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Relação entre Gastos Públicos e Crescimento Econômico ... - Sei

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Urandi Roberto Paiva Freitas, Armando Affonso de Castro Neto, Isaac Coimbra Lôu<br />

No caso particular da economia brasileira, aparece uma<br />

situação interessante. Há uma conjuntura híbrida de<br />

excesso de demanda e de oferta. Do lado da demanda,<br />

há pressões inflacionárias, a capacidade de produção<br />

opera em seu limite, juro alto e uma demanda reprimida.<br />

Do lado da oferta, há juros altos que impedem a<br />

ampliação da capacidade produtiva. As taxas de juros<br />

altas, porém, são mais a consequência de uma política<br />

monetária dura, do que resultado das contas públicas.<br />

Estas estão mais ou menos equilibradas, graças a um<br />

superávit primário robusto, capaz de cobrir parcialmente<br />

os encargos da dívida.<br />

A visão tradicional é de deixar agir os estabilizadores<br />

automáticos, para que as restrições orçamentárias numa<br />

conjuntura recessiva não aprofundem a depressão e,<br />

consequentemente, aumentem o déficit público através<br />

da queda nas receitas fiscais. Daí, toda tentativa de<br />

saneamento orçamentário em períodos de recessão<br />

pode ativar um círculo vicioso e se revelar inoperante.<br />

Todavia, no Brasil, os dados empíricos não apoiam essa<br />

ideia, sem, para tanto, validar totalmente o ponto de vista<br />

oposto. Veja-se a Tabela 1:<br />

Tabela 1<br />

<strong>Relação</strong> crescimento real do PIB e superávit primário<br />

Brasil – 1999-2007<br />

(em %)<br />

Ano Cresc.PIB<br />

Superávit<br />

primário<br />

1999 0,8 3,28<br />

2000 4,4 3,5<br />

2001 1,5 3,7<br />

2002 2,0 4,0<br />

2003 -0,5 4,27<br />

2004 4,9 4,61<br />

2005 2,3 4,84<br />

2006 3,7 4,6<br />

2007<br />

Fonte: Ipea (Instituto de Pesquisa Aplicada).<br />

5,4 3,9<br />

Analisando minuciosamente a Tabela 1, dos sete anos<br />

citados, apenas 2000, 2004 e 2007 não apresentam uma<br />

correlação negativa <strong>entre</strong> o aumento do superávit e o<br />

decréscimo do PIB. Os outros seis anos comprovam<br />

que o aumentam do superávit tem um efeito nocivo no<br />

crescimento do PIB. E ainda, a média de crescimento<br />

Conj. & Planej., Salvador, n.162, p.50-57, jan./mar. 2009<br />

ARTIGOS<br />

dos seis anos demonstra um efeito “quase recessivo” na<br />

economia, com o PIB crescendo em média 2,7% ao ano,<br />

média abaixo do crescimento da economia mundial.<br />

No caso de países como Suécia, Dinamarca e Irlanda,<br />

nos anos de 1980, a redução do déficit público não pareceu<br />

ter impacto nítido sobre o crescimento econômico,<br />

efeito antikeynesiano. Nesses países, a forte redução<br />

do déficit público foi compensada pela forte queda na<br />

poupança das famílias, a qual sustentou o consumo.<br />

Esse cenário contradiz tanto as hipóteses ricardianas<br />

quanto as keynesianas e permanece sem explicação<br />

teórica. Ele fica ainda mais misterioso, porque, nesses<br />

três países, o ajustamento foi realizado em períodos<br />

de desemprego keynesiano, com uma produção muito<br />

abaixo de seu potencial.<br />

Uma explicação esboçada por Feldestein (1982) é que<br />

as contradições orçamentárias podem provocar antecipações<br />

de redução futura dos impostos que, quando<br />

são suficientes, superam o efeito recessivo e sustentam<br />

a demanda agregada. A ideia é que os consumidores<br />

interpretam uma mudança na política fiscal como um<br />

sinal de modificações futuras das taxas. É preciso, então,<br />

sanear as finanças públicas via redução dos gastos e<br />

não através de aumento de impostos (contrariamente à<br />

prática habitual de expansão orçamentária via incremento<br />

das despesas e ajustamento tributário). Um ajustamento<br />

através de elevação dos impostos traz, de fato, um problema<br />

de credibilidade: como acreditar num governo que<br />

anuncia uma redução tributária no futuro aumentando<br />

as taxas no presente?<br />

No caso citado, de países como Dinamarca e Irlanda,<br />

confundem-se o efeito da desvalorização cambial com a<br />

experiência ricardiana. Ou seja, em países em que o grau<br />

de internacionalização é alto, as perdas nas restrições<br />

orçamentárias podem ser compensadas por ganhos de<br />

competitividade.<br />

Devido às incertezas quanto à relação <strong>entre</strong> gasto público<br />

e crescimento econômico, uma investigação acerca dos<br />

impactos dos diferentes tipos de gasto governamental tornase<br />

necessária. É com este objetivo que a próxima seção<br />

propõe um modelo para averiguar a relação <strong>entre</strong> despesas<br />

governamentais de capital e crescimento econômico.<br />

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