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BUDISMO - estef

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Fenômeno Religioso - Budismo<br />

Introdução<br />

<strong>BUDISMO</strong><br />

Bruno Glaab<br />

No presente estudo veremos a origem do Budismo, sua história, sua doutrina<br />

e suas características, bem como sua situação atual no mundo e no Brasil.<br />

Estudar um fenômeno religioso da importância do Budismo é certamente uma<br />

tarefa gigantesca e difícil, mas mesmo assim, pretende-se, aqui dar uma visão<br />

panorâmica deste fenômeno religioso que se faz presente em todo mundo.<br />

Origem<br />

O Budismo nasceu na Índia, em meio ao Hinduísmo no século<br />

VI a.C. como uma reforma dentro do Hinduísmo. Mas no século<br />

XI d.C. quase desapareceu na Índia devido aos conflitos com o<br />

Hinduísmo e com o Islã. Hoje na Índia o Budismo chega apenas<br />

a 1% da população (COOGAN, 2007, p172). Atualmente o Budismo<br />

está arraigado na China, no Japão, na Coréia, no Tibete,<br />

etc.(DELUMEAU, 2000, p. 313).<br />

Buda viveu entre 566-486 a.C. Oriundo do Nepal (Índia). Viveu<br />

vida de luxo entre os prazeres da vida, mas cedo percebeu que a<br />

felicidade terrena é efêmera. Descobriu, também, o sofrimento.<br />

Aos 20 anos, saindo furtivamente do palácio real, se depara com um ancião, com um<br />

doente e com um cadáver. Diante disto refletiu sobre a mísera condição humana. Encontrou,<br />

também, um asceta que parecia feliz. Já com 29 anos abandonou a esposa e o filho,<br />

bem como a vida de palácio e foi viver como pobre, fazendo rigorosa ascese em contínua<br />

itinerância.<br />

Siddhartha Gautama fez uma primeira tentativa, experimentando a ascética e quase morreu de<br />

fome ao longo do processo 1 . Mas, depois de aceitar leite e arroz de uma menina da vila, ele mudou<br />

sua abordagem. Concluiu que as práticas ascéticas extremas, como o jejum prolongado, respiração<br />

sem pressa e a exposição à dor trouxeram poucos benefícios, espiritualmente falando.<br />

Deduziu então que as práticas eram prejudiciais aos praticantes. Ele abandonou o ascetismo,<br />

concentrando-se na meditação anapanasati, através da qual descobriu o que hoje os budistas<br />

chamam de caminho do meio: um caminho que não passa pela luxúria e pelos prazeres sensuais,<br />

mas que também não passa pelas práticas de mortificação do corpo (Wikipédia).<br />

Buda sentou-se debaixo de uma árvore, prometendo não<br />

sair dali até descobrir a verdade. Debaixo desta árvore,<br />

Buda foi tentado por Mara (demônio) sob a forma de uma<br />

cobra Naja que queria leva-lo direto para o nirvana (céu).<br />

Buda percebeu que desta forma resolveria seu problema,<br />

mas não passaria sua mensagem para os demais seres<br />

1 Conta a lenda que por um longo período se alimentava comendo um grão de arroz por dia.<br />

Bruno Glaab 1


Fenômeno Religioso - Budismo<br />

humanos (SHs). Preferiu ficar surdo diante de Mara 2 . Numa noite enluarada ele despertou<br />

do sono e foi iluminado. “Experimentou a suprema verdade como suprema alegria, e<br />

encontrou o caminho para sair do sofrimento” (SCHERER, 2005, p.18). Assim, aos 40<br />

anos ele fundou uma ordem monástica. Foi no mosteiro que ele se tornou Buda, que<br />

quer dizer, desperto, ou iluminado. Neste mosteiro elaborou sua doutrina e depois saiu<br />

em peregrinação entre os povoados para divulgar a mesma. Sua doutrina se espalhou<br />

por toda a Índia, apesar da resistência dos Hindus. Morreu aos 80 anos. Depois de sua<br />

morte surgiram outros Budas (iluminados), mas ele é o Buda por excelência.<br />

Após sua morte, seus discípulos compilaram seus ensinamentos, num concílio,<br />

em Tradição Oral que era memorizada e recitada, e somente cinco séculos mais tarde<br />

resultou em alguns livros, formando assim três partes do cânon budista.<br />

Seu nome era Gaudama e apelidado de Siddharta (bem sucedido). Sua biografia<br />

