17.04.2013 Views

COMUNICAÇÃO DIOCESANA – Setembro / 2011 - Diocese de Erexim

COMUNICAÇÃO DIOCESANA – Setembro / 2011 - Diocese de Erexim

COMUNICAÇÃO DIOCESANA – Setembro / 2011 - Diocese de Erexim

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Estragos e/ou sinais divinos?!<br />

Uma vez por semana, na quinta-feira,<br />

às 7h, os padres da Área Pastoral <strong>de</strong><br />

Erechim se encontram para fazer juntos a<br />

oração da manhã e refletir sobre a liturgia<br />

dominical. Nós padres da Catedral, fazemos<br />

outro encontro matinal, na terça-feira,<br />

no mesmo horário, para rezarmos e<br />

combinarmos as ativida<strong>de</strong>s semanais.<br />

Na segunda terça-feira <strong>de</strong> agosto, dia<br />

09, marcado pela madrugada do vendaval<br />

<strong>de</strong>struidor em todo o nosso Estado e parte<br />

<strong>de</strong> Santa Catarina, realizamos o encontro à<br />

luz <strong>de</strong> velas, preocupados com o que po<strong>de</strong>ria<br />

ter acontecido <strong>de</strong> prejuízos para muita<br />

gente. Mesmo ainda escuro, percebemos<br />

que uma árvore no canteiro ao lado da Catedral,<br />

pela Av. Presi<strong>de</strong>nte Vargas, fora <strong>de</strong>rrubada.<br />

Na igreja, havia entrado muita água<br />

por baixo das portas. Mas não havia outros<br />

estragos.<br />

Recor<strong>de</strong>i vivamente o tempo em que<br />

em nossa casa no meio rural, como em<br />

tantas outras, não dispúnhamos da luz elétrica.<br />

Durante as férias, para ler algum tempo<br />

à noite, utilizava duas ou três velas acesas<br />

para não cansar muito as vistas. Fiquei<br />

pensando também como a nossa vida urbana<br />

atual, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> energia elétrica<br />

e combustível, po<strong>de</strong> ficar paralisada instantaneamente.<br />

Durante aquele dia e vários outros,<br />

muitas pessoas diziam nunca terem tido tanto<br />

medo e terem rezado tanto como naquela<br />

madrugada. Uma jovem, resi<strong>de</strong>nte no<br />

décimo primeiro andar <strong>de</strong> um edifício, me<br />

falou que o jeito foi agarrar-se ao terço.<br />

Rezou-o três vezes. Quanto mais forte o<br />

vento, mais alto orava, revelou. Como ela,<br />

quantos outros nos recomendamos a Deus!<br />

A oração <strong>de</strong> todos não acalmou a fúria<br />

do vento. Ele até durou bem mais do<br />

que <strong>de</strong> outras vezes. Mas é significativo<br />

que não tenha acontecido nenhuma morte.<br />

Nossa confiança e nossa súplica a Deus<br />

po<strong>de</strong>m não nos tirar os problemas ou não<br />

dar-nos soluções, arrumando emprego,<br />

carro, casa e outros bens por encanto,<br />

como certas pregações pentecostais apregoam,<br />

na chamada “teologia da prosperida<strong>de</strong>”,<br />

mas nos tornam fortes no meio <strong>de</strong>les.<br />

Como dizia esta mesma jovem, citando<br />

sua mãe: se rezando acontece tanta coisa,<br />

imagine sem oração. Significativo também<br />

foi que entre os vários eucaliptos e<br />

ciprestes <strong>de</strong>rrubados no terreno do Seminário,<br />

dois caíram a uns 20 metros do monumento.<br />

Se caíssem em direção a ele ou<br />

fossem dois bem próximos ao mesmo, o<br />

<strong>de</strong>struiriam. Na comunida<strong>de</strong> Nossa Senhora<br />

do Rosário, Sete <strong>de</strong> <strong>Setembro</strong>, paróquia<br />

São Pedro <strong>de</strong> Erechim, o vento <strong>de</strong>stroçou<br />

três pare<strong>de</strong>s e o coberto da igreja, mas<br />

<strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> pé aquela do crucifixo, do<br />

