trabalho e educaçao na pedagogia do mst - V EBEM - Encontro ...
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V ENCONTRO BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO E MARXISMO<br />
MARXISMO, EDUCAÇÃO E EMANCIPAÇÃO HUMANA<br />
11, 12, 13 E 14 de abril de 2011 – UFSC – Florianópolis – SC - Brasil<br />
TRABALHO E EDUCAÇAO NA PEDAGOGIA DO MST: REALIDADE E<br />
POSSIBILIDADES<br />
Maria Nalva Rodrigues de Araújo<br />
Universidade <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> da Bahia-UNEB<br />
O MST se caracteriza como um movimento contra-hegemônico que, se contrapõe ao<br />
modelo de produção capitalista. Para materializar essa contraposição e construir outra<br />
alter<strong>na</strong>tiva de organização da vida huma<strong>na</strong>, o Movimento desenvolve ações em várias<br />
dimensões da vida social e política, entre elas, o investimento em projetos educacio<strong>na</strong>is<br />
como elemento tático para a construção <strong>do</strong> projeto histórico-socialista. Esta pesquisa<br />
teve como objetivo identificar a relação <strong>trabalho</strong> e educação <strong>na</strong> proposta pedagógica <strong>do</strong><br />
MST. O referencial teórico ancorou-se em Marx (2004), Saviani (2007), Frigotto (2002,<br />
2004), Vendramini (2002). O lócus da pesquisa foi o Curso de Pedagogia da Terra<br />
realiza<strong>do</strong> em convênio entre o MST e a Universidade <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> da Bahia (UNEB). A<br />
meto<strong>do</strong>logia para coleta <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s se deu através de leituras e análises <strong>do</strong>s <strong>do</strong>cumentos<br />
educacio<strong>na</strong>is <strong>do</strong> MST; Propostas Meto<strong>do</strong>lógicas <strong>do</strong> Curso de Pedagogia; observação<br />
participante no tempo escola. Os resulta<strong>do</strong>s indicam que, o <strong>trabalho</strong> esteve presente no<br />
curso em todas as etapas, mas faltaram debates acerca da sua função social, bem como<br />
as condições <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> realiza<strong>do</strong> <strong>na</strong> sociedade capitalista; o <strong>trabalho</strong> desenvolvi<strong>do</strong> no<br />
curso buscou cumprir um princípio pedagógico da proposta educativa <strong>do</strong> Movimento às<br />
vezes de forma mecânica, ou seja, organizou-se ape<strong>na</strong>s para o cumprimento de tarefas<br />
para manter a organização e funcio<strong>na</strong>mento <strong>do</strong> local onde ocorreu o curso sem relação<br />
com o processo formativo. Estas constatações deixam entrever que o Movimento tem<br />
prima<strong>do</strong> por inserir o <strong>trabalho</strong> como princípio educativo em suas experiências<br />
educacio<strong>na</strong>is, entretanto, falta estabelecer o vínculo entre <strong>trabalho</strong> e educação como<br />
elemento imprescindível no processo de formação huma<strong>na</strong>, coerente com a perspectiva<br />
de superação da sociedade capitalista defendida por ele.<br />
Palavras-chave: MST, Trabalho, formação huma<strong>na</strong>.<br />
INTRODUÇÃO<br />
Na atualidade muito tem se fala<strong>do</strong> sobre a relação <strong>trabalho</strong> e educação no âmbito<br />
das políticas públicas, especialmente no tocante ao ensino médio. O governo Lula tem<br />
incentiva<strong>do</strong> a criação de inúmeros cursos de formação profissio<strong>na</strong>l, os antigos CEFET’s<br />
se transformaram em IFET’s, os cursos de formação técnica profissio<strong>na</strong>l tem se<br />
prolifera<strong>do</strong> por todas as escolas públicas <strong>do</strong> país. Os filhos e filhas da classe<br />
trabalha<strong>do</strong>ra estão otimistas com a possibilidade de cursarem um curso técnico, terem<br />
uma profissão e entrar no merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong>. O momento presente indica que, a<br />
escola continua sen<strong>do</strong> um espaço em que as forças hegemônicas tentam a to<strong>do</strong> custo
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fazer passar os seus projetos, as propostas apresentadas às escolas estão encharcadas<br />
com a ideologia da nova configuração <strong>do</strong> capital. Vocábulos como competitividade,<br />
vantagens comparativas, produtividade, eficiência, eficácia, gestão, controle,<br />
mensuração, competência etc estão presentes em muitas propostas curriculares <strong>do</strong>s<br />
cursos de formação profissio<strong>na</strong>l distribuídas <strong>na</strong>s escolas, sugerin<strong>do</strong> que, estas se<br />
organizem dentro da lógica empresarial voltada para as necessidades <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>.<br />
Pesquisa<strong>do</strong>res Kuenzer, (1988 a 1989), Frigotto (2001 a, 2001 b, 2002), Freres<br />
(2008), da temática sobre <strong>trabalho</strong> e educação têm produzi<strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>s sobre a questão,<br />
ao mesmo tempo alerta para as ilusões contidas em tais propostas de educação<br />
relacio<strong>na</strong>da ao emprego, empregabilidade etc, mostran<strong>do</strong> que, <strong>na</strong> tradição marxista a<br />
relação <strong>trabalho</strong> e educação tem outro significa<strong>do</strong>, para além <strong>do</strong> emprego no âmbito<br />
ape<strong>na</strong>s <strong>do</strong> capital. Os movimentos sociais têm busca<strong>do</strong> vincular educação e o <strong>trabalho</strong><br />
<strong>na</strong> contramão das propostas capitalistas. Entre estes movimentos está o MST. Pretendese<br />
com este texto apresentar os resulta<strong>do</strong>s parciais de uma pesquisa em<br />
desenvolvimento sobre a relação <strong>trabalho</strong> e educação <strong>na</strong> Pedagogia <strong>do</strong> MST, ten<strong>do</strong><br />
como lócus os cursos formais 1 , especialmente o Curso de Pedagogia da Terra 2 .<br />
O MST e a sua proposta educativa<br />
O Movimento <strong>do</strong>s Trabalha<strong>do</strong>res Rurais Sem Terra é um movimento de luta<br />
social que <strong>na</strong>sceu no Brasil no início da década de 80 <strong>do</strong> século XX com objetivos de<br />
lutar pela Reforma Agrária, o que significa: a modificação da estrutura da propriedade<br />
da terra; a subordi<strong>na</strong>ção da propriedade da terra à justiça social, às necessidades <strong>do</strong><br />
povo e o desenvolvimento <strong>do</strong> campo garantin<strong>do</strong> melhores condições de vida e acesso a<br />
to<strong>do</strong>s, a educação, a cultura e o lazer. Criam e recriam suas alter<strong>na</strong>tivas de<br />
sobrevivência e constroem possibilidades de se tor<strong>na</strong>rem sujeitos e construtores de sua<br />
história.<br />
1<br />
Cursos Formais são aqueles realiza<strong>do</strong>s pelo MST em convênios ou parcerias institucio<strong>na</strong>is, com o<br />
objetivo de elevação da escolaridade com certificação legal. Cabe ressaltar que, to<strong>do</strong>s estes cursos são<br />
fi<strong>na</strong>ncia<strong>do</strong>s pelo PRONERA.<br />
2<br />
Pedagogia da Terra compreende os cursos de graduação em Pedagogia para os educa<strong>do</strong>res de<br />
assentamentos e acampamentos.
