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Recordar é viver - FESP

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<strong>Recordar</strong><br />

<strong>é</strong> <strong>viver</strong><br />

Ano 2010


Ser professora da Unabem <strong>é</strong> um grande prazer, pois a cada dia os alunos nos surpreendem com<br />

conquistas que não sonhamos, com carinhos, mimos inigualáveis e com uma alegria contagiante<br />

como na “receita” da aluna Divina Maria de Oliveira Dias<br />

Ingredientes:<br />

Receita da Feliz Idade<br />

1 xícara da serenidade da Leila<br />

3 colheres de sopa de paciência da Gelcira<br />

2 xícaras de caridade do Fábio Kallas<br />

4 colheres de compreensão do Fred<br />

1 dose de respeito da Tayse<br />

a mesma medida de tolerância de todos os alunos<br />

1 dúzia de amor de todos os colegas<br />

1/2 litro de carinho da Dilciane<br />

3 copos de alegria da Silvia<br />

1 quilo de f<strong>é</strong> da „F<strong>é</strong>‟<br />

2 quilos de pensamento positivo do Lázaro<br />

1 pitada de inteligência da Cibele Lemos<br />

e muita humildade para semear, todas as terças e quintas-feiras nas aulas da Unabem.<br />

Preparo:<br />

Misture a tudo isso excelentes professores, amigos sem igual, funcionários pacientes,<br />

coloque dentro do seu coração aquecido por aproximadamente tempo infinito.<br />

Rendimento:<br />

Para todos que buscam a felicidade na feliz idade, na Unabem<br />

Uma boa leitura para todos.<br />

Leila M. Suhadolnik Pádua Andrade (professora de Memórias Pessoais)


Chocolate e Maçã<br />

Maria Conceição Silva Saragô.<br />

Me chamo Maria Conceição.Nasci em<br />

São Sebastião do Paraíso no dia 14-01-1938.<br />

Quando eu tinha quatro anos, minha mãe,<br />

que era lavadeira e muito pobre, ficou doente<br />

e faleceu. Então fui morar com uma família<br />

estranha para mim, mas não desconhecida<br />

para eles, pois eram a minha avó paterna e<br />

duas tias que eu não conhecia. Tinham uma<br />

condição de vida melhor e me deram uma<br />

boa educação. Era uma família muito<br />

generosa que plantou no meu coração o amor fraterno com os mais necessitados.<br />

O meu primeiro banho na casa da minha avó foi traumático. Nunca esqueço aquela banheira<br />

com chuveiro e a água caindo em cima de minha cabeça, coisa que não estava acostumada. E do<br />

meu colchãozinho de palha num cantinho do quarto de minha avó. Tudo era novo e me<br />

assustava.<br />

Fui uma criança muito medrosa... Quando a noite chegava, ali deitada no colchãozinho<br />

chorava de medo. Então minha avó me colocava no cantinho de sua cama e me aconchegava.<br />

Já aos seis anos me ensinaram a fazer tricô, bordar e mais tarde costurar.<br />

Durante minha infância eu não tinha amigas e brincava sempre sozinha.No quintal fazia<br />

casinha e meus brinquedos eram pedaços de louças quebradas e as bonecas eram vidros de<br />

rem<strong>é</strong>dios vazios... Distante da casinha armava uma arapuca para pegar passarinhos: amarrava um<br />

barbante at<strong>é</strong> onde eu estava para puxar a arapuca quando o passarinho entrasse na armadilha.<br />

Quando pegava, colocava o coitadinho numa caixa de sapato toda furada para entrar o ar.<br />

Quando ia tratá-los, ou já estavam mortos, ou fugiam voando desesperados para as árvores. Sei<br />

que ficava horas a fio brincando neste quintal cheio de árvores frutíferas.<br />

Fui crescendo e cursei o Curso T<strong>é</strong>cnico de contabilidade. Por<strong>é</strong>m o meu sonho era ser<br />

professora, mas não tive condições.<br />

Minha mocidade foi de muita alegria, apesar de ter poucas roupas e um par de sapatos para<br />

sair.<br />

Estudava a noite. Muitos dos meus colegas tinham cachorros que ficavam do lado de fora<br />

esperando seu dono. Eu e outra colega colocávamos os cachorros para dentro e eles iam correndo<br />

para as salas de aula procurando os donos. E, <strong>é</strong> aí que o bicho pegava, pois o diretor era um<br />

padre muito severo que ficava procurando o culpado da arte e nunca encontrava.<br />

Esta foi uma fase muito feliz, em que o meu primeiro amor aconteceu. Aquele amor inocente<br />

de longe, nunca declarado, mas tamb<strong>é</strong>m nunca correspondido.<br />

O grande amor apareceu e <strong>é</strong> o que dura at<strong>é</strong> hoje. Ele era meu vizinho que morava em outra<br />

rua. Os quintais se confrontavam e as jabuticabeiras do meu quintal com a jabuticabeira da casa<br />

dele entrelaçavam os galhos. Na <strong>é</strong>poca das frutas eu subia no muro e roubava as jabuticabas de lá<br />

porque eram mais doces... E como eram doces! Casei com esse grande amor chamado Francisco.<br />

Tenho duas ótimas filhas Francismara e Fabíola e uma linda neta chamada Ana Carolina. Em<br />

breve terei mais uma netinha que chamará Ana Beatriz.<br />

Graças a Deus pude proporcionar a elas tudo que não tive amiguinhas em minha casa para<br />

brincar e muitos brinquedos. Nunca passaram o que passei, principalmente a vontade de comer<br />

uma maçã e um chocolate cuja embalagem era uma fazendinha estampada.<br />

Agradeço a Deus pela minha avó e tias que me deram liberdade com limites e muito amor...


Tempo de nascer<br />

C<strong>é</strong>lia (ou Celina Maria dos Santos)<br />

Era tarde de segunda-feira do dia 16 de fevereiro de 1948. Chegara o grande dia para<br />

iniciar o primeiro capítulo da história da minha vida. Morávamos no Sítio Bom Descanso<br />

localizado cerca de uma hora de carro de Passos e como naquela <strong>é</strong>poca não havia facilidades de<br />

seguir para um hospital, quem substituía os m<strong>é</strong>dicos eram as famosas “parteiras”.<br />

Meu pai, que estava trabalhando na roça, foi chamado às pressas para ir at<strong>é</strong> a casa da<br />

“parteira” mais conhecida das redondezas. Seu nome era Maria Gomes. Ele, mais que depressa<br />

pegou o cavalo e partiu num galope só. Cavalgou por mais de 1 hora e quando lá chegou<br />

encontrou Maria Gomes,mas ela não conseguia parar em p<strong>é</strong> de tão bêbada que se encontrava. “Ó<br />

indecisão cruel...” O que fazer?<br />

Meu pai pegou Maria Gomes no colo , colocou no cavalo e saiu às pressas morro abaixo.<br />

Quando chegou à sede do sítio, eu já dava os primeiros sinais. Maria Gomes não conseguia nem<br />

torcer a toalha estendida sobre a cama.<br />

No quarto, apenas minha mãe, Maria Gomes e meu pai. O jeito foi ele ajudar Maria<br />

Gomes. Como se fosse um aprendiz de parteira, meu pai ajudou a fazer meu parto. Depois de<br />

muito aperto, muitas cambaleadas e muito suor eu nasci. E com um grande choro celebrei minha<br />

chegada.<br />

Depois de todo o acontecido, essa história foi motivo de gargalhadas e me perseguiu por<br />

muitos anos. Toda vez que eu fazia alguma peraltice já se ouvia uma voz gritando: “Maria<br />

Gomes”...<br />

A escolha do nome de um filho certamente causa dúvidas. Minha mãe foi decidida. Eu<br />

me chamaria C<strong>é</strong>lia Maria Dias. Ela chamou meu pai e o incumbiu de ir at<strong>é</strong> Bom Jesus da Penha,<br />

mais conhecido por “Arraiá”, para assim me registrar. Antes de sair, ele voltou no quarto e<br />

perguntou:<br />

- Maria, como será mesmo o nome?<br />

Ela afirmou em voz firme:<br />

- C<strong>é</strong>lia.<br />

Chegando at<strong>é</strong> o Cartório depois de tanto<br />

cavalgar pela estrada afora, foi atendido. O rapaz<br />

perguntou:<br />

- Qual o nome da sua filha, Sr. Calim<strong>é</strong>rio?<br />

Por mais de dois minutos o silêncio pairou no ar. Meu<br />

pai havia esquecido o nome que minha mãe havia<br />

escolhido. Ele apenas se lembrava que começava com<br />

Ce. E agora? Pensou.<br />

O escrivão insistiu.<br />

- Seu Calim<strong>é</strong>rio, como será o nome da sua filha?<br />

- É, <strong>é</strong>. É Ce. Celina.<br />

E assim sendo, registrada eu sou Celina. Por<strong>é</strong>m, seguindo a vontade de minha mãe todos<br />

sempre me chamaram por C<strong>é</strong>lia.<br />

Quando vou a algum consultório m<strong>é</strong>dico e escuto: ___Dona Celina Maria acho que <strong>é</strong><br />

outra pessoa. Só me dou conta quando a secretária me olha e com um sorriso singelo, revela:” _<br />

- É a senhora!”


“Oh! que saudades que tenho<br />

Da aurora da minha vida,<br />

Da minha infância querida<br />

Que os anos não trazem mais!”<br />

Belo Colar<br />

C<strong>é</strong>lia (ou Celina Maria dos Santos)<br />

Faço minhas as palavras de Casimiro de Abreu e digo que ser criança <strong>é</strong> a melhor<br />

lembrança e que a gente nunca deveria deixar de ser criança...<br />

Sou a filha número 4 de 11 irmãos. Minha infância foi repleta de alegrias, brincadeiras e<br />

muitas travessuras.<br />

...Certa feita, minha mãe saiu para ir at<strong>é</strong> a casa de uma vizinha e nos deixou com D.<br />

Aparecida, que trabalhava em casa. Nesta <strong>é</strong>poca eu me encontrava com 4 anos de idade.<br />

Inconformada porque minha mãe não havia me levado, tive um plano brilhante.<br />

-“Vou atrás da mamãe”!<br />

Despistei D. Aparecida e parti pelo cafezal adentro em busca de encontrar minha mãe.<br />

Tinha uma vaga lembrança que aquele seria o caminho correto.<br />

Caminhei, caminhei e nada. Corria, descia, subia e nada. Comecei a fazer o que uma<br />

criança de 4 anos perdida no meio de um grande cafezal faria. Chorar. Lembro que chorei,<br />

chorei. Tudo em vão. Definitivamente eu estava perdida.<br />

O tempo foi passando, passando...<br />

Enquanto isso, na minha casa, minha mãe já havia voltado e um grande rebuliço se<br />

encontrava na família. Dividiram-se todos e saíram em busca da criança perdida.<br />

Já estava anoitecendo quando me encontraram.<br />

Eu havia adormecido debaixo de um p<strong>é</strong> de caf<strong>é</strong>. Acho que de tanto chorar.”<br />

Vários fatos marcaram minha vida at<strong>é</strong> os dias de<br />

hoje: Como o dia do meu casamento, que estava um<br />

grande temporal ou das palavras de meu pai quando foi<br />

me cumprimentar: Ele me abraçou e disse:<br />

-“Seja honesta como sempre foi sua mãe”.<br />

O nascimento dos meus filhos, dos meus netos...<br />

Passaria o dia recordando e me emocionando ao escrever<br />

minha história.<br />

A grande certeza que tenho <strong>é</strong> que muitas pedras eu<br />

encontrei pelo caminho e minha decisão ao inv<strong>é</strong>s de cair e<br />

debruçar na primeira pedra foi recolher cada uma e fazer<br />

um belo colar. Na vida encontramos muitas dificuldades,<br />

mas temos duas opções: ou ficamos lamentando e nos<br />

tornamos tristes ou decidimos fazer de nossa vida um<br />

lindo colar de alegrias, lembranças e experiências.


