O Compasso e o Esquadro por traz da História - Área de História
O Compasso e o Esquadro por traz da História - Área de História
O Compasso e o Esquadro por traz da História - Área de História
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
O <strong>Compasso</strong> e o <strong>Esquadro</strong> <strong>por</strong><br />
<strong>traz</strong> <strong>da</strong> <strong>História</strong><br />
A origem <strong>da</strong> Maçonaria, sua história e seu papel<br />
na Europa do século <strong>da</strong>s luzes e na<br />
In<strong>de</strong>pendência do Brasil<br />
Fernan<strong>da</strong> Barbosa e Vitor Augusto Costa Neto
Proclamação <strong>da</strong> In<strong>de</strong>pendência - Quadro <strong>de</strong> François-René Moreaux, 1844<br />
“(...) Há mais <strong>de</strong> trinta anos que esta mesma seita principiou a<br />
espalhar a semente <strong>da</strong>s revoluções, para separar as Colônias <strong>da</strong>s<br />
suas Metrópoles, principalmente as <strong>de</strong> Portugal e Espanha, as mais<br />
ricas do mundo. Alguns <strong>de</strong>les, ou menos sanguinários ou mais<br />
horrorizados à vista dos frutos que tinham produzido a sua árvore <strong>da</strong><br />
liber<strong>da</strong><strong>de</strong> passaram a traçar planos para que a separação, que eles<br />
chamavam emancipação necessária para o bem <strong>da</strong> humani<strong>da</strong><strong>de</strong> fosse<br />
menos dolorosa e menos violenta”. (1)<br />
Quando surgiu a Maçonaria – Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Secreta que mais <strong>de</strong>sperta curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
em todo o mundo–, como que se <strong>de</strong>senvolveu ao longo dos séculos e qual a relação<br />
entre maçons e acontecimentos <strong>de</strong>cisivos do século XIX, como o processo <strong>de</strong><br />
In<strong>de</strong>pendência brasileira? De que forma a Or<strong>de</strong>m penetrou no nosso país e como<br />
<strong>de</strong>lineou os caminhos para os históricos episódios do “FICO” e do Grito do Ipiranga?<br />
Apesar <strong>de</strong> pouco abor<strong>da</strong>do e mesmo <strong>de</strong>sconhecido <strong>por</strong> muitos estu<strong>da</strong>ntes e profissionais<br />
<strong>da</strong> área <strong>de</strong> Historia, o tema “Maçonaria” po<strong>de</strong> ser encarado como os “bastidores” <strong>de</strong><br />
inúmeros episódios históricos ao longo dos séculos, no mundo e no Brasil.<br />
1
O surgimento <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m é incerto. Os próprios maçons divergem quanto às<br />
explicações para sua origem <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo quatro gran<strong>de</strong>s teorias: a Megalítica, a<br />
Iniciática, a Medieval, Templária e a Egípcia, sendo as três primeiras <strong>de</strong> <strong>de</strong>bates mais<br />
relevantes, o que não significa que tenham um embasamento histórico necessariamente<br />
mais coerente.<br />
A Teoria Megalítica sustenta que as raízes <strong>da</strong> Maçonaria estariam nos clãs <strong>da</strong><br />
pré-história (7100 e 1500 a.C.). Estes clãs teriam conhecimentos <strong>de</strong> arquitetura e<br />
astronomia, o que os teria permitido construir misteriosas estruturas arquitetônicas,<br />
como as do Newgrange (tumba neolítica) na Irlan<strong>da</strong> e a famosa Stonehenge, ao sul <strong>da</strong><br />
Inglaterra, que <strong>de</strong>spertam a curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> turistas do mundo inteiro e intrigam<br />
estudiosos até hoje.<br />
. A famosa Stonehenge, ao sul <strong>da</strong> Inglaterra<br />
. O Newgrange, próximo ao Rio Boyle, na Irlan<strong>da</strong><br />
2
Já a Teoria Iniciática, <strong>de</strong>fendi<strong>da</strong>, <strong>de</strong>ntre outros maçons, <strong>por</strong> Thomas Paine -<br />
político e revolucionário britânico, que participou <strong>da</strong>s Revoluções Americana e<br />
Francesa e é consi<strong>de</strong>rado um dos Pais dos Estados Unidos <strong>da</strong> América -, afirma ser a<br />
Maçonaria um culto solar <strong>de</strong> origem em um conjunto <strong>de</strong> religiões pagãs e cultos<br />
