />

Dário Castro Alves. Ouvi palavras muito bonitas e pensamentos<br />

de autêntica poesia proferidas pelos Profs. Soares Martinez<br />

e Bigotte Chorão.<br />

Com o pensamento arejado pela memória de um Grande Senhor<br />

do nosso País que foi o Prof. Leite Pinto, deixei-me vaguear uns<br />

tempos pelo Chiado de tantas tradições.<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 25/05/2001


leMbrando aMálIa<br />

“Povo que lavas no rio<br />

que talhas com teu machado<br />

as tábuas do meu caixão…”<br />

Pedro Homem de Mello<br />

A Associação dos Naturais da Colónia de Moçambique, em 1951,<br />

convidou a equipa de basquetebol da Associação Académica de<br />

Coimbra, que era a campeã nacional absoluta, a deslocar-se<br />

àquela parcela de Portugal, para disputar onze jogos em Lourenço<br />

Marques e na Beira.<br />

Quando aguardávamos o embarque no aeroporto da Portela de<br />

Sacavém, apercebemo-nos de que teríamos como companhia a<br />

grande fadista Amália Rodrigues, uma jovem de 30 anos que viajava<br />

com os seus instrumentistas, Raul Néry e Santos Moreira.<br />

E os jornalistas presentes no aeroporto logo nos convidaram para<br />

fazermos uma fotografia com ela!<br />

Só que, pouco tempo antes, tinha sido exibido em Coimbra o filme<br />

“Capas Negras” em que ela contracenava com o Alberto Ribeiro.<br />

E a Academia não gostou... e “proibiu” a exibição... do filme, qual<br />

Autoridade Administrativa! Assim, reunidos todos os jogadores,<br />

deliberou-se não fazer a foto para não nos colocarmos à margem<br />

das leis académicas... o que naturalmente não agradou à Amália...<br />

nem mesmo a nós próprios… E lá embarcámos para a 1ª etapa<br />

até Dakar, durante a qual fizemos as pazes, em especial, graças<br />

ao sentido de humor do Paulo Cardoso (já falecido). Seguiram-se<br />

as paragens em Monróvia, Accra, Robertsfield e Leopoldville até<br />

chegar a Joanesburgo, depois de 26 h de viagem.<br />

Durante as escalas tivemos ocasião de ver o quanto era apreciada<br />

a Amália por terras africanas, já que havia sempre comitivas a<br />

recebê-la e a prendá-la com flores, chocolates, etc.. Naturalmen-<br />

22


23<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

te, também beneficiámos dessas recepções na medida em que os<br />

chocolates acabavam sempre por ser recolhidos por nós, até porque<br />

entendíamos que a Amália não devia engordar...<br />

Em Joanesburgo, a Amália foi para o hotel Carlton e nós fomos<br />

para uma pensão modesta, pela simples razão de que um dos nossos<br />

jogadores não era branco - o simpático e bom rapaz de alma<br />

límpida, Luís de Sousa (hoje cirurgião em Guimarães).<br />

Na Beira, numa das noites depois do jogo, fomos até uma “boite”<br />

nos arredores, onde nos juntámos com a Amália e com... oh felicidade!...<br />

o Dr. António Menano (que residia em Inhaminga).<br />

A certa altura, chegou o manager da Amália que esta apresentou<br />

ao Paulo Cardoso, já muito bem bebido e “enterrado” num maple.<br />

Quando ela referiu o nome Ricardo Ovelha, o Zé Paulo Cardoso<br />

mirou-o de baixo para cima e comentou: “Não parece!...”<br />

Foi uma noite de encanto com aquelas duas estrelas a cantar ao<br />

som da guitarra e da viola... Recordo que, no regresso para a Beira,<br />

o Dr. Menano me cantarolou esta quadra:<br />

Tenho sede de mais alto<br />

Sou como a Mãe de Deus<br />

Que tendo Jesus nos braços<br />

Ainda olhava para os Céus...<br />

Normalmente, a Amália assistia aos nossos jogos e nós íamos<br />

aplaudi-la nos seus espectáculos. Algumas vezes, por simpatia<br />

dela, a fui buscar ao hotel Polana, onde lhe lia os telegramas que<br />

ela recebia de Lisboa! Numa dessas vezes, entrei com ela de braço<br />

dado no camarote do campo de futebol do Sporting e o meu avô,<br />

que residia em Vila João Belo, ao ver-me assim acompanhado,<br />

não resistiu a tamanha emoção e desmaiou... Para ele a Amália<br />

era um mito... não acessível ao seu neto…<br />

Ao assistir, hoje, à passagem da urna com o corpo de Amália em<br />

Campo de Ourique e ao ouvir pela televisão o coro dos Antigos<br />

Orfeonistas da Universidade de Coimbra, a que também pertenci<br />

nos finais dos anos ’40, recordei essa viagem com lágrimas!…<br />

Glória à AMALIA!…<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 28/09/2001


Amália Rodrigues, acompanhada por Raul Nery e Santos Moreira (1950)<br />

24


a Gare do orIente<br />

25<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

Há 11 anos que tenho necessidade profissional de viajar entre o<br />

Porto e Lisboa. E optei pelo comboio. Que até nem é caro, em<br />

especial para a terceira idade. Evito o avião e o automóvel, este<br />

por causa do stress, da segurança e do preço das portagens... que<br />

equivale ao preço do bilhete.<br />

Recentemente, com a entrada em serviço dos alfa pendulares, a<br />

viagem tornou-se muito mais aliciante: melhores carruagens, possibilidade<br />

de uso de computador, etc. Pode-se assim trabalhar, ler,<br />

descansar, conversar… durante as 3 horas do percurso.<br />

Nessas viagens, sem dias certos nem comboios certos, encontro<br />

muitos Juizes Superiores, com os seus muitos processos, e gestores,<br />

com os seus computadores e telemóveis em serviço, sempre a<br />

tocar...<br />

Há dias, pela 1ª vez encontrei um Secretário de Estado, com barba<br />

bem aparada, simpático, acompanhado por 2 assessores que<br />

fizeram aquilo que qualquer pessoa de bom gosto faz. Antes de<br />

embarcar no alfa, às 14 h, foram ao Aleixo comer os filetes com<br />

arroz de polvo que são do melhor que se faz na nossa Terra… e<br />

nem são caros…<br />

A viagem ficou barata para os cofres do Estado (até se dispensou<br />

o motorista), o governante pôde trabalhar no comboio e nunca<br />

perdeu o contacto com o Ministério através do telemóvel.<br />

Oxalá este exemplo frutifique entre aqueles que adoram andar de<br />

avião e helicóptero nas suas andanças ministeriais. Sem se preocupar<br />

com os custos… que os contribuintes pagam!<br />

Parabéns Senhor Secretário de Estado da Segurança Social (Rui<br />

Cunha) e desculpe-me a indiscrição!<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 21/12/2001


uMa Morte PreMatura eM aveIro<br />

Há dias, no novo Pavilhão do Galitos de Aveiro, sucedeu a tragédia!...<br />

Num período de interrupção do jogo de basquetebol em que jogava<br />

o Aveiro Basket para o campeonato da Liga Profissional dos<br />

Clubes de Basquetebol, o atleta/médico Paulo Pinto deixou cair a<br />

garrafa de água no banco e... acabou por falecer! Com um médico<br />

do Benfica a assisti-lo competentemente, mas impotente...<br />

Estamos a falar do basquetebolista português com maior projecção<br />

internacional. Era um atleta de eleição, um Homem íntegro, no<br />

dizer de quem bem o conhecia.<br />

A sua “força” era tal que, mesmo sendo atleta de alta competição,<br />

com tantos treinos nas pernas e tantas deslocações para fora e<br />

dentro do País, conseguiu tempo e ânimo para concluir a licenciatura<br />

em Medicina. E sabe-se bem quão exigente é essa licenciatura...<br />

Até por ser dirigente da Federação Portuguesa de Basquetebol<br />

mas, acima de tudo, como seu admirador, fui a S. João da Madeira<br />

assistir ao funeral do Paulo.<br />

A Família, com a Mãe e o Pai à frente, também ele dirigente de<br />

basquetebol, estava completamente destroçada por ver partir um<br />

dos seus filhos na flor da vida.<br />

Mas sentiram à sua volta um mar de gente que adorava o Paulo.<br />

Via-se no rosto das pessoas que elas estavam ali, fora dos seus<br />

trabalhos, por devoção e admiração.<br />

A Igreja, que não é pequena, estava a abarrotar de pessoas e de<br />

flores... Cá fora, era um mar de gente... O seu treinador, o Carlos<br />

Lisboa, estava a meu lado a rezar o Padre Nosso com uma lágrima<br />

a correr no rosto... Os seus colegas dos outros Clubes, e estariam<br />

lá todos, vindos dos diversos cantos do País, bem como os muitos<br />

dirigentes da Federação, da Liga de Clubes, das Associações Re-<br />

26


27<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

gionais e dos Clubes onde e com quem o Paulo competiu, seguiram<br />

emocionados as cerimónias fúnebres.<br />

Foram os seus colegas de equipa que transportaram a urna, com a<br />

emoção estampada nos rostos...<br />

E ninguém arredava pé... até lhe prestarem a última homenagem<br />

já no cemitério, com uma impressionante salva de palmas como se<br />

ele estivesse a meter mais um dos seus belos triplos...<br />

Vi lá políticos, até por dever de ofício. Mas não resisto a dizer que<br />

o Presidente da Câmara Municipal de Aveiro, Dr. Alberto Souto,<br />

também ele antigo basquetebolista do Galitos, como eu fui muitos<br />

anos atrás, estava lá, acima de tudo, nessa qualidade. Foi o que<br />

eu senti das suas palavras.<br />

Paz à tua alma, Paulo! Continuaremos a recordar-te cá em baixo...<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 14/03/2002<br />

e na “Revista do Basquetebol” – Fev. 2002<br />

Paulo Pinto


os GabInetes MInIsterIaIs<br />

Por vezes entretenho-me a ler o Diário da República, especialmente<br />

a 2ª série. Esse jornal é um manancial de informação importante<br />

e até interessante...<br />

Agora, com a chegada de um novo Governo, foi altura de se ver<br />

quem entra e também quem saiu dos gabinetes de Suas Excelências.<br />

Há dias, dei comigo a ler os louvores que o Primeiro-Ministro António<br />

Guterres concedeu aos que com ele trabalharam mais de<br />

perto. Diz ele que “foi com imensa gratidão pela inestimável<br />

ajuda” que dá público louvor a 168, reparem bem, 168 colaboradores.<br />

Tenho para mim que lhe devem ter prestado directamente serviço<br />

uns tantos mais que não terão sido louvados... Caso contrário, o<br />

louvor expresso perderia sentido... Se é que o não perdeu já com<br />

tantas linhas do Diário da República ocupadas com esse objectivo...<br />

Dias depois, deparo com um Secretário de Estado (dos Transportes)<br />

a louvar 30 pessoas do seu gabinete...<br />

Ao Secretário de Estado Dr. José Magalhães coube em especial<br />

salientar a elevada afabilidade dos seus colaboradores, o que se<br />

regista com agrado, naturalmente.<br />

E dou comigo a perguntar: será que um Primeiro-Ministro precisa<br />

de 124 colaboradores directos? Será que um Secretário de Estado<br />

precisa de 30 colaboradores directos? Quanto custam? Quanto<br />

espaço é necessário para os alojar? E quantos carros para os transportar?<br />

etc., etc.. O que fazem então as Direcções Gerais? E os<br />

Institutos?<br />

Para já não falar da Presidência da República que tem, só nos seus<br />

quadros cerca de 300 funcionários... para além dos que estão dados<br />

à Casa Civil e à Casa Militar...<br />

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29<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

A política é uma arte muito nobre mas não pode justificar tanto<br />

despesismo, normalmente clientelar...<br />

Julgam, porém, que eu acredito que o novo Poder vai ter menos<br />

pessoal nos seus gabinetes?<br />

E julgam que acredito que alguma vez vamos ter uma Assembleia<br />

da República com uns 100 deputados, mas bem pagos, para terem<br />

qualidade indiscutível?<br />

Oxalá! Mas não acredito...<br />

Ao menos que todos tenham boas férias.<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” em 26/07/2002


o jornalIsMo desPortIvo e a hIstórIa<br />

fontes InquInadas<br />

A responsabilidade dos jornalistas em termos de feitura de história<br />

é muito grande. Estou em crer que eles, ao darem uma notícia,<br />

investigaram sempre as fontes, devidamente.<br />

Só que, de algumas fontes, por vezes, sai água inquinada, a maioria<br />

das vezes sem ser por mal, certamente.<br />

Isto vem a propósito de peça que a TVI, no seu jornal da noite de 8<br />

de Setembro de 2002, pôs no ar acerca das candidaturas às próximas<br />

eleições na Federação de Futebol.<br />

Nessa peça foi afirmado que:<br />

• O agora candidato Artur Jorge jogara pela Académica de Coimbra<br />

a final da Taça de Portugal em 1969 – ano da célebre contestação<br />

académica ao Ministro José Saraiva;<br />

• O Almirante Thomaz presidiu a esse encontro no Estádio Nacional;<br />

• A Académica equipou de branco, em sinal de luto.<br />

Ouvi a notícia com estupefacção pela falta de rigor que ela demonstra.<br />

Intencional? Não sei.<br />

Das 3 afirmações referidas só posso dizer, em verdade, que de<br />

facto a final da Taça de Portugal de 1969 foi disputada sob o signo<br />

da contestação da academia de Coimbra.<br />

Quanto ao resto, posso afirmar e documentar que:<br />

• O excelente avançado centro Artur Jorge não jogou pela Académica.<br />

Estava já no Belenenses? No Benfica? No FC do Porto?... O<br />

avançado centro da Académica foi sim o Manuel António que foi<br />

“bola de prata” nesse ano e hoje é o director do IPO de Coimbra;<br />

• Por indicação expressa de Marcello Caetano fui eu, na altura a<br />

exercer as funções de director geral dos Desportos, quem presidiu<br />

ao encontro, e não o Almirante Thomaz (aliás, não se encontrava<br />

presente qualquer membro do Governo na tribuna);<br />

• A Académica manifestou o seu luto, mas não através do equipa-<br />

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31<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

mento (branco?) que foi o habitual (de negro). É mais uma notícia<br />

que me trouxe à lembrança a outra relativa ao Eusébio em que ele<br />

diz que o ditador (Salazar) o chamou a S. Bento, por 6 vezes, para<br />

lhe dizer que o Conselho de Ministros o considerava património<br />

nacional, pelo que não era autorizada a sua transferência para o<br />

estrangeiro...<br />

Enfim um puro delírio do grande Embaixador Eusébio... que tem<br />

sido glosado de formas várias... A bem de quê? Não dele certamente,<br />

que não precisa dessas deturpações para continuar a ser o<br />

melhor jogador português, para mim.<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 20/09/2002


câMara aberta<br />

GInásIo<br />

Da leitura do artigo “Habitação, Ponte, Estádio e Ginásio”, publicado<br />

neste jornal, fiquei com a sensação de que a Câmara de Águeda se<br />

prepara para terminar as negociações com o GICA para aquisição do<br />

pavilhão.<br />

E mais se adianta que o futuro pavilhão municipal poderá ser localizado<br />

na zona de Assequins, no Ninho de Águia ou junto à Feira Nova.<br />

Estando, pelos vistos, tudo em aberto não posso deixar de opinar sobre<br />

tema que me é muito caro.<br />

Nos idos anos de 60, em que me ocupava de matéria desportiva, recordo<br />

que a Alemanha do Leste era o país que tinha maior densidade<br />

de pavilhões desportivos face à sua população. Certamente por isso, e<br />

não só... (as hormonas, a gravidez, etc...) tratava-se de uma potência<br />

desportiva de 1º plano a nível mundial.<br />

Verificava-se, então, que a localização desses pavilhões era determinante,<br />

e ainda o é, para as práticas desportivas. Eles situavam-se nas<br />

escolas ou junto às escolas. Tão simples como isso.<br />

É que cada escola é um manancial inesgotável de juventude ávida de<br />

praticar desporto. E os pavilhões, garantidamente, estão ocupados durante<br />

todo o dia. Sim, porque ao fim da tarde/noite também não faltam<br />

os praticantes dos Clubes/Associações. Ou seja, dessa forma os<br />

pavilhões são usados sem parar. Caso contrário, como acontece com<br />

o Pavilhão de Travassô que, embora construído com muita carolice e<br />

dedicação, certamente não pode ter essa ocupação maximizada.<br />

Senhores Autarcas! Pensem mais nas crianças em geral do que no desporto<br />

de competição! Este vem naturalmente, por arrastamento. Mas,<br />

em primeiro lugar, deve estar toda a juventude escolar.<br />

Sei que por vezes é difícil inventar “terrenos” mas a vontade move<br />

montanhas!.<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 27/10/2002<br />

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33<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

Fachada do Prédio onde nasceu e viveu o autor, em Águeda


75 anos de basquetebol a falar PortuGuês!<br />

É bom chegar a esta idade, depois de muito, mas mesmo muito e<br />

difícil, caminho percorrido!<br />

E é bonito ter chegado com a pujança para que os ideais apontavam<br />

e que os factos agora demonstram no panorama desportivo<br />

nacional!<br />

A partir dos meus 15 anos de vida federativa, vim a conhecer muitos<br />

dirigentes dedicados, esclarecidos e apaixonados pela bola ao<br />

cesto!<br />

E convivi com muitos atletas de eleição que treinavam e disputavam<br />

com alegria os jogos ao sol, à chuva, ao vento, em campos<br />

cimentados e de terra batida e com balneários sem água quente!<br />

E que nem sequer se queixavam dessas condições!<br />

Fui um deles, dos mais modestos embora, mas que sempre acreditei<br />

em que melhores tempos acabariam por chegar!<br />

Já lá vão 52 anos, quando, jovem dirigente da AAC, contratámos o<br />

1º jogo dos Globetrotters realizado na Europa, mais precisamente<br />

em Coimbra, no velho campo de Santa Cruz, por Esc. 25.000$00!<br />

Naturalmente que tenho saudades desses tempos, mas em especial<br />

das amizades com que o basquetebol me brindou e ainda perduram<br />

no Galitos de Aveiro, na Associação Académica de Coimbra,<br />

no Vasco da Gama, no S.L. e Benfica, no Queluz, na Federação...<br />

Mas hoje tenho orgulho em verificar que as condições da prática<br />

do basquetebol são abissalmente diferentes, para melhor!<br />

Quer em Jogos Olímpicos, quer nas Universíadas, nunca perdi um<br />

bom jogo de basquetebol, tal como em Havana, há precisamente<br />

40 anos, nos I Jogos Desportivos Universitários Latino Americanos,<br />

ao lado de Che Guevara – fiel amante da modalidade! É que o<br />

basquetebol, para além do mais, é um jogo muito bonito!<br />

A Federação Portuguesa de Basquetebol e os seus devotados e<br />

competentes dirigentes estão naturalmente de parabéns!<br />

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35<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

Um voto: Que o basquetebol seja, na Escola, o que o sal é para a<br />

comida!<br />

Publicado na “Revista do Basquetebol”<br />

alusiva ao 75º aniversário da FPB – 17/11/2002


Morreu uM Grande PatrIota<br />

baltazar rebelo de sousa<br />

Acabo de assistir ao funeral do Dr. Baltazar Rebelo de Sousa.<br />

Tinha almoçado com ele e com a Esposa há 8 dias. A saúde estava<br />

abalada, bem se via! Mas foi com grande comoção que ouvi a TV<br />

dar a notícia do seu falecimento, logo no dia 1 de Dezembro!<br />

Era uma data que lhe era muito cara! E, tal como nos tempos em<br />

que militou na Mocidade Portuguesa, não deixava nunca de participar,<br />

como agora sucedeu, nas comemorações dessa data que,<br />

hoje, já poucos celebram… Todos os Valores se vão indo… na voragem<br />

do sensacionalismo que as televisões nos vão impingindo…<br />

Entre a missa em S. Domingos, a que assistiu, e o desfile respectivo,<br />

porém, Baltazar tombou para sempre!<br />

Numa última homenagem, a bela igreja de Santa Isabel encheu-<br />

-se de gente dos mais variados quadrantes. Uns pelos filhos, mas<br />

muitos certamente pelo próprio falecido, todos ouviram uma bonita<br />

missa celebrada pelo Sr. Bispo de Portalegre.<br />

Disse ele que convivera com Baltazar em Moçambique, aquando<br />

da sua governação naquela Província Ultramarina. E contou que,<br />

um dia, no seio da família, Baltazar observou aos filhos que “não<br />

estava em Moçambique para mandar mas sim em missão!…” Que<br />

bela lição de serviço público!<br />

As leituras foram feitas pelos filhos Marcelo e António. E as preces<br />

– que belas – foram feitas pelo filho Pedro e pelos 7 netos.<br />

Baltazar foi um grande Patriota que soube servir a res publica sempre<br />

e acima de tudo, estivesse onde estivesse. Tinha uma postura<br />

de Estado que, nele, era simplesmente natural.<br />

Mesmo exilado durante 17 anos no Brasil, sempre viveu intensamente<br />

as coisas lusófonas. E ultimamente, com a vida a apagar-se,<br />

era uma delícia ver ainda o seu apego às coisas sociais e ao bem<br />

comum.<br />

Gostei muito de ver que a sua urna estava coberta pela Ban-<br />

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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

deira Nacional. Prestou-se justiça a quem serviu bem Portugal.<br />

Paz à sua alma.<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 06/12/2002<br />

Baltazar Rebelo de Sousa em visita ao Estádio Universitário de Lisboa<br />

(1957)


MaIs vale tarde do que nunca...<br />

Há dias recebi em Lisboa um telefonema de um antigo funcionário<br />

da Casa do Desporto do Porto.<br />

Depois da minha saída da Direcção Geral dos Desportos, em meados<br />

de 1973, já lá vão 30 anos, nunca mais tivera contacto com<br />

ele.<br />

O telefonema era para me dizer que acabara de saber que eu,<br />

certamente em romagem de saudade, tinha passado pela Casa do<br />

Desporto num fim de tarde e que um funcionário me reconhecera<br />

e lhe terá dito que eu vinha todas as semanas ao Porto. Na verdade<br />

tive o maior gosto em dinamizar, nos anos ’60, a implementação<br />

de um programa de infra estruturas desportivas que ainda se<br />

encontram de pé... bem à vista.<br />

E sempre que posso, sozinho, gosto de passar uns momentos a<br />

observar cada uma delas – e foram muitas, e que agora até estão<br />

com melhor aspecto, dadas as beneficiações nelas introduzidas<br />

entretanto.<br />

Quis esse funcionário visitar-me na Av. da Boavista, logo a seguir<br />

ao referido telefonema.<br />

Veio para me cumprimentar pessoalmente, dizer-me umas tantas<br />

palavras amáveis e... para me trazer uma fotografia encaixilhada.<br />

Era, nem mais, a minha fotografia assinada pelos respectivos Presidentes,<br />

que as Associações Desportivas do Porto tinham em lugar<br />

de destaque na Casa do Desporto, desde a sua inauguração, em<br />

sinal de reconhecimento.<br />

Ele tinha ficado fiel depositário da mesma, logo após a entrada em<br />

funções do novo delegado da DGD, pós 25 de Abril, porque este<br />

teria dito que já não era o tempo próprio para exibir esse tipo de<br />

recordações...<br />

Não precisei de lhe perguntar quem era esse delegado, cujo percurso<br />

político foi bem marcado pelas ruas da chamada esquerda<br />

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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

revolucionária. E agora, uma vez que esse Delegado já faleceu,<br />

ele sentiu coragem para me entregar a fotografia, em nome de<br />

Valores...<br />

Obrigado, Menezes! E Paz à alma do Delegado!<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 07/02/2003


carros, MotorIstas, desPesas<br />

Toda a gente sabe que o País atravessa uma grave crise económica<br />

que não será fácil vencer.<br />

Essa crise, em parte, é devida ao despesismo que se apoderou da<br />

máquina do Estado, a partir mesmo de cima.<br />

Os órgãos de soberania não estão isentos, todos eles, de colaborarem,<br />

talvez sem se aperceberem bem, nesse despesismo.<br />

Uma coisa é a dignidade dos Altos Cargos do Estado, outra bem<br />

diferente é a despesa supérflua ou desnecessária.<br />

Os Gabinetes da Alta Administração do Estado estão cheios de<br />

gente. São secretárias, são adjuntos, são assessores, são consultores...<br />

Pelo menos, quanto ao Governo actual, tenho a sensação de que<br />

terão sido tomadas medidas para aliviar o espaço antes ocupado<br />

com pessoas, certamente muito competentes, mas dispensáveis.<br />

Há uns anos atrás, pessoa amiga estava a instalar mais uma empresa<br />

pública e telefonou-me para saber como se passavam as coisas<br />

em termos de automóveis, motoristas e contínuos no Grupo em<br />

que colaboro. E trata-se do maior Grupo empresarial português.<br />

Fiz-lhe o retrato da situação, que o deixou muito desiludido, quando<br />

lhe referi que no Grupo não há motoristas nem contínuos. O<br />

próprio presidente do Grupo não tem às suas ordens um motorista<br />

sequer.<br />

Como é conhecido do povo, não é assim que os organismos do<br />

Estado procedem.<br />

Mas aceitemos que alguns cargos, pela sua relevância, merecem<br />

esse tratamento. Só que esse tratamento deveria ser feito por excepção<br />

e não por regra.<br />

Há certamente muitas outras funções que aqueles dedicados motoristas<br />

e contínuos poderiam desempenhar com bastante produtividade<br />

para o País e não só para uns tantos senhores. Mas o facto<br />

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41<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

é que a cultura própria dos nossos dirigentes não está disposta a<br />

ser mudada. Não estará?<br />

Ainda há dias tomei parte num funeral de pessoa bem conhecida,<br />

num domingo à tarde.<br />

E lá encontrei um destacado parlamentar com o BMW da Assembleia<br />

da República, conduzido por um motorista.<br />

Será que esse alto dignatário, nesse dia feriado, não poderia conduzir<br />

ele próprio a viatura oficial, deixando o motorista repousar<br />

com a família? Para além de que o Estado deixava de processar as<br />

horas extraordinárias respectivas...<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 28/03/2003


huMberto coelho – treInador PortuGuês é resPeItado<br />

e adMIrado na coreIa do sul<br />

Desloquei-me recentemente à Coreia do Sul, mais propriamente<br />

a Daegu, 3ª cidade do país, com 2,7 milhões de habitantes. Fui lá<br />

assistir à UNIVERSÍADA de 2003, os Jogos Mundiais Universitários,<br />

a que Portugal concorreu com uma delegação de 70 atletas e dirigentes.<br />

Certo dia, estava no hall do Hotel Inter-Burgo (de raiz espanhola)<br />

quando vejo dirigir-se-me uma pessoa de braços abertos. Era<br />

nem mais nem menos que o seleccionador nacional de futebol<br />

da Coreia do Sul: o nosso bem conhecido Humberto Coelho, com<br />

quem contactei bastante quando ele era jogador/capitão do S. L. e<br />

Benfica e internacional de méritos consagrados, em fins dos anos<br />

60 e princípios dos anos 70. Era ele o defesa central do Benfica<br />

que venceu a Taça de Portugal de ’69. Não lhe entreguei essa Taça<br />

porque o lugar de capitão ainda estava tapado pelo grande Mário<br />

Coluna.<br />

Jantámos ambos e muito conversámos sobre as coisas da nossa<br />

Terra a que ele continua bem ligado até porque a Federação de<br />

Futebol coreana lhe instalou, no seu magnífico apartamento, a RTP<br />

Internacional. E apercebi-me de que está mesmo muito bem cotado<br />

na sociedade coreana. À sua volta estava sempre uma “chusma”<br />

de admiradores a pedir-lhe autógrafos que ele dava com simpatia,<br />

e outros a quererem apertar-lhe a mão.<br />

Na sala ao lado do Hotel jantavam os dirigentes da Esgrima do<br />

top mundial e da Coreia. No final do jantar, ao passarem por nós,<br />

quiseram mesmo prestar a sua homenagem ao homem em quem<br />

a Coreia confia para uns brilharetes internacionais do seu futebol.<br />

O que não será fácil, diga-se.<br />

Pelo seu adjunto, o Prof. Dr. José Augusto, dragão assumido, fiquei<br />

a saber que ele não pode sair à rua… tal o envolvimento que os<br />

passantes lhe dedicam… Era uma autêntica loucura, que eu ava-<br />

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43<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

liei bem pelo que me foi dado assistir no hotel em Daegu. Ele é<br />

um autêntico embaixador de Portugal na Coreia, que o próprio<br />

Embaixador Dr. Carlos Frota muito respeita e admira. E eu fiquei<br />

muito satisfeito por ver que, também no longínquo Oriente, há um<br />

português que respira sucesso. Parabéns, Humberto Coelho<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 19/09/2003<br />

O autor, acompanhado pelo Presidente e pelo Tesoureiro da FISU,<br />

na Universíada de 2003 - em Daegu, Coreia do Sul


outras terras, outras Gentes – a coreIa do sul<br />

Voltando à minha recente deslocação à Coreia do Sul, tivemos a alegria<br />

de ser recebidos, à chegada a Seoul, pelo embaixador Dr. Carlos<br />

Frota que veio mesmo a deslocar-se, dias depois, a Daegu para viver<br />

de perto a vida da nossa Delegação. Fez-me lembrar o embaixador<br />

Dr. José Nosolini, em S. Sebastian, nos Jogos Internacionais da FISU<br />

de 1955. O que é raro nas relações entre as Embaixadas e o Desporto<br />

no estrangeiro, a não ser talvez no futebol…<br />

Quando chegámos ao aeroporto de Daegu, tinha uma escolta de 4<br />

polícias até ao carro que me foi distribuído e o meu intérprete era um<br />

estudante a prestar serviço militar. Dali até ao hotel tive escolta de um<br />

polícia de moto. E no hotel só se entrava depois de revistado, tendo<br />

em cada andar a companhia de um segurança, aliás sempre amável.<br />

E havia tropas que circulavam bem armados e com cães pelos corredores<br />

e vizinhança do hotel. A segurança dos jogos tinha um orçamento<br />

de 15 milhões de contos…<br />

Lá fui encontrar velhos amigos das lides do desporto universitário internacional:<br />

entre eles o Scarpiello, com os seus 80 anos, de cadeira<br />

de rodas. Perante a minha admiração por se ter sujeitado, naquelas<br />

circunstâncias, a uma viagem aérea de mais de 11 horas, sem escala,<br />

ele respondeu-me que preferia morrer ali entre os desportistas em<br />

competição do que numa cama de hospital mesmo que muito bem tratado!<br />

Força, “Pilo”! Tive ocasião de assistir à assembleia-geral da FISU<br />

em que foram eleitos os órgãos sociais para o próximo quadriénio. A<br />

luta de blocos veio ao de cima com que força… com a China e a França<br />

muito bem “organizadas” a “dominarem” os cordelinhos de África<br />

e Ásia. Resultado, não foram eleitos quaisquer representantes quer de<br />

Itália (a “mãe” das Universíadas) nem da América Latina. Quanto a<br />

nós tivemos a felicidade de ver eleito o representante português, Pedro<br />

Dias, que teve de enfrentar várias voltas de votação. Mas, também<br />

com a preciosa ajuda de Carlos Lopes (Angola) junto de países africa-<br />

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45<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

nos, passou a integrar o Comité Executivo, coisa que já não sucedia<br />

desde 1973, ano em que eu próprio fui reeleito em Moscovo, mas de<br />

que fui saneado pelo governo de então, após a revolução de Abril.<br />

De Nebiolo, apenas já só foram feitas breves referências pelo Roch<br />

Campana, Roberto Outeiriño e Constantin Annastassov… “Sic gloria<br />

transit mundi…”.<br />

Nos jogos participaram 174 países, com 4.500 atletas e 3.500 oficiais<br />

que estavam alojados numa “Vila de Atletas” construída para o efeito<br />

e que, depois dos jogos, seria vendida em largas centenas de apartamentos.<br />

A organização era apoiada por 10.000 voluntários que eram<br />

de uma solicitude e amabilidade inexcedíveis.<br />

A cerimónia de inauguração dos jogos, a que presidiu o Presidente<br />

Roo Moo-hyun, teve lugar num belo estádio para 66.500 espectadores<br />

construído para o campeonato do mundo de futebol de 2002, e foi<br />

rodeada de fortes medidas de segurança. Foram mesmo deslocados<br />

para Daegu 4.000 polícias. E o espaço aéreo foi fechado, até porque<br />

constou que se aguardava um atentado químico por parte de terroristas.<br />

O planeamento dos jogos era tão pormenorizado que as 2 Coreias<br />

desfilaram em conjunto com os mesmos trajes. Isto, embora a presença<br />

da Coreia do Norte só tenha sido decidida sobre a hora da abertura<br />

dos jogos. O pormenor desse planeamento expressava-se mesmo na<br />

existência em cada lugar do estádio de um bonito saco contendo um<br />

abanador (o calor húmido apertava) e uma pequena lanterna. Essas<br />

lanternas, todas acesas, proporcionavam um ambiente lindíssimo. E<br />

em pontos estratégicos, as cores dessas luzes desenhavam mensagens<br />

muito bonitas.<br />

A coreografia das cerimónias de abertura e encerramento dos jogos<br />

era deslumbrante. As cores dos fatos dos milhares de rapazes e raparigas<br />

que entravam e saíam do estádio proporcionavam, nas suas<br />

cambiantes, quadros de rara beleza. O início do espectáculo foi de<br />

grande simplicidade: do centro do relvado foi disparado um foguete<br />

que projectou no ar uma nuvem que era nem mais nem menos que o<br />

desenho do conjunto das 2 Coreias.<br />

Houve uma ordem expressa da Organização para que os voluntários<br />

não falassem com os seus “irmãos” do norte nem lhes tirassem fotografias,<br />

a fim de evitar eventuais conflitos diplomáticos.<br />

O bilhete de ingresso no estádio para a cerimónia inaugural custava,


nos melhores lugares, cerca de 26 contos. Diga-se que o nível de vida<br />

lá é muito alto. Mas também se observava que se trabalhava muitíssimo.<br />

O comércio estava aberto noite dentro, mesmo aos sábados. E ter<br />

férias, era considerado um luxo…<br />

A dificuldade da língua só era atenuada com os intérpretes que nos<br />

acompanhavam. Mas sucedeu um caso interessante com um dos portugueses<br />

participantes e um motorista de táxi que o conduzia. Este, a<br />

certa altura, apercebeu-se da nacionalidade do passageiro e logo lhe<br />

falou de Amália Rodrigues, dizendo que tinha uma cassete com os<br />

seus fados…<br />

Desde a nossa chegada à Coreia que se respirava Universíada, tal a<br />

profusão de cartazes, bandeiras e táxis engalanados. Era toda uma<br />

comunidade que aderia aos jogos.<br />

Os nossos atletas tiveram um comportamento digno. As medalhas, em<br />

algumas disciplinas, não ficaram longe. Só que as nossas melhores<br />

atletas optaram por ir aos Campeonatos do Mundo de Paris que se<br />

realizaram na mesma altura.<br />

Acompanhei de perto a nossa equipa de voleibol e os jogadores de ténis<br />

que tiveram uma boa prestação. Jogou-se quase sempre no magnífico<br />

pavilhão da Universidade Católica. Não esqueço o jogo contra<br />

a China a quem vencemos por 3-1. As claques das nossas equipas,<br />

com cartazes e bandeiras, eram constituídas por jovens de uma igreja<br />

coreana ou de escolas que cantavam e lançavam mensagens de apoio<br />

com entusiasmo durante todos os jogos.<br />

Mas a claque que mais me impressionou foi a da Coreia do Norte,<br />

com 300 jovens muito bem vestidos e com canções lindíssimas e sem<br />

descanso.<br />

Nas provas de natação, em que fui convidado a entregar várias medalhas<br />

aos vencedores das provas, convivi de perto com o actual presidente<br />

da Federação Japonesa de Natação, Furuashi, que foi campeão<br />

olímpico nos Jogos de 1952, em Helsínquia. A emoção que denunciava<br />

durante as provas dos seus conterrâneos era bem visível na face…<br />

Na Vila dos Atletas a sua maior diversão era a internet. Fazia-se bicha<br />

para alcançar lugar ao computador.<br />

Os transportes funcionavam muito bem. Não nos esqueçamos que a<br />

Coreia do Sul é um grande fabricante de viaturas ligeiras e pesadas<br />

através da Daewoo, Hyundai, Kya. Esses transportes foram a chave<br />

do sucesso da organização. Lembremos que, para assistir à final de<br />

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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

basquetebol, entre a Rússia e a Sérvia-Montenegro tivemos de andar<br />

80 kms.<br />

Perguntei a vários elementos da delegação se tinham assistido a algum<br />

“toque”, acidente de viação. Que não, foi a resposta. Nas auto<br />

estradas o limite de velocidade é de 100 kms/h o qual é normalmente<br />

respeitado já que há muitas câmaras de vídeo à espreita… À primeira<br />

vista, parece haver grande civismo. Os espaços verdes estão muito<br />

bem cuidados e não se vêem sequer papéis nas ruas e jardins. Chegam<br />

a levar “lixo” para casa para ser depositado nos respectivos recipientes.<br />

A cidade é atravessada por um longo rio que deu origem a vários<br />

canais. Nas suas margens, muito bem cuidadas, estão implantados<br />

recintos de jogos e parques de lazer para crianças e adultos, tudo gratuito.<br />

Aos domingos os carros circulam alternadamente conforme se trate de<br />

matrícula par ou ímpar. Não é obrigatória essa medida mas, de uma<br />

maneira geral, ela é respeitada.<br />

Os motoristas oficiais estavam sempre muito bem vestidos, com fato e<br />

camisa impecáveis e muitos usavam luvas brancas.<br />

O hotel Inter-Burgo é propriedade de espanhóis. Talvez por esse facto,<br />

nele se pode ver a TVE com as suas telenovelas. A Junta de Castilla<br />

y Leon montou no hall do hotel uma grande banca onde se podiam<br />

apreciar o bom presunto pata negra, a tortilla e alguns bons vinhos<br />

espanhóis, numa promoção muito bem organizada e bem apreciada<br />

pelos hóspedes e passantes do hotel.<br />

Foi aí que encontrei o seleccionador nacional de futebol da Coreia do<br />

Sul, o conceituadíssimo, entre os coreanos, Humberto Coelho. Os seus<br />

“fãs” eram numerosíssimos. A todos atendia com a maior simpatia.<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 10/10/2003


desPerdícIos<br />

A nossa vida de cada dia é feita de pequenas coisas às quais, muitas<br />

vezes, não damos qualquer atenção.<br />

As famílias vivem de um orçamento familiar, na maioria dos casos,<br />

bastante apertado. E há famílias e seres humanos isolados que<br />

não têm sequer dinheiro para se alimentar. Isto passa-se mesmo à<br />

nossa porta… não é preciso ir longe.<br />

Esta é a triste realidade dos dias de hoje e que bem gostaríamos<br />

de ver alterada.<br />

Os orçamentos familiares são alimentados, de uma maneira geral,<br />

pelo Estado e pelas empresas, quaisquer que elas sejam.<br />

E as despesas das famílias devem comportar-se dentro de parâmetros<br />

exigentes de satisfação de necessidades indispensáveis.<br />

Os luxos, os desperdícios, quando existem e, infelizmente, estão<br />

por aí e vêem-se à vista desarmada, deverão ser uma excepção só<br />

própria de ricos. E mesmo desses… bom seria que os luxos fossem<br />

trocados por outras coisas mais necessárias.<br />

Isto para chegar à conclusão de que, quanto maiores forem as<br />

receitas dos agregados familiares e menores as suas despesas correntes,<br />

mais eles podem distribuir pelos seus membros. O mesmo<br />

se aplica ao Estado e às empresas de quem depende o dia a dia da<br />

maioria dos nossos concidadãos.<br />

Vejamos então o que podemos fazer apenas e só para nosso<br />

bem.<br />

Podemos começar por apagar as luzes que não estão a ser<br />

necessárias.<br />

Até porque a electricidade que consumimos é em grande parte<br />

importada do estrangeiro e produzida também nas centrais termoeléctricas<br />

que consomem enormes quantidades de fuel que Portugal<br />

tem de comprar no exterior.<br />

Na verdade, o que se passa, em especial nas empresas, escritórios<br />

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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

e serviços do Estado é o seguinte: a brigada da limpeza chega<br />

muito cedo para fazer o seu serviço e começa naturalmente por<br />

acender as luzes. Ficam todas elas acesas. E ao fim da tarde os<br />

empregados e funcionários e mesmo chefias abandonam os seus<br />

postos de trabalho mas não apagam as luzes. Até que vem, já<br />

noite alta, o Segurança que, espera-se, se preocupe com o apagar<br />

das mesmas.<br />

Façam-se umas simples contas e chegar-se-á à conclusão de que<br />

os milhões de pontos de luz acesos, sem necessidade, custam a<br />

todos nós muitos milhões de euros.<br />

Se és amigo de ti próprio poupa na energia eléctrica e aconselha<br />

os outros, em especial os teus filhos, a fazerem o mesmo.<br />

Publicado no jornal “Região de Águeda” de 10/10/2003


a deMIssão de Pedro lynce<br />

Os órgãos de informação trataram exaustivamente do caso da demissão<br />

do Prof. Pedro Lynce.<br />

Do que se leu e ouviu bate-se sempre na mesma tecla: o Ministro<br />

cometeu uma ilegalidade. De boa fé? Não interessa.<br />

Porém, não tenho visto referências ao comportamento do director<br />

geral do Ensino Superior que foi, em meu entender, quem proporcionou<br />

todo este imbróglio. Porquê?<br />

Apenas e só porque ele não terá usado a sua competência para<br />

indeferir pura e simplesmente o requerimento da candidata Diana.<br />

E, uma vez que levou o processo a despacho do Ministro (será que<br />

o Ministro o avocou?), devia ter-se limitado a informar, sem mais<br />

considerações, que a lei não permitia o seu deferimento.<br />

Ao que parece, o director geral quis ser simpático, ou quis, também<br />

ele, fazer “política”. Ora isso é incompatível com o seu estatuto de<br />

funcionário, que não de político.<br />

Escrevi em 1980 que o novo regime de provimento dos directores<br />

gerais os transformava em meras “mulheres a dias”. Isto sem ofensa<br />

para essas serviçais dignas de consideração.<br />

Esse regime faz com que qualquer director geral – haverá excepções,<br />

naturalmente – queira agradar ao seu ministro para se<br />

aguentar no cargo. Nem que para isso se tenha de menosprezar<br />

a Lei.<br />

Há uns tantos anos atrás, em que os directores gerais da função<br />

pública eram vitalícios, como em França aliás, a situação em causa<br />

era impensável. O director geral que actuasse contra a Lei, tinha<br />

os dias contados, mesmo sendo vitalício! Pelos vistos, aqui e agora<br />

não é assim, mas mal.<br />

Sei do que falo, na medida em que exerci aquele tipo de funções,<br />

em regime vitalício, durante 10 anos, e posteriormente, em regime<br />

de comissão, durante 3 anos, quer em ditadura quer em democra-<br />

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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

cia. Por estas e por outras é que se vem reclamando de há muito<br />

a Reforma da Administração Pública. Só que os políticos têm de<br />

aceitar o domínio da Lei sobre as suas conveniências partidárias<br />

ocasionais. Até porque são os políticos afinal que fazem as leis…<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 17/10/2003


Pode abusar-se da lIberdade?<br />

Há dias, na entrada para uma comemoração dos 170 anos no<br />

Supremo Tribunal de Justiça, em Lisboa, passou-se uma cena que<br />

me impressionou fortemente.<br />

Essa cena teve larga difusão na imprensa escrita, nas rádios e nas<br />

televisões. A maioria dos órgãos de comunicação verberou a atitude<br />

de um magistrado judicial que é, nem mais nem menos, o<br />

presidente do Tribunal da Relação de Lisboa. O mesmo que foi<br />

chamado a intervir num recurso apresentado pela defesa de um<br />

político detido preventivamente, não mais do que isso, que é muito,<br />

por causa do processo da pedofilia.<br />

Ele excedeu-se usando termos menos próprios, porquê? Apenas<br />

porque não queria ser filmado nem prestar declarações naquele<br />

lugar e àquela hora.<br />

Ora não será isto um direito do cidadão magistrado como aliás de<br />

qualquer outro cidadão? E o homem não é de ferro…<br />

Será que a liberdade de informação pode violentar esse direito a<br />

seu belo prazer e que eu julgava sagrado - o direito à privacidade?<br />

Parece que não. As câmaras filmam quem querem, onde querem,<br />

contra vontade dos próprios, e depois achincalham-nos na praça<br />

pública com maior ou menor crueldade…<br />

Senhor Magistrado: não o conheço. Fiquei a saber quem era pela<br />

TV. Lamento que tenha usado o termo que usou para qualificar<br />

uma máquina de filmar, mas compreendo a sua reacção já que<br />

quem se não sente não é filho de boa gente.<br />

Para além de que se não presta um grande serviço ao poder judicial<br />

andar a mostrar os seus rostos que, depois, têm de ser protegidos<br />

por seguranças especiais que o Povo tem de pagar através<br />

dos seus impostos. Tudo em nome da liberdade.<br />

Publicado no jornal “Região de Águeda” de 17/10/2003<br />

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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

as ProPInas - queM acode aos nossos IMPostos?<br />

Todos nós, os que pagamos impostos e que não fugimos a eles,<br />

sabemos que os mesmos se destinam a suportar encargos da sociedade<br />

civil e militar.<br />

Tudo bem!.<br />

Na sociedade civil, por exemplo, esses impostos contemplam a escolaridade<br />

obrigatória e não obrigatória. Nesta se inclui o ensino<br />

superior universitário e politécnico.<br />

Tudo bem!<br />

Como, graças a Deus, na vida profissional activa que vou terminar<br />

em breve, sou dos que têm vindo a ser sobrecarregados com<br />

um IRS que se aproxima dos 40%, isso significa que, de cada mil<br />

contos que a entidade patronal me pague, 400 contos vão para<br />

impostos.<br />

Naturalmente que me não queixo desses descontos na condição<br />

de que eles sejam bem aplicados em favor dos que mais precisam.<br />

Mas não em favor dos que menos precisam e até, em muitos casos,<br />

nem sequer pagam impostos ou então são taxados pelo salário<br />

mínimo nacional, ainda que se desloquem de helicóptero para<br />

reuniões de carácter social.<br />

Assiste-se, nesta altura, a um movimento estudantil sem precedentes<br />

contra as propinas. E vai daí, toca a encerrar as escolas a cadeado!<br />

O que suponho ser crime. E invade-se o Senado e insulta-se o<br />

Reitor ou Presidente de Instituto. E corta-se o trânsito… etc., etc..<br />

Calculo eu que os Senhores Professores se sintam indignados com<br />

esta situação já que não podem fazer aquilo de que tanto gostam<br />

certamente: dar aulas que, afinal, são pagas pelo erário público,<br />

ou seja, pelos impostos de quem os paga.<br />

Os estudantes não se queixam de que faltem professores e isso<br />

seria gravíssimo. Eles até serão demais em alguns Departamentos<br />

ou Faculdades.