Alegria de <strong>viver</strong>, apesar de tudo.<br />

Conceição Rosa da Cruz<br />

“Concinha”<br />

Olá... eu sou a Concinha!!!<br />

Sou a caçula em uma família de 4 filhos e minha primeira infância não foi das melhores, mas<br />

tenho algumas lembranças da fazenda, de brincar com bonecas de pano, de fazer animais com<br />

perninhas de madeira e corpo de legumes, de nadar nos lagos, de pegar frutas no p<strong>é</strong>... mas<br />

infelizmente quando eu tinha 3 anos minha mãe adoeceu gravemente e precisou buscar<br />

tratamento fora de Passos.<br />

Fiquei um tempo com minha avó Francesca, uma senhora Italiana muito boa, mas ela tamb<strong>é</strong>m<br />

ficou doente e meu pai tinha pouca condição de cuidar dos 4 filhos.<br />

Foi nessa <strong>é</strong>poca que Deus colocou na nossa vida uma família muito especial, eles me<br />

amaram, cuidaram de mim e quando estavam de partida para São Paulo me levaram com eles.<br />

Dona Amaura se tornou minha mãe, Fez meu casamento e depois se tornou a melhor avó que<br />

meus filhos poderiam ter. Seus filhos, Mariza e Valtair se tornaram meus irmãos e seu esposo<br />

Modesto, meu pai.<br />

Em São Paulo passei por um difícil período de adaptação Morávamos na Lapa e nessa <strong>é</strong>poca<br />

me lembro que quando os aviões a jato passavam perto de nossa casa. Eu e meus novos irmãos<br />

saíamos abaixados, com as mãos na cabeça, gritando e correndo de medo... Acho que<br />

pensávamos que eles poderiam cair em nossa casa.<br />

Foram muitas aventuras na cidade grande para uma menina que veio do interior.<br />

Casei muito cedo, aos 15 anos, e tive dois filhos muito queridos e especiais, desses que<br />

trazem muito orgulho para uma mãe.<br />

Hoje tenho 1 neta e 3 netos e eles são uma grande alegria em minha vida: Laís, 9 anos e Paulo<br />

Júnior, 4 anos, filhos de Paulo e Diana e Leonardo, 3 anos e Rafael, 1 ano filhos de Andr<strong>é</strong>ia e<br />

Alessandro. Meu genro e nora são como filhos pra mim.<br />

Quando meu primeiro filho nasceu, nós morávamos no Morro do Níquel, próximo a Itaú de<br />

Minas, e foi bastante complicado criar um bebê num lugar tão sem recurso, mas Deus novamente<br />

preparou uma pessoa para me ajudar, era a Maria Mouca, que cuidava bem do Paulo e ainda me<br />

ajudava em casa.<br />

Morei em Bragança Paulista – SP e de lá tenho muitas lembranças gostosas principalmente os<br />

domingos que sempre tinha pastel e macarrão e freqüentávamos um clube que meu filho Paulo<br />

amava. Os avós o paparicavam muito nessa <strong>é</strong>poca, era o único neto, o queridinho de todos...<br />

Mais tarde voltamos para o Morro do Níquel e de lá voltamos para Passos, onde nasceu nossa<br />

filha Andr<strong>é</strong>ia. Lembro que Paulo, então com 7 anos, corria atrás do carro gritando: ganhei uma<br />

irmãzinha... ganhei uma irmãzinha!!!<br />

Aqui em Passos criamos os nossos filhos. Nessa <strong>é</strong>poca tive a oportunidade e o privil<strong>é</strong>gio de<br />

conhecer pessoas muito queridas e especiais e tive a maior alegria de minha vida, que foi<br />

conhecer e aceitar Jesus como Salvador e Senhor da minha vida.<br />

Dessa forma pude criar meus filhos em uma família cristã, ensiná-los a crer e amar a Deus e<br />

mais tarde vê-los envolvidos no trabalho da igreja a qual pertencemos: a Primeira Igreja Batista<br />

em Passos e hoje ver meus netos sendo criados da mesma forma. Desde pequenininhos cantando<br />

músicas que falam do amor de Deus, orando e ouvindo histórias Bíblicas.<br />

Hoje tenho uma família enorme: a família da minha Igreja. Deus mais uma vez me deu esse<br />

presente!!!<br />

Tive ainda a oportunidade de trazer meu pai verdadeiro para morar comigo em seus últimos<br />

anos de vida e isso hoje, me traz paz ao coração, pois a convivência com ele havia sido pouca e


Deus me deu oportunidade de con<strong>viver</strong> e amá-lo muitos anos ainda. Ele era um avô muito<br />

amoroso, tenho lembranças alegres dele nesse tempo em nossa casa, como quando ele segurava o<br />

secador para Andr<strong>é</strong>ia cuidar dos longos cabelos da <strong>é</strong>poca de adolescente, sempre com um sorriso<br />

e cheio de “causos da roça” para contar ou quando comprava produtos errados e a gente tinha<br />

que ir correndo trocar... Um dia, ele comprou um catchup achando que era shampoo, os meninos<br />

riram muito da confusão dele.<br />

Enfim, minha história <strong>é</strong> bem comum, com alegrias e tristezas como qualquer outra, mas<br />

quando paro pra meditar vejo que sou MUITO abençoada e que não há tristeza que apague a<br />

minha alegria de <strong>viver</strong>!!!


Um elo entre a cidade e a roça<br />

Idayr Marques Arantes.<br />

Fui uma criança muito querida por toda família.<br />

Uma destas lembranças foi quando minha avó me levou para passear em São Paulo.<br />

Fomos de trem, de janela aberta e fiquei muito entusiasmada com tudo que via. Os passageiros<br />

achavam graça na garotinha com o casal de velhinhos. Cheguei a São Paulo com a calça toda<br />

queimada de brasas que saia do trem. Era uma calça amarela de veludo que ficou toda furada.<br />

Quando já era mocinha fui visitar uma querida amiga em São Paulo e fomos ao<br />

restaurante e pedimos de entrada uma salada. Veio uma travessa muito bonita com algumas<br />

bolinhas amarelas. Sem saber o que era eu e minha amiga olhamos uma para outra, pegamos a<br />

bolinha ao mesmo tempo e colocamos na boca. O que era? Era manteiga congelada. Ficamos<br />

com a bolinha na boca sem saber o que fazer. Tivemos que cuspir as bolinhas e como foi<br />

engraçado!<br />

Quando era criança meu pai me deu uma bicicleta, e<br />

nossa rua não era calçada, era cheia de poeira e alguns<br />

buracos. Tínhamos uma vizinha que tinha um namorado que<br />

vinha visitá-la à tarde, na hora que eu andava de bicicleta.<br />

Ele vinha de calça azul marinho todo alinhado. O que <strong>é</strong> que<br />

eu fiz? Não foi por querer, mas, a bicicleta passava em cima<br />

de tudo o que não podia, enfiei a bicicleta entre as pernas do<br />

rapaz que chegou todo sujo na casa da namorada. Imagina a<br />

reclamação a minha mãe! Esta bicicleta tem muitas histórias.<br />

Em 1965 fui convidada para um piquenique na fazenda do<br />

Sr. João Batista e lá estavam vários rapazes!!! Foi um dia<br />

divertido e só na hora de ir embora foi que nossos olhares se<br />

cruzaram...<br />

No ônibus só para mexer com ele eu cantei:<br />

“Sereno eu caio eu caio... se eu pudesse ai ai ai... eu faria ai<br />

ai ai um farol dos seus olhos azuis...”<br />

Frutificou e virou namoro...<br />

Sr. João com sabedoria e vivência alertou:<br />

”Ela <strong>é</strong> uma moça da cidade e você um rapaz da roça”<br />

Ah! Os jovens! São impulsivos e românticos e isso não tinha a menor importância.. Casamos...<br />

Mas como disse Sr. João, senti muita saudade da cidade, não me adaptei na roça e ele não quis<br />

mudar para cidade.<br />

E assim vivemos: uma moça da cidade com o rapaz da roça!<br />

Mas o tempo foi passando e conciliamos esta diferença<br />

Existe um elo entre a cidade e a roça que nos une sempre!!!


Lembranças felizes<br />

Divina Maria de Oliveira Dias<br />

Eu, Divina Maria de Oliveira Dias, nasci na região dos Penas, distrito de Guap<strong>é</strong>. Nesta<br />

<strong>é</strong>poca eu era muito doente, com problemas de bronquite. Morei lá at<strong>é</strong> os 13 anos de idade. A<br />

minha mãe, Sebastiana Maria de Jesus, cuidou de mim com muito carinho e amor para que eu<br />

ficasse curada do bronquite. Graças a Deus fiquei bem de saúde.<br />

Meu pai, Benedito Barbosa de Oliveira, era agricultor. Mudamos para a Fazenda São<br />

Sebastião do Taquaruçu, município de Passos-MG.<br />

Foi nesta fazenda que eu passei minha adolescência e juventude. Estudei at<strong>é</strong> a 4ª s<strong>é</strong>rie.<br />

Minha professora, Dona Regina C<strong>é</strong>lia Vieira era uma excelente pessoa.<br />

A escola tinha uma única sala para todas as s<strong>é</strong>ries, num total de 18 alunos, que eu jamais<br />

me esquecerei. Foi uma <strong>é</strong>poca muito boa da minha vida. Nós trocávamos os lanches. A Jandira<br />

Marques – levava maracujá e dava para mim, era docinho, muito bom. Eu tenho contato com a<br />

Jandira at<strong>é</strong> hoje.<br />

Nós brincávamos muito, depois que ajudava a mamãe na lida da casa, pois <strong>é</strong>ramos sete<br />

irmãos. Eu era muito feliz com tudo o que tinha, era uma vida bem simples.<br />

Eu tinha muitas amigas para brincar à tarde, depois que havia feito toda a obrigação de<br />

casa. Brincávamos de casinha, de pular corda e andar no carro de boi do Senhor João Serafim,<br />

que era o carreiro da fazenda.<br />

Eu ia à cidade - Passos - com minha Tia Cinhaninha e era muito bom. Nós ficávamos na<br />

casa da minha Tia Angelina, irmã do meu pai. Ela era uma pessoa maravilhosa e ficava sempre<br />

muito feliz com a nossa chegada.<br />

As meninas dela: Nilda, Maria das Graças e Luzia, nos recebiam com muito carinho. Elas<br />

estudavam no Wenceslau Brás, elas não iam à aula durante o tempo em que nós permanecíamos<br />

na casa delas.<br />

E nós, já combinávamos o dia em que eles todos iriam à nossa casa, lá na roça. Era tudo<br />

muito bom. O pai delas, Tio Z<strong>é</strong> Trindade, tinha um caminhão. Quando ele ia chegando lá em<br />

casa ele buzinava e nós já saíamos correndo para nos encontrar, podia ser o horário que fosse,<br />

inclusive de aula, que nós (eu e meus irmãos) saíamos correndo como se nada estivesse<br />

acontecendo...


Menina diga a seu pai,<br />

Seu pai diga a seu irmão,<br />

Que a lima que ele me deu,<br />

Não foi lima foi limão.<br />

Versos e lembranças dos meus tempos de criança no Nordeste<br />

Jos<strong>é</strong> Bezerra de Lima<br />

Menina diga a seu pai,<br />

Que não coma de colher,<br />

Ele está para ser meu sogro,<br />

E você minha mulher<br />

A laranja de madura,<br />

Cai na água foi ao fundo,<br />

Triste da moça solteira,<br />

Que cai na boca do mundo.<br />

Você diz que eu sou feio,<br />

Bonito você não <strong>é</strong>,<br />

Você <strong>é</strong> o p<strong>é</strong> da rosa,<br />

E eu sou a rosa do p<strong>é</strong>.<br />

Tem quatro coisas no mundo que eu desejava ver:<br />

Boi morto se levantar,<br />

Cavalo magro correr,<br />

Rico fazer caridade,<br />

E terra boa sem chover.<br />

Eu não sei como vivo nesse mundo enganoso,<br />

Anda-se limpo sou pilantra Se ando sou grudento, sou<br />

seboso<br />

Se apanho sou mufino<br />

Se mato sou criminoso.<br />

Tem quatro coisas no mundo que pertencem a um coração:<br />

É uma mulher ciumenta<br />

É um menino chorão<br />

É uma casa que goteja<br />

É um cavalo tanjão<br />

O cavalo eu pego e troco,<br />

O menino eu acalento<br />

A casa eu arretelho<br />

A mulher dou-lhe um conselho<br />

Se ela não quiser toma<br />

Eu passo um ela no nó da peia.


Alecrim de beira d‟água ele tomba<br />

Mais não cai,<br />

Essas meninas bonitas<br />

Vão ser noras do papai.<br />

Peguei na perna da velha<br />

Pensando que era da filha<br />

Minha senhora desculpa<br />

Era de noite eu não via<br />

Perna de velha <strong>é</strong> casquenta<br />

Perna de moça <strong>é</strong> macia.<br />

Quando eu morrer não quero choro nem vela<br />

Quero um par de espora<br />

E um casaco de couro amarelo<br />

Escrito no peito esquerdo<br />

Saudades da minha donzela.<br />

Cuidado poeta pra não falar palavra errada<br />

Eu sai de águas pretas<br />

As quatro da madrugada<br />

Meti o dedo na buchecha<br />

Tirei sebo da buchada<br />

Buchecha com buchobucho<br />

E buchecha buchei buchada.<br />

Lampião e Maria Bonita diziam que nunca morriam<br />

Lampião morreu de madrugada Maria Bonita ao amanhecer do dia<br />

Acorda acorda Maria Bonita<br />

Levanta vai toma o caf<strong>é</strong>. O dia já vem raiando<br />

E o Lampião já esta de p<strong>é</strong>.<br />

Na feira de Caruaru<br />

Faz gosto a gente ver<br />

De tudo o que há no mundo lá tem pra vender<br />

Tem massa de mandioca<br />

Tem calça de alvorada pra matuto não andar nu<br />

De tudo o que há no mundo tem na feira de Caruaru.<br />

Na feira de Caruaru faz gosto a gente ver.<br />

Eu viajei de trem trinta e sei horas<br />

A noite e o dia.<br />

De trem São Paulo a Mato Groso.<br />

Ao meu lado sentada na cadeira<br />

Tinha uma velhinha de noventa anos sentada.<br />

Eu e ela cochilando, três e meia da manhã<br />

Deu uma coceirinha na minha perna e eu comecei coçar<br />

Quando eu olhei eu tava coçando a perninha da velha<br />

O senhora desculpa eu tava dormindo eu não vi<br />

A velha me respondeu:<br />

- Continua meu filho tá bom, continua que tá bom, tá bom!!!