é confusa. Nada deixou escrito. O que hoje forma seu legado bibliográfico foi escrito<br />

uns cinco séculos após a sua morte (DELUMEAU, 2000, p.41), o que nos faz entender<br />

que nem tudo o que se diz dele é real, mas antes, tradição de séculos. Buda não é considerado<br />

um deus, nem um sobrenatural, mas apenas um SH que encontrou o verdadeiro<br />

caminho para todos os demais SH.<br />

Buda, como é conhecido, seria fruto de diversas reencarnações anteriores, onde<br />

ele teria se preparado, aprendendo com outros budas (iluminados). Assim, ele seria uma<br />

síntese de vidas anteriores, bem como síntese de muitos outros budas. Aprendeu com<br />

suas próprias experiências anteriores, como também, com os ensinos dos demais mestres<br />

(COOGAN, 2007, p.168). Buda seria a última encarnação de um longo processo.<br />

Foi para o nirvana e não precisou mais reencarnar.<br />

Um século após a morte de Buda já começaram as divisões entre seus seguidores.<br />

Um monge convocou um Concílio para preservar os ensinamentos de Buda. Neste<br />

concílio tentou-se formar um corpo de doutrina e práticas que orientariam as comunidades<br />

budistas. Assim se formou o que hoje é o cerne do Budismo (COOGAN, 2007,<br />

p.172). Outros concílios vieram nos séculos seguintes. Formaram-se 18 escolas. Destas<br />

sobrevive ainda uma, chamada Teravada dominante no sudeste da Ásia. No século III<br />

a.C até o séc. II d.C. o Budismo teve grande expansão no mundo oriental, atingindo a<br />

China, o Japão, a Coréia, etc. No Tibete se tornou forte a partir do séc.VII d.C. Hoje o<br />

Budismo do Tibete é muito conhecido devido ao Dalai Lama, que é interpretado como a<br />

14ª reencarnação 3 .<br />

Budismo<br />

O budismo pode ser dividido em dois grandes ramos: Theravada<br />

("Doutrina dos Anciões") e Mahayana ("O Grande Veículo"). A tradição<br />

Theravada, [...], é o mais antigo ramo do budismo. É bastante<br />

fundido nas regiões do Sri Lanka e sudeste da Ásia, já a segunda,<br />

Mahayana, é encontrada em toda a Ásia Oriental e inclui, dentro de si,<br />

as tradições e escolas Terra Pura, Zen, Budismo de Nitiren, Budismo<br />

2<br />

Mara é o rei dos demônios (COOGAN, 2007, p.170). Poderia haver um certo paralelo com a<br />

serpente que seduziu Eva (Gn 3,1ss)?<br />

3<br />

Acredita-se que o Dalai Lama seja a reencarnação de uma longa linha de tulkus, que optaram pela reencarnação,<br />

a fim de esclarecer a humanidade. O Dalai Lama é muitas vezes considerado o chefe da Escola Gelug, mas<br />

esta posição oficialmente pertence ao Ganden Tripa, que é uma posição temporária nomeada pelo Dalai Lama (que,<br />

na prática, exerce mais influência). Dalai significa "Oceano" em mongol e "Lama" é a palavra tibetana para mestre,<br />

guru, e várias vezes referido por "Oceano de Sabedoria", um título dado pelo regime mongoliano a Altan Khan (o<br />

terceiro Dalai Lama) e agora aplicado a cada encarnação na sua linhagem. Os dalai lamas são mostrados como sendo<br />

a manifestação de Avalokiteshvara, o Bodhisattva da Compaixão, cujo o nome é Chenrezig em tibetano. Após a morte<br />

do Dalai Lama, uma pesquisa é instituída pelos seus monges para descobrir o seu renascimento, ou tulku (Wikipedia).<br />

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Fenômeno Religioso - Budismo<br />

Tibetano, Tendai e Shingon. Em algumas classificações, a Vajrayana aparece como subcategoria<br />

de Mahayana, entretanto é reconhecida como um terceiro (Wikipedia).<br />

No Budismo Teravada não se imagina perdão por uma ato, uma vez que o carma<br />

é um processo impessoal de ecausa e efeito. As consequências são o efeito lógico. Ao<br />

mal se retribuirá com o mal, ao bem, com o bem. Como a pedra de dominó, ao cair,<br />

provoca seu efeito na pedra seguinte, assim nossos atos provocam seu efeito. Já na tradição<br />