sacrário e um vasinho <strong>de</strong> flores, que permaneceram<br />

intactos. Uma imagem <strong>de</strong> Nossa<br />

Senhora foi ao chão, mas sem ser quebrada.<br />

No teto, havia o <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> uma<br />

cruz. Foi a única parte do forro a ficar inteira<br />

entre os pedaços removidos.<br />

No meio das consequências<br />

funestas do vendaval,<br />

encontramos alguns<br />

sinais indicativos <strong>de</strong><br />

uma força maior daquela<br />

da natureza. Pelos próprios<br />

estragos e por estes sinais,<br />

Deus nos fala. O que<br />

não se apren<strong>de</strong> por amor,<br />

se apren<strong>de</strong> na dor...<br />

Ouvindo alguém falar<br />

<strong>de</strong> que rezou muito naquele<br />

momento, outra<br />

pessoa acrescentou: é necessário rezar<br />

sempre, bem antes do temporal. Escutando<br />

comentário <strong>de</strong> que, na capelinha da Catedral,<br />

diversas pessoas acendiam maços<br />

e maços <strong>de</strong> velas naquele dia e nos posteriores,<br />

alguém dizia: bastaria uma vela acesa<br />

com fé ou até nem precisaria a vela, bastaria<br />

que a gente andasse na luz <strong>de</strong> Cristo e a<br />

irradiasse sempre!<br />

No rescaldo do temporal, po<strong>de</strong>m ser<br />

feitas outras consi<strong>de</strong>rações.<br />

A primeira, já mencionada, é a da<br />

nossa limitação e <strong>de</strong>pendência. A ciência e<br />

a tecnologia continuam avançando. A cada<br />

dia, temos novos recursos à disposição.<br />

Enquanto tudo funciona, nos damos por<br />

autosuficientes, sem consciência permanente<br />

do possível colapso, sem preocupação<br />

por uma vida mais sóbria, com a indispensável<br />

preservação dos bens na natureza.<br />

É maravilhosa a informatização cada<br />

vez maior da vida. Mas basta faltar energia<br />

e tudo fica parado. Bancos, estabelecimentos<br />

comerciais, meios <strong>de</strong> comunicação não<br />

operam. Uma pessoa do interior relatava<br />

que a família acordou às 4h30 com as camas<br />

molhadas. Ouviam barulho <strong>de</strong> coisas<br />

quebrando, mas não havia o que fazer na<br />

escuridão. Ao clarear o dia, havia tanta coisa<br />

a consertar que não sabiam por on<strong>de</strong> começar.<br />

E pior, sentiam-se isolados <strong>de</strong> tudo,<br />

pois não havia como sintonizar rádio, ligar<br />

o televisor e nem utilizar o celular.<br />

Porém, mesmo com um vendaval<br />

aqui, um terremoto ali, um tsunami acolá,<br />

o consumismo <strong>de</strong>senfreado, a exploração<br />

predatória do planeta, o hedonismo, tudo<br />

continua em escala crescente e nunca o<br />

contrário. Diante da crise econômica em<br />

que se encontram as chamadas maiores<br />

economias mundiais, seus cidadãos, nem<br />

<strong>de</strong> longe, mudam <strong>de</strong> estilo <strong>de</strong> vida. Mais,<br />

exigem dos países do terceiro mundo medidas<br />

drásticas <strong>de</strong> redução do efeito estufa.<br />

Nas Conferências Mundiais sobre o<br />

meio ambiente são eles que criam impasses<br />

nas medidas a tomar. Em nome <strong>de</strong> uma<br />

mal entendida laicida<strong>de</strong> dos estados, se<br />

propugna a banição <strong>de</strong> Deus e dos símbolos<br />

religiosos em lugares públicos. Estado<br />

laico significa não ter religião oficial, mas<br />

nunca que seja sem religião, ou que os cidadãos<br />

não tenham liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão<br />

religiosa. Evi<strong>de</strong>ntemente, cada cidadão respeitando<br />

a do outro.<br />

Uma segunda consi<strong>de</strong>ração é em relação<br />

à <strong>de</strong>mora no restabelecimento dos<br />

Capela N. Sra. do Rosário, Sete <strong>de</strong> <strong>Setembro</strong>,<br />