Lembranças alegres e aterradoras da minha infância.<br />

Nanci Gotelip Francklim<br />

Meu nome <strong>é</strong> Nanci, sou a 5ª. Filha de um casal com 7 filhos. Na infância, brinquei de roda,<br />

pega pega, boneca, pulei muita corda, foi tudo muito bom!!! Companhia para mim não faltava,<br />

pois a diferença de idade dos meus irmãos era muito pouca, então sempre tinha algu<strong>é</strong>m para<br />

brincar comigo. Quase toda minha infância se passou em Belo Horizonte. Meu pai, descendente<br />

de alemão, era muito exigente, mas em compensação muito carinhoso e cuidava muito bem dos<br />

filhos.<br />

Procurava nos colocar em boas escolas, de acordo com suas posses e ficava muito bravo quando<br />

tirávamos uma nota baixa no boletim. Olhava nossos cadernos, nos ajudava nos deveres de casa,<br />

pegava no p<strong>é</strong> mesmo!!! Não se esquecia das datas especiais, nossos aniversários e Natal. Todas<br />

estas datas tinham um sabor muito especial!<br />

Minha mãe, muito tranqüila e sábia, deixava a meninada muito à vontade, mas dava uma<br />

função para cada filho, e fazia a parte dela que era preparar nossa alimentação e cuidar de toda a<br />

roupa. O que era muito, pois, não existia máquina de lavar, fogão a gás, geladeira e nem água<br />

encanada. Minha mãe gostava muito de ler, na parte da tarde ela sempre estava folheando algum<br />

livro.<br />

Quando se aproximava a hora do meu pai chegar, nós corríamos para cuidar da casa, lavar<br />

as louças, e as maiores davam banho nos menores, pois meu pai gostava de encontrar tudo em<br />

ordem, senão...!!!!<br />

Assim que entrei na adolescência comecei a participar de alguns acampamentos que eram<br />

organizados por nossa Igreja. Todo ano estes acampamentos aconteciam por ocasião das f<strong>é</strong>rias<br />

de julho e eu ficava muito ansiosa para chegar a hora. Passávamos uma semana sempre com<br />

meninas da mesma faixa etária e de todas as regiões de Minas Gerais, eram muitas as atividades,<br />

palestras, esportes e brincadeiras. Sempre acampávamos em um pr<strong>é</strong>dio no bairro da Floresta BH,<br />

pertencente ao Col<strong>é</strong>gio Batista Mineiro. E num destes acampamentos aconteceu um fato<br />

interessante que eu jamais me esqueci.<br />

Na hora de colocar essas meninas para dormir as coordenadoras tinham muito trabalho, em cada<br />

quarto ficavam aproximadamente 10 meninas. Eram muitos dormitórios, e um corredor muito<br />

comprido. Então, as coordenadoras ficavam andando para lá e pra cá at<strong>é</strong> que todas dormissem.


Mas nós não queríamos dormir, tudo para nós era engraçado e tínhamos que colocar o<br />

travesseiro no rosto para abafar nossas risadas.<br />

Numa destas noites quando quase todos estavam dormindo, eu resolvi passar um susto nas<br />

meninas do quarto.<br />

Então gritei “TEM UMA MÃO NO VITRÔ!!!!!!!!!!!”, elas assustaram acenderam as luzes e<br />

uma subia no beliche da outra para olhar e ver lá fora. O barulho do nosso quarto foi tanto, que<br />

as luzes dos outros quartos foram acendendo e em poucos minutos todas estavam acordadas<br />

olhando no lado de fora do pr<strong>é</strong>dio. Só eu não levantei, continuei quietinha na minha cama. A<br />

coordenadora chegou pôs a mão na minha testa para ver se eu estava com febre e perguntou se<br />

eu estava sentindo bem. Quando viu que tudo estava bem, perguntou se realmente eu tinha visto<br />

uma mão no vitrô. Eu respondi “VI. NAQUELE VITRÔ!” e apontei o local. Então elas nos<br />

acalmaram e dormimos. Menos eu.<br />

No outro dia eram tantas as histórias, umas diziam ter visto muitos homens pulando o muro,<br />

outras diziam que viram 2 homens, outra at<strong>é</strong> viu um homem descendo pela tubulação, cada uma<br />

contava uma historia.<br />

Coincidentemente, junto ao vitrô que eu disse ter visto uma mão, tinha um cano de ferro que<br />

descia bem ao lado (tipo calha). O dormitório ficava no 3º andar. Daquele dia em diante o pr<strong>é</strong>dio<br />

passou a ser vigiado pela polícia.<br />

Eu não tive coragem de dizer que era uma mentira! Hoje eu fico pensando “SERÁ QUE TINHA<br />

UMA MÃO NO VITRÔ? Rsrsrs.


Lembranças felizes<br />

Ana Aparecida Andrade Cury<br />

Meus pais me desejavam muito, pois, quando nasceu a primeira filha ela faleceu com<br />

poucas horas de vida, o seu nome era Ana Maria em homenagem as minhas avós queridas.<br />

Depois de alguns anos minha mãe engravidou novamente e estou aqui.<br />

Eu era uma menina linda, gordinha de olhos azuis e com muita saúde. Meus pais ficaram com<br />

medo de colocar o mesmo nome Ana Maria, então colocaram Ana Aparecida em louvor a Nossa<br />

Senhora Aparecida.<br />

A minha mãe era muito doente e me deixou muito novinha com apenas 3 anos de idade.<br />

Fui morar com minha avó paterna, porque o meu pai ficou morando lá. De vez em quando, eu ia<br />

na minha avó Iuca, este era o apelido dela, o nome real era Maria Martins.Tinha tamb<strong>é</strong>m a vovó<br />

Mariinha que era a madrasta que estava no lugar de mãe do meu pai, que por sinal era muito boa.<br />

Ela tinha uma filha que se chamava Estela, e nós fazíamos muitas artes juntas.<br />

Depois de mais ou menos 1 ano, meu pai se casou com minha tia irmã Isabel e eu fui<br />

morar com eles. Tudo se complicou, pois ela tinha muito ciúmes de mim com o papai. Eu<br />

apeguei muito a ele, porque morávamos na fazenda, não tinha nada pra fazer. Então eu recortava<br />

letras de jornais, pedia para ele me ajudar montar as palavras. Eu tinha uns 5 anos, e aprendi a ler<br />

e escrever com estas brincadeiras. Quando entrei na escola comecei a ajudar a professora, pois<br />

tudo que ela ensinava eu já sabia. Fui crescendo, estudando e um belo dia fiquei dando aulas<br />

particulares para colegas. Foi aí que um fazendeiro vizinho disse que ia me levar a Passos para<br />

fazer algumas provas, para ver se eu<br />

estava preparada para dar aulas. Deu certo,<br />

fui aprovada, e dei aula para 40 alunos, e<br />

foi aumentando tanto a quantidade de<br />

alunos que minha irmã teve que me<br />

ajudar.<br />

Eu tinha 15 anos, queria aprender<br />

a costurar, assim minha irmã ficou me<br />

dando aulas. Fui morar em Santa Rita de<br />

Cássia e continuei nas aulas de costura.<br />

Quando faziam leilão, o pessoal dava<br />

brindes e eu ganhava dinheiro para<br />

comprar tecidos. Comecei at<strong>é</strong> a fazer<br />

uniformes para meus alunos, e os que não<br />

iam uniformizados, eu ficava muito brava,<br />

mas mesmo assim eles gostavam muito de<br />

mim.<br />

Eu gostava muito, nesta <strong>é</strong>poca, de apostar em corrida de cavalos e eu sempre<br />

ganhava!Um dia quando eu estava galopando o cavalo escorregou as patas da frente e eu caí com<br />

meu nariz no chão, que ficou totalmente verde, pois graças a Deus era grama!<br />

Meu primeiro namorado foi um menino muito bom, fui apaixonada e queria casar com<br />

ele. Pena que era meu primo em primeiro grau, meu pai não deixou e terminamos!<br />

Passado alguns anos, eu conheci um rapaz chamado Amir Cury. Aí meu coração foi<br />

entregue!<br />

Meu pai tamb<strong>é</strong>m não o queria como genro, mas não importei, comecei a encontrá-lo ás<br />

escondidas!!Quando já estava noiva, estava vindo de um passeio de mãos dadas, quando meu pai<br />

nos viu e me repreendeu em casa dizendo: Cuidado minha filha!


Teve um fato engraçado. Um dia meu namorado me roubou um selinho, então pensei,<br />

não sou mais virgem! E já estava de casamento marcado!<br />

Casei, fui muito feliz, tive dois filhos, que se chamam Eduardo e Eloisa, minha vida virou<br />

festa, passeávamos, eu acompanhei de perto em tudo. Mas o destino me pregou outra peça;<br />

fiquei viúva com apenas sete anos de casada, meu marido morreu com 38 anos. Começou o<br />

sofrimento.Lutei muito, consegui construir duas casas, formei os dois filhos que não me deram<br />

nenhum trabalho.A Eloisa se casou, <strong>é</strong> feliz e tem uma filha que <strong>é</strong> a razão da minha vida, o<br />

Eduardo não casou, mas <strong>é</strong> muito feliz tamb<strong>é</strong>m.Depois de uns anos que meu marido morreu eu<br />

conheci um rapaz e aprendemos a dançar, mas o tempo passou logo este Senhor pediu –me em<br />

namoro, começamos um relacionamento, fomos felizes tamb<strong>é</strong>m, mas não deu certo, terminamos<br />

o namoro por falta de honestidade dele.<br />

Hoje estou fazendo o curso na faculdade que se chama UNABEM- <strong>FESP</strong> estou muito feliz, amo<br />

minhas colegas.<br />

Tenho um companheiro que se chama Jos<strong>é</strong>, passeamos muito, tenho o meu maior tesouro como<br />

já foi dito, que <strong>é</strong> minha neta e meus filhos e genro. Então agradeço a Deus todos os dias pelo<br />

fato de ter uma família unida e feliz!!!!!


Tempo de Infância<br />

Lázaro Lemos Freire<br />

Eu tive uma infância muito boa. Fui criado na roça e a vida era tranquila. Eu me<br />

levantava de madrugada e ia para o curral com meu pai para tirar leite. Uma hora pisando no<br />

barro, outra hora, na geada, mesmo assim a gente gostava. Eu levava uma caneca e bebia o leite<br />

tirado na hora, bem espumado. Era muito gostoso!<br />

Eu sempre ajudava meu pai na lida com o gado e no serviço da roça, apesar de eu ser pequeno.<br />

Mas era muito animado e nas horas vagas eu brincava com meus irmãos com os brinquedos que<br />

nós mesmos fazíamos: papa-vento, flauta de talo de mamona, monjolinho, carrinho de boi e<br />

outros mais. A roda do carrinho de boi era feita<br />

de casca de melancia ou então de pedado de<br />

cuia. A “cuia” para quem não sabe era feita de<br />

cabaça.<br />

Uma coisa que nós gostávamos era de brincar<br />

na chuva. Quanto chovia muito e a água descia<br />

formava uma grande enxurrada que quase nos<br />

cobria. Para nós, não havia nada melhor.<br />

Outra coisa boa era ouvir os casos que meu pai<br />

contava. À noite, ele tinha o costume de se<br />

sentar no rabo do fogão, como a gente dizia, e<br />

começava a contar casos. Um que nós<br />

gostávamos de ouvir era “o caso do homem que só falava pode”. Era assim. Numa certa cidade,<br />

um homem sofreu uma doença que paralisou parte de usa memória e, a partir daí, ele só falava a<br />

palavra “pode”. Tudo que se falasse com ele ou se perguntasse ele respondia... Pode.<br />

Acontece que, na cidade, umas moças bandidas e vigaristas ficaram sabendo do caso desse<br />

homem e foram para lá. Elas deram sorte e o encontraram sozinho em casa. Elas o<br />

cumprimentaram: Como vai o senhor? E ele respondeu: Pode. Várias perguntas elas fizeram e<br />

ele: Pode. Então elas perceberam que era mesmo verdade e perguntaram: Nós podemos chamar o<br />

senhor de “Pai”? E ele: Pode. Com isso, elas resolveram dar uma boa arrumada nele. Deram<br />

banho, colocaram terno e gravata, arrumaram o cabelo e disseram: Nós vamos levar o senhor pra<br />

fazer compra, pode ser? E ele respondeu: Pode!<br />

Ao chegaram à loja, começaram a comprar coisas, mas sempre perguntando a ele se podia. E ele<br />

sempre respondia: Pode. Assim, compraram tudo o que queriam e, então, disseram ao dono da<br />

loja: Nós vamos colocar as coisas no carro e vamos ao Banco para acertar uns negócios, porque<br />

já está quase fechando.<br />

Nosso pai vai ficar aqui para pagar a conta e logo nós estaremos de volta pra buscá-lo. O dono da<br />

loja não desconfiou de nada e achou mesmo que elas eram filha dele e ainda pensou: Está aí um<br />

pai de verdade! E ficou esperando. As moças sumiram...<br />

Mas o homem não falava nada. O dono esperou mais um pouco e nada. Aí ele disse: Vamos<br />

acertar a conta? E o homem respondeu: Pode. Mas nem saiu do lugar. O dono esperou mais e de<br />

novo falou em acertar as contas e o homem: Pode. At<strong>é</strong> aí ele ainda tinha esperança de que as<br />

moças voltassem, mas logo viu que era golpe. Chamou a polícia. A polícia chegou e começou a<br />

interrogar o homem: Quer dizer que o senhor comprou e não quer pagar? E o homem: Pode. Os<br />

guardas então perguntaram: Onde estão suas filhas? Ele respondeu: Pode. Aí o policial disse,<br />

com mais seriedade: Se o senhor não colaborar eu posso prendê-lo, sabia? Ao que o homem<br />

respondeu: Pode!<br />

Nessa altura, todos viram que se tratava de um homem doente e ainda tiveram que localizar a<br />

família para levá-lo pra casa. Das vigaristas, nunca mais tiveram notícia e o dono da loja ficou<br />

mesmo só com o prejuízo.