A falta de instalações, designadamente para a acção social, é um<br />

outro problema a que somos naturalmente sensíveis. É preciso é<br />

saber para quê? Não será para arrumar turmas de cursos sem alunos,<br />

ou de reduzidíssimo número de alunos, que os há e não são<br />

poucos, ou então para alojar alunos que não tenham mérito.<br />

Enfim tudo isto para dizer que bem gostaria que qualquer aluno<br />

com mérito não fique privado de estudar por falta de condições<br />

económicas.<br />

Mas também gostaria que os impostos que pago não se destinem<br />

a um sistema que permite a um qualquer dirigente académico<br />

manter-se durante 8 anos a estudar (?) na Faculdade,<br />

tendo ainda à sua frente mais 3 anos, se tiver sempre aproveitamento,<br />

para concluir o curso. Isso não! A autonomia da<br />

Universidade deveria atalhar casos como este, que não são tão<br />

excepcionais como possa parecer. Uma avaliação independente da<br />

situação seria bem acolhida pela sociedade civil...<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 14/11/2003<br />

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crIMe seM castIGo?<br />

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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

O conhecido processo das viagens feitas por três dezenas de exdeputados<br />

chegou finalmente ao seu termo. E teve um triste fim,<br />

direi mesmo.<br />

Desde logo, confesso que me não repugnam as viagens de eleitos<br />

da Nação, desde que feitas com são critério e parcimónia. Ao que<br />

parece, o sistema que permitiu esses desvarios durante largos anos<br />

já terá sido ultrapassado com um novo regulamento mais apertado.<br />

Ainda bem.<br />

Só que desse processo não saíram bem nem a Assembleia da República,<br />

donde deveria vir o exemplo para os seus eleitores, nem<br />

a Procuradoria Geral da República que terá deixado prescrever<br />

os processos de que se ocupou, ou melhor, não se ocupou com o<br />

empenho minimamente exigível.<br />

Essa mesma Procuradoria que agora deu luz verde ao arquivamento<br />

dos processos!...<br />

Em termos jurídicos, o que se passou nesse domínio não é classificado<br />

de crime? Se é, e parece nisso não haver dúvidas, o crime<br />

ficou sem castigo.<br />

E o erário público ficou desfalcado de mais de 45 mil contos relativamente<br />

a 25 desses senhores deputados… Mas, para que servem<br />

afinal os impostos? Também para suprir estes crimes… certamente.<br />

Se eu pudesse exigir alguma coisa, nesta matéria, sabem o que<br />

era? Que, simplesmente, fossem divulgados os nomes dos tais deputados<br />

que faltaram às suas obrigações a fim de que o Povo pudesse<br />

pensar duas vezes se eles se voltassem a apresentar a votos.<br />

Apenas isto, ao menos isto. Sei que para isso seria preciso haver<br />

coragem… e ela anda arredia da nossa vida política…<br />

Publicado no jornal “Região de Águeda” de 21/11/2003


a ProPósIto de dInheIros autárquIcos…<br />

O Diário de Notícias (Lisboa) de 11 do corrente mês, no sector da<br />

necrologia, tinha estampados 7 anúncios relativos ao falecimento<br />

do pai de um badalado presidente de Câmara da área metropolitana<br />

do Porto.<br />

Esses anúncios ocupavam 3 páginas inteiras de publicidade paga<br />

– um, da Câmara, de página inteira, dois de meia página cada, da<br />

Assembleia Municipal e do SMAS, dois de um quarto de página de<br />

2 empresas municipais, mais dois também de um quarto de página<br />

cada, de 2 Associações ligadas ao presidente da Câmara.<br />

A Câmara repetiu o anúncio no mesmo jornal no dia seguinte agora<br />

já só num quarto de página.<br />

Se isto se passou com um jornal de Lisboa, o que se não terá passado<br />

com os jornais do Porto… pensei eu. Pois bem, nem de propósito,<br />

dias depois, em reunião de gestores de empresas da zona<br />

norte, assisti aos comentários indignados de vários deles face ao<br />

que se passou com os jornais da Invicta. Um escândalo, dizia-se.<br />

Só num deles cada página de publicidade custa a módica quantia<br />

de 2.000 contos, ou seja € 10.000.<br />

Obviamente que considero legítimas estas manifestações de pesar<br />

pelos entes queridos, por parte dos seus amigos, correligionários<br />

e simples concidadãos. E que gastem todo o seu próprio dinheiro<br />

que entendam nas mesmas.<br />

Agora que o façam à custa do erário público/autárquico em overdoses<br />

é que me parece despropositado e anti-social.<br />

Quando se ouvem os discursos de certos políticos locais e regionais<br />

bem conhecidos, a conversa é sempre a mesma: coitados dos desempregados,<br />

as autarquias precisam de mais meios da administração<br />

central para combater esse e outros flagelos, para dar melhores<br />

condições de vida para os munícipes, etc.. Todos os gestores<br />

da res publica têm obrigação de dar o exemplo de parcimónia nos<br />

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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

gastos dos dinheiros que o povo lhes confia através dos impostos.<br />

Em especial, os mais altos dirigentes partidários que se apresentam<br />

permanentemente como defensores da justiça social.<br />

A solidariedade social pratica-se, não se propagandeia a propósito<br />

de tudo e de nada!<br />

A vida também é feita de pequenas coisas que, somadas, fazem ou<br />

não fazem grandes coisas.<br />

Finalmente, fico com curiosidade em saber se algum deputado municipal<br />

teve ou terá coragem para questionar o executivo camarário<br />

sobre este tipo de gastos. Como acontece e bem, em Águeda.<br />

Publicado no jornal “Região de Águeda” de 02/04/2004


dInheIros PúblIcos…<br />

Existem grandes empresas de capitais públicos e também alguns<br />

privados que encerram os seus exercícios com muitos milhões de<br />

lucros. A razão dessa situação fica a dever-se, entre outras, à natureza<br />

da empresa (monopólios…em alguns casos), a uma razoável<br />

gestão e ao mercado que as aprecia. Esta é uma realidade a que<br />

não podemos fechar os olhos. E ainda bem que há quem gere<br />

lucros.<br />

Esses lucros, porém, não devem dar o direito a quem dirige essas<br />

empresas de esbanjarem parte desses lucros em sinecuras escandalosas.<br />

Não é de hoje, não é de ontem, não sei é até quando, mas ainda<br />

tenho esperança em que a justiça e a vergonha desçam à Terra.<br />

Isto vem a propósito de uma situação que me foi relatada como<br />

segue:<br />

Os gestores desse tipo de empresas são eleitos em assembleiasgerais<br />

em que o Estado se faz representar e com um peso grande<br />

nas decisões. Os gestores são eleitos para mandatos normalmente<br />

de 3 anos. E são usualmente recrutados entre os “barões” dos<br />

principais partidos políticos que têm uma “bolsa” de emprego bem<br />

recheada de pessoas muito válidas e também com pouca ou nenhuma<br />

qualidade. No fim dos mandatos, naturalmente eles são<br />

reconduzidos ou são substituídos, consoante as correntes partidárias<br />

estão no poder ou passam à oposição. Pouco interessa a análise<br />

das performances alcançadas. Mesmo assim eles são sempre<br />

os mesmos. Só mudam é de empresa ou de lugar na mesma empresa.<br />

Há uma espécie de acordo tácito entre as várias correntes<br />

políticas nesse sentido.<br />

Quando o eng. Guterres decidiu abandonar o barco português<br />

para se dedicar à política internacional socialista, a coligação PSD/<br />

PP conquistou as rédeas do poder. Daí que, na altura, a classe dos<br />

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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

gestores públicos se tenha agitado a pensar no seu futuro…desenhando-se<br />

logo uma onda de solidariedade pessoal/institucional.<br />

Alguém falou em solidariedade social? Claro que essa é para os<br />

carenciados, cada vez mais carenciados…<br />

Um desses gestores estava a escassos, repito, escassos meses do<br />

fim do mandato e seria daqueles que não sobreviveria à mudança<br />

de rumo político do País. Ele pertencia ao clube de Guterres e tinha<br />

sido “recrutado” para as funções por um ex-ministro socialista,<br />

agora presidente da empresa.<br />

Foi então que a solidariedade partidária funcionou. Como?<br />

Antes que o mandato chegasse ao fim, e o gestor sairia de mãos<br />

a abanar, o seu correligionário “despediu-o” com direito, naturalmente<br />

a ser indemnizado. Com quanto? Umas migalhas de cerca<br />

de 800.000 euros… E quando me relatavam essa situação logo<br />

outrem, que estava por dentro da situação, referiu que havia outra<br />

situação idêntica na mesma empresa em que outro gestor recebeu<br />

“apenas” cerca de 2.400.000 mais o carro…<br />

E nós perguntamo-nos: em nome de quê? Da democracia, não! Da<br />

transparência, nunca! Da competência, quem diria! Da solidariedade<br />

política, isso sim! E bastou.<br />

Finalmente fiz umas pequenas contas para saber: quantos portugueses<br />

da classe média conseguirão ganhar durante toda uma<br />

vida de trabalho esses € 800.000 ou os mais de 2 milhões de €?<br />

Cada um também as pode fazer.<br />

Será que ninguém quer saber destas pequenas coisas do nosso dia<br />

a dia?<br />

E depois não há dinheiro para apetrechar escolas e hospitais…Pois<br />

é! Ele não chega para tantos desmandos…”Quousque tandem…”<br />

Publicado no jornal Soberania do Povo de 2/04 /2004


áGueda eM PasseIo<br />

A ANATA organizou recentemente um passeio para as bandas do<br />

sul, em que incluiu Sintra, Cascais, Aveiras, Tomar e Fátima, a que<br />

aderiram umas 60 pessoas, todas imbuídas do espírito eterno da<br />

Águeda a Linda.<br />

Por esse motivo, foram feitos convites a aguedenses residentes na<br />

Capital do ex-Império que se associaram gostosamente a essa jornada<br />

de confraternização também, e essencialmente gastronómica,<br />

através de um almoço que teve lugar numa magnífica Quinta<br />

em Aveiras de Cima, propriedade de um aguedense de sucesso<br />

- à custa de muito trabalho, certamente - que é o José Henriques<br />

da Silva, do Sardão. Ele e sua Mulher foram uns excepcionais anfitriões.<br />

Também eu quis marcar presença e devo dizer que me não arrependi<br />

de ter trocado o meu passeio/conversa dominical no CIF<br />

pela estrada que percorri para chegar a esse local bem aprazível,<br />

a que não faltava sol nem a sombra necessária ao repasto. Antes<br />

pelo contrário!<br />

Em regime de pic-nic de que já tinha tantas saudades (como o<br />

tempo voa...), lá se comeu do bom e do melhor (os rojões...) que<br />

se “fabrica” (não é afinal Águeda uma floresta de fábricas autênticas?)<br />

na nossa Terra. E bebeu a “pinga” que sabe a qualquer coisa<br />

de muito especial (com que me delicio no Ribeirinho quando vou<br />

a Águeda)... E os doces?...Os seus ataques variados ao estômago<br />

até pareciam feitos de sensações de prazer há muito desejadas.<br />

Eram todos excelentes porque feitos por mãos carinhosas e sábias<br />

que seguiram as receitas caseiras de datas já distantes: era a aletria<br />

que o António Sucena dizia que era receita de minha avó Elisa,<br />

era a barriga de freira, era o arroz doce, era o pão de ló, eram os<br />

sequilhos, eram... Tudo era muito bom e, curiosamente, graças a<br />

Deus, nem sequer deixaram sequelas... a não ser saudades.<br />

60


61<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

O Silva Pinto foi um autêntico “maestro”, com uma voz que bem<br />

poderia passar em S. Carlos. Os seus dotes de “cavador” (agora<br />

que ninguém quer trabalhar a terra) ficaram bem demonstrados<br />

na plantação de uma árvore a significarem que a ANATA não morrerá.<br />

O “fadista” viola veio recordar-me os tempos de Coimbra e<br />

a voz do António Bernardino de Ois da Ribeira... A Luciana parece<br />

que cada vez está mais nova... é uma autêntica força da natureza.<br />

Enfim, uma jornada muito agradável que me leva a agradecer os<br />

mimos gastronómicos que me deliciaram e a felicitar a ANATA pelo<br />

êxito alcançado.<br />

Quando se diz que a sociedade anda tão deprimida, só se fala em<br />

desgraças, em pedofilia, em ataques terroristas, em dúvidas sobre<br />

o Euro 2004, que se pense também que ainda há coisas boas entre<br />

nós – a amizade, a fraternidade, a saudade e a esperança num<br />

futuro melhor em paz.<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” em 16/04/2004<br />

A Direcção da ANATA - 2007


o desPorto antes e dePoIs do 25 de abrIl<br />

Eu deixei a Direcção Geral dos Desportos e a Inspecção Nacional<br />

do Desporto Universitário em Agosto de 1973. Tinha sucedido na<br />

DGD ao Dr. Valadão Chagas, em 1963.<br />

Fiz parte dos órgãos sociais da Federação Internacional do Desporto<br />

Universitário (FISU) de 1955 a 1973 (Portugal só voltou a<br />

estar representado no seu Comité Executivo 30 anos depois), tendo<br />

o Ministério da Educação promovido o meu saneamento dessas<br />

funções, logo após a Revolução de Abril. O Estado português nunca<br />

quis servir-se da minha experiência desportiva internacional e<br />

nacional para o que quer que fosse até hoje...<br />

Não obstante isso, já depois de Abril, fui eleito presidente da Federação<br />

Portuguesa de Ténis e dirigente da Federação Portuguesa de<br />

Basquetebol e Associação de Ténis de Lisboa. E a FISU atribuiu-me,<br />

em 1997, a categoria de Membro Honorário.<br />

Daí que tenha continuado a acompanhar o fenómeno desportivo,<br />

agora já não tanto por dentro, como antes de Abril, mas sempre<br />

interessadamente. Vou aos jogos de futebol, em especial, no Restelo<br />

e acompanho a Sport TV assiduamente.<br />

E tenho assistido ao deturpar da história recente com grande perplexidade<br />

e alguma tristeza. É que as mentiras de tanto repetidas<br />

passam a ser verdades... Como foi o caso, por exemplo, do Eusébio<br />

dizer, ou alguém dizer por ele, que o Conselho de Ministros presidido<br />

por Salazar o tinha considerado património nacional para o<br />

impedir de se transferir para o estrangeiro..., que a selecção de futebol,<br />

em 1966, tinha feito a viagem de Manchester para Londres,<br />

de autocarro... (viemos todos num excelente combóio).<br />

Em 1973, o Desporto nacional era, no seu todo, subsidiado<br />

pelo Estado (DGD-FFD) com 68 mil contos ou seja, ao câmbio<br />

de hoje, cerca de 3 milhões de contos. Hoje, esse número<br />

atinge, certamente, muitos mais milhões. O que significa que<br />

62


63<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

é possível fazerem-se muitas mais coisas. Nos anos ’60, com<br />

o advento dos dinheiros do Totobola, a política era a de se<br />

construírem instalações desportivas modestas, mas operacionais<br />

para a prática desportiva, sem preocupações com as<br />

necessidades do desporto-espectáculo. Foi o caso das largas<br />

dezenas de pavilhões gimnodesportivos e dos tanques de<br />

aprendizagem de natação construídos nas escolas ou junto<br />

às escolas. Considero um desastre a interrupção dessa política.<br />

Hoje, a grande preocupação é a de se construírem infra estruturas<br />

para a comodidade dos atletas (tudo bem) e do público,<br />

o supérfluo. As largas somas investidas têm um reprodutividade<br />

limitada.<br />

O Estado descura a sua obrigação de facultar instalações mínimas<br />

às Escolas e, por outro lado, consome largos recursos<br />

em actividades e eventos que têm mais a ver com o espectáculo,<br />

o efémero. O Desporto Escolar parece que só agora<br />

entrou na agenda política. Ainda bem. Sem desporto escolar<br />

não há verdadeiramente desporto nacional (disse-o em<br />

7/5/1963).<br />

Em termos de dirigentes sempre houve e continua a haver muitos e<br />

bons, só que os tempos mudaram e, agora, também, muitos deles<br />

pensam, legitimamente aliás (a vida está difícil) em compensações.<br />

O dirigismo, presentemente, está muito profissionalizado, em<br />

detrimento da carolice. Para o bem? Talvez.<br />

Vejamos o sector da arbitragem. Antes, esse sector era independente<br />

das Federações e tinha autonomia. As Comissões de árbitros<br />

tinham representantes das Federações e dos próprios árbitros e<br />

eram presididas por alguém designado pela DGD. Está-se agora<br />

melhor com o actual sistema? Parece que não, a avaliar pelo que<br />

a PJ está a fazer. Reconheço que tenho saudades do tempo do Eng.<br />

Sousa Loureiro que deve estar tão triste quanto eu por ver a arbitragem<br />

abrir os tele-jornais.<br />

Em termos de atletas, a alta competição passou a ser o grande<br />

objectivo, com um profissionalismo escandaloso, deixando-se para<br />

segundo plano o amadorismo que existia antes. Mesmo o anterior<br />

profissionalismo corresponderia ao amadorismo de hoje. Quem<br />

bem o pode dizer é o Eusébio.


No caso do atletismo, por exemplo, houve uma estratégia delineada<br />

pela DGD, em finais dos anos ’60, que foi a de se investir no<br />

fundo e meio fundo. Os resultados falaram por si, e de que maneira,<br />

logo a médio prazo!<br />

No ténis, por exemplo, há muitos mais praticantes em termos de<br />

lazer. E na alta competição o panorama é fraco, não obstante o<br />

esforço do João Lagos em trazer grandes eventos para Portugal<br />

que deveriam despertar ambições... Mas não. Ao fim de 15 anos<br />

de Open do Estoril, o que ficou? Uma série de jornadas tenísticas<br />

de bastante nível (não tanto como o do Open de Portugal de 1983,<br />

em que a final foi disputada pelos n os 2 e 5 do mundo – Willander<br />

e Y. Noha – e não como recentemente, em que a final já não é<br />

disputada, normalmente, por jogadores de topo, com custos elevadíssimos<br />

e que de muito positivo tem a ver com a feira de vaidades<br />

que se passeia pelas tendas... Mas há quem aprecie e promova<br />

mediaticamente esse tipo de actividade “desportiva”.<br />

Em termos de agentes de ensino tem de se reconhecer uma evolução<br />

enorme, a todos os níveis. Desde logo, no número de licenciados,<br />

mestres e doutores. Diria porém que gostaria de os ver a<br />

todos mais no campo do que nos gabinetes...<br />

Em resumo, do antes para o depois houve muitas melhorias no<br />

panorama desportivo nacional. O que é absolutamente natural,<br />

até por consequência da adesão à EU, com bateladas de dinheiro a<br />

entrarem nos cofres portugueses. Porém, fica no ar uma interrogação:<br />

com os volumes de dinheiros que foram afectados ao Desporto<br />

nos últimos 30 anos, será que não teria sido possível fazer muito<br />

mais e muito melhor? Os estudiosos do tema têm a palavra.<br />

Eu acredito no futuro que está nas mãos dos nossos jovens desportistas<br />

a quem saúdo.<br />

Este texto foi escrito a pedido do jornalista Norberto Santos, do Record,<br />

tendo o jornal aproveitado apenas a parte que está a “bold” e em itálico<br />

(25/04/2004 - pág. 29)<br />

64


65<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

cIentIsta PortuGuês a trabalhar eM PortuGal<br />

Assisti há dias à comemoração do aniversário da Delegação do<br />

Porto da Cruz Vermelha Portuguesa que teve lugar no Museu Soares<br />

dos Reis, instituição que honra o Porto mas que se projecta<br />

para além da Invicta, dado o notável acervo de obras artísticas<br />

que expõe. Aconselho vivamente uma visita para quem aprecia a<br />

Cultura.<br />

Por esse motivo, tive ocasião de abraçar um velho (sou eu) amigo<br />

das lides académicas coimbrãs, agora Presidente da CVP, o Dr. José<br />

Luís Nogueira de Brito. Também lá encontrei a campeoníssima<br />

Rosa Mota, sempre franzina e modesta, mas uma grande Mulher<br />

que conversa tão bem quanto corre a maratona...<br />

Mas, acima de tudo, tive o privilégio de escutar uma lição do Prof.<br />

Doutor Sobrinho Simões, renomado cientista internacional que<br />

trabalha presentemente no Porto em dedicação exclusiva à investigação.<br />

Nem tudo é mau, afinal, no nosso País!<br />

O tema desenvolvido focava “A Medicina no Século XXI”.<br />

Para além do encanto irradiado pelo ilustre Professor, à laia de<br />

conversa terra a terra, com explicações e diapositivos simples e<br />

compreensíveis por leigos como eu, sobre genoma, ADN, etc., registei<br />

algumas passagens, tais como:<br />

• A medicina enfrenta hoje dois grandes problemas, a saber, o<br />

erro e o conflito de interesses, os mais variados.<br />

• Ao contrário do que alguns intitulados “pedagogos” apregoam,<br />

deve utilizar-se a memória. Mais, a memória deve ser musculada.<br />

• Deve pôr-se uma forte ênfase na prevenção da doença.<br />

• Está na ordem do dia a patologia do envelhecimento.<br />

A comunicação terminou com a enunciação dos grandes desafios<br />

que hoje se colocam à Medicina:<br />

• CURAR – onde se tem obtido grandes progressos;


• PREVENIR – começa a dar-se atenção ao tema;<br />

• CUIDAR – a problemática da 3ª idade está pouco tratada.<br />

Enfim, uma sessão que foi um encanto que até contou com a música<br />

alegre e bem disposta da Tuna do Instituto Superior de Engenharia<br />

do Porto.<br />

Parabéns à Cruz Vermelha Portuguesa, pela obra notável que tem<br />

vindo a desenvolver, há mais de 100 anos.<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” em 07/05/2004<br />

66


vasco PInto de MaGalhães *<br />

67<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

O Estádio Universitário de Lisboa foi inaugurado pelo Ministro Leite<br />

Pinto, em 1956. Já lá vão quase 50 anos.<br />

Ao General Jorge Oom, esgrimista internacional de mérito e primeiro<br />

Inspector do Desporto Universitário, sucedeu o Eng. Vasco<br />

Pinto de Magalhães, rugbista de reconhecida categoria.<br />

Tratava-se de um desportista de excelente fibra, que não era nada<br />

meigo em jogo, a que aliava preocupações didácticas que muito<br />

o marcaram.<br />

Viveu, com o Eng. Nobre Guedes, o espírito olímpico de Pierre de<br />

Coubertain na teoria e na prática.<br />

Era um daqueles que sabia o que queria. E que realizava. E que<br />

deixou obra feita para ficar, como está aqui bem patente.<br />

Foi ele que idealizou e criou o CDUL, um clube que, para além<br />

de ser uma escola de formação, pudesse acolher todos aqueles<br />

estudantes que se distinguissem nas práticas desportivas. Nem que<br />

para tanto tivesse que lutar por uma regulamentação que permitisse<br />

a transferência de atletas consagrados que militassem noutros,<br />

mesmo que grandes, clubes. Ainda estará na memória de uns tantos<br />

esse período agitado.<br />

O CDUL foi mais um dos seus filhos que ainda hoje marca posição<br />

de relevo no desporto. E que até já festejou as suas bodas de ouro,<br />

através de um percurso certamente nem sempre fácil para os seus<br />

dirigentes.<br />

Nessa altura, punha-se-lhe um problema de difícil solução: as instalações<br />

para o CDUL desenvolver a sua actividade.<br />

Foi aí que, uma vez mais, Vasco Pinto de Magalhães pensou grande.<br />

E lutou pela construção de um verdadeiro estádio universitário,<br />

numa altura em que o Estado apostava na criação de instalações<br />

modernas para as Universidades. Foi em Coimbra, foi no Porto e,<br />

naturalmente, também em Lisboa. Aqui, onde existia o bairro da


lata da Quinta da Calçada. Por feliz coincidência, o Eng. Vasco<br />

Pinto de Magalhães tinha uma relação privilegiada com o então<br />

Subsecretário de Estado das Obras Públicas, Eng. Alberto Saraiva e<br />

Sousa, felizmente aqui entre nós.<br />

Daí que, o chegar ao grande Ministro dos anos 50 que foi o Eng.<br />

Arantes e Oliveira, tenha sido um pequeno passo.<br />

O Ministro apadrinhou o projecto e não regateou meios para que<br />

Lisboa, Porto e Coimbra fossem dotados dos seus estádios universitários<br />

que, ainda hoje, cumprem a sua missão.<br />

Na altura, a vida profissional do Eng. Vasco Pinto de Magalhães<br />

era muito intensa, com frequentes deslocações a Angola, mas ele<br />

sabia escolher os seus colaboradores. No caso em apreço, um deles<br />

acompanhava o dia a dia do projecto que foi tomando corpo<br />

até ao dia em que o Ministro da Educação Nacional inaugurou<br />

estas magníficas instalações para os desportistas universitários lisboetas.<br />

Por aqui têm passado milhares de universitários, e não só, que<br />

pela vida fora não esquecem certamente os bons momentos vividos<br />

em treinos, competições e simples lazer. Não é verdade Prof.<br />

Pedro Lynce? Coube mesmo a um desses atletas - Cavaco Silva - ,<br />

então já na qualidade de Primeiro-Ministro, proporcionar os meios<br />

para a recuperação integral deste Estádio.<br />

O Desporto Universitário, acima de tudo, deve ser uma fonte de<br />

saúde, de civismo e de democracia. Como é sabido as regras de<br />

jogo são iguais para todos. E, se os governantes tiverem passado<br />

por essa Escola competitiva, tanto melhor. Não esqueçamos que os<br />

estudantes de hoje serão os dirigentes de amanhã. E quanto mais<br />

bem formados eles forem, tanto melhor para Portugal.<br />

O Eng. Vasco Pinto de Magalhães legou um projecto que nunca<br />

estará acabado. A Família, a quem saudamos respeitosamente, os<br />

seus muitos pupilos e os que foram seus amigos bem o sabem.<br />

Em nome do Governo, OBRIGADO, Eng. VASCO PINTO DE MA-<br />

GALHÃES.<br />

* Elementos para a homenagem ao Eng. Vasco Pinto de Magalhães,<br />

no Estádio Universitário de Lisboa, em 10/06/2004<br />

68


o euro 2004 eM áGueda<br />

69<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

Há anos atrás, alguém disse no Parlamento: Águeda é o País!<br />

Virada a página do século XX, mais precisamente no passado sábado,<br />

Águeda encarnou o País.<br />

Na verdade, devem ter sido milhões os telespectadores que viram<br />

e reviram imagens do jogo treino da selecção nacional de futebol<br />

contra a selecção do Luxemburgo, tendo como pano de fundo a<br />

cidade de Águeda centrada, no caso, no seu bonito e funcional<br />

estádio.<br />

Foi a primeira vez que a equipa das quinas pisou um campo de<br />

futebol em Águeda. O que ficará a marcar a história do desporto<br />

aguedense.<br />

Na impossibilidade de assistir pessoalmente, como bem gostaria,<br />

também estive pregado à televisão para ver em acção os nossos<br />

artistas da bola. Eles são, todos eles são, na verdade muito bons<br />

executantes. Quando querem e estão inspirados, eles enchem o<br />

olho mesmo dos que dizem que não gostam de futebol.<br />

E em Águeda gostei de os ver em acção, especialmente na 1ª<br />

parte, antes da avalanche de substituições que este tipo de jogos<br />

proporciona, para que o seleccionador possa afinar a estratégia e<br />

melhor conhecer os jogadores.<br />

As gentes de Águeda, que tiveram o privilégio de estar presentes<br />

no Estádio, em dia primaveril, devem ter tido uma tarde em cheio,<br />

até porque Portugal ganhou, aliás, com todo o mérito.<br />

Na minha idade, este tipo de acontecimentos traz-me à recordação,<br />

naturalmente, outros eventos também relevantes. Não posso<br />

deixar de lembrar os “magriços” de 1966 cuja saga vivi por dentro.<br />

Eles obtiveram, até hoje, a melhor classificação de sempre em<br />

campeonatos do Mundo. Como não os recordar agora que estamos<br />

numa caminhada rumo à vitória no EURO?<br />

Não vai ser nada fácil, embora tenhamos valor para alcançar essa


meta. Scolari é apenas um treinador campeão do mundo. Isso<br />

diz tudo. Só é pena que ele não tenha disposto dos jogadores em<br />

pleno durante mais tempo. Todos eles são do melhor que há no<br />

mundo, mas eles têm de jogar em equipa. E uma equipa não se<br />

afina em escassas 2/3 semanas... Lembro que para Londres’66, a<br />

dupla Luz Afonso e Otto Glória tiveram todos os jogadores à disposição<br />

durante 2 meses.<br />

E porque não lembrar também esse grande Hernâni, da Venda<br />

Nova, que passeou a sua classe pelo mundo fora, ao serviço da<br />

selecção nacional? Os tempos são outros e Águeda não tem hoje<br />

um sucessor à altura. Mas há-de vir a ter, se Deus quiser.<br />

Em compensação tive o grato prazer de ver na televisão um aguedense<br />

também equipado, junto da selecção, este na qualidade de<br />

assessor de imprensa – cargo muito delicado e de grande responsabilidade<br />

– de que se há-de sair bem. Força Afonso de Melo.<br />

Por Filipe Scolari, por todos os jogadores e por Gilberto Madaíl,<br />

com todos os portugueses que amam a sua Pátria, eu vou fazer<br />

força do princípio ao fim do campeonato.<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” em 04/06/2004<br />

Figo, no Euro 2004 em Águeda<br />

70


aPaGar MeMórIas<br />

71<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

Nem de propósito. Li na última Soberania uma nota de CV sobre o<br />

apagar de memórias em que é referido o querido amigo Horácio<br />

Marçal, a propósito da retirada da placa de inauguração do estádio<br />

de Águeda, cerimónia a que presidira como Governador Civil.<br />

E não é que verifiquei o mesmo no estádio universitário de Lisboa,<br />

quando fui assistir, no dia 10 de Junho, ao jogo de rugby entre a<br />

selecção nacional e os Barbarians?<br />

E resolvi, então, escrever ao actual director daquele estádio a seguinte<br />

carta:<br />

Meu caro João Roquette,<br />

Tenho por hábito não voltar amiúde aos locais onde exerci funções<br />

de direcção. Mantenho, porém, laços sentimentais muito profundos<br />

com aqueles que foram meus colaboradores activos. E guardo deles<br />

a memória do que fizemos juntos.<br />

Assim, ao longo dos tempos, várias vezes fui ao EUL mas ficava-me<br />

pelo edifício do Centro de Medicina Desportiva para aí ser atendido<br />

pelos excelentes médicos e fisioterapeutas que me tratavam das maleitas<br />

que a prática do ténis me provocava.<br />

E fui uma vez apenas à tribuna de honra do EUL, já depois das<br />

obras de beneficiação estarem concluídas, durante o Campeonato<br />

do Mundo de Juniores de Atletismo, nos anos ‘90. Fui lá para dar<br />

um abraço ao meu querido amigo Primo Nebiolo que era ao tempo<br />

presidente da IAAF.<br />

A convite da Federação Portuguesa de Rugby, voltei lá agora para<br />

assistir às comemorações do seu aniversário. E tive tempo para olhar<br />

as paredes do edifício principal do estádio, tendo reparado que havia<br />

nelas algumas placas.<br />

Mas não estava lá, nem mais nem menos do que a placa alusiva à<br />

inauguração do EUL, em 1956. pelo Ministro da Educação, Profes


sor Leite Pinto. Naturalmente, fiquei triste com esse apagar memórias<br />

porque isso ofende a história e a identidade comum.<br />

Calculo que nas obras de beneficiação a que aludi tenha sido necessário<br />

retirar a placa. Mas onde está ela? O director do estádio,<br />

ao tempo, ficou indiferente a esse gesto? Se o fez deliberadamente<br />

não merece o meu respeito. Se isso sucedeu por distracção desse<br />

director, ele não merecia ocupar o lugar.<br />

Caro Amigo,<br />

Daqui me permito sugerir que mande repor a placa que, ou está<br />

guardada numa arrecadação, ou foi no entulho das obras. Faça<br />

justiça agora, ainda que tarde.<br />

A história deve corresponder só e apenas à VERDADE.<br />

Um abraço amigo do<br />

Armando Rocha<br />

Nota: O meu nome também foi riscado do Pavilhão Gimnodesportivo<br />

de Valença, a seguir à revolução de Abril. Quem o fez certamente<br />

que ficou feliz e a mim não me fez diferença...<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” em 18/06/2004<br />

72


a verdade veM ao de cIMa?<br />

73<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

Estive há dias num casamento em Albufeira que começou pelas<br />

16h e se foi prolongando noite dentro.<br />

Houve, assim, muito tempo para conversas com pessoas simpáticas<br />

mais ou menos conhecidas. Entre elas, estavam dois antigos<br />

Ministros de áreas políticas diferentes, mas com quem se podem<br />

abordar os mais variados temas políticos civilizadamente.<br />

Falou-se bastante dos tempos revolucionários de Abril em que se<br />

evidenciaram as várias perspectivas de abordagem do assunto.<br />

Numa coisa se estava de acordo: a degradação da vida política<br />

portuguesa.<br />

Falou-se, por exemplo, no caso dos alunos que frequentavam o<br />

Instituto Superior Técnico e que logo de início se mostravam incapazes<br />

de vencer a matemática que se lhes deparava, a ponto<br />

de começarem a “patinar”. Daí até à desistência do curso era um<br />

pequeno passo. E então apareciam os “pescadores” dos partidos<br />

políticos, todos eles, a aproveitar a maré e a levá-los para uma<br />

carreira política, sem grande necessidade de estudo.<br />

Certamente que o mesmo se passaria noutras Escolas. E o resultado<br />

está já à vista. A classe política, onde pontificaram nomes como<br />

Álvaro Cunhal, Sá Carneiro, Amaro da Costa, Vital Moreira, Veiga<br />

Simão, entre outros, é hoje uma sombra do que gostaríamos de ter<br />

a comandar os destinos do País.<br />

E cada vez será pior, não se tenha dúvidas. Não me referindo já aos<br />

homens de carácter que começam a contar-se com dificuldade.<br />

Há episódios da vida de conhecidos políticos que envergonham<br />

quem alguma vez neles votou, mesmo a coberto de anonimato<br />

partidário. Para bem deles, oxalá esses episódios só continuem no<br />

conhecimento de uns tantos “amigos”.<br />

Uma das figuras que veio à baila foi o Torres Campos que foi director<br />

geral dos Serviços Industriais, no governo de Marcello Caetano


e procurador à Câmara Corporativa, durante a Ditadura. A propósito<br />

de quê? Um dos presentes, antigo governante (anti-salazarista<br />

de sempre) e gestor de empresas privadas de sucesso, a propósito<br />

da falta de carácter de algumas pessoas, contou que em Julho<br />

de 1974 tinha sido convidado pelo Torres Campos, Secretário de<br />

Estado da Indústria, no governo de Vasco Gonçalves, para assumir<br />

a administração de uma delas com a intenção de dela sanear um<br />

colega engenheiro (João Paulo Castelo Branco) que lá se encontrava<br />

há algum tempo. Esse convite foi de imediato rejeitado. Porquê?<br />

Porque o gestor em causa era e é um homem de carácter, sério e<br />

competente.<br />

O interessante nesta história é que, conforme escrevi no livro que<br />

publiquei, Memória (pág. 211), o Torres Campos me dissera em<br />

1995 que ele próprio tinha procurado salvar de ser saneado precisamente<br />

o eng. João Paulo Castelo Branco... que, aliás, já me<br />

tinha desmentido a versão do político que chegou a ser governo<br />

e administrador de empresas públicas de enorme peso na sociedade...<br />

Comentários para quê?<br />

Ainda a propósito, li há tempos na revista Science (Março 2001)<br />

e recentemente na Visão (Fevereiro’2004) que o político Mariano<br />

Gago estava exilado em Paris aquando do 25 de Abril e que, segundo<br />

ele, se não podia ensinar Psicologia no tempo de Salazar.<br />

Ora bem!. Esse senhor - que chegou a ser ministro de Guterres<br />

- estava nessa altura em Paris pela simples razão de que era bolseiro<br />

do Instituto de Alta Cultura (a que se juntava o salário de<br />

assistente no I.S.T.), no tempo em que Veiga Simão foi Ministro da<br />

Educação Nacional.<br />

Não consta que a Ditadura concedesse bolsas de estudo (de valor<br />

apreciável) para as pessoas se exilarem... Além de que até funcionava<br />

ao tempo o Instituto Superior de Psicologia Aplicada...<br />

Onde está afinal a noção de carácter desses ditos democratas dissimulados<br />

que por aí se pavoneiam e enriquecem à custa do Povo?<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” em 06/08/2004<br />

74


75<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

MIlhões Para vIaGens<br />

na asseMbleIa da rePúblIca<br />

É o tempo de se prepararem os orçamentos para 2005 nas empresas,<br />

no Estado e na Assembleia da República, os quais, para o bem<br />

e para o mal, se virão a reflectir no bolso de cada um de nós.<br />

Uma coisa é certa: quanto mais o Estado gastar, mais a população<br />

tem de pagar em impostos e em maus serviços por ele prestados.<br />

É notório o esforço que tem vindo a ser feito por alguns governantes,<br />

e que se louva, para inverter a situação em que o País caiu com<br />

tanto despesismo - nem sequer reprodutivo.<br />

Porém, começam a surgir sinais que me deixam preocupado. Um<br />

deles decorre da leitura que fiz num recente número do Diário de<br />

Notícias que escreveu a toda a largura da página: Assembleia<br />

vai gastar 2,2 milhões de euros em visitas ao estrangeiro.<br />

Não dá para acreditar! Então a contenção orçamental tem de ser<br />

feita apenas pelo Governo e pelas Famílias? E pela Assembleia da<br />

República, não?<br />

Para além disso, a imprensa diária tem vindo a referir que os deputados<br />

podem desdobrar os bilhetes de avião de forma a, com uma<br />

passagem de 1ª classe, poderem viajar 2 pessoas em turística. É a<br />

esposa, é o médico, é o amigo... acompanhante de idosos e não<br />

idosos... Enfim um fartote.<br />

Será que não ficaria bem aos deputados reconhecerem que também<br />

eles têm de fazer alguns sacrifícios e passarem a viajar na<br />

Europa (viagens de menos de 3 horas) em turística?<br />

Ficava-lhes bem e essa atitude até ajudava a melhorarem a imagem<br />

que têm perante a população, tão em baixo ela anda.<br />

Para além de que deve haver alguns deputados que fizeram o seu<br />

baptismo de vôo nessa qualidade. Estarei enganado? Nesses casos,<br />

não sabem nem saberão o que custa a vida... a não ser quando<br />

forem desalojados do parlamento.<br />

Acreditem que quem não faz sacrifícios não tem autoridade moral


para os pedir aos que pagam os seus impostos e sofrem no dia a<br />

dia as dificuldades de manter com dignidade uma família.<br />

Não pretendo aqui analisar o mérito das viagens dos parlamentares.<br />

Mas o certo é que se desconhece a razão por que há tantos<br />

deles a viajar e outro tanto se desconhece a utilidade de muitas<br />

dessas viagens, para além do encanto das visitas a outras terras e<br />

outras gentes.<br />

Pensem em reduzir drasticamente o número de viajantes e de missões,<br />

limitando-as ao essencialmente necessário para o País. Ponham<br />

de lado o apregoado prestígio do País que tanto despesismo<br />

tem gerado! Prestígio são as medalhas dos Jogos Olímpicos!<br />

Mas pensem nisto, de alto a baixo.<br />

Em termos de viagens presidenciais então, a partir do Dr. Soares, é<br />

ver quem mais quilómetros faz por esse mundo fora...<br />

Não resisto a reflectir ainda sobre o caso de um ex-Primeiro-Ministro<br />

que declarava mesmo que o seu maior prazer era o de viajar!<br />

E, então, orientou a sua vida nesse sentido! Abandonou o barco a<br />

meio do mandato, “encaixou-se” na Caixa como assessor (figura<br />

que dá para tudo e mais alguma coisa) para receber um alto salário<br />

e aí vai ele através da Internacional Socialista por esse mundo<br />

fora... Seria interessante saber quantos dias de trabalho efectivo o<br />

Eng. Guterres dá à Caixa por ano! Ou será que a I.S. tem a faculdade<br />

de poder ter como “destacado” ou em comissão de serviço<br />

esse alto funcionário?<br />

E, como nesta nossa terra já tudo é possível, também não se poderá<br />

estranhar que um conhecido fundador do CDS, agora convertido<br />

à “esquerda” se tenha “galpelizado”, até porque a idade da<br />

reforma começa a espreitar...<br />

Continuo a dizer que a política é uma actividade tão nobre como<br />

qualquer outra actividade profissional, mas não se deve esticar a<br />

corda....<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” em 03/09/2004<br />

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77<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

o hIno nacIonal no desPorto<br />

Naturalmente, segui com grande atenção o desenrolar dos Jogos<br />

Olímpicos de Atenas 2004.<br />

Uma vez mais, o mundo assistiu a dois espectáculos de grande<br />

nível cultural, por ocasião das cerimónias de abertura e de encerramento<br />

dos Jogos. Não fosse a Grécia detentora de uma cultura<br />

milenária riquíssima...<br />

Foram eles, na verdade, uma delícia para os nossos olhos que andam<br />

encharcados em “lágrimas” com tantas desgraças que assolam<br />

o mundo e que nos entram diariamente em casa, através das<br />

várias televisões nacionais e estrangeiras.<br />

Em termos de competições, a caixa mágica proporcionou-nos momentos<br />

de rara beleza na ginástica, de grande competitividade nas<br />

modalidades de equipa, no atletismo, na natação (que monstros a<br />

fazerem tempos inimagináveis), na canoagem, etc., etc.. Foi pena<br />

o que se passou com a equipa nacional de futebol, recheada de<br />

estrelas que, talvez pela sua juventude, se tenham esquecido de<br />

que há outras estrelas no mundo... O resultado viu-se: regressaram<br />

a casa mais cedo e sem honra. Mas esperemos que tenham<br />

aprendido a lição, os jogadores e os dirigentes!<br />

As medalhas alcançadas representam muito trabalho e uma fé indomável<br />

só própria de campeões que foram os que as receberam<br />

e aqueles a quem foram atribuídos diplomas de mérito. Parabéns<br />

para esses bravos rapazes.<br />

Não passou despercebida a ninguém a cena do “rapto” feito na<br />

ponta final da maratona ao nosso irmão do Brasil que a poderia<br />

ter vencido, não fosse o tresloucado do irlandês.<br />

E, tanto quanto li, o Vanderley Lima nem sequer se mostrou amargurado<br />

com o facto de ter sido prejudicado na sua classificação. A<br />

sua humildade deve ser realçada tal como a dos nossos Obikwelu,<br />

Sérgio Paulinho e Rui Silva que não precisaram de hotéis de 5 es


trelas como algumas estrelas americanas e se contentaram com o<br />

refeitório da aldeia olímpica, para demonstrar a sua grande classe<br />

mundial. Não esqueço a alegria com que aquele deu a volta ao<br />

Estádio com a nossa bandeira nacional. Ele que nasceu na Nigéria!...<br />

Há sempre, neste tipo de competições de alto rendimento, um pormenor<br />

que me chama a atenção e que é a cerimónia, sempre<br />

digna, do hino que é tocado com a proclamação dos vencedores<br />

das provas.<br />

Como disse atrás fiquei triste com o sucedido na maratona com o<br />

Lima. Mas, Deus é grande: quando se entoava o hino de Itália, a<br />

consagrar o vencedor dessa extenuante prova, era ver o medalhado<br />

com o ouro, Stefano Baldini, cantar o seu hino com uma garra<br />

fora do comum... Via-se que ele sabia a letra do hino e que tinha<br />

boa voz.<br />

Que diferença essa, em relação à maioria dos nossos internacionais<br />

de futebol!... E eles têm tido tantas oportunidades de demonstrar<br />

o seu amor à terra que os viu nascer!... Mas, diga-se, não lhes<br />

deve ser atribuída a culpa. Serão antes os professores, na escola,<br />

que se deverão preocupar com isso? Parece que sim.<br />

Publicado no jornal “Região de Águeda” em 03/09/2004<br />

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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

Parabéns... os 77 anos de Idade...<br />

Aos 6 anos de idade, a criança prepara-se para entrar na escola<br />

primária e assim começar uma vida de estudo e de afirmação.<br />

O jornal Região de Águeda afirmou-se logo como adulto. Parabéns<br />

pois ao dinamizador do projecto – um empresário de referência<br />

no difícil e exigente mundo da indústria, o Eng. Adolfo Roque -,<br />

à Direcção e a todos os seus colaboradores, pelo muito que deram<br />

em favor da divulgação cultural, empresarial e desportiva de tudo<br />

o que gira à volta de Águeda que tanto amamos.<br />

Há dias, a lei da vida fez com que completasse mais um ano - já<br />

são 77, que eu procuro levar de consciência tranquila. E resolvi<br />

“convocar” os meus filhos, noras e netos para um encontro familiar,<br />

precisamente na terra que me viu nascer, e que passou pelo<br />

excelente leitão do Vidal...<br />

Aproveitei assim a data para relembrar tempos idos, já que a seguir<br />

à escola do Adro, comecei a peregrinar por Aveiro, Coimbra<br />

e Lisboa.<br />

Quis mostrar aos meus netos, o Diogo e a Mariana, a escola onde<br />

aprendi a ler, escrever e contar com professores exigentes e muito<br />

competentes. A escola agora virou Biblioteca e Junta de Freguesia.<br />

E assisti à missa das 11h30, na igreja matriz, onde há cerca de 70<br />

anos eu, com o Afonso Guerra, ajudávamos monsenhor Bernardino<br />

nas celebrações eucarísticas.<br />

Fui, naturalmente, ao cemitério rezar uma oração pela minha Avó<br />

e pelos meus Pais. E percorri as ruas onde repousam tantos amigos<br />

com quem convivi, mais ou menos esporadicamente, ao longo do<br />

tempo.<br />

Fui ao cais das Laranjeiras recordar um rio onde até se podiam<br />

disputar provas de natação e se podia lavar a roupa (“Povo que<br />

lavas no rio...” escreveu Pedro Homem de Mello) tal a limpidez das


águas. Hoje, mete dó o estado dessas águas. Será que o Homem<br />

não é capaz de modificar esse estado de coisas? Gasta-se tanto dinheiro<br />

em coisas supérfluas... Já se não podem beber as “águas do<br />

Botaréu”. Passei pelo Hospital Conde de Sucena e recordei as figuras<br />

do Senhor Dr. Breda e do Dr. Mateus que, com outros distintos<br />

clínicos, tantas vidas salvaram e fizeram do mesmo um hospital de<br />

referência no País. Passei junto à Câmara Municipal e não pude<br />

deixar de recordar o velho campo de S. Sebastião, onde deram os<br />

primeiros pontapés na bola o Hernâni e o Adolfo... Hoje, o novo<br />

Estádio Municipal dá um ar de modernidade à cidade com o que<br />

nos devemos congratular.<br />

Passei pela Rua de Baixo e demorei-me algum tempo em frente<br />

do local onde o artesão e assumido benfiquista Xico Balreira fazia<br />

prodígios da madeira. E a ele associei a memória do notabilíssimo<br />

pintor João Breda.<br />

De passagem, olhei com desgosto para o local que serviu de sede<br />

ao Orfeão onde actuei no seu Rancho Infantil. Prédio em completa<br />

degradação. Até me pareceu que estava em Lisboa, onde existem<br />

muitos prédios nesse mesmo estado.<br />

Que saudades senti dos pastéis da Gininha do Candeeiro no caminho<br />

para o Palácio da Justiça que o Conselheiro Orlando Gomes<br />

da Costa fez construir em Águeda para substituir instalações muito<br />

degradadas ao tempo e que não prestigiavam a Justiça! Obrigado<br />

Orlando.<br />

Era lá que se situava a muito conceituada Escola Técnica que tantos<br />

profissionais competentíssimos “produziu”. Hoje, há mais escolas<br />

secundárias. Sinal de progresso. Só espero que o seu nível seja<br />

conforme as necessidades do exigente mercado de trabalho.<br />

Águeda sempre marcou pontos no mapa industrial português. Valente<br />

de Almeida, Silva & Irmão, etc., etc. não podem ser esquecidos.<br />

Mas hoje, basta dar uma volta pelo raso de Paredes, Assequins,<br />

Vale de Grou, para se ver a pujança do sector. Pode dizer-se<br />

que, em Águeda, se faz de tudo para uma casa. E eu sempre fiz<br />

questão de ter em minhas casas os materiais made in Águeda que<br />

mostro com orgulho aos que me visitam.<br />

Dizer que gostava mais da Águeda do meu tempo do que da de<br />

agora não digo. Mas que tenho saudades dela, lá isso tenho.<br />

Continuam os aguedenses a ser essencialmente individualistas?<br />

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81<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

Isso não pode dar bons frutos. Há quanto tempo não há um Presidente<br />

da Câmara, de Águeda? Sem que isso desmereça quem devotadamente<br />

exerce as funções. Longe de mim esse sentimento.<br />

Publicado no jornal “Região de Águeda” de 29/10/2004


a Morte de uM líder - yasser arafat<br />

O Mundo assistiu à agonia de um líder que muito se distinguiu nas<br />

lutas, terroristas e diplomáticas, por um Estado independente – a<br />

Palestina. A comunicação social dedicou horas e horas, em especial<br />

a realçar as virtudes do cidadão, não sem deixar de aflorar uma ou<br />

outra mancha devida às actividades terroristas, a que também se<br />

dedicou. Uma coisa é a luta democrática em que vale quase tudo<br />

desde a argumentação mais ou menos séria até à própria mentira.<br />

Pode não se concordar com isso, mas é assim mesmo. Outra coisa<br />

é lutar-se com tiros, desvio de aviões e bombas que atinjam inocentes<br />

quer se trate de crianças quer de adultos.<br />

Sem querer entrar na discussão do que é legítimo ou não é, em<br />

termos de luta pelo poder, designadamente por uma independência,<br />

confesso que detesto a luta armada onde quer que ela se pratique,<br />

a não ser em defesa dos sagrados interesses da Pátria.<br />

Pois bem. Morreu Yasser Arafat que eu vi de perto.<br />

Sentados na tribuna do Estádio Lenine, em Moscovo, em 1973,<br />

a assistirmos à cerimónia de inauguração da Universíada (Jogos<br />

Mundiais Universitários), ficamos a 1m de distância conforme se<br />

vê na foto junta. Ele não falou com ninguém à sua volta a não ser<br />

com o seu assessor (ao seu lado). Aparentava ser o mais pacífico<br />

dos cidadãos.<br />

Da outra vez que dei pela sua “presença”, estava eu no apartamento<br />

da Delegação portuguesa na Aldeia Olímpica de Munique,<br />

nos Jogos de 1972, que ficava a uns 50 m do apartamento da Delegação<br />

israelita. E assisti, por fora, ao desenrolar do drama que<br />

levou ao assassínio de uma dúzia de atletas de Israel e a que se<br />

associou, na altura, o braço do agora celebrado falecido.<br />

Não mais esqueci essas imagens. Que Arafat descanse em Paz.<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 26/11/2004<br />

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83<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

Arafat na Universíada de Moscovo - 1973


a toMada da bastIlha<br />

Em 25 de Novembro de 1920, um grupo de bravos estudantes de<br />

Coimbra tomou de assalto a Casa dos Lentes, em plena Alta da<br />

cidade, e dela fez a sede da Associação Académica de que tenho<br />

gratas recordações.<br />

Em Lisboa, todos os anos se comemora essa data, com a presença<br />

de umas boas centenas de antigos estudantes que tomam por sua<br />

conta o Casino do Estoril, através da Associação presidida pela<br />

dinâmica Drª Fátima Lencastre.<br />

No passado sábado assim foi também. É a altura de se reverem<br />

velhas amizades e de se recordarem cenas de outros tempos a<br />

maioria das quais nos fazem parecer que ainda somos jovens. Pelo<br />

menos de espírito.<br />

Tive por companhia, na mesa 34, os Professores Almeida Costa<br />

e Veiga Simão, com as suas simpáticas Senhoras, uma delas, a<br />

Zinha, nossa conterrânea com quem tive ocasião de recordar os<br />

tempos de escola primária, dos passeios no Botaréu, dos lanches<br />

na Pauliceia. Ouvir o Prof. Veiga Simão falar de temas universitários,<br />

de alta tecnologia, da política americana, etc., etc. é uma<br />

delícia. Ouvir o Prof. Almeida Costa falar de coisas que ele bem<br />

conheceu por dentro fez com que a noite fosse curta para tanto<br />

saber feito de experiência e estudo<br />

Sim, porque hoje ouvem-se acima de tudo “bocas”, pouca coisa<br />

sustentada em estudos rigorosos e credíveis. Só que essas “bocas”<br />

alimentam a sofreguidão das lutas partidárias, mas não fazem escola<br />

- até porque já há muita gente que está farta da ignorância<br />

e, até, da má fé de muitos palradores que pululam na sociedade<br />

portuguesa.<br />

Falar com gente que sabe, que tem conhecimentos baseados em<br />

estudos independentes e sérios, constitui um privilégio para quem<br />

tem essa sorte, como é o meu caso.<br />

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85<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

O espectáculo com que a Associação brindou os seus sócios teve<br />

por base os Antigos Tunos da Universidade de Coimbra que, sob a<br />

batuta do Maestro Augusto Mesquita, interpretaram lindos trechos<br />

musicais, tendo mesmo a sua Orquestra de Tangos trazido para o<br />

palco “La Cumparsita” e outras melodias tão do agrado da vetusta<br />

assistência.<br />

A Tuna, que muito deve ao Prof. Políbio Serra e Silva, grande médico<br />

e cientista, era composta por algumas dezenas de antigos e<br />

actuais estudantes da Universidade de Coimbra, com idades compreendidas<br />

entre os 18 e os 80 anos!...<br />

Foi justa a homenagem que a Associação dos Antigos Estudantes<br />

de Coimbra em Lisboa prestou, na ocasião, àquele distinto Professor.<br />

Durante o espectáculo, retive uma historieta contada pelo Tito<br />

Costa Santos. Lembrou ele que, enquanto caloiro dos anos ‘50,<br />

estava com vários colegas na Alta, com as obras em curso para os<br />

novos edifícios universitários, quando se aperceberam de que estava<br />

a chegar um Governante, no caso, o Subsecretário de Estado<br />

das Obras Públicas, Eng. Alberto Saraiva e Sousa. Com ele vinham<br />

outros dignitários do Estado, cujos motoristas ali ficaram, junto aos<br />

carros, à espera que a visita às obras terminasse. Logo houve um<br />

estudante que se apercebeu de que, no automóvel do membro do<br />

Governo, estava no banco da frente uma caixa com charutos... Era<br />

pois uma presa com bastante interesse...<br />

Assim, um dos estudantes convidou os motoristas para tomarem<br />

uma bica, o que foi recusado, uma vez que eles não se podiam<br />

afastar das viaturas. Só que, em tom convincente, a malta comprometeu-se<br />

a mobilizar ali mesmo uns caloiros para tomarem conta<br />

dos carros enquanto eles fossem tomar a bica. E lá os convenceram.<br />

Escusado será dizer que os charutos foram parar a boas mãos,<br />

tendo sido substituídos, numa prova de boa vontade, por uns cigarritos.<br />

Quando o Eng. Saraiva e Sousa chegou ao automóvel logo se<br />

apercebeu da situação. Mas, com grande fair play, gracejando,<br />

ofereceu uma outra caixa de charutos aos estudantes que o haviam<br />

“roubado”... Essa caixa (só a caixa) ainda hoje está na posse<br />

do Tito!