esotéricos. A Or<strong>de</strong>m teria nascido na Antigui<strong>da</strong><strong>de</strong> e se difundido pelo mundo, entre os<br />
Babilônios, os Egípcios e chegado à Europa, primeiramente, na Grécia <strong>de</strong> Pitágoras. Em<br />
1030 a.C., finalmente, teria penetrado na Inglaterra.<br />
. Detalhe <strong>da</strong> nota <strong>de</strong> um dólar, em que se observa símbolos maçônicos: a<br />
Pirâmi<strong>de</strong> do lado esquerdo, símbolo dos Illuminati, grupo maçônico do período<br />
do Iluminismo europeu e, à direita, a estrela <strong>de</strong> seis pontas forma<strong>da</strong>,<br />
originalmente, pelo compasso e o esquadro do escudo maçônico mundial<br />
Quanto à Teoria Medieval, esta analisa o termo “maçonaria”, ou “franco-<br />
maçonaria”, que <strong>de</strong>riva <strong>da</strong> expressão “franc-maçonnerie”, do francês arcaico, “pedreiros<br />
livres”. Sua origem está nas cor<strong>por</strong>ações <strong>de</strong> ofício dos pedreiros templários <strong>da</strong> I<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
Média, no final do século XIV. Nesse tempo, <strong>de</strong>vido à falta <strong>de</strong> escolas para o ensino <strong>de</strong><br />
técnicas <strong>de</strong> construção em pedra, utiliza<strong>da</strong>s principalmente em catedrais, esses<br />
trabalhadores livres se organizavam em grupos, chamados <strong>de</strong> guil<strong>da</strong>s ou grêmios, on<strong>de</strong><br />
mestres compartilhavam e ensinavam a “ciência do talhe” aos iniciantes, além <strong>de</strong><br />
3
<strong>de</strong>baterem sobre as chama<strong>da</strong>s “Old Charges”, que fixavam lucros máximos pelo<br />
trabalho <strong>de</strong> construção.<br />
Para essas reuniões eram levados os instrumentos <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> composição <strong>de</strong><br />
projetos arquitetônicos <strong>de</strong>ntre os quais estavam o esquadro e o compasso, que se<br />
tornaram símbolos <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m, mais tar<strong>de</strong>.<br />
. O símbolo mais difundido <strong>da</strong> Maçonaria no mundo: o esquadro<br />
representa Equi<strong>da</strong><strong>de</strong>, Justiça e Retidão; o compasso o Macrocosmo; e a letra<br />
“G” alu<strong>de</strong> a “Geômetra”, que significa “Deus”; “Divino Geômetra”. Para os<br />
maçons, Deus é o “Gran<strong>de</strong> Arquiteto do Universo” e, assim, “Geômetra” =<br />
“Gran<strong>de</strong> Arquiteto” = “Deus”. Além disso, a letra “G” em diversos idiomas<br />
inicia a palavra “Deus”: God (inglês), Gott (alemão), Gud (sueco), entre<br />
outras.<br />
Com o passar do tempo, já no século XVII, quando nasce o Iluminismo na<br />
Europa, a Or<strong>de</strong>m passa a se envolver, diretamente, em questões políticas e sociais em<br />
diversos países fora <strong>da</strong> Europa ao admitir estudiosos e filósofos em suas reuniões.<br />
Nessas reuniões os integrantes <strong>da</strong> or<strong>de</strong>m voltavam-se para a prática <strong>de</strong> alquimia e<br />
estudos <strong>de</strong> astronomia.<br />
Mais tar<strong>de</strong>, no século XVIII, as primeiras lojas Maçônicas (nome que se dá aos<br />
centros <strong>de</strong> discussão <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m) são fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s na Inglaterra, forma<strong>da</strong>s <strong>por</strong> artesãos,<br />
burgueses e membros <strong>da</strong> aristocracia:<br />
“(...) tanto os irmãos <strong>de</strong> origem humil<strong>de</strong> quanto os aristocratas passavam a ter, na teoria, a<br />
possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso a um conhecimento supostamente oculto e secreto. Finalmente, o<br />
conhecimento estabelecido no seio <strong>da</strong> loja propiciava a criação <strong>de</strong> relações privilegia<strong>da</strong>s em<br />
terrenos tão atraentes quanto os negócios, a política ou a influência social”. (2)<br />
4
Esses elementos atrativos permitiram a rápi<strong>da</strong> expansão <strong>da</strong>s lojas maçônicas ao<br />