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Pode-se afirmar que, o MST se caracteriza como um movimento contra-<br />
hegemônico que se contrapõe ao modelo capitalista de produção da existência. Para<br />
materializar essa contraposição e construir outra alter<strong>na</strong>tiva de organização da vida<br />
huma<strong>na</strong>, o Movimento desenvolve ações em vários setores da atividade huma<strong>na</strong>, entre<br />
elas, o investimento em projetos educacio<strong>na</strong>is como elemento tático para a construção<br />
<strong>do</strong> projeto histórico-socialista.<br />
Assim, ao la<strong>do</strong> da luta pela socialização da terra contra a propriedade privada, o<br />
MST prioriza também a formação da consciência, e esta perpassa o acesso à educação e<br />
ao conhecimento, corroboran<strong>do</strong> a argumentação de Lênin, quan<strong>do</strong> ele afirma que, a<br />
revolução não se constrói com ignorantes, ou melhor, para construir outra sociedade é<br />
preciso que, os trabalha<strong>do</strong>res tenham conhecimento para além <strong>do</strong> senso comum, é<br />
necessário o <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> conhecimento científico.<br />
É sabi<strong>do</strong> que, a base social composta de homens e mulheres que integram o<br />
MST vem da população expropriada de tu<strong>do</strong> pelo processo histórico brasileiro, não<br />
ape<strong>na</strong>s <strong>do</strong> direito a terra, mas também à educação, saúde, lazer, descanso, crédito,<br />
<strong>trabalho</strong> e outros. Portanto, a conquista da terra é o primeiro passo para a grande<br />
caminhada em direção à construção de um novo ser humano em todas as dimensões.<br />
Isto tem se apresenta<strong>do</strong> à organização como um enorme desafio, exigin<strong>do</strong> um<br />
investimento grandioso no senti<strong>do</strong> da preparação desse novo ser humano que se<br />
pretende para outro projeto de sociedade.<br />
Ao longo <strong>do</strong>s seus 25 anos, o MST tem organiza<strong>do</strong> escolas em to<strong>do</strong>s os<br />
assentamentos e acampamentos de to<strong>do</strong> o Brasil, debaten<strong>do</strong> e implementan<strong>do</strong> uma<br />
<strong>pedagogia</strong> própria aos interesses <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res sem-terra. Além das escolas, o<br />
Movimento desenvolve diversas atividades formativas para a população <strong>do</strong>s<br />
acampamentos e assentamentos, desde as crianças, a<strong>do</strong>lescentes, jovens e adultos<br />
apresentan<strong>do</strong> uma diversidade de práticas educativo-formativas em diversos espaços.<br />
Entretanto, o Movimento está organiza<strong>do</strong> no bojo da sociedade capitalista, por<br />
isso, o desenvolvimento das ações <strong>do</strong> MST não se dá de forma linear, mas no contexto<br />
das disputas, tensões e contradições, próprias dessa sociedade. Se por um la<strong>do</strong> é<br />
equivoca<strong>do</strong> afirmar que, as ações <strong>do</strong> Movimento se limitam ape<strong>na</strong>s à conquista de<br />
direitos no marco da sociedade capitalista, por outro la<strong>do</strong>, é também equivoca<strong>do</strong> afirmar<br />
que, o Movimento não tem, através das suas práticas educativas, acumula<strong>do</strong> forças para<br />
a construção <strong>do</strong> projeto histórico-socialista.
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De acor<strong>do</strong> com Mèszáros (2005) a educação institucio<strong>na</strong>lizada, específica nos<br />
últimos 150 anos, sob a lógica <strong>do</strong> capital serviu ao propósito de: 1) produção das<br />
qualificações necessárias ao funcio<strong>na</strong>mento da economia e 2) formação de quadros e<br />
elaboração <strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s para um controle político (inter<strong>na</strong>lização <strong>do</strong>s valores da<br />
sociedade capitalista).<br />
Todavia, o referi<strong>do</strong> autor alerta que, para se atingir uma mudança educacio<strong>na</strong>l<br />
radical significativamente diferente é preciso aban<strong>do</strong><strong>na</strong>r de uma só vez as reformas<br />
sistêmicas oriundas <strong>do</strong> próprio capital. Acrescenta que, <strong>na</strong> atualidade, o senti<strong>do</strong> da<br />
mudança educacio<strong>na</strong>l não pode ser senão o de rasgar a camisa de força da lógica<br />
incorrigível <strong>do</strong> sistema, e para isto é necessário romper com a lógica <strong>do</strong> capital,<br />
perseguin<strong>do</strong> de mo<strong>do</strong> planeja<strong>do</strong> e consciente uma estratégia de rompimento <strong>do</strong> controle<br />
exerci<strong>do</strong> pelo capital, com to<strong>do</strong>s os meios disponíveis, bem como com to<strong>do</strong>s os meios<br />
ainda a ser inventa<strong>do</strong>s e que tenham o mesmo espírito.<br />
Para um movimento social confrontacio<strong>na</strong>l, como é o caso <strong>do</strong> MST, investir <strong>na</strong><br />
educação de sua base social, nos níveis da educação escolar, <strong>na</strong> formação de<br />
professores, <strong>na</strong> formação das crianças, significa formar quadros prepara<strong>do</strong>s para assumir<br />
a tarefa de romper com a lógica <strong>do</strong> capital em diversas áreas. Isto só e possível<br />
identifican<strong>do</strong>-se as contradições da realidade concreta em que se desenvolve a luta pela<br />
terra, e consequentemente o processo educacio<strong>na</strong>l <strong>na</strong> essência da sociedade capitalista<br />
como sistema contraditório em que, ao mesmo tempo em que põe em movimento forças<br />
para o seu desenvolvimento, tais forças trazem em si o germe da sua destruição.<br />
Mèszáros (2005), nos alerta que, é preciso aliar a ação diária à perspectiva<br />
histórica. As determi<strong>na</strong>ções históricas <strong>do</strong> capitalismo devem ser localizadas no<br />
movimento geral <strong>do</strong> capital para manter sua hegemonia mundializada, mas reside<br />
também <strong>na</strong> singularidade e particularidade <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> de vida que expressa em si, não de<br />
maneira automática, mas por mediações contraditórias, o que está posto no geral.<br />
O mesmo autor questio<strong>na</strong> o papel da Educação como elemento - chave no<br />
processo de reprodução <strong>do</strong> capital e reestruturação <strong>do</strong> capitalismo. Desta forma, os<br />
processos educacio<strong>na</strong>is e os processos sociais estão intimamente liga<strong>do</strong>s. Neste senti<strong>do</strong>,<br />
quanto à educação, <strong>do</strong> ponto de vista <strong>do</strong> capital, Mèszáros esclarece que,<br />
Trata-se de uma questão de ‘inter<strong>na</strong>lização’ pelos indivíduos da<br />
legitimidade da posição social que lhes foi atribuída <strong>na</strong><br />
hierarquia social, juntamente com suas expectativas
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“adequadas” e as formas de conduta “certas” mais ou menos<br />
explicitamente estipuladas nesse terreno. (MÈSZÁROS, 2005,<br />
p. 44)<br />
O rompimento com a concepção acima se dará no terreno da práxis<br />
revolucionária, ou, como expressa o autor, as mudanças não devem ser formais, mas<br />
sim essenciais. Então, de <strong>na</strong>da vale modificar as instituições formais (cujo papel é<br />
produzir tanto consenso quanto possível, de forma institucio<strong>na</strong>lizada), mas provocar<br />