Assim se divertiam os estudantes nesses recuados anos ’50. Hoje<br />

divertem-se a fechar a Universidade a cadeado, a invadir o Senado<br />

e a insultarem o Magnífico Reitor...<br />

Saímos do Casino do Estoril, alta madrugada, com as belas vozes<br />

– já no outono embora – do Luiz Goes, Almeida Santos, Alcindo<br />

Costa... a recordarem-nos as serenatas do nosso tempo.<br />

Publicado no jornal “Região de Águeda” de 26/11/2004<br />

e no boletim de Dezembro de 2004, “Capa e Batina”.<br />

Comemoração da Tomada da Bastilha - 1990<br />

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ProGresso? retrocesso?<br />

87<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

A democracia está instalada no nosso País já lá vão 30 anos. Reconhece-se<br />

que, de uma maneira geral, a maioria das pessoas não<br />

põe em causa a liberdade de que goza.<br />

Quanto ao resto, os analistas e os fazedores de opinião debruçam-<br />

-se a fazer os seus raciocínios sobre se o País está ou não melhor<br />

do que no tempo da ditadura.<br />

Normalmente, aqueles que só vêem virtudes na democracia – e<br />

tem muitas – apregoam que o País está muito melhor. Falam em<br />

auto-estradas, em novos hospitais, em muitas universidades e politécnicos,<br />

em mais dinheiro na carteira, etc., etc.<br />

Mesmo os que não são fervorosamente democratas, ainda que a<br />

contra gosto, compreendem que assim é. Mas será que o acesso à<br />

saúde melhorou nestes 30 anos? Parece que sim.<br />

Será que nas escolas básicas e secundárias se ensina melhor? Temos<br />

dúvidas.<br />

Será que temos mais licenciados? Não resta qualquer dúvida, mas<br />

para quê, se bastantes estão desempregados e até há cursos que<br />

estão desertos por falta de procura e sem relação com o trabalho?<br />

Será que os professores são melhores e que estão mais bem preparados?<br />

Uns tantos, certamente, outros obtêm créditos de promoção<br />

que nada têm a ver com o seu curso. “Fabricam-se” mestrados<br />

e doutoramentos só para se justificarem cursos que depois ficam<br />

desertos de alunos. Mas, apesar disso, os professores têm de ser<br />

pagos.<br />

Será que, em termos de solidariedade social, se melhorou? Indubitavelmente,<br />

e especialmente quanto à classe política, autárquica<br />

e sindical. Seria impensável atribuir reformas, pela totalidade, a<br />

políticos com apenas 4, 8 ou 12 anos de “serviço público”. O mesmo<br />

se diria relativamente a autarcas a quem basta terem exercido


funções durante 20 anos, para terem a reforma por inteiro. Para<br />

essas reformas por inteiro, pagas à custa do erário público, ou<br />

seja, com o dinheiro de todos nós, não se torna necessário fazer<br />

os descontos durante os 36/40 anos e que são obrigatórios para<br />

outro qualquer vulgar cidadão deste País.<br />

Será que o País lucra alguma coisa com o despesismo, com tantas<br />

viagens ao estrangeiro de tantos políticos, a começar pelos últimos<br />

PR’s, que se consolaram certamente, muitas das quais de duvidosa<br />

utilidade para Portugal, cada vez mais afastado do pelotão da<br />

frente?<br />

Aos mais altos ex-dignitários do Estado, com mandatos completos<br />

ou não (?), concedem-se-lhes mordomias de viatura, motorista,<br />

secretária e gabinete. Como compaginar isso com os elogios aos<br />

intérpretes da primeira República? Para já não falar num Primeiro-Ministro<br />

que, depois de abandonar o barco, é anichado, devidamente<br />

motorizado, pelo seu sucessor, no banco estatal, onde<br />

pouco deve pôr os pés, na medida em que a família política em<br />

que está inserido reclama a sua presença na estranja. E a que corresponde<br />

um salário de alguns milhares de euros... e, mais tarde,<br />

uma reforma das tais que envergonham Bagão Félix.<br />

Os funcionários públicos viram melhoradas as suas condições remuneratórias?<br />

Certamente hoje recebem bastante mais, mas também<br />

gastam mais e até têm de pagar o IRS, o que não sucedia<br />

antes.<br />

A justiça está melhor? Não obstante os magistrados terem passado<br />

a ser os “funcionários” mais bem pagos relativamente aos outros,<br />

com a emancipação do ministério público da magistratura judicial,<br />

e a continuarem todos a ter direito a 3 meses de férias, nem sequer<br />

me atrevo a dar opinião.<br />

Comparemos o que é comparável. Ao fim e ao cabo, com os progressos<br />

verificados, e são muitos e variados, seria natural que a<br />

conclusão a tirar do curso dos 30 anos de democracia colocasse<br />

Portugal, ao menos, na mesma escala de valores de 1974, ou seja,<br />

a par com a Espanha, e acima da Irlanda e da Finlândia e muito<br />

acima da Grécia... A realidade, porém, mostra-nos que apenas a<br />

Grécia oscila connosco no último lugar da Europa dos 15, tendo<br />

os outros países “descolado” há muito. E há países do Leste que<br />

também já estão à nossa frente, caso da Eslovénia, por exemplo.<br />

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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

Para exemplificar o nosso afastamento da Europa autêntica, apesar<br />

de nela integrados, refiro que estive há dias em Bruxelas, a convite<br />

de uma organização internacional. No hotel onde fiquei instalado,<br />

que não era de topo de gama, só o quarto custava, por dia, um<br />

valor que apenas permitiria que eu só lá estivesse alojado durante<br />

5 dias num mês, se o tivesse de pagar com a minha pensão de<br />

reforma que, diga-se, é das mais altas do antigo funcionalismo<br />

de carreira.<br />

Será bom que todos nós reflictamos na situação grave por que<br />

passa o País – que está doente – para ver se se consegue dar a<br />

volta...<br />

O português médio é bom trabalhador desde que os exemplos<br />

venham de cima e o entusiasmem.<br />

Por isso, sou dos que acreditam que, com trabalho sério e sem<br />

corrupção, se poderá avançar!...<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 24/12/2004


catástrofes naturaIs<br />

Ao longo dos tempos, desde que o mundo é mundo, sempre houve<br />

catástrofes naturais com maior ou menor dimensão.<br />

Normalmente, delas resultaram vítimas humanas e prejuízos materiais<br />

incalculáveis<br />

O buraco do ozono tem sido responsabilizado, nos últimos tempos,<br />

por grandes inundações, furacões, etc. que tudo arrasam nas<br />

mais variadas regiões do globo. Os media, com destaque para as<br />

televisões, dão-nos hoje em dia, o retrato dessas situações que<br />

nós consideramos tanto mais dramáticas quanto mais perto de nós<br />

elas se passam.<br />

O que se passou recentemente no sudoeste asiático, com muitos<br />

milhares de mortos e desaparecidos, despertou pelo mundo fora<br />

uma onda de solidariedade notável, a par de alguns comportamentos<br />

indignos da pessoa humana.<br />

Louvavelmente, Portugal também lá está a actuar, no sentido de<br />

ajudar a minorar os estragos causados naquelas populações indefesas.<br />

Ainda bem. Louvemos os voluntários que estão a dar o seu<br />

melhor.<br />

Qualquer cidadão responsável pára um bocado no seu dia a dia e<br />

fica a pensar na desgraça dos outros e também no que em Portugal<br />

sucedeu de muito gravoso, no domínio das forças da natureza.<br />

O terramoto de 1755 não pode deixar de ser associado às imagens<br />

que, agora, as televisões nos oferecem em doses maciças. E,<br />

mais recentemente, quem não se lembra das inundações na zona<br />

de Odivelas no inverno de 1967/68? Quantas desgraças sucederam<br />

só nesses dois fenómenos naturais!...<br />

Sobre esta última catástrofe, um ex-Ministro de Salazar contou-me<br />

que, em reunião do Conselho de Ministros dedicada ao assunto, o<br />

Ministro da Economia, Dr. Correia de Oliveira, fez uma exposição<br />

de tal forma dramática sobre as vítimas das enxurradas que se co-<br />

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91<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

moveu fortemente! E mais disse que estavam a ser recebidas bastantes<br />

manifestações de solidariedade por parte de outros países<br />

amigos, com promessas de auxílio às vítimas e à reconstrução.<br />

Salazar, no final dessa exposição, virou-se para o Ministro das Finanças,<br />

Dr. Ulisses Cortez, e perguntou-lhe se, não obstante o esforço<br />

de guerra que era muito pesado, as finanças públicas tinham<br />

capacidade para resolver, por si só, a situação.<br />

Tendo a resposta sido afirmativa, Salazar recomendou que, sem<br />

qualquer ponta de arrogância, o governo português agradecesse<br />

esses apoios, mas que entendia que eles seriam bem mais necessários<br />

noutros países muito carenciados…<br />

Curiosamente, a poderosa Índia acaba de tomar idêntica postura<br />

face às consequências do tsounami que também a atingiu!<br />

É caso para nos interrogarmos sobre se seria possível, a Portugal,<br />

tomar hoje essa mesma posição face a uma calamidade parecida<br />

com a da década de ’60.<br />

Publicado no jornal “Região de Águeda” de 14/01/2005


deseMPreGo e ProGraMa do Governo<br />

1. O desemprego…<br />

Ouvi há dias, na rádio, parte de uma entrevista feita a um jovem<br />

deputado eleito recentemente para S. Bento, não sei por que partido.<br />

Disse ele:”acabei agora o meu curso de geologia, andava à procura<br />

de emprego e desafiaram-me para integrar a lista de deputados<br />

o que eu aceitei.” Eu nem queria acreditar no que estava a<br />

ouvir…<br />

Assim, aí temos um deputado à AR sem qualquer experiência sobre<br />

o que é trabalhar no dia a dia, ainda que não por culpa dele.<br />

Certo é que o desemprego que grassa na juventude com estudos<br />

superiores, devido em especial a uma demagogia enorme na<br />

criação de cursos, muitos deles sem interesse algum para o mercado<br />

de trabalho, se deve essencialmente ao sistema corporativo<br />

em que se transformaram algumas classes profissionais. Como a<br />

dos professores doutores: quanto mais alunos houver, mais e mais<br />

professores são necessários e mais financiamento o Estado terá de<br />

assegurar, sem se cuidar de saber qual o impacto que esse financiamento<br />

terá na economia real do País. E que não será brilhante<br />

certamente.<br />

Pois bem, não se deve é combater o desemprego sem olhar a<br />

meios. E o desemprego só se combate com a criação de novos<br />

postos de trabalho produtivo o que, naturalmente, cabe às empresas<br />

fazer e de que temos excelentes exemplos<br />

Pelos vistos, porém, a política continua a ser um excelente e rendoso<br />

empregador. E quem paga estes “estágios”, sem retorno para<br />

o bem público, na AR? O contribuinte, claro está. Ao menos, este<br />

deputado vai experimentar a sensação de pagar uma bica por metade<br />

do preço que se paga ao balcão de qualquer estabelecimento<br />

de restauração… Para começar não é mau de todo.<br />

2. A avaliação do desempenho …<br />

Cada vez vejo menos televisão, recheada que está de lugares comuns<br />

e exploração da miséria alheia e sensacionalismos como são<br />

92


93<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

muitos dos telejornais. Refugio-me nas transmissões de eventos<br />

desportivos internacionais, em programas musicais e culturais bem<br />

como numa ou noutra telenovela portuguesa. E como gosto de<br />

recordar matérias que estudei quando jovem e de aprender mais<br />

alguma coisa, vejo com regularidade o concurso “Um contra todos”<br />

da RTP1.<br />

Um destes dias dou com uma senhora professora de físico-químicas<br />

a ter de escolher uma de três respostas para a pergunta:<br />

quantos graus tem um ângulo recto? 90, 180 ou 0 graus? E não é<br />

que a senhora não acertou!...<br />

Assim, como é que se pode exigir mais aos alunos que são ensinados<br />

por professores com este nível científico/cultural?<br />

Felizmente, porém, que existem muitos belíssimos professores no<br />

ramo das ciências. Só que ganham todos o mesmo, quer sejam<br />

competentes quer sejam menos competentes.<br />

A avaliação do mérito tem de ser considerada um meio essencial<br />

para se alcançar o objectivo da excelência.<br />

O tempo do salário igual para trabalho igual deve ser substituído<br />

pelo tempo do salário igual para desempenho igual, nas diferentes<br />

gradações organizacionais.<br />

3. Programa de Governo…<br />

Acabo de ouvir o discurso de José Sócrates de apresentação do<br />

programa de governo. Foi feito em estilo tenso, de quem parecia<br />

estar zangado com a vida, mas com muita convicção. Nele se contém<br />

uma catadupa de boas ambições e uma fartura de promessas<br />

de interesse. Tratou-se de um discurso destinado a um povo<br />

adulto, civilizado e não corporativo. Bom sinal. Dele destaco a intenção<br />

de redução das férias judiciais pelo impacto que pode ter<br />

no andamento da justiça. Aguardemos pela resposta da respectiva<br />

corporação.<br />

Em suma, gostei de quase tudo o que ouvi. Agora aguardo pelos<br />

desenvolvimentos com esperança de que o País melhore sem fracturas.<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” em 01/04/2005


InIcIação desPortIva na escola<br />

Participei há dias numa cerimónia, realizada na sede do Comité<br />

Olímpico de Portugal, de grande significado para a iniciação desportiva<br />

na Escola.<br />

Tratou-se da assinatura de um Protocolo estabelecido entre a Federação<br />

Portuguesa de Basquetebol e a COMPAL.<br />

Nessa parceria que foi apadrinhada pelo novo Secretário de Estado<br />

da Juventude e Desporto, Dr. Laurentino Dias, na sua primeira<br />

intervenção pública como governante, e pelo Presidente do COP,<br />

Com. te Vicente de Moura, os Presidentes da COMPAL, Dr. A. Pires<br />

de Lima, e da Federação de Basquetebol, Mário Saldanha, foi firmado<br />

um compromisso do maior interesse para a juventude.<br />

Nele, aponta-se para a mobilização, em 2005 e 2006, de 639<br />

escolas espalhadas pelo País onde se fará a movimentação de<br />

500.000 alunos, com idades entre os 10 e os 17 anos, enquadrados<br />

por 5.000 agentes de ensino, tudo à volta do basquetebol 3<br />

contra 3.<br />

O envolvimento do Departamento do Desporto Escolar do Ministério<br />

da Educação é fundamental para o êxito deste projecto.<br />

É com acções desta magnitude que o desporto português se pode<br />

desenvolver, até porque da quantidade, naturalmente, sai a qualidade.<br />

Mas, acima de tudo, o 3 contra 3 é uma excelente forma<br />

de se ter a juventude ocupada numa actividade sã e não ocupada<br />

com muitos dos deseducativos programas que a TV lhe proporciona<br />

no dia a dia em que ela, a maioria das vezes, está só em casa<br />

enquanto os pais ou estão no trabalho ou a fazer compras.<br />

É claro que as condições para a boa prática do basquetebol passam<br />

pela existência de pavilhões gimnodesportivos. E sabemos que, infelizmente,<br />

nem todas as escolas os possuem. Mas tem-se progredido<br />

alguma coisa nesse domínio. Esperamos que este projecto<br />

contribua também para levar os governantes a proporcionar boas<br />

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95<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

condições para a prática desportiva aos jovens que frequentam as<br />

escolas públicas. Seguindo aliás o exemplo das escolas privadas.<br />

Temos esperança nos resultados desta acção de massificação do<br />

basquetebol. Força para os coordenadores da acção!<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 15/04/2005


vIaGens de PolítIcos e da IGreja<br />

A situação económico-financeira do País é deveras preocupante de<br />

há uns anos para cá. E, pelos vistos, o remédio não vai ser encontrado<br />

com facilidade pelo ministro das Finanças.<br />

Para se chegar a esta situação, muito contribuíram os políticos que<br />

nos têm vindo a governar, muitos autarcas incluídos. Na medida<br />

em que não souberam resistir à ideia do despesismo fácil e, porque<br />

não, irresponsável.<br />

Tem de se reconhecer que nem todas as despesas públicas implicam<br />

um retorno económico imediato. É o caso das despesas sociais<br />

com a pobreza reconhecida factualmente e não fraudulenta, como<br />

continuam a surgir notícias nesse sentido.<br />

O Estado não se coíbe de distribuir fontes de despesa como é o<br />

caso das viaturas de alta cilindrada em situações cuja justificação<br />

é mais que duvidosa. É agora o caso dos conselheiros do Tribunal<br />

Constitucional. Perguntar não ofende. Mas talvez haja uma resposta<br />

convincente para esta dúvida. Só que ninguém se digna dá-la. E<br />

os carros dos “ex-qualquer coisa” continuam…<br />

Bom seria que o Estado procedesse à avaliação dos custos/benefícios<br />

das acções que promove.<br />

A começar pela Presidência da República. Com Mário Soares e<br />

Jorge Sampaio, as despesas com viagens ao estrangeiro dispararam<br />

em flecha. Mesmo as viagens com empresários às dezenas<br />

suscitam reservas até porque nem todos, pelo seu comportamento<br />

empresarial, mereceriam sequer embarcar no avião.<br />

Uma coisa é certa: não é por falta de acções de relações públicas<br />

dos PR’s que o País não devia estar melhor situado nos índices de<br />

consideração internacional e que, infelizmente, são cada vez mais<br />

arrasadores. Já alguma vez um PR pensou em fazer um balanço<br />

sério sobre a utilidade dos gastos que cada viagem proporcionou<br />

ao Povo português? Talvez chegasse, com facilidade, à conclusão<br />

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97<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

de que esses gastos foram desproporcionados relativamente à intenção<br />

de afirmação de Portugal no mundo.<br />

Ser miserabilista, nunca! Ser gastador, para mais em demasia, é<br />

pecado. Mas não sei se o agnosticismo entende o que é pecar. É<br />

que custa bastante pagar impostos; e mais custa saber que parte<br />

deles é esbanjada com falsas vaidades, designadamente com os<br />

Falcon’s sempre no ar…<br />

Como aquela de que acaba de ser “vítima” o Senhor Cardeal Policarpo!<br />

Eu explico: com a morte do Santo Padre João Paulo II – um<br />

Papa cuja acção será difícil esquecer nos tempos que aí vêm – era<br />

natural que D. José tivesse de se deslocar ao Vaticano. Mas, pelos<br />

vistos, nem houve urgência nessa deslocação. Pois bem, o nosso<br />

venerando PR J. Sampaio estendeu-lhe o tapete que foi a oferta de<br />

uma viagem especial num Falcon da Força Aérea. Eu ainda compreendia<br />

que o PR o convidasse para o acompanhar nessa viagem.<br />

Mas não foi esse o caso. Não gosto de confusões! E a Igreja deveria<br />

saber resistir a “esmolas” destas… Diariamente há carreiras<br />

aéreas para Roma e uma passagem em classe executiva serviria<br />

perfeitamente ao Senhor Cardeal…<br />

Quanto custou aos contribuintes esta viagem de falso prestígio do<br />

Falcon?<br />

Registe-se, contudo, a magnanimidade de um PR laico e agnóstico<br />

para com o seu opositor na questão do aborto! O Senhor Cardeal<br />

deveria ter presente que, com políticos, não há almoços grátis…<br />

Não resisto aqui a relatar o que observei acerca de 2 conhecidos<br />

Bispos portugueses. Nas minhas deslocações semanais entre Lisboa<br />

e Porto, ao longo de anos, cruzei-me com gente de todas as<br />

condições sociais. Numa delas, a caminho do Porto, ao percorrer o<br />

Alfa-Pendular, para esticar as pernas, dou com o emérito Bispo de<br />

Setúbal sentado numa carruagem Turística. Passados alguns dias,<br />

no mesmo percurso, deparei-me com o Bispo das Forças Armadas<br />

numa carruagem Conforto. Não se trata de uma crítica, apenas do<br />

registo de comportamentos.<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 22/04/2005


é boM sonhar, Mas coM os Pés no chão…<br />

Portugal tem vindo a ser citado, em termos estatísticos relativos<br />

aos diversos índices, nos últimos lugares dos países europeus. O<br />

que se lamenta naturalmente. E se fica a dever, em grande parte,<br />

aos governos que temos tido, todos eles, ainda que a uns mais do<br />

que a outros, na medida em que não têm conseguido alterar a<br />

mentalidade dos portugueses em geral, para além das asneiras<br />

praticadas, quer por incompetência, quer por uma certa mediocridade<br />

política.<br />

Não obstante esta realidade, os portugueses não desperdiçam<br />

uma oportunidade para se considerarem “os maiores”: vai haver<br />

eleição para Presidente do Parlamento Europeu, logo se perfila um<br />

político polivalente sempre à tona de água - o Dr. Soares – mas<br />

o certo é que acaba por ser eleita uma francesa (de quem Soares,<br />

depreciativamente, disse que seria uma boa dona de casa…); vai<br />

vagar o lugar de secretário-geral da NATO, logo se perfila um português,<br />

de real mérito – o Dr. Vitorino - mas o certo é que acaba<br />

por ser escolhido um inglês; morre um grande Papa, João Paulo<br />

II, logo uns tantos perfilam D. José Policarpo, como o candidato<br />

ideal, mas o certo é que foi eleito um outro Cardeal, precisamente<br />

o alemão D. J. Ratzinger. Está em aberto a escolha do novo Alto<br />

Comissário para os Refugiados, logo se perfila um político que entregara<br />

à oposição o pântano em que deixou o País – o Eng. Guterres.<br />

Como português, espero que ele vença esta competição que<br />

tem mais 7 candidatos. Para quem tem a ambição de uma carreira<br />

internacional que permite muitas viagens à borla, não compreendemos<br />

a razão que o levou a recusar (?) o lugar de Presidente da<br />

Comissão Europeia. Ou seria porque, na altura, o candidato favorito<br />

era, sem dúvida, o espanhol Aznar? Neste lugar, de desistência<br />

em desistência, acabou por se sentar um português – Dr. Barroso<br />

– a quem naturalmente desejo boa sorte.<br />

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99<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

Já agora, não posso deixar de registar o bom desempenho que<br />

teve o Dr. Cutileiro à frente da OSCE, assim como me lembro da<br />

passagem do doutor Amaral pela presidência da Assembleia Geral<br />

das Nações Unidas, em que ele tudo terá feito para tentar “refundar”<br />

a ONU, convencido de que era ele o Secretário Geral. Enfim<br />

mania das grandezas que, a somar a outras atitudes anti-Bush,<br />

deram como resultado que, em recente visita a Portugal do Subsecretário<br />

de Estado americano, este recusou deslocar-se ao Ministério<br />

dos Negócios Estrangeiros… e foi só a S. Bento onde o doutor<br />

Amaral teve de se deslocar.<br />

Acabo de ter conhecimento da rápida eleição do novo Papa Bento<br />

XVI ao 2º dia de votações no Conclave.<br />

E logo tive de ouvir as opiniões de uns tantos laicos / agnósticos /<br />

não crentes, a começar por Soares, Louçã e Sousa Tavares. Este,<br />

bem acolitado pela pivot da TVI, Moura Guedes, parecia estar a<br />

“julgar” o Cónego Rêgo que não partilhava dos ataques de Tavares/M.Guedes<br />

à figura do Cardeal Ratzinger. Mas quem julgam<br />

que são estes senhores não crentes perante a dimensão intelectual,<br />

cultural e mundial do novo Papa?<br />

O novo Pontífice, bem auxiliado pela Cúria Romana, saberá certamente<br />

retomar em mãos o legado de João Paulo II, para bem da<br />

humanidade. Assim o esperamos.<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 29/04/2005


forças arMadas e a unIversIdade<br />

Lembro-me de ter tido uma conversa com o Prof. Veiga Simão,<br />

quando ele desempenhava as funções de Ministro da Defesa, lá<br />

para 1998, em que me referiu que estava a trabalhar num projecto<br />

de que resultaria a criação da Universidade das Forças Armadas.<br />

Esse projecto implicaria naturalmente uma racionalização de recursos<br />

humanos e logísticos existentes, na medida em que essa<br />

futura Universidade coordenaria o, aliás notável, “espólio” do Instituto<br />

dos Altos Estudos Militares (Exército) e dos Institutos Superior<br />

Naval de Guerra e de Altos Estudos da Força Aérea, bem como das<br />

Academias Militar e da Força Aérea e da Escola Naval. O que essa<br />

racionalização induziria em termos de capacidades, de eficiência,<br />

de melhoria de qualidade e de custos é bem fácil de avaliar.<br />

E se alguém tinha competência e autoridade intelectual para desencadear<br />

e implementar um projecto dessa importância esse alguém<br />

era, sem dúvida, o responsável pela criação da Universidade<br />

de Lourenço Marques nos idos anos de ’60, aliás contra a corrente<br />

política dominante ao tempo, mas que, ao contrário, teve o aval<br />

final de Salazar. Ele acreditou no jovem professor doutorado em<br />

Física em Cambridge e com 20 valores em Coimbra. E Moçambique,<br />

sabe-se, muito reconhecida está ao primeiro Reitor da sua<br />

Universidade, como o demonstrou ainda recentemente.<br />

Para além de ser uma autoridade reconhecida nos domínios da<br />

Educação, quer a nível nacional quer a nível internacional, Veiga<br />

Simão viu esse sonho, mais um, que tão útil seria certamente para<br />

as Forças Armadas, adiado e mandado para a gaveta com a sua<br />

substituição no Ministério da Defesa, por Jaime Gama. O curioso é<br />

que esse projecto foi mesmo aprovado em Conselho de Ministros<br />

que depois o enviou para a Assembleia da República onde ficou<br />

“sepultado”. Ao falar aqui da figura do Prof. Veiga Simão, bom<br />

seria que o primeiro-ministro Guterres explicasse seriamente as<br />

100


101<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

razões por que deixou cair o Prof. Veiga Simão e que só uma cobardia<br />

sem nome e uma partidarite aguda de gente medíocre procuraram<br />

e procuram esconder ao País. Espero bem que em breve<br />

a acção desenvolvida ao tempo pela Procuradoria Geral da República<br />

possa ver a luz do dia…<br />

Mas adiante!<br />

Acabo de ler que o tal projecto estará a ser recuperado pelo actual<br />

Ministro da Defesa. Assim sendo, bom será que ele seja capaz de<br />

o pôr de pé em boas condições e com a dignidade que o assunto<br />

merece.<br />

Tudo isto para dizer que há Homens com visão estratégica esclarecida<br />

e competência que, por vezes, até parece que incomodam<br />

a mediocridade que grassa na política caseira. Veiga Simão é um<br />

deles!<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” em 20/05/2005<br />

O Ministro da Educação, Veiga Simão (ao centro),<br />

em visita à Casa do Desporto, no Porto, em 1972


uM “charro” no dubaI …<br />

Há um Homem de que nos devemos orgulhar que é o Embaixador<br />

António Monteiro, que foi ministro dos Negócios Estrangeiros do<br />

governo cessante e que, pelos vistos, está actualmente na “prateleira”<br />

daquele ministério.<br />

As suas qualidades de diplomata de eleição, amplamente demonstradas<br />

ao longo da sua carreira (Angola, Nações Unidas…) vieram<br />

uma vez mais ao de cima na tentativa, bem sucedida, de libertar<br />

um português, I. Ferreira – pelos vistos actor/cineasta de enormes<br />

méritos, mas que eu e muitos dos meus amigos desconhecíamos<br />

– o qual, não sendo já sequer um adolescente, cometeu um crime<br />

em país de rigorosos costumes no domínio das drogas.<br />

As relações pessoais estabelecidas pelo Embaixador por esse mundo<br />

fora contribuíram decisivamente para o “milagre” da libertação,<br />

em escassas semanas, da detenção daquele consumidor de droga<br />

que, por muito importante que seja no mundo do cinema, não<br />

pode constituir exemplo a seguir pela nossa juventude.<br />

Diga-se ainda que o prestígio de António Monteiro por aquelas<br />

bandas subiu tão alto que nem sequer o deixaram pagar o hotel, a<br />

viatura e o motorista usados durante a estada no Golfo.<br />

E, já agora, ocorre perguntar porque razão o Doutor Amaral não<br />

apela a um dos seus diplomatas de confiança para tratar do caso<br />

do piloto ainda retido na Venezuela. Dado que o actual governo é<br />

de esquerda certamente que tem boas condições para pressionar<br />

o também de esquerda, e talvez democrático, governo de Hugo<br />

Chavez…<br />

Publicado no jornal “Região de Águeda” em 20/5/2005<br />

102


o défIce…<br />

103<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

Escrevo estas linhas em data marcada ainda por uma prudente e<br />

acertada gestão do silêncio à volta das contas públicas, por parte<br />

do PM Sócrates, sem ter anunciado qualquer medida concreta que<br />

irá tomar.<br />

Só que o sol não pode ser escondido por uma peneira e o défice<br />

das contas públicas aí está, calculado até à centésima (que preciosismo):<br />

6,83%. O que deve assustar os economistas que, sendo<br />

reconhecidos como autênticos “barras” da matéria, têm sido os<br />

maiores responsáveis pela gestão do orçamento geral do Estado e<br />

apêndices, ao longo dos 31 anos que já leva a democracia portuguesa.<br />

Os ministros das Finanças dos sucessivos governos devem<br />

estar, nesta altura, a fazer o acto de contrição pois o resultado das<br />

suas políticas está, agora, bem à vista. De todos eles, ressalvo apenas<br />

o Prof. Hernâni Lopes e a Drª Manuela Ferreira Leite que mostraram<br />

ter a coragem de remar contra a maré… Os outros “sábios”<br />

não devem ter tido força política, porque competência não lhes<br />

faltava certamente… Para além deles, uma figura é incontornável<br />

– a do governador do Banco de Portugal, nomeado à esquerda e<br />

à direita. Deveria ser ele o guardião do templo até porque é uma<br />

personalidade benquista nos meios políticos e económicos. Para<br />

minha grande surpresa, ele afirmou no passado dia 15: “Reconheço<br />

que a situação era ainda pior do que eu temia e, na verdade,<br />

o País está confrontado com uma crise orçamental grave”.<br />

E eu tenho o direito de perguntar: então o Dr. V. Constâncio está<br />

à frente do Banco de Portugal há mais de 10 anos (até teve como<br />

administrador o actual ministro das Finanças) e sai-se agora com<br />

esta afirmação espantosa? O que andou ele lá a fazer estes anos<br />

todos? Será que justifica assim as suas mordomias que, corre na<br />

internet, atingem largos milhares de euros mensais?<br />

Ouviu-se, também, o Dr. J. Sampaio dizer que “há vida para


além do défice” a propósito da luta que então travava a Drª Ferreira<br />

Leite… E, agora, do longínquo Japão, apela à auto-estima<br />

dos portugueses… nos quais se incluem os que lutam diariamente<br />

para arranjar sustento para a sua família, sabe Deus com que sacrifício!<br />

A este apelo o país benfiquista já respondeu com a emotiva vitória<br />

no campeonato da Liga que levou a uma mobilização impressionante<br />

de milhões de portugueses e outros lusófonos por esse<br />

mundo fora, a saírem à rua a vitoriar os seus heróis. Essa causa de<br />

facto foi mobilizadora.<br />

Tenho, porém, as mais sérias dúvidas sobre idêntica resposta ao<br />

apelo do Dr. Sampaio, em relação aos sacrifícios que as classes<br />

mais desprotegidas vão ser inevitavelmente obrigadas a fazer. Até<br />

porque lêem com frequência que as grandes empresas, tais como<br />

a PT, a EDP, a Galp e a Banca, por exemplo, têm vindo a apresentar<br />

lucros de milhões e mais milhões, sem que isso se reflicta nos<br />

preços a pagar pelo consumidor…<br />

Em minha casa, anos ’80, foram recebidas 2 cartas a convidar à<br />

passagem à reforma pelo simples facto de que a idade dos visados<br />

era de 60 anos. E quantas delas não emanaram do então ministro<br />

das Finanças, Dr. Cadilhe? Milhares…<br />

20 anos depois reconhece-se que a idade de reforma tem de ser<br />

aumentada. Aqui está um simples exemplo de curta visão estratégica<br />

do então ministro…<br />

O actual Governo tem uma tarefa difícil na sua frente o que, aliás,<br />

é comum a uns tantos outros governos ocidentais.<br />

Portugal, porém, na cauda das estatísticas do mundo dito civilizado,<br />

vai ter muito mais dificuldade em encontrar remédio para as<br />

suas maleitas do que outros mais ricos. Confia-se em que as medidas<br />

a tomar sejam baseadas também no bom senso.<br />

Bom senso esse que leva, naturalmente, a fazer reformas estruturais<br />

e não só conjunturais. Agora digo: há mais vida para além<br />

das eleições…<br />

Não se poderá exigir sacrifícios a uma população que já os passa<br />

em larga medida, se o exemplo não vier de cima.<br />

A começar pelas reformas dos políticos. Continuarão elas a ser<br />

concedidas, pelo máximo, ao fim de 12 anos em S. Bento? Continuarão<br />

elas a ser acumuláveis com outras reformas a que o po-<br />

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105<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

lítico tenha direito? Continuar-se-á a contar em dobro o tempo<br />

de serviço dos autarcas, sem que lhes corresponda o respectivo<br />

desconto para a CGA? Continuarão a ser pagas reformas de 20<br />

mil euros a personalidades que serviram em autênticas empresas<br />

públicas, ainda que com o estatuto de sociedades anónimas?<br />

Continuarão a ser gastos, em viagens dos políticos de S. Bento, milhões<br />

e milhões de euros? Para quê duzentos e tal deputados? Não<br />

ficaríamos mais bem servidos com apenas uma centena? Continuarão<br />

os Serviços da Presidência da República a necessitar de cerca<br />

de 300 funcionários? Precisará um Primeiro-Ministro de centena e<br />

meia de colaboradores (vid. Guterres)? Necessitarão os gabinetes<br />

dos ministros e dos secretários de Estado das dezenas (cada gabinete)<br />

de adjuntos, assessores, secretárias, motoristas, etc.?<br />

Ainda recentemente, um Secretário de Estado requisitou mais 3<br />

viaturas (já dispõe de 3) para o seu “staff”e um outro governante<br />

quis uma viatura da mais alta cilindrada… A impressão que tenho<br />

é que Sócrates é avesso a esse tipo de vaidades. E ainda bem.<br />

Ouvi o doutor Amaral dizer que a sua categoria e de mais 2 outros<br />

doutores esmagava os ministros do anterior Governo. Vaidade e<br />

ambição não lhe faltam. Mas estou em crer que não é com gente<br />

que esmaga, em especial macro economistas, que Portugal se<br />

salvará. Acredito, nisso sim, que precisamos de bons micro economistas<br />

competentes, em termos latos, que tenham trabalhado nas<br />

empresas e saibam o que é o dia a dia das mesmas. Os engenheiros<br />

fazem falta, mas para já temos um que até é o PM, a quem<br />

desejamos boa sorte.<br />

Senhores governantes: se o exemplo não for dado por vós, não<br />

esperem que a auto-estima se solte dos corações do povo.<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” em 10/06/2005


Postal de lIsboa<br />

o 10 de junho…<br />

1. O 10 de Junho dos antigos combatentes no Ultramar<br />

Num magnífico dia de sol desci até à beira rio, na aprazível zona da<br />

Torre de Belém, esta cada vez mais bonita, a apontar os mares da<br />

aventura que os portugueses de antanho abraçaram numa epopeia<br />

sem par na história da humanidade… E que Luiz Vaz de Camões<br />

cantou, para delícia dos vindouros que continuam a lê-lo…<br />

Já lá não encontrei alguns dos que, em anos interiores, costumava<br />

ver, nesta cerimónia de recordação dos companheiros caídos nas<br />

terras africanas e no oriente. Também esses já partiram.<br />

Reconheci o general Ricardo Durão, com o mesmo porte atlético<br />

com que desfilou em 1956, levando o estandarte, na inauguração<br />

do Estádio Universitário de Lisboa. Continua em boa forma.<br />

Em toda aquela gente se notava uma saudade e uma alegria incontidas<br />

quando se abraçavam efusivamente e recordavam episódios<br />

passados nos idos anos de ’60 e princípios de ’70.<br />

Curiosamente, não descortinei nessa cerimónia nenhuma das vedetas<br />

da tropa que enchem os écrans das Televisões e as colunas<br />

dos jornais. E interroguei-me: será que essa gente não combateu<br />

de facto em Angola, Guiné, Moçambique? Não têm camaradas que<br />

derramaram o seu sangue, sob as suas ordens nas antigas colónias?<br />

Parece que não… Uns tantos desertaram das fileiras, é certo, mas<br />

não eram esses que esperava lá ver… Tal como os políticos gerados<br />

pela nova democracia, também esses altos militares devem estar a<br />

gozar de uma vida confortável fora das fileiras, nas suas reformas<br />

ou negócios…<br />

Não obstante essas ausências, o fervor patriótico daquele povo<br />

anónimo era deveras contagiante mesmo para os jovens, que eram<br />

muitos, no decorrer da cerimónia que, sendo muito simples, foi muito<br />

bonita. Os discursos feitos por pessoas que amam e acreditam<br />

na Pátria, a entrega das coroas de flores na base do monumento,<br />

106


107<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

a cerimónia inter religiosa celebrada por 2 sacerdotes (onde estaria<br />

o Bispo das Forças Armadas?), as marchas militares, a cargo da<br />

magnífica Banda do Exército e o toque emotivo dos clarins não me<br />

deixaram indiferente.<br />

E reflecti sobre se, com gente desta têmpera, a Pátria alguma vez<br />

pode morrer…<br />

Acredito que, com mais ou menos dificuldades, e elas serão muitas<br />

nos tempos próximos, os nossos vindouros hão-de saber dar a volta<br />

por cima…<br />

Como português, estou grato a todos aqueles que, ao longo dos<br />

anos, comemoram o 10 de Junho desta maneira simples e genuína,<br />

mesmo sem apoios oficiais porque esses, este ano, foram todos para<br />

Guimarães onde a anual cerimónia despesista foi mais uma feira de<br />

vaidades, com condecorações a esmo, algumas delas de duvidosa<br />

justificação. A política devia ter limites.<br />

2. A auto estima dos portugueses<br />

Ultimamente o PR Sampaio tem vindo, e bem, a apelar, à auto estima<br />

dos portugueses para se vencer a crise que desabou sobre nós.<br />

Nem de propósito, o Benfica ganhou o campeonato da Liga, depois<br />

de um jejum de mais de 10 anos. E, como os benfiquistas são milhões,<br />

logo saíram à rua, não só em Portugal, como no estrangeiro,<br />

por esse mundo fora. Foi bonito ver essa onda de solidariedade<br />

desportiva…<br />

Mas, que ouvi eu, na altura, na SIC-Notícias, da boca do seu correspondente,<br />

um tal José Milhases? Apenas isto: “Os portugueses,<br />

aqui, em Moscovo são meia dúzia de gatos pingados”. Será que o<br />

Dr. Balsemão reconhece a “qualidade” deste seu funcionário moscovita<br />

que deve desconhecer o significado da expressão auto estima?<br />

Ou será ele também um gato pingado a pedir transferência de<br />

capital?<br />

3. O barbeiro<br />

Foram já anunciados os aumentos dos impostos – IVA, combustíveis,<br />

IRS, etc.. Pois bem, em consequência do clima gerado com esses<br />

anúncios, o meu barbeiro já tomou a iniciativa de aumentar em 13%<br />

o custo do seu serviço de corte de cabelo… Para onde vamos?…<br />

Publicado no jornal “Região de Águeda” em 17/06/2005


aInda o défIce…<br />

1. Ainda o défice…<br />

Tem estado na ordem das preocupações dos portugueses a situação<br />

calamitosa a que chegaram as contas públicas.<br />

Até parece que os economistas andam divertidos com simulações<br />

de mais décima menos décima. Uns puxando para cima, outros<br />

para baixo, conforme a cor da camisola…<br />

Esta crise, desde logo, teve o grande mérito de, entre outras coisas,<br />

pôr a nu a situação escandalosa de que tem vindo a beneficiar a<br />

classe política de uma maneira geral. Até aqui, quem se atrevia a<br />

pôr em causa as suas reformas e acumulações das mesmas, os seus<br />

subsídios de reintegração, os tempos a dobrar dos autarcas, os salários<br />

e as reformas elevadíssimas de gestores públicos sob a capa<br />

de empresas/sociedades anónimas de que, afinal, todos nós somos<br />

“accionistas” etc., etc.? E vieram ao de cima valores de euros que,<br />

até agora, estavam no segredo dos bolsos de uns tantos, em que,<br />

aliás, se não pode toca, face ao estafado excesso de garantias de<br />

direitos adquiridos… Ao mesmo tempo que se não ousa falar ou se<br />

fala pouco em deveres de cidadania…<br />

Deve reconhecer-se ao PM Sócrates e ao Ministro das Finanças o<br />

mérito corajoso de dizerem que vão afrontar essas situações de<br />

privilégios injustificáveis. Podiam ter ido mais longe? Certamente,<br />

como no caso do exagerado número de deputados com assento em<br />

S. Bento que apenas constitui fonte de despesa sem retorno. Mas<br />

aceita-se que se não pode fazer tudo de uma vez só. Lá chegaremos…<br />

Com esta palavra de aplauso e de estímulo não posso, porém, deixar<br />

de pensar que os lobbies são muito fortes e que tudo farão por<br />

tentar, se não inutilizar, pelo menos amaciar as medidas entretanto<br />

anunciadas. Na verdade, muita gente será atingida pela austeridade<br />

e sacrifícios que estão a caminho. Simplesmente, se essa situação<br />

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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

for acompanhada por exemplos que venham dos mais poderosos<br />

(vid. classe política) não haverá razões para contestação de maior,<br />

a qual se cingirá às ultrapassadas centrais sindicais cuja linguagem<br />

parou no tempo. À primeira cedência por parte do PM Sócrates, a<br />

caixa de Pandora abrir-se-á com consequências imprevisíveis.<br />

Isto, a propósito do que já se ouve e lê acerca da reivindicação de<br />

umas 2 a 3 dezenas de deputados que se sentem atingidos nos seus<br />

direitos ditos adquiridos… para o futuro… A sensibilidade da questão,<br />

acima de tudo moral, não permite, a meu ver, transigências.<br />

Ou seja, ou comem todos ou… há-de ser o que Deus quiser…<br />

Aguardemos pois, com paciência, pela implementação das medidas<br />

entretanto anunciadas, independentemente do facto de os Partidos<br />

terem de enfrentar as urnas em Outubro próximo e deverem, acima<br />

de tudo, pensar no País. Porque uma coisa é o anúncio de medidas<br />

corajosas e moralizadoras, outra coisa é pô-las em prática.<br />

2. Investimento público<br />

Consideramos que o investimento público, dentro do limite do possível,<br />

deve ser estimulado, em parceria com o investimento privado,<br />

porque daí resultará a criação de riqueza e de postos de trabalho<br />

que tão necessários são para um adequado equilíbrio social.<br />

Já li, porém, uma notícia que me deixou perplexo. Numa altura de<br />

contenção de despesas como aquela que atravessamos, aponta-se<br />

para a construção de mais um edifício em S. Bento. Para quê? Para<br />

que possam ser atribuídos gabinetes individuais a todos os 230 deputados.<br />

Ao que parece, actualmente, eles ocupam gabinetes para<br />

2 eleitos cada um.<br />

Será isto um investimento? Ou antes um desperdício fora do tempo?<br />

Que mais valia trará esse “investimento” ao povo português?<br />

Nenhum, direi eu, face à qualidade de grande parte dos eleitos:<br />

Para além de que se terá de destruir uma área verde bonita e que,<br />

como todas as áreas verdes, devem ser, isso sim, preservadas. A<br />

este respeito, não li nem ouvi nada da parte dos ecologistas, que<br />

também os há na própria Assembleia da República… Devem estar<br />

apertados!...<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” em 24/07/2005


Postal de lIsboa<br />

travessIa aérea e vItórIas InternacIonaIs<br />

1. A Primeira Travessia Aérea do Atlântico Sul<br />

Foi em 1922 que dois ilustres oficiais aviadores da Marinha portuguesa<br />

levaram a efeito a primeira travessia aérea do Atlântico Sul.<br />

Iniciada em Lisboa, em 30 de Março, teve escalas em Las Palmas,<br />

S. Vicente, Porto-Praia, Penedos de São Pedro e São Paulo, Fernando<br />

Noronha, Recife, Bahia, Porto Seguro e Vitória; terminou no Rio<br />

de Janeiro, em 17 de Junho seguinte.<br />

O sucesso da viagem ficou a dever-se, naturalmente, à grande<br />

coragem e sabedoria de Gago Coutinho e Sacadura Cabral que<br />

conduziram os 3 aviões utilizados na viagem, e foi suportada nos<br />

métodos científicos de navegação aérea nocturna a grande distância<br />

e num sextante especialmente concebido pelo primeiro.<br />

Com essa viagem, uma vez mais se manifestou a vontade indómita<br />

dos portugueses na descoberta de novos caminhos a ligar povos<br />

distantes.<br />

Porque se tratou de um feito notável, a Casa da América Latina,<br />

dirigida pelo diplomata Dr. Mário Quartin Graça, fez bem em organizar<br />

uma exposição alusiva àquela travessia, quando passa o<br />

83º aniversário da mesma.<br />

Um professor de História fez o relato circunstanciado da travessia<br />

e das suas vicissitudes, perante uma assistência em que se destacavam<br />

algumas altas patentes da Armada e da Aeronáutica, bem<br />

como o sempre presente Embaixador Dário Castro Alves. Lá encontrei,<br />

entre outros, o António Luís Sucena Ribeiro de Melo, meu<br />

companheiro na Escola do Adro, com quem recordei tempos idos<br />

do Botaréu.<br />

O agrado com que visitei a exposição veio a ser redobrado quando<br />

me apercebi de que muitas das peças e dos livros expostos faziam<br />

parte da colecção carinhosamente construída por um aguedense<br />

que, da Borralha partiu para o Brasil onde teve êxito, nos muitos<br />

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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

anos que lá passou. Trata-se do Comendador José da Silva Henriques<br />

a quem felicito pela sua bela iniciativa que fez com que a<br />

história fosse recordada e não postergada como se faz muito por<br />

aí…<br />

2. Vitórias internacionais<br />

O andebol português acaba de se qualificar para o campeonato<br />

do Mundo. Fiquei naturalmente satisfeito com essa vitória. Mas<br />

mais satisfeito fiquei pelo facto de ter ouvido da boca de um dos<br />

principais artífices dessa vitória, um atleta com mais de 250 internacionalizações,<br />

que iria sacrificar o seu ritmo de participação na<br />

selecção nacional “ porque era chegada a hora de tratar de completar<br />

a sua formação académica no ISMAI – Gestão do Desporto”.<br />

Parabéns Carlos Resende. Se todos os desportistas pensassem da<br />

mesma forma, não haveria tantas situações de grandes atletas em<br />

dificuldades após o término das suas carreiras, especialmente no<br />

futebol.<br />

Tiago Monteiro, numa prova de competitividade reduzida, subiu ao<br />

pódio em Indianápolis. Não obstante a desistência de uns tantos<br />

carros de grande categoria, o seu 3º lugar entre 6 concorrentes, é<br />

de saudar vivamente. O que talvez não devesse ter acontecido foi<br />

o facto de dois governantes terem enviado as saudações da praxe.<br />

Não bastaria a do Secretário de Estado dos Desportos? Enfim, somos<br />

uns exagerados… Para o bem e para o mal…<br />

Publicado no jornal “Região de Águeda” em 24/06/2005


cantar o hIno e contestar o Governo<br />

1. Cantar o hino nacional em público<br />

Acabo de assistir pela TV ao encontro entre as selecções nacionais<br />

de râguebi da África do Sul e da França, para o Torneio das 6 Nações.<br />

O enorme estádio em que foi disputado o jogo estava repleto de<br />

um público entusiasta.<br />

Uma imagem desse evento impressionou-me fortemente. Foi a<br />

do momento em que se tocaram os hinos nacionais respectivos.<br />

Ambos foram cantados por uma sul-africana com uma excelente<br />

voz. E ela foi acompanhada pelas vozes dos jogadores africanos e<br />

europeus perfilados no terreno que, salvo um ou outro, cantavam<br />

com fervor e bem alto.<br />

Bem gostaria de ver a mesma atitude em todos, mas todos, os jogadores<br />

que envergam as cores nacionais, ainda que muitos deles<br />

radicados em clubes estrangeiros.<br />

Mas fica-me uma dúvida: será que nas escolas de ensino básico e<br />

secundário as nossas crianças são motivadas no canto coral pelos<br />

seus professores?... Que saudades eu tenho do meu professor dessa<br />

disciplina no Liceu de Aveiro, o Pe. António…<br />

2. A contestação ao governo<br />

Os últimos dias foram agitados pelas anunciadas greves dos professores<br />

em dias de exames do secundário que vieram a ter uma<br />

resposta pronta e firme, com sucesso, por parte da Ministra da Educação.<br />

Não podemos nem devemos deixar de realçar o comportamento<br />

digno de muitos professores que obstaculizaram, a contra<br />

gosto ou não, aos graves prejuízos que os sindicatos pretenderam<br />

desferir, em última análise, aos indefesos alunos e suas famílias.<br />

Mesmo assim, ainda houve uns tantos alunos que ficaram à espera<br />

dos seus “educadores”. A agitação provocada pelas medidas que<br />

o Governo tem vindo a tentar implementar com vista à redução da<br />

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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

despesa do Estado, e que deveria ser compreendida por todos os<br />

portugueses, põe-nos uma interrogação: será que as medidas de<br />

austeridade só devem ser acatadas por uns tantos, sem poder reivindicativo?<br />

As classes especiais, mais favorecidas por privilégios<br />

conquistados antes, nada terão a ver com a situação do País?<br />

O certo é que foi o laxismo do Estado em que todos, mas todos,<br />

desde os governos provisórios, tiveram a sua culpa, nos conduziram<br />

à actual situação, não obstante o manancial de dinheiros da<br />

Europa que nos afogou numa onda despesista, muitas das vezes,<br />

com reduzido controlo estatal ou autárquico. Fez-se muita coisa<br />

boa, é certo, mas, com o mesmo dinheiro, sem desvario nem corrupção,<br />

poder-se-ia ter feito muito mais… Alguém tem dúvidas?<br />

Acabamos de entrar no verão, pelo que é natural que os ânimos<br />

tendam a “arrefecer”, com o calor, os ímpetos dos sindicatos das<br />

magistraturas, das polícias, dos médicos, dos enfermeiros, novamente<br />

dos professores, etc. etc.<br />

Mas seria interessante que o Governo, para além dos sinais muito<br />

positivos que já deu, no sentido da moralização do sistema político,<br />

se não esqueça de dar mais um: que diga (sim ou não) se já<br />

fez com que os regulamentos das reformas do Banco de Portugal,<br />

Caixa Geral dos Depósitos, EDP e GALP fossem alterados, acabando-se<br />

com o desaforo das reformas milionárias dos seus administradores<br />

que as conquistam com uns escassos anos de trabalho.<br />

Acabar com essa afronta a quem luta no dia a dia pela sua sobrevivência<br />

não poderá nunca ser considerado demagogia. A não ser<br />

assim, fica-se com a ideia de que não se quererá prejudicar, no<br />

futuro, a reforma de Vítor Constâncio e de mais uns tantos… que<br />

se juntarão aos Mira Amaral, Campos e Cunha…<br />

Aguarda-se por esse sinal inequívoco das intenções do governo,<br />

já que ninguém entende que apenas se limita o montante dessas<br />

reformas quando acumuladas com o exercício de outras funções<br />

públicas…<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo“ de 24/06/2005


transParêncIa e rIGor<br />

1. Transparência<br />

“Transparência” é uma das palavras que têm vindo a ser usadas a<br />

esmo, em especial pelos nossos políticos. Por tudo e por nada se<br />

apregoam as atitudes transparentes na gestão da coisa pública.<br />

Tratam-se de boas intenções que todos os responsáveis políticos,<br />

e não só, deveriam levar à prática. Só que a prática deixa muito a<br />

desejar em relação a uns tantos. Outros há, sim senhor, que são<br />

bem transparentes nos seus actos públicos, o que é justo reconhecer.<br />

Mas, infelizmente, o que deveria ser regra quase aparece como<br />

excepção. Em termos de transparência, basta ler os jornais em que<br />

todos os dias surgem notícias de situações menos claras, em especial<br />

no domínio autárquico, com os tribunais a contas, quer com<br />

falta de tempo e condições para produzirem sentenças atempadas,<br />

quer com prescrições.<br />

Há dias, o DN titulava uma página inteira assim: «TC arrasa contabilidade<br />

dos partidos políticos. Tribunal abre processos contra dirigentes<br />

por existência de “dolo”. PS, PSD e CDS/PP repetem irregularidades».<br />

Este exemplo de falta de transparência na gestão de<br />

dinheiros de todos nós tem de levar a uma interrogação: com que<br />

moral se pretende aumentar o financiamento dos Partidos Políticos<br />

à custa do erário (exaurido) público, como ciclicamente se vem<br />

falando? Será uma heresia “democrática”dizê-lo, mas atrevo-me a<br />

apontar para que os Partidos assentem a sua base financeira nas<br />

quotas dos seus filiados, até porque são eles que virão a ser os<br />

mais beneficiados quando o seu Partido ganhar… Talvez seja de<br />

estudar o caso do kit do Benfica… e encarar de vez a redução do<br />

número de deputados para 100, esses pagos devidamente desde<br />

que escolhidos com base nos seus curricula, mas em que o simples<br />

mas trabalhoso colar de cartazes tenha um peso reduzido…<br />

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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