paróquia São Pedro, <strong>de</strong>struída pelo vento.<br />

serviços afetados pelo vendaval, especialmente<br />

em relação à energia elétrica, fazendo<br />

inúmeros agricultores amargarem pesadas<br />

perdas no leite, na criação <strong>de</strong> aves e<br />

suínos. Não há dúvida, o estrago foi gran<strong>de</strong><br />

e em região ampla. Falava-se em mais<br />

<strong>de</strong> dois mil postes <strong>de</strong> luz danificados. Mas<br />

se houvesse uma manutenção melhor, teriam<br />

caído tantos? Não se po<strong>de</strong> ignorar que<br />

os fenômenos extravagantes da natureza<br />

são imprevisíveis, suas consequências mais<br />

ainda. Porém, é necessário <strong>de</strong>senvolver planos<br />

estratégicos mais avançados para possíveis<br />

emergências.<br />

A terceira consi<strong>de</strong>ração é em relação<br />

às árvores <strong>de</strong>rrubadas, particularmente pinheiros<br />

(araucárias) e nativas, em relação<br />

às quais há legislação rigorosa para sua exploração.<br />

Não se questiona tal disposição.<br />

Mas quando uma árvore <strong>de</strong>stas está próxima<br />

<strong>de</strong>mais a uma residência ou apresenta<br />

<strong>de</strong>terioração, por que se dificulta tanto sua<br />

remoção antes que cause danos como os<br />

verificados no vendaval? Dizia um bispo,<br />

hoje emérito, em relação aos prédios tombados<br />

para preservação <strong>de</strong> patrimônios históricos:<br />

não <strong>de</strong>ixam reformar ou <strong>de</strong>rrubar,<br />

mas não impe<strong>de</strong>m que caiam.... Quanto aos<br />

pinheiros e árvores <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira “<strong>de</strong> lei” <strong>de</strong>rrubados<br />

pelo vento, não se po<strong>de</strong>ria apressar<br />

sua retirada, agilizando os trâmites burocráticos?<br />

Ainda hoje, vinte dias após o<br />

vendaval, escutava-se, em rádio, entida<strong>de</strong><br />

recomendando aos proprietários terem calma,<br />

dirigirem-se à secretaria <strong>de</strong> agricultura<br />

<strong>de</strong> seu município, a fim <strong>de</strong> obterem a licença<br />

para a retirada das árvores. E se uma ou<br />

mais afetam benfeitorias ou trancam o trânsito<br />

<strong>de</strong> circulação interna da proprieda<strong>de</strong>?!<br />

Que haja, sim, fiscalização rigorosa para que<br />

ninguém se aproveite da oportunida<strong>de</strong> para<br />

explorar comercialmente árvores não atingidas.<br />

Mas a legislação não vai colocar <strong>de</strong><br />

pé as que foram tombadas pelo vento...<br />

Certamente, muitos fizeram e fazem<br />

outras reflexões. A maioria das pessoas, levadas<br />

pela correria da vida, continuam tudo<br />

como se nada tivesse acontecido. Bem<br />

como no tempo <strong>de</strong> Noé <strong>–</strong> comiam, bebiam,<br />

casavam-se e davam-se em casamento ...<br />

até o momento em que veio o dilúvio e os<br />

levou a todos (Mt 24,37-39; Lc 17,26-27).<br />

Erechim, 23 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> <strong>2011</strong>,<br />

Festa <strong>de</strong> Santa Rosa <strong>de</strong> Lima, padroeira da América Latina.<br />

Pe. Antonio Valentini Neto,<br />

Pároco da Catedral São José.<br />

<strong>Setembro</strong> / <strong>2011</strong> <strong>–</strong> <strong>COMUNICAÇÃO</strong> <strong>DIOCESANA</strong> <strong>–</strong> 9

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!