Mahayana se conhece a purificação através de exercícios de piedade como pela<br />

récita de textos sagrados e de mantras. Assim sendo, encontra-se uma grande discrepância<br />

entre os dois ramos<br />

Renascimento<br />

O Budismo conhece uma sequência de reencarnações, que<br />

são entendidas como rotação de uma vida para a outra. Entende-se<br />

que o SH nasce, envelhece, morre e renasce em outro<br />

corpo e repete o mesmo ciclo:<br />

O renascimento pode se dar sob a forma humana, divina, animal ou de identidade; ou se pode também<br />

renascer para ser punido no inferno.<br />

A natureza da reencarnação depende do carma, ou lei moral de retribuição. Quanto maior o mérito<br />

acumulado ao longo da vida, mais alto é o patamar do renascimento, e o inverso se aplica àqueles que<br />

acumularam mais pecados que méritos (COOGAN, 2007, p.192).<br />

Antes de reencarnar os maus ficam em um inferno, onde se purificam. Os que mais<br />

são punidos são os parricidas e aqueles que mataram seus mestres. Tanto os que ardem<br />

nos infernos como aqueles que já chegaram ao nirvana podem mudar sua sorte. Os condenados<br />

podem reencarnar e pagar seus pecados, assim também os que chegaram à divindade<br />

podem gastar seus méritos e voltar ao mundo humano. Nenhum estado é definitivo.<br />

Só pessoas muito puras, com grande espiritualidade podem renascer diretamente nos<br />

céus, sem a necessidade de retornar a outras reencarnações. Para isto, os budistas se esmeram<br />

na meditação. O próprio Buda é entendido como um SH que chegou ao Nirvana<br />

e nunca mais precisa reencarnar COOGAN, 2007, p.176).<br />

Alguns Budas iluminados deixaram poder em seus nomes. Por exemplo, quem ao<br />

morrer, pronunciar seu nome, renasceria na Terra Pura.<br />

Escritos<br />

B<br />

Buda não considera seu ensino como doutrina revelada, mas antes,<br />

como resultado lógico de sua iluminação. Ele não tem a pretensão de<br />

ensinar verdades absolutas, ele apenas quer ensinar o melhor caminho,<br />

nunca negando que outros caminhos possam existir. Uma vez<br />

que o SH tenha chegado ao nirvana, não precisa mais da doutrina.<br />

Não ensinava verdades absolutas, ou dogmáticas. Dizia a seus interlocutores: “Vem e<br />

experimenta tu mesmo”. Seus ensinamentos são ofertas, não mandamentos. Revelação<br />

seria, então, a luz que ilumina Buda e seus grandes cooperadores, mestres que realçaram<br />

os ensinamentos de Buda. Ele nada escreveu. Seus discípulos compilaram seus ensinamentos,<br />

depois de sua morte. Mas ao longo de 45 anos de missão, anunciou 84.000 ins-<br />

Bruno Glaab 3


Fenômeno Religioso - Budismo<br />

truções de seu caminho de salvação 4 . Tudo era Tradição<br />

Oral, só 500 anos mais tarde se escreve os ensinamentos de<br />

Buda (COOGAN, 2007, p.172). Antes de serem livros, seus<br />

ensinamentos eram recitado de cor pelos monges. O primeiro<br />

escrito vem do Pali (Índia Central). Este escrito é também<br />

chamado de Cânon Páli (três cestos). Existem ainda fragmentos<br />

de assembleias de outras escolas antigas, sobretudo chinesas,<br />

bem como o Cânon Tibetano (108 volumes).<br />

Doutrina<br />

Textos budistas são frequentemente recitados e copiados como ato de devoção, e é comum, especialmente<br />

na tradição maaiana, colocar textos em altares como objetos de adoração, junto com<br />

imagens de Buda, ou no lugar delas” (COOGAN, 2007, p.180).<br />

Buda não se apresenta como um Deus, nem sequer um enviado de<br />

Deus. Os fiéis fazem oferendas para as imagens de Buda. Isto, no<br />

entanto, não significa adoração. Antes, quer significar comunhão<br />

com os méritos de Buda. Na realidade, o Budismo não se entende<br />

apenas como uma religião, mas também como um sistema filosófico<br />

e ético que busca trazer o equilíbrio e superar o sofrimento. Para o<br />

Budismo os deuses não desempenham nenhum papel. Os deuses são<br />

seres que estão no topo dos ciclos das reencarnações. Ou seja, Buda<br />

deu pouco valor aos deuses. “ocupar-se com deuses e forças sobrenaturais apenas iria<br />

afastar do objetivo, que é iluminação” (SCHERER, 2005, p.44). Os deuses, segundo<br />