Lembranças de Irineu e Antonia<br />

Irineu de Paula<br />

Pouco me lembro de minha infância sendo<br />

eu criado na roça, sem companheiros para brincar,<br />

tinha muitas tarefas para fazer, como descascar<br />

milho e cuidar da criação.<br />

Mesmo assim sobrava tempo para ir ao córrego,<br />

que passava no fundo de casa, para pescar alguns<br />

peixinhos para completar as refeições do dia a dia.<br />

Quando comecei freqüentar a escola foi muito<br />

bom, pois fiz amigos para brincar e estudar.<br />

Morava a uns quatro km da cidade, mas tinha de ir<br />

a p<strong>é</strong> porque não tinha condução.<br />

Foi assim minha vida e adolescência aos 13 anos.<br />

Rolinha: minha amiga<br />

Antonia Maria de Paula<br />

Quando criança morava na Rua Quarta Chapada<br />

n°204 que hoje chama Davi Baldini, a casa hoje<br />

esta reformada com outra aparência.<br />

Na minha casa tinha um quintal muito grande, com<br />

muitas arvores de frutas: mangueiras, laranjeiras e<br />

cajueiros. Tinha caju vermelho e amarelo e todas<br />

as árvores eram bem grandes e altas, porque quando<br />

eu nasci já fazia muitos anos que meu pai as tinha<br />

plantado.<br />

Eu, menina levada, gostava de subir nas arvores.<br />

Podia ser qualquer uma, at<strong>é</strong> mesmo as laranjeiras.<br />

Nada era empecilho para mim, estava sempre nos galhos das árvores. De todas, era a mangueira<br />

do centro do quintal que eu mais gostava.<br />

No galho mais alto, eu me sustentava, pois ali eu tinha uma amiguinha muito linda que eu<br />

gostava de conversar, porque gostava de contar historias para ela porque me ouvia com muita<br />

atenção.<br />

Sabe quem era? Uma linda rolinha marronzinha, cabeça redondinha, olhos bem vivos, e<br />

quietinha no seu ninho a aquecer os seus ovinhos.<br />

A rolinha foi a melhor amiga nos meus devaneios de criança, pois at<strong>é</strong> hoje com meus 67 anos<br />

nunca a esqueci.


Capitólio: um sonho<br />

Maria Aparecida de Oliveira<br />

At<strong>é</strong> os catorze anos de idade morei na roça,<br />

mas, a vontade de morar na cidade era muito grande.<br />

Todos os dias ajudava papai e mamãe.<br />

Acordava de madrugada, buscava e apartava as<br />

vacas, tirava leite, ajudava nos serviços de casa,<br />

levava comida para os peões que trabalhavam com<br />

meu pai, ajudava a olhar os irmãos menores. Quando<br />

acabavam as tarefas, brincava de casinha e a noite eu<br />

e meu irmão gostávamos de ouvir as músicas de<br />

Tonico e Tinoco e Moreno e Moreninho no rádio.<br />

Aos domingos, gostávamos de assistir aos jogos<br />

de futebol em um campinho que ficava perto da<br />

roça. Algumas amigas e eu ficávamos vendo e<br />

paquerando alguns jogadores.<br />

Sempre íamos às festas em Capitólio. Uma das coisas que eu mais gostava era assistir a festa da<br />

Semana santa.<br />

Nosso meio de transporte era o carro de boi, às vezes, quando amanhecia e o c<strong>é</strong>u estava nublado, ficava<br />

rezando para não chover, caso contrário, nosso passeio não iria acontecer. Toda vez que ia a Capitólio<br />

passear o desejo de me mudar aumentava mais.<br />

O meu sonho um dia se tornou realidade. O local onde morava foi invadido pelas águas de Furnas,<br />

tivemos que arrumar nossa mudança e sair rapidamente, pois em poucas horas, as águas invadiram as<br />

estradas e não teria passagem para sair. Minha mãe ficou muito triste, ela não tinha nenhuma vontade de<br />

se mudar para a cidade. Ela chorava o tempo todo, e eu, ao contrário, dava muitas risadas, afinal, foi o<br />

melhor dia da minha vida.<br />

Depois que me mudei para Capitólio, muitas coisas aconteceram, pois logo conheci um moço e<br />

começamos a namorar. Namoramos quatros anos e nos casamos. Estamos casados há 44 anos, tivemos<br />

quatro filhas e somos muito felizes.<br />

Hoje, quando me lembro da minha adolescência sinto muita saudade, foi um tempo muito bom que<br />

merece sempre ser recordado.


História Engraçada<br />

Cida Castro<br />

Bastião Galinha era um homem que todos tinha<br />

medo dele, porque diziam que ele roubava e que era<br />

misterioso, e at<strong>é</strong> passava pela fechadura da porta. Eu<br />

tinha muito medo dele.<br />

Uma bela noite mamãe,meus irmãos e eu<br />

estávamos na sala ouvindo radio quando algu<strong>é</strong>m bateu<br />

na porta. Mamãe disse pra que eu atendesse e , eu<br />

mais que depressa falei que tinha medo de ser o<br />

Bastião Galinha. Mas minha mãe disse:<br />

_ Vai medrosa, imagina se <strong>é</strong> este homem ele já morreu,<br />

não vive mais.<br />

Eu com muito medo fui, quando abri a porta<br />

era o dito cujo, o Bastião Galinha. Sai correndo casa a<br />

dentro e todos correndo atrás de mim sem saber o que<br />

estava acontecendo querendo falar comigo e eu só<br />

gritava.<br />

Quando cheguei ao quintal estava escuro, tinha dois<br />

panos brancos no varal.Eram sacos de passar no chão,<br />

mas o medo era tanto que quando me deparei com os sacos no varal e todos atrás de mim achei<br />

que eram fantasmas, e ai a coisa foi ficando feia , voltei correndo e gritando, eu quase morri de<br />

susto.<br />

Quando me acalmaram e me deram água com açúcar, e voltamos para sala chegando, lá estava<br />

o Bastião Galinha sentado na sala e esperando um prato de comida<br />

A mamãe com muito medo, deu-lhe a comida e ele despedindo saiu porta fora e ficamos todos<br />

dando risadas.<br />

Esta história foi muito engraçada e ficou marcada. At<strong>é</strong> hoje para quem eu conto cai na risada.<br />

E foram muitas histórias que merecem passar para um livro<br />

Agradeço todos que fizeram parte da minha infância, meus pais F<strong>é</strong> e Jose Piracema, meus<br />

irmãos, meus familiares.<br />

Agradeço meu marido e companheiro Júpiter, meus filhos genros e minha nora e netos que me<br />

deram muita força para este crescimento de vida.<br />

Agradeço a Deus, por proporcionar-me oportunidade como esta de muita amizade e carinho de<br />

todos.<br />

Agradeço a UNABEM, a Leila, Gelcira o pessoal da Enfermagem a Nadia.<br />

Hoje estou realizada por ter vivido tantas experiências lindas.<br />

VIVA A UNABEM!!!<br />

"VIVER É NÃO TER A VERGONHA DE SER FELIZ"


Infância na fazenda Praia Vermelha<br />

Antonio Rodrigues Pinto<br />

Quando nasci, meus pais quiseram que eu tivesse o nome de meu avô paterno. Antonio<br />

Rodrigues Pinto, que <strong>é</strong> o meu nome. Tive uma infância feliz. Fui criado na fazenda Praia<br />

Vermelha, situada na margem direita do nosso famoso Rio Grande. Como foi bom, crescer e<br />

con<strong>viver</strong> com meus pais e irmãos.<br />

Já crescido, brincava com carrinho de bois de sabugo, com estilingue no pescoço para matar<br />

passarinhos, fazia arapucas ia pescar lambaris nos córregos e tamb<strong>é</strong>m cangar os carneiros para<br />

puxar o carros de bois em miniatura. Como era bom brincar e distrair com esses brinquedos.<br />

Na v<strong>é</strong>spera do Natal, meus pais pegavam<br />

minha botinha de goma, e a colocava num lugar<br />

de destaque, para o papai Noel colocar o presente.<br />

Ao levantar, a primeira coisa <strong>é</strong> olhar o que tinha<br />

dentro da botinha. Encontrava sempre duas<br />

moedas de quatrocentos e quinhentos reais. Ficava<br />

muito feliz e saia dando pulinhos de alegria.<br />

Meu pai, preocupava em dar instrução para<br />

seus filhos e logo contratou uma professora de<br />

Passos. Ela era tão boa. Não esqueço nunca de meu<br />

1º dia de aula junto com meus colegas filhos dos<br />

empregados da fazenda.<br />

Depois de concluir meu 3º ano primário na<br />

fazenda, fui para a cidade de Delfinópolis fazer o 4º ano.<br />

Concluindo o primário, vim para Passos estudar e como foi difícil sair a primeira vez da<br />

casa de meus pais e do seu convívio. Mas valeu a pena, fiz a admissão em um ano e terminei o<br />

2º grau. Fiquei interno no col<strong>é</strong>gio Estadual 1 ano e meio. Como foi bom este tempo fiquei com<br />

mais conhecimento e feliz, com meus professores. Estudava durante a semana e ainda saía os<br />

sábados e domingos, para ir ao cinema e namorar as meninas da <strong>é</strong>poca. Como foi bom tudo isso,<br />

estudar em Passos durante 8 anos.Conclui depois meu curso de filosofia da matemática. Fui<br />

professor em minha terra natal (Delfinópolis) 17 anos. Logo me casei com minha esposa que era<br />

diretora em um grupo Estadual.<br />

Nós dois trabalhando e como o dinheiro daquele tempo valia mais, conseguimos criar e<br />

estudar nossos 3 filhos, que são maravilhosos e formados em Pedagogia, Odontologia e<br />

Medicina Veterinária. Estamos felizes, em ver nossos filhos formados e independentes, cada um<br />

trabalhando e não precisam de nós pais economicamente. Todos casados, ganhamos 2 noras<br />

maravilhosas e 7 netos.Eu e minha Esposa, damos graças a DEUS por ter criados os 3 filhos bem<br />

e termos uma família realizada.<br />

Com tudo isso, eu só tenho a agradecer a “CRISTO” as graças alcançadas na minha vida,<br />

pois eu creio que realmente o CRISTO <strong>é</strong>: “O caminho, a verdade e a vida.”<br />

Como <strong>é</strong> saudável, levantar todo dia, achar o dia maravilhoso, com saúde e em paz com<br />

minha família.<br />

E‟ tamb<strong>é</strong>m muito gratificante, em fazer parte da UNABEM, com ótimos professores e<br />

receber mais conhecimentos, na minha maturidade. Como gosto das aulas e de meus colegas.<br />

Estou muito feliz.<br />

Parab<strong>é</strong>ns ao presidente do conselho curador da <strong>FESP</strong> em criar este curso da UNABEM.<br />

Esta <strong>é</strong> um pouco da minha história principalmente daminha infância e adolescência.<br />

“Dos tempos idos e vividos, que não voltam nunca mais”


Minha Historia<br />

Enilda Lemos Pinto<br />

Nasci em uma fazenda chamada “Retirinho”, onde morei at<strong>é</strong> os 9 anos.<br />

Minha infância foi muito feliz porque sempre morei com meus pais. Nestes anos brincava<br />

muito, passeava e estudava.<br />

Meu pai preocupava em dar instrução para os oito filhos, tanto que sempre tivemos<br />

professores na fazenda. Nesta <strong>é</strong>poca saía com meu pai andando pelos pastos a cavalo para ver o<br />

gado e tamb<strong>é</strong>m procurar limas da P<strong>é</strong>rsia para<br />

chupar.<br />

Certa vez papai fui ver uma grande<br />

enchente no Rio Grande e avistamos a “Ponte<br />

do Surubi”.Estava vestida com uma capa<br />

camada “Ideal” e com Chap<strong>é</strong>u para proteger da<br />

chuva que era muito forte.Foi um dia<br />

emocionante!<br />

Ia sempre ao quintal apanhar laranja<br />

com meu irmão e papai.Ele subia nos laranjais<br />

para apanhá-las, depois assentávamos no chão<br />

para chupá-las. Que saudades desta <strong>é</strong>poca!<br />

Minha mãe sempre dedicada à família,<br />

estava sempre fazendo coisas boas: doces, bolos, biscoitos etc.<br />

Meu 3º ano primário foi feito em Ibiraci assim como minha Primeira comunhão. Fiz o<br />

4º ano em Delfinópolis, depois fui para CIC at<strong>é</strong> o 2º ano normal. O 3º normal fiz em Poços de<br />

Caldas, no col<strong>é</strong>gio São Domingos. Em Delfinópolis trabalhei como diretora e professora. Minha<br />

mocidade foi muito alegre. Depois encontrei a minha cara metade, casei e tenho 3 filhos, 2 noras<br />

e 7 netos.<br />

Mudamos para Passos e aposentei. A vida <strong>é</strong> muito incerta, momentos bons ou mais<br />

difíceis. Tive um problema de saúde serio, mas agora dou graças a DEUS por que superei tudo e<br />

hoje vivo uma vida feliz com toda minha família.<br />

Na 3º idade tive a felicidade de participar do curso da UNABEM – <strong>FESP</strong> um curso muito<br />

bom no qual adquiri mais conhecimentos e amizades.<br />

Todos os professores são bons e capacitados para transmitir os ensinamentos para a<br />

maturidade.


