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O Compasso e o Esquadro por traz da História - Área de História

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O <strong>Compasso</strong> e o <strong>Esquadro</strong> <strong>por</strong><br />

<strong>traz</strong> <strong>da</strong> <strong>História</strong><br />

A origem <strong>da</strong> Maçonaria, sua história e seu papel<br />

na Europa do século <strong>da</strong>s luzes e na<br />

In<strong>de</strong>pendência do Brasil<br />

Fernan<strong>da</strong> Barbosa e Vitor Augusto Costa Neto


Proclamação <strong>da</strong> In<strong>de</strong>pendência - Quadro <strong>de</strong> François-René Moreaux, 1844<br />

“(...) Há mais <strong>de</strong> trinta anos que esta mesma seita principiou a<br />

espalhar a semente <strong>da</strong>s revoluções, para separar as Colônias <strong>da</strong>s<br />

suas Metrópoles, principalmente as <strong>de</strong> Portugal e Espanha, as mais<br />

ricas do mundo. Alguns <strong>de</strong>les, ou menos sanguinários ou mais<br />

horrorizados à vista dos frutos que tinham produzido a sua árvore <strong>da</strong><br />

liber<strong>da</strong><strong>de</strong> passaram a traçar planos para que a separação, que eles<br />

chamavam emancipação necessária para o bem <strong>da</strong> humani<strong>da</strong><strong>de</strong> fosse<br />

menos dolorosa e menos violenta”. (1)<br />

Quando surgiu a Maçonaria – Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Secreta que mais <strong>de</strong>sperta curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

em todo o mundo–, como que se <strong>de</strong>senvolveu ao longo dos séculos e qual a relação<br />

entre maçons e acontecimentos <strong>de</strong>cisivos do século XIX, como o processo <strong>de</strong><br />

In<strong>de</strong>pendência brasileira? De que forma a Or<strong>de</strong>m penetrou no nosso país e como<br />

<strong>de</strong>lineou os caminhos para os históricos episódios do “FICO” e do Grito do Ipiranga?<br />

Apesar <strong>de</strong> pouco abor<strong>da</strong>do e mesmo <strong>de</strong>sconhecido <strong>por</strong> muitos estu<strong>da</strong>ntes e profissionais<br />

<strong>da</strong> área <strong>de</strong> Historia, o tema “Maçonaria” po<strong>de</strong> ser encarado como os “bastidores” <strong>de</strong><br />

inúmeros episódios históricos ao longo dos séculos, no mundo e no Brasil.<br />

1


O surgimento <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m é incerto. Os próprios maçons divergem quanto às<br />

explicações para sua origem <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo quatro gran<strong>de</strong>s teorias: a Megalítica, a<br />

Iniciática, a Medieval, Templária e a Egípcia, sendo as três primeiras <strong>de</strong> <strong>de</strong>bates mais<br />

relevantes, o que não significa que tenham um embasamento histórico necessariamente<br />

mais coerente.<br />

A Teoria Megalítica sustenta que as raízes <strong>da</strong> Maçonaria estariam nos clãs <strong>da</strong><br />

pré-história (7100 e 1500 a.C.). Estes clãs teriam conhecimentos <strong>de</strong> arquitetura e<br />

astronomia, o que os teria permitido construir misteriosas estruturas arquitetônicas,<br />

como as do Newgrange (tumba neolítica) na Irlan<strong>da</strong> e a famosa Stonehenge, ao sul <strong>da</strong><br />

Inglaterra, que <strong>de</strong>spertam a curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> turistas do mundo inteiro e intrigam<br />

estudiosos até hoje.<br />

. A famosa Stonehenge, ao sul <strong>da</strong> Inglaterra<br />

. O Newgrange, próximo ao Rio Boyle, na Irlan<strong>da</strong><br />

2


Já a Teoria Iniciática, <strong>de</strong>fendi<strong>da</strong>, <strong>de</strong>ntre outros maçons, <strong>por</strong> Thomas Paine -<br />

político e revolucionário britânico, que participou <strong>da</strong>s Revoluções Americana e<br />

Francesa e é consi<strong>de</strong>rado um dos Pais dos Estados Unidos <strong>da</strong> América -, afirma ser a<br />

Maçonaria um culto solar <strong>de</strong> origem em um conjunto <strong>de</strong> religiões pagãs e cultos<br />

esotéricos. A Or<strong>de</strong>m teria nascido na Antigui<strong>da</strong><strong>de</strong> e se difundido pelo mundo, entre os<br />

