QP 433 - “Físico-Química de Soluções de Polímeros e Surfatantes”
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Introdução<br />
<strong>QP</strong> <strong>433</strong> - <strong>“Físico</strong>-<strong>Química</strong> <strong>de</strong> <strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Polímeros</strong> e <strong>Surfatantes”</strong><br />
“Dynamic Light Scattering”<br />
Luciana Akissue <strong>de</strong> Camargo Teixeira<br />
Seminário a ser apresentado em 02.12.2002<br />
Antigamente, acreditava-se que moléculas em solução não tinham movimento, a menos que<br />
fosse aplicada uma força externa. Mais tar<strong>de</strong>, já se consi<strong>de</strong>rava o movimento molecular<br />
como sendo evi<strong>de</strong>nte. 1 Em 1914 com a publicação <strong>de</strong> uma teoria por Leon Brillouin surge o<br />
espalhamento <strong>de</strong> luz dinâmico, DLS (Dynamic Light Scattering) como forma <strong>de</strong> estudo. 2<br />
As técnicas <strong>de</strong> espalhamento dinâmico <strong>de</strong> luz são geralmente divididas em duas classes<br />
principais:<br />
• as que utilizam correlação <strong>de</strong> fóton para medir a distribuição <strong>de</strong> freqüência da<br />
luz espalhada;<br />
• e as que me<strong>de</strong>m diretamente a distribuição <strong>de</strong> freqüência, colocando-se um<br />
monocromador antes do <strong>de</strong>tector.<br />
As medidas <strong>de</strong> constantes dinâmicas, como dos coeficientes <strong>de</strong> difusão rotacional e<br />
translacional, po<strong>de</strong>m ser usadas para se obter mudanças no tamanho e forma das partículas<br />
conforme alteram-se as condições. Estudos importantes <strong>de</strong>sse tipo para micelas <strong>de</strong><br />
surfatantes e vesículas são feitos usando-se espectroscopia <strong>de</strong> correlação <strong>de</strong> fótons.
Instrumento utilizado na técnica <strong>de</strong> espalhamento <strong>de</strong> luz dinâmico<br />
O instrumento é composto das seguintes partes apresentadas no esquema abaixo:<br />
Fonte <strong>de</strong> luz<br />
Espectrômetro<br />
Detector<br />
Analisador<br />
<strong>de</strong> sinal<br />
Computador<br />
• Fonte <strong>de</strong> luz: geralmente composta por um feixe <strong>de</strong> laser;<br />
• Espectrômetro: contém um sistema óptico para <strong>de</strong>finir o ângulo <strong>de</strong> espalhamento;<br />
• Detector: geralmente uma fotomultiplicadora;<br />
• Analisador <strong>de</strong> sinal: po<strong>de</strong> ser tanto um analisador <strong>de</strong> espectro como um correlator.<br />
O analisador <strong>de</strong> espectro a tempo real obtém o espectro <strong>de</strong> um sinal usando técnicas<br />
digitais.<br />
Os correlatores são instrumentos capazes <strong>de</strong> obter a função <strong>de</strong> correlação <strong>de</strong> um<br />
sinal elétrico<br />
• Computador: geralmente é utilizado para extrair-se informação do espectro, ou da<br />
função <strong>de</strong> correlação obtida a partir do analisador <strong>de</strong> sinal.<br />
A figura <strong>de</strong> um equipamento utilizado em medidas <strong>de</strong> espalhamento dinâmico <strong>de</strong> luz está<br />
apresentada abaixo. Esse equipamento é o ALS 4000 Automated Expert DLS System,<br />
fabricado pela Precision Detectors. Esse sistema po<strong>de</strong> obter automaticamente funções <strong>de</strong><br />
correlação <strong>de</strong> três <strong>de</strong>tectores posicionados em ângulos <strong>de</strong> 5 a 355 graus, permitindo-se<br />
incrementos <strong>de</strong> 5 graus.