longo <strong>da</strong> Europa: Estados alemães, França, Holan<strong>da</strong> e Império Austríaco. Na Prússia,<br />
seu Rei, Fre<strong>de</strong>rico, ingressou na Maçonaria em 1733. Intelectual e gênio militar,<br />
Fre<strong>de</strong>rico se tornou referência para os maçons <strong>da</strong> sua época, apesar <strong>de</strong> suas manobras <strong>de</strong><br />
governo <strong>de</strong> “esquartejamento” <strong>da</strong>s nações vizinhas – levando em consi<strong>de</strong>ração o caráter<br />
filantrópico (benéfico) <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m. Seu exemplo incentivou, na França <strong>de</strong> Luís XV, a<br />
criação <strong>de</strong> uma política <strong>de</strong> tolerância, em resposta à bula papal <strong>de</strong> 1739, que con<strong>de</strong>nava<br />
a Maçonaria, o que estimulou o crescimento <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m no país.<br />
No período entre 1789 e 1848, correspon<strong>de</strong>nte à ‘Era <strong>da</strong>s Revoluções’(3), é<br />
possível i<strong>de</strong>ntificar o surgimento <strong>de</strong> espaços <strong>de</strong> divulgação <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias <strong>da</strong> ‘Ilustração’,<br />
advin<strong>da</strong>s do movimento Iluminista do século XVII. Em Portugal, <strong>por</strong> exemplo, on<strong>de</strong> se<br />
fun<strong>da</strong> a primeira loja maçônica em 1802 (Gran<strong>de</strong> Oriente Lusitano), a Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Coimbra adota um projeto <strong>de</strong> ensino baseado no empirismo e nos princípios <strong>da</strong> razão,<br />
modificando a tradição escolástica <strong>da</strong> Instituição em finais do século XVIII.<br />
. Escudo do Gran<strong>de</strong> Oriente Lusitano. Acima, os termos advindos <strong>da</strong> Revolução<br />
Francesa – i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong> Liber<strong>da</strong><strong>de</strong>, Igual<strong>da</strong><strong>de</strong> e Fraterni<strong>da</strong><strong>de</strong> -, evi<strong>de</strong>nciam a<br />
origem francesa <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m, berço mais provável e aceitável <strong>de</strong> seu surgimento<br />
Enquanto isso, aos olhos <strong>da</strong> Igreja Católica, os novos valores morais e mentais<br />
sobre o indivíduo e a natureza humana surgidos na época, especialmente os<br />
relacionados aos preceitos maçônicos, eram expressão <strong>de</strong> irreligiosi<strong>da</strong><strong>de</strong>, imorali<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />
libertinagem - libertinos eram todos aqueles que ameaçassem o trono e criticassem o<br />
estado absolutista com as idéias políticas revolucionárias francesas.<br />
5
Isto <strong>por</strong>que, para se tornar um maçom, não é necessário seguir uma religião, mas<br />
acreditar, contudo, em dois “artigos <strong>de</strong> fé”: a Existência <strong>de</strong> Deus e a Imortali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong><br />
Alma. Isto é, a Maçonaria na<strong>da</strong> tem <strong>de</strong> religioso, mas <strong>de</strong> filosófico, educativo,<br />
progressista e filantrópico:<br />
“(...) É fun<strong>da</strong><strong>da</strong> no Amor Fraternal e na esperança <strong>de</strong> quem, com amor a Deus, à pátria, à<br />
família e ao próximo, com tolerância e sabedoria, com a Constante e livre investigação <strong>da</strong><br />
Ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, com a evolução do conhecimento humano pela filosofia, as ciências e as artes, sob<br />
a tría<strong>de</strong> <strong>da</strong> Liber<strong>da</strong><strong>de</strong>, Igual<strong>da</strong><strong>de</strong> e Fraterni<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>de</strong>ntro dos Princípios <strong>da</strong> Moral, <strong>da</strong> Razão<br />
e <strong>da</strong> Justiça, o mundo alcance a felici<strong>da</strong><strong>de</strong> geral e a paz universal”. (4)<br />
Além disso, apesar <strong>de</strong> a maioria dos iniciados ser, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primórdios <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m<br />