uma mudança radical no sistema de produção da vida.<br />
Buscou-se, ao estudar a relação <strong>trabalho</strong> e educação desenvolvidas no<br />
interior <strong>do</strong> MST, apoiar se <strong>na</strong> tradição teórico- marxista, por compreender que é nessa<br />
tradição que se encontram a análise e as proposições teórico-práticas mais avançadas <strong>do</strong><br />
mo<strong>do</strong> de produção da vida baseadas <strong>na</strong> produção social e apropriação privada <strong>do</strong>s meios<br />
necessários à vida.<br />
Relação Trabalho e educação <strong>na</strong> Pedagogia <strong>do</strong> MST<br />
O ser humano se diferencia <strong>do</strong>s demais animais porque é capaz de agir<br />
conscientemente sobre a <strong>na</strong>tureza, transforman<strong>do</strong>-a, produzin<strong>do</strong> sua própria existência,<br />
isto se dá por intermédio <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>. Mas não é qualquer <strong>trabalho</strong>, é o <strong>trabalho</strong><br />
realiza<strong>do</strong> pelo homem por meio de sua ação consciente, tal ação transforma a <strong>na</strong>tureza,<br />
cria novos objetos, remete a novas necessidades e gera novos conhecimentos.<br />
Constituin<strong>do</strong> assim o desenvolvimento cada vez mais complexo <strong>do</strong> ser humano e das<br />
relações sociais por eles engendradas. Segun<strong>do</strong> Marx (2004), O <strong>trabalho</strong> é um processo<br />
entre o homem e a <strong>na</strong>tureza, um processo em que o homem, por sua própria ação,<br />
media, regula e controla seu metabolismo com a <strong>na</strong>tureza. (MARX, 2004, p. 36). Ao<br />
modificar por meio da sua ação, a <strong>na</strong>tureza, o homem modifica a si mesmo, “a sua<br />
própria <strong>na</strong>tureza.<br />
Lessa e Tonet (2008) afirmam que, “O <strong>trabalho</strong> é o processo de produção da<br />
base material da sociedade pela transformação da <strong>na</strong>tureza. É sempre, a objetivação de<br />
uma prévia ideação e a resposta a uma necessidade concreta”. (LESSA; TONET, 2008,<br />
p.21) Os referi<strong>do</strong>s autores afirmam que, o que vai diferenciar os seres humanos <strong>do</strong>s<br />
demais seres da <strong>na</strong>tureza é justamente a possibilidade <strong>do</strong> ser social diante de uma<br />
necessidade imagi<strong>na</strong>r uma solução, planejar, fazer escolhas e levar a ação. Ao produzir
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um objeto novo o ser social cria outras necessidades. Esse Movimento somente é<br />
possível ao ser humano, os seres biológicos por mais e melhores <strong>trabalho</strong>s que realizam,<br />
repetem o mesmo gesto há bilhões e bilhões de anos. Marx explica muito bem esta<br />
diferença mostran<strong>do</strong> que,<br />
Uma aranha executa operações semelhantes às <strong>do</strong> tecelão, e a<br />
abelha supera mais de um arquiteto ao construir sua colméia.<br />
Mas o que distingue o pior arquiteto da melhor abelha é que<br />
ele figura <strong>na</strong> mente sua construção antes de transformá-la<br />
em realidade. No fim <strong>do</strong> processo <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> aparece um<br />
resulta<strong>do</strong> que já existia antes idealmente <strong>na</strong> imagi<strong>na</strong>ção <strong>do</strong><br />
trabalha<strong>do</strong>r. Ele não transforma ape<strong>na</strong>s o material sobre o qual<br />
opera; ele imprime ao material o projeto que tinha<br />
conscientemente em mira, o qual constitui a lei determi<strong>na</strong>nte <strong>do</strong><br />
seu mo<strong>do</strong> de operar e ao qual tem de subordi<strong>na</strong>r sua vontade.<br />
(MARX, 2004, p. 36 )<br />
A partir desta constatação de Marx podemos afirmar que <strong>trabalho</strong> é um elemento<br />
central no processo de formação <strong>do</strong> ser social. Deste mo<strong>do</strong> é importante reafirmar que, o<br />
processo de produção da existência <strong>do</strong> ser humano se dá através <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>. Mas a<br />
reprodução <strong>do</strong>s aprendiza<strong>do</strong>s, e <strong>do</strong>s conhecimentos gera<strong>do</strong>s com tal ação, se dá com a<br />
transmissão de uma geração a outra, é neste contexto que situa a EDUCAÇÃO.<br />
Saviani (2007) afirma que, “<strong>trabalho</strong> e educação são atividades especificamente<br />
huma<strong>na</strong>s. Isso significa que, rigorosamente falan<strong>do</strong>, ape<strong>na</strong>s o ser humano trabalha e se<br />
educa. Na medida em que o ser humano desenvolve um <strong>trabalho</strong> ele se educa”. (p. 152)<br />
A história nos mostra que, os processos educativos foram modifican<strong>do</strong> ao<br />
longo das várias formas de organização social desenvolvida pelos seres humanos.<br />
Neste senti<strong>do</strong> Saviani afirma que,<br />
O desenvolvimento da sociedade de classes,<br />
especificamente <strong>na</strong>s suas formas escravista e feudal,<br />
consumou a separação entre educação e <strong>trabalho</strong>. No<br />
entanto, não se pode perder de vista que isso só foi<br />
possível a partir da própria determi<strong>na</strong>ção <strong>do</strong> processo de<br />
<strong>trabalho</strong>. (SAVIANI, 2007, p. 157)<br />
Tais fatos demonstram que, o desenvolvimento <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> e consequentemente<br />
da educação não se desenvolveram historicamente de forma harmônica, é preciso<br />
ressaltar que, ao longo da história da humanidade esse movimento se deu por profundas
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tensões, contradições e enfrentamentos. Taffarel (s/d), ao discutir a formação <strong>do</strong> ser<br />
social no interior das contradições capitalistas, afirma que,<br />
O homem não se tor<strong>na</strong> ser humano sem suas atividades e<br />
relações com os demais seres humanos, com o entorno,<br />
com a <strong>na</strong>tureza, sem desenvolver seus meios de produção,<br />
sem reproduzi-los, sem reproduzir a própria vida. No<br />
entanto, o padrão que se desenvolveu, por séculos e<br />
séculos está basea<strong>do</strong> <strong>na</strong> exploração, expropriação,<br />
exploração, que se manifestam hoje <strong>na</strong> destruição da<br />
<strong>na</strong>tureza, da cultura, das forças produtivas – <strong>trabalho</strong>,<br />
trabalha<strong>do</strong>r, meio ambiente. O que caracteriza este<br />
sistema, construí<strong>do</strong> historicamente, são, portanto, a<br />
produção social de bens e a apropriação privada, a<br />
concentração de renda, a propriedade privada <strong>do</strong>s meios de<br />
produção. (TAFFAREL, s/d, p. 2)<br />
O <strong>trabalho</strong> <strong>na</strong> sociedade capitalista se desenvolve <strong>na</strong> maioria das vezes de<br />
forma alie<strong>na</strong>da, separan<strong>do</strong> <strong>do</strong>s processos de reflexão, tal <strong>trabalho</strong> se tor<strong>na</strong> um ato<br />
mecânico. O trabalha<strong>do</strong>r, normalmente, não reflete sobre o que seu <strong>trabalho</strong> é capaz de<br />
produzir e como este está organiza<strong>do</strong>, por isso não consegue compreender a cadeia de<br />
relações que conformam a sociedade. Mèszáros, ao discutir a educação no seio da luta<br />
de classes, nos alerta que,<br />
Ao pensar a educação <strong>na</strong> perspectiva da luta de classe<br />
emancipatória não poderia senão estabelecer os vínculos – tão<br />