Babilônios, os Egípcios e chegado à Europa, primeiramente, na Grécia <strong>de</strong> Pitágoras. Em<br />

1030 a.C., finalmente, teria penetrado na Inglaterra.<br />

. Detalhe <strong>da</strong> nota <strong>de</strong> um dólar, em que se observa símbolos maçônicos: a<br />

Pirâmi<strong>de</strong> do lado esquerdo, símbolo dos Illuminati, grupo maçônico do período<br />

do Iluminismo europeu e, à direita, a estrela <strong>de</strong> seis pontas forma<strong>da</strong>,<br />

originalmente, pelo compasso e o esquadro do escudo maçônico mundial<br />

Quanto à Teoria Medieval, esta analisa o termo “maçonaria”, ou “franco-<br />

maçonaria”, que <strong>de</strong>riva <strong>da</strong> expressão “franc-maçonnerie”, do francês arcaico, “pedreiros<br />

livres”. Sua origem está nas cor<strong>por</strong>ações <strong>de</strong> ofício dos pedreiros templários <strong>da</strong> I<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

Média, no final do século XIV. Nesse tempo, <strong>de</strong>vido à falta <strong>de</strong> escolas para o ensino <strong>de</strong><br />

técnicas <strong>de</strong> construção em pedra, utiliza<strong>da</strong>s principalmente em catedrais, esses<br />

trabalhadores livres se organizavam em grupos, chamados <strong>de</strong> guil<strong>da</strong>s ou grêmios, on<strong>de</strong><br />

mestres compartilhavam e ensinavam a “ciência do talhe” aos iniciantes, além <strong>de</strong><br />

3


<strong>de</strong>baterem sobre as chama<strong>da</strong>s “Old Charges”, que fixavam lucros máximos pelo<br />

trabalho <strong>de</strong> construção.<br />

Para essas reuniões eram levados os instrumentos <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> composição <strong>de</strong><br />

projetos arquitetônicos <strong>de</strong>ntre os quais estavam o esquadro e o compasso, que se<br />

tornaram símbolos <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m, mais tar<strong>de</strong>.<br />

. O símbolo mais difundido <strong>da</strong> Maçonaria no mundo: o esquadro<br />

representa Equi<strong>da</strong><strong>de</strong>, Justiça e Retidão; o compasso o Macrocosmo; e a letra<br />

“G” alu<strong>de</strong> a “Geômetra”, que significa “Deus”; “Divino Geômetra”. Para os<br />

maçons, Deus é o “Gran<strong>de</strong> Arquiteto do Universo” e, assim, “Geômetra” =<br />

“Gran<strong>de</strong> Arquiteto” = “Deus”. Além disso, a letra “G” em diversos idiomas<br />

inicia a palavra “Deus”: God (inglês), Gott (alemão), Gud (sueco), entre<br />

outras.<br />

Com o passar do tempo, já no século XVII, quando nasce o Iluminismo na<br />

Europa, a Or<strong>de</strong>m passa a se envolver, diretamente, em questões políticas e sociais em<br />

diversos países fora <strong>da</strong> Europa ao admitir estudiosos e filósofos em suas reuniões.<br />

Nessas reuniões os integrantes <strong>da</strong> or<strong>de</strong>m voltavam-se para a prática <strong>de</strong> alquimia e<br />

estudos <strong>de</strong> astronomia.<br />

Mais tar<strong>de</strong>, no século XVIII, as primeiras lojas Maçônicas (nome que se dá aos<br />

centros <strong>de</strong> discussão <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m) são fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s na Inglaterra, forma<strong>da</strong>s <strong>por</strong> artesãos,<br />

burgueses e membros <strong>da</strong> aristocracia:<br />

“(...) tanto os irmãos <strong>de</strong> origem humil<strong>de</strong> quanto os aristocratas passavam a ter, na teoria, a<br />

possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso a um conhecimento supostamente oculto e secreto. Finalmente, o<br />

conhecimento estabelecido no seio <strong>da</strong> loja propiciava a criação <strong>de</strong> relações privilegia<strong>da</strong>s em<br />

terrenos tão atraentes quanto os negócios, a política ou a influência social”. (2)<br />

4


Esses elementos atrativos permitiram a rápi<strong>da</strong> expansão <strong>da</strong>s lojas maçônicas ao<br />

longo <strong>da</strong> Europa: Estados alemães, França, Holan<strong>da</strong> e Império Austríaco. Na Prússia,<br />

seu Rei, Fre<strong>de</strong>rico, ingressou na Maçonaria em 1733. Intelectual e gênio militar,<br />