até hoje, composta <strong>por</strong> homens, as mulheres nunca foram expressamente proibi<strong>da</strong>s <strong>de</strong><br />
ingressar na socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. A chama<strong>da</strong> Maçonaria Mista, assim, era, naturalmente, mal vista<br />
pelos setores sociais conservadores, especialmente pela Igreja.<br />
. Ilustração <strong>de</strong> um ritual <strong>de</strong> Iniciação Maçônico<br />
Essa oposição entre Maçonaria e Igreja Católica é claramente ilustra<strong>da</strong> no caso<br />
francês, no pós Revolução Francesa. Consi<strong>de</strong>rando a relevante participação <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m<br />
no processo revolucionário francês, Napoleão almeja, após o episódio, o controle <strong>da</strong>s<br />
lojas maçônicas no país:<br />
“Dificilmente po<strong>de</strong>-se dizer que Napoleão fosse <strong>de</strong>fensor <strong>da</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong>, mas ele era, sim,<br />
consciente <strong>da</strong> utili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Maçonaria. Esta lhe permitia – como manifestaria no seu<br />
Memorial <strong>de</strong> Santa Elena – contar com um exército que lutava “contra o papa”, manter,<br />
com vigor, as forças arma<strong>da</strong>s sob controle e a política em suas mãos, além <strong>de</strong> pro<strong>por</strong>cionarlhe<br />
um instrumento <strong>de</strong> captação e propagan<strong>da</strong> favorável ao domínio francês <strong>da</strong> Europa”. (5)<br />
6
. Escultura e escudo do GDOF – Gran<strong>de</strong> Oriente Francês, na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Lyon<br />
Mais tar<strong>de</strong>, no Brasil, ain<strong>da</strong> no século XVIII, estu<strong>da</strong>ntes brasileiros <strong>da</strong> elite<br />
colonial enviados para estu<strong>da</strong>r em facul<strong>da</strong><strong>de</strong>s européias, como a Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Coimbra, entram em contato com a atmosfera iluminista e com a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong><br />
Maçonaria e procuram ser iniciados na Or<strong>de</strong>m.<br />
No retorno à colônia, esses estu<strong>da</strong>ntes iniciam novos membros e, reunidos,<br />
fun<strong>da</strong>m na província do Rio <strong>de</strong> Janeiro, Minas Gerais, Bahia e Pernambuco lojas<br />
(centros <strong>de</strong> discussão maçônica) como a “Reunião”, no Rio <strong>de</strong> Janeiro. Antes, <strong>por</strong>ém,<br />
lojas supostamente clan<strong>de</strong>stinas já teriam se instalado no Brasil e influenciado os<br />
movimentos <strong>da</strong>s Conjurações Mineira e Bahiana, respectivamente <strong>de</strong> 1789 e 1798.<br />
. Loja “Comércio e Artes” n° 001, fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em 1815, berço <strong>da</strong><br />
In<strong>de</strong>pendência do Brasil. Templo histórico sediado no Palácio do Lavradio,<br />
especificamente na Rua do Lavradio – Centro (RJ)<br />
7
. Monumento à Maçonaria em Florianópolis<br />
. Escudo <strong>da</strong> Gran<strong>de</strong> Loja Maçônica do RJ, situa<strong>da</strong> na Rua Prf. Gabizo,<br />
129 – Maracanã<br />
Nesse início do século XIX, D. Pedro I assumiu papel crucial para os rumos <strong>da</strong><br />
política nacional, agindo como uma ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira peça ‘rei’ <strong>de</strong> um tabuleiro <strong>de</strong> xadrez. Era<br />
em torno <strong>da</strong> figura <strong>de</strong>le que se <strong>de</strong>senrolou to<strong>da</strong> a questão política do país até a<br />
In<strong>de</strong>pendência. Mesmo a imprensa nacional <strong>da</strong> época evitava criticar o Príncipe, apesar<br />
<strong>de</strong> suas atitu<strong>de</strong>s arbitrárias. Isso <strong>por</strong>que, a partir <strong>de</strong> 1821, havia uma mobilização <strong>de</strong>ntro<br />
<strong>da</strong> colônia contra as Cortes Portuguesas, <strong>de</strong>vido a um quadro político nacional frágil e<br />
instável que sofria com a falta <strong>de</strong> uma li<strong>de</strong>rança e <strong>de</strong> um programa político bem<br />