O espalhamento dinâmico <strong>de</strong> luz<br />
Luz será espalhada por uma partícula em solução, se essa partícula tiver uma<br />
polarizabilida<strong>de</strong> diferente da do meio ao redor. Nesse caso, o momento dipolar induzido<br />
pelo campo elétrico da radiação inci<strong>de</strong>nte irá espalhar luz em todas as direções. A<br />
intensida<strong>de</strong> da luz espalhada será relacionada com a direção <strong>de</strong> polarização da luz<br />
inci<strong>de</strong>nte, do ângulo <strong>de</strong> espalhamento e <strong>de</strong> parâmetros da solução.<br />
Partículas dispersas em um meio líquido movem-se ao acaso (movimento Browniano). Esse<br />
movimento causa flutuações <strong>de</strong> concentração em um dado volume da solução em função do<br />
tempo. No espalhamento <strong>de</strong> luz dinâmico a intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espalhamento (em curtos<br />
intervalos <strong>de</strong> tempo) é registrada como função do tempo, e flutuações nessa intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
espalhamento são observadas como variações <strong>de</strong> concentração no volume <strong>de</strong> espalhamento.<br />
O tempo necessário para as flutuações na intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> luz espalhada acontecerem é a<br />
característica mais importante do sinal, uma vez que esse tempo contém informação sobre<br />
as proprieda<strong>de</strong>s dinâmicas das moléculas do soluto. A informação mais simples obtida é o<br />
coeficiente <strong>de</strong> difusão translacional que, para uma partícula esférica é relacionada ao raio<br />
hidrodinâmico , rh, <strong>de</strong> acordo com a relação <strong>de</strong> Stokes-Einsten:<br />
kB é a constante <strong>de</strong> Boltzman;<br />
T é a temperatura absoluta (constante);<br />
η é a viscosida<strong>de</strong>.<br />
D<br />
k T<br />
6πηr<br />
B<br />
= (1)<br />
Uma partícula maior terá coeficiente <strong>de</strong> difusão menor do que uma partícula pequena e as<br />
flutuações irão ocorrer mais vagarosamente.<br />
Existe uma relação entre a velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> flutuação da luz espalhada e o coeficiente <strong>de</strong><br />
difusão das partículas. Há também uma função <strong>de</strong> autocorrelação da intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> luz<br />
espalhada.<br />
A função <strong>de</strong> autocorrelação, G(τ), é:<br />
( )<br />
)<br />
)<br />
( τ ) = I t ) × I(<br />
t + τ )<br />
h<br />
G (2)<br />
( 0 0<br />
on<strong>de</strong> I t e ( t + τ são as intensida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> luz espalhada nos instantes t e t + τ ,<br />
0<br />
I 0<br />
0<br />
( )<br />
respectivamente. No tempo t 0 0 , a intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espalhamento é e a função <strong>de</strong><br />
autocorrelação possui um valor máximo. Com o passar do tempo, a intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
espalhamento em um tempo ( terá cada vez menor correlação com a intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
= = t<br />
I 0<br />
t + τ<br />
0<br />
espalhamento inicial, e a média sobre os produtos das intensida<strong>de</strong>s, que é G(τ<br />
, ten<strong>de</strong> a<br />
zero.<br />
( )<br />
)<br />
0
( )<br />
Normalmente admite-se que G τ <strong>de</strong>cai exponencialmente em função do tempo.<br />
Para partículas esféricas e monodispersas, G τ é expresso por:<br />
( )<br />
−2Ττ ( τ ) = Ae B<br />
G +<br />
A e B são constantes, e Γ é a constante <strong>de</strong> <strong>de</strong>caimento da curva exponencial gerada pela<br />
função <strong>de</strong> autocorrelação. Por sua vez, Γ é dada por:<br />