2. Rigor<br />

Outra das palavras que está na moda e se aplica a torto e a direito<br />

é a palavra “rigor”. Pois bem, quando ouço um político usar<br />

o termo para reforçar a credibilidade das suas propostas perante<br />

o povo, recuo no tempo 55 anos e logo me vem à mente a figura<br />

de um Catedrático da Faculdade de Ciências da Universidade de<br />

Coimbra – o Doutor Manuel dos Reis. Ele foi meu Professor de<br />

Astronomia e Mecânica Celeste. Para além de ser um sábio da<br />

matemática, tinha umas excepcionais qualidades de expositor que<br />

lhe permitiam tratar uma matéria tão complexa como a da ciência<br />

dos astros de uma forma extraordinariamente simples e aliciante<br />

para os seus alunos. Uma das características desse Professor consistia<br />

no rigor posto em tudo o que era feito no Observatório Astronómico<br />

da Universidade e que era o prolongamento do que se<br />

passava nos exames das suas cadeiras. Ele não admitia um erro de<br />

uma centésima num cálculo das coordenadas de uma estrela. Esse<br />

erro, aparentemente sem relevância, era sinónimo de reprovação.<br />

Assim se passou com o meu velho amigo e grande glória da Académica,<br />

o interior esquerdo, Nana. Um ofício que o dactilógrafo<br />

tivesse de rasurar era sinónimo de novo ofício até não ter erros…<br />

Essa preocupação de rigor ainda hoje a mantenho.<br />

Os tempos de agora são outros e muitos dos que me lerem acharão<br />

ridículas estas preocupações de rigor a sério. Porque o rigor<br />

hoje apregoado aos sete ventos é um rigor a brincar.<br />

A tal ponto que, ainda bem recentemente, um conceituado economista<br />

da nossa praça errou as contas do défice, não numa centésima,<br />

mas em muitos milhões de euros, não obstante contar com<br />

uma equipa de excelência que deve apoiá-lo no Banco de Portugal<br />

– um organismo que devia primar pelo rigor… E, logo a seguir, o<br />

próprio Ministro das Finanças, também conceituado economista,<br />

mandou para Bruxelas umas contas do PEC igualmente erradas<br />

em muitos milhões…<br />

Há 55 anos o aluno que errasse por uma centésima era reprovado.<br />

Hoje, ao economista que erra em muitos milhões de euros, nada<br />

acontece… a não ser obter uma reforma sumptuária… Quousque<br />

tandem abutere Catilina patientia nostra?<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” em 22/07/2005


PrIvIléGIos de candIdatos<br />

1. Coragem<br />

Não é a primeira vez que aqui registo, com surpresa, aliás, mas<br />

com agrado, a coragem com que o PM Sócrates tem actuado nestes<br />

primeiros meses de governação. Efectivamente, ele destapou<br />

a panela onde se acomodam as mais variadas situações de privilégios<br />

e sinecuras de que uns tantos, que são muitos afinal, têm<br />

beneficiado, nestes 31 anos pós revolução.<br />

Pelo que se tem ouvido, o PM parece estar disposto a corrigir o<br />

rumo dessas situações, o que não será fácil, dados os interesses<br />

instalados, alguns deles em Corporações bem poderosas.<br />

Com o aproximar das eleições autárquicas, surgiu agora mais uma<br />

situação que, no mínimo, se tem de considerar escandalosa. Trata-<br />

-se de quê, afinal? Vejamos:<br />

A lei actual prevê que os candidatos a autarcas tenham dispensa<br />

de actividade profissional durante os 30 dias que precedem a<br />

campanha respectiva. Mais informou o PM de que estarão nessa<br />

situação cerca de 5.000 candidatos… Sim, são 5.000.<br />

Considerando que o mês de férias por excelência é o de Agosto,<br />

essa situação levará a que, uma semana após o regresso a casa,<br />

vindos das férias, muitos desses milhares de veraneantes entrarão<br />

novamente em férias, pois já se sabe que o trabalho das campanhas<br />

cai sempre nos mesmos que são alguns deles. Quando<br />

o discurso oficial vai no sentido da produtividade como um dos<br />

meios por excelência para se combater o nosso atraso, o sistema<br />

político português com isso não se preocupa. Mas pede sacrifícios<br />

aos trabalhadores… Com estes exemplos não acredito que a mobilização<br />

da mão de obra portuguesa corresponda aos apelos que<br />

lhe são feitos. O Senhor PM tem aqui uma boa oportunidade para<br />

promover a revogação do referido dispositivo legal. Se o fizer já,<br />

isso será um sinal bem positivo da governação.<br />

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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

2. Venezuela<br />

Sabe-se que o piloto Luís Santos, que se encontra detido na Venezuela<br />

como arguido num processo de tráfico de droga, lá continua<br />

a “apodrecer” à ordem da justiça (?) de Hugo Chávez. Essa situação,<br />

a avaliar pelo que a nossa prestigiada Polícia Judiciária e a<br />

própria Procuradoria-Geral da República disseram, será intolerável<br />

num estado de direito.<br />

Não sei qual tem sido o empenho do Doutor Amaral no caso. Será<br />

ele capaz de repetir o êxito do Embaixador António Monteiro no<br />

Dubai? Para já, tarda…<br />

Porém, haverá uma cartada que poderia ser jogada, se é que o<br />

não foi já. O Senhor Presidente Jorge Sampaio tem corrido mundo<br />

a afirmar o prestígio de Portugal. Ainda agora regressou do Chile<br />

(onde teve de reconhecer que o seu crescimento económico tem<br />

sido notável, mas só a partir da ditadura de Pinochet – que praticou<br />

muitas maldades condenáveis, é certo) e do Paraguai que devem<br />

ter um interesse estratégico muito grande para Portugal, dada a<br />

sua proximidade… Numa dessas viagens ficou-me a impressão de<br />

que o Dr. Sampaio estabeleceu bons contactos com o ditador Fidel<br />

Castro que, seguramente, é amigo de Chávez. Não seria de tentar<br />

a sorte por essa via?<br />

3. Estímulos presidenciais<br />

Ainda a propósito de visitas do PR, é sempre com agrado que vejo<br />

o Dr. Sampaio por esse País fora em visitas temáticas a chamar a<br />

atenção para o que de bom se faz com mão de obra portuguesa e<br />

empresários de grande categoria que os há e não são poucos.<br />

Sabe-se, porém, que há muitíssimas empresas que enfrentam<br />

grandes dificuldades para sobreviverem, grande parte delas também<br />

por culpa de patrões menos escrupulosos…<br />

Pois bem, mesmo que já esteja a dobrar a última esquina do seu<br />

percurso presidencial, não seria de vermos o PR fazer uma visita<br />

a um conjunto dessas empresas em dificuldade para injectar um<br />

pouco de ânimo aos seus sacrificados trabalhadores? Quem sabe<br />

se, com esse estímulo, elas não dariam a volta por cima…<br />

É mais agradável ser recebido em ombros do que em ambientes<br />

adversos, mas há ossos do ofício a que se não deve fugir…<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” em 29/07/2005


falar PortuGuês…<br />

1. Quem reprova ? O professor ou o aluno ?<br />

A simpática Drª Edite Estrela, que suponho ser professora do ensino<br />

secundário, de formação, embora agora seja política no activo,<br />

tem um programa na Rádio Renascença com muito interesse. Ela<br />

ensina a falar/escrever bom português, com exemplos sugestivos<br />

que escolhe com bom critério.<br />

Devo dizer que eu próprio, embora tenha tido excelentes professores<br />

de português na Escola Primária de Águeda e no Liceu de<br />

Aveiro, tenho aprendido muito com as suas lições radiofónicas.<br />

Trago este tema para o jornal porque, na semana em que foram<br />

divulgados os resultados dos exames de matemática do ensino secundário,<br />

os jornais (até em editorial e em manchete), as rádios e<br />

as televisões (em horário nobre) agrediram os nossos ouvidos e os<br />

nossos olhos com notícias e comentários em que se propalava que<br />

70% dos alunos reprovaram ou chumbaram. Não é assim. Quem<br />

reprova é o professor e não o aluno. É o aluno que é reprovado<br />

pelo professor.<br />

A maioria dos jornalistas que assim falava é gente nova que deve<br />

ter tido professores não exigentes ou não competentes. Nunca é<br />

tarde para se aprender. Que tal umas lições de bom português<br />

nas redacções dos órgãos de comunicação social? É que não é só<br />

na Escola que se aprende. E a Comunicação Social tem um papel<br />

importantíssimo neste domínio, pela penetração que tem na população.<br />

Bom seria não termos de ser confrontados, constantemente, com<br />

discursos feitos em mau português. A Língua é o maior património<br />

cultural de um povo, pelo que deve ser bem tratada pelos cidadãos.<br />

Assim se evitaria ouvir dizer ou ler, por parte de gente estimável<br />

mas com especiais responsabilidades, por exemplo: “estamos<br />

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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

cientes que…” em vez de “estamos cientes de que…” (J. Sócrates);<br />

“póssamos…” em vez de “possamos…” ministro Jaime Silva);<br />

“cidadões…” em vez de “cidadãos” (vídeo do professor da Fac.<br />

Letras, M. Carrilho), etc. etc. Muitos outros exemplos poderiam ser<br />

citados, infelizmente, até porque quem é que não caiu já numa<br />

dessas “gaffes”?<br />

A tarefa não é fácil. Cabe aos professores na Escola, ao Sindicato<br />

dos Jornalistas, entre outros, fazer alguma coisa para inverter esta<br />

situação.<br />

2. Corrupção na Justiça?<br />

A corrupção é um fenómeno universal disseminado por todo o<br />

mundo e que está presente nos mais variados domínios da actividade<br />

económica e não só. Usa meios sofisticadíssimos para alcançar<br />

os seus objectivos, normalmente consubstanciados em lucros<br />

avultados mas ilícitos.<br />

Já ouvimos falar de corrupção nas autarquias, nos governos, nas<br />

escolas, no desporto, em cooperativas, etc. etc.. Mas estávamos<br />

longe de pensar que essa praga tinha chegado também à Justiça<br />

portuguesa. Pois bem, o Diário de Notícias fez manchete no passado<br />

dia 12 com “PJ investiga corrupção no Tribunal de Comércio<br />

de Lisboa”.<br />

Quero acreditar que se trata de uma brincadeira de mau gosto<br />

pois uma democracia consolidada como a nossa não tem espaço<br />

para uma tal situação.<br />

Publicado no jornal “Região de Águeda” em 29/07/2005


unIversIdades e MordoMIas<br />

1. Universidade em família<br />

A última função que exerci no Estado, antes de me aposentar e de<br />

rumar para a Sonae, foi na Inspecção Geral de Educação. Naturalmente<br />

que sou sensível às notícias que dela (agora desdobrada na<br />

Inspecção Geral do Ensino Superior) emanam.<br />

Ficou-se a saber não há muito tempo que numa Universidade –<br />

mais precisamente a UTAD – serão raros os membros da equipa<br />

reitoral ou do pessoal dirigente administrativo que não tenham<br />

elementos familiares a trabalhar na instituição. Só o administrador<br />

da Universidade terá uma quota (docentes incluídos) em que entrarão<br />

a mulher, filhos, nora, cunhados e primos por afinidade.<br />

A Universidade teria ao seu serviço uma frota automóvel constituída<br />

por 32 viaturas operacionais, além de 19 alugadas. Dessas,<br />

a Reitoria dispunha de 19. E limite de gastos, ao que parece, não<br />

havia.<br />

Com cerca de 30 telemóveis distribuídos pela equipa reitoral, directores<br />

de serviço e motoristas não existiria controlo de chamadas.<br />

Certamente que a UTAD não será a única nessa situação. Ou<br />

será?<br />

Lembro-me, a propósito, dos tempos em que o Reitor da Universidade<br />

de Coimbra se deslocava no seu automóvel. E o seu prestígio<br />

era enorme. E a Universidade cumpria o seu papel com escassos<br />

recursos. Não estamos nos meados do século XX, é certo. Mas<br />

tenho a sensação de que se caiu no exagero do facilitismo e do<br />

despesismo.<br />

E dou comigo a perguntar-me: foi para isto que a Assembleia da<br />

República queimou as pestanas dos deputados a discutir e a aprovar<br />

acaloradamente a Lei da Autonomia Universitária que se encontra<br />

em vigor?<br />

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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

Mas o pior é que todos, ministros, secretários de estado, deputados,<br />

assobiam para o ar… como se fossem alheios ao que fizeram…<br />

desde o período revolucionário. E ninguém lhes pede contas. O<br />

“Zé pagode” que pague a factura que começa só agora a preocupar<br />

alguns dos senhores reitores que terão ajudado ao descalabro<br />

e estão na contingência de só virem a ter dinheiro para pagarem<br />

os salários… nos tempos próximos. Se é que o terão mesmo?...<br />

Lição a tirar: as Universidades estão pobres financeiramente mas<br />

quem legislou, se calhar, entrou na política com uma mão à frente<br />

e outra atrás e hoje está bem na vida… sem nenhum peso na<br />

consciência.<br />

2. Universidades e Tecnologias<br />

Felizmente que existem em algumas Universidades núcleos de investigadores<br />

que têm trazido para o mercado produtos de excelência.<br />

Foi o caso de que a RTP nos deu conta recentemente com a<br />

presença nos ecrãs do Prof. Epifânio da Franca (IST). Com alguns<br />

dos seus colaboradores universitários criou a Chipidea cujo negócio<br />

consiste na concepção de circuitos integrados analógicos e digitais<br />

que se espalham por Paris, Leuven, Gdansk, Suzhou, Tóquio,<br />

Macau, New Jersey, Texas e que já facturou em 2004 mais de € 20<br />

milhões.<br />

Refiro ainda o caso da Enabler que nasceu na Sonae com o Eng.<br />

António Murta (Universidade do Minho) e que atingiu € 28 milhões<br />

de facturação em Inglaterra, Alemanha e Brasil. Recentemente,<br />

tive ocasião de saber que, em Izmir (Turquia), a equipa do Eng.<br />

Murta esteve ocupada a montar os sistemas informáticos necessários<br />

à organização da Universíada que teve a presença de 8.300<br />

participantes.<br />

Isto para dizer que massa cinzenta não falta a Portugal. Ela precisa,<br />

isso sim, de ser estimulada em prejuízo de gastos que só os<br />

políticos da nossa terra conseguem desbaratar, muitas vezes em<br />

proveito próprio.<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” em 16/09/2005


o rePublIcano que quer ser reI<br />

Quando se nasce, o percurso de vida das pessoas, de uma maneira<br />

geral, é uma incógnita. Por vezes, nasce-se pobre e o futuro torna-<br />

-se risonho. Outras vezes nasce-se rico e o futuro torna-se negro.<br />

O sucesso ou insucesso na vida dependem, em grande parte, da<br />

vontade das pessoas. Há as que lutam, estudam, trabalham e se<br />

esforçam por alcançar o sucesso e há ainda as que nada disso fazem<br />

e acabam na mediania, se não mesmo na pobreza. Para não falar<br />

de uma boa saúde, sem a qual nada feito.<br />

Claro está que há quem nasça em berço de ouro e que só precisará<br />

de não fazer muitas asneiras para seguir uma vida de opulência e<br />

mesmo de ociosidade. Em relação a esses, há quem desenvolva um<br />

sentimento de inveja, o que não é o meu caso. Tenho é pena da<br />

sua condição de inutilidade perante a sociedade que os rodeia. E<br />

há excepções: são aqueles que, tendo nascido nesse berço, actuam<br />

como seres normais na sociedade competitiva que nos envolve. E,<br />

felizmente, são muitos.<br />

Numa sociedade profundamente (não em termos quantitativos) politizada,<br />

como está a sociedade portuguesa, dou comigo a pensar<br />

muitas vezes nas carreiras dos nossos políticos: o que fizeram ou<br />

não fizeram ao longo da vida? Qual o seu percurso profissional? Os<br />

testemunhos de carácter ou falta dele de que deram provas? As derivas<br />

em que se deixaram enredar? Enfim, como chegaram tão alto<br />

(alguns com os bolsos cheios por enriquecimento súbito)?<br />

Com perto de 100 anos de República, o País tem assistido a evoluções<br />

interessantes e menos interessantes, a um pouco de tudo.<br />

Agora que estamos no século XXI, parece que uma certa Monarquia<br />

está a espreitar… E está a espreitar de uma forma sofisticada – ou<br />

não estivéssemos nós na era da alta tecnologia…<br />

Os monarcas são pessoas como as outras mas que, em regra, nasceram<br />

num berço de ouro. Foram educados em boas Escolas e Univer-<br />

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123<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

sidades. Aprenderam as boas maneiras da convivência, mas nunca<br />

souberam o que era ter de entrar ao serviço de uma empresa, do<br />

Estado ou de uma instituição, a hora certa, manter-se lá a trabalhar<br />

até às tantas e só depois ir para casa tratar da mesma, por vezes,<br />

sem a garantia do salário devido.<br />

É justo prestar homenagem àqueles monarcas, e houve muitos na<br />

nossa história, que exerceram as suas funções com dignidade e alto<br />

sentimento do amor à Pátria. E ainda os há por esse mundo fora,<br />

felizmente. Só que a ambição de certos plebeus deixou de conhecer<br />

limites. Querem ser monarcas e, para isso, há que estudar formas<br />

de lá chegar por via democrática… Olhemos ao nosso redor. Temos<br />

um candidato a PR que se assume de republicano, e de outras coisas,<br />

que nasceu no seio de uma família honrada que conseguiu um<br />

estatuto económico de certo relevo, por via da educação, durante<br />

o Estado Novo. Não lhe faltaram condições para cursar a Universidade.<br />

Teve sempre condições para desenvolver actividade política,<br />

sem pensar no dinheiro que tinha de ganhar exercendo profissão<br />

concreta. Teve a maior sorte de ter ao seu lado uma Senhora que<br />

se encarregava, sabe Deus com que esforço, de gerir, com sucesso,<br />

o negócio herdado. E, quando a política activa em que se envolveu<br />

com determinação, vendo as ideologias não como um meio mas<br />

como um fim, o levou ao exílio em França (onde vagamente leccionou…),<br />

teve sempre o apoio financeiro da retaguarda familiar e de<br />

capitalista com larga visão estratégica… Enfim, mesmo na adversidade,<br />

viveu sempre à grande e à francesa. O trabalho puro e duro<br />

nunca foi o seu forte… Com o 25 de Abril a sua vida passou a ser<br />

uma vida de sucesso político pessoal e familiar.<br />

Fez coisas boas como o combate ao totalitarismo que os revolucionários<br />

do MFA nos quiseram impingir. Sujou o seu nome com a<br />

descolonização que aceitou, subscreveu (não só ele) e de vez em<br />

quando defende, nos termos em que foi feita. Bem ou mal, foi tudo<br />

neste País, mesmo sem ler dossiers... E agora, com idade a merecer<br />

repouso, o seu instinto monárquico-democrata leva-o a lutar por<br />

um 3º mandato… Até para ajudar o delfim João a manter-se no<br />

poder, por agora só autárquico… Os monárquicos que se cuidem!<br />

Como sou republicano, não votarei em Soares.<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” em 23/09/2005


a falta de PúblIco no futebol<br />

No dia do meu aniversário, resolvi levar o meu neto Diogo ao futebol.<br />

Jogava nesse dia, no estádio do Bessa, o clube a que estou<br />

ligado sentimentalmente há 60 anos – a Associação Académica de<br />

Coimbra.<br />

Assim, depois de soprar as muitas velinhas do bolo feito pela minha<br />

nora Marta, lá fomos os dois conduzidos pelo meu filho Fernando.<br />

Dirigi-me à bilheteira para comprar os bilhetes de ingresso.<br />

“Quanto custa cada bilhete?”, perguntei eu. “Vinte euros, cada<br />

um e a criança de 11 anos também paga”, foi a resposta…<br />

Fomos para a bancada da claque da Académica que disparava<br />

“gritos” próprios de gente sem qualquer formação… Uma tristeza…<br />

Com bastante sofrimento lá foram passando os 90 minutos de<br />

jogo. Por sinal, um jogo fraco, sem grande nível técnico, e que<br />

terminou com a vitória do Boavista por 2-1.<br />

Nesta era dos novos estádios do Euro 2004, foi a primeira vez que<br />

visitei o estádio do Bessa que me deixou boa impressão, de uma<br />

maneira geral. Só que, para se entrar para as cabeceiras, tem de<br />

se subir uma centena de degraus que nem são suaves. São mesmo<br />

de tirar o fôlego a um maratonista.<br />

Não sei se alguma vez o estádio encheu completamente, a avaliar<br />

pelos números divulgados semana a semana. No jogo a que<br />

assisti, estariam umas escassas 2.000 pessoas – o que dá um aspecto<br />

desolador ao recinto, só compensado pela policromia das<br />

cadeiras.<br />

O mesmo se está passando na maioria dos outros campos de futebol.<br />

As excepções à regra situam-se, naturalmente, no Dragão, na<br />

Luz e em Alvalade e nem sempre.<br />

O certo é que a comodidade dos estádios novos é convidativa para<br />

os espectadores. Então porque é que eles não acorrem aos jogos?<br />

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125<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

Uma das razões é, sem dúvida, o preço dos ingressos. Na verdade,<br />

numa época de aflições económicas nos lares de muitos<br />

portugueses, quem pode dispor facilmente de 20 euros/pessoa,<br />

crianças incluídas, para assistir ao espectáculo? Que, nem sempre<br />

é de fino recorte técnico, proporcionado por clubes em situação de<br />

falência técnica e por atletas pagos a níveis escandalosos.<br />

E, pela amostra, os clubes nem sequer se preocupam em semear<br />

para colher frutos mais tarde, escancarando as portas dos estádios<br />

às crianças em jogos que sabem que vão ter muito mais lugares<br />

não vendidos do que lugares vendidos.<br />

Oxalá o bom senso venha a imperar na política de preços da Liga<br />

de Clubes.<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” em 07/10/2005


antunes varela - uM PortuGuês de eleIção<br />

Filho de Pais simples e humildes, sem meios de fortuna, foi aluno<br />

brilhante da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra,<br />

tendo sido Presidente da Associação Académica de Coimbra. Foi<br />

assistente do Prof. Pires de Lima e doutorou-se com distinção. Foi<br />

orador oficial do Orfeão Académico de Coimbra, na sua digressão<br />

a Madrid e Salamanca. Nessa qualidade, proferiu um discurso<br />

perante o Ministro da Educação de Espanha, Prof. Ibañez Martin,<br />

que este, anos depois, já como Embaixador em Portugal, recordava<br />

com grande emoção. Nesse discurso, de belo recorte literário e<br />

muito bem dito, Varela comparava Coimbra a Salamanca citando<br />

Unamuno: “…onde cada pedra é uma alma e cada alma um segredo…”.<br />

Dedicou a sua vida ao Direito Civil e ao Direito Processual Civil. O<br />

Código Civil de 1966, que substituiu o de 1867, do Visconde de<br />

Seabra, deve ser considerada uma obra que não desmerece no<br />

confronto com as melhores codificações estrangeiras. Os trabalhos<br />

preparatórios e o ante projecto foram elaborados por uma Comissão<br />

presidida pelo Prof. Vaz Serra, tendo a sua revisão final cabido<br />

a Pires de Lima e Antunes Varela. Sem se esquecer a colaboração<br />

dada naturalmente por outros professores da Faculdade de Direito<br />

de Lisboa, pode dizer-se que a Universidade de Coimbra, através<br />

dos seus Professores, Salazar, presidente do Conselho de Ministros,<br />

Vaz Serra, presidente da Comissão, e Antunes Varela, ministro da<br />

Justiça, ficou para sempre ligada a essa obra jurídica.<br />

Como um dos maiores civilistas portugueses contemporâneos, Antunes<br />

Varela, à frente do Ministério da Justiça, no consulado de<br />

Salazar, produziu legislação de largo alcance (lembre-se o regime<br />

da propriedade horizontal, entre muitos outros).<br />

Grande publicista e notável conferencista, Varela foi director da<br />

centenária “Revista de Legislação e de Jurisprudência” que é a<br />

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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

mais antiga da especialidade e fora fundada por Chaves e Castro.<br />

Nessa Revista publicou notáveis anotações a Acórdãos do Supremo<br />

Tribunal de Justiça. Para se ver da qualidade desse Professor bastará<br />

citar, entre muitas outras obras da maior qualidade técnica,<br />

o “Direito das Obrigações”, o “Código Civil anotado” (c/ Pires de<br />

Lima), as “Lições de Processo Civil”, as “Lições de Direito de Família”.<br />

Cristão convicto, de inultrapassável coerência ideológica, muito<br />

empenhado no progresso económico e social, Antunes Varela não<br />

escapou aos ventos abrilistas, em que suportou enormes dificuldades,<br />

pelo que teve de se exilar no Brasil, mais propriamente na<br />

Bahia, onde se instalou como um vulgar advogado, sem meios de<br />

fortuna, que ia mesmo à barra dos tribunais, onde naturalmente<br />

alcançou grande prestígio. Lá publicou também um livro sobre “Direito<br />

das Obrigações”.<br />

Após a sua jubilação na Universidade de Coimbra, passou a leccionar<br />

noutras Universidades portuguesas e brasileiras, onde era<br />

especialmente apreciado.<br />

Fui seu adjunto na direcção do Centro Universitário de Coimbra,<br />

nos anos 50, e depois acompanhei-o na administração da SONAP<br />

onde ele era o presidente do conselho de administração. Daí que<br />

estas palavras revelem alguma emoção. Tenho porém a certeza<br />

de que existirá um consenso generalizado de admiração por esse<br />

grande português que acaba de partir… Paz a sua alma!<br />

Publicado no jornal “Região de Águeda” de 21/10/2005


cultura e subsídIos<br />

De vez em quando, para não dizer, com alguma frequência, assiste-se<br />

a debates sobre o financiamento da cultura, nas suas mais<br />

variadas formas de expressão: teatro, música, cinema, etc.<br />

Normalmente, está de um dos lados o produtor dos actos considerados<br />

culturais e do outro lado está o financiador ou não financiador.<br />

Raro se chega a uma conclusão diversa daquela que leva o<br />

espectador a concluir que o dinheiro gasto nunca é suficiente para<br />

os desejos dos artistas/produtores.<br />

Sinceramente não sei de que lado estará a razão. Mas lá que nesse<br />

campo existe a ideia de uma subsidiodependência muito grande<br />

parece que é indiscutível.<br />

Tenho o maior respeito, mesmo admiração, por todos aqueles que<br />

dedicam a sua vida a criar, sejam poemas/prosa, sejam coreografias,<br />

seja música, enfim todo e qualquer espectáculo/programa<br />

que não atente contra os princípios e valores da sociedade em que<br />

vivemos. Ao contrário, tenho um solene desprezo pelos programas,<br />

e muitos são, que ofendem o desenvolvimento harmonioso<br />

das crianças e a decência, e que nos entram pela casa dentro,<br />

todos os dias, através da “caixa mágica”.<br />

As boas vontades que por aí imperam não podem, porém, evitar<br />

que se faça uma avaliação da qualidade do que elas oferecem ao<br />

público consumidor.<br />

A forma mais simples de fazer essa avaliação consiste em registar<br />

a adesão, ou falta dela, aos produtos oferecidos. E essa avaliação<br />

é inexorável, num ou noutro dos sentidos.<br />

Pois bem, tive ocasião de assistir em Lisboa a dois espectáculos<br />

culturais de que gostei francamente.<br />

Um foi a revista à portuguesa “A Canção de Lisboa”. Trata-se de<br />

mais uma excelente produção de Filipe La Féria que consegue, sem<br />

subsídios estatais, segundo julgo saber, atrair o público que acorre<br />

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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

ao Politeama vindo em excursão dos mais variados pontos do País.<br />

Porque é que ele consegue essa grande adesão da população? Só<br />

encontro uma palavra para a classificar: qualidade!<br />

O outro espectáculo a que acabo de assistir foi a ópera “Carmen”<br />

de Bizet, no Coliseu dos Recreios. A comprovar o que digo atrás,<br />

até tive o grato prazer de lá encontrar um conterrâneo que hoje<br />

exerce medicina em Aveiro e que já não via há muito tempo – o<br />

Jorge Pinho e Melo - e que também ele se integrou numa dessas<br />

excursões culturais periódicas, em autocarro, organizadas pela D.<br />

Manuela Maia.<br />

O Coliseu tinha a plateia completamente cheia, tal como nos outros<br />

quatro espectáculos que proporcionou em Lisboa, depois de<br />

ter actuado no Porto e na Figueira da Foz. Todos estes espectáculos<br />

foram integrados na digressão europeia da Grande Ópera de Kazan,<br />

em celebração dos 1.000 anos dessa cidade da Tartária.<br />

Mesmo com preços que não são muito modestos para a época que<br />

atravessamos, o público não faltou para ovacionar os mais de 100<br />

artistas e músicos em palco. Porquê? De novo encontro a palavra<br />

adequada: qualidade!<br />

Curiosamente, à mesma hora, realizava-se também no Politeama,<br />

em frente do Coliseu, o espectáculo “A Canção de Lisboa”. E assim<br />

se cruzaram duas autênticas multidões que tinham em comum o<br />

desejo de apreciar produtos de qualidade, que são naturalmente<br />

fruto de muito trabalho e suor.<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 04/11/2005


PolítIcos InsacIáveIs<br />

Continuo a pensar que o Eng. Sócrates tem demonstrado, nas suas<br />

intenções, um espírito reformista que é de louvar.<br />

Será que ele está sofrendo muitas resistências para levar a cabo as<br />

suas ideias, designadamente quando se trata de medidas moralizadoras<br />

da classe política que temos tido desde Abril’74? Não pretendo<br />

dizer que não haja e não tenha havido gente séria nessa classe.<br />

Mas a maioria… deixa muito a desejar.<br />

Ainda agora o que se passou com a entrada em vigor do diploma<br />

da Assembleia da República relativo às benesses (citando M. Soares)<br />

de que usufruíam os autarcas foi simplesmente lamentável.<br />

O que a certamente programada burocracia dos senhores deputados<br />

fez para que os recentes eleitos pudessem ficar fora da alçada<br />

da Lei só deve envergonhar quem assim procedeu. Mas nada disso<br />

os envergonha porque, afinal, essa situação não era mais do que<br />

uma manifestação de solidariedade para com os seus camaradas<br />

autarcas. E assim sendo, vamos ter de continuar a olhar para esses<br />

senhores como uns privilegiados que trabalham 4 anos como se<br />

tivessem trabalhado 8 anos, para efeitos de reforma. E assim foi<br />

Sócrates desfeiteado.<br />

E tudo isto se passa precisamente numa época em que o governo<br />

está a aumentar a idade da reforma para os funcionários públicos.<br />

A desgraça destes é não serem nem políticos, nem tão pouco órgão<br />

de soberania.<br />

A situação financeira e económica do País impõe sacrifícios que todos<br />

temos de compreender, mesmo que a contra gosto.<br />

Mas que sejam todos a contribuir nessa cruzada que Sócrates está a<br />

empreender, e bem!<br />

Essas benesses, a que muitos chamam “direitos adquiridos”, estão a<br />

criar grandes dificuldades ao governo, com os sindicalistas na primeira<br />

linha de fogo, como era de prever. Outra coisa não seria de<br />

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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

esperar. Eles também andam nisto há 30 anos… sem saber o que<br />

significa a palavra renovação! E eu pergunto-me: será que a política<br />

de redução / eliminação de benesses / direitos adquiridos só vai<br />

atingir os mais fracos? E deixa de fora os poderosos?<br />

Aponto 2 exemplos: O dos ex-Presidentes da República e o dos ex-<br />

-Presidentes da Assembleia da República. Reconheço o melindre da<br />

situação, mas não será que, em democracia, todos os cidadãos são<br />

iguais perante as leis? Não está em causa, como é óbvio, nem o<br />

nome nem a dignidade das pessoas. Mas, por alma de quem é que<br />

os contribuintes têm de pagar as mordomias desses senhores, por<br />

mais respeitáveis que sejam e por melhor ou pior que tenham desempenhado<br />

os seus cargos, depois de abandonarem os mesmos?<br />

Compreende-se que se lhes criem condições para terem uma reforma<br />

digna, como deve suceder, aliás, a todos os trabalhadores que<br />

efectuaram os seus descontos para a segurança social ao longo da<br />

vida.<br />

Agora, para além dessa reforma, que já de si é excepcional e suficientemente<br />

confortável, atribuir aos ex-PR uma instalação num imóvel,<br />

uma secretária, um assessor(a), viatura de cilindrada elevada (e<br />

sua manutenção) e motorista, tenho de considerar uma verdadeira<br />

afronta que será própria de países ricos, o que não é decididamente<br />

o nosso caso. O mesmo direi relativamente aos ex-Presidentes da<br />

AR, embora só com viatura, motorista e pouco mais… Quanto custa<br />

tudo isso?...<br />

Segundo a imprensa acaba de relatar, o antigo palacete da Tapada<br />

das Necessidades, com 250 m 2, que vai ser a nova “casa” de Jorge<br />

Sampaio, quando ele também passar à situação de “ex”, está a ser<br />

objecto de uma recuperação cujo custo estará estimado em 120 mil<br />

contos. Será que esse dinheiro não seria mais bem utilizado, por<br />

exemplo, num Hospital ou num Centro de Saúde ou numa Escola?<br />

Alguém se preocupa, por exemplo, em fazer a avaliação dos gastos<br />

dos Chefes de Estado em viagens ao estrangeiro face ao eventual<br />

retorno em prestígio e negócios para o País? Só M. Soares terá à<br />

sua conta o equivalente a 22 voltas ao mundo… Contudo, as estatísticas<br />

internacionais colocam Portugal cada vez em pior lugar no<br />

ranking dos países da UE… Valha-nos Deus.<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 11/11/2005


ter MeMórIa / hIno nacIonal / o ensIno unIversItárIo<br />

1. Ter memória - A inexorável lei da vida não deixará certamente<br />

de se manifestar, mais cedo do que mais tarde, talvez mesmo<br />

através duma coisa… chamada próstata, por muito que se não<br />

queira admitir essa situação. Não tenhamos dúvidas. A idade não<br />

perdoa!<br />

Até lá, porém, procurarei exercitar a memória. É o que vou fazer<br />

agora, uma vez mais.<br />

Lembro-me de, em miúdo, ir com minha mãe à consulta do Sr.<br />

Dr. Breda, ao Hospital de Águeda. Não mais me saiu da memória<br />

o conselho dado no sentido de que me faria bem uma colher de<br />

vinho tinto para me estimular o apetite… Ainda hoje sigo o conselho,<br />

já não, porém, à colher…<br />

O Hospital era um local de excelência, reconhecido mesmo como<br />

o melhor do distrito de Aveiro. Desde os médicos, todos, às enfermeiras<br />

Irmãs religiosas, tudo funcionava bem e atempadamente.<br />

Tenho para mim que esse clima era devido, em grande parte, ao<br />

timoneiro que, diariamente e sem olhar a horários, vinha de Barrô.<br />

A seu lado, muito chegado, estava o Dr. Mateus Barbas dos<br />

Anjos.<br />

Quem, de Águeda, até aos anos 70, não passou pelas competentíssimas<br />

mãos clínicas de ambos?<br />

Quando Deus levou o Sr. Dr. Brêda logo Águeda sabia que o Hospital<br />

se mantinha em boas mãos: o novo Director, Dr. Mateus, era o<br />

natural sucessor do mestre. E assim continuou, gozando do mesmo<br />

prestígio, agora já com novas técnicas cirúrgicas próprias de quem<br />

se continuava a actualizar, em especial no contacto com os lentes<br />

da Universidade do Porto, dado o bom relacionamento dispensado<br />

sempre ao seu antigo aluno.<br />

Oposicionista ao antigo regime, nunca deixou de ser respeitado<br />

por todos, mas todos, os aguedenses.<br />

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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

Qualquer doente do foro oncológico que fosse enviado pelo Hospital<br />

Conde de Sucena para o IPO de Lisboa levava com ele uma<br />

recomendação do Dr. Mateus o que significava um acompanhamento<br />

desvelado do Prof. Gentil, designadamente através de uma<br />

enfermeira estagiária que, por acaso, também era de Águeda, de<br />

nome Esmeralda Pais Gomes. E o Dr. Mateus telefonava assiduamente<br />

para saber da evolução da doença.<br />

Creio sinceramente que só por manifesto esquecimento dos autarcas<br />

de Águeda é que, ao calcorriarem-se as ruas da cidade, se não<br />

encontra uma com o nome de Dr. Mateus Barbas dos Anjos.<br />

2. Hino nacional – Já por diversas vezes manifestei a minha estranheza<br />

pelo facto de a maioria dos jogadores da selecção nacional<br />

de futebol não cantarem o hino nacional no início dos jogos<br />

internacionais. Pois bem nos 2 últimos jogos a situação alterou-se<br />

de tal maneira que apenas o brasileiro naturalizado Deco ficou de<br />

boca fechada. Fiquei muito contente com a atitude dos jogadores.<br />

Que seja para manter!<br />

3. O ensino umiversitário – Através de recente entrevista dada<br />

pelo Reitor da Universidade de Lisboa ao jornal Público/Rádio Renascença,<br />

ficou-se a saber que as despesas associadas ao seu pessoal<br />

“comem” 99,7% do seu orçamento. As Universidades não<br />

lutaram pela total autonomia? Souberam usá-la bem? Então de<br />

quem é a culpa desse desvario? Não é dos contribuintes certamente…<br />

Pobres contribuintes…<br />

Apurar responsabilidades é que não se usa…<br />

Publicado no jornal “Região de Águeda” de 11/11/2005


candIdaturas PresIdencIaIs<br />

Têm estado na ordem do dia da comunicação social as candidaturas<br />

presidenciais.<br />

São as apresentações das candidaturas, são as apresentações dos<br />

programas dos candidatos, são as entrevistas às televisões, são as<br />

entrevistas às rádios, são os sites da Internet, são os almoços, são<br />

os jantares, são as visitas cirúrgicas a hospitais, a faculdades, a<br />

feiras, a ruas e vielas…<br />

Mesmo que se não queira, somos bombardeados diariamente com<br />

notícias mais ou menos interessantes sobre o assunto.<br />

Devo dizer que, das apresentações dos programas a que assisti<br />

pela televisão, o mais bem conseguido foi o de Alegre: bem estruturado,<br />

bem lido, bem dito. O apelo a favor da Pátria comoveume…<br />

a fazer esquecer comportamentos dos princípios da década<br />

de ’70!<br />

Sem querer menosprezar qualquer das candidaturas que estão no<br />

terreno, começo por dizer que só há três delas que são para levar<br />

a sério. A do simpático e coerente Jerónimo e a do eloquente agitador<br />

de ideias Louça são candidaturas que apenas têm duas preocupações:<br />

por um lado usarem tempo de antena de 1ª categoria…<br />

e, por outro lado, atacarem o, por eles, denominado candidato da<br />

direita…<br />

Na verdade, com hipóteses de disputarem o lugar de Presidente da<br />

República, apenas se perfilam Soares, Alegre e Cavaco.<br />

Chegado aqui, das actuações de todos eles, até agora, começo<br />

a aperceber-me de que há um candidato e dois (ou quatro) “anti<br />

candidatos”e que pouco mais acrescentam aos seus discursos. Cavaco<br />

não tem respondido aos ataques (entrevistadoras incluídas)<br />

e faz bem. Os jogos ganham-se a meter golos limpos e não só a<br />

fazer anti-joga no meio campo, a fazer faltas, até maldosas! Sim,<br />

porque a dureza dos golpes, por vezes, leva à amostragem do<br />

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135<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

cartão vermelho… No caso, esse cartão está no povo que não é<br />

estúpido. Estamos, pois, perante dois sexagenários e um octogenário.<br />

Até pela minha idade, ficar-me-ia muito mal, desprezar a<br />

experiência e o saber dos idosos. Sempre os respeitei e assim faço.<br />

Se o cargo em disputa fosse o de Rei de Inglaterra, considerava-os<br />

a todos em igualdade de circunstâncias. Mas não é.<br />

O esforço financeiro que o Estado vai exigir aos contribuintes para<br />

pagar este tipo de eleições representa algumas dezenas de milhões<br />

de euros, ou seja largos milhões de contos.<br />

Isto é, quanto menos eleições presidenciais se realizarem, menos<br />

menos sofrerão os contribuintes nos seus bolsos.<br />

Significa isto que, por força das leis da vida, os dois sexagenários<br />

mereçam a minha escolha, não obstante Soares estar convencido<br />

(estará?) que tem uma saúde de ferro. Ele merece, isso sim, um<br />

descanso por longos anos, entre todos os que o admiram…<br />

Chegado aqui e, embora nada contando a minha opinião para<br />

o caso, constato que não tenho a possibilidade de eleger pessoa<br />

com um perfil de um Guilherme Braga da Cruz, de um Daniel Serrão,<br />

de um Hernâni Lopes ou de um Medina Carreira. Tenho assim<br />

de me limitar a analisar os “curricula” dos dois sexagenários.<br />

E faço a opção a favor de quem se apresenta com obra feita (mesmo<br />

com algumas asneiras pelo caminho) e um percurso académico<br />

e profissional mais adequado ao que o País precisa. Acho<br />

que Cavaco não tem o dom da simpatia, mas penso que é sério,<br />

honesto, trabalhador e sólido intelectualmente - e está na idade<br />

adequada!... Assim, é nele que espero votar, face à “ementa” que<br />

os políticos nos põem à disposição em 22 de Janeiro próximo.<br />

Já agora, acrescento duas pequenas notas:<br />

1. Considero lamentável a sugestão lançada por deputados do PS<br />

ao seu não-candidato para que suspendesse o mandato, por razões<br />

éticas. Qual ética? Que Deus me perdoe, mas penso que essa<br />

auto-suspensão teria um efeito único: o de retirar a mordomia<br />

do carro e motorista ao seu não-candidato, durante o período da<br />

suspensão do mandato. Não seria isso que daria gozo aos seus<br />

camaradas?<br />

2. Muito apreciaria ouvir de todos os candidatos a Presidente, uma<br />

declaração no sentido de que, se forem eleitos, renunciarão ao<br />

direito a uma casa e sua manutenção, uma viatura, um motorista,


combustível, secretária, assessor, etc., quando saírem do cargo e<br />

outra explicitando quantas voltas ao mundo esperam dar, durante<br />

o mandato, em Falcon ou AirBus.<br />

3. Ao menos honrem os Homens da I República!<br />

Publicado no Jornal “Soberania do Povo” de 09/12/2005<br />

136


o crucIfIxo<br />

137<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

Portugal tem uma História de muitos séculos, não de alguns lustres!<br />

Tentar apagar essa história, pejada de acontecimentos heróicos<br />

e dificilmente imagináveis nos dias de hoje, a par de algumas<br />

passagens menos felizes, tem sido o objectivo de uns tantos que<br />

pululam por aí como erva daninha!<br />

Felizmente, porém, que ainda há quem galhardamente procure<br />

remar contra essa maré de águas sujas. Um dos que mais se tem<br />

distinguido nessa é o Prof. José Hermano Saraiva que, há mais de<br />

30 anos, nos entra em casa semanalmente, pela TV, com programas<br />

inultrapassáveis em comunicabilidade e transmissão da ideia<br />

de Pátria. Faz gosto ouvi-lo.<br />

Tudo serve para se tentar apagar as raízes e os factos – sim, factos<br />

– que, mesmo mais recentes, marcaram a nossa sociedade. Nem<br />

que para isso se tenha de usar o argumento da bomba (como foi<br />

o caso da destruição da estátua a Salazar, em Santa Comba Dão)<br />

ou o argumento da Constituição, em cujas bases marxistas se fixou<br />

logo a seguir ao 25 de Abril. Tenho sérias dúvidas que, em referendo,<br />

o povo português viesse alguma vez a dizer que concordava<br />

em que o Estado fosse considerado laico, tal como está a ser<br />

entendida essa laicidade. Sim, porque quem votou a Constituição<br />

foram os políticos que, mesmo amedrontados e com má consciência,<br />

se viram arrastados pelas chamadas forças de esquerda mais<br />

radicais… a quem não tiveram a coragem de dizer basta!<br />

Aceita-se, naturalmente, que essa laicidade apenas garanta a liberdade<br />

religiosa numa sociedade que todos gostaríamos que fosse<br />

tolerante, aberta e plural!<br />

Isto vem a propósito da retirada dos crucifixos das Escolas. Na verdade,<br />

o País está mergulhado numa crise sem precedentes, e não<br />

só em termos económico-financeiros, mas parece que apostou em<br />

matérias que só servem para dividir ainda mais a sociedade civil.


