o discurso oral na poesia de manuel bandeira - CiFEFiL
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Círculo Fluminense <strong>de</strong> Estudos Filológicos e Lingüísticos<br />
A fluência no nível do enunciado <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>finida como a habilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> executar regras <strong>de</strong> fala ‘suavemente’ ou a habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produzir<br />
fala sem (ou com uma quantida<strong>de</strong> mínima <strong>de</strong>) disfluências – pausas longas,<br />
pausas preenchidas, preenchedores, repetições e recomeços. A fluência<br />
no nível do <strong>discurso</strong>, por outro lado, <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>finida como a habilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> resolver problemas <strong>de</strong> fala (lingüísticos e interpessoais) no<br />
tempo real ou a habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> movimentar a fala para adiante [...] A fluência<br />
significa a habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suavizar fronteiras, fornecer transições,<br />
minimizar justaposições abruptas. Fi<strong>na</strong>lmente, a fluência conversacio<strong>na</strong>l<br />
significa a habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dosar tensões entre nossas próprias necessida<strong>de</strong>s<br />
e as necessida<strong>de</strong>s do interlocutor. Isso significa ser responsivo à interpretação<br />
provável do interlocutor a respeito <strong>de</strong> um enunciado a fim <strong>de</strong><br />
guiar essa interpretação. (Butler-Wall, 1996, p. 324).<br />
Koch et alli abordam, do ponto <strong>de</strong> vista discursivo, o fenômeno<br />
que envolve a <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong>. Usando as expressões “contínuo”<br />
e “fluência”, os autores admitem que as <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong>s, causadoras<br />
<strong>de</strong> um ritmo ralentado à progressão temática, po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>sempenhar<br />
funções pragmático-interativas:<br />
As <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong>s aqui referidas, que muitas vezes subvertem a<br />
organização canônica dos constituintes da frase po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>sempenhar<br />
funções pragmático-interativas relevantes, <strong>de</strong>vendo ser exami<strong>na</strong>das à luz<br />
do modus comunicativo postulado por Mönnik. (Koch et alii, 1996, p.<br />
147).<br />
A hesitação, consi<strong>de</strong>rada como uma marca da <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong><br />
sintática e da disfluência discursiva, po<strong>de</strong> ser observada tendo em<br />
vista as perspectivas da formulação textual e da interação e da discursivida<strong>de</strong>.<br />
Nessa perspectiva, Crescitelli propõe as seguintes postulações<br />
a respeito da hesitação:<br />
- da formulação textual: <strong>na</strong> qual po<strong>de</strong> ser vista como <strong>de</strong>scontinuadora<br />
da or<strong>de</strong>m sintática (“<strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong> sintagmática e oracio<strong>na</strong>l”). Tendo-se<br />
em mente, contudo, o processamento lingüístico, ela teria papéis<br />
ou seria sintomas da fase <strong>de</strong> planejamento lingüístico e <strong>de</strong> formulação;<br />
- da interação e da discursivida<strong>de</strong>: <strong>na</strong> qual po<strong>de</strong> ser vista como continuadora<br />
no nível da enunciação, ou seja, das relações interpessoais dos<br />
interlocutores e <strong>na</strong> condução dos tópicos (“continuida<strong>de</strong> textual, discursiva<br />
e interacio<strong>na</strong>l”). (Crescitelli, 1997, p. 56-7).<br />
O CORPUS<br />
O poema que ora propomos a<strong>na</strong>lisar, <strong>de</strong> autoria <strong>de</strong> Manuel<br />
Ban<strong>de</strong>ira, foi publicado em 1930, em Liberti<strong>na</strong>gem. Nesse livro in-<br />
Revista Philologus, Ano 14, N° 41. Rio <strong>de</strong> Janeiro: <strong>CiFEFiL</strong>, maio/ago..2008