Buda, nada têm a ver com a situação humana, nem podem ajudar ao SH, uma vez que<br />

eles apenas estão cumprindo um ciclo. Buda nunca negou deuses e anjos, mas eles próprios<br />

estão dentro do jogo das reencarnações e por isto, podem sofrer e invejar o SH,<br />

mas para quem segue o caminho de Buda, os deuses e demônios não são nenhum perigo.<br />

Alguns demônios são também deuses. Os SHs que avançam muito na virtude, tornam-se<br />

bodisatvas (futuros budas) adquirem poderes celestes. Já poderiam ser budas e ir<br />

para o Nirvana, mas, por opção livre e por amor, adiam tal estado para poder guiar os<br />

humanos por mais tempo (COOGAN, 2007, p.172). Assim, entre os Mahayanos conservam<br />

um panteão de semidivindades, ou seja, bodisatvas.<br />

Sua doutrina, o dharma, não é entendida como uma revelação divina, mas como<br />

um meio de superar o sofrimento, ou seja, este é seu caminho de salvação. Por isto<br />

mesmo, as diversas escolas budistas se relacionam com parcimônia, pois nenhuma escola<br />

encara seus ensinamentos como absolutos. O próprio Buda via suas instruções como<br />

meios apropriados e não como verdades absolutas (SCHERER, 2005, p.25).<br />

A primeira das profundas percepções de Buda foi o conhecimento sobre seus nascimentos passados.<br />

Ela foi seguida pelo conhecimento do nascimento de todos os outros seres e, finalmente, pela<br />

compreensão das Quatro Nobres Verdades: a verdade do sofrimento, a verdade da origem do<br />

sofrimento, a verdade da cessação do sofrimento e a verdade do Caminho” (COOGAN, 2007,<br />

p.171).<br />

O Budismo herdou do Hinduísmo a crença na Reencarnação, ou seja, o SH está<br />

num ciclo de reencarnações onde ele vai evoluindo, ou mesmo regredindo em vista de<br />

atos realizados em reencarnações anteriores, até chegar ao nível perfeito. O objetivo é<br />

4 Embora haja, hoje, muitas escolas ou tendências budistas, todas as escolas se valem destas<br />

84.000 instruções.<br />

Bruno Glaab 4


Fenômeno Religioso - Budismo<br />

romper este ciclo de reencarnações e chegar ao Nirvana, que quer<br />

dizer extinção, ou ainda, repouso indescritível. Não acredita num Ser<br />

Supremo, que premia os bons ou castiga os maus. Não sacrifica<br />

animais, nem aceita as castas. Ensinou quatro verdades: 1) tudo é<br />

dor, 2) a dor vem do desejo, 3) é preciso mitigar o desejo, 4) existe<br />

um caminho correto e justo para chegar à indiferença frente felicidade<br />

e à infelicidade, o que leva ao verdadeiro sentido da vida (DE-<br />

LUMEAU, 2000, p.313).<br />

Os princípios de sua doutrina podem ser assim descritos:<br />

1) O Budismo é via média entre o luxo excessivo e a ascese excessiva;<br />

2) A vida é sofrimento: tudo é passageiro;<br />

3) A causa do sofrimento é o desejo: a ilusão;<br />

4) Desfazendo a ilusão, o sofrimento é desfeito;<br />

5) Há um caminho óctuplo para superação do desejo/sofrimento:<br />

5.1 – Atitude interior: 1) reta contemplação e 2) reta decisão<br />

5.2 – Agir moral: 3) reto falar, 4) reto agir, 5) reto ganhar a vida<br />

5.3 – Meditação: 6) reto esforço, 7) reta atenção, 8) reto aprofundamento<br />

(COOGAN, 2007, p.185).<br />

O desejo último do Budismo é acabar com o sofrimento e chegar à iluminação.<br />