O Mandruvá<br />

Maria das Graças Garcia Freitas.<br />

Em uma tarde de sol, em 1964 mais ou menos, fomos; eu, minha prima Ednir e minha<br />

amiga Marilda, ao cemit<strong>é</strong>rio rezar pelos mortos. Era comum naquela <strong>é</strong>poca fazer isso.<br />

Lá estávamos nós. Entrávamos em uma rua e saímos em outra. Ora rezávamos , ora líamos<br />

as mensagens dos túmulos, quando algo nos chamou atenção.<br />

Estávamos diante de um túmulo com a imagem de Nossa Senhora segurando um botão de<br />

rosa prestes a abrir.Notamos que o dedo da imagem estava<br />

movimentando, dando-nos a impressão que estava nos chamando.<br />

Olhamos uma para outra muito assustadas e saímos correndo<br />

e encontramos um funcionário do cemit<strong>é</strong>rio que quis saber o que<br />

estada acontecendo. Relatamos-lhe o ocorrido e ele pediu-nos que<br />

o levasse at<strong>é</strong> o local.<br />

Para o nosso alívio, era apenas um mandruvá, que estada no<br />

dedo indicador da mão esquerda da imagem e fazia movimentos<br />

repetitivos aparentando o movimento dos dedos da estátua.<br />

Quanta confusão!<br />

Agradecimentos aos professores:<br />

Leila , Silvia, Gelcira, Nádia, Fred e amigas, muito obrigada<br />

pelo carinho, dedicação, esforço e disponibilidade...<br />

Que o “Menino Jesus” abençoe todos vocês, hoje e sempre!


Pegos em cima de uma mangueira<br />

Baltazar Júlio de Freitas.<br />

Aconteceu quando eu tinha meus treze anos. Naquela <strong>é</strong>poca eu era engraxate na redondeza<br />

da Praça da Matriz ,onde se encontravam hot<strong>é</strong>is, bares especialmente o Caf<strong>é</strong>-Globo.<br />

Trabalhava comigo os inesquecíveis amigos Pel<strong>é</strong> e Toinzinho.Foi justo com o Toinzinho<br />

que tudo aconteceu. Em uma tarde do mês de novembro do ano de 1957, após nosso trabalho de<br />

graxa voltando para nossas casas e, ao passar pela rua do Sapo, escondermos nossas caixas de<br />

trabalho , e adentramos , por um vão da cerca, a um pomar<br />

onde havia duas mangueiras carregadas de mangas maduras .<br />

Estávamos nos dois lá em cima , tranqüilos, quando de repente<br />

apareceu lá em baixo , com um pedaço de bambu na mão , o<br />

dono do pomar que foi logo nos dizendo: podem descer já daí!<br />

O que fazer !...descer ou não descer ? Com um pouco de<br />

medo descemos e eu sempre de olho no olho de Toinzinho<br />

para dar-lhe um sinal para fugirmos, mas Toinzinho não<br />

olhava .<br />

Em dado momento o Senhor do pomar disse:Agora !...<br />

Pensei comigo lá vem bambuzada! E ele continuou:<br />

- Agora vocês terão que pagar pelas mangas colhidas,<br />

inclusive todos as mangas verdes que vocês derrubaram ao<br />

chacoalharem os galhos!!<br />

Por sorte nossa o faturamento com o trabalho de graxa<br />

tinha sido ótimo, o que nos salvou de maiores complicações.<br />

Fomos embora chateados, por<strong>é</strong>m livres de termos levado uma surra de bambu.<br />

Essa foi uma das muitas peraltices que aconteceu na minha adolescência.<br />

Perdão abençoado<br />

Baltazar Júlio de Freitas .<br />

Tudo aconteceu quando minha irmã Maria de Lurdes casou-se com o cunhado Benedito, a<br />

contra gosto de meu pai Geraldo. Ele achava que o Benedito não era pessoa ideal , para sua<br />

filha.<br />

O casamento aconteceu; quem a levou ao altar foi o meu avô Antonino, uma vez que era<br />

contrário à proibição quanto ao casamento.<br />

Após o enlace, eles foram morar bem perto de nossa casa, e as visitas em nossa casa era<br />

constante, mas com restrições, ou seja, se meu pai chegasse, ela saía pelos fundos da casa, e se<br />

este estivesse em casa ela era avisada para não ir.<br />

E assim foi esse clima at<strong>é</strong> que meu avô Antonino completou setenta anos. Seus familiares<br />

resolveram fazer-lhe uma festa surpresa e assim aconteceu: levaram para dar umas voltas at<strong>é</strong><br />

que festa fosse organizada.Quando retornou , ao entrar na sala onde todos os convidados<br />

estavam já batendo palmas e iniciando o canto do Parab<strong>é</strong>ns a você , ele interrompeu o canto e<br />

disse:<br />

- Parem esta festa que vocês prepararam com tanto amor e carinho. Eu quero <strong>é</strong> que meu<br />

filho Geraldo mais velho e minha neta Lurdes, a mais velha, venham ao meu lado e quero que


Geraldo perdoe e abençoe a filha pelo acontecido no casamento. Naquele momento em que o<br />

papai abraçava a Lourdes e a abençoava, todos os presentes se emocionaram.<br />

Á partir deste momento a festa continuou com muita alegria.<br />

Em nossa casa tudo mudou completamente , há paz , alegria , muita harmonia entre todos<br />

os familiares.


Tudo pelo carinho e pela sopinha gostosa!<br />

Maria de Lourdes de Lima<br />

Quero escrever aqui uma passagem na minha vida: quando eu era interna na Associação<br />

Feminina Beneficente e Instrutiva: era assim o nome do col<strong>é</strong>gio na Vila Formosa, bairro Vila<br />

Diva em São Paulo no ano de 1949. Tínhamos acabado de jantar. No col<strong>é</strong>gio nós almoçávamos<br />

às 11 horas , lanchávamos às 15 horas e jantávamos às 18 horas. Depois íamos para o pátio fazer<br />

um pouco de hora e quando dava 19h30min subíamos para o dormitório para prepara-nos para<br />

dormir, afinal nosso horário de levantar era às 05h30min da manhã , tomar caf<strong>é</strong> às 06h30min,<br />

entrar para as aulas às 07h00min em ponto.<br />

Tudo o que fazíamos era com muita disciplina; tínhamos horário para tudo.Tinham meninos e<br />

meninas, mas tudo muito bem organizado, os meninos dormiam na colônia que ficava do outro<br />

lado do pr<strong>é</strong>dio , e as meninas nos dormitórios em cima com três terraços para separar.<br />

Naquela tarde eu combinei com algumas colegas que , logo depois do jantar, eu iria<br />

disfarçar que teria um desmaio, mas não era para ningu<strong>é</strong>m falar para as responsáveis, porque eu<br />

queria ficar na enfermaria do col<strong>é</strong>gio, para comer<br />

aquela sopinha gostosa diferente da nossa. A<br />

nossa vinha com muito bichinho preto nas<br />

beiradas do prato, a gente tirava com o dedo e<br />

limpava no uniforme. Eu queria tanto comer a<br />

comida que era servida somente para os<br />

funcionários que olhavam as crianças! Quando a<br />

porta grande se abriu, e surgiu o Sr. Paulo e o Sr.<br />

João Alberto, que eram os filhos da diretora<br />

responsáveis pelas crianças, eu disse:<br />

- É agora! Vamos fazer de conta que estamos<br />

brincando de rodar bem forte, ai eu solto a mão e<br />

faço que caio desmaiada , e vocês não falam nada<br />

para o Sr. Paulo e nem para o Sr. João Alberto.<br />

Eles que vão me acudir.<br />

E não deu outra quando o João Alberto me viu no chão veio correndo para me pegar no<br />

colo e levou-me para a enfermaria , como se eu tivesse desmaiado. Chamaram rapidamente o<br />

Dr. Melilo, seu nome todo era Dr. Vicente de Paula Melilo, era o medico do col<strong>é</strong>gio, e vinha<br />

todas as semanas para fazer consultas nas crianças, na parte da manhã.<br />

Na enfermaria, eu fiquei tão bem tratada fingindo que tinha dor na barriga e no corpo, e que<br />

estava com tonturas, para ser tratada com todo o cuidado. E não e que deu certo? Tomei rem<strong>é</strong>dio<br />

para dor, comprimido para a barriga e não faltou a tão desejada sopinha de frango com arroz bem<br />

temperadinha, tão diferente da nossa comida do dia-a-dia. Ningu<strong>é</strong>m ficou sabendo que tudo não<br />

passou de um desmaio de mentira.Minhas amigas nunca contaram nada para a diretora e assim<br />

eu tive o prazer de saber como <strong>é</strong> gostoso ser tratado com todo o cuidado. Isso já faz tantos anos e<br />

eu nunca me esqueci deste acontecimento que teve na minha infância, agora vejo como as<br />

crianças tem sabedoria quando querem alguma coisa.<br />

Hoje estou com 69 anos e ainda me lembro muito bem deste episódio da minha vida. Quero<br />

deixar essa recordação dos meus 8 aninhos e que ainda me vem na lembrança , como se fosse<br />

hoje.<br />

Obrigado meu Deus pelas coisas boas e pelas experiências que tive na minha vida mesmo<br />

sendo criada em um Col<strong>é</strong>gio internato que foi o meu lar por 14 anos. Obrigada senhor por tudo o<br />

que sou!Dedico essa historia da minha infância para meus professores especialmente Leila,<br />

Gelcira, Nádia, Fred e para os amigos e companheiros da Unabem.


Histórias da Minha infância e do Carmelo São Jos<strong>é</strong><br />

Yolanda Higino Franco<br />

A minha infância foi muito bonita. Apesar de não conhecer minha mãe.<br />

Nasci em 5 de setembro de 1942.Quando eu perdi minha mãe eu estava com 3 meses.Quando<br />

papai casou outra vez eu estava com 4 anos e não sabia de nada.Cheguei perto dela e perguntei:<br />

- A senhora <strong>é</strong> minha mãe?<br />

Aí ela respondeu:<br />

- Não sou mãe de vocês,sou madrasta de vocês!<br />

Aí eu comecei a chorar...Ela pegou em nossas mãos e nos colocou sentados no banco da sala e<br />

disse:<br />

- Não precisa ficar com medo! Quero que vocês sejam meus amigos e me respeitem. Não vou<br />

tomar o lugar de sua mãe no coração de vocês.Tudo o que precisarem falem comigo.<br />

Ela não deixava o papai bater em nós!Tudo o que sou hoje agradeço a Deus por ter colocado ela<br />

na minha vida.<br />

No domingo ela sempre levava nos levava à Santa Missa e na hora do almoço ela rezava<br />

com a gente.<br />

Às vezes eu falo que, se ela fosse a nossa mãe não combinava tanto!<br />

Quando eu era pequena, pensava que tinha papai Noel de verdade.Aí pus meu sapato na<br />

janela e pedi uma boneca.O papai Noel trouxe o presente e era uma boneca muito bonita.Aí fui<br />

brincar com a boneca e minhas colegas.Quando fui lavar a boneca pus ela pra enxugar no sol e<br />

quando fui pegar ela estava toda rasgada!Aí eu comecei a chorar demais, pois ela era de papelão<br />

e eu não sabia....<br />

Quando freqüentava o catecismo, Dom Inácio o bispo diocesano que morava em<br />

Guaxup<strong>é</strong> veio à Passos. Ele tinha uma barba muito grande!Eu fui bem perto dele , puxei-lhe a<br />

barba e saí correndo...Ele ficou muito bravo! E eu só ria de ver o jeito dele...<br />

Todos os sábados vinham minhas amigas dormir em casa, no colchão de palha.A mamãe<br />

fazia bolo de fubá e era assado no fogão de brasa.Ela punha a massa dentro da caçarola e<br />

tampava com uma tampa e colocava brasa em cima da tampa.Quando a gente ia deitar fazíamos<br />

muita bagunça na cama e o papai ficava bravo demais As meninas chamavam:Am<strong>é</strong>lia,Lourdes e<br />

C<strong>é</strong>lia Esper Kallas.


O Carmelo<br />

Yolanda Higino Franco<br />

O Carmelo São Jos<strong>é</strong> era<br />

antigamente em frente ao Col<strong>é</strong>gio<br />

Imaculada Conceição. Depois, o<br />

Carmelo mudou para a Rua Santa<br />

Marta.<br />

Antigamente o Carmelo era muito<br />

rigoroso. Não se podia ver as<br />

freiras. Só pela grade a gente<br />

conversava com elas e, sempre<br />

com uma cortina preta na grade.<br />

Elas só podiam comer doces uma<br />

vez por ano.<br />

Se ficassem doentes, não podiam<br />

ir ao consultório, os m<strong>é</strong>dicos que<br />

iam at<strong>é</strong> elas. As carmelitas<br />

confessam uma vez por semana.<br />

Quando morre alguma irmã <strong>é</strong><br />

sepultada no Carmelo mesmo.<br />

O cemit<strong>é</strong>rio <strong>é</strong> lá dentro simples e<br />

bonito. Somente algumas pessoas<br />

que podiam entrar lá dentro para participar do sepultamento.<br />

A primeira irmã carmelita que eu vi enterrar foi a irmã Nazar<strong>é</strong>. As canções e orações delas são<br />

tão bonitas que se a gente tiver f<strong>é</strong> podemos receber muitas graças.<br />

Algumas freiras que conheci no Carmelo de Passos foram: Irmã Teresinha, Irmã Marta, Irmã<br />

Elizabete, Irmã Ângela, Irmã Bernadete, Irmã Auxiliadora, Irmã Maria de São Jos<strong>é</strong> e etc.


