aspectos econômicos do horário de verão - Câmara dos Deputados
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ASPECTOS<br />
ECONÔMICOS DO<br />
HORÁRIO DE VERÃO<br />
GEROBAL GUIMARÃES<br />
Consultor Legislativo da Área XII<br />
Minas e Energia<br />
NOVEMBRO/2000
Gerobal Guimarães<br />
© 2000 <strong>Câmara</strong> <strong>do</strong>s Deputa<strong>do</strong>s.<br />
To<strong>do</strong>s os direitos reserva<strong>do</strong>s. Este trabalho po<strong>de</strong>rá ser reproduzi<strong>do</strong> ou transmiti<strong>do</strong> na íntegra, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />
cita<strong>do</strong>s o(s) autor(es) e a Consultoria Legislativa da <strong>Câmara</strong> <strong>do</strong>s Deputa<strong>do</strong>s. São vedadas a venda, a reprodução<br />
parcial e a tradução, sem autorização prévia por escrito da <strong>Câmara</strong> <strong>do</strong>s Deputa<strong>do</strong>s.<br />
<strong>Câmara</strong> <strong>do</strong>s Deputa<strong>do</strong>s<br />
Praça <strong>do</strong>s 3 Po<strong>de</strong>res<br />
Consultoria Legislativa<br />
Anexo III - Térreo<br />
Brasília - DF<br />
Aspectos Econômicos <strong>do</strong> Horário <strong>de</strong> Verão Nota Técnica<br />
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Gerobal Guimarães<br />
J ulga este Consultor, antes <strong>de</strong> abordar os <strong>aspectos</strong><br />
<strong>econômicos</strong>, ser mister tecer algumas consi<strong>de</strong>rações<br />
sobre o <strong>horário</strong> <strong>de</strong> <strong>verão</strong> nos mais diversos enfoques.<br />
Tem si<strong>do</strong> aceito que a instituição <strong>do</strong> <strong>horário</strong> <strong>de</strong> <strong>verão</strong><br />
nas latitu<strong>de</strong>s brasileiras gera, como conseqüência, ligeira redução<br />
no consumo e, mais sensivelmente, a atenuação da <strong>de</strong>manda no<br />
<strong>horário</strong> <strong>de</strong> pico.<br />
Em gran<strong>de</strong> parte <strong>do</strong> País, sabe-se que estamos em<br />
uma <strong>de</strong>terminada estação <strong>do</strong> ano mais pelo constar na “folhinha”<br />
<strong>do</strong> que por fenômenos climáticos, astronômicos ou biológicos.<br />
Aliás, consi<strong>de</strong>ra-se, <strong>do</strong> Centro-Oeste para Norte, que<br />
inverno é a estação <strong>do</strong> ano em que chove. Risivelmente, isto<br />
coinci<strong>de</strong> com o <strong>verão</strong> da “folhinha”.<br />
Apenas a região Sul experimenta dilatação <strong>do</strong> perío<strong>do</strong><br />
diurno igual ou levemente superior a uma hora, no intervalo<br />
temporal correspon<strong>de</strong>nte ao <strong>verão</strong>.<br />
Em larga faixa, mais próxima à linha equatorial, e é<br />
aí on<strong>de</strong> o Brasil mais se esten<strong>de</strong> na direção leste-oeste, a duração<br />
<strong>do</strong> dia é, na prática, monotonamente igual, seja no <strong>verão</strong>, seja no<br />
inverno.<br />
A diatribe estabelecida entre os que são a favor e os<br />
que são contra tem pouco <strong>de</strong> científico ou racional.<br />
A bem da verda<strong>de</strong>, to<strong>do</strong>s os argumentos apresenta<strong>do</strong>s<br />
em relação ao assunto, sejam eles a favor, ou contra, têm caráter<br />
frágil e, não raramente, escon<strong>de</strong>m sofismas.<br />
Chega-se ao cúmulo <strong>de</strong> atribuir ao <strong>horário</strong> <strong>de</strong> <strong>verão</strong> a<br />
culpa pela ocorrência <strong>de</strong> estupro “exatamente no primeiro dia <strong>do</strong><br />
<strong>horário</strong> <strong>de</strong> <strong>verão</strong> ...”<br />
Alega-se que indivíduos que moram distante <strong>do</strong><br />
trabalho têm que se levantar mais ce<strong>do</strong> e enfrentar a rua uma<br />