<strong>de</strong>finido. Era ele mais uma ban<strong>de</strong>ira a ser conquista<strong>da</strong> que um “foco <strong>de</strong> autori<strong>da</strong><strong>de</strong>”. (6)<br />
E tão <strong>de</strong>cisivo para a política nacional quanto o Príncipe eram as duas vertentes <strong>da</strong><br />
Maçonaria no país, atuando ambas em prol <strong>da</strong> In<strong>de</strong>pendência – a vertente “Azul”,<br />
favorável à instituição <strong>de</strong> uma In<strong>de</strong>pendência com Monarquia Constitucional e a outra,<br />
“Vermelha”, em harmonia com as Cortes <strong>de</strong> Lisboa e a favor <strong>da</strong> República. Pretendiam<br />
as Cortes, com uma orientação republicana, anular mais um elemento <strong>da</strong> Casa <strong>de</strong><br />
Bragança, na colônia - D. Pedro. Contudo, o Príncipe, naturalmente, se <strong>de</strong>clara ao lado<br />
<strong>da</strong> primeira ala, forçando sua permanência no território no DIA DO “FICO”, em 9 <strong>de</strong><br />
8
Janeiro. Assim, apesar <strong>da</strong> In<strong>de</strong>pendência, seria possível manter o Reino do Brasil unido<br />
ao <strong>de</strong> Portugal, justamente o que objetivava a Maçonaria “Azul”.<br />
Apesar <strong>da</strong>s divisões <strong>de</strong>ntro do território entre Vermelhos e Azuis, D. Pedro<br />
consegue, ao lado <strong>de</strong> José Bonifácio - Grão Mestre <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m, quem iniciou D. Pedro-<br />
garantir a vitória do lado “Azul”, Monarquista. Depois <strong>de</strong> longos embates e jogos<br />
políticos, a 23 <strong>de</strong> Julho, no navio Três Corações, três <strong>de</strong>cretos são enviados <strong>de</strong> Portugal<br />
para o Brasil: duas cartas, uma <strong>da</strong>s Cortes e outra <strong>da</strong> Princesa Leopoldina. A <strong>da</strong>s Cortes<br />
exigia o regresso imediato do Príncipe e a prisão e processo <strong>de</strong> José Bonifácio; a <strong>da</strong><br />
Princesa recomen<strong>da</strong>va prudência e pedia que o Príncipe ouvisse os conselhos <strong>de</strong> seu<br />
Ministro.<br />
Uma terceira carta foi envia<strong>da</strong>, <strong>por</strong> D. João VI ao Príncipe, em que o Rei<br />
aconselhava seu filho a ter cautela nesse complicado jogo político. Ao Príncipe<br />
restavam duas opções: entregar-se para as Cortes <strong>de</strong> Lisboa, voltando para Portugal, ou<br />
permanecer no Brasil e proclamar a In<strong>de</strong>pendência. Escolhendo a segun<strong>da</strong> opção, é<br />
<strong>da</strong>do o Grito do Ipiranga e consoli<strong>da</strong><strong>da</strong> a in<strong>de</strong>pendência em 12 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1822,<br />
com a aclamação do príncipe regente como Imperador do Brasil.<br />
Em conclusão, a exposição acima teve <strong>por</strong> objetivo <strong>traz</strong>er à luz a história e as<br />
atuações <strong>da</strong> Maçonaria até o século XIX, no mundo e no Brasil, em uma perspectiva<br />
pouco comum <strong>da</strong> história <strong>da</strong> humani<strong>da</strong><strong>de</strong>, que não integra as pautas tradicionais <strong>de</strong><br />
estudos escolares e Universitários <strong>da</strong> área <strong>de</strong> <strong>História</strong>. O que, no entanto, encontra<br />
explicação evi<strong>de</strong>nte, tratando-se <strong>de</strong> comandos <strong>de</strong> uma Or<strong>de</strong>m que se propõe secreta e<br />
<strong>de</strong>ve, assim, conservar-se.<br />
9
Notas bibliográficas:<br />
(1) Citação <strong>de</strong> D. Azeredo Coutinho, Bispo <strong>de</strong> Elvas, 1794 em Portugal no livro<br />
“A Maçonaria na In<strong>de</strong>pendência Brasileira”; FERREIRA, Manoel Rodrigues<br />
e FERREIRA, Tito Lívio; Vol. 1; [São Paulo]: Biblos, [1962], p. 65<br />
(2) “Os Maçons: A Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Secreta mais influente <strong>da</strong> <strong>História</strong>”; VIDAL, Cesar;<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro: Relume Dumará; [2006], p. 35<br />
(3) HOBSBAWM, Eric J; [1962]<br />
