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UM MANICACA - Pro Campus

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OBRAS INDICADAS PELA<br />

COPEVE - UFPI<br />

RES<strong>UM</strong>O DE OBRA<br />

<strong>UM</strong> <strong>MANICACA</strong><br />

ABDIAS NEVES


COLÉGIO PRO CAMPUS - “A PAZ ESTÁ NA BOA EDUCAÇÃO” - OBRAS INDICADAS - COPEVE - UFPI<br />

“A PAZ ESTÁ NA BOA EDUCAÇÃO”<br />

<strong>UM</strong> <strong>MANICACA</strong><br />

ABDIAS NEVES<br />

<strong>UM</strong> <strong>MANICACA</strong><br />

Abdias Neves<br />

Apesar de a crítica literária, até mesmo do Piauí diminuir a obra não dando a ela o valor merecido por<br />

sua bravura em desbravar terras até então inaptas, percebemos valor formal neste obra de grandeza gigantesca<br />

para esta terra chamada Piauí.<br />

O que difere “Um Manicaca” de outras obras literárias brasileiras e a geografia. As mais comentadas,<br />

divulgadas e portanto, valorizadas são aquelas escritas no Sudeste e que retratam paisagens de cidades em<br />

plena evidência que servem de cobiça para toda a população roceira do restante do Brasil.<br />

Em se justificado o termo “roceira” quero frisar que, no Brasil de 1900 apenas o Rio de Janeiro possuía<br />

mais de 600 mil habitantes. São Paulo, por exemplo, beirava 300 mil e todas as outras cidades não seriam mais<br />

do que “cidadinhas”, pequenas, subdesenvolvissimas e com precarissimas rede de urbanização.<br />

O Rio era, para todo o restante do Brasil a apoteose, a lucúria, exercendo influências grandiosas em<br />

todos que, gostariam de para lá ir morar. Não é a toa que esta cidade de menos de um século chegou a mais de<br />

dez milhões de habitantes e São Paulo a 16 milhões de habitantes.<br />

Mas o que interessa é Um Manicaca. Obra realista / naturalista que tem por objetivo narrar os fatos<br />

num ponto de vista do Positivismo. Percebemos que o Positivismo era crescente a partir da última década do<br />

século XIX. A questão da traição de Júlia ao marido Araújo. A constante crítica acirrada a ideologia do catolicismo<br />

que utiliza a mulher em função de combate à maçonaria. Os homens defendiam a maçonaria enquanto as<br />

mulheres e combatiam dizer representar o signo do diabo. Chaves / Eufrasina, marido / mulher viviam em constante<br />

combate, porque ele era maçom e ela católica praticante e fanática.<br />

A divergência de católicos x maçons representando diferentes provoca censuras em toda a sociedade.<br />

A Igreja prega o culto ao diabo praticado pelos maçons como forma de amedrontar a população. O maior intuito<br />

da Igreja era impedir o constante e crescente crescimento da maçonaria.<br />

Num contexto mais amiúde. Um Manicaca quer na verdade apresentar Teresina não somente como<br />

um cenário, pano de fundo para o desenrolar da obra. Quer mais. Apresenta-a como uma personagem que marca<br />

aqueles que a apresenta ao público leitor.<br />

A obra de Abdias Neves representa muito mais que uma obra positivista / naturalista. Representa a<br />

sociedade Piauiense que naqueles tempos, onde o grande intuito do homem rural era sair em busca de melhores<br />

condições em regiões fora do estado. Enquanto o homem urbano quer apenas comercializar. Justificativa importante<br />

para se compreender o alto custo de vida naquela cidade. Apesar do tema central estar centrado na traição – no<br />

fanatismo católico – na maçonaria, triângulo que permite Abdias entrar para a história literária, quer a obra ir além<br />

desta discussão. Quer apresentar a Teresina do final do século XIX e introduzi-la ao século XX, com a cara de uma<br />

cidade plenamente atrasada. Onde quem detém a verdade do conhecimento são os bacharéis formado em Recife<br />

na escola de direito. No entanto, este quadro precário não é apenas no Piauí; mas sim de todo o Brasil, excetuando,<br />

claro o Rio de Janeiro e São Paulo.<br />

tempos.<br />

CAPÍTULO I<br />

Neste capítulo I, percebemos as duras críticas do autor quanto ao comportamento social daqueles<br />

A bajulação, o falar mal da vida alheia, a necessidade do casamento como forma de proteção econômica<br />

e também do falatório social em relação a uma moça solteirona, sem casamento.<br />

Candoca era a irmã mais velha das quatro filhas que tinha João de Souza, as outras filhas Miloca,<br />

Rosinha e Marieta.<br />

- Nenhum. Era noivo manicaca.<br />

As moças riram-se. – Manicaca é o que e dirigido pela noiva, é o marido governado pela mulher. Manicaca?<br />

Repetiram rindo-se, as moças.<br />

Eram, além de Miloca, três filhas de um velho peralta, o João Sousa, antigo empregado da província, já<br />

aposentado. A mais velha, a Candoca, a mais alta e a menos bonita, era uma solteirona rabugenta, senhora de<br />

um nariz respeitável que prometia bom pois para os óculos futuros.<br />

A obra faz também referência à moeda que o país utilizava na época; o mil Réis.<br />

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COLÉGIO PRO CAMPUS - “A PAZ ESTÁ NA BOA EDUCAÇÃO” - OBRAS INDICADAS - COPEVE - UFPI<br />

“A PAZ ESTÁ NA BOA EDUCAÇÃO”<br />

O tipo social que Abdias Neves mais criticou foi aquele que hipocritamente fazia o que a conservadora,<br />

subserviente e amoral sociedade ditava como normas de ética de boa conduta. Quase sempre quem ditava o grau<br />

de pecado de cada erro era a Igreja. Católica. Foi ela a mais criticada pelo autor que não a vida com moral<br />

suficiente para determinar nada, afinal ela imortalmente cobrava os casamentos, batizados, missas encomendadas.<br />

Muitas o pais tentara intervir. – Era demais. Não tinha olhos? O padre é um ganhador: uma missa custa<br />

tanto; um batizado, tanto; um casamento, tanto. Se o pobre não tem dinheiro, o filho morre-lhe pagão; não se<br />

casa na Igreja; não se enterra. A Igreja é uma para o pobre e outra para o rico. Os ricos merecem tudo, o pobre,<br />

nada. A questão é de dinheiro. Por que o padre não faz como Cristo? Cristo jamais vendeu os sacramentos.<br />