Primeiro, é o aborto que, para além de agitar muito naturalmente<br />

as consciências dos que nele se envolvem, tem sido tema recorrente<br />

discutido na rua, com deputada actriz a dar espectáculo…<br />

Agora, pelo facto de a Constituição dizer que Portugal é um Estado<br />

laico, toca a remover, mesmo silenciosamente, os símbolos cristãos<br />

que os estudantes viam nas paredes das salas de aula. Ainda não<br />

há muito tempo, os tínhamos visto substituídos por “posters” do<br />

Che Guevara, do Mao Tsé Tung, etc… E agora, as paredes vão ficar<br />

nuas? Ou lá porão as fotos dos sucessores de Thomaz e Salazar?<br />

Já viram quanto isso vai custar aos contribuintes? Sai Soares, entra<br />

Sampaio, sai Sampaio entra não sei quem… e por aí fora, lá se vão<br />

gastando mais uns milhões com figuras terrenas e passageiras.<br />

Por mais que os laicos e os agnósticos façam em contrário, CRISTO<br />

viverá sempre entre nós. Há 2 mil anos, pode dizer-se que também<br />

teve de viver em clandestinidade… Hoje tal não se passará porque<br />

o bom povo cristão de Portugal o não consentirá…<br />

Os senhores políticos devem tratar bem da res publica e deixar-se<br />

de perseguir o que na história está já registado como património<br />

cultural e moral da Nação centenária, herdada de D. Afonso<br />

Henriques. Curiosamente, este ataque sem nome aos cristãos e à<br />

igreja católica não é compaginável com a atitude que os políticos<br />

laicos, agnósticos ou maçons de destaque assumem quando lhes<br />

dá jeito comparecerem em Igrejas para funerais de um dos seus<br />

ou onde se celebram Te Deum’s que arrastam as televisões… e lá<br />

ficam, muito bem comportadinhos na fotografia… Suprema hipocrisia…<br />

Será que eles pensaram alguma vez na figura que fazem<br />

com essas presenças só para uso externo?...<br />

Por ironia do destino, ou propositadamente, este tema não poderia<br />

mesmo ter sido levantado em melhor momento – a época natalícia<br />

- para ser executado!...<br />

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139<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

Sem valores e sem símbolos históricos bem ensinados na Escola,<br />

Portugal não passará de uma aldeia periférica da Europa.<br />

É NATAL, meus amigos! Por isso desejo Boas Festas a todos!<br />

Publicado no Jornal “Região de Águeda” em 30/12/2005


notas soltas<br />

1. Burocracia – Há dias fui à Conservatória do Registo Automóvel<br />

em Lisboa. Fiquei com boa impressão das instalações e da organização<br />

dos serviços com muitos “guichets” e funcionários amáveis.<br />

Mas… uma senhora, com ar desesperado, sentou-se ao meu lado<br />

e desabafou: Eu e meu marido somos emigrantes na Suiça. É a 2ª<br />

vez que nos fazem vir a estes Serviços para tratar de um assunto<br />

que, na Suiça, leva 5 minutos a resolver… Será assim?<br />

2. À mulher de César não basta… - Numa altura em que a<br />

crise que assola os bolsos dos portugueses trabalhadores, tenho<br />

de estar de acordo que é preciso fazer sacrifícios. O Governo não<br />

tem outra alternativa que não seja a de prosseguir também com o<br />

emagrecimento do Estado devorador dos impostos que todos pagamos.<br />

Essa política, para ser razoavelmente aceite pela população,<br />

tem naturalmente de começar pelos políticos que nos governam.<br />

O exemplo tem de vir de cima. Se não, está tudo estragado! Pois<br />

bem, neste final do ano fiquei triste ao saber que o Eng. Sócrates<br />

tinha ido de férias para as neves suíças… Já não lhe chegaram as<br />

férias de verão no Kénia, quando o País estava a arder… Espero<br />

bem, ao menos, que não se tenha feito deslocar em Falcon, para<br />

os pilotos fazerem horas de voo…<br />

3. O Europeu de Futebol dos Sub-21 – Fiquei muito contente<br />

por saber que o campeonato vai ser disputado em Portugal, sendo<br />

o Estádio de Águeda um dos a utilizar na prova. Uma boa notícia<br />

para os aguedenses! Oxalá a cidade saiba aproveitar essa dádiva<br />

da F.P. Futebol, potenciando a sua imagem.<br />

4. Desemprego – Um dos maiores flagelos que atormenta as famílias<br />

é o desemprego. Para os que já estão nessa situação, sem o<br />

desejarem, para os que poderão vir a cair nessa situação e para os<br />

jovens que tiraram os seus cursos… para nada…<br />

O Governo prometeu a criação de largas dezenas de milhares de<br />

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141<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

postos de trabalho. Só que, quem pode criar esses postos, são as<br />

empresas e a economia está praticamente estagnada… Mesmo assim,<br />

o grande empregador, o desmesurado empregador, continua<br />

a ser o Estado que é dirigido por políticos, entre os quais muitos há<br />

bem intencionados, mas outros há, que nem tanto. Vejamos! No<br />

Diário da República de 17 de Agosto último, li que um político de<br />

1º plano – vice-presidente da A.R. (não bebeu a água do Botaréu)<br />

nomeou seu motorista um funcionário aposentado que será, naturalmente,<br />

uma pessoa muito estimável e competente. A esse motorista<br />

será creditada uma remuneração correspondente a 1/3 do<br />

8º escalão da sua carreira, acrescida da remuneração suplementar<br />

que as mordomias (LOFAR) da A.R. contêm e mais o subsídio de<br />

risco, subsídio de refeição, subsídio de lavagem da viatura, bem<br />

como a compensação por trabalho prestado em dia de descanso<br />

semanal ou complementar ou feriado… Isto só com os políticos!...<br />

De acordo com a política de combate ao desemprego, não seria<br />

mais curial e moral contratar um dos cidadãos que se debatem<br />

com a falta de trabalho?...<br />

Bem prega Frei Tomaz… Com políticos destes, bem pode o povo<br />

berrar!...<br />

5. O Voto – Por estas e por outras é que se depara hoje em dia<br />

com caixotes do lixo da cidade de Lisboa exibindo autocolantes<br />

que dizem simplesmente isto: “Votar é mijar contra o vento”.<br />

6. O Desporto em Democracia – Ao ler o livro “Académica Sempre<br />

– a poética do futebol” da autoria do Professor, poeta e cantor<br />

de baladas de Coimbra, Carlos Carranca, deparei com esta passagem:<br />

“…No Portugal da Ditadura o futebol servia como factor de<br />

congregação, aproximava as classes, era o espaço da democracia<br />

possível. Hoje é o espelho da segregação, da democracia que temos…”<br />

O autor é considerado um homem de esquerda mas, acima de<br />

tudo, é um homem de carácter, um homem sério.<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 06/01/2006


valores, acadéMIca de coIMbra, censura…<br />

1. Valores e Publicidade – Já aqui escrevi sobre o défice existente<br />

em termos de hino nacional no meio futebolístico. É costume atirar<br />

sempre as culpas para a Escola que não dedicará agora o tempo<br />

suficiente para ensinar a cantar o hino aos jovens. Mas será? O<br />

certo é que, nos recintos desportivos, em jogos internacionais, nós<br />

assistimos ao povo a cantá-lo a plenos pulmões, o que é salutar e<br />

demonstra que os Pais passaram aos filhos essa mensagem…<br />

Recentemente, uma grande empresa – a PT – resolveu dar uma<br />

mão à causa do hino nacional. Da melhor maneira? Talvez não<br />

seja, na medida em que a PT se aproveita do hino para, simplesmente,<br />

publicitar os seus produtos… Onde estão os Valores por<br />

que Portugal se deve pautar? A publicidade não tem limites! Vende<br />

tudo! É o corpo da mulher, é o corpo do homem, etc. etc..<br />

Por este andar, não poderei estranhar que, amanhã, venha a ouvir<br />

o hino nacional a publicitar a Coca-Cola… com o Presidente Bush<br />

colocando a mão no coração…<br />

2. Académica de Coimbra – É o clube de futebol da minha paixão<br />

de há 60 anos para cá. Sempre vivi intensamente as suas vitórias<br />

(não foram muitas, é certo) e sofro em silêncio quando não joga<br />

bem. Uma das razões para a minha paixão está baseada no facto<br />

de os jogadores da Académica, de uma maneira geral, serem também<br />

estudantes, com grande sucesso profissional, alguns. Quantos<br />

médicos, advogados, engenheiros, professores, etc. tiraram os<br />

seus cursos, enquanto envergavam a camisola negra!... Conheço<br />

e sou amigo de tantos!...<br />

Os tempos mudaram e a Académica teve de se adaptar, com alguma<br />

dor, certamente, para quem a tem no coração.<br />

Hoje, a Académica está abrasileirada demais para o meu gosto.<br />

Nem por isso deixo de ir ao campo vê-la jogar: para ganhar como<br />

foi o caso do último Sporting/Académica e para perder como foi<br />

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143<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

o caso do recente Boavista/Académica. Mas nem tudo são tristezas.<br />

O Marcelo acaba de concluir, na Universidade de Coimbra, a<br />

licenciatura em Engenharia Civil e o Nuno Piloto a de Bioquímica<br />

(esta com 19 valores). Estes atletas mostram assim que o espírito<br />

da Académica não morreu. É pena as excepções serem poucas. E<br />

também se espera que a elas se venha a juntar mais uma – a do<br />

estudante da Faculdade de Letras, jovem José Castro, que está escolhido<br />

para o Europeu de Esperanças, a lembrar o Alberto Gomes<br />

e o Bentes!<br />

3. A censura – Não é segredo para ninguém que existia censura<br />

nos jornais durante a Ditadura que foi substituída pela Democracia.<br />

Havia, porém, um sector onde essa censura se não fazia sentir:<br />

o desporto! Pois bem, ouvi há dias dizer a um historiador de méritos<br />

reconhecidos – José Pacheco Pereira – que “…a censura não<br />

permitia que se dissesse mal dos árbitros…”. Será que o nome de<br />

Calabote não figurava nas notícias dos jornais? Também os historiadores,<br />

por vezes, não devem ser levados a sério… Ser-se de<br />

esquerda, por si só, não dá direito a dizer-se que a Ditadura só<br />

cometeu crimes e nenhuma virtude teve… Sei bem o que sofri com<br />

a liberdade de imprensa existente na actividade desportiva nesse<br />

tempo!... Pelo menos, nesse tempo, não existiram processos com<br />

a extensão do “Apito Dourado” que, estou em crer, vai dar em<br />

nada… a avaliar pelo estado a que a justiça chegou.<br />

Não resisto a transcrever aqui uma opinião do Professor de história,<br />

Carlos Carranca, homem de esquerda, que escreveu: “…No<br />

Portugal da Ditadura o futebol servia como factor de congregação,<br />

aproximava as classes, era o espaço da democracia possível. Hoje<br />

é o espelho da segregação, da democracia que temos…”.<br />

Publicado no jornal “Região de Águeda”, de 13/01/2006


a constItuIção da rePúblIca<br />

A chamada esquerda tem sempre invocado a Constituição da República<br />

como sendo o garante primeiro do progresso e do desenvolvimento<br />

do nosso País. Por outro lado, a chamada direita invoca-a<br />

para dizer que ela, para além de muitas virtualidades que encerra,<br />

tem dispositivos que impedem esse progresso e desenvolvimento.<br />

Em que ficamos, afinal?<br />

Constatamos que, à sombra da Constituição, nos últimos 30 anos,<br />

foram constituídos 17 Governos, presididos por 12 Primeiros Ministros.<br />

Em pastas-chaves, tivemos 19 ministros das Finanças e, na<br />

Economia/Indústria e Energia, os mesmos 19, e na Educação mais<br />

um – 20. Com tanta variedade de figuras à frente da governação,<br />

o resultado está à vista. Ninguém se entende e o povo sofre.<br />

A linha política comum aos partidos que nos têm governado tem-<br />

-se consubstanciado numa subsidio-dependência tremenda e<br />

numa incapacidade objectiva de resposta ao desafio que é a integração<br />

de Portugal na Europa. Embora dizendo que defendem políticas<br />

diferentes, os partidos têm permitido – sem quererem, talvez<br />

– a instalação de uma corrupção generalizada no Estado, e não só,<br />

a qual afronta o comum dos cidadãos.<br />

A começar por cima, não é segredo para ninguém que, mesmo na<br />

Assembleia da República, alguns há que, protegidos pelos partidos<br />

e pela imunidade parlamentar, fazem a sua vidinha enriquecendo<br />

de uma forma surpreendente. Cite-se o exemplo do mais conhecido<br />

dirigente do partido que apoia o governo e continua a falar<br />

grosso que, segundo a revista SÁBADO (11/11/05), em 2004, terá<br />

declarado às Finanças rendimentos de mais de 180 mil euros e<br />

no Tribunal Constitucional mais de 460 mil euros. Desses tantos<br />

milhares de euros o político em causa apenas terá ganho cerca<br />

de 55 mil euros como deputado, o que, convenhamos, de facto, é<br />

muito pouco!!! E por isso se ouvem vozes importantes reclamarem<br />

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145<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

aumentos de ordenados para os políticos… a maioria, trabalham<br />

por conta de outrem… Haja decência!<br />

De todos os políticos conhecidos do bloco central que têm andado<br />

na engrenagem, quantos é que não aumentaram substancialmente<br />

os seus activos patrimoniais e financeiros? Se se fizesse uma listagem<br />

dos que, ao contrário, pouco ou nada retiraram do facto de<br />

terem usado a política, o seu número não seria grande, certamente.<br />

Sim, porque também há políticos que se preocupam, apenas e<br />

só, em servirem a res publica, há que reconhecê-lo e que louvar.<br />

Tudo isto para dizer que, sem partidos políticos, não há democracia<br />

possível. Mas que os partidos, dada a sua actuação no terreno,<br />

terão falhado redondamente a sua missão, disso tenho poucas dúvidas.<br />

Até no campo da formação da juventude que anda desorientada<br />

mas que, creiam, sabe o que quer!<br />

Precisamos de menos deputados, mas bem qualificados (e não carreiristas),<br />

que dêem voz ao interior nas suas legítimas aspirações<br />

a uma vida melhor e sem sobressaltos; ao interior que empobrece<br />

dia a dia e se espanta com o enriquecimento de uns tantos instalados<br />

no ar condicionado dos palácios onde nada falta.<br />

Será que a culpa dos nossos atrasos está na Constituição? Ou nos<br />

(todos) que a louvam e dizem defendê-la a todo o custo, sem olhar<br />

para o futuro que está à nossa frente?...<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 20/01/2006


econhecIMento do MérIto, caMPanha eleItoral<br />

1. Condecoração – Há dias, em cerimónia simples realizada no<br />

Palácio de Belém, o Sr. Presidente da República condecorou o Eng.<br />

Belmiro de Azevedo com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique.<br />

Tive a honra de ser convidado para o efeito e assim me juntei<br />

aos seus familiares e amigos mais próximos, onde predominavam<br />

os seus colaboradores e ex-colaboradores directos na Sonae, bem<br />

como os maiorais da COTEC.<br />

Fiquei enternecido, especialmente com as manifestações de afecto<br />

dos seus netos que, muito compostinhos, enriqueceram a cerimónia,<br />

como que a dizer que acreditam nas instituições e nos homens<br />

que as servem! Foi muito bonito!<br />

A Pátria reconheceu assim, finalmente, o que o homenageado tem<br />

feito a criar riqueza por esse mundo fora (14 países), com dezenas<br />

de grandes prestigiadas empresas, sem salários em atraso para os<br />

seus cerca de 60.000 trabalhadores…<br />

Mas, até aqui, tal como em tantos outros domínios, Portugal se<br />

atrasou, na medida em que já antes, o Rei de Espanha o tinha<br />

condecorado em cerimónia de alto nível…<br />

Parabéns, Belmiro e Margarida!<br />

2. Campanha eleitoral – Finalmente, chega ao fim a campanha<br />

eleitoral para a Presidência da República. E dou comigo a pensar<br />

se as pessoas não terão ficado fartas de tão prolongada e arrastada<br />

campanha ao longo de vários meses…<br />

Foram horas e horas de rádio e televisão e páginas e páginas de<br />

jornais com pouquíssimas novidades. Os candidatos bem se esforçaram<br />

por fazer passar as suas mensagens. Eu devo ter estado<br />

muito desatento, mas o que ouvi e li foi mais ou menos o seguinte:<br />

Cavaco a dizer que respeitará a Constituição, estará atento aos<br />

problemas do País e ajudará o governo a levar o seu mandato até<br />

ao fim; e os outros candidatos, fundamentalmente, a provocarem<br />

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147<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

doentiamente Cavaco, chegando mesmo o candidato mais velho<br />

a ser insultuoso para com o Professor de Economia que foi primeiro-ministro.<br />

Ideias novas, talvez, só Louçã as tentou lançar… ao<br />

vento.<br />

O que não custaram estes tempos de antena e os outros encargos?<br />

O que parece ser de ciência certa é que o erário público – os<br />

impostos pagos pelo povo – vai ter de liquidar uma factura de 12<br />

milhões de euros…<br />

Na verdade, quem diz que somos pobres está muito enganado.<br />

Somos antes um País rico que aguenta com luxos como estes…<br />

Uma eleição a que correspondesse uma campanha de apenas 2<br />

semanas e em que só tivesse direito a subvenção do Estado quem<br />

alcançasse pelo menos 25% dos votos seria suficiente para se avaliar<br />

das capacidades dos candidatos, evitando-se um folclore como<br />

aquele a que vimos de assistir, e um grande desperdício de tempo<br />

e de dinheiros públicos… tão necessários à melhoria das condições<br />

de vida dos mais desfavorecidos.<br />

Já agora, ao menos que ninguém fique sem votar no dia 22.<br />

Publicado no jornal “Região de Águeda” de 20/01/2006


a burocracIa e a banca PortuGuesa<br />

1.Burocracia - Tem vindo a lume o anúncio de muitas medidas<br />

que visam eliminar/atenuar o monstro da burocracia que afecta<br />

a vida dos cidadãos. Só quem tem necessidade de se abeirar dos<br />

serviços públicos, para obter uma simples certidão ou uma autorização<br />

para um mero acto administrativo, se apercebe das horas<br />

perdidas, dos transportes necessários às deslocações, do dinheiro<br />

gasto, etc..<br />

Há pois que felicitar sinceramente José Sócrates, pela coragem que<br />

tem vindo a revelar no combate a esse e outros monstros. Oxalá<br />

que os executantes dessa política tenham o mesmo “élan” que o<br />

Primeiro-Ministro para pôr de pé essas medidas que, certamente,<br />

não agradam aos actuais detentores desse poder na Administração…<br />

Até porque, nesse poder, reside, em grande parte, a corrupção<br />

que grassa ao nível do Estado, segundo é voz corrente!<br />

A propósito da burocracia, que não é de agora, é de sempre, não<br />

resisto a contar um episódio que vivi por dentro, na minha qualidade<br />

de director geral dos Desportos. Isto passou-se em 1969. Os<br />

dirigentes eleitos para os corpos gerentes dos organismos desportivos<br />

(clubes, associações regionais e federações nacionais) eram<br />

obrigados, por lei, a subscrever uma Declaração prevista no Decreto-Lei<br />

nº 27 003 – a repudiar o comunismo – mas que se reconhecia<br />

ser uma mera formalidade burocrática, sem outro alcance<br />

que não fosse a de complicar a vida desses organismos. Assim<br />

sendo, mesmo sem se ter alterado a legislação aplicável, propus<br />

ao Subsecretário de Estado da Juventude e Desportos, Dr. Francisco<br />

Elmano Alves, que se eliminasse a referida exigência, o que foi<br />

aceite sem relutância.<br />

Outra medida burocrática que me parecia merecer revisão era a<br />

que obrigava o director geral dos Desportos a consultar a Direcção<br />

Geral de Segurança sobre a idoneidade política dos indivíduos<br />

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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

referidos atrás. Como não tinha ideia de que essa medida, por<br />

mim, tivesse alguma vez sido aplicada em casos – que os houve<br />

– de informação negativa por parte da DGS, também propus a sua<br />

abolição, o que igualmente foi aceite pelo Governo de Marcello<br />

Caetano. Ou seja, o combate à burocracia vem de longe e nunca<br />

estará concluído. E quanto maior for a máquina funcional do Estado<br />

mais difícil se torna acabar com ela…<br />

2. Lucros da banca e das grandes empresas com capitais<br />

públicos – Desde o princípio de Janeiro que não há dia em que se<br />

não anunciem novos aumentos de preços dos produtos indispensáveis<br />

à vida comezinha dos cidadãos que constituem o povo. É a<br />

electricidade, é o gás, é a água, são os combustíveis, os transportes<br />

e as portagens; são os IMI’s, é o IRS, são as comissões bancárias,<br />

enfim, é um ver se te avias… Muitos dos aumentos são superiores<br />

à inflacção prevista para 2006. E, quanto a aumentos salariais<br />

e de reformas/ aposentações, o panorama é simplesmente mau<br />

para quem serve ou serviu o Estado e não tem poder reivindicativo.<br />

Como exemplo, dizem-me que, nos últimos anos, a minha pensão<br />

de aposentação já perdeu 8 pontos de poder de compra!<br />

Ao mesmo tempo, começam a aparecer na imprensa os resultados<br />

das grandes empresas e da Banca. Só os 3 maiores bancos portugueses<br />

somaram lucros, em 2005, de mil e 300 milhões de euros.<br />

Então esses fabulosos lucros não permitiriam ser utilizados de forma<br />

a não causticar tanto os Clientes desses bancos e empresas?<br />

Esperar-se-ia, digo eu, em relação à banca, uma intervenção moderadora<br />

do Banco de Portugal! Mas não, nada disso. O Governador<br />

do Banco deve estar mais preocupado com o esquema de<br />

reformas da instituição! Sim, porque, a seguir à oportuna intervenção<br />

de José Sócrates em termos de reformas escandalosas, até<br />

agora, ao que parece, não se passou nada, a não ser a nomeação<br />

de uma comissão… E segue-se a escandalosa reforma do presidente<br />

da PT…<br />

Aproveito para dizer que não gostei da atitude do Primeiro-Ministro,<br />

ao renovar o mandato do adulado Governador, precisamente<br />

no dia seguinte à eleição de Cavaco Silva. Foi, no mínimo, deselegante.<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 10/02/2006


eventos culturaIs<br />

Lisboa tem sido palco de manifestações culturais muito boas. No<br />

passado mês de Janeiro, tivemos oportunidade de ouvir no Centro<br />

Cultural de Belém, com casa esgotada, o excelente concerto<br />

“Wiener Gala Strauss”, interpretado pela orquestra austríaca “K&K<br />

Philharmoniker”.<br />

No Coliseu, ainda está em cena o musical “Miss Saigon”, que tem<br />

tido enorme audiência nos grandes palcos mundiais. Lá estava,<br />

uma vez mais, um “autocarro” de aveirenses que não faltam a<br />

estes grandes eventos musicais.<br />

E assistimos, também no CCB, com lotação esgotada igualmente,<br />

à exibição do “Ballet Nacional de España”. Confesso que, sempre<br />

que tenho oportunidade, não falto a uma exibição desse Ballet.<br />

No decurso do espectáculo, revivi algumas deslocações que fiz a<br />

Espanha onde tenho boas amizades, especialmente feitas no desporto.<br />

E veio-me à memória um episódio que não resisto a contar.<br />

No ano 1948, era eu estudante em Coimbra, tive o ensejo de assistir<br />

na Universidade ao doutoramento honoris causa do Chefe de<br />

Estado espanhol Generalíssimo Francisco Franco que se fez transportar<br />

num Mercedes blindado, coisa rara ao tempo. Sim, porque<br />

agora, até um presidente de câmara não hesitou em comprar um<br />

topo de gama com essa característica… O povo que pague…<br />

O programa da visita de Franco incluía um espectáculo no Teatro<br />

de S. Carlos. Para ele, pensou-se no “Verde Gaio” que era o<br />

melhor de que Portugal dispunha nessa altura. Só que o Caudilho<br />

estava habituado a um nível mais elevado de cultura… Para<br />

resolver o problema, o Dr. José Figueiredo, director do S. Carlos,<br />

lembrou-se de recorrer ao talento de Guilhermina Suggia, que era<br />

então considerada a melhor violoncelista do mundo! Como se vê,<br />

sempre houve grandes talentos na Pátria portuguesa!<br />

150


151<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

Foi com grande dificuldade que a Senhora se deixou convencer a<br />

fazer um recital, cujas peças escolheu, não sem logo ter estabelecido<br />

o seu preço – 25 contos, uma autêntica fortuna em 1948.<br />

Preocupado com o preço, o Dr. Figueiredo transmitiu o teor da<br />

conversa havida com a artista ao Ministro da Educação, Prof. Dr.<br />

Fernando Pires de Lima que, também tendo achado elevada a verba<br />

exigida, levou o tema ao Doutor Salazar. Curiosamente, contrariamente<br />

ao que esperava ser a reacção do Presidente do Conselho,<br />

este limitou-se a comentar: “O senhor Ministro sabe tocar<br />

rabecão?…”. Perante a resposta: “Eu não sei!...!”, Salazar rematou:<br />

“Então…pague…”.<br />

Isto foi no tempo em que não entravam diariamente em Portugal<br />

milhões de euros da União Europeia… para serem gastos sabe<br />

Deus como, infelizmente.<br />

A par desses milhões, os portugueses também vão importando<br />

práticas políticas menos saudáveis. Veja-se o alarido que o ex-ministro<br />

e actual deputado do PS, Pina Moura, tem provocado pela<br />

situa-ção, quanto a mim, reprovável de misturar política com negócios…<br />

Mas já ninguém fala do também socialista senhor Schroder,<br />

ex-Chanceler da Alemanha que, mal se viu apeado do governo<br />

e com mau perder nas eleições, tratou logo de se gaseificar<br />

por pipe-line… Exemplos não faltam, mas estas democracias tudo<br />

suportam…<br />

Publicado no jornal “Região de Águeda” de 17/02/2006


desPorto e cultura<br />

Há dias, o canal de televisão “Eurosport” proporcionou a uns tantos<br />

milhões de espectadores um espectáculo de enorme beleza, ao<br />

transmitir a cerimónia inaugural dos Jogos Olímpicos de Inverno<br />

que teve lugar nos Estádio Comunal de Torino (não como cá, nele<br />

jogam a Juventus e o Torino…).<br />

Nos jogos estão inscritos 83 países, com alguns milhares de atletas<br />

que competem durante 17 dias. Portugal também lá está com um<br />

único atleta, Danny Silva, que participa na prova de cross.<br />

Para além do desfile das delegações dos diferentes continentes, os<br />

cenários apresentados tinham como pano de fundo a história de<br />

Itália ao longo dos séculos, não esquecendo a evolução da maquinaria<br />

industrial, desde a simples bigorna até às motorizadas e aos<br />

Fórmula 1. Colaboraram na organização 25.000 voluntários!!!<br />

Aos equipamentos multicolores dos e das atletas, juntaram-se os<br />

trajes dos intervenientes dos diferentes quadros que compunham<br />

o espectáculo de luz e cor. O dedo de G. Armani também lá estava<br />

em peças determinadas… O design arrojado e tecnologicamente<br />

futurista e bem concebido em todos os pormenores não passou<br />

despercebido. Tratava-se de um guarda-roupa belíssimo e de<br />

luxo.<br />

O apoio dado, especialmente, pela FIAT e a família Agnelli foram,<br />

certamente, decisivos para esta realização que envolve muitos milhões,<br />

quase tantos como os da OPA sobre a PT!!! Só uma cidade<br />

rica como é Torino se podia dar ao luxo de se abalançar a tão<br />

elevados gastos.<br />

Os efeitos de luzes e som, com verdadeiros artistas a interpretar<br />

alguns números do programa que decorreu sempre em bom ritmo,<br />

impressionaram fortemente. Um grande actor italiano fez ouvir a<br />

sua voz a declamar uma peça de intenso significado. Os e as numerosas<br />

bailarinas executaram peças de belíssimo efeito, ao som<br />

152


153<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

de coros e orquestra de grande categoria. O desenho dos anéis<br />

olímpicos e do skiador, com figuras humanas, em diversas posições<br />

competitivas, na pista, não são esquecíveis. E que dizer dos acrobatas<br />

que desenharam a pomba da Paz em posição vertical, como<br />

que a realçar o espírito da Paz entre os povos. Foi simplesmente<br />

assombroso! Tal como o acender da chama olímpica que foi transportada<br />

por grandes nomes italianos medalhados nas competições<br />

dos desportos de Inverno, também deslumbrou!<br />

Comoveu-me ouvir a saudação feita emotivamente pela mulher do<br />

Beatle John Lennon, bem como a evocação, feita por Peter Gabriel,<br />

que deu voz à canção “Imagine” (imaginem todos vós um mundo<br />

a viver em paz…).<br />

O transporte da bandeira olímpica foi feita por 8 mulheres famosas<br />

no mundo, tais como Sofia Loren, Susan Sarandan, Isabel Allende<br />

e a atleta olímpica moçambicana Maria Mutola, tudo sob o<br />

olhar de 21 Chefes de Estado e 15 Chefes de Governo, não esquecendo<br />

o nosso amigo, com aspecto de comovido, Juan António<br />

Samaranch.<br />

Como não podia deixar de ser - está-se em Itália - ainda se ouviu<br />

a voz inconfundível desse “monstro” que é Luciano Pavarotti…, que<br />

não tem o direito de se reformar, digo eu.<br />

Nos tempos conturbados que vivemos, registe-se, com agrado, o<br />

facto de não se ter verificado qualquer incidente a toldar o ambiente<br />

fraterno dos jogos, talvez porque o dispositivo de segurança<br />

funcionou bem.<br />

Finalmente, será que a compra dos direitos televisivos desta cerimónia<br />

custaria mais do que alguns programas, sem qualquer interesse<br />

ou mesmo de duvidoso interesse, que as nossas TV’s nos<br />

proporcionam?...<br />

PS: Como pude ouvir ao locutor da televisão, confunde-se muitas<br />

vezes a expressão “Jogos Olímpicos” com “Olimpíadas”. Pois bem,<br />

os Jogos realizam-se de 4 em 4 anos; e a palavra Olimpíada significa<br />

o período que medeia entre os Jogos.<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 17/02/2006


queM não deve não teMe<br />

Se bem me lembro, até há pouco mais de 30 anos, o licenciado<br />

em direito que pretendesse seguir a carreira da magistratura, tinha<br />

de se apresentar a um concurso de admissão. Uma vez aprovado,<br />

era colocado numa comarca de 3ª classe para exercer as funções<br />

de delegado do Ministério Público. Ao fim de 3 a 6 anos, normalmente,<br />

mudava para comarca de 2ª e de 1ª (cidades capitais de<br />

distrito). Ou seja, andava uma década a participar nos julgamentos<br />

dos tribunais, mas não com a competência de julgar. Isso cabia<br />

aos Juízes. Depois desta longa caminhada a “aprender” a julgar,<br />

fazia um concurso para Juiz. Se aprovado, era colocado numa das<br />

comarcas de 3ª classe por onde tinha já andado mas, agora, com a<br />

suprema responsabilidade de julgar as causas a dirimir. E assim ia<br />

prosseguindo a sua carreira, até chegar aos Tribunais da Relação e<br />

ao Supremo Tribunal de Justiça.<br />

Havia um respeito generalizado da população pelos magistrados,<br />

alicerçado, certamente, em carreiras muito trabalhadas e exigentes<br />

interpretadas por homens (não me lembro de ouvir falar então em<br />

Senhoras juízes) competentes, sérios, honestos e incorruptíveis.<br />

Com a implantação da nossa democracia, muitas coisas mudaram<br />

no País. Umas para melhor, outras para pior! O Ministério da<br />

Justiça passou a ser comandado por advogados, cuja formação<br />

profissional é, naturalmente, muito diversa da dos Professores de<br />

Direito e dos próprios Juízes. O novo poder político operou então<br />

uma mudança, com largos reflexos no futuro, nas carreiras judiciárias,<br />

em que se separaram a magistratura judicial da do Ministério<br />

Público. Cada uma foi para seu lado.<br />

Como consequência, os julgamentos em tribunal passaram a ser<br />

feitos, desde logo, por juízes jovens licenciado(a)s a quem foi proporcionado<br />

um curso acelerado no Centro de Estudos Judiciários…<br />

e não por juízes que tiveram de colher a experiência que era obri-<br />

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155<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

gatória no anterior regime, durante 10 anos, ao lado de juízes de<br />

carreira… Sejamos justos: muitos desses jovens têm certamente<br />

reais méritos e qualidades. O certo é que, ao fim de 30 anos com<br />

o novo sistema a funcionar, toda a gente fala na crise da Justiça.<br />

Essa crise atingiu tal ponto que os senhores políticos, a começar<br />

pelo Dr. Jorge Sampaio, começam a agitar-se por causa das escutas<br />

telefónicas, que só podem ser autorizadas por um juíz, mesmo<br />

de 1ª instância. O que significa que os senhores políticos não<br />

acreditam na competência e seriedade de todos os juízes. O que<br />

é gravíssimo!<br />

E, então, parece apontar-se para uma solução que iria no sentido<br />

de as escutas aos telefones dos senhores políticos só poderem<br />

ser feitas com autorização de juízes de tribunais superiores ou de<br />

uma Comissão Especial que, no fundo, iria fiscalizar os actos dos<br />

próprios Juízes!<br />

Eu pensava que, em democracia, todos os cidadãos gozavam dos<br />

mesmos direitos. Em Portugal, pelos vistos, não!<br />

Os senhores políticos terão direito a julgamento de tribunal superior<br />

e os outros cidadãos terão direito a julgamento em tribunal<br />

vulgar?... As notícias dos jornais são fartas a denunciar actos<br />

de corrupção entre políticos eleitos democraticamente e tutelados<br />

desses políticos!...<br />

Então quer-se um regime de excepção para os senhores políticos?<br />

O povo exige que as polícias investiguem os crimes, designadamente<br />

os económicos, de pedofilia, etc.. Como é que elas podem<br />

investigar se não tiverem, em tempo útil, os meios necessários,<br />

como as escutas telefónicas para actuarem?<br />

Quem não deve, não teme!... Meus Senhores!...<br />

Eu não tenho formação jurídica, mas tenho a impressão, que sei de<br />

antemão não ser politicamente correcta, de que bom seria repor a<br />

situação existente há 30 anos, acabando-se com as carreiras paralelas<br />

da magistratura e do Ministério Público. Será que o advogado,<br />

aliás ilustre e inteligente, que comandou essa reforma ainda<br />

nela se reverá? Não acredito que, passados todos estes anos, ainda<br />

nela se reveja.<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 10/03/2006


faIr Play, Procura-se<br />

Assisti hoje, pela tv, às cerimónias de investidura do Prof. Cavaco<br />

Silva como Presidente da República. A cerimónia seguiu-se a<br />

um frenesim enorme de protagonismo do Presidente Sampaio nos<br />

últimos dias em que deteve o poder. Foram visitas e mais visitas,<br />

até aos continentes asiático e africano, foram mensagens, foram<br />

recados que foi espalhando pelo País!<br />

A cerimónia decorreu com grande elevação, embora com pormenores<br />

que me merecem uns comentários breves: por uma questão<br />

de bom senso, não seria de ter usado uma forma simples de dar<br />

a conhecer à enorme plateia da Assembleia da República o teor<br />

da acta de validação dos resultados eleitorais? A senhora deputada<br />

encarregada de ler o fastidioso texto até referiu os «númaros»<br />

(sic) dos artigos da lei! A Drª Edite Estrela deve ter-se arrepiado…<br />

Quem não sentiu frio foram certamente alguns bloquistas (Rosas,<br />

foi excepção) que usaram a gola alta em vez da gravata que até<br />

Jerónimo usou! Ouvi com muita atenção os bons discursos de Jaime<br />

Gama e de Cavaco Silva. Em especial o do novo Presidente<br />

pareceu-me muito bem estruturado e tocando os pontos essenciais<br />

que urge encarar de frente e resolver, não esquecendo o sentido<br />

de uma “estabilidade dinâmica e reformista”, rigor, exigência e<br />

excelência que devem nortear todos os portugueses. Tenho para<br />

mim que Sócrates não poderia ter agora melhor aliado! Que não<br />

esmoreça a sua onda reformadora, são os meus desejos.<br />

Os aplausos da chamada direita foram a demonstração de que se<br />

continua a viver para o espectáculo em que a esquerda (mas não<br />

toda) prefere distinguir-se pelo afastamento das regras de uma<br />

convivência civilizada. Foi pena que os seus silêncios representem,<br />

afinal, a sua “aversão” ao espírito democrático que se devia ter<br />

afirmado, ao menos, pela boa educação, numa cerimónia especial<br />

como aquela da posse do PR. Que democratas são estes, afinal?<br />

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157<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

Mas, para mim, a maior surpresa (?) foi a atitude do considerado “pai<br />

da democracia” que, encontrando-se a escassos 100 metros da Fundação<br />

Mário Soares, onde passa o seu tempo, se escapuliu do Palácio<br />

de São Bento, sem se preocupar em dar um simples e formal aperto<br />

de mão ao seu adversário na campanha eleitoral. Foi feio! Esta falta<br />

de fair play ficou-lhe muito mal! É ele, afinal de contas, um autêntico<br />

democrata?... Em resumo, imperou em São Bento a falta de fair play<br />

para além do povo que se viu impedido, por razões de segurança,<br />

certamente, de participar naquilo que deveria ser uma festa popular,<br />

uma vez que Cavaco foi para Belém porque o povo assim decidiu.<br />

Sou dos que entendem que Jorge Sampaio, homem sério e honesto,<br />

depois da experiência que teve, poderia ser bem aproveitado, por<br />

exemplo, em missões no estrangeiro. Para além de outras qualidades,<br />

ele domina admiravelmente as línguas mais faladas no mundo!<br />

Na hora da saída de Belém, o Estado, e muito bem, atribui-lhe uma<br />

reforma de valor compatível com as funções que exerceu ao longo de<br />

10 anos. E que devia ser suficiente para poder levar uma vida digna,<br />

sem necessidade de outras fontes de rendimento. Mas não é assim! O<br />

actual Estado, gastador, resolveu atribuir-lhe ainda um palacete nas<br />

Necessidades (disse a comunicação social que as obras de beneficiação<br />

foram orçadas em 120 mil contos) cuja manutenção passa a ser<br />

suportada pelos nossos impostos que também suportarão as despesas<br />

com o potente AUDI e com o motorista. O cidadão Jorge Sampaio,<br />

enquanto Presidente, optou por utilizar a sua casa particular. Que<br />

deve ser de bom nível. Se assim não fosse, não teria nela recebido<br />

em visita particular os… Reis de Espanha… Caberá perguntar: então<br />

agora, que abandona o poder, essa casa já não serve para fazer a sua<br />

vida de simples cidadão?...<br />

Mudando de assunto. A vitória do Benfica sobre o Liverpool foi notável,<br />

porque se verificou no campo do adversário e nos proporcionou<br />

as belas imagens dos dois golos, magníficos em qualquer estádio do<br />

mundo. Parabéns e boa sorte, Benfica!<br />

Além do mais, foi um jogo em que, nele sim, imperou o fair play, com<br />

a claque inglesa a incitar a sua equipa, mesmo a perder, e a aplaudir,<br />

no final da partida, os jogadores benfiquistas! Foi bonito!...<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 17/03/2006


uM artIsta seM aMbIção<br />

Participei, há dias, numa homenagem a uma figura que deixou<br />

marcas indeléveis na academia de Coimbra.<br />

Os livros de quintanistas da Universidade, nos tempos em que essa<br />

figura calcorreava as vielas e tascas de Coimbra, têm neles registadas<br />

as linhas firmes de artistas que caricaturava os estudantes<br />

como ninguém. Talvez que 50% dessas caricaturas eram da sua<br />

autoria. Com o produto desse trabalho – 50 escudos - lá ia vivendo…<br />

A sua passagem pelo Teatro de Estudantes da Universidade de<br />

Coimbra ficou assinalada com excelentes cenários que só ele era<br />

capaz de idealizar e que correram mundo com sucesso.<br />

Com um simples guardanapo de papel, ele fazia desenhos que encantavam<br />

crianças e adultos. De traço firme, sem interrupções, ele<br />

produziu quadros notáveis, imbuídos de arte e significado. Tenho<br />

alguns deles que guardo com o maior carinho.<br />

Era um actor de enorme talento, cuja intervenção no célebre “Zip-<br />

Zip” ficou na memória dos tele-espectadores. Fialho Gouveia, Raul<br />

Solnado e Carlos Cruz revelaram ao País um actor de excelência<br />

mas que nunca abraçou a profissão porque era extremamente modesto<br />

e desprovido de qualquer ambição. Em palco era um gigante!<br />

Não tinha o culto do dinheiro. Vivia o dia a dia com os poucos<br />

escudos que ganhava a fazer as caricaturas e um ou outro quadro<br />

e uma outra decoração. Foi ele o responsável pela decoração do<br />

Itamaraty de Brasília, tal a qualidade dos seus trabalhos.<br />

Contava anedotas como ninguém. E, como actor de enorme gabarito,<br />

acompanhava as anedotas com a interpretação fiel de um<br />

bêbedo, de uma criança, de um gato, de um cão. Publicou mesmo<br />

um livrinho – “Cãopêndio” – pondo a cabeça de um cão nas mais<br />

variadas figuras…<br />

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159<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

De uma simples palavra compunha um poema interessantíssimo.<br />

Lembro-me daquele que, num jantar entre antigos estudantes, ele<br />

fez num guardanapo de papel branco, a propósito do pimento. É<br />

que, na altura, se estava a falar de sardinhas assadas… que, claro,<br />

necessitam desse fruto da terra, para melhor serem saboreadas.<br />

Ele escreveu:<br />

O Pimento<br />

o pimento<br />

é filho<br />

do pimenteiro<br />

e irmão<br />

do pimentão<br />

verde o primeiro<br />

o segundo não<br />

o primeiro<br />

já era verde<br />

antes da legião<br />

o segundo vermelho<br />

antes da revolução<br />

alguns mudaram de cor<br />

e outros... de opinião!<br />

Um dia, em 1976, no meio de uma confraternização coimbrã, apercebi-me<br />

de que ele não tinha qualquer retaguarda em termos de<br />

saúde, para além de não ter bens de fortuna. E ele era uma pessoa<br />

a quem, enquanto jovem, tinha sido retirado um pulmão!...<br />

Estava também presente o Dr. António Almeida Santos, ao tempo<br />

Ministro da Comunicação Social, a quem pus o problema. E logo<br />

ali o ministro – o amigo – prometeu resolver o problema, através<br />

da nomeação como director de serviços, o que lhe dava acesso<br />

aos benefícios da ADSE. Quando se desencadeou o processo, verificou-se<br />

que o Tóssan não tinha sequer o 5º ano! Mas, para que<br />

serve a amizade? O Dr. Almeida Santos pediu ao Tóssan que lhe<br />

apresentasse todos os documentos que atestassem os seus trabalhos<br />

artísticos realizados. E falou ao Ministro da Educação, Ten.


Cor. Victor Alves, para se encontrar uma solução. Com esses papéis,<br />

o Tóssan conseguiu uma equivalência que lhe valeu o acesso<br />

à função pública. Oh sorte, no meio do azar!... Meses depois fui<br />

visitá-lo ao Hospital Santa Maria, onde esteve internado durante 6<br />

meses a tratar uma gravíssima infecção respiratória…<br />

Continuas presente entre nós, Tóssan!<br />

Publicado no jornal “Região de Águeda“ de 31/03/2006<br />

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PensaMento eM josé novo<br />

161<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

Já vão passados 53 anos sobre a minha fixação em Lisboa. Alugada<br />

casa, era necessário fazer os contratos da água, da luz e do gás.<br />

Essa tarefa não era simples: alguma papelada e muita espera…<br />

Meu Pai sugeriu-me que procurasse um ilustre aguedense que vivia<br />

no Rossio, no hotel Metropole, salvo erro. Era o velho Conde<br />

Águeda que meu Pai acompanhara, ainda jovem, em campanhas<br />

políticas, até porque era dos poucos que, ao tempo, possuía carta<br />

de condução…<br />

Lá fui, apresentei-me como filho do João Rocha, de Águeda, e logo<br />

os braços se abriram… Expliquei-lhe ao que ia… e ele, que era<br />

administrador das C.R.G.E., logo me tranquilizou, dizendo que o<br />

assunto teria rápida solução…<br />

No dia seguinte, apareceu em minha casa, em Campo de Ourique,<br />

um diligente funcionário da Companhia que, fazendo rasgados<br />

elogios ao Senhor Conde, me resolveu o problema com a<br />

maior simplicidade! Não esqueço esse episódio! E fiquei na altura<br />

a pensar na importância de se ter alguém, com poder, na capital…<br />

Ainda hoje!<br />

Passaram-se os anos e um dia, apareceu-me no Campo dos Mártires<br />

da Pátria, onde tinha o meu gabinete, um antigo companheiro<br />

de escola primária. Ia pedir-me ajuda para a sua pretensão de<br />

ter um alvará de agência de viagens na Mourisca do Vouga. Ele<br />

aguardava essa concessão havia já 2 anos, não obstante as reiteradas<br />

promessas de um deputado à Assembleia Nacional, também<br />

aguedense, mas sem êxito…<br />

Lembrei-me, na altura, da diligência que fizera no hotel Metropole!...<br />

Fui com o amigo ao SNI e, no dia seguinte, o José Novo<br />

recebeu a notícia da concessão do alvará…<br />

Fiquei muito contente por ter ajudado um aguedense a que me<br />

ligava uma forte amizade cimentada nas brincadeiras de escola e


na garagem além da Ponte… Ele era um rapaz voluntarioso, destemido,<br />

mesmo atrevido, sem medo, e com um coração de pomba.<br />

Naturalmente fui acompanhando, pela vida fora, a sua actividade<br />

e não estranhei que tivesse assumido com garbo e competência o<br />

cargo de comandante dos Bombeiros Voluntários de Águeda, de<br />

que meu Pai foi um dos fundadores.<br />

Os seus méritos, que eram muitos, já foram reconhecidos, ainda<br />

em vida, pelos seus concidadãos, das mais variadas formas.<br />

Afastado, há muitos anos, da cidade onde nasci, nunca a esqueci<br />

e, sempre que preciso de algo em Águeda, socorro-me do velho<br />

amigo João Resende da Fonseca e, até há poucos dias, também do<br />

José Novo… Fiquei mais pobre, agora…<br />

O seu falecimento, em sofrimento, comoveu-me profundamente.<br />

Paz à sua alma!<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 07/04/2006<br />

162


o basquetebol na baIrrada<br />

163<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

Disputou-se, há dias, o torneio da Final 8 da Taça de Portugal de<br />

Basquetebol. O palco do torneio foi o novo pavilhão de Anadia.<br />

A prova foi disputada pelos gigantes, especialmente americanos,<br />

do Aveiro Basket, Belenenses, Benfica, CAB Madeira, Ginásio Figueirense,<br />

Lusitânia dos Açores, FC Porto e Queluz-Sintra. Esses<br />

artistas deliciaram a numerosa assistência que encheu sempre o<br />

novo e magnífico pavilhão, ao longo dos 4 dias de prova.<br />

Com larga visão da autarquia presidida pelo dinâmico Prof. Litério<br />

Marques, uma vasta área da cidade foi destinada a parque desportivo<br />

de que já fazem parte 2 campos de futebol relvados com<br />

iluminação artificial, piscinas e 2 pavilhões gimnodesportivos. E…<br />

já está terreno reservado para a implantação de uma zona escolar<br />

que vai da infância até ao 12º ano.<br />

Quer dizer, estão a ser criadas condições para a juventude de Anadia<br />

poder crescer e aprender sadiamente.<br />

A prova começou com a assistência a acompanhar o bairradino<br />

José Cid a cantar o hino nacional, o que foi comovente.<br />

Os jogos foram todos eles disputadíssimos até aos últimos segundos,<br />

com as claques bem afinadas e entusiásticas e muito correctas,<br />

a darem um exemplo de como se devem apoiar as equipas.<br />

Especialmente, na final, entre o FC Porto e o SL Benfica, que os<br />

nortenhos venceram bem, o DESPORTO saiu como o grande vencedor…<br />

até porque o pavilhão estava super lotado com mais de<br />

1500 espectadores, e muita gente lá fora… por razões de segurança.<br />

A arbitragem coube à fina flor dos homens do apito, alguns deles<br />

internacionais. E, no meio deles, estava uma flor: uma árbitra, a<br />

Sónia Teixeira (economista), que actuou de tal forma que, enquanto<br />

aqui e ali se ouviam protestos dos jogadores calmeirões contra<br />

decisões masculinas, a colega era obedecida sem reticências…


Será caso para dizer: mulheres ao apito!... Parabéns Sónia!<br />

Lá, se despediu das lides um dos melhores árbitros portugueses de<br />

todos os tempos: obrigado, António Pimentel!<br />

À margem dos jogos, a Câmara de Anadia procurou cativar os<br />

seus hóspedes, tendo proporcionado uma visita, acompanhada de<br />

um bom leitão e não inferior espumante, ao Museu do Vinho. Aí,<br />

perante essa estrutura, eu pensei, não sei se a sério se a brincar:<br />

não seria de entregar a gestão hospitalar às autarquias? Por essa<br />

via, talvez os doentes tivessem melhores condições em termos de<br />

infra estruturas para se curarem…<br />

Ao abandonar Anadia, no domingo, fiquei com a sensação de que<br />

o investimento feito pela Autarquia nesta prova, que teve a Sport<br />

TV presente nos 4 dias, vai ter um bom retorno. Foi o que pressenti<br />

de algumas opiniões de quem é estranho à Bairrada… e que participaram<br />

nesta excelente organização da Federação Portuguesa<br />

de Basquetebol.<br />

Aproveitando a presença dos elementos directivos da Federação<br />

em terras bairradinas, foi celebrado um protocolo entre a Câmara<br />

Municipal de Cantanhede e aquela Federação. Estive presente e<br />

também gostei muito do que ouvi, em termos de preocupações,<br />

por parte do Presidente, Prof. Dr. João Moura, relativamente à ocupação<br />

dos tempos livres da “sua” juventude que muito está a beneficiar<br />

da presença do meu “velho” júnior da AAC, Amoroso Lopes.<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 03/04/2006<br />

164


as reforMas das Pessoas<br />

165<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

Está na ordem do dia a sustentabilidade do regime de segurança<br />

social que veio inquietar, de que maneira, as pessoas já reformadas<br />

e aquelas que aguardam pela sua vez… Caberá perguntar<br />

porque se chegou a uma situação tão delicada, para não dizer<br />

dramática?<br />

Os políticos que chegaram ao governo deixaram entrar no sistema<br />

milhares de pessoas que nunca tinham descontado para a segurança<br />

social, para além de terem criado condições para que políticos<br />

se pudessem reformar por inteiro com apenas 4 anos de trabalho<br />

como presidentes da Assembleia da República, ou 8 anos para<br />

os deputados (entretanto esses períodos foram alargados para 8 e<br />

12 anos). A juntar a isto, aos autarcas contaram-lhes o tempo de<br />

serviço a dobrar… E os médicos, por exemplo, que no final da carreira<br />

requeressem a passagem à exclusividade, passaram a poder<br />

reformar-se com o valor que auferem à data da reforma…<br />

Todos eles, como se depreende facilmente, não contribuíram ao<br />

longo do tempo, como deviam, com os descontos adequados que<br />

deveriam sustentar as suas reformas… Daí até ao colapso financeiro<br />

do sistema era uma questão de mais ou menos tempo…<br />

Foi o próprio Estado que legislou levianamente. Mas há culpados?<br />

Já não falo do escândalo das reformas do Banco de Portugal (para<br />

quando a revisão do regime para a qual foi criada uma comissão<br />

especial? Mais uma comissão...) e da Caixa Geral dos Depósitos.<br />

José Sócrates teve coragem em denunciar a situação de pré-falência<br />

da Segurança Social procurando enfrentá-la com medidas que<br />

são dolorosas, mas necessárias, para se evitarem maiores desgraças<br />

para as gerações futuras. Só não tenho a certeza de que essas<br />

medidas atinjam TODOS, mas mesmo TODOS… É que, há dias,<br />

um Juiz sindicalista, na televisão, ressalvava a hipótese de determinadas<br />

especificidades virem a ser tidas em conta na anunciada


eforma do sistema… Estou a pensar nos políticos, magistraturas,<br />

etc…. Se houver essas especificidades, não conte o governo com a<br />

compreensão da generalidade da população…<br />

Quanto aos autarcas, já algo foi feito recentemente quando se<br />

acabou com o escândalo do tempo contar a dobrar… mesmo<br />

descontando a demora propositada (?) do diploma na própria AR<br />

…que se não esquece. Parabéns, Sócrates! Quem quiser dar-se ao<br />

trabalho de consultar o Diário da República, II série, nº 208, de<br />

28 de Outubro último, pode constatar uma série de situações que<br />

urge serem reconsideradas:<br />

a) Há reformas (em euros) que fazem pensar no conceito de justiça<br />

social: uma técnica especialista com €7.327, dois Juízes com<br />

€5.663 e mais quatro com €5.498, um investigador com €4.491,<br />

12 médicos com mais de €4.200, um professor com €5.015 e mais<br />

cinco com mais de €4.491;<br />

b) Impressiona a quantidade de autarcas que se reformaram, com<br />

o tempo a contar a dobrar. Mas como são ainda novos, eis que vemos<br />

alguns deles novamente eleitos para novo mandato… É sinal<br />

que, não obstante o desgaste da actividade autárquica, eles estão<br />

ainda em boa forma física… Sem nos preocupar-nos com os vereadores<br />

e presidentes de Juntas de freguesia, que foram muitos,<br />

citam-se apenas os Presidentes das Câmaras de: Alcoutim, Aljezur,<br />

Amadora, Ansião, Arraiolos, Belmonte, Castanheira de Pêra, Castro<br />

Marim, Constância, Fafe, Lagoa-Algarve, Lamego, Lousada,<br />

Marco de Canaveses, Marinha Grande, Marvão, Moita, Monção,<br />

Montijo, Mora, Moura, Nazaré, Odemira, Oliveira do Hospital,<br />

Ovar, Penacova, Ponte de Sôr, Póvoa de Varzim, Sesimbra, Soure,<br />

Torres Novas, Vendas Novas, Vila Franca de Xira e Vila Nova de<br />

Paiva.<br />

Na verdade, a situação actual é insustentável e bem anda José<br />

Sócrates na sua caminhada reformista, mas que tem de ir mais<br />

fundo. Para quê, por exemplo, 230 deputados à AR, que tem orçamentada<br />

para despesas correntes, em 2006, a módica quantia de<br />

mais de 90 milhões de euros! Será que a democracia portuguesa<br />

não se bastaria com 100 deputados, até mais bem pagos, para<br />

não terem mesmo pretexto para se furtarem às votações?...<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 12/05/2006<br />

166


167<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

Povo seM MeMórIa é Povo seM futuro<br />

Em Lisboa, junto à Torre de Belém, está implantado o Forte do<br />

Bom Sucesso. Aí foi construído, em 1994, o Monumento aos Combatentes<br />

do Ultramar que procura traduzir, através de um simples<br />

pórtico de grande dimensão e enorme simplicidade, a ligação entre<br />

todos os povos envolvidos na guerra do ex-Ultramar português,<br />

sem constrangimentos nem ressentimentos. Com ele se homenageam<br />

aqueles que serviram Portugal como simples combatentes.<br />

A homenagem é feita através das lápides colocadas na própria<br />

parede do Forte, por iniciativa do Ministro da Defesa Veiga Simão,<br />

onde estão gravados os nomes de todos os que morreram ao serviço<br />

da Pátria. O Forte foi recentemente recuperado por decisão do<br />

Ministro da Defesa Paulo Portas e, de tal forma ficou, que merece<br />

ser visitado, até pelas vistas que dele se desfrutam.<br />

Foi nesse local que, uma vez mais, no passado dia 10, compareceram<br />

mais de 1.000 antigos combatentes (naturalmente, os<br />

desertores e a nomenklatura do poder político abrilista não compareceram)<br />

para recordar os camaradas caídos na guerra. Muitos<br />

ostentavam orgulhosamente as condecorações conquistadas por<br />

actos heróicos, designadamente o Comandante Alpoim Calvão, o<br />

mais condecorado de todos.<br />

Daqueles rostos com quem nos cruzámos, já um tanto marcados<br />

pelo tempo, jorravam saudades e mais saudades do período passado<br />

em África, e não esconderam uma lágrima ao toque dos clarins.<br />

As suas conversas recordavam as terras que foram abandonadas<br />

devido, designadamente, segundo José António Saraiva in Diário<br />

de Notícias de 26/01/1979, à desintegração da hierarquia militar<br />

a que a insurreição dos capitães deu início e que o MFA, infiltrado<br />

pelo PCP no Exército, explorou ao máximo, indo ao encontro, afinal,<br />

da estratégia africana da URSS.<br />

Não posso deixar de lembrar que, ainda com Salazar no poder,


havia negociações secretas com o Presidente da Zâmbia, K. Kaunda,<br />

através do Eng. Jorge Jardim, com vista a encontrar-se uma<br />

solução pacífica e honrosa para o problema. Pena foi que, com a<br />

chegada de Marcello Caetano ao poder, aquele negociador tenha<br />

perdido força e tudo foi por água abaixo…<br />

Perguntei a um daqueles combatentes desconhecidos se achava<br />

que tinha valido a pena o sacrifício feito quando era jovem. A resposta<br />

veio pronta: por Portugal, sim!...<br />

Será que nós, aqui na Metrópole, merecemos tanto sacrifício daqueles<br />

homens? Tenho dúvidas…<br />

O reconhecido patriota general Heitor Almendra justificou o encontro<br />

do passado dia 10. E o Dr. Teixeira Pinto fez um interessante<br />

discurso virado para o multiculturalismo tendo afirmado, entre<br />

outras coisas, que “Portugal significa o contrário de racismo e xenofobia”.<br />

Fiquei reconfortado com o banho de portugalidade autêntica a<br />

que assisti. Por acaso, no dia seguinte, no programa da RTP2 dessa<br />

noite em que, ao recordar-se o 1º da Maio de 1975, se via o povo<br />

– Mário Soares incluído – a cantar a plenos pulmões o hino nacional,<br />

um cidadão de primeiro plano manteve-se de boca fechada:<br />

Álvaro Cunhal, nem mais!<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 16/06/2006<br />

168


169<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

PortuGuês eM roland Garros<br />

Disputou-se, recentemente, em França o célebre torneio de ténis<br />

do circuito ATP, no caso em terra batida, que leva até Paris os maiores<br />

nomes do ténis mundial.<br />

A par do torneio para os melhores, também lá se disputa o torneio<br />

de juniores. A este torneio só têm acesso os 73 melhores jogadores<br />

do mundo, dessa categoria. O “ranking” é fundamental para as<br />

aspirações dos jovens.<br />

Pois bem, em Portugal, o campeão nacional figurava em 35º lugar<br />

desse “ranking”, conquistado, aliás, em bastantes torneios por esse<br />

mundo fora. E, por isso, teve a possibilidade de se apresentar com<br />

a elite mundial júnior em Roland Garros.<br />

Humildemente, mas com ambição, entrou em campo e conseguiu<br />

resultados notáveis, ao derrotar o nº 2 da Austrália, o nº 2 de França<br />

e o nº 1 dos Estados Unidos. Acabou por ser eliminado apenas<br />

nos quartos de final, às mãos do júnior eslovaco que acabou por<br />

ser o vencedor do torneio.<br />

O atleta de que falamos é o Pedro Sousa, filho de grandes tenistas<br />

e empresários de sucesso (no CIF e no Centro de Ténis de Monsanto),<br />

nem mais que a Graça Cardoso e o Manecas de Sousa.<br />

O jovem, além de ser um bom tenista, não descura os estudos,<br />

pois está no 12º ano. Para quem diz que o desporto de competição<br />

é antagónico dos estudos, aqui está um exemplo do contrário<br />

dessa ideia. É tudo uma questão de programação do tempo… e<br />

força de vontade.<br />

Até agora tem sido o próprio pai que o tem treinado. Se ele chegou<br />

onde chegou, tudo leva a crer que possa ainda progredir na sua<br />

carreira tenística. Estou em crer, porém, que, a partir de agora, ele<br />

terá de partir para o estrangeiro (Espanha? Estados Unidos?) para<br />

poder vir a dar muitas mais alegrias aos portugueses amantes do<br />

ténis.


