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Literatura e filosofia - UEG - São Luís de Montes Belos

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p. 44). O que é a sina? Existe uma pre<strong>de</strong>stinação? O contexto da reflexão é um<br />

adultério. As paixões e as conseqüências daí <strong>de</strong>correntes.<br />

Mas, assumir isso como sina, como pre<strong>de</strong>stinação parece ser simplista<br />

<strong>de</strong>masiadamente. Antes <strong>de</strong> aprofundar nos <strong>de</strong>sdobramentos da vida <strong>de</strong> Brás Cubas,<br />

o autor apresenta a intenção do livro, a preocupação está em relação às intenções<br />

do leitor ao saber do propósito <strong>de</strong> tal obra: “não sei se digo; este livro é casto, ao<br />

menos na intenção; na intenção é casticismo. Mas vá lá; ou se há <strong>de</strong> dizer tudo ou<br />

nada” (ASSIS, 1997, p. 47). A partir <strong>de</strong>ste ponto o autor passa a narrar os altos e<br />

baixos da vida <strong>de</strong> Cubas. Primeiro vem as aventuras do amor.<br />

15<br />

Primeira comoção da minha juventu<strong>de</strong>, que doce que me foste! Tal <strong>de</strong>via<br />

ser, na criação bíblica, o efeito do primeiro sol. Imagina tu esse efeito do<br />

primeiro sol, a bater <strong>de</strong> chapa na face <strong>de</strong> um mundo em flor. Pois foi a<br />

mesma coisa, leitor amigo, e se alguma vez cantaste <strong>de</strong>zoito anos, <strong>de</strong>ves<br />

lembrar-te que, foi assim mesmo (ASSIS, 1997, p. 49).<br />

Como na vida nem tudo é só alegria e nem sempre as recordações são as<br />

melhores, percebemos que o narrador preten<strong>de</strong> mostrar exatamente que esta<br />

realida<strong>de</strong> vai se revezando e logo vêm as dificulda<strong>de</strong>s: “pagava-me à tanta os<br />

sacrifícios; espreitava os meus mais recônditos pensamentos. Não havia <strong>de</strong>sejo a<br />

que não acudisse com calma, sem esforço, por uma espécie <strong>de</strong> lei da consciência e<br />

necessida<strong>de</strong> do coração. Nunca o <strong>de</strong>sejo era razoável, mas um capricho puro [...]”<br />

(ASSIS, 1997, p. 52). O namoro que teve com Marcela é <strong>de</strong>scrito <strong>de</strong> uma forma<br />

quase comercial. “Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos <strong>de</strong> reis;<br />

nada menos” (ASSIS, 1997, p. 53). O valor <strong>de</strong>scrito <strong>de</strong> onze contos <strong>de</strong> reis é dos<br />

presentes que ele sempre dava à moça, mesmo que <strong>de</strong>ixando seu pai em<br />

dificulda<strong>de</strong>s financeiras.<br />

Diante da <strong>de</strong>cisão do pai <strong>de</strong> Brás em mandá-lo a Europa para estudar, mas,<br />

também com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> separá-lo <strong>de</strong> Marcela, com quem estava namorando, e<br />

gastava muito, em função dos freqüentes presentes dados à moça. Brás apresenta<br />

<strong>de</strong> forma ‘nua e crua’ a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma pessoa <strong>de</strong>sesperada diante <strong>de</strong> um<br />

sentimento <strong>de</strong> perca e que quase sempre leva a um vazio muito profundo:<br />

Saí <strong>de</strong>satinado; gastei duas mortais horas em vaguear pelos bairros mais<br />

excêntricos e <strong>de</strong>sertos, on<strong>de</strong> fosse difícil dar comigo. Ia mastigando o meu<br />

<strong>de</strong>sespero, com uma espécie <strong>de</strong> gula mórbida: evocava os dias, as horas,<br />

os instantes <strong>de</strong> <strong>de</strong>lírio, e ora me comprazia em crer que eles eram eternos,<br />

que tudo aquilo era um pesa<strong>de</strong>lo, ora, enganando-me a mim mesmo,<br />

tentava rejeitá-los <strong>de</strong> mim, como um fardo inútil. Então resolvia embarcar<br />

imediatamente para cortar a minha vida em duas meta<strong>de</strong>s, e <strong>de</strong>leitava-me

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