Cristo era pobre, o padre é rico, e não faz esmolas, e não reza uma novena, e não faz um sermão, não faz nada,<br />

se os devotos não pagam seus serviços. E indagava:<br />

- Já ouviste que um padre rezasse uma missa por sua conta, ou de outro padre? Já ouviste que fizesse<br />

uma festa sacra sem o dinheiro do povo? Não sabes que as crianças morrem sem o batismo se faltam dez<br />

tostões a importância que a Igreja exige, e morrem porque ali não se faz nada por menor? E terminava, convencido:<br />

- Dize” Anda! É, ou não, uma religião do dinheiro? Jesus foi assim? Não foram os padres que inventaram o<br />

batismo, e as cerimônias do casamento, e os dobres de sino, para ganharem a vida enriquecerem? – Queres ver<br />

a sua moral? Indagava, ainda Jesus dizia que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um<br />

rico entrar no céu: o padre é rico e não há, mesmo, profissão mais rendosa. Jesus mandava fazer bem ao inimigo<br />

e perdoar-lhe as ofensas: o padre persegue os que não lhe dão dinheiro, injuria-os do púlpito e da imprensa.<br />

CAPÍTULO II<br />

No capítulo II trata-se da chegada de Pedro Gomes, a mulher e a filha Júlia a Teresina. Pouco tempo depois<br />

a mulher de Pedro Gomes morreu. Este porém teve que tomar conta da filha. Abriu uma botequita e progrediu<br />

muito, a ponto de alguns anos depois já fazer figura na capital Piauiense. A filha Júlia já era moça. Prepotente e<br />

insuportável não era bem aceita socialmente. Entrou na escola da Sinhá Borges aos 13 anos, e aos 15 anos<br />

saíram de lá um outra pessoa. Estava destinada a casar. Mas seus propósitos demoraram porque não era bem<br />

quista junto à sociedade. Aos 18 anos conheceu o guardador de livros e namorador Luís Borges. Queria casar-se<br />

com ele. Seu pai porém impediu o casamento. Tinha interesses maiores para a filha. Pretendia casá-la com<br />

algum doutor da cidade.<br />

Num certo dia, quando foi a uma festa em Palácio deixou a filha sozinha dizendo voltar tarde, lá pelas<br />

madrugadas. Porém bebeu demais e já às onze horas estava de volta e encontrou a filha na cama com Luis<br />

Borges. Correu atrás do rapaz e disparou 5 tiros não acertando nenhum. Tratou de casar a filha com o sócio<br />

Antônio de Araújo. Um rapaz tísico, fraco, viúvo e sem vontade própria. Logo depois Pedro Gomes morre subitamente<br />

ficando Antônio Araújo a fazer tudo que a mulher queria. Amava-a. foi quando voltou do Pará o Luís Borges.<br />

Adoentado e amigo de Antônio foi convidado a entrar na sociedade do armazém. Não obtendo nenhuma resposta<br />

contrária de Júlia, aceitou. Logo depois retirou-se para uma fazenda para tratar-se da doença deixando a família<br />

e os negócios por conta de Luís Borges.<br />

CAPÍTULO III<br />

Este capítulo apresente a surpresa que Zeca fez para Rosinha, uma sua pretendente. No entanto, quem<br />

chamou mais atenção foi o Dr. Ernesto. Justamente ele, o qual o Zeca falar tão mal.<br />

A superioridade do pensamento dos habitantes do Recife sobre os de Teresina é aqui bastante enfático. Na<br />

verdade por muito tempo a cidade de Recife tomou as rédeas do que representava de progresso, de desenvolvimento<br />

no Brasil. Isto advém do ciclo do açúcar ainda no período das capitanias hereditárias. A faculdade de direito<br />

movimentava os maiores pensadores da época. Por lá passaram: Castro Alves, Lima Barreto de Azevedo e outros<br />

grande representantes das leis e da leitura brasileira.<br />

Estendeu-se muito, sobre a função da mulher na sociedade, disse que é ela quem elabora as reformas do<br />

futuro, inspirando ao homem as grandes idéias de emancipação e de justiça... Terminou fazendo a apoteose da<br />

mulher de amanhã. “livre de preconceitos, espírito lavado de superstições, esquecendo o padre para viver a vida<br />

da família, preparando os filhos para a luta.” E brindou em Rosinha a encarnação de todas as virtudes desse tipo<br />

ideal.<br />

A superstição, coisa de gente atrasada, pobre de espírito e economicamente falando representa de forma<br />

bastante vulgar e depreciativa a capital do Piauí, naqueles tempos.<br />

Não se ofendesse, continuou a outra. Não, mentira do Zeca... Mas, o que é verdade é que, quando chega<br />

um rapaz a Teresina, começa, logo, o enredo: é uma história, é uma intriga a fim de fazer prevenções contra ele.<br />

E ia continuar, quando um grito abafado de Candoca a interrompeu. Havia entrado, por um vidro quebrado da<br />

janela, uma esplêndida borboleta negra, atraída pela luz, e estava poisada na parede, em frente, agitando,<br />

mansamente, as grandes asas leves; A moça fitava-a, trêmula, assustada, vibrando toda na indefinível comoção<br />

de supersticiosos temores. – Não é bom agouro, explicou às companheiras, que sorriam. Está pr’acontecer<br />

alguma coisa. Não é a primeira.<br />

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COLÉGIO PRO CAMPUS - “A PAZ ESTÁ NA BOA EDUCAÇÃO” - OBRAS INDICADAS - COPEVE - UFPI<br />

“A PAZ ESTÁ NA BOA EDUCAÇÃO”<br />

Veja o que pensava doutor Praxedes e Dr. Ernesto da Igreja Católica e seus preceitos. Naqueles tempos<br />

reinava na Europa Ocidental (principalmente na França, Inglaterra, Alemanha, Portugal, Itália, Espanha) a filosofia<br />

do desenvolvimento, onde o industrialismo, o cientificismo (antropocentrismo) contrapunha ao religiosismo católico<br />

(teocentrismo).<br />

- Ora, seu colega, quem dá vida à igreja é a mulher. O padre tem todo o interesse em fanatizá-la, arrastandoa<br />

para a confissão que a humilha e a entrega à discrição espiritual do seu diretor; detendo-a na igreja o mais que<br />

pode, porque os perfumes que ali queimam, a música enervante que ali se ouve, aquela meia-obscuridade<br />

entorpecem, pouco a pouco, a vontade mais dominadora, amolecem o caráter, fazendo de um temperamento<br />

impetuoso um temperamento frouxo: obscurecem, pouco a pouco, a razão, obstruindo a inteligência de milagres<br />

absurdos. É assim que começa a embriaguez da crença. Escute. Há intoxicação pelo álcool, como há intoxicação<br />

pelo amor e intoxicação religiosa. A que lhe descrevi é a marcha desta última. EE ela que subjuga as massas.<br />