Fre<strong>de</strong>rico se tornou referência para os maçons <strong>da</strong> sua época, apesar <strong>de</strong> suas manobras <strong>de</strong><br />

governo <strong>de</strong> “esquartejamento” <strong>da</strong>s nações vizinhas – levando em consi<strong>de</strong>ração o caráter<br />

filantrópico (benéfico) <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m. Seu exemplo incentivou, na França <strong>de</strong> Luís XV, a<br />

criação <strong>de</strong> uma política <strong>de</strong> tolerância, em resposta à bula papal <strong>de</strong> 1739, que con<strong>de</strong>nava<br />

a Maçonaria, o que estimulou o crescimento <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m no país.<br />

No período entre 1789 e 1848, correspon<strong>de</strong>nte à ‘Era <strong>da</strong>s Revoluções’(3), é<br />

possível i<strong>de</strong>ntificar o surgimento <strong>de</strong> espaços <strong>de</strong> divulgação <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias <strong>da</strong> ‘Ilustração’,<br />

advin<strong>da</strong>s do movimento Iluminista do século XVII. Em Portugal, <strong>por</strong> exemplo, on<strong>de</strong> se<br />

fun<strong>da</strong> a primeira loja maçônica em 1802 (Gran<strong>de</strong> Oriente Lusitano), a Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Coimbra adota um projeto <strong>de</strong> ensino baseado no empirismo e nos princípios <strong>da</strong> razão,<br />

modificando a tradição escolástica <strong>da</strong> Instituição em finais do século XVIII.<br />

. Escudo do Gran<strong>de</strong> Oriente Lusitano. Acima, os termos advindos <strong>da</strong> Revolução<br />

Francesa – i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong> Liber<strong>da</strong><strong>de</strong>, Igual<strong>da</strong><strong>de</strong> e Fraterni<strong>da</strong><strong>de</strong> -, evi<strong>de</strong>nciam a<br />

origem francesa <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m, berço mais provável e aceitável <strong>de</strong> seu surgimento<br />

Enquanto isso, aos olhos <strong>da</strong> Igreja Católica, os novos valores morais e mentais<br />

sobre o indivíduo e a natureza humana surgidos na época, especialmente os<br />

relacionados aos preceitos maçônicos, eram expressão <strong>de</strong> irreligiosi<strong>da</strong><strong>de</strong>, imorali<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />

libertinagem - libertinos eram todos aqueles que ameaçassem o trono e criticassem o<br />

estado absolutista com as idéias políticas revolucionárias francesas.<br />

5


Isto <strong>por</strong>que, para se tornar um maçom, não é necessário seguir uma religião, mas<br />

acreditar, contudo, em dois “artigos <strong>de</strong> fé”: a Existência <strong>de</strong> Deus e a Imortali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong><br />

Alma. Isto é, a Maçonaria na<strong>da</strong> tem <strong>de</strong> religioso, mas <strong>de</strong> filosófico, educativo,<br />

progressista e filantrópico:<br />

“(...) É fun<strong>da</strong><strong>da</strong> no Amor Fraternal e na esperança <strong>de</strong> quem, com amor a Deus, à pátria, à<br />

família e ao próximo, com tolerância e sabedoria, com a Constante e livre investigação <strong>da</strong><br />

Ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, com a evolução do conhecimento humano pela filosofia, as ciências e as artes, sob<br />

a tría<strong>de</strong> <strong>da</strong> Liber<strong>da</strong><strong>de</strong>, Igual<strong>da</strong><strong>de</strong> e Fraterni<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>de</strong>ntro dos Princípios <strong>da</strong> Moral, <strong>da</strong> Razão<br />

e <strong>da</strong> Justiça, o mundo alcance a felici<strong>da</strong><strong>de</strong> geral e a paz universal”. (4)<br />

Além disso, apesar <strong>de</strong> a maioria dos iniciados ser, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primórdios <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m<br />

até hoje, composta <strong>por</strong> homens, as mulheres nunca foram expressamente proibi<strong>da</strong>s <strong>de</strong><br />

ingressar na socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. A chama<strong>da</strong> Maçonaria Mista, assim, era, naturalmente, mal vista<br />

pelos setores sociais conservadores, especialmente pela Igreja.<br />

. Ilustração <strong>de</strong> um ritual <strong>de</strong> Iniciação Maçônico<br />