esqueci<strong>do</strong> – entre educação e <strong>trabalho</strong>, como que afirman<strong>do</strong>:<br />
digam-me onde esta o <strong>trabalho</strong> em um tipo de sociedade, e eu te<br />
direi onde está a educação. Em uma sociedade <strong>do</strong> capital, e a<br />
educação e o <strong>trabalho</strong> se subordi<strong>na</strong> a essa dinâmica, da mesma<br />
que em uma sociedade em que se universalize o <strong>trabalho</strong> – uma<br />
sociedade em que to<strong>do</strong>s se tornem trabalha<strong>do</strong>res -, somente aí se<br />
universalizará a educação. A auto-educação de iguais e a<br />
autogestão da ordem social reprodutiva não podem ser<br />
separadas uma da outra. (MÉSZÁROS, 2005, p.17)<br />
Deste mo<strong>do</strong>, é importante destacar que, o <strong>trabalho</strong> e a formação huma<strong>na</strong>,<br />
enquanto dimensão da educação numa perspectiva emancipatória, como almejada pelos<br />
movimentos sociais, entre eles o MST, há necessidade de entender a essência <strong>do</strong><br />
<strong>trabalho</strong> e suas contradições como media<strong>do</strong>r essencial para construir, de forma crítica e<br />
criativa, a realidade e as possibilidades concretas de transformação que se pretende. É<br />
nesta perspectiva que se faz oportuno aprofundar os estu<strong>do</strong>s e análises sobre a relação
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<strong>trabalho</strong> e educação <strong>na</strong> Pedagogia <strong>do</strong> MST, especialmente nos cursos formais, visto que<br />
estes cursos constituem locais privilegia<strong>do</strong>s de exercício da implementação <strong>do</strong>s<br />
princípios pedagógicos e filosóficos da Pedagogia <strong>do</strong> Movimento.<br />
Em sua proposta educativa o MST defende uma educação transforma<strong>do</strong>ra, massiva,<br />
integral, baseada em princípios filosóficos e pedagógicos, os quais são brevemente<br />
descritos a seguir:<br />
a) Educação para a transformação social- O Movimento entende que a educação<br />
deve contribuir para a transformação da sociedade atual, bem como para a<br />
construção de uma nova ordem social baseada nos pilares da Justiça social, da<br />
radicalidade democrática e nos valores humanistas e socialistas.<br />
b) Educação para a cooperação- O Movimento constata que a sua base social é<br />
composta por basicamente trabalha<strong>do</strong>res/as rurais, e desta forma os participantes<br />
<strong>do</strong> Movimento trazem uma cultura individualista, de isolamento, conserva<strong>do</strong>ra e<br />
agarrada à propriedade. Partin<strong>do</strong> desse diagnóstico, o Movimento desenvolve<br />
uma formação intencio<strong>na</strong>l, voltada para a cultura da cooperação e para as<br />
incorporações criativas das lições históricas da organização coletiva, <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong><br />
cooperativo; entra no interior das escolas e proporcio<strong>na</strong> a vivência da prática<br />
cooperativa, desde as ações mais simples até as mais complexas.<br />
c) Educação voltada às várias dimensões da pessoa huma<strong>na</strong> - O MST argumenta<br />
que, uma prática educativa revolucionária deve trabalhar <strong>na</strong> perspectiva de<br />
integrar as diversas esferas da vida huma<strong>na</strong>. “Nesse senti<strong>do</strong>, somos contra a<br />
educação unilateral (uma única dimensão) e defendemos a educação onmilateral<br />
(várias dimensões) intelectual, manual, política, estética, moral, ética, religiosa,<br />
cultural, afetiva. Para nós não tem senti<strong>do</strong> ape<strong>na</strong>s o cultivo <strong>do</strong> intelecto” (MST,<br />
1999).<br />
d) Educação com valores humanistas e socialistas - Como movimento contrahegemônico,<br />
romper com os valores da sociedade capitalista (lucros,<br />
individualismo, competição, consumismo,) é um desafio fundamental. Por isso,<br />
intencio<strong>na</strong>lmente <strong>na</strong>s escolas <strong>do</strong>s assentamentos vincula<strong>do</strong>s ao MST cultivam se<br />
nos educan<strong>do</strong>s/as e educa<strong>do</strong>res/as os novos valores, pois segun<strong>do</strong> o Movimento,<br />
não basta conquistar a terra, melhorar a vida e continuar com as mesmas<br />
relações sociais, atitudes e valores anti-humanos da sociedade capitalista.
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e) Educação, formação e transformação <strong>do</strong> ser humano - Outro princípio que o<br />
MST considera fundamental em sua proposta educativa é a profunda crença <strong>na</strong><br />
pessoa huma<strong>na</strong> e <strong>na</strong> sua capacidade de formação e transformação. Assim<br />
demonstra ser o próprio Movimento um espaço onde deverá acontecer a<br />
transformação <strong>na</strong>s pessoas através da luta coletiva, ou melhor, de trabalha<strong>do</strong>r<br />
isola<strong>do</strong> ao trabalha<strong>do</strong>r coletivo, organicamente vincula<strong>do</strong> às associações e<br />
organizações de classe gestadas no movimento como sujeito coletivo.<br />
Os princípios filosóficos acima descritos norteiam as atividades desenvolvidas,<br />
desde as salas de aula até a organização <strong>do</strong>s cursos, encontros, seminários e atividades<br />
educativas em geral, acompanha<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s princípios pedagógicos, os quais relacio<strong>na</strong>mos<br />
a seguir: Relação teoria/prática; A realidade como base de produção <strong>do</strong>s<br />
conhecimentos; Atitudes e habilidades de pesquisa; Conteú<strong>do</strong>s formativos socialmente<br />
úteis; Vínculos orgânicos entre processos educativos e processos políticos; Vínculo<br />
orgânico entre educação e cultura; Educação para e pelo <strong>trabalho</strong>.<br />
Nestes princípios, o MST enfatiza que, o <strong>trabalho</strong> tem um valor fundamental.<br />
Lembra que, é o <strong>trabalho</strong> que gera riqueza e identifica as pessoas como classe,<br />
acrescenta ainda que, pelo <strong>trabalho</strong> é possível construir novas relações sociais e também<br />
novas consciências, tanto coletivas quanto individuais.<br />
Deste mo<strong>do</strong>, afirma que, o <strong>trabalho</strong> não pode ser uma espécie de parêntese <strong>na</strong><br />
escola, pelo contrário, ele deve permear o conjunto das atividades que ali se<br />
desenvolvem. Acredita-se que, os processos pedagógicos, e especialmente, as escolas,<br />
não podem ficar alheios aos processos produtivos da sociedade em geral, sobretu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s<br />
assentamentos.<br />
O MST compreende que, é necessário formar pessoas que valorizem o que fazem,<br />
apesar <strong>do</strong> lugar de submissão ocupa<strong>do</strong> pela peque<strong>na</strong> agricultura no modelo de<br />
desenvolvimento <strong>do</strong> país, o Movimento argumenta que, é vital trabalhar a autoestima<br />
<strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res e também a valorização da terra conquistada, para que se disponham a<br />
colaborar e a se preparar cada vez mais para o aumento da produção coletiva, o qual<br />
conseqüentemente se reverterá em melhorias das condições de vida <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res.<br />
Para o Movimento é importante que, os filhos <strong>do</strong>s assenta<strong>do</strong>s tenham<br />
condições de permanecerem no campo e que saibam lutar para que essa permanência se<br />
faça com dignidade e convicção da emancipação.