Para isto o SH precisa penetrar na doutrina para assim se libertar da ilusão do eu. Em<br />

seguida vem a iluminação (experiência da alegria atemporal). Assim já se terá o nirvana<br />

antes da morte, apenas cumprindo o carma. Com a morte se chega ao nirvana absoluto.<br />

O SH está numa posição privilegiada sobre todas as demais criaturas, pois é o<br />

único que pode buscar a iluminação e interferir no ciclo das reencarnações, mudando a<br />

sorte. Pelos seus atos, o SH planta seu futuro de acordo com a lei da causa e efeito<br />

(karma).<br />

O Absoluto não é divino, é apenas o estado último das coisas,<br />

assim como as coisas são. O deuses fazem parte deste todo, ou<br />

seja, são também limitados dentro do todo. Ou ainda, o Absoluto<br />

está acima dos deuses.<br />

As diversas reencarnações são entendidas como consequência<br />

dos atos de cada pessoa. Os atos de cada indivíduo estão debaixo<br />

do carma (causa e efeito). Ou seja, algumas consequências<br />

dos atos são sentidos ainda nesta vida. Outras consequências só se farão sentir em<br />

próximas reencarnações. “Após a morte, a lei da causa e efeito nos obriga a continuar<br />

uma nova existência. Não há nenhuma instância superior que nos julgue, recompense ou<br />

perdoe: são nossas próprias decisões que nos julgam” (SCHERER, 2005, p.61). O que<br />

hoje eu faço, será colhido no futuro, talvez em outras reencarnações.<br />

Para Buda não existe alma, nem eu. Existem estados mutantes que voltam a se<br />

condicionar, como a pedra de dominó que produza na próxima pedra o que com ela<br />

aconteceu. A reencarnação, diferente do Hinduísmo, não é transmigração de almas, mas<br />

simplesmente a continuação de causa e efeito.<br />

A morte é a dissolução de uma pretensa pessoa, mas a lei da causa e efeito (carma)<br />

gera nova existência. Não é a alma que migra, mas a lei da causa e efeito que provoca<br />

isto. Existem sempre novos renascimentos, assim o sofrimento, a dor e a morte se<br />

perpetuam. Pode-se renascer como um ser infernal, animal ou mesmo deus. No fim do<br />

ciclo da reencarnação virá a plena iluminação, chega-se então ao nirvana (extinção), ou<br />

seja, lugar sem sofrimento, onde já não há mais desejo. O indivíduo é absorvido pelo<br />

Bruno Glaab 5


Fenômeno Religioso - Budismo<br />

vazio. Com esta extinção, extingue-se também o carma. Logo, o sofrimento acaba. Mas<br />

tudo isto não está fora do mundo.<br />

Pode-se sintetizar assim:<br />

“Os ensinamentos do budismo têm como estrutura a ideia de que o ser humano está condenado a<br />

reencarnar infinitamente após a morte e passar sempre pelos sofrimentos do mundo material. O<br />

que a pessoa fez durante a vida será considerado na próxima vida e assim sucessivamente. Esta<br />

idéia é conhecida como carma. Ao enfrentar os sofrimentos da vida, o espírito pode atingir o estado<br />

de nirvana (pureza espiritual) e chegar ao fim das reencarnações.<br />

Para os seguidores, ocorre também a reencarnação em animais. Desta forma, muitos seguidores<br />

adotam uma dieta vegetariana.<br />

A filosofia é baseada em verdades: a existência está relacionada à dor, a origem da dor é a falta<br />

de conhecimentos e os desejos materiais. Portanto, para superar a dor deve-se antes livrar-se da<br />

dor e da ignorância. Para livrar-se da dor, o homem tem oito caminhos a percorrer: compreensão<br />

correta, pensamento correto, palavra, ação, modo de vida, esforço, atenção e meditação. De todos<br />

os caminhos apresentados, a meditação é considerada o mais importante para atingir o estado<br />

de nirvana.<br />

A filosofia budista também define cinco comportamentos morais a seguir: não maltratar os seres<br />

vivos, pois eles são reencarnações do espírito, não roubar, ter uma conduta sexual respeitosa,<br />

não mentir, não caluniar ou difamar, evitar qualquer tipo de drogas ou estimulantes. Seguindo<br />

estes preceitos básicos, o ser humano conseguirá evoluir e melhorará o carma de uma vida seguinte”<br />