(4) “Socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s Secretas – Maçonaria”; COUTO, Sérgio Pereira; [2008], p.12<br />
(5) “Os Maçons: A Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Secreta mais influente <strong>da</strong> <strong>História</strong>”; VIDAL, Cesar;<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro: Relume Dumará; [2006], p. 80<br />
(6) “Insultos impressos: a guerra dos jornalistas na In<strong>de</strong>pendência, 1821-1823”;<br />
LUSTOSA, Isabel; São Paulo: Companhia <strong>da</strong>s Letras, [2000], p.65<br />
Bibliografia:<br />
- “Os Maçons: A Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Secreta mais influente <strong>da</strong> <strong>História</strong>”; VIDAL, Cesar;<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro: Relume Dumará; [2006]<br />
- “A Maçonaria na In<strong>de</strong>pendência Brasileira”; FERREIRA, Manoel Rodrigues e<br />
FERREIRA, Tito Lívio; Vol. 1; [São Paulo]: Biblos, [1962]<br />
- “Socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s Secretas – Maçonaria”; COUTO, Sérgio Pereira; [2008]<br />
- “Maçonaria, sociabili<strong>da</strong><strong>de</strong> ilustra<strong>da</strong> & in<strong>de</strong>pendência do Brasil, 1790-1822”;<br />
BARATA, Alexandre Mansur; Annablume; [2006]<br />
- “A Or<strong>de</strong>m e o Império” – Revista Nossa <strong>História</strong>, junho/2005, v2, nº20;<br />
MOREL, Marco<br />
- “Insultos impressos: a guerra dos jornalistas na In<strong>de</strong>pendência, 1821-1823”;<br />
LUSTOSA, Isabel; São Paulo: Companhia <strong>da</strong>s Letras, [2000]<br />
10
Filmografia:<br />
- INDEPENDÊNCIA OU MORTE, (Brasil, 1972)<br />
Informações Técnicas:<br />
Título no Brasil: In<strong>de</strong>pendência ou Morte<br />
Título Original: In<strong>de</strong>pendência ou Morte<br />
País <strong>de</strong> Origem: Brasil<br />
Gênero: Épico<br />
Tempo <strong>de</strong> Duração: 108 minutos<br />
Ano <strong>de</strong> Lançamento: 1972<br />
Direção: Carlos Coimbra<br />
Tendo como ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong> o dia <strong>da</strong> abdicação <strong>de</strong> D. Pedro I, é<br />
traçado um perfil do monarca, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> quando ain<strong>da</strong> menino veio <strong>da</strong><br />
Europa, quando sua família fugia <strong>da</strong>s tropas napoleônicas e sua<br />
ascensão a Príncipe Regente, quando D. João VI retornou para<br />
Portugal. Em pouco tempo a situação política torna-se insustentável<br />
e o regente proclama a in<strong>de</strong>pendência, mas seu envolvimento<br />
extraconjugal com a futura Marquesa <strong>de</strong> Santos provoca oposição<br />
em diversos setores e José Bonifácio <strong>de</strong> Andra<strong>da</strong> e Silva pe<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>missão do Ministério, mas este não seria o único caso, que<br />
ministros e nobres entrariam em choque com o imperador <strong>por</strong> causa<br />
<strong>da</strong> marquesa, que permanentemente influenciava as <strong>de</strong>cisões do<br />
soberano, mas tudo isto causava um inevitável <strong>de</strong>sgaste político.<br />
- MAUÁ: O BARÃO E O REI (Brasil, 1999)<br />
Informações Técnicas:<br />
Título do Filme no Brasil: Mauá, o Imperador e o Rei<br />
Título Original: Mauá, o Imperador e o Rei<br />
País <strong>de</strong> Origem: Brasil<br />
Gênero: Drama / Biografia<br />
Duração: 132 minutos<br />
11
Ano: 1999<br />
Direção: Sérgio Resen<strong>de</strong><br />
O filme mostra a infância, o enriquecimento e a falência <strong>de</strong> Irineu<br />
Evangelista <strong>de</strong> Souza (1813-1889), o empreen<strong>de</strong>dor gaúcho mais<br />
conhecido como barão <strong>de</strong> Mauá, consi<strong>de</strong>rado o primeiro gran<strong>de</strong><br />
empresário brasileiro, responsável <strong>por</strong> uma série <strong>de</strong> iniciativas<br />
mo<strong>de</strong>rnizadoras para economia nacional, ao longo do século XlX.<br />
Mauá, um vanguardista em sua época, arrojado em sua luta pela<br />
industrialização do Brasil, tanto era recebido com tapete vermelho, como<br />
chutado pela <strong>por</strong>ta dos fundos <strong>por</strong> D. Pedro II.<br />
12