hora antes, fican<strong>do</strong>, pois, mais sujeitos à violência urbana, como<br />
se tal aspecto estivesse concentra<strong>do</strong> nas primeiras horas <strong>do</strong> dia e<br />
não no dia to<strong>do</strong> e to<strong>do</strong> o dia.<br />
Aspectos Econômicos <strong>do</strong> Horário <strong>de</strong> Verão Nota Técnica<br />
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Gerobal Guimarães<br />
Um argumento comove<strong>do</strong>r é aquele que atribui às crianças em ida<strong>de</strong> escolar a obrigação<br />
<strong>de</strong> levantar uma hora mais ce<strong>do</strong> e enfrentar as li<strong>de</strong>s escolares.<br />
Dever-se-ia dar graças ao bom Deus se o problema da criança brasileira fosse somente o<br />
<strong>horário</strong> <strong>de</strong> <strong>verão</strong>.<br />
Rapidamente, po<strong>de</strong>r-se-ia fazer <strong>de</strong>sfilarem os argumentos apresenta<strong>do</strong>s no calor das<br />
discussões.<br />
Assim, ao lembrar o efeito “jet lag” e relacioná-lo ao assunto, estamos esquecen<strong>do</strong> que o<br />
povo brasileiro é famoso por seu “jeitinho”, conseguin<strong>do</strong> driblar inclusive o tempo.<br />
O <strong>do</strong>rmir ou o acordar, o almoçar ou banhar-se uma hora mais ce<strong>do</strong> ou mais tar<strong>de</strong>,<br />
cabem inteiramente na flexibilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> brasileiro.<br />
Este avanço ou retardamento <strong>do</strong> <strong>horário</strong> po<strong>de</strong> ser estuda<strong>do</strong> à luz <strong>do</strong> efeito “O<strong>de</strong>te<br />
Roitman”, que consiste na paralisação quase que integral da Nação para acompanhar o <strong>de</strong>sfecho <strong>de</strong><br />
uma trama novelística. Igual comportamento envolveu o “mistério Salomão Ayala“.<br />
No campo esportivo, o comportamento em relação aos <strong>horário</strong>s, sejam eles astronômicos<br />
ou convencionais, é ainda mais elástico.<br />
Não há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recuar por muito tempo, bastan<strong>do</strong> lembrar o comportamento <strong>do</strong><br />
povo brasileiro durante as últimas olimpíadas, cuja <strong>de</strong>fasagem era <strong>de</strong> catorze horas. Aí, <strong>horário</strong>s <strong>de</strong><br />
sono, <strong>de</strong> refeição, <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso e <strong>de</strong> trabalho eram embaralha<strong>do</strong>s, sem que se noticiassem mortes ou<br />
aci<strong>de</strong>ntes em massa.<br />
De qualquer maneira, em cerca <strong>de</strong> uma semana <strong>do</strong> início ou após o encerramento, o<br />
relógio biológico volta à harmonia com o <strong>horário</strong> convencional.<br />
Do ponto <strong>de</strong> vista puramente geográfico, o fato <strong>de</strong> o Brasil esten<strong>de</strong>r-se <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cinco graus<br />
Norte a pouco mais <strong>de</strong> 33 graus Sul, faz com que, qualquer comparação com a Europa encerre<br />
sofisma, uma vez que aquele continente está ao Norte <strong>do</strong> paralelo 36 Norte.<br />
Nessa latitu<strong>de</strong>, a duração <strong>do</strong> dia no <strong>verão</strong> ou no inverno varia <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> uma hora, as<br />
estações <strong>do</strong> ano são bem caracterizadas e o comportamento humano é mais bem <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>.<br />
Mesmo assim, lá digladiam-se com os mesmos argumentos.<br />
As alegações da Agência Nacional <strong>de</strong> Energia Elétrica – ANEEL <strong>de</strong> que há uma economia<br />
<strong>de</strong> energia associada ao <strong>horário</strong> <strong>de</strong> <strong>verão</strong> <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 0,7% (sete décimos por cento) escon<strong>de</strong> que há<br />