(http://www.suapesquisa.com/budismo/).<br />

Reformas<br />

N<br />

o Budismo as reformas são vistas apenas como deslocamento de enfoque<br />

das doutrinas de Buda. Por isto elas não representam maiores conflitos. O<br />

Budismo tem grande capacidade de adaptação às culturas e também às novas épocas.<br />

Nos primeiros séculos da era crsitã, o Busdismo se expande sob duas formas: Mahaiana<br />

(veículo maior), e o Hinaiana (veículo menor).<br />

Existe um Budismo no Nepal, outro no Japão, no Sri Lanka, bem como na China<br />

e na Coréia, etc. Em cada país, ou cultura, o Budismo assume características próprias, às<br />

vezes distantes das demais. Inclusive as festas e liturgias variam muito de um país ao<br />

outro.<br />

Ética<br />

Para os Mahayanas o ideal ético é: cultivar a compaixão e a sabedoria. Todo Bodisatva<br />

(candidato a Buda – iluminado) faz profissão pública de assumi-los: “Que eu me<br />

torne um Buda para o bem de todos os seres” (COOGAN, 2007, p.184). Pela compaixão<br />

o candidato a Buda busca aliviar o sofrimento alheio. Quer ajudar os outros a atingir o<br />

Nirvana, ainda que, para isto, deve adiar a própria entrada nele. Pela sabedoria o fiel assume<br />

a contemplação em vista de desfazer as ilusões para se livrar dos sofrimentos.<br />

Tudo a que Buda se propõe, é em vista de superar os problemas<br />

da dor, o que ultrapassa a isto, é desnecessário. Um discípulo de<br />

Buda, chamado Malunkyaputta questionou o mestre: “De que<br />

forma foi criado o mundo?” e “Buda existirá após a morte?”. O<br />

discípulo ainda afirmou: “não vou escutar seus ensinamentos an-<br />

Bruno Glaab 6


Fenômeno Religioso - Budismo<br />

tes de me responder estas questões”. Buda responde ao curioso: Malunkyaputta é como<br />

um homem ferido por uma flexa envenenada. Só deixa o médico tirar a flexa se este lhe<br />

explicar qual o veneno da mesma e quem a lançou. Assim, a especulação só é válida se<br />

ajuda a tirar a flexa, se não ajudar, perde completamente o sentido. Tudo o que o budista<br />

deve questionar, é como tiriar a flexa envenenada e como chegar ao Nirvana. O resto<br />

não importa. É especulação desnecessária que não leva a nada e só faz perder tempo.<br />

Por isto Buda só reflete o que possa resolver o problema do sofrimento.<br />

O Budismo se expressa em três princípios:<br />

1) Conduta ética – evitar o mal – evitar punição<br />

2) Disciplina mental – concentração – eliminam os desejos: sofrimentos.<br />

3) Conhecimento do eu e do mundo – destrói o falso senso do eu.<br />

Nestes princípios se desenrola a lei do Karma. Ou seja, aqui está a retribuição do<br />

bem e do mal que rege os diversos ciclos de reencarnação.<br />

O Budismo tem como ética cinco preceitoss:<br />

1) Não matar<br />

2) Não roubar,<br />

3) Não ter má conduta sexual<br />

4) Não mentir<br />

5) Não ingerir álcool<br />

Para os monges existem mais cinco preceitos:<br />

1) Não comer após o meio dia<br />

2) Não usar ornamentos - luxo<br />

3) Não participar de entretenimentos ou shows<br />

4) Não usar dinheiro<br />

5) Não usar camas macias<br />

Quanto maior a generosidade nas esmolas para com os monges, tanto maior será<br />

a recompensa para a próxima reencarnação. Assim, os monges perseguem o ideal de<br />

Buda como monge e os leigos perseguem o Buda em suas encarnações anteriores,<br />

quando se preparava para sua reencarnação final em Buda.<br />

Locais sagrados e festas<br />

Buda pediu a seus seguidores que cremassem seu corpo e espalhassem as cinzas<br />

em estupas (altares). Estes locais são considerados santos e o fiel pode fazer oferenda.<br />