Pensa você, pois, que o padre vá fazer obra oposta? No dia em que ele não puder mais prender a mulher, nesse<br />

dia a religião terá desaparecido. E ele faz tudo para aprender; faz tudo por trazê-la debaixo da obsessão dos<br />

santos, dos milagres, do outro mundo.<br />

A festa na casa de Rosinha acabou com a expulsão de Zeca, após este Ter bebido demais e Ter sido<br />

grosseiro com a moça devido a ciúmes de Sr. Ernesto que dançava com ela.<br />

- Vamos! Disse ele ameigando a voz súplice, procurando sentar-se numa cadeira próxima. Por que está<br />

zangada comigo? Vamos dançar a quadrilha...<br />

Não podia. Tinha par.<br />

- Já tem par?<br />

- Sim, já tenho.<br />

- Quem é? É aquele calunga? E, como não obtivesse resposta, exaltando-se: - Julga que eu morro por<br />

dançar com você?<br />

A moça ergueu-se da cadeira para se retirar.<br />

- Vai embora? Vá! De um burro só se espera um coice. E afastou-se a passos lentos, cofiando o bigode.<br />

Uma censura geral levantou-se.<br />

- Está bêbado! Embriagou-se para Ter liberdade de dizer o que bem lhe parecesse! Afirmavam a João<br />

Sousa, que queria polo fora. Não tomasse em consideração. Iam pedir que ele se retirasse. Era mais prudente.<br />

- Retiro-me, sim, disse, quando lhe falaram. Mas a música vai comigo, não deixo para essa perua. Ou<br />

então despacho.<br />

E não houve meio de o conter. Saiu, depois de mandar embora a orquestra.<br />

CAPÍTULO IV<br />

Este capítulo trata do retorno de Antônio Araújo e Teresina, após um longo passeio pelo interior do estado.<br />

Certamente D. Júlia e Luís Borges não gostaram de ver novamente o marido de Júlia de volta, afinal, eles maritalmente<br />

na ausência de Antônio.<br />

Como Antônio estava tuberculoso, Luís Borges não mais queria fazer as refeições em sua casa, seu<br />

marido tuberculoso, a moléstia em franco progresso? Araújo não tomava precauções, comia em todos os pratos,<br />

bebia nos canecos. Era o primeiro, de propósito, e não se resguardar. Era capaz de cuspir dentro do pote para<br />

tinguijar a todos.<br />

Neste capítulo percebemos as duras críticas que Luís Borges faz à Igreja Católica. Outros, porém, também<br />

não a poupava, era, os estudante de Recife e Belém.<br />

- Não, doutor, protestou o estudante. Quanto a isso em desacordo absoluto. Não sou religioso, sou um<br />

espírito forte, emancipado das impressões da infância. Li, meditei muito e despedacei os laços que me prendiam<br />

à Igreja, Fiquei, porém, tolerante e, confesso-lhe, que vejo com simpatia não a superstição, o culto pelo padre,<br />

mas uma certa religiosidade, uma certa crença nas mulheres. É uma influência benéfica.<br />

- Ora, seu colega, quem dá vida à igreja é a mulher. O padre tem todo o interesse em fanatizá-la, arrastandoa<br />

para a confissão que a humilha e a entrega à discrição espiritual do seu diretor; detendo-a na igreja o mais que<br />

pode, porque os perfumes que ali se queimam, a música enervante que ali se ouve, aquela meia-obscuridade<br />

entorpecem, pouco a pouco; a vontade mais dominadora, amolecem o caráter, fazendo de um temperamento<br />

impetuoso um temperamento frouxo; obscurecem, pouco a pouco, a razão, obstruindo a inteligência de milagres<br />

absurdos. É assim que começa a embriaguez da crença. Escute. Há intoxicação pelo álcool, como há intoxicação<br />

pelo amor e intoxicação religiosa. A que lhe descrevi é a marcha desta última. E ela que subjuga as massas.<br />

Pensa você, pois que o padre vá fazer obra oposta? No dia em que ele não puder mais prender a mulher, nesse<br />

dia a religião terá desaparecido. E ele faz tudo para a prender; faz tudo por trazê-la debaixo da obsessão dos<br />

santos, dos milagres, do outro mundo.<br />

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“A PAZ ESTÁ NA BOA EDUCAÇÃO”<br />

CAPÍTULO V<br />

Apenas retrata o sofrimento de Antônio Araújo quanto à tuberculose. Os nervos ascendidos de Júlia devido<br />

à mudança de Luís Bastos para com ela, o fato de acreditar que Miloca, e Luís Bastos estavam gostando era<br />

outro fator do pleno descontentamento da mulher de Antônio Araújo.<br />

A chantagem de Júlia dizendo se matar, se suicidar trazia na alma de Antônio um profundo sofrimento<br />

porque acreditava que ela sofria daquela maneira por sua causa.<br />

Fora precipitado. Obedecera a um impulso de momento e, tão contrário ao suicídio suicidava-se. Houve<br />

uma revolta de todos os seus sofrimentos. Suicidando-se, pecava mortalmente. Sacrificando, de uma vez, o<br />

corpo e a alma. Que diriam seus amigos? Que escândalo! Que desgraça! Nenhum padre queria acompanhá-lo ao<br />

cemitério. Não rezariam missas por sua salvação. E tremeu. – Idiota! Voltou, porém, logo, à sua idéia absorvente:<br />

- Que veneno fora? Arsênico?<br />

- Que arsênico! Ora que maluquice!<br />

- Dissesse. Queria saber, pediu ele, com as feições transtornadas.<br />

D. Júlia afastou-se. Retirava-se. Não quis, entretanto, deixá-lo naquela persuasão e, já da de açúcar.<br />

Convencera-se Araújo, mesmo, que ela queria suicidar-se? E saiu contarolando.<br />

CAPÍTULO VI<br />

Observamos neste capítulo a franqueza do chefe de família Antônio Araújo. Percebemos que, para que<br />

aquela época, onde a família patriarcal era a única onde apenas o homem dava as ordens. No entanto, observamos<br />

que na casa de D. Júlia e Sr. Antônio Araújo, quem mandava era ela. Ele era uma manicaca deveras, porque não<br />

conseguia reagir o despotismo da esposa.<br />

Araújo e a mulher entraram juntos, mas enquanto ela fazia a escolha, abrindo os sacos, ela saiu para<br />

chamar um cangueiro que trouxesse a farinha. O plano estava executado. Apenas cruzou a porta, fechou-a e deu<br />

volta ao cadeado, antes que Araújo se refizesse do assombro.<br />

Foi somente quando ele viu a cilada em que caíra. Foi à porta. Bateu. Sacudiu-a. Tentou abri-la por dentro:<br />

nada conseguiu. Chamou: - Júlia! Deixe-se de brincadeira, veja que me zango...<br />