um erro estatístico muito mais expressivo envolven<strong>do</strong> as medições. É inescondível que a simples<br />
chegada <strong>de</strong> uma frente fria, ou um variação brusca no calendário esportivo ou televisivo po<strong>de</strong> gerar<br />
maior impacto. A citada economia correspon<strong>de</strong>ria, segun<strong>do</strong> a ANEEL, ao consumo da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Goiânia durante um mês. Por mais vigorosa que seja a comparação, os valores envolvi<strong>do</strong>s são pouco<br />
expressivos.<br />
Segun<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> setor, o uso <strong>de</strong> chuveiro elétrico é responsável por cerca <strong>de</strong> 25%<br />
(vinte e cinco por cento) <strong>do</strong> consumo <strong>do</strong>méstico nacional médio <strong>de</strong> eletricida<strong>de</strong>.<br />
O fato <strong>de</strong> este eletro<strong>do</strong>méstico ser menos solicita<strong>do</strong> no <strong>verão</strong>, ou ter seu chaveamento<br />
direciona<strong>do</strong> para posição <strong>de</strong> menor consumo, já po<strong>de</strong> ser responsável por queda mais significativa no<br />
consumo. Somente estu<strong>do</strong> específico há <strong>de</strong> trazer certeza a respeito <strong>de</strong>ste aspecto.<br />
A redução da <strong>de</strong>manda, que teria atingi<strong>do</strong> 5,6% (cinco inteiros e seis décimos por cento),<br />
é expressiva e equivaleria a existência <strong>de</strong> uma usina virtual da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 3.000 MW, <strong>do</strong> tamanho <strong>de</strong><br />
Xingó, edificada no rio São Francisco, entre os Esta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Sergipe e Alagoas.<br />
Este valor é realmente <strong>de</strong> monta e mostra cabalmente que é mais barato poupar <strong>do</strong> que<br />
dilatar a capacida<strong>de</strong> instalada.<br />
Aspectos Econômicos <strong>do</strong> Horário <strong>de</strong> Verão Nota Técnica<br />
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Gerobal Guimarães<br />
Mostra que a racionalização no uso da energia elétrica e a economia tem campo promissor<br />
no País.<br />
Entretanto, sen<strong>do</strong> o Brasil um País muito acostuma<strong>do</strong> ao mau uso ou à má gestão das<br />
coisas, mesmo estes 5,6% po<strong>de</strong>riam ser obti<strong>do</strong>s e até ultrapassa<strong>do</strong>s se, através <strong>de</strong> comunicação<br />
a<strong>de</strong>quada, fosse o consumi<strong>do</strong>r convenci<strong>do</strong> da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> economizar energia elétrica e,<br />
concomitantemente, racionalizar seu uso.<br />
Assim, <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista exclusivo da energia, embora a redução da <strong>de</strong>manda em <strong>horário</strong><br />
<strong>de</strong> pico seja significativa, os custos políticos e sociais parecem ser <strong>de</strong>masiadamente eleva<strong>do</strong>s.<br />
A assertiva alicerça-se em vários <strong>aspectos</strong>, citan<strong>do</strong>-se apenas um para sua corroboração:<br />
a concessão <strong>de</strong> liminares a respeito da inclusão <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s da fe<strong>de</strong>ração no rol daquelas em que é<br />
implanta<strong>do</strong> o <strong>horário</strong> <strong>de</strong> <strong>verão</strong> ou, <strong>de</strong> outro la<strong>do</strong>, sua exclusão.<br />
Bem analisa<strong>do</strong>, ao sustar ou revogar um ato basea<strong>do</strong> em princípios constitucionais e<br />
infraconstitucionais, este procedimento atenta contra a harmonia entre os Po<strong>de</strong>res e, pior, <strong>de</strong>srespeita<br />