Caso por cá continue a treinar, será mais um caso de sucesso relativo,<br />

como foram, por exemplo, os casos notáveis, para nós, do<br />

Nuno Marques e do Cunha e Silva, a quem não faltavam condições<br />

naturais para serem dos melhores…<br />

Num País em estado de depressão, exemplos como o do Pedro<br />

Sousa fazem-nos bem!<br />

Pedro Sousa é um exemplo de muito trabalho, muito trabalho,<br />

muito trabalho e de dedicação a uma causa! Parabéns!<br />

Publicado no jornal “Região de Águeda” de 23/06/2006<br />

170


o abuso sIndIcal…<br />

171<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

É um dado adquirido que os sindicatos são indispensáveis a uma<br />

verdadeira democracia. Tem de se reconhecer que o mundo sindical<br />

é complexo e exige a servi-lo pessoas empenhadas, conhecedoras<br />

do meio e, acima de tudo, esclarecidas.<br />

A prosa que se segue vem a propósito da forma de recrutamento<br />

das pessoas que integram as direcções dos sindicatos que eu, aliás,<br />

desconheço. Chegou, porém, até mim, pelo menos um caso, que<br />

dá para pensar, mesmo que não se deva fazer generalizações.<br />

Um rapaz, filho de família séria e honesta, vivendo com algumas<br />

dificuldades, lutou desde novo por ser alguém entre os seus concidadãos.<br />

Possuindo inegáveis qualidades de trabalho e aplicação<br />

e dotado de boas aptidões para uma determinada área de ensino,<br />

alcançou as habilitações para ser professor de escola preparatória.<br />

Concorreu, de seguida, às vagas do Ministério da Educação, tendo<br />

sido colocado numa escola da capital. Em pouco tempo se efectivou<br />

e deu azo às suas qualificações com sucesso.<br />

Mas ele tinha ambição, o que é louvável, e, não querendo ficar por<br />

ali, matriculou-se na Faculdade de Medicina, o que significou um<br />

esforço enorme para a sua vida no dia a dia…<br />

Chega entretanto o 25 de Abril. E logo o mundo sindical se agitou<br />

e de que maneira!... Criaram-se muitos sindicatos, nomeadamente<br />

no âmbito da Educação, para os quais era necessário encontrar<br />

dirigentes.<br />

Um dos fundadores de um determinado sindicato na área dos professores,<br />

seu colega, procurou-o e disse-lhe que precisava dele<br />

para integrar a lista dos corpos sociais do mesmo para o que seria<br />

requisitado ao Ministério. E mais lhe terá dito que o seu trabalho<br />

consistiria apenas em fazer umas assinaturas e em participar numa<br />

ou noutra reunião…<br />

Essa requisição permitia-lhe dedicar-se ao curso de Medicina, com


mais tempo, mantendo o salário de professor, sem ter que exercer<br />

efectivamente na escola. Daí que aceitou o convite.<br />

O tempo foi passando, o curso foi terminado com êxito e, logo a<br />

seguir, tirou uma especialidade, daquelas onde se ganha muito<br />

dinheiro, e montou consultório. Como ele era bom profissional,<br />

um hospital central também o contratou, em regime de avença.<br />

Lá tem estado até que o Governo, agora, através da Ministra da<br />

Educação, resolveu pôr cobro a muitas situações consideradas intoleráveis.<br />

Vai daí, o número de professores requisitados está a<br />

ser drasticamente diminuído (em 2002, só na Educação, eles eram<br />

cerca de 3.000 e, nessa altura, a Profª Drª Mariana Cascais, do<br />

CDS, começou a cortar…) vindo agora para cerca de 450, pelo que<br />

os sindicatos tiveram que se adaptar às novas disponibilidades do<br />

Ministério…<br />

A pessoa que tenho vindo a referir, talvez por não fazer falta ao<br />

sindicato, foi das “sacrificadas” e teve de optar por continuar a ser<br />

professor do quadro ou a ser médico, mesmo deixando o Hospital.<br />

Feitas as contas, optou por continuar a ser professor, onde ganha<br />

mais do que ganhava no Hospital, e a ter consultório médico.<br />

Ou seja, este senhor esteve mais de 30 anos ausente da Escola,<br />

a ser pago pelo Orçamento de Estado, para, afinal, fazer a vida<br />

aqui descrita. Isto não será um abuso sindical?... E será um caso<br />

excepcional?...<br />

Claro está que ninguém tem culpa disto… porque julgo que a<br />

Constituição terá lá um artigo a dizer que a culpa deve morrer<br />

solteira!...<br />

Adenda:<br />

Acabo de ver o jogo de Portugal com a Holanda. Ganhámos! É<br />

o que interessa. Felipão e os seus jogadores estão de parabéns!<br />

Agora há que pensar no próximo jogo com a Inglaterra, com serenidade,<br />

fé e cabeça fria!<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 30/06/2006<br />

172


que País é este?...<br />

173<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

Acabamos de passar por um salutar portuguesismo frenético que<br />

atravessou toda a sociedade por causa do futebol.<br />

Veio à baila a célebre equipa dos “Magriços” de 1966 que só caiu<br />

aos pés da Inglaterra nas meias finais desse campeonato do Mundo,<br />

em jogo que teve lugar em Londres contra a Rússia, do Yaschin,<br />

e que venceu para se classificar em 3º lugar.<br />

Na altura eu desempenhava as funções de director geral dos Desportos,<br />

tendo acompanhado por dentro a preparação da selecção<br />

nacional. Testemunhei o trabalho exaustivo realizado pela Federação,<br />

presidida pelo benfiquista Justino Pinheiro Machado, através<br />

do seu secretário-geral, o Afonso Lacerda. O seleccionador, Manuel<br />

da Luz Afonso, o treinador, Otto Glória, e a equipa médica,<br />

chefiada pelo Dr. Silva Rocha, deram aos “Magriços” tudo o que<br />

sabiam para que eles realizassem em campo grandes exibições,<br />

algumas delas até à exaustão.<br />

Não havia grandes somas de dinheiro em jogo, mas o apego à<br />

luta por parte dos jogadores era o mesmo, como se essas somas<br />

estivessem em jogo.<br />

Em termos de apoios, o governo deu o possível, como atrasar a incorporação<br />

no Exército de alguns jogadores que estavam em risco<br />

de serem mobilizados para Angola. Este apoio durou apenas os<br />

dois meses de estágio e de participação no campeonato.<br />

O Chefe de Estado e o Governo, enquanto a equipa esteve em<br />

Inglaterra, naturalmente que seguiam com o maior interesse a sua<br />

progressão a caminho das meias finais… Mas, não mais do que<br />

isso. Coube-me, a mim, em representação do Governo, deslocar-<br />

-me a Liverpool, para assistir ao Portugal-Coreia, já o campeonato<br />

ia nos quartos de final. Passaram 40 anos e, agora, na Alemanha,<br />

não faltou o apoio institucional e mesmo pessoal dos mais altos<br />

dignitários do Estado à selecção nacional. Constatámos as presen-


ças em terras germânicas do Presidente da República, do Primeiro<br />

Ministro (3 vezes e sem gravata…), do Ministro da Presidência, do<br />

Secretário de Estado dos Desportos e do próprio ex-Chefe de Estado<br />

Jorge Sampaio. Eles encabeçaram afinal o fortíssimo apoio<br />

popular traduzido em manifestações difíceis de igualar por qualquer<br />

outra actividade. Os rapazes portaram-se muito bem pois é<br />

preciso ver que no campeonato do mundo estava a elite do futebol<br />

global. Regista-se que até ficaram pelo caminho selecções como a<br />

Espanha, a Inglaterra, a Argentina e… o Brasil… Para alegria de<br />

todos nós, a equipa de Scolari quase que igualou a façanha dos<br />

“Magriços” de 1966. Tal como nessa altura, Portugal morreu apenas<br />

na praia… de Munique. Ficou desta vez em 4º lugar o que é<br />

muitíssimo bom para o “ego” de um pequeno País.<br />

Devo confessar que me emocionei sempre que via os nossos atletas,<br />

com excepção do luso-brasileiro Deco, a cantarem sentidamente<br />

o hino nacional, o que não era costume há uns tempos<br />

atrás…<br />

E, não sei porquê, vem-me à memória a Amália Rodrigues que<br />

foi, na verdade, uma artista de reputado nível internacional, passeando<br />

(e encantando) a sua voz inconfundível pelos grandes palcos<br />

mundiais, a começar pelo Olympia (1956), de Paris, por N.York,<br />

Roma, Tóquio…<br />

A sua vida de glória acabaria por vir a ser amesquinhada pelos<br />

pseudo democratas de Abril que chegaram a apelidá-la de fascista…<br />

Mas os tempos foram passando e foi a própria democracia<br />

que acabou por fazer justiça ao colocá-la no Panteão Nacional…<br />

depois do versátil Mário Soares a ter condecorado com a Ordem<br />

Militar de Santiago de Espada. E continuam hoje a aparecer grandes<br />

revelações que cantam o fado por esse mundo fora… e que a<br />

juventude adora.<br />

E Fátima? Sempre teve na Cova da Iria milhares e milhares de<br />

fieis devotos, desde que os pastorinhos, já todos a repousarem no<br />

Céu, revelaram as aparições numa azinheira, em 1917.<br />

Com ditadura ou com democracia, o santuário de Fátima continua<br />

a “encher” e cada vez mais… São centenas de milhares de fiéis<br />

que, com sacrifício enorme, lá se deslocam mensalmente, muitos<br />

deles, de longe e a pé… num supremo sacrifício… Fátima foi, é e<br />

será sempre Fátima.<br />

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175<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

Pois bem, também agora, uns tantos trouxeram à baila o apoio ao<br />

Estado Novo dos 3 FFF – Fado, Fátima e Futebol. Quer queiram<br />

quer não, é assim, agora e ontem, com os 3 FFF, que o Portugal<br />

mais profundo vibra. Não é certamente com a justiça, com a saúde,<br />

com a segurança social, com o ensino, com o ambiente ou com<br />

a segurança que o País vibra!<br />

Afinal que País é este em que não existem VALORES que estejam<br />

acima da política? Só há valores que andam ao sabor das marés?<br />

É triste!<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 14/07/2006


Para reflexão… ou talvez não…<br />

1. Publicidade - Para além de frequentes “spots” publicitários na<br />

televisão, de há uns tempos para cá, a cidade de Lisboa foi invadida<br />

por um sem número de cartazes de publicidade de grande<br />

dimensão da responsabilidade da Santa Casa da Misericórdia de<br />

Lisboa, focando a sua notável obra assistencial. Deve dizer-se que<br />

essa obra tem vindo a ser realizada ao longo de centenas de anos<br />

em favor dos mais desfavorecidos. Naturalmente que os recursos<br />

financeiros para ajudar os mais desfavorecidos nunca são demais.<br />

Antes, são sempre escassos. Daí que gastar mal esses recursos<br />

deve ser evitado e reprovado. Ora a Santa Casa tem, entre outras,<br />

uma fonte de rendimento que lhe permite essas ajudas e que são<br />

os Jogos de apostas e lotaria que não têm concorrência legal.<br />

Tenho para mim que a Santa Casa, como instituição, não necessita<br />

do tipo de publicidade a que me estou referindo, já que o seu Departamento<br />

de Jogos, esse sim, publicita e bem os seus produtos<br />

para atrair os apostadores, numa lógica de mercado.<br />

Ou seja, como instituição, considero que a publicidade à instituição<br />

é desajustada pelo volume de verbas que envolverá. Outro<br />

tanto não digo relativamente à publicidade aos jogos de azar. A<br />

não ser que aquela queira significar, das duas, uma coisa: a) que a<br />

instituição, agora, está a ser muito bem dirigida o que não sucedia<br />

antes; b) ou então não tem onde gastar melhor esse dinheiro.<br />

Quanto a a) lembro a gestão do Dr. José Guilherme de Melo e<br />

Castro, nos anos ’60, que viu longe, ao investir com as verbas<br />

do Totobola, na construção do Centro de Recuperação do Alcoitão<br />

que, passados 40 anos, ainda é hoje um centro especializado de<br />

referência. E muitos outros que lhe sucederam também fizeram<br />

boa obra.<br />

Não há muito tempo, também uma empresa pública ou de capitais<br />

públicos se fartou de investir em publicidade institucional em tudo<br />

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177<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

que era sítio. Sucede que essa empresa era e é monopolista, sem<br />

possibilidade de concorrência, na sua actividade, nem mais nem<br />

menos que na aviação. Quem não se lembrará de tantos “spots”<br />

da ANA? Será que as companhias aéreas de transporte de passageiros<br />

tinham hipótese de utilizar outros aeroportos que não os de<br />

Lisboa, Porto, Faro, Funchal, etc.? Claro que não. Então, para quê<br />

os rios de dinheiro a escorrerem para as agências de publicidade?<br />

Pessoas conhecedoras do meio quiseram fazer-me crer que esse<br />

tipo de negócio implica normalmente comissões para os bolsos de<br />

uns tantos. Mas eu não acredito.<br />

Não é que me não tenham contado que, no início dos anos ’80,<br />

houve um sindicalista muito ligado ao Poder que quis influenciar a<br />

nomeação de uns determinados gestores para uma empresa pública<br />

“apetitosa” para os partidos políticos. Com o argumento “escondido”<br />

de que assim essa empresa poderia “financiar” o partido<br />

em que eles militavam. Graças a Deus que o Ministro da tutela,<br />

Veiga Simão, se opôs a esse “negócio”, apenas e só porque era<br />

um homem sério. Passados anos, esse Ministro acabou mesmo por<br />

abandonar o tal partido, desiludido…<br />

2. CPLP - Com a pompa e circunstância possíveis, ajudadas pelos<br />

bólidos emprestados pela Líbia, realizou-se em Bissau mais uma<br />

cimeira da CPLP. Lá se encontraram os Chefes de Estado e de Governo,<br />

com excepção de Lula.<br />

Estarei enganado ou os nossos representantes efectuaram as suas<br />

deslocações em aviões separados? A ser assim, quanto custaram<br />

as viagens de 2 “Falcon’s”? Se aqueles altos dignitários quisessem<br />

(mas, ao que parece, não quiseram), os custos tinham sido<br />

reduzidos a… metade. E até aproveitavam as horas de voo para<br />

falarem…<br />

Na verdade, os sacrifícios pedidos ao povo limitam-se mesmo ao<br />

povo sem poder reivindicativo… Para os políticos, os sacrifícios...<br />

não contam… Já agora, para que serve afinal a CPLP? Só cria<br />

despesa!...<br />

3. Timor – Tenho para mim que Timor não tem, ainda, condições<br />

para ser um Estado independente, contrariamente ao que pensaram<br />

alguns dos políticos portugueses de referência, tais como,<br />

Guterres, Sampaio, Melícias e outros. Passaram poucos anos e a<br />

que se assiste? Lembram-se que foi a Fretilin que assumiu o poder


em Timor, nem que para o efeito tenha assassinado militares portugueses,<br />

logo após Abril de 74. Alkatiri foi um deles, que ajudou<br />

a escorraçar os portugueses daquele território. Agora, a contas<br />

com a justiça, esse mesmo Alkatiri contratou uma série de bons advogados<br />

portugueses, indonésios, etc., para o defenderem. Onde<br />

é que ele ganhou tanto dinheiro que lhe permite essa defesa de<br />

luxo?<br />

Os políticos, onde quer que se encontrem, de uma maneira geral,<br />

pensam neles, neles e só neles…<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 18/08/2006<br />

178


179<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

os 100 anos de Marcello caetano<br />

No passado dia 18, assisti na Basílica da Estrela, em Lisboa, a<br />

uma missa de acção de graças por alma do Professor Marcello<br />

Caetano. A Basílica estava repleta de cidadãos que quiseram prestar<br />

mais uma homenagem a esse grande Homem e Patriota, que<br />

a história não vai esquecer certamente, não obstante os esforços<br />

da esquerda activa que tudo faz para mostrar o político derrotado<br />

pelo 25 de Abril e nada mostra ou refere do muito que ele fez pelo<br />

povo português. Sabem quem criou a ADSE? Sabem quem criou<br />

o salário para os rurais? Sabem quem deu uma machadada no<br />

condicionamento industrial? Sabem quem fez a Reforma Educativa<br />

(sob a batuta de Veiga Simão)? Sabem quem lançou os Planos de<br />

Fomento? Já se esqueceram… Eu lembro: foi o governante Marcello<br />

Caetano.<br />

Não posso esquecer que Marcello Caetano, quando desembarcou,<br />

ido do Funchal, em S. Paulo, foi alojado num hotel, sem que ele<br />

tivesse possibilidade de pagar a conta! E foi um antigo aluno que o<br />

fez por ele e o foi buscar para o alojar em sua casa. Considerado<br />

pela esquerda como um “ditador”, não tinha amealhado fortuna,<br />

enquanto governante, como outros verdadeiros ditadores o têm<br />

feito ao longo dos tempos e se pavoneiam mesmo nas democracias<br />

avançadas que os recebem com todas as honras! Ou seja,<br />

afinal há “ditadores” e ditadores…<br />

Veio depois a fixar-se no Rio de Janeiro, onde passou os 6 anos<br />

de exílio. Quando chegou a essa cidade, solicitou ao seu colega<br />

Pedro Calmon, que intercedesse no sentido de ele se poder alojar<br />

numa cela de um convento beneditino, onde passou os primeiros<br />

26 dias cariocas. Depois, instalou-se em apartamento onde viveu<br />

até terminar os seus dias, em 1980, sustentado pelo salário digno<br />

que a prestigiada Universidade Gama Filho lhe proporcionava.<br />

Marcello retribuiu à Universidade com aulas magistrais que eram


muito disputadas pelos alunos e, finalmente, com o notável acervo<br />

bibliográfico (25.000 obras) que conseguira fazer transportar para<br />

o Brasil. E lá está a atestar a obra científica de um dos maiores<br />

professores de Direito que Portugal alguma vez teve. Recusou-se a<br />

regressar a Portugal porque lhe era exigido um requerimento para<br />

o efeito. “Requerer um direito? Nunca”.<br />

A imprensa portuguesa dedicou algumas colunas ao evento. Li-as<br />

com toda a atenção até porque a história se vai escrevendo com<br />

esses textos, muitos deles enviesados pelas canetas canhotas… E<br />

não pude deixar de verificar que algo se escreveu que não corresponde<br />

à verdade. Por exemplo, a citação de uma expressão de<br />

Francisco Sousa Tavares que dizia que os lusitos e os chefes de<br />

quina da Mocidade Portuguesa usavam um cinto adornado pela<br />

“serpente salazarista na fivela”, apenas serviu para denegrir essa<br />

Organização a que pertenci e servi com o maior agrado até porque<br />

me proporcionou, e aos rapazes e raparigas da altura, uma<br />

formação desportiva e cívica que, hoje, não é proporcionada por<br />

qualquer partido político… A verdade é que esse “S” colocado na<br />

fivela do cinto tinha um simples significado: “Servir”.<br />

Li também um artigo do ex-presidente Sampaio em que refere que,<br />

durante a greve académica de 1962, tinha visto Marcello Caetano<br />

“(…) em cima de um carro, no estádio universitário, a prestar<br />

esclarecimentos aos estudantes… e a convidar-nos para jantar no<br />

Castanheira de Moura (…)”. Sucede que eu era responsável pelo<br />

Estádio Universitário de Lisboa e também lá estava, a receber o<br />

Reitor Marcello Caetano quando ele chegou. O que eu vi foi diferente<br />

do agora relatado pelo antigo dirigente associativo Jorge<br />

Sampaio. O que eu vi foi o Reitor, logo que saiu da viatura, começar<br />

a dialogar com os estudantes (que já estavam de saída do Estádio),<br />

mas não em cima do carro. Alguém está a ver o Professor Marcello<br />

Caetano empoleirado num carro? Sampaio viu. Eu não vi. Quem<br />

se empoleirou na guarita de acesso ao estádio foi, sim, o Prof. de<br />

Letras Lindley Cintra que perorou aos estudantes dizendo, ele sim,<br />

que o Reitor os convidava para jantarem no restaurante Castanheira<br />

de Moura, ao Lumiar. Sucede também que eu, que estava<br />

próximo do Reitor, não o ouvi delegar naquele Prof. esse convite. O<br />

certo é que, quando os estudantes chegaram ao restaurante, não<br />

havia jantar para ninguém… Ainda a propósito do que escreveu J.<br />

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181<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

Sampaio sobre as forças económicas autoritárias e conservadoras<br />

que “(…) se afundaram, felizmente, em 1974, com o 25 de Abril.”<br />

(o sublinhado é meu), não posso deixar de recordar o trabalho que<br />

foi feito pela economista Aurora Murteira, em 1985, sobre o Sector<br />

Empresarial do Estado, no domínio da Indústria e da Energia, em<br />

que se diz que os revolucionários de Abril fizeram investimentos<br />

nessas áreas, sem terem levado em conta as consequências do<br />

choque petrolífero de 1973. E assim se investiram, a preços de<br />

1985, 2 biliões de contos, ou seja, o equivalente a 10 biliões de<br />

euros… irrecuperáveis, sem falar nas indemnizações compensatórias…<br />

Foi, pelos vistos, uma felicidade para J. Sampaio…<br />

Também é certo que li dois outros artigos dignos de quem os escreveu:<br />

foram eles dos Professores Veiga Simão e Adriano Moreira,<br />

curiosamente, duas personalidades que, em fases diferentes, estiveram<br />

em ruptura com Marcello Caetano. Mas a sua inteligência<br />

esteve acima dos arrufos… Parabéns!<br />

Estou certo que daqui a mais cem anos, ainda se falará do Professor<br />

Doutor Marcello Caetano. Ao contrário do que sucederá com<br />

quem o derrubou!...<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo”


a outra face da Moeda<br />

1. Tecnologias – Os calores do verão amolecem as pessoas. Toda<br />

a gente sabe que os povos do norte são mais produtivos do que<br />

os do sul. Mesmo em Portugal se diz que o trabalhador nortenho<br />

trabalha mais do que o algarvio. Claro que o calor não é estranho<br />

a essa apreciação. Trabalhar com 20-25 graus ou menos é muito<br />

diferente de trabalhar com mais de 30 graus à sombra. O corpo<br />

amolece com essas altas temperaturas…<br />

Lembro-me dos tempos em que trabalhei na Tabaqueira e me tive<br />

de confrontar com os sindicatos e Comissão de Trabalhadores,<br />

bastante activos, que reclamavam por tudo e por nada!<br />

Diziam, na altura, que as condições de trabalho da fábrica não<br />

eram boas… E eu pensava que, trabalhando em ambiente com<br />

ar condicionado, como era o caso, seria bem melhor do que na<br />

maioria das fábricas que o não tinham… Mas a insatisfação dos<br />

homens é uma coisa natural e até desejável, embora por vezes<br />

toque o irracional…<br />

Pois bem, estamos agora no tempo de se incensar a aplicação das<br />

novas tecnologias a tudo e todos. Ainda bem que o conhecimento<br />

tem evoluído de uma forma fantástica para bem da humanidade. E<br />

tem havido portugueses (muitos? poucos?) que têm ajudado a esse<br />

progresso, trabalhando em centros de investigação renomados por<br />

esse mundo fora. Sim, porque os portugueses não são piores do<br />

que os outros. Direi que eles apenas precisam de bom enquadramento<br />

que, a existir, os revela da melhor maneira.<br />

De entre as tecnologias hoje mais vulgares, destaca-se, pela sua<br />

divulgação, a informática. Não há escola que não tenha já computadores<br />

e internet! Não há Junta de Freguesia que não proporcione<br />

cursos de informática aos seus cidadãos! O Governo não se<br />

tem poupado a esforços para proporcionar o acesso a esses meios<br />

a toda a gente. E, ao fazê-lo, tem consciência que até está a criar<br />

182


183<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

postos de trabalho, na medida em que todas as máquinas acabam<br />

por sofrer avarias que é preciso reparar… por alguém qualificado<br />

que saiba fazê-lo. As crianças adoram ter o seu computador e os<br />

pais – os que podem – não lhos regateiam. Para seu bem? Ou<br />

para seu mal?... Aqui falo com a experiência de ter já netos que,<br />

nos seus 9-12 anos, têm o privilégio de possuir essas máquinas<br />

em casa. E que vejo eu? Tenho a humildade de afirmar que o de<br />

12 anos é mais expedito do que eu. Sabem porquê? Simplesmente<br />

porque não tem receio de fazer asneiras informáticas, talvez por<br />

inconsciência!... E eu tenho…<br />

Nas coisas da vida, diz-se que não há bela sem senão!... Assim:<br />

2. O estudo do Português - Com aquelas ferramentas, as crianças<br />

desenvolvem o espírito de pesquisa, mas viciam-se na “navegação”<br />

do cíber espaço ao ponto de deixarem de ler livros. Quando<br />

acordam, não dispensam a televisão com o canal Panda! E se<br />

vão para a escola de manhã, quando regressam a casa, atiram a<br />

mochila com quilos e quilos de livros para o chão e vão direitos ao<br />

computador (ou à Play-Station), onde se começam a distrair com as<br />

“mensagens”… (sabe Deus a sua qualidade) e com a “descoberta”<br />

de sensações por vezes pouco recomendáveis…<br />

Neste ambiente, como é que se consegue tempo para a leitura<br />

de livros educativos que exercitem o português? Isto, para mim, é<br />

um drama de difícil solução. Sim, porque, sem leitura e redacção<br />

de textos, as crianças ficam com um défice enorme no capítulo do<br />

raciocínio para bem exporem as suas ideias. Dir-se-á que é aos<br />

Pais que cabe a tremenda tarefa de acompanhar as crianças no<br />

seu desenvolvimento corporal e intelectual. Só que, na sociedade<br />

hodierna, com quotas ou sem quotas, os Pais têm que ganhar o<br />

sustento da Família e não lhes sobra tempo para esse real acompanhamento.<br />

Será que um esforço adicional dos Pais, no sentido<br />

de “obrigarem” os filhos pequenos a fazerem uma redacção diária<br />

e a ler umas tantas páginas de um livro de bom autor é possível?<br />

Direi mesmo que se, efectivamente, não lhes for possível, os resultados,<br />

a prazo, são irremediáveis e que, quem vai sofrer, são os<br />

futuros adultos! Pensem nisto. E não falo sequer da matemática!!!<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 01/09/2006


ProGresso!...<br />

1. Acessibilidades – Depois de umas semanas passadas com a<br />

família à beira mar, no Algarve, que estava cheio como um ovo,<br />

com “bichas” por todo o lado, especialmente nas caixas Multibanco<br />

(muitas vezes sem dinheiro, deixando os clientes desesperados…),<br />

resolvi dar uma volta pelo interior.<br />

A pretexto de ir ver um jogo de basquetebol de qualificação do<br />

campeonato da Europa, fui de abalada até Trancoso, terra que eu<br />

não conhecia. Segui por Torres Novas, Castelo Branco e Guarda.<br />

Sempre em auto-estrada. Resultado: não cheguei a entrar em nenhuma<br />

dessas cidades. O progresso também implica sacrifícios,<br />

naturalmente. Neste caso, para a actividade económica dessas cidades.<br />

Quem fica a ganhar são as estações de serviço gasolineiras…<br />

A viagem demorou cerca de 4 horas para fazer os 400 quilómetros<br />

do percurso. De todos eles, só tive de pagar portagem entre Alverca<br />

e a saída da A1 para Torres Novas. Pude apreciar a obra de<br />

engenharia que são os túneis da Gardunha que, uma vez abertos,<br />

facilitaram enormemente o trânsito automóvel. Graças ao conceito<br />

das SCUTS, vias sem portagem, as pessoas até pensam que<br />

elas não custam dinheiro! Mas só aparentemente! É agradável não<br />

pagar portagem mas, se pensarmos um bocadinho, chegamos à<br />

conclusão meridiana de que as “portagens virtuais” foram e são<br />

pagas com os nossos impostos. Que cada vez doem mais. Isso só<br />

se nota quando se recebe a factura do IRS – estamos na altura de<br />

isso suceder – e a comparamos com a do ano anterior!...<br />

Chegado a Trancoso, deparei com uma vila pacata, muito limpa,<br />

com o casario junto à muralha do castelo, a recordar a batalha<br />

contra os castelhanos (em número muito superior) em 1385, um<br />

largo enorme onde ainda hoje se realiza a feira franca criada por<br />

Dom Diniz, completamente cheia de feirantes e de povo, como<br />

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185<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

pude comprovar. É nesse largo que está implantada uma capelinha<br />

erigida para comemorar o casamento daquele Rei com Isabel – a<br />

Rainha Santa.<br />

As novas construções foram desenhadas por quem sabe respeitar<br />

a tradição pelo que aos contrastes não falta harmonia em Trancoso…<br />

a quem D. Afonso Henriques concedeu foral, entre 1157 e<br />

1169, já lá vão muitos anos…<br />

Fiquei instalado num hotel de Turismo excelente, de construção<br />

recente, muito acolhedor e a que não falta uma piscina coberta,<br />

aparelhos de fitness e um belo solário, com um pessoal atenciosíssimo.<br />

E que dizer do local onde se disputou o jogo entre as selecções<br />

nacionais de Portugal e da Macedónia? Direi apenas que se trata<br />

de um bonito pavilhão, com os topos envidraçados, de estrutura<br />

de madeira nórdica, com capacidade para cerca de 1.000 pessoas<br />

(chega muito bem) e que estava completamente cheio. A minha<br />

curiosidade não resistiu a perguntar ao presidente da Câmara o<br />

nome do autor do projecto. Claro, trata-se de um dos nomes sonantes<br />

da arquitectura portuguesa, Arq. Gonçalo Birne.<br />

Acrescento que, naquele belo ambiente, com muita juventude a<br />

cantar o hino nacional e a gritar por PORTUGAL, os nossos atletas<br />

levaram de vencida os macedónios, o que naturalmente deixou<br />

felizes os trancosenses e não só.<br />

E perdoe-se-me o desabafo! Por motivo da minha dedicação ao<br />

basquetebol, tenho assistido em variadas cidades de província<br />

– cito só Anadia e Tondela – a jogos disputados em pavilhões com<br />

qualidade e que convidam à sua frequência. Recordo que nos ’70<br />

dei o meu contributo para que a escola Preparatória de Águeda<br />

fosse construída com um pavilhão gimnodesportivo, que ainda lá<br />

está. Depois disso apareceu o pavilhão do Ginásio que não satisfaz,<br />

segundo ouço dizer, as necessidades do desporto aguedense.<br />

Tantos anos passados, será que Águeda não merece ser dotada de<br />

uma infra-estrutura mais digna, em termos de desportos de salão?<br />

Não esqueço e até relevo a mais valia que representou para a terra<br />

o Estádio de futebol em que a autarquia meteu a cabeça.<br />

Voltando à viagem, direi que optei por regressar pela IP5, que está<br />

muito melhor, quase toda transformada em auto-estrada. E, na<br />

saída para as Talhadas, não hesitei e virei para Águeda… É que


não podia deixar de ir dar um abraço ao meu colega e amigo dos<br />

tempos da Escola do Adro, João Resende, e, outrossim, não podia<br />

regressar a Lisboa sem trazer uns folares e uns pastéis da Casa<br />

Brás.<br />

Como pormenor, insignificante talvez para muitos, apreciei a atitude<br />

da Câmara de Águeda, ao colocar umas placas na subida para<br />

o Tribunal a permitir o estacionamento de viaturas até 15 m. O<br />

tempo suficiente para uma pessoa poder resolver um assunto ligeiro<br />

na Baixa da cidade. A vida também é feita de pequenos nadas!<br />

À laia de conclusão: sem querer pôr em dúvida a forma discutível<br />

como os dinheiros da UE têm sido gastos, o País está muito bem<br />

servido de vias de comunicação para longas distâncias. Houve um<br />

enorme progresso, não há dúvidas.<br />

2. Gare do Oriente – há anos escrevi aqui a verberar a falta de<br />

uma sala de espera na gare do Oriente, em Lisboa. Acabei de<br />

verificar que, finalmente, ela está a ser montada e até é bonita e<br />

funcional: Parabéns à REFER.<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 02/09/2006<br />

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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

aInda eusébIo e salazar / lInGuaGeM desbraGada<br />

Tenho sido leitor assíduo do jornal Diário de Notícias. Esse jornal<br />

está a promover agora uma colecção de moedas dedicadas a<br />

Grandes Figuras Portuguesas.<br />

Como não podia deixar de ser, uma dessas figuras é a lenda do futebol,<br />

Eusébio, felizmente ainda hoje celebrado justamente como o<br />

maior jogador português de futebol de todos os tempos.<br />

Na minha qualidade de director geral dos Desportos, tive o prazer<br />

de acompanhar de perto a sua carreira, nos anos ’60 e princípios<br />

de ’70, para poder testemunhar o seu enorme valor em campo, só<br />

suplantado pela sua humildade como homem.<br />

A sua figura tem sido tratada exaustivamente na imprensa, na rádio<br />

e na televisão. Foi-lhe erigida uma estátua no estádio da Luz<br />

e foi-lhe feita uma biografia, pelo Sr. João Malheiro. Tudo bem!<br />

Só que, nessa biografia, o seu autor, certamente por razões de<br />

ordem não desportiva, introduziu abusivamente uma ideia que é<br />

uma pura falsidade.<br />

Na verdade, nela se inculca que Salazar inviabilizou a ida<br />

de Eusébio para o estrangeiro, considerando-o património<br />

nacional.<br />

Feita essa afirmação, logo o jornalismo desportivo, e não só, se<br />

encarregou de passar a mensagem, de tal forma que, a propósito,<br />

agora, da referida moeda do DN, na sua página 39, em sub-título,<br />

essa mensagem é repetida dizendo mesmo que a transferência do<br />

jogador seria para a Juventus (Itália). Ora, uma mentira, muitas<br />

vezes repetida, passa a ser uma verdade… Só do meu conhecimento,<br />

isso sucedeu com o Expresso, com o Público e na TV. Existem<br />

mesmo vídeo cassetes da SIC, que passavam nos Alfas Pendulares,<br />

em que se diz que Salazar chamou Eusébio a S. Bento por 6<br />

vezes, o que também não é verdadeiro. Posso afirmar que Eusébio<br />

se encontrou com Salazar uma única vez e que foi no regresso de


Londres, do campeonato do mundo de 1966. Tenho procurado fazer<br />

a rectificação desses escritos, mas sem êxito. Já o escrevi, como<br />

me competia, por amor à verdade, no meu livro de “memórias”.<br />

Até que, no jornal “A Capital” de 28-09-2004, em resultado de<br />

um trabalho de investigação da Profª Ana Santos para uma tese<br />

de doutoramento, está escrito em título de 1ª página: “Novas investigações<br />

colocam em causa um dos mitos portugueses do<br />

século XX – foi o Benfica e não Salazar a impedir Eusébio de<br />

jogar no estrangeiro”. Aí se encontram os testemunhos do, ao<br />

tempo, advogado de Eusébio, Dr. Silva Resende que foi presidente<br />

da FPF e do histórico jornalista, Sr. Alfredo Farinha, a contrariarem<br />

frontalmente a tese de J. Malheiro.<br />

Felizmente, ainda estão vivos antigos dirigentes do glorioso S. L. e<br />

Benfica que poderão testemunhar em desfavor da tese que o DN<br />

volta a trazer à liça. Graças a Deus, os 2 últimos ministros da Educação<br />

de Salazar (de 1962 a 1968), Inocêncio Galvão Telles e José<br />

H. Saraiva, ainda estão vivos e poderão negar peremptoriamente,<br />

como inclusivamente se chegou a dizer, que o assunto da transferência<br />

de Eusébio alguma vez tenha sido discutido em Conselho<br />

de Ministros!<br />

Tenho para mim que os senhores jornalistas, quando escrevem,<br />

é para dizer a verdade, só que, se as suas fontes são de “águas<br />

inquinadas”, essa verdade acaba por ser atraiçoada.<br />

Só dando voz a todos os que conhecem os assuntos se pode esclarecer<br />

a opinião pública. E, neste caso concreto, eu até estava por<br />

dentro…<br />

Linguagem desbragada - Alguns políticos usam, por vezes, uma<br />

linguagem que me faz interrogar sobre se estou a viver numa democracia<br />

que se diz avançada!<br />

Há dias, li no Expresso que o mediático bloquista Dr. Francisco Louçã<br />

terá dito “Temos o Carrapatoso Corleone, o Belmiro Corleone e<br />

o Paulo Corleone”. Assim se terá pretendido afirmar uma prática/<br />

tendência mafiosa àqueles gestores que são do melhor que existe<br />

no País. Se eu pudesse dar um conselho àquele professor universitário,<br />

dir-lhe-ia que lançasse uma empresa e que a gerisse de<br />

forma a criar, ao menos, 0,1% dos postos de trabalho existentes,<br />

por exemplo, no Grupo de Belmiro de Azevedo. Por mim eu ficaria<br />

feliz, porque haveria mais 39 trabalhadores com salários em dia.<br />

188


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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

Só assim se terá autoridade moral absoluta para falar de temas<br />

sociais agudos. Especialmente quem vive à sombra do orçamento<br />

de Estado, como é o caso dos políticos, deve ter mais contenção na<br />

linguagem, que chega a atingir o insulto, mesmo o gratuito.<br />

Também li no Diário de Notícias que um dirigente sindical do sector<br />

da educação (!), de Coimbra, se terá referido ao Primeiro-Ministro<br />

e à Ministra da Educação como “canalha”. Esse dirigente<br />

é certamente um dos ainda muitos professores requisitados para<br />

exercerem funções sindicais, que recebem o vencimento do Ministério.<br />

E os governantes não reagem a estes insultos? Na negativa,<br />

será caso para dizer que o País está mesmo doente.<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 22/09/2006.<br />

A parte relativa a «Eusébio e Salazar» também foi publicada no jornal<br />

“Diário de Notícias” de14/09/2006.


escutas, Panteão nacIonal e MúsIca no coração<br />

No Diário de Notícias de 5 do corrente mês, na página 17, em<br />

caixa, está a transcrição de algumas escutas telefónicas feitas a<br />

pessoal político, em 24 de Maio de 2003, a propósito do processo<br />

da Casa Pia:<br />

“JS – Quer dizer, o teu nome anda por lá, não é? Nos depoimentos.<br />

FR – Exactamente. Tá metido na m…(omito a palavra), na lama (…)<br />

FR – Mas como isto, pá, tá tudo a ser registado, pá, acho melhor,<br />

pá, teres cuidado com a língua, pá!<br />

JS – Ó, eu tenho o c… (omito a palavra), pá! Tu desculpa lá, é que<br />

a mim não me intimidam, nem…<br />

FR – Depois, dizem que tu, pá, que tu não defendes o Estado de<br />

direito, pá. Que não sabes o…<br />

JS – Pois, eu não conheço o Estado de direito!<br />

FR – Que não conheces a separação de poderes…<br />

JS – P… que os p… (omito as palavras)… os poderes…<br />

FR – Tá bem!”<br />

Ao ler esta transcrição, e a ser assim, eu nem queria acreditar no<br />

que estava debaixo dos meus olhos! É com este tipo de políticos<br />

que as camadas jovens aprendem a falar bom português? Creio,<br />

sinceramente, que não!<br />

Começo agora a perceber as razões que têm levado uns tantos<br />

políticos com altas responsabilidades a defenderem a tese de que<br />

há que limitar as escutas, das mais sinuosas formas, porque, dizem<br />

eles estão, em causa os direitos, as liberdades e as garantias…<br />

Tal como já escrevi neste jornal, o meu comentário é apenas o de<br />

que quem não deve, não teme! E se alguns dos senhores políticos<br />

temem será porque, lá no fundo, devem alguma coisa?<br />

Panteão Nacional - Há dias o Panteão - local destinado ao repouso<br />

daqueles que por obras de excelência se foram da lei da<br />

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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

morte libertando - foi palco de cerimónia que reuniu as mais altas<br />

figuras do Estado que entenderam prestar uma homenagem a um<br />

militar que tem no seu currículo o facto de ter captado a inteira<br />

confiança de Salazar, a ponto de este o ter nomeado adido militar<br />

português em Washington e director-geral da Aviação Civil. Foi um<br />

homem que tinha a ambição de ser designado como 1º Subsecretário<br />

de Estado da Aeronáutica, mas que viu o lugar ser ocupado<br />

por outro oficial, não sei se melhor ou pior do que ele. Esse militar<br />

zangou-se com o Estado Novo, que até ali servira certamente com<br />

o maior empenho, e passou-se para a oposição de onde partiu em<br />

campanha eleitoral para a Presidência da República. Nela declarou<br />

alto e bom som que, se fosse eleito, “obviamente demitia Salazar”.<br />

Como não ganhou as eleições, não teve essa oportunidade<br />

e partiu para o exílio, onde acabou mesmo por ser deixado à sua<br />

sorte pelo PCP. Até que, ao encontrar-se com uma brigada da PIDE,<br />

na fronteira espanhola, foi lamentavelmente abatido.<br />

Humberto Delgado, quando se demitiu de Director-Geral da Aviação<br />

Civil, para iniciar a sua carreira política na oposição, foi deixar<br />

um cartão de cumprimentos ao Ministro das Comunicações. Por<br />

acaso, eu estava no gabinete, e fui eu que recebi o cartão…<br />

Sem querer opinar sobre a circunstância da colocação de Humberto<br />

Delgado no Panteão, limitei-me a constatar que não faltou<br />

à referida homenagem aos seus 100 anos um largo número de<br />

políticos do mais alto nível. Só lá faltou o Povo, que respondeu<br />

com o seu alheamento… a avaliar pelas fotos e pelas transmissões<br />

televisivas… Tal como sucedeu aliás na cerimónia no Largo do Município<br />

no passado dia 5 de Outubro.<br />

Música no coração - Uma vez mais, Filipe La Féria teve a generosidade<br />

de me convidar para uma estreia, agora, do “Música no<br />

Coração”.<br />

Sem subsídios do Estado, ele conseguiu montar um espectáculo de<br />

enorme qualidade que, julgo, se irá manter em palco por muito<br />

tempo, como aliás tem sucedido com as suas anteriores criações:<br />

“Passa por mim no Rossio”, “Maldita Cocaína”, “My Fair Lady”,<br />

“Amália”…<br />

Digo isto porque os desempenhos de Anabela/Lúcia Moniz, Carlos<br />

Quintas e Joel Branco, a par do coro de “freiras” - onde pontificam<br />

as vozes excelentes de Lia Altavila, Helena Vieira, Helena Afonso…


e de um conjunto de crianças – que prenunciam que o futuro está<br />

aí – , são a garantia de um êxito total no panorama cultural português,<br />

onde há muitas vozes a queixar-se da falta de apoios do<br />

Estado!...<br />

Creio que a ANATA prestaria um bom serviço aos aguedenses se<br />

organizasse uma excursão a Lisboa para assistirem a um agradável<br />

evento, a exemplo do que, aliás, já foi anunciado por outras<br />

terras, mesmo de Espanha…<br />

Afinal, também há coisas muito boas em Portugal! Aproveitemo-<br />

-las!<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 19/10/2006<br />

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193<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

servIço nacIonal de saúde / eMPresa PrIvada<br />

Há uns anos atrás, dirigi-me ao meu Centro de Saúde, em Lisboa,<br />

para uma consulta médica que me proporcionaria a passagem de<br />

uma receita. Marcada previamente, lá me dirigi no dia e hora fixados<br />

pelo Centro. Às 14h, com mais 29 outros “doentes”, começou<br />

a espera pelo Senhor Doutor. Uma hora depois, eram 15h, ele<br />

entrou em passo estugado… Logo veio uma Enfermeira (?) dizer<br />

aos doentes que o Senhor Doutor só atenderia 15 dos 30 que<br />

aguardavam a sua vez…<br />

Achei que os doentes não tinham culpa do atraso do médico e<br />

resolvi dizer à Senhora Enfermeira (?) que o Senhor Doutor teria<br />

de proporcionar a consulta aos 30 previamente marcados… Fezse<br />

um silêncio de chumbo na sala de espera e as pessoas ficaram<br />

a olhar umas para as outras, incrédulas quanto à sua sorte… em<br />

serem efectivamente atendidas ou não… Foi chamado o 1º, depois<br />

o 2º e por aí adiante, até chegar a minha vez. Fui o 30º…<br />

Mas fiquei satisfeito por toda aquela gente bem humilde ter sido<br />

atendida! Quanto à qualidade do atendimento das pessoas, nada<br />

posso dizer, naturalmente.<br />

Desde criança que me habituei a utilizar os serviços médicos preventivos.<br />

Fui, pois, umas tantas vezes ao consultório desse grande<br />

médico e Homem que foi o Sr. Dr. António Breda, pela mão de minha<br />

Mãe. Passaram os anos e, de há um tempo a esta parte, tenho<br />

ido ao IPO, para consultas regulares de prevenção. Quando iniciei<br />

essas consultas, ainda estava com uma actividade profissional intensa.<br />

Assim, levava o computador para o Hospital, onde sabia<br />

que teria de esperar umas 3 horas pela minha vez, dado que todas<br />

as pessoas eram convocadas para a mesma hora - 9h da manhã…<br />

A observação que eu fazia da forma como o sistema funcionava<br />

levou-me a, muito respeitosamente, perante o médico especialista,<br />

pôr em causa esse sistema. Ele ouviu os meus comentários e


achou-os pertinentes… tendo prometido pensar neles. A minha<br />

sugestão era muito simples: (a) dividir o período da consulta (4<br />

horas por exemplo) em 4 partes; (b) a cada hora corresponderiam<br />

x consultas; (c) as pessoas seriam convocadas pelo hospital para o<br />

início de cada hora, com uma folga adequada para as eventuais<br />

faltas…<br />

Pois bem, mais uma vez, a semana passada fui a Palhavã, com<br />

uma marcação para a 11h10m. Fui atendido às 11h15m! E como<br />

isto tem vindo a suceder nas últimas consultas (e se a consulta tiver<br />

de ser adiada, recebe-se em casa um postal a marcar o novo dia<br />

da mesma), tenho para mim que o actual sistema funciona bem.<br />

Parabéns, Dr. João Amaro!<br />

Numa altura em que tanto mal se diz do Serviço Nacional de Saúde,<br />

umas vezes com razão outras talvez não, é com satisfação que<br />

relato esta experiência. Está, também, nas nossas mãos contribuir<br />

pela introdução de melhorias no funcionamento dos serviços públicos,<br />

não nos devendo resignar perante situações injustificáveis.<br />

É que, melhor organização não implica necessariamente maiores<br />

custos. Antes pelo contrário. Ao fazer este elogio merecido não<br />

posso no entanto deixar de registar o espectáculo dado por algumas<br />

senhoras de bata branca, funcionárias do hospital, a fumarem<br />

à saída das portas… esquecendo que o exemplo é fundamental<br />

para se evitar o cancro do pulmão… E elas estão no IPO…<br />

Empresa Pública<br />

Há alguns meses atrás, nos meus passeios diários na zona do<br />

Restelo, reparei numa viatura dos CTT-Expresso, “estacionada” no<br />

parque onde a PSP tem as viaturas que vai rebocando por mau<br />

estacionamento na cidade. Estranhei o facto, mas as semanas iam<br />

passando e ela lá continuava.<br />

Resolvi enviar, no passado mês de Agosto, uma mensagem ao presidente<br />

dos CTT, que tenho por pessoa competente e empenhada,<br />

a dar conhecimento da situação, o que ele agradeceu prometendo<br />

ir averiguar o que se passava.<br />

Até hoje, porém, a referida viatura não foi removida de lá…<br />

Costumo dizer que a unidade de medida do tempo em Portugal<br />

passou a ser, desde há muito, o semestre…<br />

Empresa Privada<br />

Soube há dias que uma empresa privada instalada nos arredores<br />

194


195<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

de Lisboa fabrica um produto que lhe custa € 0,80/milheiro. Essa<br />

empresa tem uma outra fábrica na Roménia a quem esse custo é<br />

de € 0,25/milheiro. Lá, nas máquinas, operam engenheiros, aqui<br />

operam pessoas com a 4ª classe… Lá, trabalha-se aos fins de semana<br />

e em 3 turnos, sem alcavalas. Aqui, o sábado custa mais<br />

175%... etc., etc. e o posto de trabalho tem um seguro de vida…<br />

que os sindicatos garantem…<br />

Sem, de forma alguma, querer dizer que os romenos estão a ser<br />

bem pagos, o que acho é que a corda tanto estica que o fenómeno<br />

da “globalização” acabará por mais e mais “deslocalizações”…<br />

Publicado no jornal “Diário de Notícias” de 02 e 06/11/2006<br />

e no jornal “Soberania do Povo” de 10/11/2006


doutoraMentos e Grandes PortuGueses<br />

1- Doutoramentos - Praticamente desconhecido do grande público,<br />

um oficial do Exército, não de elevada patente, foi projectado no meio<br />

castrense pós 25 de Abril para as mais altas funções do Estado, depois<br />

de corajosamente ter encabeçado a luta contra o totalitarismo que as<br />

forças da esquerda extremista impuseram, durante alguns meses, ao<br />

povo português mas que, embora derrotadas, deixaram raízes bem<br />

fundas na sociedade de que ainda hoje, especialmente as organizações<br />

económica e educativa sofrem as respectivas consequências. Faz<br />

agora precisamente 31 anos que esse oficial deu o peito às balas que,<br />

porém, e ainda bem, não foram disparadas pelos seus antagonistas.<br />

Estou a falar do General António Ramalho Eanes que, durante 10<br />

anos, exerceu o alto cargo de Presidente da República.<br />

Nunca tive relações com ele, a não ser as que decorriam de um cumprimento<br />

de circunstância a que não era alheia a sua Mulher.<br />

Independentemente de qualquer apreciação que se possa fazer à sua<br />

conduta política e partidária, emerge sempre, a ideia de um Homem<br />

Sério e de Carácter.<br />

Trago hoje aqui a sua figura pelo facto, para mim relevante, de ao<br />

longo do seu percurso pós presidencial e partidário se ter remetido<br />

a uma vida discreta, longe dos holofotes, sem andar à procura de<br />

notoriedade balofa, nem de instalações sumptuárias para o seu “munus”.<br />

Ele resolveu, pura e simplesmente, dedicar-se ao estudo de um<br />

período da nossa história civil muito rica em acontecimentos que não<br />

devem ser esquecidos, mas tratados com verdade!<br />

E vai daí, em vez de procurar dar azo à sua vaidade, embrenhou-se<br />

numa tarefa delicada e de grande risco, na medida em que não é fácil<br />

alcançar um doutoramento numa Universidade de prestígio, para<br />

mais estrangeira. Estudou, investigou e, aos 72 anos, submeteu-se a<br />

provas públicas na Universidade de Navarra, tendo como arguentes<br />

notáveis mestres dessa e das nossas universidades (Jorge Miranda<br />

196


197<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

e Manuel Braga da Cruz). Teve a acompanhá-lo durante as provas<br />

pouca gente, segundo os relatos que li. Do actual Poder Político, não<br />

tive registos de monta! Poucas personalidades se dignaram dar-lhe os<br />

parabéns, o que é triste! Em todo o caso, na defesa da sua tese sobre<br />

Ciência Política, lá estava a sua Família, ou seja, estava a instituição<br />

mais nobre que hoje a sociedade possui. No final, o júri, por unanimidade,<br />

deliberou aprová-lo com distinção. E os poucos que o acompanharam<br />

em Navarra ficaram certamente muito satisfeitos. Diz-se<br />

que por trás de um grande Homem está sempre uma grande Mulher:<br />

é o caso! Por isso, este texto também consubstancia uma cordial saudação<br />

à Drª Manuela Eanes, que era filha de um Amigo que muito<br />

me honrou e de quem sou admirador pela Obra que tem realizado a<br />

favor das crianças.<br />

O facto de que falo trouxe-me à lembrança a atitude de outra alta<br />

individualidade que optou por receber (não sei se a pedido?) doutoramentos<br />

“honoris causa” por tudo quanto é sítio. Até consta que mesmo<br />

sem unanimidade. Parabéns Senhor General Ramalho Eanes!<br />

2 - Grandes Portugueses – Com grande espavento, a regressada<br />

apresentadora da RTP, Maria Elisa, lançou um concurso para se saber<br />

quem é o maior Português da nossa história, a exemplo aliás do que<br />

já foi feito noutros países.<br />

E para “ajudar” foram feitas sugestões públicas de nomes, os mais<br />

diversos e controversos. Até se chegou a exigir que não se esquecesse<br />

o Doutor Salazar! Como se ele pudesse ser riscado da história recente<br />

do nosso País… Contrariamente ao que pode suceder com uma estátua<br />

ou com o nome de uma Ponte ou de uma Avenida, o espírito e o<br />

pensamento nem à bomba serão destruídos!...<br />

Pois bem, não mais tive notícias desse concurso. No tempo das avançadas<br />

tecnologias em que, cá e por esse mundo fora, uma hora depois<br />

do encerramento das urnas de uma qualquer eleição, já é possível<br />

conhecer o seu resultado, o que se passará com este concurso?<br />

Tenho para mim que o resultado do mesmo não agrada mesmo nada<br />

à “intelectualite” portuguesa dominante. Estarei enganado? Se fosse<br />

Saramago o “eleito”, de certeza que já era conhecido esse resultado!<br />

Tem a palavra, Senhora Dona Maria Elisa. E não demore muito!<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 15/12/2006<br />