- Não se zangue, não, sozinho. Você está tornando vento nas celoura. Fique em paz e durma que passou<br />

a noite mal.<br />

- Júlia!<br />

- Escute: vou almoçar. Não lhe mando o almoço porque lhe não faria bem: você está zangado...<br />

- Júlia!<br />

- Não grite; ande direito, que à tardinha venho lhe dar o resultado das eleições. Adeusinho. E foi-se embora,<br />

sem se incomodar com ele. E só abriu a porta à 5 horas da tarde.<br />

Quando abriu, Araújo saiu perfeitamente convencido de que era inútil revoltar-se. Tratou-se de ser mais<br />

humilde.<br />

Como havia, pois, de invocar em seu apoio as prerrogativas de dono de casa para obrigar, agora, a esposa<br />

a fornecer-lhe explicações? Não podia. Tinha de ficar, e ficou, em dúvida, esperando que o acaso lhe desse a<br />

chave do mistério.<br />

CAPÍTULO VII<br />

Aqui o autor cria situações para demonstrar o antagonismo que havia entre estudantes de direito formados<br />

em Recife e a conservadora sociedade Teresinense.<br />

Mais uma vez o autor critica o comportamento social do povo Piauiense que estava preocupado com a vida<br />

alheia. Inventava situações num ato de “me disseram isto” que ninguém casar a filha com o Dr. Praxedes, o povo<br />

acredita ser Praxedes o interessado no casamento fazendo desse um negócio num jogo de interesses.<br />

O falatório da vida alheia chegava a tanto que ao invés de terem as moças, piedade de Mundoca que se<br />

vestia mal, humilhavam-na em pleno público com risadas estrondosas, deixando-a muito sem ambiente nas<br />

festas em que era obrigada pelo pai a ir.<br />

Continuavam, entretanto, na sala, os comentários:<br />

- Bonita mobília!<br />

- Se fosse nova...<br />

- Não é?<br />

- Qual! Esta eu conheço muito. Era de um oficial do 35º. Faz um figurão! Está bem conservada, bem<br />

limpa... E assim é o mais, tudo velho. Eu mesma não queria! E a Emília Figueiredo, que explicava isso a Rosinha,<br />

afastou uma cortina e, debruçava na janela, ultimou, torcendo o beiço num gesto de desprezo: - Um doutor! Faz<br />

até vergonha!! Comprar móveis usados!...<br />

Quando se casou com Praxedes sentiu-se vingada das amigas que pilheriavam dela, agora morriam de<br />

inveja deste casamento com o partido mais cobiçado de Teresina. O narrador também vinga-se da sociedade.<br />

Piauiense casando Mundoca com Praxedes. O tempo todo ele critica o comportamento de todas as classes<br />

sociais da capital do Piauí.<br />

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“A PAZ ESTÁ NA BOA EDUCAÇÃO”<br />

Freqüentava as reuniões dançantes apenas para satisfazer o velho. Retirava-se cedo, depois da primeira<br />

quadrilha, ansiosa por voltar ao seu isolamento. É durante o pouco tempo que ficava nos salões, que martírio!<br />

Sentia-se mal no meio da alegria ruidosa das companheiras, compreendendo, por instinto, que lhes era inferior<br />

em beleza e em elegância, percebendo que a tomavam, sempre, para troça. Faltava-lhe, e sabia, o requinte, o<br />

gosto estético que dá o trato da boa sociedade. Seus vestido ressentiam-se disto e, não raro, elas vinham em<br />

grupos de duas e três, muito sérias, com um ar de novas perguntas, - com esse prazer que nós tempos de<br />

atormentar a outrem, com esse gozo perverso que o trabalho de uma larga evolução histórica apenas atenuou,<br />

não extinguiu. E o velho rancor do homem contra o homem. É ele que explode na gargalhada que soltamos<br />

assistindo a uma queda. É ele que nos faz rir de certos defeitos que deveria, antes, causar piedade. É ele que nos<br />

leva a procurar, sempre, em redor, - em casa, na rua, nos salões, na igreja, alguém sobre quem recaia o espírito<br />

motejador que está no íntimo de cada um de nós.<br />

A superstição que tomava conta da sociedade metida pelos padres católicos é criticado pelo narrador.<br />

Calaram-se todos à espera de pormenores. Não queriam interromper o médico que concluiu, afinal, olhandoos<br />

sempre por cima dos óculos: - É um casamento de interesse, mas permita Deus que eu me engane. Creio que<br />

vai amargar. Logo em que dia se casam, - numa Sexta-feira! Por que não demoram um dia mais e não deixam<br />

para amanhã que é Sábado?<br />

- Porque o Dr. Praxedes entende que isto de casamento no Sábado é coisa de povinho. Quer ser original<br />

até na escolha do dia do casamento! Explicou o Chaves.<br />

- No Nepomuceno levantara-se. Relanceou a vista pela sala procurando a oculta originalidade e, sem a ver,<br />

replicou: - Mas e a Mundoca e o coronel Machado que nasceram e foram neste costume, e sabem que a Sextafeira<br />

é um dia aziago?...<br />

A visão anti-clerical de Praxedes, Luís Bastos e outros era abominada pelos católicos. Os padres instigavam<br />

as velhas beatas contra todos aqueles difamadores do catolicismo, chamando-os de hereges.<br />

Através do texto abaixo você perceberá que no final do século XIX havia quem ainda defendesse a “Inquisição”<br />

executada pelo Tribunal do Santo Ofício.<br />

Criou-se a famosa “exagese bíblica” e afirmou-se que Moisés não escreveu o Gênese, nem coisa nenhuma.<br />

E ainda você admira-se! Jesus não é mais um Deus: os mais tímidos afirmam que é um homem notável: os mais<br />

extravagantes, que é um doente, um degenerado “morto prematuramente, na cruz, por uma síncope facilitada<br />

pela existência de uma expansão pleurética”, outros negam, mesmo que haja existido. Tudo isso nós, os católicos,<br />

sofremos, de braços cruzados, sem poder reagir. Ah! Seu Chaves! Só a fogueira, só a Inquisição. Sem o Tribunal<br />

do Santo Ofício estamos perdidos, porque caminhamos para a corrupção a passos agigantados.<br />

O Chaves ouvia silencioso. – A inquisição? As fogueiras? O Santo Ofício? Soberbo. Os católicos, em<br />

verdade, devem andar tristes. Se voltássemos à Idade Média, é indubitável, o catolicismo recuperaria o seu<br />

esplendor. Ia chegar a casa. – O doutor não entra?<br />

- Não.<br />

CAPÍTULO VIII<br />

A realização do casamento de Mundoca se dá, na igreja e no civil, neste capítulo. O narrador deixa-nos<br />

cientes de todas conversas e pretensões dos convidados: observar os trajes de cada pessoa presente.<br />