a autorida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Po<strong>de</strong>r Executivo, inteiramente legítima, no caso.<br />
A redução via a<strong>de</strong>são espontânea <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r, por outro la<strong>do</strong>, concorre para firmar o<br />
senso <strong>de</strong> brasilida<strong>de</strong> e a prática da solidarieda<strong>de</strong>.<br />
Cingin<strong>do</strong>-nos aos <strong>aspectos</strong> <strong>econômicos</strong>, alguns estudiosos alegam que a implantação <strong>do</strong><br />
<strong>horário</strong> <strong>de</strong> <strong>verão</strong> permite uma expansão da <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> serviços liga<strong>do</strong>s ao lazer, <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong><br />
bares, quiosques e restaurantes, enfim, um incremento no turismo, com todas as conseqüências daí<br />
<strong>de</strong>correntes.<br />
Desconhecemos valores originários <strong>de</strong> medições precisas ou <strong>de</strong> observações <strong>de</strong> longo<br />
prazo, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> <strong>aspectos</strong> circunstanciais sejam expurga<strong>do</strong>s.<br />
Em princípio, parece ser <strong>de</strong> fácil <strong>de</strong>fesa a concepção <strong>de</strong> que boa parte <strong>de</strong>ssa hora “ganha”<br />
com o <strong>horário</strong> <strong>de</strong> <strong>verão</strong> seja <strong>de</strong>stinada a lazer, a maior convívio com a família, a turismo e a prática <strong>de</strong><br />
passatempos.<br />
É, entretanto, <strong>de</strong> difícil medição, uma vez que o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>horário</strong> <strong>de</strong> <strong>verão</strong> sobrepõese,<br />
praticamente, à primavera e ao <strong>verão</strong>, estações que, aqui e alhures, predispõem os serem humanos<br />
ao que diz o poeta: “ficar <strong>de</strong> bem com a vida” e, em <strong>de</strong>corrência, solicitar mais freqüentemente e em<br />
maior extensão os serviços relaciona<strong>do</strong>s com o lazer, o turismo e o prazer.<br />
Estu<strong>do</strong>s encomenda<strong>do</strong>s em 1999 pela ANEEL à Fundação Instituto <strong>de</strong> Pesquisas<br />
Econômicas da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo – FIPE e divulga<strong>do</strong>s no próprio site da Agência dão conta<br />
<strong>de</strong> que 82,2% das pessoas resi<strong>de</strong>ntes em Esta<strong>do</strong>s on<strong>de</strong> vem sen<strong>do</strong> implanta<strong>do</strong> o <strong>horário</strong> <strong>de</strong> <strong>verão</strong> são<br />
favoráveis à a<strong>do</strong>ção da medida e que 63% são favoráveis à repetição da medida nos próximos anos.<br />
Segun<strong>do</strong> a ANEEL, a pesquisa esten<strong>de</strong>u-se por 22 unida<strong>de</strong>s da fe<strong>de</strong>ração.<br />
Não conhecemos o motivo <strong>de</strong> ter si<strong>do</strong> a FIPE contratada para tal finalida<strong>de</strong>, uma vez<br />
que se trata <strong>de</strong> entida<strong>de</strong> <strong>do</strong> mais eleva<strong>do</strong> gabarito na área da pesquisa econômica, o que não é bem o<br />
caso.<br />
Nesse mesmo site, afirma a Agência que, além <strong>do</strong> Brasil, o <strong>horário</strong> <strong>de</strong> <strong>verão</strong> é<br />
implementa<strong>do</strong> nos países da União Européia, da América <strong>do</strong> Norte, além da Rússia, Turquia e Cuba.<br />
No hemisfério sul, a medida é a<strong>do</strong>tada na Austrália, Nova Zelândia e Chile.<br />
Há que atentar-se para a distribuição geográfica <strong>de</strong>ssas regiões e <strong>de</strong>sses países.<br />
Não queremos acreditar seja este último argumento o <strong>de</strong>cisivo.<br />
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