D é o coeficiente <strong>de</strong> difusão das partículas;<br />
q é o vetor <strong>de</strong> onda da luz espalhada.<br />
Por sua vez, q é dado pela equação abaixo:<br />
2<br />
Γ = Dq<br />
n é o índice <strong>de</strong> refração do líquido que dispersa as partículas;<br />
θ é o ângulo <strong>de</strong> <strong>de</strong>tecção da luz espalhada;<br />
λ0 é o comprimento <strong>de</strong> onda da luz inci<strong>de</strong>nte.<br />
(3)<br />
(4)<br />
q =<br />
⎛4π<br />
⎞<br />
⎜<br />
n sen(<br />
θ<br />
λ ⎟ ) (5)<br />
⎝ 0 ⎠ 2<br />
Um experimento <strong>de</strong> espalhamento dinâmico <strong>de</strong> luz permite, a partir da função <strong>de</strong><br />
autocorrelação, obter uma curva exponencial, e <strong>de</strong>sta obter o valor da constante <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>caimento (Γ). Tendo-se esse valor, a partir da equação 4 obtém-se o valor do coeficiente<br />
<strong>de</strong> difusão. O coeficiente <strong>de</strong> difusão, por sua vez, está relacionado com o raio<br />
hidrodinâmico através da equação 1. Experimentos <strong>de</strong> espalhamento <strong>de</strong> luz dinâmico<br />
permitem então obter o valor do raio hidrodinâmico <strong>de</strong> partículas.<br />
No entanto é importante ressaltar que, como po<strong>de</strong> ser observado na equação 1, o coeficiente<br />
<strong>de</strong> difusão não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> exclusivamente do raio hidrodinâmico das partículas, mas também<br />
<strong>de</strong> outros fatores, que po<strong>de</strong>m estar relacionados às interações intermoleculares. Para a<br />
obtenção do raio hidrodinâmico, é necessário, então, fazer a extrapolação da concentração<br />
da solução a zero, para eliminar os outros fatores que po<strong>de</strong>riam interferir na <strong>de</strong>terminação<br />
do raio hidrodinâmico.
Exemplo <strong>de</strong> aplicações da técnica<br />
Artigo 1: “Interaction between Poly (ethylene glycol) and C12E8 investigated by Dynamic<br />
Light Scattering, Time-Resolved Fluorescence Quenching, and Calorimetry.”<br />
Macromolecules 2002, 35, 201-207<br />
Nesse artigo utilizou-se a técnica <strong>de</strong> espalhamento dinâmico <strong>de</strong> luz para mostrar que em<br />
soluções diluídas polietilenoglicol <strong>de</strong> baixo peso molecular interage com o surfatante não<br />
iônico octaetileno glicol n-do<strong>de</strong>cil monoeter, C12E8, para formar um complexo. Uma vez<br />
que as distribuições do tempo <strong>de</strong> relaxação para os sistemas binários C12E8/água e<br />
PEG/água são unimodais, nas misturas ternárias po<strong>de</strong>m ser tanto unimodal como bimodal,<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo das concentrações dos componentes. Em baixas concentrações <strong>de</strong> PEG ou<br />
surfatante, a distribuição torna-se bimodal em concentrações elevadas tanto do polímero<br />
como do surfatante. Para o sistema ternário em excesso <strong>de</strong> surfatante, tomando-se como<br />
base as mudanças nos raios hidrodinâmicos aparente e nas intensida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> espalhamento,<br />
associa-se o modo rápido a uma micela simples associada ao polímero, em que a superfície<br />
da micela está associada ao polímero. O modo lento a um complexo do mesmo modo que o<br />
<strong>de</strong>scrito anteriormente, mas contendo duas ou três micelas por ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> PEG.<br />
Artigo 2: “Dynamic Light Scattering on semidilute aqueous system of ethyl (hydroxyethyl)<br />
cellulose. Effects of temperature, surfactant concentration, and salinity.”<br />