Os mais antigos locais sagrados eram cavernas. Havia, sempre, estátuas de Buda ou estupas<br />

para fazer oferendas. Mas nem sempre os locais sagrados são templos ou imagens.<br />

Em certos locais até marcas nas rochas, ou vales abruptos são venerados como locais<br />

por onde Buda teria passado e deixado seus sinais.<br />

Templo de Borobudur, um lugar sagrado<br />

do budismo, consutruído em uma colina no<br />

século IX: tem uma base de 122 metros<br />

quadrados e 35 metros de altura e ainda,<br />

cinco quilômetros de baixo-relevos e 500<br />

estátuas de Buda, tudo apoiado a<br />

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Fenômeno Religioso - Budismo<br />

1.600.000 blocos de pedras. A partir do século XI, uma série de cataclismas naturais e erupções<br />

vulcânicas cobriram a construção de detritos e a zona ficou abandonada até o início de 1800,<br />

quando casualmente foram localizadas as ruínas. Apenas em 1855 a imensa construção voltou à<br />

luz.<br />

O templo-montanha é composto por 10 terraços, um para cada fase do caminho espiritual verso à<br />

perfeição, divididos em três níveis, correspondentes às três esferas budistas: isso representa a es-<br />

trutura do universo e influenciou as escolhas dos arquitetos que realizaram o templo de Angkor,<br />

na Comboja (http://www.viajandoblog.com/post/2791/borobudur-o-maior-templo-budista-do-<br />

mundo).<br />

Os templos Budistas têm uma estrutura cósmica. Geralmente a<br />

parte central lembra o monte Meru (centro do mundo), os guardasóis<br />

lembram os níveis dos céus onde ficam os deuses, acima um<br />

lugar vazio onde moram os Budas (que se dedicaram à meditação)<br />

e os Bodisatvas (candidatos a Budas). Os fiéis circundam estes locais<br />

para reverenciar Buda e estar em comunhão com o centro do<br />

cosmos.<br />

O lugar mais sagrado, ou centro sagrado é o Bodhimanda, em<br />

Bodh Gaya. Julgam que ali se deu o despertar de Buda e alguns<br />

creem que todos os budas despertam neste<br />

local. Este local é visto como o topo do trono<br />

de diamante que descia até o centro do<br />

mundo. Mas também existem outros montes<br />

vistos como trono de Buda, ou assentos<br />

de iluminação: Kailasa, no Tibete; Wutai,<br />

na China (COOGAN, 2007, p.188).<br />

No Sri Lanka e em outros países teravadas do sudeste<br />

da Ásia, a festa budista mais importante é o Dia de Buda, ou Vishakha Puja, que cai no dia da<br />

lua cheia no mês lunar de vishakha (abril/maio), O festival comemora o nascimento, a iluminação<br />

e a morte de Buda. Nessa ocasião, os devotos visitam os mosteiros, veneram altares ou imagens<br />

de Buda e ouvem sermões tradicionais sobre sua vida (COOGAN, 2007, p.191).<br />

Mas nem todos os Budistas celebram as mesmas festas. No Tibete as festas não<br />

coincidem com o Sri Lanka. Inclusive os acontecimentos celebrados são outros. Uns celebram<br />

a concepção de Buda, outros algum de seus ensinamentos, outros ainda, alguma<br />

relíquia, etc.<br />

Em Mianmar há um conjunto especial de ritos infantis que inclui as cerimônias da gravidez, do<br />

nascimento, da lavagem da cabeça, da escolha do nome, do furo da orelha das meninas e da raspagem<br />

dos cabelos dos meninos (COOGAN, 2007, p.190).<br />

Muitos ritos perdem seu sentido Budista, uma vez<br />

que há grande mescla de elementos xintoístas,<br />

confucionistas, etc. não obstante isto, na maioria<br />

destes ritos se fazem presente os monges que são,<br />

por assim dizer, o símbolo do Budismo.<br />

Os funerais são bastante típicos. Geralmente os<br />

monges são chamados para estes momentos. Celebram<br />

atos anuais pelos mortos com oferendas,<br />

ou pela memória dos mortos. Os funerais duram<br />

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Fenômeno Religioso - Budismo<br />

diversos dias. Com os ritos fúnebres pretende-se aumentar os méritos dos falecidos para<br />