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Desde os primeiros escritos 3 <strong>do</strong> MST sobre a educação, constata-se a<br />
preocupação com a dimensão formativa <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>. No Caderno de Formação número<br />
18, publica<strong>do</strong> em julho de 1991, com o título O que queremos com as escolas <strong>do</strong>s<br />
assentamentos é possível constatar a dimensão educativa <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> proposta pelo<br />
MST. Os objetivos traça<strong>do</strong>s para as escolas <strong>do</strong>s assentamentos vincula<strong>do</strong>s ao<br />
Movimento são descritos de maneira resumida:<br />
Ensi<strong>na</strong>r a ler, escrever e calcular a realidade;<br />
Ensi<strong>na</strong>r a fazer fazen<strong>do</strong>, isto é pela prática;<br />
Construir o novo;<br />
Preparar igualmente para o <strong>trabalho</strong> manual e intelectual;<br />
Ensi<strong>na</strong>r a realidade local e geral;<br />
Gerar sujeitos da história e preocupar-se com a pessoa integral.<br />
Os princípios pedagógicos são enumera<strong>do</strong>s como orientações e conclaman<strong>do</strong> a<br />
to<strong>do</strong>s e todas sem terra as atividades educativas misturadas ao <strong>trabalho</strong> e a organização<br />
coletiva: 1) To<strong>do</strong>s ao <strong>trabalho</strong>; 2) To<strong>do</strong>s se organizan<strong>do</strong>; 3)To<strong>do</strong>s participan<strong>do</strong>; 4) To<strong>do</strong><br />
o assentamento <strong>na</strong> escola e toda a escola no assentamento; 5) To<strong>do</strong> o ensino partin<strong>do</strong> da<br />
prática; 6) To<strong>do</strong> professor é um militante; e 7) To<strong>do</strong>s se educan<strong>do</strong> para o novo. (MST,<br />
2005, p.37)<br />
É possível perceber a importância atribuída ao <strong>trabalho</strong> para a formação das<br />
crianças, observa-se ainda que, os princípios traça<strong>do</strong>s pelo MST para as escolas de<br />
assentamentos além de vincular a escola com o <strong>trabalho</strong>, enfatiza também outros<br />
aspectos formativos como: a organização coletiva, a participação, a vinculação com a<br />
realidade, a prática, alem de convocar os educa<strong>do</strong>res a militância, vislumbran<strong>do</strong> a<br />
educação de to<strong>do</strong>s para o novo.<br />
Tais preocupações podem ser também constatadas no Boletim da Educação n°<br />
01, publica<strong>do</strong> em 1992, o <strong>do</strong>cumento deixa claro a função da escola de assentamento e a<br />
preparação para o <strong>trabalho</strong> quan<strong>do</strong> afirma que,<br />
3 Refiro-me ao <strong>do</strong>cumento básico <strong>do</strong> MST publica<strong>do</strong> me fevereiro/ 1991 durante o 6º <strong>Encontro</strong> <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l<br />
<strong>do</strong> Movimento realiza<strong>do</strong> em Piracicaba. Neste <strong>do</strong>cumento foram aprovadas as linhas políticas gerais <strong>do</strong><br />
Movimento e entre elas as orientações para a educação <strong>na</strong>s escolas <strong>do</strong> MST. As linhas políticas<br />
afirmavam entre outras questões, era preciso desenvolver uma educação com base <strong>na</strong> realidade, <strong>na</strong>s<br />
experiências acumuladas, e preparar critica e criativamente para a participação nos processos de<br />
mudanças da sociedade, de forma coletiva, construir conhecimentos científicos mínimos para o avanço da<br />
produção, amplian<strong>do</strong> e fortalecen<strong>do</strong> a relação entre escola e assentamento. Dos princípios elenca<strong>do</strong>s, o<br />
primeiro é - Ter o <strong>trabalho</strong> e a organização coletiva como valores educativos fundamentais. (grifos<br />
nossos)
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A escola de assentamento deve preparar as crianças para o<br />
<strong>trabalho</strong> no meio rural; a escola deve preparar para a<br />
cooperação, ser coletiva e democrática, qualificar as<br />
experiências de <strong>trabalho</strong> produtivo das crianças no<br />
assentamento. O ensino deve partir da prática e levar ao<br />
conhecimento cientifico da realidade. (MST, 2005, p. 39)<br />
A preocupação <strong>do</strong> MST e a vinculação da escola ao <strong>trabalho</strong> aparecem<br />
conectada à realidade, à coletividade, à cooperação e aos valores humanistas. Para o<br />
MST, o grande papel da escola é “ajudar no processo de educação <strong>do</strong> coletivo, crian<strong>do</strong><br />
condições objetivas para que as crianças se capacitem para a organização coletiva, para<br />
a cooperação”. (MST, 2005, p. 41)<br />
Para orientar as escolas <strong>na</strong> elaboração <strong>do</strong>s currículos foi publica<strong>do</strong> em o Caderno<br />
de Educação n° 01, com o título: Como fazer a escola que queremos. Neste caderno o<br />
MST deixa claro a sua compreensão de currículo, propõe romper com a forma de<br />
currículo ape<strong>na</strong>s centrada em lista de conteú<strong>do</strong>s. Destaca a importância <strong>do</strong><br />
planejamento, e neste processo reafirma a importância da vinculação entre estu<strong>do</strong> e<br />
<strong>trabalho</strong>, propon<strong>do</strong> que, as crianças aprendam, estudem, se eduquem através <strong>do</strong><br />
<strong>trabalho</strong>.<br />
A dimensão educativa <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> tem destaque especial no Boletim da Educação nº.<br />
4, intitula<strong>do</strong> Escola Trabalho e Cooperação, publica<strong>do</strong> em maio de 1994. Este <strong>do</strong>cumento<br />
traz uma reflexão sobre o <strong>trabalho</strong> enquanto princípio educativo argumenta que, o que mais<br />
educa as pessoas é a sua ação, a sua prática <strong>do</strong> dia-a-dia, ou seja, “aprender fazer fazen<strong>do</strong>”,<br />
alerta que não há aí a exclusão da teoria, pelo contrário, a proposta é que exista sim uma<br />
teoria, mas que a mesma seja construída a partir de uma prática numa relação prática-teoriaprática.<br />
Outro argumento apresenta<strong>do</strong> no <strong>do</strong>cumento é que o <strong>trabalho</strong> educa porque mexe<br />
com as várias dimensões importantes da formação huma<strong>na</strong>, destaca como fundamentais as<br />
seguintes dimensões formativas <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>:<br />
O <strong>trabalho</strong> educa forman<strong>do</strong> a consciência das pessoas- o<br />
<strong>trabalho</strong> é uma dimensão tão forte para a vida das pessoas que<br />
molda a sua perso<strong>na</strong>lidade, o seu jeito de ser, além disso, o<br />
<strong>trabalho</strong> educa produzin<strong>do</strong> conhecimentos e crian<strong>do</strong><br />
habilidades.<br />
O <strong>trabalho</strong> educa produzin<strong>do</strong> conhecimentos e crian<strong>do</strong><br />
habilidades – to<strong>do</strong> o conhecimento produzi<strong>do</strong> pela<br />