Pedacinho da minha história<br />

Maria Augusta Borges Reis<br />

Natural de Alpinópolis, antiga Ventania, sou filha de Antônio Ferreira Borges e Maria<br />

Cândida Viana. Meus avós paternos são Francisco Borges e Francisca Maria de Jesus e os<br />

maternos são Jos<strong>é</strong> Elias Ribeiro Viana e Irin<strong>é</strong>ia Toledo Viana.<br />

Meu avô materno era farmacêutico, mais conhecido como “Juca Elias”. Sou de uma<br />

família simples de dez irmãos, sendo eu a quarta.<br />

Meu avô paterno era fazendeiro do município de Alpinópolis, num lugar chamado<br />

Mutuca. Faleceu muito cedo e minha avó dividiu a fazenda com os quatro filhos; meu pai pegou<br />

o que lhe cabia, o que não era muito, e foi tocando a vida.<br />

Foi lá que eu nasci em 30 de maio de 1942, na <strong>é</strong>poca o mundo estava muito conturbado,<br />

inseguro com a 2ª guerra mundial.<br />

Acredito que eu tenha recebido este nome porque nasci no mês de maio: “Maria” e<br />

porque minha mãe tinha uma amiga que se chamava “Augusta” e seu esposo Manoel, mais<br />

conhecido como Neca, era sapateiro e foram meus padrinhos de batismo.<br />

Tenho um apelido muito engraçado que surgiu na roça onde eu morava, lá tinha muitas<br />

plantações, árvores, pássaros e macacos, e meu irmão João conta que tinha um macaquinho<br />

muito bonitinho que se parecia comigo, daí ele me apelidou “Miquinha” e toda minha família me<br />

chama assim.<br />

Eu tinha os cabelos claros e compridos, minha mãe fazia duas trancinhas em mim e dizia<br />

que eu era uma menina muito linda.<br />

Naquela <strong>é</strong>poca eu brincava de pular corda, chicotinho queimado, “direita está vago”,<br />

pique-esconde e outros. Brinquedos, eu não tenho muito que contar. Tive apenas uma boneca de<br />

pano, presente da minha avó Irin<strong>é</strong>ia.<br />

Tem um fato que marcou muito minha<br />

infância, minha mãe tinha uma comadre<br />

chamada Geralda, ela era gaga, sempre que ia<br />

passear em minha casa eu ficava observando<br />

elas conversarem achava engraçado ela falar<br />

co-co-co...madre, eu comecei a imitá-la ate que<br />

fiquei gaga tamb<strong>é</strong>m e foi o maior transtorno,<br />

acredito que por isso tenha me tornado uma<br />

menina muito tímida.<br />

Meu pai tinha um carro de boi. Naquela<br />

<strong>é</strong>poca todos que tinham fazenda tinham um.<br />

Nas festas de igreja que aconteciam na cidade<br />

vínhamos todos neste carro numa alegria só.<br />

Nós vivíamos na fazenda da plantação<br />

de arroz, feijão e milho e de uma pequena criação de gado, porcos e galinhas. Minha mãe fazia<br />

queijo e meu pai levava para vender na cidade; era tudo muito difícil.<br />

O arroz era socado no pilão, feito de madeira com um buraco no centro e com um pau<br />

que se chamava mão-de-pilão.Era socado at<strong>é</strong> sair a palha e depois abanavam com uma peneira<br />

de taquara (bambu).<br />

Quando chegou a <strong>é</strong>poca de estudar nos mudamos para a cidade. Fiz a primeira e a<br />

segunda s<strong>é</strong>rie na escola estadual Dona Indá, em Alpinópolis. Minha professora chamava Izabel,<br />

ela era muito brava e eu tinha muito medo dela. Na sala eu era uma menina muito quietinha<br />

nunca participava de nada porque era gaga. Quando ela ia tomar a lição eu chorava porque meus


colegas riam de mim. Meu uniforme era de saco, minha mãe alvejava e fazia a blusa clarinha e a<br />

saia de pregas ela tingia de azul, o sapato era “alpargatas”. Meus cadernos eram de duas linhas e<br />

o lanche era sopa de fubá com sal e uma vez na semana era doce.<br />

Lembro-me de uma única peraltice da <strong>é</strong>poca de escola, quando eu voltava para casa no<br />

começo da minha rua, morava uma mulher que todos diziam ser doida, daí pensei vou testar pra<br />

ver se <strong>é</strong> verdade. Ela ficava sempre na janela e toda vez que passava mostrava a língua pra ela e<br />

dizia “doida”! Um belo dia ela ficou escondida e quando fui passando ela saiu na minha frente e<br />

me disse agora menina eu te pego!!! Passou-me uma carreira at<strong>é</strong> na porta da minha casa, quase<br />

morri de tanto susto e medo entrei quietinha e me escondi embaixo da cama.Nunca mais passei<br />

por lá, dava uma volta enorme para chegar em casa.<br />

Em agosto de 1950 nos mudamos para Passos, daí terminei o primário na escola estadual<br />

Dr.Wenceslau Braz. Meu pai, já cansado de trabalhar na roça resolveu mudar de negócio, vendeu<br />

tudo o que tinha e comprou um armaz<strong>é</strong>m de secos e molhados na rua “Segunda chapada”, hoje<br />

conhecida por Dois de Novembro. Era um luxo na <strong>é</strong>poca. Tinha de tudo, at<strong>é</strong> telefone, coisa que<br />

poucos tinham.<br />

Sem experiência nenhuma de com<strong>é</strong>rcio, foi um fracasso. Passou a vender em cadernetas<br />

mensais e não recebia, em pouco tempo perdeu todo o dinheiro que tinha empregado e teve que<br />

voltar a trabalhar na roça.<br />

Arrendou umas terras aqui perto num lugar chamado “Caiera” e foi plantar algodão; aí foi<br />

quando tive que parar de estudar, só fiz o primário e já comecei a trabalhar. Naquela <strong>é</strong>poca os<br />

pais não incentivavam os filhos a estudar, principalmente as mulheres que tinham que aprender a<br />

bordar, cozinhar e ser dona de casa. Só os meus irmãos mais novos estudaram.<br />

Eu tinha um sonho queria ser psicóloga, mas não culpo meus pais, pelo contrário, me<br />

orgulho deles, pois educar dez filhos não foi nada fácil, somos uma família muito unida, graças a<br />

Deus. Eu <strong>é</strong> que não corri atrás de meus sonhos, sempre fui muito indecisa e medrosa.<br />

Comecei a namorar escondido, minha mãe era muito brava, e o namoro era bem diferente<br />

dos de hoje, mas era muito bom.<br />

Em 1960 conheci o Hermínio, meu grande amor, namoramos por quatro anos e<br />

noivamos por um, nos casamos em 1965, na igreja São Benedito, em Passos. Tivemos quatro<br />

filhos, três homens e uma mulher: Sandro, Gil, Frank, Viviane e Bruno, são os meus tesouros e<br />

dos quais me orgulho muito, sinto-me realizada atrav<strong>é</strong>s deles.<br />

Deus foi muito bom conosco, são todos formados em medicina menos a menina, ela fez<br />

Direito. O Sandro <strong>é</strong> ortopedista, o Gil pediatra e o Bruno cardiologista.<br />

No começo de minha historia disse que meu avô materno era farmacêutico, acredito que<br />

está no sangue, porque todos os meus irmãos têm filhos formados na área de saúde: dentistas,<br />

m<strong>é</strong>dicos, enfermeiras, nutricionistas... de uma família simples saíram filhos estudiosos uma<br />

bênção de Deus!<br />

Meus filhos são todos casados e tenho três netos: Sandro <strong>é</strong> casado com Meire, e tem o<br />

filho Felipe com 18 anos; Gil <strong>é</strong> casado com Cláudia e tem dois filhos, Gustavo com 7 anos e<br />

Carla com 3; Viviane <strong>é</strong> casada com Cleber e não tem filhos; Bruno <strong>é</strong> casado com Tereza e<br />

tamb<strong>é</strong>m não tem filhos, são casadinhos de pouco!<br />

Hoje me sinto outra pessoa depois que entrei na UNABEM, e não posso deixar de falar<br />

de uma pessoa que me incentivou muito a isso, a minha amiga Wilma. Ela insistiu tanto pra que<br />

eu entrasse na UNABEM dizendo que se eu não gostasse era só sair.Só tenho a agradecer a ela,<br />

foi muito bom, fiz novas amizades e adquiri muito aprendizado. Imagine só, eu uma pessoa tão<br />

tímida, at<strong>é</strong> dancei na quadrilha vestida de homem... nunca poderia imaginar isso. Sem contar o<br />

carinho e dedicação de todos os professores e estagiários que me receberam na faculdade.<br />

Este <strong>é</strong> um pedacinho de minha história que compartilho agora.


Uma parte da história de minha vida<br />

Benedita Laurinda da Silva<br />

Estava com dezenove anos quando meus pais resolveram mudar para roça “ Formoso da<br />

Serra”, perto de Itaú de Minas.<br />

Eu namorava um rapaz bem mais velho. Não gostava dele pra casamento, mas meu pai<br />

via nele um ótimo partido para mim. Assim, como dizia meu pai, fiquei noiva só pra não vir pra<br />

roça, pois tinha que trabalhar e ganhar dinheiro pro enxoval. Dei motivos para terminar tudo e<br />

meu pai me levou para roça.<br />

Toda semana meu pai vinha em Passos para fazer feira. Um domingo ele chegou em casa<br />

e disse-me: Minha filha, arrume sua mala porque você vai para Passos. Sua tia quer que você vá<br />

com ela para Ribeirão Preto porque ela não quer ir sozinha. Na segunda-feira ele me levou no<br />

ponto do trem marinheiro. Quando chegamos lá, tinha um rapaz todo alinhado. Era sobrinho do<br />

nosso vizinho, trabalhava em Furnas e ia sempre visitar o tio. Quando o trem chegou, ele entrou<br />

primeiro e eu logo em seguida. Sentei ao lado dele e começamos a conversar. Ele me perguntou<br />

se tinha namorado e eu respondi que não, pois já estava interessada nele. Quando chegamos em<br />

Passos, ele me ofereceu o táxi pra me levar à casa de minha tia. Eu não aceitei, pois não o<br />

conhecia bem. Contei que estava indo pra Ribeirão com a minha tia e ele perguntou se queria o<br />

endereço dele e telefone para eu ligar, quando voltasse de Ribeirão, que ele viria me encontrar.<br />

Eu não aceitei e falei que quando eu chegasse, os primos dele ficariam sabendo e ligavam para<br />

ele.<br />

Fiquei um mês em Ribeirão e na volta o ônibus quebrou na estrada, ficamos duas horas e<br />

outro ônibus veio nos buscar. Quando o ônibus chegou, o trocador transferiu as malas e por força<br />

do destino só ficou a minha no ônibus quebrado e não tive como voltar para roça. Só estava com<br />

a roupa do corpo e vesti as roupas da minha tia por uma semana. Quando resgatei a minha mala,<br />

num sábado de manhã, meu pai tinha vindo para fazer a feira. Pedi pra ele me levar na estação<br />

porque queria ir embora naquele dia. Quando chegamos vi o moço de um mês atrás. Disse para o<br />

meu pai: aquele <strong>é</strong> o sobrinho do Sr. Antonio. Não sentei no vagão que ele estava, mas fiz de tudo<br />

para ele me ver. Quando o trem deu a partida, minhas vizinhas que estavam no mesmo vagão que<br />

eu disseram: Aí Dita, deixando sua paixão em Passos? Hoje <strong>é</strong> sábado e você indo pra roça?<br />

Respondi: Aí que vocês se enganam, a minha paixão está no vagão da frente. Não deu cinco<br />

minutos e ele foi onde eu estava. Tinha deixado um lugar do meu lado pensando nele e não deu<br />

outra. Ali nos entendemos. No domingo, ele foi à minha casa com os primos dele. Namoramos<br />

quatro meses, noivamos durante quatro meses e casamos em 22/12/1962. Tive cinco filhas<br />

maravilhosas, sete netos lindos e está chegando o oitavo. Esta <strong>é</strong> a herança de um romance.<br />

Fomos felizes at<strong>é</strong> que a morte nos separou.<br />

Hoje participo de muitos grupos da terceira idade e seus diversos eventos, inclusive da<br />

Unabem. At<strong>é</strong> resgatei alguns amigos da infância. Estou muito feliz por esse momento e me sinto<br />

vitoriosa. Obrigado Senhor.


Filhos e netos: coisa mais sagrada.<br />

C<strong>é</strong>lia Silveira Brito<br />

Acredito que eu vim ao mundo com uma missão muito importante: ser mulher, criança,<br />

sonhadora, jovem namoradeira, vaidosa, esperançosa.<br />

Depois disso me casei, mas nunca deu certo,pois gosto muito de rezar: <strong>é</strong> o meu fraco.<br />

Adoro viajar, estudar, conhecer pessoas e lugares diferentes;fazer novos amigos. Sou<br />

muito falante e sempre alegre com todos,por<strong>é</strong>m restrita em algumas coisas. Meu ex marido não<br />

gosta de nada disso.<br />

Em seguida veio a maternidade,a coisa mais bela e valiosa que já tive : cinco filhos e<br />

perdi três por aborto.<br />

Sempre houve desavenças entre nós dois devido ao ciúme doentio a vida toda. Ficamos<br />

casados 36 anos e já fazem dez anos que nos separamos.Mesmo assim agradeço a Deus por<br />

ele,pois, se não fosse ele não teria os filhos preciosos que temos,pois são jóias preciosas. São<br />

muito importantes ,lindos e maravilhosos,cada qual na sua maneira de ser no gênio e<br />

temperamento.<br />

Acho que todos nos temos falhas e qualidades boas e más.<br />

A coisa mais sagrada que Deus nos deu são os netos : belos e maravilhosos na medida do<br />

possível,com suas diabruras e peraltices,com seus valores hereditários.<br />

Temos netos de 17 anos, 13 ,11, 08 , 06 e 03 anos.<br />

Realizei meu sonho de Faculdade ,fazendo 2 cursos de pedagogia:supervisão e magist<strong>é</strong>rio<br />

no final de carreira , pois já era avó.<br />

Sinto-me realizada pois fui professora de Primeira s<strong>é</strong>rie do meu filho mais velho,que<br />

hoje <strong>é</strong> segundo sargento,muito inteligente e respeitado.<br />

Sou muito feliz ,muito mesmo. Abraços e beijos...