O ponto 2 também foi publicado no “Diário de Notícias”, de 27/12/2006


tIMor. não há falta de dInheIro…<br />

Tenho para mim que há novos países que não têm condições para<br />

se aguentarem sozinhos. Eles nasceram fundamentalmente na cabeça<br />

de uns tantos naturais desses territórios para quem a ambição<br />

de poder não tem limites. No fundo, eles almejam ser presidentes<br />

de república, ministros, deputados, embaixadores, intermediários<br />

de negociatas… E dirão lá para consigo que, depois, alguém, de<br />

fora, há-de pagar esse delírios…<br />

Por outro lado, a Organização das Nações Unidas fica contentíssima<br />

quando é criado mais um país, mesmo que seja artificial. Por<br />

essa razão, a sua máquina engorda, aumentam os seus empregos,<br />

há quem passe a viajar mais e a ter uma influência que antes não<br />

tinha…<br />

É claro que, para pagar os custos desta megaloestrutura, há que ir<br />

buscar o dinheiro a algum sítio… E esse sítio só poderá ser o bolso<br />

dos contribuintes de uns tantos países ricos e menos ricos… alguns<br />

deles sem cheta para mandar cantar um cego…<br />

Poderia dizer-se que todo este folclore vale a pena em nome da<br />

democracia que varre os espíritos desde o século passado. Só que,<br />

de democratas, pouco têm grande número de países. De tal forma<br />

que, com uma grande frequência, rebentam conflitos étnicos por<br />

esse mundo fora, em especial em África. E lá terão de prestar assistência<br />

os capacetes azuis… que custam muito dinheiro… e pouco<br />

ou nada resolvem… Os conflitos no médio oriente já há muito<br />

que praticamente “dispensam” os serviços das Nações Unidas…<br />

Com toda esta ineficiência, a máquina da ONU continua impávida<br />

e serena a alimentar vaidades que mais tarde ou mais cedo se terão<br />

de extinguir. E só não acabam mais cedo do que seria de desejar<br />

porque os EUA vão despejando para os cofres da Organização<br />

milhões de dólares. Sei bem que estas ideias são próprias de um<br />

discurso politicamente incorrecto, nos tempos que correm, para o<br />

198


199<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

enxame de democratas que governam o mundo… Isto vem a propósito<br />

de um simples facto que os órgãos de informação trouxeram<br />

ao conhecimento público: 6 senhores deputados – seis - da nossa<br />

Assembleia da República deslocaram-se a… Timor para significar<br />

o apoio da veneranda Assembleia ao povo timorense e, naturalmente,<br />

aos seus órgãos de poder! E porquê? Pela simples razão<br />

de que o povo de Timor se não entende e entrou, há muito, numa<br />

balbúrdia que nem as forças internacionais, GNR incluída, conseguem<br />

dominar! Como é possível tanta falta de humildade democrática<br />

que leva ao confronto nas ruas, ao incêndio de casas, ao<br />

assassínio sem piedade de naturais, às violações, aos roubos?...<br />

Seria preciso fazer deslocar 6, logo 6, ilustres deputados a Timor<br />

para deixar uma palavra de solidariedade? As viagens não são baratas,<br />

as ajudas de custo aumentam a despesa e o tempo “perdido”<br />

por eles poderia ser mais bem empregue, em defesa dos seus<br />

próprios eleitores portugueses…<br />

E diz o Governo, com propriedade aliás, que não há dinheiro para<br />

satisfazer necessidades básicas das populações continentais e insulares…<br />

Lamenta-se ter de dizer que não há dinheiro para matar<br />

a fome a quem precisa mas, para viajatas à meia dúzia, sempre se<br />

arranjam uns tostões…<br />

Sou dos que louvo sem reservas a atitude reformista de José Sócrates.<br />

Não deve ter dependido dele essa deslocação. Estou mesmo<br />

em crer que ele foi um autêntico achado para impor alguma ordem<br />

nas finanças públicas. Outros políticos com “folhas de (menos<br />

bom) serviço” prolongadas e mais recheadas em democracia não<br />

seriam capazes de ter a coragem de enfrentar os muitos lobies<br />

que estão implantados na sociedade! Para ser honesto, porém,<br />

não gostei que as famigeradas reformas dos administradores do<br />

Banco de Portugal levassem tanto tempo, mais de um ano, a serem<br />

“reformadas”!<br />

Termino, interrogando-me: será que Portugal deveria ter “fugido”<br />

de Timor, nos termos em que o fez em 1974, sem ao menos termos<br />

feito uma consulta ao seu povo? O próprio Mário Soares defendeu<br />

a integração na Indonésia dessa ex-província ultramarina. E agora,<br />

até o jurista descolonizador, Almeida Santos, teve necessidade de<br />

justificar a descolonização de Timor com 125 páginas do seu mais<br />

recente livro (II volume) “Da Descolonização de cada Território em


particular”, de 416 páginas, ou seja com 28% do texto!… Seria<br />

bom lembrarmo-nos de que, se a “inteligência revolucionária de<br />

1974” tivesse deixado Timor entregue a Portugal, esse território<br />

seria hoje, a exemplo do que sucedeu com os Departamentos Ultramarinos<br />

franceses como a Martinica, Reunião, etc., considerado<br />

região ultra-periférica da União Europeia com todas as vantagens<br />

daí inerentes… Os revolucionários portugueses optaram por criar<br />

antes um simulacro de país independente… que, ainda por cima,<br />

nos consome recursos e sacrifícios humanos não despiciendos<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 22/12/2006<br />

200


o Poder dos burocratas<br />

201<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

Em geral, toda a gente diz que a máquina estatal tem funcionários<br />

a mais. Os sindicatos dizem precisamente o contrário. Talvez nos<br />

devêssemos fixar no meio termo…<br />

Tivemos uma longa vivência na função pública e lá encontrámos<br />

funcionários competentes e diligentes a par, naturalmente, de outros<br />

menos competentes e menos diligentes.<br />

Em certa medida, o poder político, que sofre de uma doença que<br />

se pode apelidar de diarreia legislativa, tem grande culpa nos deficientes<br />

serviços que o Estado presta aos contribuintes ao enxamear<br />

esses serviços com gente em número descabido que tem como<br />

recomendação mais a sua filiação partidária do que a sua competência.<br />

Mas em regime parlamentar, nada se pode fazer contra<br />

essa “invasão”…<br />

À parte muitas e honrosas excepções, dignas do maior apreço,<br />

todo e qualquer funcionário que se senta atrás de uma secretária<br />

(de madeira ou de aço) tem um pendor enorme para se assumir<br />

detentor de poder. E quantos mais funcionários houver a tratar de<br />

um qualquer assunto numa repartição pública maior resistência<br />

esse assunto terá de vencer, para desespero do impetrante. Na<br />

verdade, a burocracia é um autêntico polvo consumidor de energias<br />

e de custos legais e de pequena (?) corrupção…<br />

Através da imprensa tive há dias conhecimento de uma situação<br />

que é paradigmática e que se conta numa dúzia de linhas. Tratouse<br />

de um dos milhões de contribuintes deste País que foi posto<br />

perante uma execução fiscal que resultaria de não lhe ter chegado<br />

ao conhecimento a notificação do imposto devido. Como confiar<br />

nos CTT que atravessam um período de enorme turbulência?...<br />

Esse contribuinte opôs-se à execução propondo-se prestar uma<br />

hipoteca sobre imóveis, para o que se dirigiu à Conservatória do<br />

Registo Predial indicada na caderneta respectiva. Lá, foi informado


que a Conservatória se situava noutro edifício… não sem receber<br />

os impressos necessários bem como a informação errada de que<br />

os modelos constantes da Internet já não eram válidos… Na nova<br />

Conservatória tem de esperar uma hora para ser atendido por<br />

uma burocrata que rejeitou os documentos e as informações dadas<br />

na outra Conservatória e recusou a hipoteca. Porém, mediante<br />

insistência do contribuinte, o Chefe entendeu que a hipoteca podia<br />

ser registada… Vai agora ao Serviço Fiscal que resolve pequenos<br />

problemas entretanto surgidos com os impressos… de forma célere…<br />

Nem tudo é mau, afinal!<br />

Volta à Conservatória, tira a senha e fica à espera uma hora. Entretanto,<br />

outras pessoas tiravam senhas mais baixas para outros<br />

guichets, mas acabavam por ser atendidas no guichet dos registos,<br />

uma vez que conheciam a funcionária… Chegada a sua vez,<br />

o contribuinte ouviu, da funcionária que o atendera duas horas<br />

antes, o contrário de tudo o que esta lhe dissera e por isso lhe recusava<br />

o registo da hipoteca… Então, na sua dupla qualidade de<br />

contribuinte mas também de advogado, argumentou de forma que<br />

a funcionária acabou por dar o dito por não dito e cedeu… Para<br />

esse tipo de serviço, sem qualidade, o contribuinte pagou centenas<br />

de euros e ainda teve de ouvir que a certidão não lhe seria entregue<br />

antes de três semanas a um mês… Nestas diligências o contribuinte<br />

gastou horas com a ineficiência do Estado, desembolsou<br />

muitos euros e foi pessimamente servido…<br />

Será que isto vai continuar assim, não obstante estar em vigor o<br />

“espírito” do SIMPLEX? Ou será que o SIMPLEX emigrou? Ou afinal<br />

ainda está para chegar?...<br />

Termino com uma pergunta: Não seria de experimentar mandar<br />

para casa, com os respectivos vencimentos em dia, um terço dos<br />

funcionários que, em princípio, só servirão para criar entropia nos<br />

Serviços? Os outros dois terços que ficassem teriam naturalmente a<br />

tendência para simplificar a vida dos cidadãos eliminando diligências<br />

escusadas ou supérfluas e que levam por vezes (?) à pequena<br />

corrupção... E talvez se pudesse começar pelos Registos…Tentar<br />

não custa…<br />

Cabe ao Poder Político a obrigação de legislar no sentido daquelas<br />

eliminações. Mas as chefias, ao menos, têm a obrigação de<br />

apresentar sugestões construtivas e não serem apenas agentes<br />

202


203<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

passivos do Estado… Lembro-me que, em funções directivas no<br />

Estado, propus ao Governo a abolição da entrega das célebres declarações<br />

anti-comunistas previstas no Decreto-Lei nº 27003 para<br />

os dirigentes desportivos. Marcello Caetano aceitou a sugestão e<br />

assim foram eliminados muitos milhares de folhas de papel selado,<br />

de registos e de tempo perdido… Isto foi em 1970!<br />

Termino fazendo votos por que os aguedenses festejem em Paz e<br />

Amor o Natal de Jesus.<br />

Lisboa, 12/12/2006<br />

Publicado no jornal Soberania do Povo


204


entrevIstas<br />

205<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião


entrevIsta à revIsta “a brIosa”<br />

A Briosa: Gostaria que nos falasse sobre a actividade da<br />

Secção de Basquetebol da Associação Académica de Coimbra,<br />

enquanto seu atleta e dirigente, designadamente, sobre<br />

a deslocação da equipa a África, em 1951.<br />

AR - De forma alguma podia rejeitar o convite de “A Briosa” para<br />

falar sobre a Secção de Basquetebol da Associação Académica.<br />

Todo aquele que envergou a capa e batina na Lusa-Atenas leva<br />

consigo uma chama que, bem viva, os tempos não conseguem<br />

apagar: os anos passam, a Académica continua!...<br />

Por toda a parte, quer seja no Continente, quer no Ultramar, quer<br />

mesmo no estrangeiro, o “estudante de Coimbra” não fica indiferente<br />

às manifestações da sua Academia. Os organismos culturais<br />

e as secções desportivas têm-no verificado através dos tempos, nos<br />

seus contactos com os meios a onde têm levado a sua arte e a sua<br />

graça. Quantos quilómetros não têm andado muitos que abandonaram<br />

Coimbra por força das exigências da vida actual (duvido<br />

que não preferissem prolonga a sua vida académica eternamente…)<br />

para irem aplaudir, com a sua presença, aqueles que, dentro<br />

da sua capa e batina ou da sua equipa, são os seus “descendentes”…<br />

Quantos, curvados ao peso dos anos, emblema na lapela,<br />

nos dizem que Coimbra não morreu para eles… Que momentos<br />

de felicidade o verem-se de novo rodeados pelo ambiente que já<br />

lhes pertenceu também!...<br />

Quantos exemplos de dedicação à Academia Coimbrã, se não podiam<br />

citar!... Sem ferir susceptibilidades, permito-me lembrar dois<br />

nomes: - Um que já não pertence ao reino dos vivos – o Capitão<br />

Pina Cabral. Quem haverá que o não conheça ou, pelo menos,<br />

não tenha ouvido falar nele? Quem haverá além disso, que duvide<br />

que tivesse sido a A. Académica a ditar a sua sentença final?...<br />

Outro, que a geração actual não viu, por certo, mas que, supe-<br />

206


207<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

rior ao rolar dos anos, ficará para sempre, como sendo “o maior<br />

cantor dos fados de Coimbra” – o Dr. António Menano. Para os<br />

representantes da A. Académica em terras africanas, a quando da<br />

visita da secção de Basquetebol, no ano passado, a par de tantas<br />

recordações inolvidáveis, a que mais se gravou no nosso espírito<br />

foi precisamente aquele em que Menano, solicitado pelas várias<br />

dezenas de “estudantes de Coimbra”, no Choupal da Beira, em<br />

plena floresta, se dispôs a pegar na guitarra e a cantar os “seus<br />

fados…” Quando um colega lhe colocou a capa aos ombros, vi-o<br />

apalpar carinhosamente o tecido com os seus dedos delicados, de<br />

verdadeiro artista, e rolarem-lhe as lágrimas pelas faces em que<br />

se vêem as rugas dos anos e dos climas africanos. Que momento<br />

esse!... Indescritível!...<br />

De novo se ouviram os trinados daquele que passeou a sua arte<br />

por esse mundo além… Oh! Mas quanto ele sofria, a cantar os<br />

versos que todos nós conhecemos… Que suavidade tinha a sua<br />

voz ao pronunciar:<br />

Tenho sede de mais alto<br />

Sou como a Mãe de Deus<br />

Que, tendo Jesus nos braços,<br />

Ainda olhava pr’ós céus…<br />

Ele que, um anos antes, se tinha furtado à emoção do contacto<br />

com o Orfeão Académico, organismo a que pertencera e a quem<br />

dera tantos louros!... Mas, como é caprichoso o destino: perante<br />

a embaixada desportiva académica, não pudera isolar-se… A própria<br />

saudade chamava-o, vencendo-o a ele próprio. Nas horas em<br />

que conviveu com a “malta”, cada palavra sua era uma conta do<br />

rosário das suas recordações!... Era o eco da sua voz moça e distante,<br />

repercutindo-se pelas ruas da cidade-doutora, em noites de<br />

luar, no silêncio manso das brancas madrugadas…<br />

A sua dedicação à Academia chega ao ponto de ter manifestado<br />

como o seu maior desejo o ser levado aos ombros de estudantes<br />

para a Conchada, na sua viagem derradeira…<br />

A Briosa: Qual o percurso da Secção até ao Campeonato Nacional?<br />

Falando desta visita que a Secção de Basquetebol da A. Académica<br />

fez a África, ostentando o título de Campeão Nacional da


modalidade, perguntar-se-á: como conseguiu a referida secção<br />

guindar-se a essa posição máxima? É o que, a traços largos, vou<br />

tentar contar. Deixarei passar muitos factos em claro?! – A minha<br />

memória não é imensa. Procurarei, no entanto, ser o mais fiel possível<br />

à História da Secção que começou no tempo em que os Drs.<br />

Carlos Gonsalves, Escobar, Arruda, Alberto Ferreira, no ginásio do<br />

A.C.E., passavam algumas das suas horas livres. Foi no advento<br />

do basquetebol em Portugal que essa equipa alcançou posição de<br />

relevo.<br />

Outros não menos valorosos atletas envergaram a camisola negra,<br />

sem conseguirem, no entanto, as melhores classificações nos campeonatos<br />

que disputaram.<br />

No ano de 1947 pensou-se, numa espécie de “Congresso da Secção”,<br />

em rever o trabalho anterior. Por que razão não se ganham<br />

campeonatos? (Embora não considere este o fim primário do desportista,<br />

é agradável que tal se verifique). Posto assim o problema,<br />

chegou-se facilmente à conclusão de que era indispensável a iluminação<br />

do campo de Santa Cruz e a vinda de um técnico para<br />

preparar as equipas.<br />

Um obstáculo se erguia: a falta de dinheiro… Sim pois se nem<br />

equipamentos havia – quantas vezes se treinava descalço e os calções<br />

eram improvisados com…camisolas; não havia com que comprar<br />

petróleo para os atletas tomarem um banho quente, nos dias<br />

invernosos…Assistiam, portanto, à Secção de Basquetebol as piores<br />

condições materiais. Os que hoje presenciam as exibições da<br />

Académica não calculam o que foram esses anos de luta árdua por<br />

parte dos seus elementos, aliás de uma dedicação sem limites.<br />

Só uma vontade indómita de vencer, tornar realidade o sonho de<br />

ser “campeão”, ao qual se associavam aqueles outros dois sonhos<br />

- iluminação e técnico - era pertença da Secção…<br />

Com a colaboração preciosa da Câmara Municipal (presidida pelo<br />

Brig. Correia Cardoso que era assessorado pelo eng.téc. Baganha),<br />

pode hoje treinar-se, à noite, no campo de Santa Cruz. Assim,<br />

enquanto muitos colegas se divertem nos cinemas, a passear,<br />

ou recostados nos belos “maples” nas suas casas, trabalhava-se<br />

quase todas as noites naquele recinto, desde a hora em que foi realizada<br />

a 1ª condição para o progresso da modalidade… Pensa-se<br />

então na vinda de um técnico competente. Vários foram aborda-<br />

208


209<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

dos mas chegou-se à triste conclusão de que…não havia dinheiro<br />

para a manutenção dum compromisso nesse sentido. O desânimo,<br />

no entanto, não penetrava na família basquetista e optou-se por<br />

que tal cargo fosse desempenhado por um atleta da Secção que,<br />

estudando, conseguiu pôr-se a par dos pormenores do basquetebol<br />

moderno. Deve reconhecer-se que a missão era espinhosa<br />

para o eleito cujo nome se impunha para um desempenho cabal:<br />

Cerveira (presentemente, como médico, está a especializar-se em<br />

Londres).<br />

De um momento para o outro, aqueles atletas que costumavam<br />

entrar em campo sem saberem bem qual o seu papel na equipa,<br />

ouviam atentamente o que rezavam os livros sobre as técnicas<br />

americanas, arrastados pela forma como o Cerveira se dispôs ao<br />

trabalho.<br />

Hoje como ontem, no ginásio do A.C.E. se efectuava a leitura… e<br />

se punham em prática os conceitos extraídos das publicações mais<br />

modernas em que até a tradução era difícil…<br />

Uma era nova havia começado: a ginástica, considerada fundamental,<br />

era ministrada pelo prof. José de Sousa Esteves, gratuitamente.<br />

Todos os pormenores do Basquetebol, os mais elementares,<br />

foram atendidos: a corrida com e sem bola, a rotação, os passes<br />

mais variados, os lançamentos, etc., etc.. Apurada assim a técnica<br />

individual, passou-se à parte táctica em que, como se sabe, a A.<br />

Académica passou a jogar consistentemente à zona…<br />

Com um trabalho desta natureza, em profundidade, os resultados<br />

práticos não se podiam esperar. Toda a época de1947-48 serviu<br />

para “assentar ideias” e, em 1948-49, começando-se por vencer<br />

o Campeonato Regional, alcançou-se o título máximo, sem qualquer<br />

derrota!... Os que tiveram a felicidade de presenciar o último<br />

encontro contra o Vasco da Gama, no Porto, em plena época<br />

de exames, puderam verificar o quanto pode a vontade de servir<br />

a camisola negra! As lágrimas que, fora e dentro do rectângulo,<br />

se derramaram, eram bem a prova da satisfação íntima do dever<br />

cumprido, depois de tanto trabalho…nem sempre devidamente<br />

compreendido…<br />

Igualmente em 1949-50, a A. Académica alcançou o título máximo.<br />

Desta vez, ainda em período de exames, o Vasco da Gama<br />

serviu de adversário na “final” que teve por palco o campo do


Olivais. Num ambiente escaldante, em que se temia a derrota pois<br />

havia meses que os estudos não permitiam a realização de um<br />

único treino, esses briosos atletas repetiram a façanha do ano anterior,<br />

nas piores condições… Só o muito amor à camisola os levou<br />

a fazer das fraquezas forças para subjugar um adversário que se<br />

preparou diariamente para o referido jogo.<br />

Embora não seja pessoa indicada para falar da técnica da Académica,<br />

devo dizer que considero como fundamental para se terem<br />

alcançado os dois Campeonatos de Portugal, o facto de existirem<br />

na “Briosa” jogadores com características especiais. O “quadro”<br />

base recaia em Paulo Cardoso, Luís de Sousa, Aníbal Costa, Araújo<br />

e Sá e A. Serra e Moura. Sem melindre para aqueles outros que<br />

ajudaram às vitórias da Académica com Travanca, A.Godinho, F.<br />

Serra e Moura, José Manuel, Lúcio, Alberto Martins, Morgado, Brás<br />

dos Santos, etc., desejava apreciar aqueles cinco individualmente.<br />

Paulo Cardoso, o “capitão”, duma calma impressionante, era a<br />

mola-real de todos os contra-ataques; que melhor para o definir<br />

se disser que a nossa principal “arma” era o contra-ataque?<br />

Luís de Sousa, jogador feito nos juniores, cedo se impôs a toda a<br />

crítica e se guindou à posição máxima entre os defesas nacionais<br />

(presentemente está na carreira ascendente…ainda…)<br />

Aníbal Costa, com uma velocidade extraordinária, uma ameaça<br />

constante para o adversário, pois das suas mãos saiam normalmente<br />

2 pontos, o que o levou a ser considerado o melhor encestador<br />

português. – Passe rápido de Paulo Cardoso, “cesto” de<br />

Aníbal!<br />

Araújo e Sá era aquele jogador de grande sobriedade que conseguia<br />

desbaratar por completo uma defesa, perigosíssimo na área<br />

do lance-livre.<br />

Por último, A. Serra e Moura, o nosso “Toninho”, era o jogador do<br />

tipo fino, sem poder físico para se impor, conseguia, no entanto,<br />

por meio de “fintas” desconcertantes, ser o principal colaborador<br />

do Aníbal e do Araújo, quando não era ele próprio que enviava<br />

o adversário para fora do seu caminho e realiza magistralmente<br />

as cestas, verdadeiramente dignas de “olés”. Considero-o, salvo o<br />

devido respeito por outras opiniões, o melhor jogador português<br />

dos últimos tempos. Como se vê, tratava-se de jogadores que, com<br />

características diversas uns dos outros, se completavam admira-<br />

210


211<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

velmente, constituindo a equipa mais homogénea que deve ter<br />

pisado os campos de Portugal e que praticavam a defesa à zona<br />

com uma precisão cronométrica, como os internacionais espanhóis<br />

Galindez, Imédio, Barceñas e outros tiveram ocasião de verificar<br />

em Madrid e o seleccionador de Castela, Borrero, acentuou na<br />

sua crítica ao jogo que a Académica realizou em 10-12-1950 no<br />

Frontón Recoletos.<br />

Não podia deixar de olhar agora para o “banco” onde se sofre…<br />

para o local donde emanam as ordens preciosas para os jogadores.<br />

Os meus olhos fixam-se em Alberto P. Valejo, o orientadortreinador<br />

que, seguindo o caminho trilhado pelo Cerveira, levou a<br />

Académica aos 2 títulos máximos, chegando mesmo a tomar parte<br />

activa nos prélios finais dos referidos campeonatos.<br />

A sua obra, dentro da Secção de Basquetebol, pode apelidar-se<br />

de grande. Como estudante, tem prejudicado a sua vida académica<br />

– o seu único senão – para se consagrar de alma e coração<br />

ao desporto. Se todos os jogadores são dignos dos mais rasgados<br />

elogios, pois que têm vencido muitos obstáculos e incompreensões<br />

de toda a natureza por parte até de quem lhes devia prestar o<br />

seu mais incondicional auxílio… nesses elogios se deve envolver<br />

Alberto Valejo….<br />

Para aqueles que dizem não ser possível praticar desporto sem<br />

com isso prejudicar os estudos, aponta-se-lhes o exemplo dos jogadores<br />

da Secção de Basquetebol que não só são bons atletas<br />

como também óptimos estudantes (cite-se a percentagem elevada<br />

dos que estão hoje formados…).<br />

E para aqueles outros que não concebem atletas amadores dos melhores<br />

em apuro técnico, apontam-se-lhes os mesmo exemplos, que<br />

levam o seu amadorismo ao extremo de comprarem os próprios<br />

equipamentos… com que representam a nossa A. Académica…<br />

A Associação Académica de Coimbra já pensou alguma vez no que<br />

deve a esses briosos atletas da Secção de Basquetebol?!!!<br />

Muito mais havia para dizer mas… fiquemos por aqui… A paciência<br />

dos leitores não é imensa…<br />

Lisboa, 05/05/1952<br />

Entrevista de: Pedro Homero (Director da revista “A Briosa”)


Académica - equipa Campeã Nacional de Basquetebol, em 1949/50<br />

A equipa da Académica escutando o Dr. António Menano<br />

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213<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

artIGo PublIcado na revIsta “esPaço de unIão”, da<br />

sonae, aPós entrevIsta ao Provedor do GruPo<br />

“O meu conhecimento do estilo de actuação do Grupo e a minha<br />

experiência nas empresas da Sonae dão-me a convicção profunda<br />

de que o seu estilo de actuação é bastante correcto e leal. A função<br />

do Provedor é detectar desvios a este estilo de actuação, ajudar a<br />

corrigi-los. De preferência, prevenir. Ao fim e ao cabo, é garantir o<br />

respeito pelas regras do jogo.”<br />

É com estas palavras que o Provedor do Grupo Sonae, o Dr. Armando<br />

Rocha, caracteriza as funções que desempenha desde Janeiro,<br />

depois de, no final de 1996, o então Conselho de Presidentes ter<br />

instituído a Provedoria do Grupo Sonae.<br />

Como salienta o primeiro titular do cargo, a criação da figura do<br />

Provedor, num grupo privado de tão grande dimensão, com um<br />

importantíssimo volume de negócios e uma vasta malha de colaboradores,<br />

clientes e fornecedores é uma “demonstração de coragem”.<br />

“Não creio que alguém pense que um grupo que cria, por<br />

vontade própria, uma função como esta, com as atribuições que lhe<br />

estão conferidas por Estatuto, o faz porque tem problemas. Fá-lo<br />

porque acredita que o seu estilo de actuação se pauta pelas regras<br />

da lealdade e da transparência das relações e porque não quer tolerar<br />

entorses a este estilo”, diz o Dr. Armando Rocha, depois de<br />

lembrar que normalmente a ideia do “provedor do cliente” está<br />

associada às empresas concessionárias de serviços públicos.<br />

Nos termos do Estatuto, são três as atribuições da Provedoria do<br />

Grupo Sonae ( a designação é anterior à reorganização da Sonae<br />

Investimentos e à criação Inparsa): a “afirmação e promoção pela<br />

via apropriada dos direitos e interesses legalmente protegidos dos<br />

clientes, utentes ou fornecedores das empresas”; a “reposição da<br />

justiça e da regularidade violadas” e a “melhoria da qualidade e<br />

eficiência dos serviços prestados pelas empresas”.<br />

Genericamente, o Estatuto confere poderes ao Provedor para dar


o andamento que entender oportuno a “reclamações, queixas ou<br />

sugestões que lhe sejam dirigidas por clientes, fornecedores e colaboradores<br />

das empresas do universo Sonae.” O Provedor tem a<br />

faculdade de proceder à “investigação oficiosa” de qualquer assunto<br />

que, pela sua importância ou reflexo na imagem numa qualquer<br />

empresa ou no Grupo, “imponha uma tomada de posição<br />

interna ou pública”, naturalmente sem prejuízo dos procedimentos<br />

legais que a situação exigir. O Provedor pode também propor a<br />

adopção de quaisquer medidas que tenham por objectivo ou efeito<br />

“melhorar as condições de relacionamento das empresas com<br />

colaboradores, investidores, clientes ou fornecedores”.<br />

É caso para dizer que a função é indissociável do titular do cargo.<br />

O próprio Estatuto o reconhece quando indica que a escolha do<br />

Provedor – que é nomeado pelo Presidente da Direcção da Sonae<br />

Investimentos – “deve recair sobre cidadão de reconhecida integridade,<br />

probidade e independência” e determina que ele goze de<br />

“total autonomia no desenvolvimento da sua actividade”, o que<br />

torna o exercício do cargo incompatível com quaisquer funções em<br />

empresas do Grupo.<br />

A imagem pública do primeiro Provedor e o seu currículo profissional<br />

atestam a preocupação de ajustar a personalidade do titular do<br />

cargo à função que lhe está cometida. O Dr. Armando Rocha goza<br />

de um indesmentível prestígio pessoal e, quem o conhece, associa<br />

facilmente o seu temperamento sereno e prudente com uma postura<br />

ética exigente e um rigor técnico incontestável. Desempenhou<br />

cargos de destaque no Estado – foi, nomeadamente, director-geral<br />

da Educação Física e dos Desportos e inspector-geral do Ministério<br />

da Educação e liderou o Gabinete Coordenador do Combate à<br />

Droga – e foi administrador de empresas. Antes da sua ligação ao<br />

Grupo Sonae, iniciada em 1989, foi administrador, entre outras,<br />

da Sonap, da Companhia Mineira do Lobito, da Tabaqueira e da<br />

União de Bancos Portugueses.<br />

Instituída há tão pouco tempo, a Provedoria não tem ainda um<br />

historial. “Verdadeiramente, tive um processo importante, desencadeado<br />

pelo eng. Belmiro de Azevedo, suponho que a partir de uma<br />

queixa que chegou ao seu conhecimento”. Mas o balanço é “muito<br />

positivo”. “Tive a melhor colaboração da empresa em causa”, conta.<br />

“De tal modo que, mesmo enquanto o processo decorria, foram<br />

214


215<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

introduzidas correcções aos procedimentos instituídos para prevenir<br />

mais situações irregulares”. Obrigado ao dever e sigilo, relativamente<br />

a cada processo em fase de instrução, o Provedor faz um<br />

relatório de cada caso, que envia para a empresa em causa, para<br />

a administração da “sub-holding” e para a Direcção do Grupo.<br />

Das conclusões é sempre dado conhecimento ao reclamante. No<br />

final de cada ano, o Provedor fará também um relatório da sua<br />

actividade, com divulgação num órgão interno do Grupo, a que<br />

juntará as recomendações que a experiência lhe aconselhar. “Penso<br />

que a minha actuação se dirige tanto para dentro como para fora<br />

das empresas, mas admito que a sua importância estará mais nas<br />

recomendações que eu possa fazer no sentido de se corrigirem procedimentos.<br />

A actuação da Provedoria tende mais a ter um carácter<br />

preventivo”, diz o Dr. Armando Rocha.<br />

“Como lhe disse, o conhecimento que tenho do estilo de actuação<br />

do Grupo diz-me que o seu estilo de actuação é genericamente correcto<br />

e leal. Por isso confio plenamente em que, também da parte<br />

das hierarquias, e de um modo geral de todos os colaboradores,<br />

esta é não só uma convicção generalizada mas igualmente uma<br />

preocupação assumida no dia a dia. Há vontade de melhorar. E é<br />

sempre possível melhorar”.<br />

Junho ‘1997<br />

Autor: Dr. Duarte Calvão (Jornalista)


entrevIsta ao jornal “soberanIa do Povo”<br />

SPD - Como nasceu este seu entusiamo pelo dirigismo desportivo<br />

e que dura até hoje?<br />

AR - Lembro-me de, ainda criança de tenra idade, ir acompanhar<br />

o meu Pai aos campos de futebol para apoiar o Recreio Desportivo<br />

de Águeda. Ele que fora um seu pundonoroso defesa, conforme<br />

consta de fotografia publicada neste jornal, recentemente. Depois<br />

ia para a Alta Vila apanhar bolas de ténis, quando o meu Pai lá<br />

jogava com alguns alunos da Escola Central de Sargentos. E, no<br />

Liceu de Aveiro, com 15 anos, já era o seu chefe da secção desportiva.<br />

Regresso uns anos atrás e vejo-me, de bicicleta, a passar pela<br />

Mourisca, pela casa do Dr. Costa e Melo e lá íamos para Albergaria<br />

a Velha jogar o ténis, por falta de campo público em Águeda…<br />

SPD - E que diferenças fundamentais encontra nestes anos<br />

em que tem vivido esse dirigismo tão por dentro?<br />

AR - As diferenças são profundas. Destaco o amadorismo de antes,<br />

em que se jogava apenas por amor à camisola, e o profissionalismo<br />

de agora, em que só se vêem cifrões… e que cifrões! Antes,<br />

tratava-se - de uma maneira geral - de uma actividade lúdica e<br />

agora estamos perante um negócio das actividades atléticas.<br />

SPD- Já não há carolas…<br />

AR - Estão em vias de extinção… Já poucos, e que são honrosas<br />

excepções, estão dispostos a doar o seu tempo graciosamente ao<br />

desporto de competição… Hoje, há muita gente a viver apenas, ou<br />

por acrescento, do dirigismo desportivo. Ou são ordenados, ou são<br />

cartões de crédito, ou são negócios à margem… Não pretendo,<br />

com isto, condenar quem quer que seja! Até porque eu próprio<br />

fui profissional do desporto, quando exerci as funções de director<br />

geral da Educação Física e dos Desportos.<br />

SPD- Como assim?<br />

AR - Limito-me apenas, isso sim, a constatar factos.<br />

216


217<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

SPD- Tem acompanhado, ao longo dos anos, a participação<br />

de atletas aguedenses nas provas desportivas nacionais?<br />

AR - Especialmente, através da “Soberania do Povo”, agora com<br />

um excelente suplemento, tenho acompanhado de longe os êxitos<br />

do desporto da nossa terra.<br />

SPD- Que nomes é que destacaria?<br />

AR - Haveria muitos a destacar, certamente. Mas limito-me a um<br />

que foi quase da minha geração: o Hernâni, um internacional de<br />

futebol que foi um atleta simplesmente fabuloso! E ainda é um<br />

Homem com “H” grande!<br />

SPD- Como tem visto a figura do desportista de Águeda no<br />

conjunto do desporto português?<br />

AR - Algumas excepções, como o Hernâni, o Raúl Ribeiro, na arbitragem,<br />

o Carlos Ala, no motociclismo, o Bério, na natação,<br />

ombreiam com o que de melhor existia ou existe no País. Tenho<br />

dúvidas em considerar Águeda uma cidade desportiva ou de desportistas.<br />

É que lhe faltam mais estruturas adequadas a um desenvolvimento<br />

desportivo de alto rendimento.<br />

SPD- Como é que comenta isso?<br />

AR - Devo dizer-lhe que, por força das minhas funções actuais na<br />

Federação Portuguesa de Basquetebol, tenho vindo a apreciar o<br />

muito que nesse domínio se tem feito pelo País fora… E, quando<br />

entro num dos Pavilhões de Desportos, para assistir a um jogo<br />

internacional – ainda há dias o palco foi Vale de Cambra -, eu<br />

interrogo-me: porque razão Águeda não tem uma coisa destas? E<br />

lembro-me do tempo (anos ’70) em que influenciei a construção<br />

da Escola Preparatória por cima da fábrica da telha, para nela ser<br />

implantado um modesto pavilhão…<br />

Ao tempo, o dinheiro era escasso. Digo-lhe que em 1973, último<br />

ano em que estive à frente da DGD, o orçamento do Estado para<br />

todo o desporto federado foi de 68 mil contos… Agora, suponho<br />

que se pode falar em 17 milhões de contos…<br />

SPD- Quem foi, e porquê, a seu ver, a grande figura aguedense<br />

de todos os tempos, em termos desportivos?<br />

AR - Falei atrás num atleta de eleição, o Hernâni. Agora refiro o<br />

nome do Eng. Carlos Rodrigues, um dirigente também de eleição.<br />

Houve alguns outros, sem dúvida.<br />

SPD- Que sente que tem faltado a Águeda, para acompa-


nhar o resto do País em termos de evolução desportiva?<br />

AR - Já referi que sem infra-estruturas adequadas, localizadas nas<br />

escolas ou junto às escolas, não se pode ir longe. As potencialidades<br />

escolares de Águeda são excelentes. Só há que saber aproveitá-las,<br />

pondo à sua disposição técnicos competentes, horários escolares<br />

adequados e recintos convidativos às práticas desportivas…<br />

O resto vem por si… Da quantidade é que surge a qualidade…<br />

SPD- Que grandes acontecimentos desportivos destacaria<br />

que tiveram Águeda como palco ou como cidade protagonista?<br />

AR - Apenas me lembro das chegadas da Volta a Portugal em bicicleta<br />

e dos campeonatos mundiais de motocross.<br />

SPD- Muito pouco como se vê… E que cidadãos aguedenses<br />

nomearia, na sua qualidade de dirigente desportivo?<br />

AR - O Neca Carneiro foi, seguramente, um dos maiores. Deixo<br />

aqui uma palavra de muito apreço ao Dr. Horácio Marçal, pelo<br />

muito que tem feito, especialmente em termos de apoio médico<br />

desportivo, no concelho e clubes de Águeda.<br />

SPD- Que obras ou acontecimentos destacaria nos seus mandatos<br />

como dirigente desportivo?<br />

AR - A conquista do campeonato nacional escolar de ginástica<br />

(1943), a conquista do Campeonato Nacional de Basquetebol,<br />

como chefe da secção da A. Académica de Coimbra (1950), a 1ª<br />

exibição dos Globetrotters na Europa (Coimbra), o início da participação<br />

de Portugal nas Universíadas (1955), a construção dos Estádios<br />

Universitários de Lisboa e Coimbra, de numerosos pavilhões<br />

gimno-desportivos e de tanques de aprendizagem de natação e<br />

das primeiras residências para estudantes universitários construídas<br />

de raiz (no INEF).<br />

SPD- Há mais?<br />

AR - Sim, por exemplo, o Centro de Estágio de Desportistas, no Estádio<br />

Nacional, a Casa do Desporto do Porto, o Centro de Medicina<br />

Desportiva e Saúde Escolar em Lisboa e no Porto, a elaboração<br />

dos Planos de Fomento Gimno-desportivos e da I Carta Desportiva<br />

Nacional, a criação das Escolas de Instrutores de Educação Física<br />

de Lisboa e do Porto, a cobertura médico desportiva do País, o<br />

acompanhamento da preparação da selecção nacional de futebol,<br />

no Campeonato do Mundo de 1966, a realização do I Open de<br />

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219<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

Portugal de Ténis para jogadores do circuito profissional (1982) e<br />

os Torneios de Ténis Sport Goofy…<br />

SPD- Que balanço faz dos últimos 20 anos do desporto aguedense?<br />

AR - Suponho que foi feito muito nesses anos mas que muito mais<br />

seria desejável ter-se feito. Em qualquer caso, as instalações do C.<br />

Ténis e a abertura da Piscina às Escolas são exemplos a seguir.<br />

SPD- Algum deles o ligou de alguma forma a Águeda?<br />

AR - Apenas e só alguma influência para se construir o pavilhão<br />

gimnodesportivo na Escola Preparatória. Para àlém de ter disponibilizado<br />

um subsídio do Fundo de Fomento do Desporto de 1000<br />

contos para a construção da piscina municipal, que se terá perdido<br />

pela inoperância de quem estava à frente da Autarquia, na altura.<br />

SPD- Quais foram os episódios mais marcantes da sua longa<br />

carreira de dirigente desportivo nacional?<br />

AR - Destaco a possibilidade que me foi oferecida de colaborar,<br />

ao mais alto nível, no desenvolvimento do desporto universitário<br />

e do desporto federado. E de ter ocupado funções dirigentes,<br />

por eleição, ao longo de mais de 20 anos no Comité Executivo da<br />

Federação Internacional do Desporto Universitário (FISU). Nessa<br />

qualidade, tive a rara oportunidade de, em 1962, me deslocar a<br />

Cuba, para presidir aos I Jogos Desportivos Universitários Latino-<br />

Americanos, e em que mantive duas conversas de 1 hora e 30m<br />

cada, com Che Guevara…<br />

SPD- Trabalhou com Salazar…<br />

AR - E não esqueço o episódio em que o Doutor Salazar, quando<br />

confrontado com as opiniões divergentes de dois Ministros sobre<br />

a criação da Confederação da Educação Física e Desportos, terá<br />

referido que o Desporto tem de se considerar como uma coisa<br />

muito séria – que não é para rir. “Porque ao Director Geral dos<br />

Desportos nem os dentes se lhe vêem”…<br />

E já agora permito-me referir a tristeza que me provoca o grande<br />

Eusébio, esquecido/ influenciado/… andar a propagar que Salazar<br />

o chamou várias vezes a S. Bento para lhe comunicar que o Conselho<br />

de Ministros o “nacionalizara”… para não poder jogar fora<br />

de Portugal…<br />

SPD- Não foi assim?


AR - Felizmente que ainda há pessoas vivas que podem testemunhar<br />

que o Conselho de Ministros da altura nunca se pronunciou<br />

sobre a sua carreira futebolística e que só a Direcção do S.L.Benfica<br />

poderia obstaculizar a sua ida para o estrangeiro… Eusébio não<br />

precisa destes “devaneios” para continuar a ser considerado o<br />

maior futebolista português!<br />

SPD- Como vê o futuro do Desporto em Águeda?<br />

AR - Continuo a ser optimista! E aguardo por uma sapatada desportiva<br />

na nossa Águeda como parece vai ser o caso do Estádio<br />

Municipal.<br />

Publicado no jornal “Soberania do Povo” de 05/01/2001<br />

Jornalista: Afonso Melo<br />

220


221<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

entrevIsta<br />

à revIsta MaGazIne da assocIação de ténIs de lIsboa<br />

RM- Quando é que se começou a interessar pelo ténis?<br />

AR - Desde muito novo que acompanhava o meu pai ao campo<br />

de ténis da Alta Vila, em Águeda. Recordo-me que, ainda não<br />

frequentava a escola primária, já assistia aos jogos, apanhava as<br />

bolas e foi nessa altura que ganhei gosto pelo ténis.<br />

Quando fui para o liceu em Aveiro jogava com os meus amigos e<br />

na universidade também. Tive sempre muito interesse pela modalidade<br />

e esta atitude manteve-se pela vida fora. Já na idade adulta<br />

tive o prazer de criar a Escola de Ténis do Jamor, com a colaboração<br />

do Prof. Alfredo Vaz Pinto e do Raul Peralta, projecto esse que<br />

formou muitos campeões portugueses.<br />

Tenho acompanhado a evolução do ténis e tenho jogado em bastantes<br />

torneios sociais, desde o de Vale de Lobo, organizado pelo<br />

Sr. Appleton Figueira, nos anos 70. Nesse torneio tive a honra de<br />

fazer par com a nº 1 de Espanha, Ana Maria Estalella. Hoje vou<br />

dando umas bolas, mas mais ocasionalmente. Tenho a noção das<br />

minhas capacidades físicas pelo que já só jogo pares. O ténis para<br />

mim é um divertimento, um passatempo, uma forma de procurar<br />

e adquirir saúde.<br />

RM- Acha que o ténis tem condições para se transformar<br />

num desporto rei?<br />

AR - Chegar ao nível do futebol é praticamente impossível. Transformar<br />

o ténis num desporto espectáculo no nosso País, onde não<br />

há grande tradição da modalidade, é muito difícil. É claro que,<br />

noutros países, reconheço que o ténis tem uma expressão diferente,<br />

mas em Portugal há relativamente poucas pessoas a interessarem-se<br />

por um ténis de massas. Por isso mesmo, considero que<br />

não estão criadas as condições para fazer do ténis um desporto<br />

rei.<br />

RM - Qual a melhor política para o desenvolvimento do ténis?