A questão dos disparates, das choramingações, do agouro que os pobres fazem quando casa-se alguém<br />

na família.<br />

Rosinha se não convencia. – Sim, lembrava-se. Qual, porém, o costume? A moça chora, agarra-se aos<br />

irmãos, à mãe, ao pai, antes de sair pro casamento e entra na sala com uma fisionomia de causar dó. Fosse e<br />

o juiz e perguntava se casava contra a vontade. Não pensam assim? É preciso que não tenha amizade ao noivo<br />

para se entregar em prato.<br />

Preso às convenções, Rosinha, aqui representando toda a sociedade Piauiense, pergunta-se Mundoca<br />

não vai casar-se na Igreja. Ela, porém, diz que casamento na verdade é o civil. Observa-se que são palavras de<br />

Praxedes que não perde oportunidade para criticar a Igreja Católica. Vilipendiá-la pelos seus interesses econômicos<br />

únicos.<br />

- Espera, disse Rosinha, muito admirada; as flores são distribuídas depois do casamento.<br />

- E então? Perguntou-se ela.<br />

- Não te casa na Igreja? Deixa para a volta.<br />

- Já estou casada. A ida à igreja é um simples formalidade, sem valor. Quem casa é o juiz, não é o padre.<br />

Vai. Distribui as flores. E foi sentar-se junto ao marido.<br />

Dr. Nepomuceno, médico da cidade, também é criticado durante toda a obra por seu comportamento<br />

beato.<br />

O torrado era a sua mania. Dizia, sempre, que o usava desde os bancos da Faculdade. Era a sua panacéia,<br />

o agente terapêutico de todas as doenças. E que gente! Capaz de elevar espírito às mais próximas vizinhanças<br />

da genialidade. Não conhecia elemento mais poderoso. Era o seu grande auxiliar no estudo da medicina.<br />

- Grande auxiliar, com efeito, costumava dizer o velho Machado. Tão grande que o nosso amigo aprendeu<br />

demais.<br />

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“A PAZ ESTÁ NA BOA EDUCAÇÃO”<br />

CAPÍTULO IX<br />

O capítulo IX não passa de digressões que tratam do Sábado após o casamento (Sexta-feira) de Mundoca<br />

e Praxedes. As pessoas começaram a aparecer na casa dos recém-casados a partir das nove horas. Almoçaram<br />

e foram durante todo o dia, entrando noite-a-dentro no baile promovido por Praxedes com a banda de música da<br />

política.<br />

CAPÍTULO X<br />

Este capítulo não passa de divagações superficiais e sem importâncias. Trata-se apenas da ilusão que<br />

teve Antônio Araújo que D. Júlia estava grávida e por isto estava tão arredia com ele. Mas não passou de pura<br />

ilusão que descobrira num dia pela manhã quando percebeu que a mulher menstruava. Ficou profundamente<br />

cocado porque a esperança do filho era sua única alegria.<br />

Uma hora, ainda, de espera, e preparava-se para sair, quando D. Júlia se ergueu. Aproximou-se dela.<br />

Recuou, porém, no mesmo instante, imensamente pálido: vira-lhe no cambre a presença do fluxo catamenial.<br />

Aquele sangue afogava o filho que a sua imaginação alimentara com o maior carinho durante alguns dias. Aproximouse<br />

novamente: lá ficavam as grandes nódoas rubras trazendo-a realidade. Sentiu uma comoção terrível. Viu<br />

derrocar-se o seu castelo encantado. A sua ilusão desapareceu e ele se não conteve: caiu na rede, chorando<br />

alto, soluçando desoladoramente.<br />

- Credo! Exclamou D. Júlia, que não compreendia o que passava. Parece maluco! Que foi? Não respondeu:<br />

soluçava.<br />

- Hein? Que foi?<br />

Não tinha coisa nenhuma, Deixasse-o, pediu, escondendo a cabeça entre os lençóis.<br />

D. Júlia, antes de sair, olhou-o por algum tempo. – Ora que maluquice! Não tem nada e chora como menino<br />

pagão! Compreenda-se isto!<br />

Tinha embolado e atirado o chambre para um cesto de roupa suja. Saiu.<br />

CAPÍTULO XI<br />

Todo o capítulo trata da dor sentida por Antônio Araújo quanto ao abandono do quarto pela mulher indo<br />

dormir em outro quarto e a tristeza da situação que encontrava sua saúde. A única esperança e única amiga de<br />

verdade era a filha Miloca. A esposa Júlia queria vê-lo. A esposa Júlia morto o quanto antes.<br />

O destino, a premunição que veio bater à sua porta trouxe-lhe profundas angústias, sofrimento e medo de<br />

morrer e deixar Miloca ainda menina.<br />

O outro escarrou, tossiu, tornou a escarrar. Araújo compreendeu que ele ia cantar e mais se aborreceu. –<br />

Ainda esta.<br />

Fora, sob o grande céu côncavo, pesado de estrelas, subiram duas vozes, acompanhadas a violão, cavaquinho<br />

e flauta. Araújo ouviu:<br />

“Do peito sinto desprender-se a vida<br />

que me pungia com tamanha dor;<br />

mas a minh ´alma não se vai sentida<br />

nem o sepulcro me produz horror!”<br />

Araújo estremeceu. Ergueu-se involuntariamente, de rede e passou a mão pela fronte alagada de suor. Era<br />

seu destino que ouvia aqueles versos. Passou, novamente, a mão pela fronte, suspirou e ficou atento, agitado,<br />

atraído para a modinha.<br />

A flauta fez umas variações e o trovador recomeçou:<br />

“Ai! Não me chores que não vale a pena,<br />

não fui amado enquanto amor senti,<br />

nem a existência me correu amena,<br />

- pobre poeta que a cismar vivi”<br />

CAPÍTULO XII<br />

Meio lúdico, o narrador extrai de sua imaginação este capítulo que data-se de 1º de novembro, véspera de<br />

finados. Percebe-se todo tipo de trama: a mulher do Chaves gorducha que vai visitar o doente e procura seduzi-la<br />

à religião católica. Queria-o religioso. No entanto, com a chegada de Luís Borges, o amante de Júlia, com<br />

finalidade de bisbilhotar se era ela, a mulher do Chaves a mandante da carta anônima, intitulada “Sentinela”.<br />

É a carta anônima encontrada na janela que move todo o capítulo, além, é claro, a profunda comoção de<br />

Júlia após a confissão de todas as suas culpas e dos maltratos e Antônio Araújo Arrependida de tratá-lo mal, até<br />

que tentou se aproximar dele, mas o asco que este lhe causava não o permitiu.<br />

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“A PAZ ESTÁ NA BOA EDUCAÇÃO”<br />