humanidade <strong>na</strong>sceu a partir <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>, da ação <strong>do</strong> homem
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sobre a <strong>na</strong>tureza, transforman<strong>do</strong> a para suprir suas<br />
necessidades;<br />
O <strong>trabalho</strong> educa provocan<strong>do</strong> necessidades huma<strong>na</strong>s<br />
superiores a ação sobre a <strong>na</strong>tureza para suprir suas<br />
necessidades cria outras necessidades, como: ler, aprender<br />
mais sobre o mun<strong>do</strong>, conhecer mais pessoas etc. e quanto<br />
maior o numero e mais complexas as necessidades, maiores<br />
também são os motivos para prosseguir e qualificar no<br />
<strong>trabalho</strong>, no senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> ser humano se tor<strong>na</strong>r cada vez mais<br />
pleno, cada vez mais humano. (MST, 1994, p.5- 6)<br />
No tocante a relação escola e o <strong>trabalho</strong>, o referi<strong>do</strong> Boletim traz algumas indagações ao<br />
mesmo tempo propõe reflexões acerca <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> e seu potencial pedagógico:<br />
Porque o <strong>trabalho</strong> <strong>na</strong> escola?<br />
a) Pela potencialidade pedagógica <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>. Se <strong>na</strong>da mais há<br />
de educativo que o <strong>trabalho</strong>, por que a escola (que é uma<br />
instituição de educação) não se valer deste poderoso<br />
instrumento?<br />
b) Porque a escola pode ajudar a tor<strong>na</strong>r o <strong>trabalho</strong> <strong>do</strong>s alunos<br />
mais ple<strong>na</strong>mente educativo, unin<strong>do</strong> teoria e prática, provocan<strong>do</strong><br />
o estu<strong>do</strong> e a reflexão sobre as questões <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>.<br />
O MST justifica ainda a relação da escola com o <strong>trabalho</strong> por duas razões, por ser<br />
um elemento forma<strong>do</strong>r da consciência e em segun<strong>do</strong> lugar por que ele ajuda consolidar<br />
uma escola <strong>na</strong> perspectiva <strong>do</strong> movimento de luta social a serviço da luta da classe<br />
trabalha<strong>do</strong>ra. Em síntese, o Movimento Sem Terra, ao propor uma escola <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong><br />
quer de acor<strong>do</strong> com o Boletim nº 04:<br />
Chamar atenção e dar ênfase para o senti<strong>do</strong> social da escola<br />
num acampamento ou assentamento – vinculan<strong>do</strong> realidade<br />
<strong>do</strong> assentamento aos estu<strong>do</strong>s;<br />
Educar para a cooperação agrícola - a escola <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong><br />
que se propõe é a escola <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> coletivo, aprendi<strong>do</strong> <strong>na</strong><br />
prática, refleti<strong>do</strong> a partir da prática e através <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> das<br />
experiências de cooperação no campo e <strong>na</strong> cidade.<br />
Preparar para o <strong>trabalho</strong> – proporcio<strong>na</strong>r ao aluno iniciação<br />
técnica ao diversos tipos de <strong>trabalho</strong> manual e intelectual,<br />
em especial os necessários para o avanço <strong>do</strong> meio rural;<br />
Desenvolver o amor pelo <strong>trabalho</strong> e pelo meio rural – fixar o<br />
jovem no campo é um desafio, é necessário formar pessoas<br />
que gostem e se orgulhem <strong>do</strong> que fazem e queiram<br />
permanecer no campo;
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Provocar a necessidade de aprender e de criar - uma escola<br />
em movimento, em ação, só se aprende quan<strong>do</strong> tem a<br />
necessidade de aprender;<br />
Preparar novas gerações para as mudanças sociais – para<br />
lutar pela sociedade sem explora<strong>do</strong>s nem explora<strong>do</strong>res, e<br />
para viver esta nova sociedade. (MST, 2005, p. 95-96)<br />
Em outras pesquisas realizadas em escolas de educação básica (ARAÚJO, 2000;<br />
2007) constatou-se que, os educa<strong>do</strong>res têm busca<strong>do</strong> implementar estes princípios <strong>na</strong>s<br />
escolas <strong>do</strong>s assentamentos. Percebeu-se que, os educan<strong>do</strong>s/as se organizam em grupos e<br />
cada grupo desenvolve algum tipo de <strong>trabalho</strong> previamente planeja<strong>do</strong>, que varia desde<br />
arrumação de biblioteca, cultivo de hortas e jardins, irrigação de canteiros, criação de<br />
pequenos animais, até limpeza e embelezamento da escola e de seus arre<strong>do</strong>res. Foi<br />
possível perceber ainda que, estas atividades se desenvolvem acompanhadas <strong>do</strong><br />
exercício de planejamento, responsabilidade, prática de coorde<strong>na</strong>ção de atividades,<br />
cooperação e avaliação <strong>do</strong> processo, além de propiciar a convivência social.<br />
No tocante à relação <strong>trabalho</strong> e educação <strong>na</strong>s experiências educativas <strong>do</strong> MST,<br />
Vendramini (2009) desenvolveu importante levantamento sobre a produção <strong>do</strong><br />
conhecimento 4 problematizan<strong>do</strong> o caráter emancipatório <strong>do</strong> MST observa<strong>do</strong> nos estu<strong>do</strong>s<br />
e a relação que se estabelece entre formação e <strong>trabalho</strong>. A referida autora cita <strong>trabalho</strong>s<br />
como os de: Araújo (2006), Dalmagro (2002), Vendramini (1997, 2002) Bo<strong>na</strong>migo<br />
(2007), Menezes Neto (2001), Ribeiro (2001), Silva (2005), Titon (2006) e outros que<br />
discutem sobre o <strong>trabalho</strong> como princípio educativo os dilemas e possibilidades <strong>na</strong>s<br />
práticas educativas <strong>do</strong> MST.<br />
Para Vendramini, <strong>na</strong> educação <strong>do</strong> MST o <strong>trabalho</strong> enquanto princípio educativo.<br />
Aparece como elemento educa<strong>do</strong>r e forma<strong>do</strong>r. É considera<strong>do</strong> um<br />
valor moral, no senti<strong>do</strong> de que o <strong>trabalho</strong> educa o ser humano, e<br />
to<strong>do</strong> Sem Terra deve por ele primar, compreenden<strong>do</strong>-o como<br />
dignificante, educativo, enobrece<strong>do</strong>r. (VENDRAMINI, 2002, p.<br />
137)<br />
Segun<strong>do</strong> a autora, o MST entende o <strong>trabalho</strong> nessa dimensão forma<strong>do</strong>ra quan<strong>do</strong><br />
submeti<strong>do</strong> a outras relações sociais que não as burguesas. Dos <strong>trabalho</strong>s a<strong>na</strong>lisa<strong>do</strong>s pela<br />
autora, Titon (2006) e Menezes Neto (2001) vão <strong>na</strong> direção da pesquisa que realizamos,<br />
4 VENDRAMINI, Célia R. A educação, o <strong>trabalho</strong> e a emancipação huma<strong>na</strong>: uma análise das pesquisas<br />
sobre o MST., 32a Reunião anual da ANPed, 2009, Caxambu - MG.