Colloids and Surfaces<br />
A: Physicochemical and Engineering Aspects 149 (1999) 347-354<br />
Os efeitos da temperatura, adição <strong>de</strong> surfatante e sal, no fenômeno <strong>de</strong> associação e<br />
formação <strong>de</strong> gel inversamente com a temperatura, para uma solução aquosa semidiluída <strong>de</strong><br />
etil (hidroxietil) celulose (EHEC) foram estudados usando-se espalhamento <strong>de</strong> luz<br />
dinâmico. As funções <strong>de</strong> autocorrelação revelaram a existência <strong>de</strong> dois modos <strong>de</strong> relaxação.<br />
O modo <strong>de</strong> relaxação rápido é sempre difusivo, e gera um coeficiente <strong>de</strong> difusão coletivo,<br />
Dc, que é <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da temperatura, e aumenta com o aumento da concentração <strong>de</strong><br />
surfatante. O modo <strong>de</strong> relaxação lento está associado à separação <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ias ou clusters, e<br />
essa quantida<strong>de</strong> aumenta durante o processo <strong>de</strong> gelificação e aumenta a associação. Esse<br />
parâmetro, que apresenta características semelhantes à viscosida<strong>de</strong> dinâmica, po<strong>de</strong> ser<br />
usado para caracterizar o grau <strong>de</strong> associação intermolecular <strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong> EHEC. O<br />
aspecto geral que obtém-se <strong>de</strong>sse estudo é que géis são formados na presença <strong>de</strong><br />
concentrações baixas se do<strong>de</strong>cil sulfato <strong>de</strong> sódio a temperaturas elevadas. Em<br />
concentrações altas <strong>de</strong> surfatante, a estrutura em re<strong>de</strong> é rompida, e o tempo <strong>de</strong> relaxação<br />
lento diminue. Com a adição <strong>de</strong> quantida<strong>de</strong>s razoáveis <strong>de</strong> surfatante, a adição <strong>de</strong> sal<br />
aumenta as associações intermoleculares.
Artigo 3: “Temperature- Induced Micelle-Vesicle Transitions in DMPC-SDS and<br />
DMPC-DTAB mixtures studied by Calorimetry and Dynamic Light Scatterring.”<br />
J. Phys. Chem. B 2002, 106, 10753-10763<br />
Nesse artigo utilizou-se a técnica <strong>de</strong> espalhamento <strong>de</strong> luz dinâmico para observar-se as<br />
transições entre micela-vesícula <strong>de</strong> misturas <strong>de</strong> DMPC com SDS e DTAB, em água. E a<br />
transição reversa para micelas mistas observadas sob resfriamento. As intensida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
espalhamento e a distribuição <strong>de</strong> tamanho foram medidas em função da temperatura. A<br />
partir da análise do tamanho <strong>de</strong> partícula po<strong>de</strong>-se observar claramente a mudança na<br />
composição relativa no sistema misto, com a temperatura. Com essa técnica nota-se que<br />
com o aumento da temperatura o tamanho médio dos agregados também aumenta.<br />
Referência:<br />
1. Lucas, E. F.; Soares, B. G.; Monteiro, E.; Caracterização <strong>de</strong> <strong>Polímeros</strong>:<br />
Determinação <strong>de</strong> Peso Molecular e Análise Térmica, e-papers: Rio <strong>de</strong> Janeiro, 2001,<br />
capítulo 5.<br />
2. Pecora, R.; Dynamic Light Scattering: Applications of Photon Correlation<br />
Spectroscopy, Plenum Press: New York, 1985.<br />
3. Everett, D. H.; Basic Principles of Collioid Science, Royal Society of Chemistry:<br />
London, 1988, capítulo 7.<br />
4. Huglin, M. B.; Light Scattering from Polymer Solutions, Aca<strong>de</strong>mic Press: London,<br />
1972.<br />
5. Langevin, D.; Light Scattering by Liquid Surfaces and Complementary Techniques,<br />
Marcel Dekker: New York, 1992.