No dia seguinte à discussão com o marido, ao abrir D. Júlia as janelas, pela manhã, encontrou uma carta<br />

dirigida a Araújo. Apanhou-a curiosa, virou-a de um lado para outro, releu o sobrescrito procurando adivinhar a sua<br />

procedência. Não conhecia a letra. Pareceu disfarçada. Mas, por que disfarçada? Teve uma suspeita. Veio-lhe a<br />

idéia de um perigo desconhecido. Ficou pálida. Estava indecisa, posto, costumasse abrir as cartas de Araújo.<br />

Virava, tornava a virar o envelope misterioso, com as mãos frias, tomada de receio. – Que será? Não é coisa boa.<br />

E vinham os pensamentos em tropel, atordoando-a.<br />

- Uma carta anônima? Devia ser. Abriu-se e coreu os olhos procurando a assinatura. La estava: Sentinela.<br />

Não se enganara. Uma carta anônima. E lendo-a, rapidamente, parecia-lhe reconhecer a letra. Releu:<br />

“Araújo,<br />

Seu amigo, cumpro o penoso dever de chamar sua atenção para o que se dá, atualmente, em sua casa.<br />

Ninguém o ignora mais. Comenta-se a sua enorme desgraça. Encha-se, portanto, de coragem para saber que<br />

seu sócio abusa da sua boa fé, tornou-o o amante de sua esposa.<br />

Se quer conhecer a verdade, vigie, espreite os dois como Sentinela”.<br />

CAPÍTULO XIII<br />

Além do dia dos finados concorridissimo num ir e vir ao cemitério como se fosse um passeio normal e<br />

agradável para os habitantes de Teresina. Era a falta de diversão. Poucas festas, bailes e comemorações. As<br />

mulheres ainda tinham menos que fazer ainda tinham menos que fazer ainda já que, os bailes eram coisas<br />

apenas dos solteiros. Uma forma de arranjar casamento.<br />

Outro fator concomitante para o fleumático fanatismo das mulheres era o pouco que fazer na capital<br />

Piauiense. Os padres, no entanto, sabendo disso usava da boa fé e da carência das senhores, pondo-as a serviço<br />

da igreja.<br />

- Exagero? É a lição dos fatos, acredite. Quer saber? O Praxedes não perde a ocasião de pregar contra o<br />

fanatismo.<br />

Outra carta anônima, via correio aparece na casa de Antônio Araújo, mas Luís Borges a recebendo não se<br />

contém e a lê num frêmito de medo e revolta quanto àquele ato covarde do mandante.<br />

E as suas previsões realizaram-se. Um tarde, trouxe o correio uma carta dirigida a Araújo. Luís Borges<br />

recebeu-a e, apenas viu a letra do envelope, empalideceu: era a da outra. Na vacilou. Abriu-a e leu-a de um fôlego.<br />

Era mais extensa e mais incisiva. Citava fatos. Referia-se à primeira e onde fora deixada, tendo dúvidas se<br />

chegara ao destino. <strong>Pro</strong>metia fazer outra, dez, vinte, quantas julgasse preciso, até certificar-se que iam à suas<br />

mãos. Esperava o seu procedimento “de marido ultrajado, duplamente ferido pela infâmia da mulher e pela deslealdade<br />

do amigo”. Não vacile, dizia o Sentinela, terminando. Desafronte-se. Dê a sociedade um exemplo duradouro que<br />

não seja esquecido. Não se acovarde e nem perdoe. Expulse-a. Seja homem, ao menos, uma vez em sua vida.<br />

Júlia de tanto martelar o pensamento consegue juntar as aparências das letras e compara as cartas ao<br />

bilhete que recebera do padre, desculpando-se pelo mal entendido do dia da unida confissão que Júlia fez com<br />

ele. Padre Jacinto.<br />

Alta noite, entretanto, fez-se, de repente, a luz em seu espírito. Sentou-se na rede. Coordenou lembranças.<br />

E pareceu-lhe que descobrira o anônimo. Não podia se outro. Era ele mesmo, tinha maiúsculas o atraiçoavam.<br />

Não pudera disfarçá-las o bastante para não serem reconhecidas. Era o padre Jacinto. Guardara dois bilhetes<br />

que lhe fizera depois da cena da confissão. Lá estavam os mesmos traços finos, cheios de rabiscos, empinados<br />

para trás. Era ele. Havia de fazer o confronto e expor o canalha, Bandido! Abusando do segredo da confissão,<br />

vingava-se do seu desprezo, do seu silêncio, do seu orgulho, na esperança, talvez, de possuí-la depois. – Padre<br />

infame! Abusa da confissão que, levianamente, lhe fiz, num momento de loucura, e quer praticar comigo o que<br />

parece tem feito com outras desgraçadas!<br />

O rapaz pensou um instante. Um meio... Ah! Espere! Disse ele, mais calmo. Há um, de resultado seguro.<br />

Vou usar o mesmo expediente. Amanhã ele recebeu uma carta anônima dizendo-lhe que, se continua, alguém<br />

lhe tomará uma destas madrugadas. Verá se continua. E agora veja lá se ainda arranja outra confissão.<br />

Admoestações já comentadas nos capítulos anteriores, tais como: a questão da opressão do catolicismo<br />

a seus súditos e antagonismo de Praxedes, de Ernesto, de Chaves e de Luís Bastos contra a hipocrisia e<br />

despotismo religioso da igreja abusando da boa fé e ingenuidade da população.<br />

Outro fato ocorrido no capítulo, é a morte da Candoca, a filha mais velha de João Souza. Beata e religiosa,<br />

adorava a religião católica fazendo todos os pedidos de padre Jacinto. Via-o como a um Deus, pois ele assim se<br />

portava.<br />

CAPÍTULO XV<br />

Neste capítulo Antônio Araújo descobre por si mesmo a traição de Júlia e Luís Borges a ele. Teve ímpetos<br />

de matá-los. Porém, como o próprio título da obra refere-se a seu caráter fraco e imbecil (manicaca) perdoou a<br />

mulher pensando que ela só fez aquilo num momento de muita fraqueza. Para vingar-se e retomar o seu direito de<br />

marido, resolveu liquidar a loja e ir morar na fazenda que possuía no Angelim de Baixo. A surpresa aconteceu<br />

com o balanço da loja constando um prejuízo (débito) de 31 contos. Estava falido. Luís Borges havia fugido porque<br />

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“A PAZ ESTÁ NA BOA EDUCAÇÃO”<br />

noticiaram que atravessara o rio Paraíba. Era o fim. Perdera a mulher e a fortuna de uma só vez. Era a vitória do<br />

inescrupuloso Luís Borges o qual fora confiado tudo que Antônio tinha.<br />

Estremeceu. Voltou-se para a porta e foi quando viu que, nas trevas, luminoso e rubro, o pequeno orifício da<br />

fechadura. No mesmo instante, chegaram-lhe aos ouvidos palavras dispersas de uma conversa travada à meiavoz.<br />