ajuda-los numa próxima reencarnação.<br />

Hoje<br />

A comunidade Budista tem quatro divisões: Monges, Monjas,<br />

leigos e leigas. Os monges vivem vida radical e não se guiam<br />

pelos caminhos dos leigos. Aos leigos cabe viver a vida cotidiana:<br />

família, trabalhos, mantém a ordem, etc. Inicialmente os monges<br />

viviam como caminhantes, hoje são mais fixos. Criaram assim mosteiros<br />

que são sustentados pelos reis e pelos ricos que com isto lucram<br />

méritos nas reencarnações. Seus mosteiros tornaram-se centros<br />

de cultura: filosofia, artes, literatura, etc. Hoje, o grande monge,<br />

conhecido em todo mundo, é o Dalai Lama.<br />

Mais de 500 milhões de SH professam o Budismo. Ele é forte na China, onde<br />

chegou no século I da era cristã e é, hoje, um dos grandes credos. Lá o Budismo sofreu<br />

grande assimilação, incorporando elementos locais de religiões locais anteriores. Da<br />

China foi para o Tibet, Japão, Coréia, etc. onde conseguiu grande adesão do povo.<br />

No ocidente o Budismo só se torna conhecido a partir de 1850. Um coronel americano,<br />

Henry Olcott e a uma mística russa, Helena Blavatski 5 que o divulgaram na<br />

América e na Europa. Hoje tem raízes em quase todo mundo (COOGAN, 2007, p.175).<br />

No século XX os templos budistas começaram a surgir, também na Europa e nos EUA.<br />

No Brasil chegam a 215.000 pessoas, oriundos da imigração<br />

japonesa. Hoje existem mais de 100 templos budistas<br />

no Brasil. O mais próximo a nós é o Templo Budista<br />

de Três Coroas – RS<br />

Em 1991, S.Em.ª Chagdud Tulku Rinpoche visitou o Brasil pela<br />

primeira vez. Em 1994, foi convidado para vir ao Rio Grande do<br />

Sul. Encantado com a beleza da serra gaúcha e com o interesse dos<br />

praticantes pelo budismo, Rinpoche procurou terrenos na região<br />

para estabelecer um centro. Em 1995, Rinpoche mudou-se para onde hoje está o Khadro Ling. O<br />

centro contava apenas com poucas construções.<br />

Em 2000, doze praticantes entraram em retiro em uma casa especialmente feita para retiros. Cinco<br />

deles fizeram o primeiro retiro de três anos no Brasil sem contato com o mundo externo. Essa<br />

é uma prática comum no Tibete, mas, até então, ainda nova no Ocidente, em especial na América<br />

Latina.<br />

Em 2001, um novo prédio começou a ganhar vida: a Casa Amitaba, parte integrante de um programa<br />

educacional dedicado a diversas ações que lidam com cuidados paliativos, apoio ao luto e<br />

prevenção ao suicídio entre jovens.<br />

Mudança de rumos<br />

Em novembro de 2002, durante um retiro com a presença de 250 praticantes de todo o país, Rinpoche<br />

morreu após dois dias de ensinamentos e intensa prática espiritual. Incansável, ele ensinou<br />

5 Mentora da Nova Era.<br />

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até tarde da noite de sábado, 16 de novembro. Sua morte aconteceu na madrugada do dia 17 de<br />

forma extraordinária. Por seis dias, ele permaneceu em um estado de profunda meditação antes<br />

de a consciência deixar seu corpo.<br />

A presença física de Rinpoche foi uma grande inspiração, porém sua morte não comprometeu a<br />

continuidade de suas atividades. Se o corpo partiu, sua energia se manteve impulsionando lamas<br />

e praticantes. Sua esposa, Chagdud Khadro, assumiu a direção espiritual do centro: ensinando,<br />

inspirando e realizando projetos (http://kl.chagdud.org/historia/).<br />

Conclusão<br />

O Budismo é um fenômeno religioso presente em todo mundo, inclusive entre<br />

nós brasileiros. Mesmo que seus números não sejam assim tão significantes, a influência<br />

de sua prática religiosa se faz sentir de forma bastante forte, tanto nas práticas de<br />

meditação como nas doutrinas reencarnacionistas, entre outras.<br />

Conhecer este universo religioso é, acima de tudo, estar preparado para o grande<br />

espírito ecumênico que hoje somos convidados a viver.<br />

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