Nilva: um nome doce como uma bala<br />

Nilva Nunes Reis<br />

Quando eu nasci meu pai quis que eu me chamasse Nilva porque naquela <strong>é</strong>poca já existia<br />

uma bala muito gostosa com o nome de Nilva. No papel que a envolvia tinha a foto de uma<br />

menina muito bonitinha.E não <strong>é</strong> que eu ia crescendo e cada vez mais parecia com a menina da<br />

bala!<br />

Na escola os coleguinhas me chamavam de bala Nilva e eu ficava danada da vida ,mas<br />

com o tempo fui me acostumando...<br />

Hoje tenho vários nomes.Me chamam de Nívia,Neiva,Nilma,Nilva e daí por diante.<br />

Muitas vezes meu nome verdadeiro acaba ficando esquecido.<br />

Essa <strong>é</strong> a História do meu nome.


Rezar , Cantar e Amar<br />

Clarinda Antonia de Mello Alexandre<br />

Na minha infância, quando ainda tinha uns quatro anos de idade morávamos numa fazenda no<br />

interior de São Paulo, chamada Santa Maria.<br />

As casas tinham fogão de lenha e lembro-me de uma vizinha que todos os dias cozinhava feijão<br />

e quando ia refogá-lo ela amassava bastante alho e fritava na gordura.Antes de colocar o feijão<br />

retirava o alho fritinho , colocava num prato e me chamava para comê-lo. Que delícia!<br />

Éramos cinco irmãos e minha mãe, todas as<br />

noites, pedia que ajoelhássemos em volta da<br />

cama dela e de mãos postas, ela rezava “Ave<br />

Maria” e a gente ia acompanhando “Ave<br />

Maria, cheia de graça...”<br />

Assim aprendemos as orações, e<br />

principalmente a rezar o terço. Quando fui para<br />

o catecismo não tive dificuldades, at<strong>é</strong> ajudava a<br />

catequista...<br />

Mudamos para a cidade e foi muito bom.<br />

Éramos três primas e tudo fazíamos juntas: na<br />

escola, em festas e passeávamos na rua , pois<br />

não tinha praça nem jardim.<br />

Todo mês de janeiro tinha festa religiosa e era<br />

muito gostoso, pois tinha um estúdio com autofalante<br />

onde os garotos ofereciam música para<br />

as garotas e vice versa. Tinha tamb<strong>é</strong>m correio<br />

elegante e leilão.<br />

Um dia, como gostava de dançar me chamaram pelo auto-falante me pedindo para cantar. Fui,<br />

mas fiquei dentro do estúdio para que ningu<strong>é</strong>m me visse. A música que cantei chamava-se<br />

“Sonhar contigo” um grande sucesso da <strong>é</strong>poca.<br />

Arrumei um namorado louro de olhos azuis e namoramos bastante tempo. Mais tarde arrumei<br />

um meio queimadinho, me apaixonei e casamos em 1974, no dia 5 de outubro, dia do<br />

aniversário dele.<br />

Já temos 36 anos de casados e dois filhos: Daniel e Maria Beatriz e uma neta Maria Eduarda que<br />

são meus tesouros.


Um amor que venceu todos os obstáculos<br />

Ivone Maria Prado Sobrinho<br />

Nasci em 09 de março de 1943. Sou a 6ª filha de 12 irmãos. Minha mãe dizia-me que eu<br />

era um bebê saudável, nunca ficava doente , passava o maior tempo dormindo e me alimentei de<br />

leite materno at<strong>é</strong> os dois anos de idade.<br />

A partir desta data tenho poucas recordações at<strong>é</strong> eu completar meus sete anos de idade.<br />

Nesta <strong>é</strong>poca as crianças iniciavam sua vida escolar, assim eram alfabetizadas. Não existia<br />

apostila e sim uma cartilha onde aprendíamos as vogais, o alfabeto, as letras maiúsculas e<br />

minúsculas com t<strong>é</strong>cnicas de soletração. A professora pegava em nossas mãos para nos ensinar a<br />

escrever. Lembro-me das primeiras palavras que aprendi: “A vovó viu a uva”.<br />

Minha primeira professora chamava-se Dona Irene.Ela levava seu filho para a escola e<br />

ele era um menino lindo que acabei me apaixonando por ele e assim não prestava mais atenção<br />

nas aulas.<br />

Veio a adolescência, nem sabia o que era isso, morava na fazenda. Foi a melhor <strong>é</strong>poca da<br />

minha vida. Andava a cavalo todos os sábados,<br />

íamos para a casa dos meus avós e reunia-me com<br />

meus primos e brincávamos de passar anel, pique<br />

esconde, amarelinha entre outras brincadeiras. Era<br />

a melhor coisa do mundo. Meu avô era o banco da<br />

região. Emprestava dinheiro a todos que<br />

precisassem. Ele tinha um quarto que só ele e<br />

minha avó tinham acesso e para que os netos não<br />

entrassem, dizia que era um quarto assombrado.<br />

Mas não era nada disso, este quarto era o local<br />

onde estava todo o dinheiro e só muitos anos<br />

depois que fui saber de toda a verdade. Há! Se eu<br />

soubesse do dinheiro...<br />

Outra coisa me que recordo <strong>é</strong> de minha<br />

mãe nos ensinando a cantar o Hino Nacional, o<br />

Hino a Bandeira e algumas marchinhas de<br />

carnaval como a Jardineira entre outras.<br />

Veio a fase adulta, começo de namoro. Sempre que eu apresentava um namorado para<br />

minha mãe, o pretendente era reprovado, por ser pobre, moreno demais, velho, etc.<br />

Certa vez conheci um moço de São Sebastião do Paraíso. Levei para apresentar já<br />

sabendo que mais um seria reprovado, mas que por milagre isso não ocorreu.O motivo? Ele era<br />

bem de situação e era apaixonado por mim. Começamos a namorar e logo ficamos noivos e<br />

seguiu-se o romance por dois anos. Quando faltava dois meses para o nosso casamento, fui<br />

passear em uma Usina Hidrel<strong>é</strong>trica próxima de Passos e conheci um rapaz que morava neste<br />

lugar. Foi amor a primeira vista. Desisti do noivado e comecei a namorar o Walter. Minha mãe<br />

foi contra esse namoro por ele ser pobre demais para mim, mas como o amor tem poder<br />

transformador, ele começou a estudar e prestou concurso para ingressar na CEMIG. Ele passou,<br />

foi chamado e mesmo assim minha mãe era contra o nosso relacionamento.<br />

Marcamos o casamento, 21 de maio de1967. Foi um período tenso, pois at<strong>é</strong> nessa hora<br />

mamãe não compreendeu o quanto nos amávamos e disse para meus irmãos que se algum deles<br />

fossem ao enlace, ela não iria mais considerá-los como filhos. Como ningu<strong>é</strong>m iria se atrever em<br />

desobedecê-la, achamos por bem nos casar em Aparecida do Norte/ SP. Alugamos uma kombi e<br />

partimos. Fiquei chateada com a situação e passei a Lua- de- Mel na cidade de São Paulo.


Após um ano e meio de casamento, nasceu meu primeiro filho: Walter Israel Júnior.<br />

Quando ele tinha seis anos de idade,meu marido foi transferido para Divinópolis e foi uma fase<br />

ótima em minha vida. Neste ano comecei a cursar o ginásio, pois eu detestava falar para as<br />

pessoas que eu só havia estudado at<strong>é</strong> a 4ª s<strong>é</strong>rie primária. Assim com muita determinação, conclui<br />

a 4ª s<strong>é</strong>rie ginasial que <strong>é</strong> , atualmente . a 8ª s<strong>é</strong>rie ou 9º ano do Ensino Fundamental.<br />

Após três anos, retornamos para Passos/MG e engravidei da minha caçula: Milena Prado<br />

Israel.<br />

Passaram-se os anos, meu filho casou-se com a Sônia e tem uma filha chamada Mel.<br />

Minha filha ainda mora comigo e <strong>é</strong> a milha melhor amiga.<br />

Hoje meu marido <strong>é</strong> aposentado e vamos para nossa chácara nos finais de semana e <strong>é</strong> claro<br />

que viajamos muito tamb<strong>é</strong>m.<br />

Posso por assim dizer que tenho uma vida feliz e uma família que me ama.


Do Líbano para o Brasil com muita alegria.<br />

Izabelle Nasser<br />

Nasci em Monte Alegre de Minas, no Triangulo Mineiro em 23 de<br />

julho de 1931, uma pequena cidade do interior cuja base econômica<br />

era o com<strong>é</strong>rcio. Nós, eu, meu irmão mais novo,Jofre, meu pai Nagib<br />

Nasser, e minha mãe Odete Nasser, morávamos em uma casa com<br />

vista para a praça principal da cidade e, na frente da casa funcionava<br />

a loja do meu pai que se chamava Bazar Francês.<br />

Meu pai, Nagib Nasser, era muito respeitado na cidade, pelo fato de<br />

ter participado na Segunda Guerra Mundial como oficial do exercito<br />

francês, onde adquiriu muitas medalhas.<br />

Aos seis anos de idade fiz uma viagem com minha família, fomos<br />

para o Líbano. Como naquele tempo não havia avião para o Líbano,<br />

fomos de navio, levamos um mês para chegar lá. Durante a viagem<br />

visitamos vários países europeus litorâneos, onde o navio parava.<br />

Chegamos no Líbano no começo de 1938. Como não conhecia minha família, meu avô<br />

paterno, meus tios e meus primos de lá, foi uma alegria conhecê-los, era festa todo o dia!<br />

Brincava muito com meus primos de lá, inclusive foi nessa <strong>é</strong>poca que conheci meu primo<br />

Karam, que logo se apaixonou por mim.<br />

Passado alguns dias, a família da minha mãe que mora em Damasco convidou minha mãe<br />

para uma estadia lá. Foram minha mãe e meu irmão mais novo. Jofre, meu irmão estava<br />

brincando na casa da família em Damasco e contraiu a Febre Tifo vindo a falecer. A família<br />

Nasser ficou muito sentida com a perda, e meus pais resolveram voltar para o Brasil. Chegando<br />

ao Brasil viemos direto para a cidade de Passos, que estava destacando pelo seu<br />

desenvolvimento. Chegando em Passos, no ano final de 1938, estabelecemo-nos na Avenida dos<br />

Expedicionários, onde meu pai abriu uma loja, o Bazar Avenida.<br />

Aos 7 anos de idade, fui matriculada no col<strong>é</strong>gio das irmãs, CIC. Lá eu conclui o curso<br />

primário, com muita facilidade, pois com minhas boas notas, não foi difícil! Lá no CIC, eu era<br />

conhecida pelas irmãs como “francesinha”, pelo meu conhecimento da língua. Parei de estudar<br />

na 4ª serie, mas ainda continuei a estudar em casa onde pude aprender o inglês e alguns<br />

instrumentos como, o piano, violino e a rebeca.<br />

Tive uma infância muito animada e alegre, brincava muito com as minhas amigas de<br />

amarelinha, de bola, pic-pega, esconde-esconde. Ia na Praça da Matriz dar uma volta no jardim<br />

e participar do rela. Mas sempre fui uma moçinha muito comportada e cheio de fãs.<br />

Como minha mãe se encontrava doente naquela <strong>é</strong>poca, passei a minha adolescência ajudando<br />

meu pai na loja e ajudando nos afazeres de casa.<br />

Nos meus 17 anos, recebemos uma carta que mudou minha vida, meu tio do Líbano anunciava<br />

nesta que seu filho, hoje meu marido, Karam, queria residir no Brasil.<br />

Karam chegou aqui em 1949, e ficamos nos conhecendo durante um ano, e nos casamos em<br />

1950. Após o casamento continuamos a morar com meus pais.<br />

Com trabalho, dedicação e esforço fomos construindo nossa vida a dois. Com uma vida a<br />

dois veios os meus 5 filhos, Odete, Nasser, Roberto, Vilma e Nilma. Muitas alegrias passamos<br />

juntos e passamos at<strong>é</strong> hoje.<br />

Em 1970 veio falecer a minha mãe, foi uma grande perda em minha vida, muita saudade<br />

e muita tristeza. Em 1972, Karam e eu fomos visitar os familiares no Líbano e na Síria e<br />

deixamos as crianças com meu pai.<br />

Ao chegarmos no Líbano foi uma surpresa para todos de lá, pois ningu<strong>é</strong>m nos<br />

esperava.Ficaram festejando nossa ida três dias.