Estavam, dentro, duas pessoas; mas, o que acabou de pasmá-lo, foi aparecer-lhe que uma das vozes era de<br />

homem e que a conhecia.<br />

De repente teve uma idéia que não o deixou mais: - Se morresse? Se suicidasse? Esquecera a filha.<br />

Desprendia-se do mundo, sentindo cortados os elos que o prendiam. A imensidade de sua desdita absorvera-o.<br />

A morte era o consolo supremo, a redenção de todas as desventuras. E não teve a menor vacilação: tateou as<br />

trevas, empunhou a pajeú e ergueu o braço...<br />

Ninguém deu notícias. O Leônidas não vira desde a véspera.<br />

- Mas então desapareceu? Perguntou, sem esconder a surpresa.<br />

À tarde, o rapazinho voltou, depois de haver, novamente, percorrido a cidade. Não obtivera informações. Só<br />

à noite, soube Araújo, por um cangueiro, que Luís Borges atravessara o Parnaíba e tomara o trem de Caxias. –<br />

Fugiu, pensou ele. Mas, por que fugiu? Saberá que descobri a sua infâmia?<br />

Espreitou D. Júlia por duas noites, esperando descobrir a razão daquela fuga inesperada. Alegre. Continuava,<br />

porém, a evitá-lo – o que não era difícil porque ele passava o dia inteiro atarefado com o balanço.<br />

A liquidação ia prosseguindo, em boa ordem. Estava a terminar. Dois dias mais e terminaria.<br />

Só nessa ocasião conheceu Araújo a brutalidade do golpe que o ferira. O balanço acusou a existência de<br />

12:000$000 em mercadorias e 14:000$000 em dívidas, o que dava a soma total de vinte e seis contos. O débito<br />

era de trinta e um contos. Todo o lucro, verificado, ainda, há poucos meses, desaparecera.<br />

Estava roubado,<br />

CAPÍTULO XVI<br />

O décimo sexto e último capítulo trata da mudança de Antônio para a fazenda do Angelim de Baixo.<br />

Porém como a mulher não quis ir com eles alegando não poder montar, que fossem sozinhos e que no Sábado,<br />

Luís Bastos havia carregado com Júlia e as malas que restavam. Era o fim para Antônio que, sentindo-se traído,<br />

afinal a mudança para a fazenda era uma forma de punir a mulher pela tração e ao mesmo tempo resgatá-la para<br />

si.<br />

Contou, porém, muito com as forças esgotadas. Cansou, rapidamente. Quase não podia andar. Era por um<br />

esforço sobre-humano que se arrastava quando avistou a casa. Mas, Júlia estava ali. Chamou o resto das forças<br />

e apressou os passos...<br />

Era tarde, Tintou a sineta. A locomotiva soltou um ronco surdo. Apitou. Abriu as válvulas e partiu afano o<br />

peito monstro de ferro e aço. Araújo escutou, ainda, os gemidos da máquina e viu, ao longe, o fumo negro que ela<br />

mandava ao céu azul. Não deu uma palavra. Não soltou um grito: levou as mãos ao peito, cambaleou e caiu.<br />

FOCO NARRATIVO – a obra em 3ª pessoa, com narrador onisciente. Trata de contar a vida pacata, sem o<br />

que fazer do Teresinense no final do século XIX.<br />

A Igreja é constantemente criticada. Aliás é alvo de ataques de uma minoria (Dr. Ernesto, Dr. Praxedes,<br />

Luís Bastos, Sr. Chaves) atéia contra uma maioria católica fanática.<br />

TEMPO CRONOLÓGICO – inicia-se falando do mês de Maria, Maio, e termina com a passagem de Natal<br />

e início do século XX.<br />

ESPAÇO NARRATIVA<br />

ABERTO – ruas e praças de Teresina.<br />

FECHADO – são dois espaços fechados da obra: casas e igrejas de Teresina. Além do espaço psicológico,<br />

representado pelo fanatismo (Candoca, Rosinha, Marieta, Dona Eufrasina) das mulheres Teresinenses.<br />

CLÍMAX DA OBRA – não há um clímax na obra, porque a fatalidade era já esperado acontecimento:<br />

separação de Júlia de Antônio Araújo, indo morar com o seu primeiro homem. Aliás não era para Júlia Ter se<br />

casado com Antônio, porque, quando seu pai, ao voltar às 11:00 de uma festa e pegá-la na cama com Luís<br />

Bastos, após proibi-la de namorar o rapaz, era para tê-la casado com ele. Mas a teimosia e vingança do pai,<br />

terminou com o trágico fim de arranjar um marido com poder aquisitivo para ela. É o casamento arranjado, de<br />

interesses. Além disso era a forma dele mostrar sua força e o domínio patriarcal daquele final de século.<br />

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“A PAZ ESTÁ NA BOA EDUCAÇÃO”<br />

PERSONAGENS<br />

1 – Júlia – filha de Pedro Gomes. Casou-se com Antônio Araújo por imposição do Pai, apesar de amar Luís<br />

Borges. Logo que casou morre o pai. Após a morte deste, Luís Borges retorna a Teresina, porque havia fugido da<br />

cidade com medo de Pedro Gomes, após, este tê-lo encontrado na cama com Júlia na noite em que foi à festa<br />

comemorativa de ser mais um remediado do Piauí. Antônio Araújo adoeceu e com recomendação médica foi para<br />

uma cidade do interior tomar ares frescos na roça, deixando sua família e seus negócios na mão de Luís Borges.<br />

Era para ele tomar conta. E tomou mesmo. Amasiou-se com Júlia e começou a roubar visivelmente ao sócio.<br />

Júlia abandonou o marido para ir morar com Luís Borges fora de Teresina.<br />

2 – ANTÔNIO ARAÚJO – “o manicaca” – frouxo, de pouco força no trato ao domínio da família porque<br />

considera muito velho e feio, além de doente para ser-se o marido de Júlia. Para fazê-la sua mulher e conquistar<br />

seu amor, fazia tudo que ela queria o que determinou na perda domínio da família. Terminou seus dias lamuriando<br />

pelos cantos devido ao fato da tuberculose que o enfraquecia e principalmente porque se considerava uma<br />

moleirão sem iniciativas e forças contra o domínio pleno da mulher sobre ele. Foi abandonado pela mulher Júlia,<br />

que foi morar com Luís Bastos de Teresina.<br />

3 – RD. PRAXEDES – é através de Praxedes que no narrador Abdias Neves mostra seus pensamentos<br />

quanto à Igreja e quanto à sociedade Teresinense do final do século XIX.<br />

A revolta de Praxedes contra o catolicismo e sua repressão contra tudo que pudesse contrariar seus<br />

preceitos morais, éticos, filosóficos e ideológicos. Praxedes faz constantes digressões. Contra a igreja e<br />

encontrando em seu caminho toda uma gama de fanáticos que submetem-se cegamente à Igreja.<br />