Essa oposição entre Maçonaria e Igreja Católica é claramente ilustra<strong>da</strong> no caso<br />

francês, no pós Revolução Francesa. Consi<strong>de</strong>rando a relevante participação <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m<br />

no processo revolucionário francês, Napoleão almeja, após o episódio, o controle <strong>da</strong>s<br />

lojas maçônicas no país:<br />

“Dificilmente po<strong>de</strong>-se dizer que Napoleão fosse <strong>de</strong>fensor <strong>da</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong>, mas ele era, sim,<br />

consciente <strong>da</strong> utili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Maçonaria. Esta lhe permitia – como manifestaria no seu<br />

Memorial <strong>de</strong> Santa Elena – contar com um exército que lutava “contra o papa”, manter,<br />

com vigor, as forças arma<strong>da</strong>s sob controle e a política em suas mãos, além <strong>de</strong> pro<strong>por</strong>cionarlhe<br />

um instrumento <strong>de</strong> captação e propagan<strong>da</strong> favorável ao domínio francês <strong>da</strong> Europa”. (5)<br />

6


. Escultura e escudo do GDOF – Gran<strong>de</strong> Oriente Francês, na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Lyon<br />

Mais tar<strong>de</strong>, no Brasil, ain<strong>da</strong> no século XVIII, estu<strong>da</strong>ntes brasileiros <strong>da</strong> elite<br />

colonial enviados para estu<strong>da</strong>r em facul<strong>da</strong><strong>de</strong>s européias, como a Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Coimbra, entram em contato com a atmosfera iluminista e com a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong><br />

Maçonaria e procuram ser iniciados na Or<strong>de</strong>m.<br />

No retorno à colônia, esses estu<strong>da</strong>ntes iniciam novos membros e, reunidos,<br />

fun<strong>da</strong>m na província do Rio <strong>de</strong> Janeiro, Minas Gerais, Bahia e Pernambuco lojas<br />

(centros <strong>de</strong> discussão maçônica) como a “Reunião”, no Rio <strong>de</strong> Janeiro. Antes, <strong>por</strong>ém,<br />

lojas supostamente clan<strong>de</strong>stinas já teriam se instalado no Brasil e influenciado os<br />

movimentos <strong>da</strong>s Conjurações Mineira e Bahiana, respectivamente <strong>de</strong> 1789 e 1798.<br />

. Loja “Comércio e Artes” n° 001, fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em 1815, berço <strong>da</strong><br />

In<strong>de</strong>pendência do Brasil. Templo histórico sediado no Palácio do Lavradio,<br />

especificamente na Rua do Lavradio – Centro (RJ)<br />

7


. Monumento à Maçonaria em Florianópolis<br />

. Escudo <strong>da</strong> Gran<strong>de</strong> Loja Maçônica do RJ, situa<strong>da</strong> na Rua Prf. Gabizo,<br />

129 – Maracanã<br />

Nesse início do século XIX, D. Pedro I assumiu papel crucial para os rumos <strong>da</strong><br />

política nacional, agindo como uma ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira peça ‘rei’ <strong>de</strong> um tabuleiro <strong>de</strong> xadrez. Era<br />

em torno <strong>da</strong> figura <strong>de</strong>le que se <strong>de</strong>senrolou to<strong>da</strong> a questão política do país até a<br />

In<strong>de</strong>pendência. Mesmo a imprensa nacional <strong>da</strong> época evitava criticar o Príncipe, apesar<br />

<strong>de</strong> suas atitu<strong>de</strong>s arbitrárias. Isso <strong>por</strong>que, a partir <strong>de</strong> 1821, havia uma mobilização <strong>de</strong>ntro<br />

<strong>da</strong> colônia contra as Cortes Portuguesas, <strong>de</strong>vido a um quadro político nacional frágil e<br />

instável que sofria com a falta <strong>de</strong> uma li<strong>de</strong>rança e <strong>de</strong> um programa político bem<br />

<strong>de</strong>finido. Era ele mais uma ban<strong>de</strong>ira a ser conquista<strong>da</strong> que um “foco <strong>de</strong> autori<strong>da</strong><strong>de</strong>”. (6)<br />

E tão <strong>de</strong>cisivo para a política nacional quanto o Príncipe eram as duas vertentes <strong>da</strong><br />