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qual seja, a<strong>na</strong>lisam as contradições e possibilidades <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> como princípio educativo<br />
desenvolvi<strong>do</strong> nos cursos formais <strong>do</strong> MST.<br />
Constatações ainda parciais da pesquisa...<br />
Para a concepção marxista de ser humano, a união <strong>trabalho</strong> e ensino não pode se<br />
reduzir a uma meto<strong>do</strong>logia didático- pedagógica em sala de aula, ela se identifica com<br />
as própria essência <strong>do</strong> ser humano. Neste senti<strong>do</strong>, uma educação que se pretenda<br />
emancipatória deve estar vinculada às transformações das condições de vida e <strong>trabalho</strong><br />
<strong>do</strong> grupo em que ela está inserida. Para isto é preciso buscar incessantemente a<br />
universalização da educação e <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> como atividade huma<strong>na</strong> auto-realizada,<br />
oposta à negação <strong>do</strong>s requisitos mínimos para a satisfação huma<strong>na</strong> e a destruição<br />
produtiva. (MÈSZÁROS, 2005)<br />
O <strong>trabalho</strong> como principio educativo no curso de Pedagogia da Terra 5<br />
desenvolveu-se organiza<strong>do</strong> no bojo da organicidade <strong>do</strong> curso, sua proposta<br />
meto<strong>do</strong>lógica propôs alguns tempos educativos 6 e nestes, o TEMPO TRABALHO. O<br />
Tempo <strong>trabalho</strong> apareceu em duas formas:<br />
1) O Tempo Trabalho aparece <strong>na</strong> proposta meto<strong>do</strong>lógica como um tempo reserva<strong>do</strong><br />
à execução das atividades necessárias ao bom desenvolvimento <strong>do</strong> curso<br />
visan<strong>do</strong> garantir os serviços necessários ao bem-estar da coletividade. Na<br />
referida proposta a quantidade deste tempo não esteve estipulada previamente.<br />
As demandas de <strong>trabalho</strong> existentes é que definiam a quantidade de tempo<br />
necessário para o desenvolvimento das tarefas. Estes <strong>trabalho</strong>s consistiam em<br />
limpeza <strong>do</strong> local, das louças, banheiros, <strong>do</strong>rmitórios, realização de místicas,<br />
organização das atividades políticos pedagógicas <strong>do</strong> curso, arrumação da<br />
5 O curso foi desenvolvi<strong>do</strong> pela UNEB, fi<strong>na</strong>ncia<strong>do</strong> pelo PRONERA, executa<strong>do</strong> a nível local pelo Departamento de<br />
Educação-Campus X, localiza<strong>do</strong> em Teixeira de Freitas, região <strong>do</strong> Extremo Sul <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.<br />
6 Os tempos educativos são uma dimensão da proposta pedagógica <strong>do</strong> MST. Cerioli (2004, pp. 22 - 23)<br />
justifica que eles reforçam <strong>do</strong>is princípios básicos da Pedagogia <strong>do</strong> Movimento:<br />
a) A necessidade de mudar a existência <strong>do</strong>s educan<strong>do</strong>s (seu jeito de viver e perceber o mun<strong>do</strong>), pois<br />
geralmente os educan<strong>do</strong>s que vêm para os cursos formais trazem uma cultura em que o seu<br />
tempo é geri<strong>do</strong> pelas tarefas diárias, sem levar em conta o tempo cronológico. O “tempo<br />
<strong>na</strong>tural”, que deste mo<strong>do</strong> é geri<strong>do</strong> pelo espontaneísmo e condicio<strong>na</strong><strong>do</strong> pela objetividade da<br />
sobrevivência.<br />
b) Demonstrar que a escola não é ape<strong>na</strong>s lugar de estu<strong>do</strong>, aonde se vai ape<strong>na</strong>s para se ter aulas. O<br />
Curso é parte da formação huma<strong>na</strong> <strong>do</strong>s sujeitos que nele se encontram, por isso as várias<br />
dimensões da vida têm lugar no Curso e são trabalhadas pedagogicamente de forma intencio<strong>na</strong>l.
