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vida<br />
pastoral<br />
Graça e Paz!<br />
Um fator muito interessante da cultura<br />
indígena da qual somos herdeiros na América<br />
Latina é a concepção de saúde. Aprend<strong>em</strong>os<br />
da visão indígena que ter saúde é muito mais<br />
do que estar s<strong>em</strong> doença – é ter alegria, poder<br />
trabalhar, fazer festa, estar protegido pela força<br />
dos pajés e rezadores e viver de acordo com a<br />
própria cultura. Para os índios, saúde e doença<br />
não são coisas se<strong>para</strong>das do todo. A doença<br />
de uma pessoa é entendida como desequilíbrio<br />
restrito não apenas ao corpo, mas indicativo da<br />
presença do mal <strong>em</strong> outros âmbitos da realidade.<br />
Não é só o corpo da pessoa que adoece, mas ela<br />
como um todo. A doença diz respeito não só à<br />
pessoa que sofre, mas também à comunidade da<br />
qual ela faz parte e ao meio ambiente.<br />
Entretanto, com a força da cultura ocidental<br />
racionalista e técnica, “civilizada”, descuidamos<br />
<strong>em</strong> grande parte dessa herança. Como se poderá<br />
observar por meio da colaboração dos autores<br />
desta edição – pessoas ligadas ao mundo da saúde<br />
e da bioética –, a saúde tende a ser vista como<br />
simples ausência de doenças, e seu tratamento,<br />
a reduzir-se a técnicas, químicas, decifração de<br />
exames, uso de aparelhos, fixação no biológico<br />
e no físico. Isso é evident<strong>em</strong>ente importante,<br />
mas os autores chamam a atenção <strong>para</strong> que se<br />
integr<strong>em</strong> essas técnicas ao “cuidado”: tratar as<br />
pessoas não como objeto, mas como sujeitos,<br />
cultivar a cordialidade, a proximidade, a acolhida,<br />
respeitando o valor intrínseco de cada<br />
uma. O ideal é unir as técnicas e procedimentos<br />
ao cuidado mais profundo: atenção global ao<br />
ser humano doente, que não é apenas mais um<br />
paciente com um número de prontuário, derrubando<br />
assim as barreiras da racionalidade fria<br />
no tratamento das pessoas.<br />
revista bimestral <strong>para</strong> sacerdotes<br />
e agentes de pastoral<br />
ano 52 - número 276<br />
janeiro-fevereiro de 2011<br />
Tirag<strong>em</strong>: 50 mil ex<strong>em</strong>plares<br />
Caros leitores e leitoras,<br />
O ser humano vive <strong>em</strong> uma teia de relações<br />
vitais. As doenças muitas vezes são resultado<br />
de probl<strong>em</strong>as e desequilíbrios nessa teia, e não<br />
apenas nos corpos individuais. Da mesma forma,<br />
o ser humano não é apenas corpo, mas um composto<br />
de corpo, mente e espírito. Essas outras<br />
duas dimensões afetam o corpo e são afetadas<br />
por ele. Cuidar da saúde é cuidar das três dimensões.<br />
Por isso é indispensável o cuidado humano<br />
<strong>em</strong>ocional e a abertura à espiritualidade.<br />
A cultura atual concentra muita atenção nos<br />
campos da economia, da técnica e da política e enfraquece<br />
os campos da ética e da espiritualidade, da<br />
visão holística/integral da vida. Superar isso, não<br />
só na área da saúde, mas <strong>em</strong> todas as dimensões<br />
da existência, fará muito b<strong>em</strong> à humanidade.<br />
A integração da visão global do ser humano<br />
e da vida pode aprimorar muito o trabalho de<br />
médicos, enfermeiros e d<strong>em</strong>ais profissionais da<br />
área. E, <strong>para</strong> os religiosos, é parte indispensável<br />
da missão. Para nós, cristãos, é ocioso rel<strong>em</strong>brar<br />
como a atenção aos doentes e às “doenças<br />
sociais” teve destaque na prática de Jesus. Da<br />
atuação dele e das primeiras comunidades cristãs<br />
nesse campo nasceu um sacramento da Igreja<br />
voltado especificamente <strong>para</strong> os doentes: a unção<br />
dos enfermos. Nasceu também a assistência pastoral<br />
aos doentes, que proporciona significativo<br />
contributo ao cuidado integral da vida e da saúde<br />
e pode ser, nesse sentido, um test<strong>em</strong>unho <strong>para</strong><br />
os profissionais da área. Todos somos convidados<br />
a dar atenção especial a essas questões, não<br />
apenas os profissionais e agentes de pastoral da<br />
saúde. De uma forma ou de outra, o cuidado<br />
dos doentes e os estados de doença faz<strong>em</strong> parte<br />
da vida de todos <strong>em</strong> algum momento.<br />
Pe. Jakson Ferreira de Alencar, ssp<br />
Editor<br />
<strong>Vida</strong> <strong>Pastoral</strong> – janeiro-fevereiro 2011 – ano 52 – n. 276 1