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AUGUSTO CÉSAR ESTEVES<br />
- O HOMEM, A VIDA, A OBRA ...<br />
O real serve-nos apenas para construir melhor<br />
ou pior, um pouco de ideal. Talvez não seja<br />
útil para nada mais.<br />
Anatole FRANCE - Le Jardin d'Epicure<br />
1. Um português de Melgaqo ou o enorme peso das raízes<br />
Escrever sobre uma pessoa é fácil ou difícil conforme as perspectivas, os<br />
elementos biográficos que tivermos ao nosso dispor, a distância no tempo, a<br />
nuvem que o encobriu depois da sua morte, o manto mitológico que se<br />
distendeu sobre a sua figura.<br />
Quanto a Augusto César Esteves poder-se-á afirmar, sem grande margem<br />
de erro, que para a maioria dos melgacenses ainda vivos, com menos de<br />
cinquenta anos de idade, ele não existiu. Nem uma praça, uma rua, nem sequer<br />
um beco ou uma travessa, lembravam até 9 de Agosto de 2003 (data em que se<br />
fez finalmente justiça) o seu nome, a sua obra, a sua passagem pelo mundo!<br />
Atribuir culpas a este ou àquele, dizer que foi esquecido de propósito, seja<br />
pelos políticos, seja pelos críticos, isso seria fugir à verdade, menosprezar o<br />
tempo e os interesses individuais e colectivos que estão na origem de tal<br />
fenómeno.<br />
Quando Augusto Esteves morreu em 1964 já o concelho de Melgaço estava<br />
a sofrer uma transformaçâo profunda, uma metamorfose sem paralelo na sua<br />
história. E por quê? Porque em 1961 começou a guerra colonial em várias<br />
frentes e os jovens começaram a debandar, tal como sucedeu em todo o país<br />
de norte a sul. 0 s mais novos não estavam preparados ideológica, nem<br />
psicologicamente, apesar de toda a doutrinação salazarista, para morrer nas<br />
matas africanas. Voltaram-se, por isso, para a França, para a Alemanha, para o<br />
Luxemburgo, a Suíça ... Alguns anos mais tarde casaram, levaram as esposas, os<br />
sogros, os cunhados, toda a gente. O concelho ficou sem imensa gente! A<br />
elite, se 6 que se pode chamar elite a um pequeno grupo de pessoas letradas: o<br />
OBRAS COMPLETAS I I