4 – DR. ERNESTO – também estudava na escola de direito de Recife, assim como Praxedes. Tinha as<br />

mesmas filosofias do amigo Praxedes: contrariar a ideologia e os princípios católicos opressores da sociedade<br />

Teresinense.<br />

5 – LUIS BASTOS – foi o primeiro homem a se deitar com Júlia (ainda com 18 anos). Fugiu de Teresina<br />

para Belém do Pará. Com a morte do pai de Júlia voltou a Teresina e recebeu como árdua tarefa a de ser sócio do<br />

marido da amada Júlia, o que ela nada protestou. Aliás foi a única vez que ela não protestou contra Antônio, seu<br />

marido. Com a ida deste se tratar no interior recebeu como incumbência tomar conta de Júlia, Miloca e da venda.<br />

Roubou-lhe a mulher e a fortuna, pois deixou-lhe 31 contos de Réis em dívida, obrigando Antônio a entregar a asa<br />

onde morava e a venda com tudo que havia dentro em troca da dívida, obrigando-o a ir morar na fazenda que<br />

possuía no interior do estado.<br />

6 – MILOCA – filha de Antônio Araújo. Foi exilada pelo pai no início do casamento, porque Júlia sua mulher<br />

tinha implicâncias contra menina. Foi a salvação do pai em seus dias de delírio devido à tuberculoso que enfestou<br />

nele.<br />

7 – MUNDOCA – filha do rico comerciante Antônio Machado. Sem expressões de beleza, mas com uma<br />

alma e espírito diferentes das outras mulheres que habitavam Teresina naquela época. Não metia com a vida<br />

alheia a fazer críticas e observações. Como prêmio recebeu como marido simplesmente o melhor partido da<br />

cidade: Dr. Praxedes. Considerado o homem mais esclarecido da época. Foi invejada por todas que não acreditavam<br />

inicialmente naquele namoro.<br />

8 – ANTÔNIO MACHADO – pai de Mundoca. Ficou muito feliz com o casamento da filha. Afinal queria<br />

casá-la com um homem sábio, capaz de tocar seus negócios.<br />

9 – DR. NEPOMUCENO – (médico) O único citado na obra. Não era fervoroso, mas acreditava na seita.<br />

Era velho. Talvez por isso. Não tinha mais a energia vitalizante da juventude que quer contrariar tudo e todos.<br />

Talvez possuísse o mesmo fim de Abdias Neves que, na velhice converteu-se ao catolicismo.<br />

10 – EUFRASINA – era a esposa de Chaves – fanática ao catolicismo. Portanto muito criticado pelo<br />

narrador que, cruelmente expõe todos os seus defeitos (fanatismo e pouca espiritualidade e cultura ) e exteriores<br />

(gorducha, feiosa e faladeira da vida alheia).<br />

11 – CHAVES – homem simples que se não era católico e sim, maçom, no entanto impedia a mulher de<br />

ser.<br />

12 – JOÃO SOUZA – viúvo. Certamente funcionário público. Pai de Candoca, Rosinha, Marieta e Miloca.<br />

13 – CANDOCA – fanática ao catolicismo, teve um triste fim, como Praxedes a condena e a todas que<br />

subservem a uma seita com tamanho fanatismo. Morreu de menigite.<br />

14 – ROSINHA – filha de João Souza – regateira, coviteira e bonitinha.<br />

15 – MARIETA – também filha de João de Souza. Era menos regateira que a irmã Rosinha.<br />

16 - ZECA - pretendente a namorado de Rosinha. Também era como as mulheres: fofoqueiro, boateiro e<br />

mexeriqueiro.<br />

17 – MILOCA – também filha de João de Souza.<br />

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“A PAZ ESTÁ NA BOA EDUCAÇÃO”<br />

QUESTÕES DE VESTIBULAR<br />

Marque a alternativa CORRETA quanto à obra <strong>UM</strong> <strong>MANICACA</strong>, de Abdias Neves, nas questões seguintes.<br />

QUESTÃO 01<br />

a) é narrada em primeira pessoa;<br />

b) apresente o espaço da narrativa apenas como pano de fundo;<br />

c) é narrada em poesia;<br />

d) tem como função literária principal o ludismo;<br />

e) Todas INCORRETAS.<br />

QUESTÃO 02<br />

a) tem como cenário a cidade de Teresina e este tem importância apenas como pano de fundo para<br />

apresentar os personagens;<br />

b) a narrativa em primeira pessoa tem em Júlia a personagem central, concorrendo com ela: Araújo e a<br />

Igreja católica;<br />

c) a função “catarse” é a que exerce o maior poder.<br />

d) A função social tem papel muito importante na obra de Abdias Neves.<br />

QUESTÃO 03<br />

a) o estilo a que pertence a obra é o naturalismo;<br />

b) a constante luta: catolicismo / maçonaria, representado por homem / mulher, discute o comportamento<br />

de cada personagem na obra;<br />

c) Luís Borges representa um personagem bestial querendo discutir a ideologia do catolicismo junto ao<br />

bacharéis: Praxedes, Ernesto e João Souza;<br />

d) Mundoca é a personagem presenteada no casamento com Praxedes, afinal era ela, além de muito bela,<br />

inteligente e recatada.<br />

QUESTÃO 04<br />

a) a obra tem como função, além de mostrar a Teresina dos anos de 1900, tem pretensão em inseri-la no<br />

século XX;<br />

b) o grande propósito de Abdias Neves era colocar em discussão os males que a Igreja Católica causava<br />

na população, instigando falatórios de pessoas alheias, preocupação com a vida social do povo; representado<br />

aqui por padre Jacinto:<br />

c) Padre, Jacinto, conforme é mostrado na obra, utiliza-se do confessionário para delatar a vida alheia;<br />

d) A vida pacata da capital Piauiense no final do século XIX, o crescente comércio e o êxodo rural tem<br />

importante papel para com o empobrecimento do estado do Piauí;<br />

e) A-B e CC são CORRETAS.<br />

QUESTÃO 05<br />

a) a maior briga entre católicos e maçons era política;<br />

b) a maior questão entre católicos e maçons era a ideologia;<br />

c) Candoca morreu de menigite. Tinha como função maior a veneração ao Pai, João Souza;<br />

d) Abdias Neves pretende com a obra elevar sua cidade a um pólo crescente da literatura nacional.<br />

GABARITO: 1-E, 2-D, 3-A, 4-E, 5-B.<br />

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