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matizes culturais do universo “kariri” - GT Nacional de História Cultural

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VI Simpósio <strong>Nacional</strong> <strong>de</strong> <strong>História</strong> <strong>Cultural</strong><br />

Escritas da <strong>História</strong>: Ver – Sentir – Narrar<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Piauí – UFPI<br />

Teresina-PI<br />

ISBN: 978 978-85 978 85 85-98711 85 98711 98711-10 98711 10 10-2 10<br />

produção popular que funciona como um repositório <strong>de</strong> imagens, enuncia<strong>do</strong>s e formas<br />

<strong>de</strong> expressão agenciadas por outras produções <strong>culturais</strong>. Assim, tomamos para análise o<br />

folheto intitula<strong>do</strong> O Caça<strong>do</strong>r e a Caipora, <strong>de</strong> autoria <strong>de</strong> Josenir Amorim Alves Lacerda,<br />

publica<strong>do</strong> pela Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Cor<strong>de</strong>listas <strong>do</strong> Crato em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1993.<br />

Nele, encontramos uma representação <strong>de</strong>ssa manifestação entendida como<br />

troca simbólica num episódio protagoniza<strong>do</strong> por Raimun<strong>do</strong>, sujeito marca<strong>do</strong> pela<br />

realida<strong>de</strong> rural sertaneja, impregnada <strong>de</strong> representações emblemáticas e trocas<br />

simbólicas, nas quais o ator faz a sua oferenda a fim <strong>de</strong> garantir favores da caboclinha:<br />

Quan<strong>do</strong> ia pra caçada<br />

Arrumava o embornal<br />

Rapadura, carne assada<br />

Farinha seca com sal<br />

O agra<strong>do</strong> da "caboclinha":<br />

Em forma <strong>de</strong> fumo vinha<br />

Regrar o material.<br />

Tanto nos <strong>de</strong>poimentos orais como no verso <strong>do</strong> cor<strong>de</strong>l o fumo revela-se como<br />

elemento fundamental, segun<strong>do</strong> Ginzburg, 9 este é uma erva sagrada para muitos<br />

indígenas, porta<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> múltiplos usos religiosos, inclusive para predispor os nativos<br />

aos sonhos e visões extáticas, como também evocar espíritos e forçá-los a comunicar-se<br />

com os homens.<br />

Percebemos também pelas narrativas orais, além da oferta <strong>do</strong> fumo, a<br />

existência <strong>de</strong> outro elemento bastante significativo da<strong>do</strong> como oferenda: uma comida<br />

preparada a base <strong>de</strong> farinha, um mingau, sem adição <strong>de</strong> sal e pimenta que alguns<br />

narra<strong>do</strong>res informaram ser uma dadiva bastante agradável para atrair “benevolências da<br />

caboclinha” que evi<strong>de</strong>ntemente proporciona um retorno, uma troca conforme estrofe:<br />

Cumprin<strong>do</strong> a obrigação<br />

Seu Raimun<strong>do</strong> se animava<br />

Muito alegre folgazão<br />

Na mata ele se embrenhava<br />

Já não temia a caipora<br />

E a partir daquela hora<br />

Qualquer bicho ele matava.<br />

9 GINZBURG, Carlo. O fio e os rastros, verda<strong>de</strong>iro, falso, fictício. São Paulo: Cia das Letras, 2007, p.<br />

104-5.<br />

7

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