AR - Para mim não há desporto verdadeiramente nacional sem<br />

haver desporto escolar. A escola está na base de tudo e, por isso<br />

mesmo defendo que o ténis tem que ser leccionado nas escolas.<br />

Caso contrário, nunca vamos conseguir enraizar o ténis nas camadas<br />

mais jovens. É preciso muito treino e uma estrutura sólida e<br />

sustentada para formar os futuros campeões.<br />

É óbvio que podemos constituir equipas de uns tantos bons jogadores.<br />

Basta para isso que haja dinheiro. A realidade é que nem<br />

todos os miúdos têm acesso ao ténis.<br />

Futuramente gostaria de ver o ténis com maior expressão.<br />

Para que tal aconteça é preciso que se unam esforços, os dirigentes<br />

dêem as mãos e que o dinheiro disponível seja bem gasto, estabelecendo-se<br />

prioridades bem objectivas e realistas. De contrário, o<br />

ténis continuará a arrastar-se com uns fogachos de vez em quando,<br />

num mar de vaidades não sustentadas.<br />

RM - Que diferenças existem entre o ténis praticado há 30<br />

anos e o actual?<br />

AR - As diferenças são evidentes. Há agora muitas mais pessoas<br />

a praticar e os jogos são mais competitivos. No entanto, nos anos<br />

60 assistimos a uma explosão de jogadores para o que muito contribuiu<br />

a Escola de Ténis do Jamor. Daí saíram grandes jogadores,<br />

alguns que vieram a ser competentes treinadores. Será que, antigamente,<br />

a formação era mais estruturada e sustentada?<br />

Como amante da modalidade, assisti a momentos de ténis inesquecíveis.<br />

O balanço é naturalmente positivo e ao longo destes<br />

anos vivi muitas emoções, não esquecendo a final do 1º Open de<br />

Portugal, em 1982, que foi disputada pelo Matts Willander e o Y.<br />

Noah que aquele venceu. Do Sport Goofy guardo as melhores recordações<br />

pelo que representou em termos de divulgação do ténis<br />

nas camadas jovens.<br />

222<br />

Dezembro ‘2003<br />

Jornalista: Drª. Joana Taveira


223<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

entrevIsta ao jornal “reGIão de áGueda”<br />

Região de Águeda - Ainda em criança acompanhava o seu Pai,<br />

defesa do Recreio Desportivo de Águeda, aos campos de futebol<br />

e de ténis. Pode dizer-se que começou aí a sua relação com<br />

o desporto?<br />

AR - Efectivamente, desde muito novo que acompanhava o meu<br />

Pai ao campo de ténis (de terra batida) da Alta Vila, em Águeda.<br />

Ele disputava partidas animadas com, entre outros, o Neca Carneiro<br />

e uns tantos cadetes da Escola Central de Sargentos. Recordome<br />

que, ainda não frequentava a escola primária, já assistia aos<br />

jogos e apanhava as bolas. Foi nessa altura que ganhei o gosto<br />

pelo ténis que comecei a praticar já no Liceu de Aveiro (no campo<br />

do Parque, de cimento) e que continuei, na Universidade de Coimbra<br />

(no Clube Tiro e Sport) e pela vida fora, até hoje.<br />

RA - Acaba de receber mais uma distinção “Prémio Mérito Desportivo/Personalidade<br />

do século XX, da Confederação do Desporto<br />

de Portugal”. O que é que representou para si essa distinção?<br />

AR - Para mim o que mais me sensibilizou nessa distinção da CDP<br />

foi, acima de tudo, a iniciativa da proposta ter partido da Federação<br />

Académica do Desporto Universitário. Porquê?<br />

Na verdade, o primeiro saneamento que sofri depois do 25 de<br />

Abril foi o de dirigente, a nível internacional, da Federação Internacional<br />

do Desporto Universitário. Os novos Poderes, de Avelãs<br />

Nunes, etc. quiseram afastar-me dessa actividade que eu exercia<br />

graciosamente. E conseguiram… com grande mágoa minha.<br />

O facto de serem os dirigentes actuais do Desporto Universitário<br />

que quiseram testemunhar o seu apreço pelo que fiz em prol dessa<br />

causa, durante largos anos, foi muito gratificante. O resto já<br />

esqueci.<br />

RA - Entre as várias distinções, louvores e condecorações que


ecebeu, há alguma mais especial para si?<br />

AR - Todas elas têm, naturalmente, muito significado, pois representam<br />

afinal apreço por parte de meus concidadãos. Mas posso<br />

realçar duas: a outorga pelo Chefe de Estado, Almirante Américo<br />

Thomaz, de Grande Oficial da Ordem de Instrução Pública e a atribuição<br />

do grau de Membro Honorário da Federação Internacional<br />

do Desporto Universitário, pela mão do saudoso Primo Nebiolo,<br />

em Palermo.<br />

RA - Foi praticante de várias modalidades e ajudou à conquista<br />

de alguns campeonatos nacionais, até que foi forçado a afastar-se<br />

por motivos de doença. Foi certamente uma fase difícil<br />

da sua vida…<br />

AR - Já passaram mais de 50 anos em que tive de renunciar às<br />

práticas desportivas, por um período de cerca de 15 anos. Nessa<br />

altura comecei a ter a noção do que é a solidariedade de colegas<br />

desportistas que me visitavam amiúde. Solidariedade que eu tenho<br />

procurado cultivar pela vida fora. Lembro-me, como se fosse hoje,<br />

que se realizou em 1951 um concurso para Professor Catedrático<br />

de Medicina na Universidade de Coimbra, sendo candidatos<br />

ao lugar o Prof. Almeida Lima e o Prof. Diogo Furtado, ambos de<br />

Lisboa. O meio médico mobilizou-se à volta desse concurso. E eu,<br />

estudante de Coimbra, também não quis faltar ao acontecimento,<br />

numa altura em que já me encontrava em fase adiantada de<br />

convalescença. Eis que alguém me chama: era, nem mais, o Sr.<br />

Dr. António Breda! E ele mostrou a vários colegas o símbolo do<br />

milagre da estreptomicina. Esse milagre era eu, que tive a ajuda<br />

do também, aguedense, Eng. Albano de Mello, então Subsecretário<br />

de Estado do Governo de Salazar, e que fora guarda redes do<br />

Recreio, no tempo do meu Pai que conseguira mandar vir da Suiça<br />

esse medicamento ainda raro no mercado.<br />

RA - Visita Águeda com frequência? Como é que vê o seu crescimento?<br />

AR - Fiz o Liceu em Aveiro, a Universidade em Coimbra e a minha<br />

vida profissional começou praticamente em Lisboa, em 1952.<br />

Como vê, vivi muito tempo fora de Águeda. Vinha a Águeda nas<br />

férias, enquanto meus Pais eram vivos e, também eles, lá passavam<br />

férias.<br />

Venho esporadicamente a Águeda, para dar um abraço ao João<br />

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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

Resende e ao José Morais e pouco mais. Uma vez, já a trabalhar<br />

na Sonae, coube-me organizar um jogo de futebol entre colaboradores.<br />

E eu escolhi o campo do Recreio e o ex-internacional Raul<br />

Ribeiro, para arbitrar o jogo. Tive, então, uma agradável surpresa,<br />

quando entrei nas instalações do Clube e lá vi uma fotografia da<br />

equipa antiga que meu Pai integrava… Que ternura!<br />

Naturalmente, a terra tem-se desenvolvido, no bom sentido, estou<br />

em crer. Mas haverá sempre descontentes com o tipo de desenvolvimento<br />

que se queira analisar. Eu, porque não vivo cá, não tenho<br />

que me queixar.<br />

Em todo o caso, o desenvolvimento em termos escolares é digno<br />

de nota, dado o número de estabelecimentos de ensino básico, secundário<br />

e politécnico que operam em Águeda. A Escola tem uma<br />

enorme responsabilidade na formação das gerações futuras.<br />

RA – Quando vem a Águeda gosta do que vê?<br />

AR - Gosto de ver tudo o que represente progresso. E há muitas<br />

coisas nesse sentido. Outras há de que não gosto tanto. Mas a vida<br />

é assim...<br />

RA – Que memórias guarda de Águeda?<br />

AR - De passagem por Águeda, nunca deixo de dar um salto ao<br />

Botaréu, ao Adro da Igreja, à Rua de Cima (aí para comprar os folares<br />

e os pastéis feitos com a receita da Gininha do Candeeiro…).<br />

E gosto de recordar... os meus ascendentes e outros amigos, o contacto<br />

com o rio, a primeira comunhão, as cerimónias da Semana<br />

Santa, com padres que eram extraordinários oradores e música<br />

sacra da melhor qualidade, as procissões com as bandas de música<br />

a alegrar as ruas, etc, etc..<br />

RA – Costuma acompanhar os resultados do Recreio Desportivo<br />

de Águeda?<br />

AR - À segunda-feira, costumo ler o noticiário relativo aos jogos<br />

de fim de semana. E uma das minhas preocupações é a de saber<br />

como se comportou o Recreio. Sei que não está em perigo de descida.<br />

Já não é mau. Mas calculo que a sua vida é difícil num mundo<br />

competitivo com regras por vezes adulteradas...<br />

Lembro-me de, há anos, ter ido a Peniche, com o Dr. Orlando Costa,<br />

ver uma sua vitória que muito me alegrou.<br />

RA – Fale-me agora um pouco da sua vida empresarial.<br />

AR - Tenho uma vida dedicada ao Estado, com uma carreira cons-


truída degrau a degrau. Mas também o sector empresarial me não<br />

passou ao lado. Assim, ajudei a criar empresas como a SONERO<br />

que se dedicava ao transporte de emigrantes para a Europa evoluída.<br />

Quando abandonei, em 1973, a Direcção Geral dos Desportos,<br />

passei à SONAP, como administrador por parte do Estado,<br />

e mais tarde, já depois de saneado pelo Torres Campos, tive uma<br />

passagem pela Companhia Mineira do Lobito. Entretanto, ajudei à<br />

criação, a pedido do Dr. Almeida Santos, do Centro de Estudos e<br />

Profilaxia da Droga. Voltei à actividade empresarial na TABAQUEI-<br />

RA, em 1980. Em Coimbra, com o Dr. Mendes Silva e outros amigos,<br />

ajudei à criação da EUROBUS que se destinava à construção<br />

de autocarros de passageiros (hoje opera nas suas instalações a<br />

MARCOPOLO). Depois, foi a vez da Clínica de Serviços Médicos<br />

Computorizados, onde vim a encontrar o nosso conterrâneo Dr.<br />

Henrique de Melo. À FAMEL dei uma boa ajuda, junto do Governo,<br />

a pedido do saudoso Augusto Valente de Almeida.<br />

Desde 1989 que tenho vindo a prestar colaboração nesse mundo<br />

fantástico que é a SONAE que tem à sua frente um Homem que<br />

será, nem mais, o arquétipo dos empresários portugueses, com<br />

quem ainda muito aprendi.<br />

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02/01/2004<br />

Jornalista: Drª Isabel Moreira


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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

entrevIsta Para o estádIo unIversItárIo de lIsboa<br />

Dr. João Roquette - Gostava de esclarecer consigo algumas<br />

coisas sobre o Estádio Universitário de Lisboa. Em primeiro<br />

lugar, quais as razões que levaram à construção deste<br />

equipamento desportivo no seio da cidade universitária?<br />

Depois, quem foi o principal responsável pela ideia e pela<br />

sua construção?<br />

AR - Numa carta escrita pelo Eng. Vasco Pinto de Magalhães, em<br />

1954, ao então Ministro das Obras Públicas, Eng. Eduardo Arantes<br />

e Oliveira, o assunto foi despoletado. Essa carta reflecte bem<br />

as preocupações que existiam na altura pela falta de instalações<br />

desportivas.<br />

Ainda me lembro bem que, quando vim de Coimbra para Lisboa e<br />

ajudei a criar a secção de basquetebol do CDUL, nós íamos jogar<br />

em terrenos de piso cimentado, ao ar livre, em Xabregas, no Rio<br />

Seco... sem um mínimo de condições para a sua prática. Então<br />

para o rugby, que era a menina bonita do Eng. Pinto de Magalhães,<br />

só havia campos pelados...<br />

JR - A minha dúvida reside em saber se a construção deste<br />

equipamento não teria sido originariamente idealizada<br />

tendo em vista os estudantes da Universidade Clássica.<br />

AR - Antes de existir a Cidade Universitária, aqui, onde hoje estão<br />

algumas das suas Faculdades, também já existia a Universidade<br />

Técnica. Aparte uma ou outra Faculdade/Instituto que dispunham<br />

de algumas infra-estruturas desportivas, a generalidade das escolas<br />

não as possuía. Assim sendo, quando foi feito o plano da Cidade<br />

Universitária, este espaço, onde nos encontramos, foi destinado<br />

ao EUL para servir todos os estudantes universitários de Lisboa.<br />

Aqui estava implantado o “bairro de lata” da Quinta da Calçada.<br />

Tratava-se de um bairro muito degradado que implicou ter de se<br />

vencerem muitas dificuldades para se proceder ao realojamento


das famílias que nele viviam. Lembro-me de o Eng. Arantes e Oliveira,<br />

que pretendia que as obras de construção do estádio avançassem<br />

rapidamente, me ter pedido ajuda para a deslocação das<br />

pessoas, que não queriam sair daqui. Tratou-se de um problema<br />

social de grande complexidade.<br />

JR - São quase contemporâneos os estádios universitários<br />

de Lisboa, Coimbra e Porto, embora os anos das suas inaugurações<br />

sejam diferentes. Primeiro foi o do Porto, depois o<br />

de Lisboa e só depois o de Coimbra.<br />

AR - Os contextos eram diferentes. Em Coimbra, a Universidade<br />

concentrava-se toda na alta da cidade, onde naturalmente não<br />

era possível construir-se um estádio. No Porto, as faculdades não<br />

dispunham de terrenos que pudessem albergar o seu estádio, só<br />

que, com a construção da ponte da Arrábida, ficaram libertos os<br />

terrenos de acesso que foi possível afectar ao estádio universitário.<br />

A determinação e visão estratégica do Eng. Vasco Pinto de<br />

Magalhães, como inspector do Desporto Universitário, no seio da<br />

Mocidade Portuguesa, e que acompanhei de perto como sub-inspector,<br />

apontava para a existência de um estádio em cada uma das<br />

cidades de Lisboa, Porto e Coimbra.<br />

Aqui, na capital, tivemos a felicidade de ter estes muitos hectares<br />

de terreno para construir este belíssimo espaço desportivo que ainda<br />

hoje honra a cidade, como excepcional fonte de saúde...<br />

Em Coimbra, teve de se ir para uma das margens do Mondego.<br />

Tratou-se de uma construção deveras complicada, com as fundações<br />

em estacaria, que implicaram elevados custos. Ainda que longe<br />

da Universidade, para encurtar distâncias, sonhámos mesmo<br />

com a implantação de um teleférico a ligar o pátio da Universidade<br />

ao estádio... Mas isso não passou de um sonho...<br />

JR - Deixe-me fazer-lhe outra pergunta: o estádio do Porto<br />

ocupa 7 hectares, o de Coimbra 14 e o de Lisboa 40. Vim<br />

a descobrir que a inauguração do EUL, em 27 de Maio de<br />

1956, foi feita num ano em que estes terrenos ainda eram<br />

propriedade municipal. Através do Decreto-Lei nº 41.545/58,<br />

o Ministério das Finanças fez a transferência dos 40 hectares<br />

para o Património do Estado, por 22.000 contos. O que<br />

significa que, em 1956, quando é inaugurado o estádio, os<br />

terrenos eram municipais. É a seguir à inauguração ou terá<br />

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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

sido preparada antes, que é feita aquela transferência?<br />

AR - A obra nasceu muito do voluntarismo das pessoas... O Eng.<br />

Pinto de Magalhães tinha uma vantagem... a de ser cunhado do<br />

Subsecretário de Estado das Obras Públicas... A mobilização de<br />

boas vontades foi decisiva para juntar a Câmara Municipal de Lisboa,<br />

o Governo e a Mocidade Portuguesa... Na altura, estavam<br />

na ordem do dia as cidades universitárias. Lembro-me de o Comissário<br />

Nacional da Mocidade Portuguesa ter enviado, em visitas<br />

de estudo, o Dr. Francisco Alambre dos Santos e o Arq. Norberto<br />

Correia, pela Europa fora, para trazerem as novidades no domínio<br />

das actividades circum-escolares. Eu próprio me interessei pelo assunto<br />

quando, no período de 1953 a 1955, acompanhei os Jogos<br />

Internacionais da FISU.<br />

Assim, o que aqui está é o produto de uma reflexão do que foi feito<br />

na altura, noutras paragens. Em àparte, direi que, nesse período,<br />

as pistas de atletismo na Alemanha evoluíram para os 500 metros...<br />

o que nos levou a implantar aqui inicialmente uma pista com<br />

essa metragem... Nem se queira saber as dificuldades que tivemos<br />

de vencer para arranjar jorra para as pistas!<br />

Tudo avançava a grande velocidade para que se chegasse ao fim<br />

da obra. Depois houve que regularizar algumas coisas que dependiam<br />

do Ministério das Finanças, como a troca/afectação de<br />

património.<br />

Diga-se que foram mesmo criadas a CANIU - Comissão Administrativa<br />

das Novas Instalações Universitárias para o Porto e Lisboa<br />

e a CAPOCUC - Comissão Administrativa do Plano de Obras da<br />

Cidade Universitária de Coimbra, sendo eu, nelas, o delegado do<br />

Ministério da Educação.<br />

JR - Temos uma dúvida: quem administrou o EUL, numa primeira<br />

fase, foi o Armando Rocha?<br />

AR - Efectivamente, fui o primeiro director do EUL, de 1956 a<br />

1960.<br />

JR - Isso significa que em 1956 a administração do estádio<br />

foi entregue à Mocidade Portuguesa, através do Armando<br />

Rocha...<br />

AR - Assim foi, por nomeação do Comissário Nacional da Mocidade<br />

Portuguesa, Prof. Dr. Gonçalves Rodrigues.<br />

JR - E foi nomeado como tal... ou na altura não existia essa


figura...?<br />

AR - Nessa altura, foi criado, em Ordem de Serviço da Mocidade<br />

Portuguesa, o lugar de director do EUL. Era um hobby. Era o meu<br />

hobby na altura. Não existia qualquer remuneração...<br />

JR - Nós temos um problema. É que só conseguimos saber<br />

quem foram os directores a partir da publicação da lei orgânica,<br />

ou seja, a partir de 1989, e que foram: o Miranda<br />

Ferreira, o Vasco Lynce, o Dr. Lemos, o Prof. Mil-Homens e,<br />

a seguir, eu próprio... De antes do Miranda Ferreira não temos<br />

qualquer testemunho das pessoas que geriram o EUL...<br />

Consegue dar-nos uma ajuda?<br />

AR - Vamos lá ver... Tudo o que era desporto universitário dependia<br />

da Mocidade Portuguesa, através da Direcção de Serviços Universitários,<br />

a cargo do Prof. Dr. Guilherme Braga da Cruz que foi<br />

Reitor da Universidade de Coimbra. Como sabe, em 1962, houve<br />

uma crise académica em Lisboa, que se desenrolou essencialmente<br />

aqui mesmo na cidade universitária. Como director do EUL, eu<br />

próprio, fui confrontado com uma manifestação de estudantes no<br />

estádio, que consegui desmobilizar pelo facto de ter obtido, do comandante<br />

da força policial que havia sido destacada, a libertação<br />

de 3 estudantes que estavam detidos junto à cantina. Logo após,<br />

essa manifestação, veio a redobrar de intensidade com a chegada<br />

aqui do Reitor da Universidade Clássica, Prof. Dr. Marcello Caetano...<br />

mas isso é história que não vem agora ao caso! Pois bem!<br />

Uma das consequências dessa crise foi a criação informal, por parte<br />

do Ministro da Educação Nacional, Prof. Dr. Francisco Leite Pinto,<br />

da Inspecção Nacional do Desporto Universitário. Era assunto<br />

que tinha sido abordado, pela primeira vez, no II Congresso da<br />

Mocidade Portuguesa, em 1958, em que o Eng. Pinto de Magalhães<br />

e eu próprio apresentámos teses defendendo a independência<br />

do desporto universitário da tutela da Mocidade Portuguesa. A<br />

nomeação do primeiro Inspector - também como hobby - recaiu na<br />

minha pessoa. Acumulei essas funções com as de director do EUL<br />

até 1960, altura em que as passei ao Eng. João Lopes Raimundo.<br />

Colaborava também na direcção do EUL o Trovão do Rosário que<br />

era estudante do INEF e que veio a estar à frente do estádio durante<br />

vários anos.<br />

O agora Prof. Dr. Alberto Trovão do Rosário é a pessoa que lhe<br />

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231<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

poderá dar a pista a seguir.<br />

JR - Ele doutorou-se...<br />

AR - Com uma tese sobre a Organização do Desporto em Portugal.<br />

JR - O Dr. Vasco Lynce, quando cá esteve como director do<br />

EUL, tinha um coordenador dos serviços técnico-desportivos<br />

que era o Trovão do Rosário... sem funções de direcção... A<br />

seguir ao Trovão do Rosário, houve comissões...<br />

AR - Já antes do 25 de Abril havia uma comissão administrativa do<br />

EUL, com um responsável pelas contas...<br />

JR - Depois, temos vários nomes, por exemplo, o Nuno Barros...<br />

AR - Se a memória me não atraiçoa, o Prof. Nuno Barros não foi<br />

director do EUL. Foi, isso sim, secretário-geral do CDUL que tinha<br />

a sua sede no estádio.<br />

JR - Há aqui uma questão... O Prof. José Esteves, do Estádio<br />

Nacional, diz-me que foi director do EUL, antes do 25 de<br />

Abril...<br />

AR - Talvez... Se foi... só se foi depois de Agosto de 1973, altura<br />

em que deixei as funções de director geral dos Desportos.<br />

JR - Eu sei que o José Esteves esteve em Macau e foi também<br />

director do estádio. Os próprios encarregados o confirmam.<br />

Depois houve 2 ou 3 pessoas a seguir... O Trovão do Rosário<br />

poderá ajudar-nos...<br />

Deixe-me pôr-lhe uma última questão, que tem a ver com<br />

o CDUL, e que é sempre uma questão histórica, importante<br />

e sensível. Ainda hoje, há muitas pessoas que, quando falam<br />

do estádio universitário, fazem uma ligação ao CDUL...<br />

Quando vêm aqui, julgam que vêm ao CDUL... Mesmo pessoas<br />

com cargos importantes...Há uma série de conotações<br />

em que o CDUL eo EUL quase que se confundem...<br />

AR - O CDUL é anterior ao Estádio... No CDUL é que nasceu a<br />

ideia... O fundador do CDUL, Eng. Vasco Pinto de Magalhães, para<br />

ter o “seu” CDUL a funcionar em pleno, precisava de instalações<br />

próprias... Era um sonho que foi acalentado e desenvolvido por<br />

toda aquela gente do CDUL, no sentido da construção de um estádio<br />

universitário junto às Faculdades. Assim, quando a ideia forte<br />

da construção da cidade universitária aqui toma forma, a ideia


lançada pelas gentes do CDUL estava subjacente àquela outra. O<br />

próprio Comissário Nacional da M.P., que era Professor na Faculdade<br />

de Letras, foi um grande entusiasta da ideia. Sem receio de<br />

desmentido, pode dizer-se que o CDUL está na génese do EUL.<br />

JR - O que está a querer dizer é que os centros desportivos<br />

universitários estão na génese dos estádios universitários...<br />

AR - Exactamente, no que diz respeito a Lisboa e ao Porto (neste<br />

caso foi importante a acção do presidente do CDUP, Prof. Dr. Jaime<br />

Rios de Sousa). Em Coimbra, a situação era diferente... porque já<br />

existia a Associação Académica. Mas foram esses núcleos desportivos<br />

universitários que, de facto, levaram a ideia em frente...<br />

Na altura, sem a existência do CDUL, tenho dúvidas de que se<br />

construísse o EUL... tal como aqui está...<br />

JR - Deixe-me pôr-lhe uma questão provocatória... Hoje, estamos<br />

num momento em que a “governance” do EUL está a<br />

ser equacionada... E não gostava de terminar esta conversa<br />

sem lhe perguntar: o Armando Rocha, que acompanhou<br />

e tem acompanhado todo este percurso de 50 anos, o que<br />

acha que pode ajudar a manter este ideal do EUL, como<br />

equipamento desportivo único? O que pode ajudar a manter<br />

esta ideia com enorme êxito?<br />

AR - Quanto a mim, este estádio tem tido um grande sucesso porque<br />

se tem mantido fora da alçada da autoridade universitária...<br />

que não tem, naturalmente, vocação para gerir este tipo de equipamentos...<br />

É certo que o EUL não deve estar afastado das Universidades,<br />

mas a sua gestão deve ser independente das autoridades<br />

académicas. Numa sociedade aberta como é a nossa, a gestão<br />

deve caber a pessoas que vivem o desporto... que gostam do desporto...<br />

De contrário, passará a ser mais uma peça da infernal e<br />

muitas vezes improdutiva máquina burocrática que vem afogando<br />

os cidadãos... no caso os desportistas... que a procurem...<br />

Lisboa, 25 de Março de 2006<br />

Entrevista feita pelo Dr. João Roquete, director do EUL, à data<br />

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ArmAndo rochA A minhA opinião


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Intervenções PúblIcas<br />

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ArmAndo rochA A minhA opinião


desPorto unIversItárIo<br />

resenha hIstórIca<br />

Comecei a dar o meu contributo ao desporto universitário quando,<br />

em 1945, entrei na Universidade de Coimbra, o mesmo é dizer na<br />

Associação Académica de Coimbra. Ambas recordo com saudade<br />

e com gratidão pelo muito que deram de formação e espírito de<br />

solidariedade.<br />

Nunca recusei o meu modesto contributo em acções de valorização<br />

do desporto universitário. E já esqueci mesmo a ofensa que<br />

em 1974 me foi feita pelo Governo português quando, pressionado<br />

por uns tantos extremistas, mandou eliminar-me dos corpos<br />

directivos da Federação Internacional do Desporto Universitário<br />

(FISU) para que havia sido eleito democraticamente, pelo conjunto<br />

de algumas dezenas de delegações dos países filiados nessa federação.<br />

Integrei os corpos sociais da FISU, de 1955 a 1974. Desde<br />

essa data, não mais houve um português no executivo da FISU...<br />

Não era agora que recusava o amável convite que a Federação<br />

Académica do Desporto Universitário (FADU) me formulou para<br />

falar sobre o passado do desporto universitário. Aqui estou, pois,<br />

para dar o meu testemunho independente, como sempre o fiz, sobre<br />

tema tão do meu agrado. Não prometo, porém, ficar apenas<br />

pela história, dentro dos 15 minutos que me foram reservados, já<br />

que aproveito para focar alguns temas apenas pela rama, naturalmente.<br />

Desde que existem universidades em Portugal sempre se praticou<br />

desporto. Eram poucos os praticantes? Eram muitos? O que se<br />

pode afirmar é que o desporto praticado o era a título individual,<br />

não organizado. Haverá, contudo, que referir os casos da AAC e<br />

das Associações de Estudantes do I.S. Técnico e do I. S. Agronomia<br />

como sendo o embrião do desporto universitário organizado.<br />

A Mocidade Portuguesa, nos anos 40, começou a organizar os Jogos<br />

Desportivos Universitários com estudantes das Universidades<br />

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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

de Coimbra, Lisboa e Porto, os quais não tinham que ser filiados<br />

naquela Organização. Participei neles em 1946, 1950 e 1951. Era<br />

então Inspector do Desporto Universitário o General Jorge Oom,<br />

a que sucedeu o Eng. Vasco Pinto de Magalhães, ambos falecidos<br />

recentemente.<br />

Em Coimbra, a AAC, com nome sonante nos mundos do futebol<br />

e do basquetebol, não se ocupava do desporto inter-Faculdades.<br />

Em 1952, o Prof. Guilherme Braga da Cruz desafiou-me para, no<br />

âmbito do Centro Universitário da MP, organizar os 1os Torneios<br />

Inter-Faculdades, o que foi levado a cabo com bastante interesse<br />

por parte dos estudantes.<br />

Entretanto, o CDUP (1949) e o CDUL (1952) davam os primeiros<br />

passos na organização do desporto nas Universidades do Porto e<br />

de Lisboa, com uma forte vertente federada.<br />

Por outro lado, o movimento académico lisboeta, com a criação da<br />

R.I.A., começou a pôr em causa a organização do desporto universitário<br />

sob a égide da MP. No II Congresso Nacional da MP, em<br />

1956, as posições assumidas pelo Eng. Vasco Pinto de Magalhães<br />

e por mim próprio agitaram as águas a tal ponto que levaram o<br />

Ministro da Educação, Prof. Leite Pinto, a criar, em 1957, a Inspecção<br />

Nacional do Desporto Universitário para a qual me convidou e<br />

que aceitei com duas condições: despachar com o próprio Ministro<br />

e exercer o cargo graciosamente, em acumulação com as minhas<br />

funções profissionais no Ministério das Comunicações.<br />

Já como INDU preparei, com uma equipa de que faziam parte,<br />

entre outros, o ex-presidente da AEIST, Eng. Prostes da Fonseca, e<br />

o Prof. Eduardo Trigo, o I plano de Fomento do Desporto Universitário.<br />

Documento simples mas objectivo e realista e que foi muito<br />

bem aceite pelo Ministro Galvão Telles. Foi esse Plano o embrião<br />

dos futuros Planos de Fomento do Desporto Nacional elaborados<br />

ao tempo em que exerci o cargo de director geral dos Desportos<br />

(1963-73).<br />

A construção de infra-estruturas desportivas foi uma preocupação<br />

grande da equipa que tinha responsabilidades no DU e que teve eco,<br />

em especial, junto do Ministro das Obras Públicas, Arantes e Oliveira.<br />

Eu próprio representei o Ministro da Educação na CANIU e na CA-<br />

POCUC em que dediquei muitas horas de reflexão aos projectos dos<br />

Estádios Universitários de Lisboa e de Coimbra e da nova sede da AAC.


Os referidos estádios bem como o do Porto, para além do pavilhão<br />

da Tapada da Ajuda, a piscina do IST e os Centros de Medicina<br />

Desportiva são marcos que não esqueço pela satisfação que me<br />

proporcionaram. Sem essas instalações, o DU seria o que é hoje?<br />

Foi entretanto promulgada, nos anos ’60, legislação que criou um<br />

lugar de professor de educação física nas Universidades do Porto<br />

e de Coimbra. É que, sem agentes com formação no campo da<br />

educação física, não se pode pensar a sério em desporto, como<br />

forma de cultura.<br />

Na nossa terra, o desporto é, em grande medida, considerado<br />

como um simples divertimento do povo. Divertimento que, tantas<br />

vezes, toca as raias da alienação!<br />

Como se vê... ontem como hoje.<br />

Só uma mudança radical de mentalidade poderia modificar essa<br />

maneira de estar no desporto. Daí que tenha defendido a obrigatoriedade<br />

da educação física na Universidade, já em 1958. Conseguiu-se<br />

apenas que, nas Reformas das Faculdades de Engenharia<br />

e de Medicina, de 1960, se tenha consagrado o princípio de se<br />

libertar uma tarde semanal para o desporto, a insistência do Prof.<br />

Guilherme Braga da Cruz. E advoguei, também, em 1960, a criação<br />

do seguro desportivo, em parte substituído pela assistência<br />

médica desportiva gratuita que era facultada aos praticantes universitários.<br />

Com base nos campeonatos regionais, organizados em Lisboa pela<br />

COCRUL, passaram a realizar-se os CNU – um deles em Lourenço<br />

Marques, em 1968 (o Reitor Prof. Veiga Simão tinha sido atleta<br />

da AAC) – onde se revelaram alguns excelentes praticantes. E a<br />

AAC, o CDUL e o CDUP marcavam posição de relevo em algumas<br />

Federações Nacionais e em contactos internacionais, como ainda<br />

hoje sucede.<br />

E das provas nacionais, em 1955, deu-se o salto para o palco internacional.<br />

S. Sebastian (1955), Paris (1957), Turim (1959), Sofia<br />

(1961), Porto Alegre (1963), Budapeste (1965), Tóquio (1967)<br />

(Lisboa’69 viu cancelada a Universíada), Turim e Sestrière (1970)<br />

e Moscovo (1973) foram Universíadas em que atletas portugueses<br />

participaram, tendo o Prof. Fernando Almada conquistado a<br />

medalha de bronze, em judo, em Tóquio. Outras provas houve –<br />

como o campeonato do mundo de Judo (Lisboa’68) que Portugal<br />

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239<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

até organizou.<br />

Sempre considerei o amadorismo como um estado de espírito em<br />

que a noção do lucro está arredada. Tenho a consciência de que<br />

pensar assim é considerado errado pela nova vaga do dirigismo<br />

desportivo. O movimento olímpico é o exemplo acabado da hipocrisia<br />

desportiva. Este comentário é feito apenas para significar<br />

que, apreciando embora o desporto espectáculo e os seus artistas,<br />

como homens que são, nunca me deixei inebriar pelos resultados<br />

que são fruto de meios de pagamento, no âmbito do desporto<br />

universitário.<br />

Alguém escreveu um dia: “homens forte, homens sadios, sem dúvida<br />

por patriotismo, por valorização económica, por defesa orçamental,<br />

mas homens saudáveis com juízo claro, carácter forte,<br />

consciência recta”.<br />

Não sei se os presentes alguma vez se interrogaram como eu o<br />

fiz: não será começar pelo telhado a construção de um edifício,<br />

dedicando esforços e dinheiro ao DU? E a resposta que dei a mim<br />

mesmo foi esta: quer se queira quer não, os futuros dirigentes da<br />

Nação – em sentido amplo – são os universitários de hoje. Serão<br />

eles que, amanhã, terão as alavancas do poder. Serão, pois, eles,<br />

que poderão facilitar/criar as condições para que o desporto seja<br />

visto como uma forma essencial de cultura que une os homens,<br />

ricos, remediados e pobres. Todos eles, misturados, a praticar uma<br />

modalidade desportiva, têm de obedecer às mesmas regras. Em<br />

que outras actividades funciona de facto esse princípio da igualdade<br />

perante a lei?<br />

Conscientemente, dediquei todas, mas todas, as minhas horas<br />

de lazer à causa desportiva universitária. E acreditei em que uma<br />

nova geração dirigente poderia dar a volta ao problema.<br />

Temos um Primeiro-Ministro que foi atleta do CDUL. Como ele,<br />

muitos outros atletas e dirigentes da AAC, do CDUL e do CDUP<br />

foram, de há 15 anos para cá, e ainda são, Ministros, Secretários<br />

de Estado, Directores Gerais e Empresários de sucesso. Deixo a Vós<br />

a resposta à pergunta: fizeram eles o que deles se esperava em<br />

termos de Desporto?<br />

Oxalá este Congresso possa contribuir para alertar as consciências<br />

de quem tem as rédeas do poder.<br />

Tal como em1963 continuo a pensar que sem desporto escolar não


há desporto verdadeiramente nacional. Esse é para mim, o cerne<br />

da questão. E, enquanto se não dotarem todas as escolas secundárias<br />

de instalações adequadas – refiro-me em especial a pavilhões<br />

gimnodesportivos – e de professores de campo (não de gabinete),<br />

uma acusação forte impende sobre quem tem poder de decisão e<br />

decide quer obras necessárias sim, mas sumptuárias para quem é<br />

pobre (caso da nave do Estádio Nacional que custará vários milhões<br />

de contos1) quer “bolsas” a acrescer a prémios chorudos,<br />

ainda que merecidos. E mais não digo.<br />

Direi, isso sim, que, nesta minha caminhada no DU, para além de<br />

muito ter aprendido com Jorge Oom e Vasco Pinto de Magalhães,<br />

fui sempre acompanhado por uma pleiade de rapazes formidáveis<br />

em competência e em dedicação: Prostes da Fonseca, Eduardo Trigo,<br />

Vieira de Carvalho, Borges de Araújo, Sá Lima, Paulo Jorge,<br />

foram alguns desses muitos.<br />

Termino com uma sugestão. A de que se preste justiça póstuma<br />

ao muito que o Eng. Vasco Pinto de Magalhães2 fez pela causa do<br />

Desporto Universitário em Portugal. E que homenagem mais justa<br />

do que a de dar o seu nome ao Estádio Universitário de Lisboa?<br />

Disse.<br />

Esta palestra foi proferida no Congresso da Federação Académica do<br />

Desporto Universitário realizado na Universidade de Trás-os- Montes e<br />

Alto Douro – Vila Real – 24/11/1990<br />

1 O Ministro Couto dos Santos deu-me conhecimento, pouco tempo depois de ter<br />

proferido estas palavras, de que o PM Cavaco Silva resolvera abandonar a ideia da<br />

construção da nave, tendo optado antes pela construção no local de uma piscina<br />

olímpica.<br />

2 A homenagem proposta veio a ter lugar, 14 anos mais tarde, em 05/10/2004, sob<br />

a presidência da Ministra da Ciência e Ensino Superior, Profª Graça Carvalho e com<br />

a presença do ex.Ministro Pedro Lynce que esteve presente no Congresso de 1990<br />

na qualidade de Director Geral do Ensino Superior.<br />

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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

desPorto eM PortuGal. que futuro?<br />

O amigo Dr. Carlos Gonçalves desafiou-me a trazer aqui alguma<br />

da minha vivência no campo desportivo que começou no Liceu de<br />

Aveiro, com o falecido Prof. João Infante, e seguiu seu caminho<br />

na Associação Académica de Coimbra e depois na organização<br />

do Desporto Universitário pela mão do saudoso Prof. Guilherme<br />

Braga da Cruz. Desporto Universitário esse que me facultou uma<br />

rede de conhecimentos fabulosa. Depois, foi a fase mais intensa e<br />

mais gratificante que pude viver, levado pelo Prof. Inocêncio Galvão<br />

Telles, com quem muito aprendi.<br />

A minha falta de paciência, nesta idade avançada em que me encontro,<br />

já não dá para grandes pesquisas.<br />

Neste velhinho Palácio da Independência passei excelentes horas<br />

de convívio com esclarecidos Dirigentes da Mocidade Portuguesa.<br />

Mas agora, neste regresso, tenho de pedir perdão pelo facto de<br />

certamente não saber corresponder já àquilo que minimamente<br />

me é exigido.<br />

Fica-me, a mim, porém, a consolação de rever pessoas ilustres e<br />

amigas. Muito obrigado pela Vossa presença.<br />

Para se falar de Desporto não se pode deixar de começar por dar<br />

umas pinceladas sobre o olimpismo. E, desde logo, recordo com<br />

saudade o Eng. Francisco Nobre Guedes que muito me ensinou<br />

sobre o mesmo.<br />

As raízes do olimpismo - Está a começar uma nova Olimpíada –<br />

período de 4 anos compreendido entre os Jogos Olímpicos. Abordemos<br />

pois essa matéria, terminados há pouco tempo os Jogos de<br />

Atenas.<br />

Nas sociedades mais antigas, a competição assentava na ideia de<br />

domínio, de luta selvagem.<br />

Mais tarde, na Grécia antiga, o espírito competitivo passou a assentar<br />

na lealdade e no respeito por regras bem precisas. E aí nasceu


o Olimpismo na sua fase inicial. Foi num contexto de amadorismo<br />

elitista que o desporto moderno conheceu o seu desenvolvimento,<br />

em especial na América do Norte e na Europa industrializada.<br />

Foi então que o Barão Pierre de Coubertin, em 1894, estabeleceu<br />

um novo quadro baseado na ética, assente em valores do jogo e<br />

do risco, no exemplo digno e no respeito absoluto pelas regras. As<br />

regras são iguais para todos: quer sejam ricos quer sejam pobres,<br />

operários ou doutores...<br />

O Olimpismo não é mais do que um projecto acima de tudo educativo,<br />

apelando à virilidade, à emancipação dos jovens, à própria<br />

higiene e saúde pública.<br />

Os segundos Jogos Olímpicos, da era moderna, fizeram salientar,<br />

em termos de imagem corporal, a vitória do Homem criador e<br />

mestre dele próprio sobre o Homem indivíduo.<br />

A educação e o desporto estão indissociavelmente ligados desde o<br />

princípio do século XX. Como?<br />

Em primeiro lugar como escola de cidadania, quer com a adaptação<br />

dos jovens ao sistema político-cultural dominante (fim do século<br />

XIX), quer dando aos jovens os conhecimentos e as capacidades<br />

de compreensão que lhes permitam emancipar-se do sistema ou<br />

mesmo de o transformar a prazo.<br />

A primeira guerra mundial marcou o fim de uma época tendo o<br />

desporto passado a ser, depois de 1925, uma escola de não discriminação.<br />

Espalhou-se por todo o mundo e passou a ter uma<br />

dimensão económica de relevância com o advento do profissionalismo.<br />

Os valores humanistas e educativos consagrados pelo olimpismo<br />

foram-se adaptando às sucessivas alterações das próprias sociedades.<br />

E agora? - Nos finais do século XX, essas alterações foram tão radicais<br />

no domínio do conhecimento e das tecnologias que se pode<br />

dizer que se passou à escola dos decisores em que se vive num<br />

mundo sectário, identitário em que os grupos sociais, desprovidos<br />

de referências sólidas e de valores, se sentem marginalizados e<br />

procuram cerrar fileiras à volta da sua “corporação”.<br />

Hoje em dia, vemo-nos confrontados com a escola dos media graças<br />

ao poder da televisão, dos telefones celulares e da internet<br />

que ultrapassaram o quadro da escola tradicional e a família, ver-<br />

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243<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

dadeira célula de qualquer sociedade digna. A escola dos media<br />

transforma os desportistas de elite em heróis e referências para a<br />

juventude.<br />

Do olimpismo de Coubertin ficou a palavra.<br />

A realidade é esta: o amadorismo deu lugar ao profissionalismo<br />

desenfreado.<br />

Mas uma coisa é certa: ainda há muita gente que pratica o desporto<br />

pelo desporto. A escola tradicional e a Universidade devem<br />

continuar a fomentar a prática desportiva entre os estudantes, sem<br />

se deixarem abater pelos fogachos de uma medalha, ainda que<br />

muito apetecida e bem vinda.<br />

A actividade desportiva pura, aos poucos, foi evoluindo num sentido<br />

único passando a ter foros de indústria (um negócio afinal...)<br />

que movimenta somas astronómicas (com corrupção à mistura)<br />

com a entrada da Televisão em força. Os contratos publicitários<br />

que envolvem os Jogos Olímpicos e os Campeonatos Mundiais,<br />

Europeus e de Clubes de futebol e de atletismo são negociados por<br />

especialistas de alto nível. Daí resultam espectáculos que são vistos<br />

por milhões e milhões de tele-espectadores nos cinco continentes.<br />

E ainda bem.<br />

Pergunta-se: e para onde vai todo esse dinheiro?<br />

Até se constata que os dirigentes desportivos da alta roda mundial<br />

vivem desafogadamente, deslocam-se em classe executiva, são<br />

hospedados em hotéis topo de gama e recebem pocket money diário<br />

de fazer inveja a um quadro superior da nossa administração.<br />

Os artistas, treinadores incluídos, são pagos principescamente. Fazem<br />

autênticas fortunas em pouco tempo. Nem que para isso se<br />

deixem tentar pelo falseamento de resultados através do doping.<br />

Mas, como se trata de uma profissão de desgaste rápido, logo o<br />

governo lhes atribui benefícios fiscais de que outros bem necessitados<br />

não usufruem.<br />

Aos clubes, que são o suporte essencial do fenómeno desportivo,<br />

a política é muito sensível e perdoa dívidas, até inventa toto-negócios<br />

que não são correspondidos por aqueles. E, quando o Estado<br />

tem o arrojo de mandar cobrar as dívidas, o clamor que se levanta<br />

nos meios de comunicação social faz temer o pior para a integridade<br />

física do político que se atreveu a suscitar a questão.<br />

Há estudiosos que dizem que os clubes portugueses de futebol de


nomeada – que são os que nos interessam – não cumprem as suas<br />

obrigações fiscais e nem sempre têm os salários em dia. Salários<br />

que são uma afronta para quem trabalha no dia a dia no duro, ou<br />

mesmo com a mente.<br />

E sabe-se que bastantes desses salários são pagos a estrangeiros<br />

muitos deles de duvidosa valia técnica. Mas, contra isso nada se<br />

pode fazer pois então cairia o Carmo e a Trindade.<br />

E até parece que no futebol nacional o mercado não funciona na<br />

medida em que não se vêem clubes a encerrar portas como sucede<br />

com as empresas que não vingam. O problema vai sendo adiado<br />

porque há sempre alguém que, mesmo sabendo que o Clube não<br />

tem viabilidade económica, sacrifica tudo a uma eventual efémera<br />

notoriedade que passa pela aparição nos écrans da televisão e<br />

nas páginas dos jornais. Mas que também pode levar à barra dos<br />

tribunais.<br />

Não devo porém deixar de referir o quanto me orgulha o facto de<br />

termos jogadores de primeiro plano, não só no futebol mas também<br />

no hóquei em patins, no basquetebol e no rugby, para já não<br />

falar do Mourinho e outros colegas como Humberto Coelho, por<br />

esse mundo fora, a alimentar a nossa auto estima elevando bem<br />

alto o nome de Portugal! Esses emigrantes de luxo formaram-se<br />

aqui e constituem alimento para muitos outros jovens seguirem<br />

as suas pisadas. É como se fosse mercadoria a exportar... o que<br />

naturalmente interessa à balança de pagamentos...<br />

Bem gostaria de ter um outro discurso, mas a minha consciência<br />

não deixa.<br />

Já cheguei a ter uma intervenção pessoal que levou um Governo a<br />

mandar parar um projecto que estava em fase de lançamento, em<br />

1990 e em que se tinham gasto verbas da ordem dos 2 milhões<br />

de contos...<br />

O governo anunciou que iria mandar construir uma nave desportiva<br />

no Estádio Nacional que custaria 13 milhões de contos... Elevei<br />

a minha voz contra esse despudor argumentando com o facto de<br />

o Estado dizer que não dispunha de verbas para dotar todas as escolas<br />

de Portugal de modestos pavilhões gimnodesportivos... Então<br />

se era assim como é que esse mesmo Estado se dispunha a gastar<br />

os 13 milhões numa única instalação?<br />

Alguém fez chegar este meu protesto, desenvolvido num congres-<br />

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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

so do Desporto Universitário que teve lugar na UTAD, em Vila Real,<br />

ao Chefe do Governo que achou que eu tinha razão. Só que a<br />

simples anulação da empreitada, não evitou que os referidos 2<br />

milhões de contos entretanto despendidos, nos preliminares, tivessem<br />

levado uns tantos à barra do tribunal!... Que absolveu alguns<br />

mas condenou outros...<br />

Se me perguntam: mas é ou não essencial haver futebol? Basquetebol?<br />

Andebol? Rugby? etc.?<br />

A minha resposta só pode ser uma: SIM, sem dúvida, mas não a<br />

qualquer preço.<br />

Aceita-se que os clubes cometam as loucuras que entenderem...<br />

Só se não deve aceitar é que o façam sem regras e sem equidade,<br />

antes com benefícios que podem, em última análise, prejudicar<br />

terceiros.<br />

Algumas histórias passadas<br />

Para amenizar um pouco esta intervenção, vou contar algumas<br />

passagens da minha vida desportiva que julgo de interesse transmitir,<br />

e de que destaco as relativas a:<br />

1. Final da Taça de Portugal 1969;<br />

2. Criação da Corporação dos Desportos;<br />

3. Ministro – só se anuncia a inauguração, não a intenção;<br />

4. Eusébio – património nacional?<br />

5. Greve dos árbitros futebol em Maio de 1974;<br />

6. Ministro, Rosa Mota e CNID.<br />

Finalmente, Que futuro? - O Estado não deve ser interventivo<br />

no desporto associativo, mas não pode deixar de ter uma atitude<br />

de vigilância. Porém, deve caber-lhe intervir quando os superiores<br />

interesses nacionais o imponham.<br />

Não compreendo mesmo como não foi já autonomizado o sector<br />

da arbitragem que tanta polémica tem dado desde que, depois da<br />

revolução dos cravos, o integraram nas federações.<br />

Se se quiser falar seriamente, há que centrar na escola o desenvolvimento<br />

do desporto nacional. Lá “residem” largas centenas de<br />

milhares de potenciais desportistas. Sem querer ofuscar minimamente<br />

o trabalho dos clubes desportivos na formação de atletas,<br />

deve caber à escola o trabalho de base nesse como noutros domí-


nios da educação. Mais instalações desportivas nas escolas, mais<br />

agentes de ensino no terreno, mesmo que se tenham de sacrificar<br />

as legítimas ambições quanto a mestrados e doutoramentos, são<br />

metas a que só o Estado e o Poder Local podem dar resposta.<br />

Para isso, há que saber o que se quer (o que não é tão fácil assim...),<br />

de seguida estabelecer prioridades, calendarizá-las e executá-las<br />

sem intuitos puramente eleitorais.<br />

Os recursos financeiros são naturalmente escassos, mas com eles<br />

pode fazer-se muita coisa, desde que se afaste o supérfluo e o<br />

luxo. Mas até parece que somos um país rico, a avaliar, entre outras<br />

iniciativas, pela construção dos 10 bonitos e funcionais estádios<br />

de futebol para o Euro 2004, onde o espectador goza de<br />

comodidade nunca antes vista.<br />

Portugal merece caminhar no sentido do progresso e bem estar da<br />

sua juventude!<br />

Palestra proferida em 20/01/2005<br />

na SOCIEDADE HISTÓRICA DA INDEPENDÊNCIA DA PORTUGAL<br />

Publicada no jornal “Soberania do Povo” de 28/01/2005<br />

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247<br />

ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

rua alberto MartIns, eM coIMbra<br />

A Câmara Municipal de Coimbra deliberou perpetuar a figura de<br />

um dos seus concidadãos ilustres, dando o nome de Alberto Martins<br />

a uma rua da cidade. E encarregou-me de dizer umas palavras<br />

nesta simples, mas muito significativa cerimónia. Obrigado pela<br />

honra que esse convite representa para mim, um velho académico<br />

coimbrão que nunca voltou costas à cidade onde estudou e se<br />

preparou para a vida!<br />

Conheci o Alberto da Cunha Martins nos finais da década de ‘40,<br />

quando ele ingressou na equipa de basquetebol da Associação<br />

Académica de Coimbra e começou a dar nas vistas, ainda como<br />

júnior.<br />

Atleta com habilidade e físico adequado para a modalidade, no<br />

velho campo de Santa Cruz, ainda em terra batida e com balneários<br />

sem água quente…, ele era dos mais assíduos aos treinos.<br />

E os treinadores com quem trabalhou, primeiro com o Alberto Valejo<br />

– para quem a Académica era tudo na vida – e depois com<br />

o Professor José Esteves, souberam bem aproveitar as suas excelentes<br />

capacidades para o levarem até à equipa principal onde se<br />

firmou por mérito próprio.<br />

Com a equipa, foi jogar a Madrid, em 1950, a convite da Frente de<br />

Juventudes, numa deslocação feita em autocarro dos Oliveiras que<br />

foi custeado pelos acompanhantes, adeptos da equipa. Lembrome<br />

dos Drs. Oliveira Martins, José Simões e José Barata.<br />

Ele foi um dos grandes animadores dessa excursão à capital espanhola,<br />

sempre com o microfone do autocarro na mão… a irradiar<br />

simpatia e boa disposição…<br />

Sucede, porém, que chegados a Madrid, as saudades de sua Mãe<br />

irromperam noite alta no hotel e vai daí ele querer regressar. É que<br />

ele estava profundamente arreigado à sua cidade, não apreciando<br />

dela estar longe. Continuou a treinar como atleta, com o maior


interesse e empenho, mas sem nunca descurar os estudos que o<br />

levaram mesmo à respeitada carreira do professorado primário,<br />

onde exerceu o seu magistério com grande dignidade e profissionalismo.<br />

Começou, então, a estudar o basquetebol, com muitas leituras especializadas<br />

e frequentando cursos de actualização. Assim se fez<br />

um treinador competente e respeitado quer pelos seus muitos pupilos<br />

quer pelos dirigentes regionais e nacionais do basquetebol.<br />

Nessa qualidade, levou a sua e nossa Académica a conquistar,<br />

com todo o mérito, campeonatos nacionais absolutos de basquetebol<br />

e Taças de Portugal nos anos ’50 e ‘60.<br />

Foi um treinador da Académica, por quem passaram, aliás, sucessivas<br />

gerações que, ainda hoje, recordam com saudade as qualidades<br />

humanas do grande pedagogo que foi o Alberto Martins.<br />

Treinou também o Olivais, o Sport e o Sangalhos.<br />

Já depois de abandonar Coimbra por razões profissionais, tive<br />

oportunidade de o acompanhar especialmente, quando se deslocava<br />

ao Ultramar em que ele fazia questão de me visitar na Direcção<br />

Geral dos Desportos, com a condição de eu o acompanhar até<br />

ao avião que o levava a África.<br />

Tal como seu irmão Augusto, também ele era uma memória viva<br />

das coisas desportivas. Não havia equipa antiga que ele não soubesse<br />

relembrar; não havia resultado de jogo de que ele se não<br />

lembrasse…<br />

Os seus escritos na imprensa regional e as suas intervenções na<br />

rádio eram muito apreciadas pelos seus inúmeros leitores e ouvintes<br />

que lhe reconheciam, também aí, grande capacidade de comunicação.<br />

Outra faceta não menos digna de destaque era a sua vasta cultura<br />

geral e a sua memória poética. Era uma delícia ouvi-lo recitar poesia,<br />

da melhor. Também ele foi tocado, na verdade, por essa arte<br />

tão própria desta cidade de Coimbra, que teve enormes poetas<br />

que a imortalizaram para todo o sempre!...<br />

Ao longo da vida, temos de reconhecer que a saúde lhe foi madrasta<br />

em demasia, mas ele nunca desistiu de lutar, muitas das<br />

vezes com um ou outro poema a balbuciar-lhe nos lábios... Até por<br />

isso, constitui, em certa medida, uma lição para os seus companheiros<br />

que ainda cá estão dos quais alguns deles o acompanham<br />

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ArmAndo rochA A minhA opinião<br />

nesta justa e atempada homenagem. Homenagem que é prestada<br />

a uma figura que se impôs à consideração da sociedade conimbricense,<br />

por boas razões. Duvido de que, aqui em Coimbra, alguém<br />

não soubesse quem era o Alberto Martins. Por todas as razões, a<br />

Câmara lhe outorgara já a Medalha de Ouro da Cidade e o Governo<br />

a Medalha de Mérito Desportivo.<br />

Se havia quem adorasse a Académica, Alberto Martins era um deles.<br />

Se há homens bons ao cimo da terra, Alberto Martins era um deles.<br />

Se há conimbricense que merece ser homenageado por esta Coimbra<br />

que todos amamos, é Alberto Martins.<br />

Como amigo de longa data do Alberto, agradeço à Câmara desta<br />

cidade estar aqui, a comungar num mesmo sentimento de BEM<br />

HAJA, com todos os seus amigos. Esta Rua será, de ora avante,<br />

local de peregrinação para todos nós.<br />

Palavras proferidas na cerimónia de inauguração<br />

da Rua Alberto Martins, em Coimbra, em 09/07/2005.


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