Maçonaria no país, atuando ambas em prol <strong>da</strong> In<strong>de</strong>pendência – a vertente “Azul”,<br />

favorável à instituição <strong>de</strong> uma In<strong>de</strong>pendência com Monarquia Constitucional e a outra,<br />

“Vermelha”, em harmonia com as Cortes <strong>de</strong> Lisboa e a favor <strong>da</strong> República. Pretendiam<br />

as Cortes, com uma orientação republicana, anular mais um elemento <strong>da</strong> Casa <strong>de</strong><br />

Bragança, na colônia - D. Pedro. Contudo, o Príncipe, naturalmente, se <strong>de</strong>clara ao lado<br />

<strong>da</strong> primeira ala, forçando sua permanência no território no DIA DO “FICO”, em 9 <strong>de</strong><br />

8


Janeiro. Assim, apesar <strong>da</strong> In<strong>de</strong>pendência, seria possível manter o Reino do Brasil unido<br />

ao <strong>de</strong> Portugal, justamente o que objetivava a Maçonaria “Azul”.<br />

Apesar <strong>da</strong>s divisões <strong>de</strong>ntro do território entre Vermelhos e Azuis, D. Pedro<br />

consegue, ao lado <strong>de</strong> José Bonifácio - Grão Mestre <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m, quem iniciou D. Pedro-<br />

garantir a vitória do lado “Azul”, Monarquista. Depois <strong>de</strong> longos embates e jogos<br />

políticos, a 23 <strong>de</strong> Julho, no navio Três Corações, três <strong>de</strong>cretos são enviados <strong>de</strong> Portugal<br />

para o Brasil: duas cartas, uma <strong>da</strong>s Cortes e outra <strong>da</strong> Princesa Leopoldina. A <strong>da</strong>s Cortes<br />

exigia o regresso imediato do Príncipe e a prisão e processo <strong>de</strong> José Bonifácio; a <strong>da</strong><br />

Princesa recomen<strong>da</strong>va prudência e pedia que o Príncipe ouvisse os conselhos <strong>de</strong> seu<br />

Ministro.<br />

Uma terceira carta foi envia<strong>da</strong>, <strong>por</strong> D. João VI ao Príncipe, em que o Rei<br />

aconselhava seu filho a ter cautela nesse complicado jogo político. Ao Príncipe<br />

restavam duas opções: entregar-se para as Cortes <strong>de</strong> Lisboa, voltando para Portugal, ou<br />

permanecer no Brasil e proclamar a In<strong>de</strong>pendência. Escolhendo a segun<strong>da</strong> opção, é<br />

<strong>da</strong>do o Grito do Ipiranga e consoli<strong>da</strong><strong>da</strong> a in<strong>de</strong>pendência em 12 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1822,<br />

com a aclamação do príncipe regente como Imperador do Brasil.<br />

Em conclusão, a exposição acima teve <strong>por</strong> objetivo <strong>traz</strong>er à luz a história e as<br />

atuações <strong>da</strong> Maçonaria até o século XIX, no mundo e no Brasil, em uma perspectiva<br />

pouco comum <strong>da</strong> história <strong>da</strong> humani<strong>da</strong><strong>de</strong>, que não integra as pautas tradicionais <strong>de</strong><br />

estudos escolares e Universitários <strong>da</strong> área <strong>de</strong> <strong>História</strong>. O que, no entanto, encontra<br />

explicação evi<strong>de</strong>nte, tratando-se <strong>de</strong> comandos <strong>de</strong> uma Or<strong>de</strong>m que se propõe secreta e<br />

<strong>de</strong>ve, assim, conservar-se.<br />

9


Notas bibliográficas:<br />

(1) Citação <strong>de</strong> D. Azeredo Coutinho, Bispo <strong>de</strong> Elvas, 1794 em Portugal no livro<br />

“A Maçonaria na In<strong>de</strong>pendência Brasileira”; FERREIRA, Manoel Rodrigues<br />

e FERREIRA, Tito Lívio; Vol. 1; [São Paulo]: Biblos, [1962], p. 65<br />

(2) “Os Maçons: A Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Secreta mais influente <strong>da</strong> <strong>História</strong>”; VIDAL, Cesar;<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro: Relume Dumará; [2006], p. 35<br />

(3) HOBSBAWM, Eric J; [1962]<br />

(4) “Socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s Secretas – Maçonaria”; COUTO, Sérgio Pereira; [2008], p.12<br />

(5) “Os Maçons: A Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Secreta mais influente <strong>da</strong> <strong>História</strong>”; VIDAL, Cesar;<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro: Relume Dumará; [2006], p. 80<br />