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secretaria e da biblioteca, ajuda <strong>na</strong> limpeza e embelezamento <strong>do</strong> local. São,<br />
portanto, <strong>trabalho</strong>s relacio<strong>na</strong><strong>do</strong>s ao mun<strong>do</strong> da necessidade <strong>do</strong>s estudantes no<br />
local em que estiveram hospeda<strong>do</strong>s.<br />
2) Outra forma de <strong>trabalho</strong> constata<strong>do</strong> <strong>na</strong> proposta meto<strong>do</strong>lógica <strong>do</strong> curso e o<br />
Tempo Trabalho Voluntário, para esta atividade são delimitadas dez horas por<br />
etapa presencial. Conforme a referida proposta, este tempo de <strong>trabalho</strong> desti<strong>na</strong>se<br />
aos <strong>trabalho</strong>s em outras localidades e também no assentamento onde estão<br />
conviven<strong>do</strong>. Visa desenvolver <strong>trabalho</strong>s diferencia<strong>do</strong>s, prestar contribuições aos<br />
assenta<strong>do</strong>s no tocante às questões organizativas <strong>do</strong>s assentamentos<br />
circunvizinhos.<br />
No Curso pesquisa<strong>do</strong>, constatou-se que, o tempo-<strong>trabalho</strong> voluntário permitiu que,<br />
fossem desenvolvidas diversas atividades nos assentamentos vizinhos como: <strong>trabalho</strong> de<br />
ajardi<strong>na</strong>mento e embelezamento <strong>do</strong>s assentamentos, construção de parques infantis de<br />
forma alter<strong>na</strong>tiva, visitas às famílias assentadas, limpeza de túmulos de um integrante<br />
<strong>do</strong> MST, em cemitério que fica próximo ao assentamento sede <strong>do</strong> curso; organização de<br />
manifestações como a ocupação da prefeitura municipal <strong>do</strong> Pra<strong>do</strong>, Mucuri e outras.<br />
Com relação ao vínculo entre educação e <strong>trabalho</strong>, constatou-se que, o <strong>trabalho</strong><br />
desenvolvi<strong>do</strong> no âmbito das práticas observadas esteve liga<strong>do</strong> às atividades <strong>do</strong>mésticas<br />
(limpeza <strong>do</strong> local, embelezamento <strong>do</strong> ambiente, arrumação <strong>do</strong>s materiais escolares),<br />
atividades culturais (preparação de noites culturais, místicas, organização de atividades<br />
formativas; cursos, encontros, seminários, alfabetização de adultos), atividades<br />
produtivas (<strong>trabalho</strong> <strong>na</strong> horta, produção agrícola, irrigação de canteiros, capi<strong>na</strong>s etc).<br />
Constatou-se ainda que, o <strong>trabalho</strong> foi desenvolvi<strong>do</strong> <strong>na</strong>s práticas educativas<br />
pesquisadas, mas não se percebeu uma discussão sobre a dimensão ontológica <strong>do</strong><br />
<strong>trabalho</strong>, sobre a organização <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> <strong>na</strong> sociedade capitalista, fican<strong>do</strong> tais<br />
atividades ape<strong>na</strong>s no âmbito <strong>do</strong> cumprimento de tarefas para reforçar a organização e<br />
funcio<strong>na</strong>mento <strong>do</strong>s locais, como ajuda e colaboração onde acontece a prática, buscan<strong>do</strong>se<br />
ape<strong>na</strong>s cumprir um princípio pedagógico que está <strong>na</strong> proposta educativa <strong>do</strong><br />
Movimento, sem estabelecer uma relação direta entre o <strong>trabalho</strong> manual e o intelectual.<br />
Logo, a essência <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> esteve presente no mo<strong>do</strong> de organizar as práticas, mas a<br />
nosso ver, faltaram reflexões e debates acerca da sua função social e das contradições<br />
sobre o <strong>trabalho</strong> <strong>na</strong> sociedade capitalista.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS...<br />
Buscou-se através deste texto apresentar os resulta<strong>do</strong>s ainda parciais de uma<br />
pesquisa que se encontra em desenvolvimento com objetivo de identificar a relação<br />
<strong>trabalho</strong> e educação <strong>na</strong> proposta pedagógica <strong>do</strong> MST, suas contradições e<br />
possibilidades.<br />
Constatou-se através da revisão da literatura baseada no materialismo históricodialético<br />
que, o ser humano não <strong>na</strong>sce humano, se tor<strong>na</strong> humano, <strong>na</strong> medida em que ele<br />
trabalha e produz seus meios de vida, e ainda, que, a formação <strong>do</strong> ser social se dá<br />
quan<strong>do</strong> ele apreende as realizações feitas por outras gerações. Assim, a educação e o<br />
<strong>trabalho</strong> constituem-se como um importante fator de humanização. Cabe salientar que,<br />
não é qualquer <strong>trabalho</strong>, ou qualquer educação, pois ambos <strong>na</strong> sociedade capitalista têm<br />
uma função dialética, podem contribuir para o processo de emancipação ou para a<br />
alie<strong>na</strong>ção e consequentemente se tor<strong>na</strong>r um processo repetitivo e alie<strong>na</strong><strong>do</strong>.<br />
A pesquisa indicou que, o MST tem busca<strong>do</strong> ao longo de sua história<br />
desenvolver a luta pela terra (pelo <strong>trabalho</strong> livre) e uma educação vinculada ao <strong>trabalho</strong><br />
como princípio educativo. Os <strong>do</strong>cumentos a<strong>na</strong>lisa<strong>do</strong>s mostram que a preocupação em<br />
relação à intenção <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> Movimento. Por outro la<strong>do</strong>, as práticas observadas,<br />
embora em uma realidade bastante singular, deixa entrever a totalidade maior que o<br />
MST está inseri<strong>do</strong>, ou seja, <strong>na</strong> sociedade capitalista como um to<strong>do</strong>. Assim, percebeu-se<br />
que, a intenção se esbarra numa série de condicio<strong>na</strong>ntes advin<strong>do</strong>s <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> de<br />
organização da produção da existência próprios da sociedade onde está inseri<strong>do</strong>. Tonet<br />
mostra este dilema quan<strong>do</strong> nos diz que,<br />
Certamente, podem-se estabelecer políticas educacio<strong>na</strong>is mais<br />
ou menos progressistas e, por isso, a luta nessa esfera não deve<br />
ser menosprezada. Porém, o conjunto da educação só poderá<br />
adquirir um caráter pre<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntemente emancipa<strong>do</strong>r <strong>na</strong> medida<br />
em que a matriz da sociabilidade emancipada – o <strong>trabalho</strong><br />
associa<strong>do</strong> – fizer pender a balança para o la<strong>do</strong> da efetiva<br />
superação da sociabilidade <strong>do</strong> capital [...] Propor, hoje, uma<br />
“educação emancipa<strong>do</strong>ra” não pode passar da simples projeção<br />
de um desejo, de um discurso humanista abstrato. O que é<br />
possível fazer, hoje, a nosso ver, são atividades educativas que<br />
apontem no senti<strong>do</strong> da emancipação. (TONET, s/d, p. 11)
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As políticas educacio<strong>na</strong>is, <strong>na</strong> atualidade, têm si<strong>do</strong> organizadas sob a lógica de<br />
atender às demandas para o merca<strong>do</strong>, desse mo<strong>do</strong> assume um caráter mercantil, a<br />
formação <strong>do</strong>s sujeitos resume-se à formação para o emprego incerto.<br />
Estamos viven<strong>do</strong> um momento de disputas <strong>do</strong>s projetos educacio<strong>na</strong>is no campo<br />
e <strong>na</strong> cidade, o MST tem assumi<strong>do</strong> o papel de protagonista nesta disputa, <strong>na</strong> luta pela<br />
superação da sociedade capitalista. Para isso, tem busca<strong>do</strong> resgatar o vínculo ontológico<br />
entre <strong>trabalho</strong> e educação, realiza<strong>do</strong>s inúmeras lutas sociais para que os sujeitos sociais<br />
tenham acesso ao conhecimento socialmente produzi<strong>do</strong> e ao mesmo tempo possam se<br />
apropriar <strong>do</strong>s fundamentos científicos das técnicas produtivas, o que contribui tanto<br />
para a formação integral quanto para a emancipação <strong>do</strong> sujeito.<br />
Deste mo<strong>do</strong>, o ato de estudar e o ato de lutar contra o modelo estão entrelaça<strong>do</strong>s<br />
permanentemente numa única ação, reafirman<strong>do</strong> as palavras de Frigotto (1991, p. 81)<br />
quan<strong>do</strong> nos diz que “a práxis expressa, justamente, a unidade indissolúvel de duas<br />
dimensões distintas no processo de conhecimento: teoria e ação. A reflexão teórica<br />
sobre a realidade não é uma reflexão diletante, mas uma reflexão em função da ação”.<br />
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VENDRAMINI, Célia. A educação, o <strong>trabalho</strong> e a emancipação huma<strong>na</strong>: uma análise<br />
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