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O ônus e o bônus - Caramelo Arquitetos Associados

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O <strong>ônus</strong> e o b<strong>ônus</strong><br />

Já fazem muitos carnavais desde os anos dourados onde tudo era permitido dentro do bom senso. Sem tantas leis<br />

para tudo e toda alegria valia até o muro do vizinho, pois é, é desde o tempo em que a velha FAU/ BA – Faculdade<br />

de Arquitetura e Urbanismo Federal da Bahia ainda ocupava acanhados barracões de madeira prensada no bairro da<br />

Federação onde hoje tem fincada os pés de concreto e aço que muita água já passou em baixo da ponte e muitos<br />

verões e natais já se foram. Bons tempos aqueles, me deixam com a cara patética lembrando Casimiro de Abreu,<br />

emoções vividas e bem guardadas, registros marcantes, paixões declaradas em pinceladas vigorosas nas cores<br />

fortes da adolescência ou “adultecência” precoce e pretensiosa. Ouvia-se Bossa Nova e MPB com Chico Buarque,<br />

Ivan Lins e Gonzaguinha.<br />

Em livros éramos apresentados aos escritores Gorki, Dostoyewski, Puskin, também aos arquitetos Mies, Frank,<br />

Corbusier, lá, Lúcio e Oscar aqui.<br />

Em 64 após 31 de março, Vilanova Artigas chama atenção para a FAU/ Brasília, acontece a reforma do ensino, São<br />

Paulo respira concreto com Paulo Mendes, Otake, Miguel Juliano, Teperman, Rino, Demétrio, Vasco, Zanettini hoje<br />

devoto do aço... Meu Deus como sou injusto! Deveria citar tantos outros colegas mais, antes e depois desses<br />

lembrando que a mesma época no Rio de Janeiro, Joaquim Guedes, Paulo Casé, Índio da Costa, Sergio Bernardes e<br />

muitos mais ainda em outras paragens, davam com igual importância e grande talento suas contribuições que<br />

marcaram de forma indelével a história arquitetônica de nossas cidades, nosso país e nossas vidas em particular, em<br />

especial a minha como estudante de arquitetura, fora do eixo dos acontecimentos, Rio/ São Paulo.<br />

Nessa época, eu aqui na velha São Salvador como cantou Caymmi, quando era interpelado sobre o que cursava,<br />

tinha que ouvir como comentário: Há! Arquitetura... Você está estudando para “desenhar” casas, não é isso? Era isso<br />

aí, nem mais nem menos, exceto para alguns poucos esclarecidos, digo pessoas estudadas, “doutores” como eram<br />

chamados aqueles sem titulo, mas, com poder e dinheiro, assim era. Atenção! Não confundir com “coronéis” que é<br />

outra coisa, pois bem, o importante é que embora fossem bicudos os tempos em razão da psêuda politização binária,<br />

formada pelo americanismo yankee e a antagônica militância de esquerda intelectualizada apoiada pelos colegas pro<br />

foice e martelo, ambas de fora para dentro, mas, se dizendo nacionalistas como fizeram catequistas religiosos<br />

brancos ao tentarem impingir o catolicismo enquanto os negros a umbanda e o candomblé, não sobrando nada para<br />

os verdadeiros brasileiros bronzeados adoradores de tupã. Bem, “como tudo que era bom vinha de fora”, regra<br />

básica ou voz corrente nessa ocasião, imaginem o que acontecia com a arquitetura? Alias justiça se faça a Severiano<br />

Porto, para eu não subir com mais esse pecado, que com a licença da palavra, se embrenhou pelas matas ao Norte<br />

de Brasil, se deixando influenciar pelas “OCAS”, primeira Arquitetura vernácular verdadeiramente nacionalista, para<br />

criar a mais autentica arquitetura brasileira, o que lhe proporcionou justos e merecidos prêmios.<br />

Voltando a nossa arquitetura e aos idos anos 60/ 70 do concreticismo ou brutalismo da arquitetura Paulista dos anos<br />

70 como ficou marcada, eram nervosos os tempos, ansiedade a TOP muita repressão e censura pretensões a mil,<br />

Niemayer e Brasília passaram a ser medida para tudo e presença obrigatória em todas as rodas de conversas onde o<br />

assunto versasse sobre moda, arte e, sobretudo arquitetura. Uns o amavam incansavelmente, outros criticavam de<br />

forma acida e virulenta, mas, sempre e todos de forma apaixonada e quase sempre baseados de forma ansiosa na<br />

mensalmente aguardada Revista “A Acrópole”, bíblia arquitetônica para quem não tivesse acesso as estrangeiras<br />

como L’Architecture D’Aujourd’hui, Domus, etc de modo a estar sempre antenado na última palavra do que fosse<br />

moderno, vanguarda, inovação. A vez e a crença era nos modernistas, assim, nossa arquitetura acabou influenciada<br />

por muitos mestres como Kenzo, Corbusier, Khan, Stirling, Frank, Mies, AAlto, dentre outros.


Nessa ocasião sonhar era tão importante quanto respirar, sem o que morreríamos.<br />

Quanta saudade... mas, a vida é um somatório de presentes. Estudava-se muito, defendia-se o “modernismo” de<br />

Aflalo, Croce e Gasparini, Jorge Wilheim, Oscar, Villavecchia, Flavio Penteado. Quando seria possível a nós<br />

estudantes brincarmos com aquela liberdade de formas e escala tão monumental, quem não sonhou a época fazer<br />

algo assim? Brasília impregnava a todos com sua modernidade e modernismo, que fez possível ver por sobre as<br />

quatro paredes da caixa em que estivemos presos!<br />

Respirávamos novos tempos, tínhamos fome e sede de saber, a liberdade de expressão e a aparente falta de limites<br />

para a criação eram mais importantes até que comer, muitas vezes esquecíamos de fazê-lo, era o sonho superando<br />

a realidade, o desejo suprimindo a necessidade, a felicidade dando sentido a vida. Embora estejam no “passando<br />

todos esses fatos, já sejam invernos, ou casos de outrora, ou apenas lembranças, são memórias fotografadas por<br />

nossas retinas e dominam nosso imaginário no presente, são registros que se manifestam contra o estático, são<br />

memória viva que uma vez tendo sido libertária nos faz sonhar porque nos viciaram em não usar freios na<br />

imaginação e nos motivam e motivarão sempre onde quer que exista vida, fazendo voltar o cheiro, o gosto, o som, o<br />

desejo, a alegria de brincar de Deus, porque só Deus cria, cria e ilumina quem teve o <strong>ônus</strong> de aprender com a vida a<br />

ter o b<strong>ônus</strong> de sonhar com a felicidade criando o futuro.

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