(6) “Insultos impressos: a guerra dos jornalistas na In<strong>de</strong>pendência, 1821-1823”;<br />

LUSTOSA, Isabel; São Paulo: Companhia <strong>da</strong>s Letras, [2000], p.65<br />

Bibliografia:<br />

- “Os Maçons: A Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Secreta mais influente <strong>da</strong> <strong>História</strong>”; VIDAL, Cesar;<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro: Relume Dumará; [2006]<br />

- “A Maçonaria na In<strong>de</strong>pendência Brasileira”; FERREIRA, Manoel Rodrigues e<br />

FERREIRA, Tito Lívio; Vol. 1; [São Paulo]: Biblos, [1962]<br />

- “Socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s Secretas – Maçonaria”; COUTO, Sérgio Pereira; [2008]<br />

- “Maçonaria, sociabili<strong>da</strong><strong>de</strong> ilustra<strong>da</strong> & in<strong>de</strong>pendência do Brasil, 1790-1822”;<br />

BARATA, Alexandre Mansur; Annablume; [2006]<br />

- “A Or<strong>de</strong>m e o Império” – Revista Nossa <strong>História</strong>, junho/2005, v2, nº20;<br />

MOREL, Marco<br />

- “Insultos impressos: a guerra dos jornalistas na In<strong>de</strong>pendência, 1821-1823”;<br />

LUSTOSA, Isabel; São Paulo: Companhia <strong>da</strong>s Letras, [2000]<br />

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Filmografia:<br />

- INDEPENDÊNCIA OU MORTE, (Brasil, 1972)<br />

Informações Técnicas:<br />

Título no Brasil: In<strong>de</strong>pendência ou Morte<br />

Título Original: In<strong>de</strong>pendência ou Morte<br />

País <strong>de</strong> Origem: Brasil<br />

Gênero: Épico<br />

Tempo <strong>de</strong> Duração: 108 minutos<br />

Ano <strong>de</strong> Lançamento: 1972<br />

Direção: Carlos Coimbra<br />

Tendo como ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong> o dia <strong>da</strong> abdicação <strong>de</strong> D. Pedro I, é<br />

traçado um perfil do monarca, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> quando ain<strong>da</strong> menino veio <strong>da</strong><br />

Europa, quando sua família fugia <strong>da</strong>s tropas napoleônicas e sua<br />

ascensão a Príncipe Regente, quando D. João VI retornou para<br />

Portugal. Em pouco tempo a situação política torna-se insustentável<br />

e o regente proclama a in<strong>de</strong>pendência, mas seu envolvimento<br />

extraconjugal com a futura Marquesa <strong>de</strong> Santos provoca oposição<br />

em diversos setores e José Bonifácio <strong>de</strong> Andra<strong>da</strong> e Silva pe<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>missão do Ministério, mas este não seria o único caso, que<br />

ministros e nobres entrariam em choque com o imperador <strong>por</strong> causa<br />

<strong>da</strong> marquesa, que permanentemente influenciava as <strong>de</strong>cisões do<br />

soberano, mas tudo isto causava um inevitável <strong>de</strong>sgaste político.<br />

- MAUÁ: O BARÃO E O REI (Brasil, 1999)<br />

Informações Técnicas:<br />

Título do Filme no Brasil: Mauá, o Imperador e o Rei<br />

Título Original: Mauá, o Imperador e o Rei<br />

País <strong>de</strong> Origem: Brasil<br />

Gênero: Drama / Biografia<br />

Duração: 132 minutos<br />

11


Ano: 1999<br />

Direção: Sérgio Resen<strong>de</strong><br />

O filme mostra a infância, o enriquecimento e a falência <strong>de</strong> Irineu<br />

Evangelista <strong>de</strong> Souza (1813-1889), o empreen<strong>de</strong>dor gaúcho mais<br />

conhecido como barão <strong>de</strong> Mauá, consi<strong>de</strong>rado o primeiro gran<strong>de</strong><br />

empresário brasileiro, responsável <strong>por</strong> uma série <strong>de</strong> iniciativas<br />

mo<strong>de</strong>rnizadoras para economia nacional, ao longo do século XlX.<br />

Mauá, um vanguardista em sua época, arrojado em sua luta pela<br />

industrialização do Brasil, tanto era recebido com tapete vermelho, como<br />

chutado pela <strong>por</strong>ta dos fundos <strong>por</strong> D. Pedro II.<br />

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