Uma surpresa que me cercou no Líbano foi a visita dos meus primos, os que brincavam comigo<br />

quando criança, cantaram para mim a musica que eu havia ensinado à eles, “hoje tem<br />

marmelada, tem sim senhor”.<br />

Os dias foram passando, muitas festas, muitos passeios, mas a tristeza me cercava,<br />

quando eu lembrava dos filhos no Brasil. Em uma das festas os parentes ficaram sabendo que<br />

eu tocava arabibi, um instrumento musical antigo de uma corda só, que eu aprendi a tocar<br />

quando era criança com meu pai, trataram de arrumar um emprestado, nos reunimos e fizerammeeu<br />

tocar para uma turma de 50 pessoas. Toquei e cantei em árabe. Imagine só! Eu, do Brasil,<br />

cantar e tocar para eles!<br />

Ainda no Líbano viajamos para Síria e fomos visitar a família de minha mãe, em<br />

Damasco.Depois de três meses no Líbano voltamos para o Brasil, emoção e muita alegria, de<br />

rever meus filhos e minha família.<br />

Foram passando os anos, nós na luta trabalhando, as crianças formando, estudando.<br />

Alguns durante esse tempo se casaram e formaram uma nova família, com filhos, esposa.<br />

As minhas alegrias aumentaram com netos e noras.<br />

Em 1992 meu pai faleceu aos 103 anos, deixando para trás filha, genro, netos e bisnetos<br />

numa profunda tristeza. E mais tristezas ainda aconteceram, pois minhas melhores amigas<br />

vieram a falecer nessa mesma <strong>é</strong>poca a<br />

Vilma Jabur e a Odete Chelala. A perda<br />

delas trouxe um vazio, pois elas eram como<br />

irmãs para mim, presentes nos momentos<br />

tristes e alegres.<br />

Anos 2000, vieram mais netos, mais<br />

filhos se casaram, e a família aumentou<br />

muito, em alegria e união.Neste ano,<br />

completava-se bodas de ouro do meu<br />

casamento, e a data merecia ser comemorada<br />

como sempre fazemos em momentos<br />

especiais. Reunimos filhos; noras, Silvia e<br />

Janete, e meus cincos netos, Nicholas, Pedro<br />

Ivo, Maria Paula, Otavio, Edgar.<br />

Em 2008, Karam, eu e alguns<br />

amigos voltamos para o Líbano, com direito<br />

a parada em Dubai, onde pude contemplar o<br />

luxo e a ousadia das construções de arranhac<strong>é</strong>us.<br />

No Líbano, fomos recebidos, mais uma<br />

vez, com festas. Revimos todos os parentes e passamos por Damasco onde conheci meu primo,<br />

que <strong>é</strong> cônsul da Síria.<br />

Sempre gostei de estar reunida com a minha família e amigos no qual procuro <strong>viver</strong><br />

momentos de alegria, festas e de união.<br />

Em 2010,minha família comemorou mais um festa, era o ano de bodas de diamante do<br />

meu casamento, uma data especial que foi comemorada com as bênçãos de Deus. Nessa<br />

comemoração foi incluído mais dois netos, Igor e Izabelle, e o nosso bisneto, Karam. Familiares<br />

e amigos nos prestigiaram nessa data importante. Foi uma bela festa.<br />

Nesse ano de 2010 tamb<strong>é</strong>m tive a oportunidade de acrescentar na minha vida, momentos<br />

de estudo, momentos de alegria e de felicidade com meus novos amigos da UNABEM,<br />

momentos de aprendizagem e respeito com meus educadores.<br />

Aproveito esse final para mostrar a todos a felicidade que sinto agora por estar na<br />

UNABEM, e agradeço a todos, principalmente pelos nossos professores pela dedicação, carinho<br />

e amizade.<br />

O meu muito obrigado a todos!


Bebê à vista!<br />

Diomar Aparecida de Oliveira<br />

Vim de uma família de 10 irmãos e era a penúltima caçula. Fui muito querida por todos,<br />

minha mãe e meus irmãos me agradavam muito. Foi uma infância muito feliz.<br />

Brincava muito, o tempo todo, de pular corda, mar<strong>é</strong> (amarelinha hoje em dia), roda,<br />

queimada, etc. e sempre rodeada de amigos.<br />

Cresci e conheci meu marido numa festa da Penha, noivei e me casei em quatro meses.<br />

Meu marido era muito carinhoso e bom para mim. Um fato que marcou a minha vida foi o<br />

nascimento do meu primeiro filho. Muito saudável, lindo e esperto eu e meu marido ficamos<br />

muito satisfeitos com o nascimento do Marquinho. Meu marido at<strong>é</strong> saiu gritando pela rua "<strong>é</strong><br />

homem, <strong>é</strong> homem!". Esse dia me marcou muito , pois foi o primeiro dos sete filhos que eu tive, e<br />

todos foram motivos de muita alegria para mim.<br />

Depois vieram meus netos, que eu amo de paixão, não sei de qual eu gosto mais, todos<br />

são muito bacanas.<br />

Agradeço a Deus, pela família maravilhosa que ele me deu.Obrigado senhor, obrigado<br />

por tudo!


Um pouco da minha vida.<br />

F<strong>é</strong> Aparecida Figueira Escher<br />

Meu pai era português, veio para o Brasil de navio trabalhar na colheita do caf<strong>é</strong> na cidade de<br />

Guaxup<strong>é</strong>. Minha mãe , que era de Piumhi, Minas Gerais, o conheceu quando foi a Guaxup<strong>é</strong> para<br />

aprender a bordar e logo depois se casaram. Tiveram três filhos (Júlio, Maria e Wellington).<br />

Maria tinha um padrinho que morava no arraial novo que hoje se chama Fortaleza de Minas.<br />

Meus pais e meus irmãos foram convidados pra uma festa no arraial. Eles foram quatro dias<br />

antes da festa. No segundo dia em que estavam lá, Maria estava brincando com outras oito<br />

crianças quando um raio a acertou. Meu pai chegou uma hora depois, Maria ainda estava viva,<br />

mas não agüentou e faleceu. Aí foi só tristeza, minha mãe estava grávida e perdeu o bebê,<br />

engravidou novamente e tamb<strong>é</strong>m perdeu. Teve um menino que viveu apenas 17 dias. Depois<br />

vieram Francisco, eu e meu irmão caçula, Napoleão. Aí foi só Deus no c<strong>é</strong>u e eu na Terra.<br />

Fui criada com muito carinho pelos meus pais e irmãos. Na minha adolescência tenho boas<br />

lembranças. Meu pai tinha uma loja e ia a São Paulo fazer compras, eu o acompanhava e tudo o<br />

que eu queria ele me dava. Naquele tempo não tinha roupas prontas, então eu trazia os cortes de<br />

pano e fazia os vestidos. Estreava-os na missa das dez horas a qual era a missa mais chique da<br />

cidade.<br />

Depois namorei, me casei e tive cinco filhos meus e três de criação. Meu marido foi tudo de<br />

bom, um pai maravilhoso, um bom cunhado, bom genro, bom tio. Era um homem muito gentil<br />

que abriu as portas do carro pra eu entrar e sair durante quarenta anos, sendo trinta e nove anos<br />

de casado e um ano de namoro. Fiquei viúva e desde então passei a freqüentar grupos de<br />

atividades da terceira idade, cultivei grandes amizades na UNABEM, que <strong>é</strong> tudo de bom e<br />

aprendemos muito com nossos queridos professores.<br />

Hoje, amigos e familiares dizem que sou um exemplo de vida, de auto-estima, de alegria e<br />

disposição. O segredo, <strong>é</strong> que eu amo a Vida !


Queima da estoque<br />

Maria Aparecida Garcia.<br />

Quando eu tinha mais ou menos 12 anos, meus pais moravam em São Jos<strong>é</strong> de Barra - na<br />

Barra velha.<br />

Meu pai foi convidado pelo meu tio para<br />

comprarem uma loja na Barra e deram-lhe o nome de<br />

Casa Garcia. Lá vendiam quase tudo: tecidos,<br />

aviamentos, pregos, calçados, arame , querosene,<br />

pregos, etc. Tamb<strong>é</strong>m eles cobriam caixão, pois naquela<br />

<strong>é</strong>poca não tinha urna pronta.<br />

Meu tio era ótimo no ramo, mais meu pai não era<br />

muito comunicativo, por<strong>é</strong>m o com<strong>é</strong>rcio ia indo muito<br />

bem , at<strong>é</strong> que meu tio faleceu, deixando meu pai só<br />

com os negócios.<br />

Então meu padrinho e cunhado do meu pai,veio<br />

dar uma força nos negócios, pois logo ia acontecer na<br />

cidade a festa de São Jos<strong>é</strong> que era padroeiro da cidade,<br />

por isso o movimento era muito grande.<br />

O com<strong>é</strong>rcio não ia muito bem após a morte de<br />

meu tio, então meu pai ordenou que ningu<strong>é</strong>m fizesse<br />

mais dívidas.<br />

Na ausência de meu pai surgiu um viajante<br />

querendo vender uns brincos bem modernos para aquela <strong>é</strong>poca. Meu padrinho, querendo ajudar,<br />

fez uma compra de mais ou menos 300 brincos. Meu pai ficou muito bravo com ele.<br />

Quando começou a novena, começaram a chegar as famílias da roça. Eles vinham a cavalos ou<br />

de carro de boi e a cidade estava em festa e cheia de gente<br />

Meu padrinho me deu o menor dos brincos, e falou que era para eu ir na novena todos os<br />

dias com eles na orelha e sentar bem na frente para que todas as mulheres pudessem ver meus<br />

brincos. Logo no primeiro dia, minha coleguinha perguntou sobre os brincos, informei que era<br />

da loja de meu pai.<br />

Foi o maior sucesso , pois já no fim da novena , todas as mulheres e meninas estava<br />

usando os belos brincos. Na igreja, eu sempre sentava bem na frente e, olhando para trás fiquei<br />

muito feliz, pois todas as mulheres estavam usando os famosos brincos!<br />

Enfim todos os brincos foram vendidos, e meu pai pediu desculpas para meu padrinho.,<br />

que nunca comprava mais nada , ou seja só por encomenda<br />

Pouco tempo depois foi preciso vender a loja, pois meu pai não era do ramo.<br />

Agradecimentos aos professores:<br />

Leila, Gelcira,Nádia, Fred e amigas, muito obrigada pelo carinho e dedicação, esforço,<br />

disponibilidade...


“<strong>Recordar</strong> <strong>é</strong> Viver”<br />

Maria de Lourdes Freitas Bastos<br />

Na minha infância, estudei parte dela na Escola Estadual “Abraão Lincoln”, situada na<br />

<strong>é</strong>poca á Rua Gonçalves Dias. Tinha como professora Ivone Ajeje. Com seu jeito amigável,<br />

conseguiu conquistar seus alunos e a mim tamb<strong>é</strong>m.<br />

Me encantei com ela e não via a hora de ir para a escola todos os dias. Final de semana<br />

era longo.<br />

Um fato marcante, foi quando ficou grávida, teve que afastar da escola para ganhar<br />

“nen<strong>é</strong>m”, como ela sempre dizia, não vou demorar <strong>é</strong> só ganhar meu “nen<strong>é</strong>m”, eu volto logo.<br />

Quando trouxe outra professora para colocar em seu lugar, foi um choque. Saiu<br />

chorando da sala e nos deixou chorando tamb<strong>é</strong>m. Quase morri de paixão.<br />

Ela sempre me dava para decorar versos, trovas e frases para recitar sempre nas<br />

festinhas. Entre tantos, me marcou duas poesias. Uma foi “O Caroço”, que, sempre quando há<br />

oportunidade, recito. Hoje cursando a UNABEM – Universidade Aberta da Maturidade, resolvi<br />

contar esta história. Que saudade da professora, mãe, amiga e educadora de primeira linha.<br />

Segue a poesia de “O Caroço”.<br />

“O Caroço”<br />

Comi ontem no almoço,<br />

A azeitona de uma empada.<br />

Depois, botei o caroço,<br />

Sobre a toalha engomada.<br />

Mas, mamãe logo nota.<br />

E me ensina com carinho.<br />

O caroço não se bota,<br />

Sobre a toalha meu benzinho!<br />

O que ela me diz eu ouço,<br />

Sempre com toda atenção.<br />

E perguntei-lhe, o caroço mamãe,<br />

Onde boto então?<br />

Toda pessoa de linha, de trato,<br />

E de educação,<br />

O osso, o caroço, o espinho,<br />

Põe num cantinho do prato.<br />

E eu lhe depressa respondo,<br />

Mas, mamãe, repare bem!<br />

Meu prato <strong>é</strong> todo redondo,<br />

Cadê cantinho, não tem!<br />

Dedico às filhas de Dona Ivone Ajeje, o meu recordar <strong>é</strong> <strong>viver</strong>.


O dia que o guarda chuva cantou....<br />

Abadia Paula de Aguiar<br />

Aconteceu no inicio dos anos 50 quando eu tinha meus 6 ou 7 anos de idade. Nesta<br />

<strong>é</strong>poca eu tinha a tarefa de levar, todos os dias, a marmita de almoço do meu pai em sua barbearia<br />

na Praça da Matriz num cômodo ao lado do Hotel Vinte e Dois.<br />

Para chegar ao centro da cidade o meu trajeto era seguir pela rua Bonsucesso, onde no<br />

topo morava uma família de nome respeitável e de muitas posses, por<strong>é</strong>m com filhos de p<strong>é</strong>ssimos<br />

hábitos.<br />

Os danados ficavam ali na espreita só esperando eu passar para começar a sessão de<br />

torturas. Eram tapas e beliscões que chegavam a sangrar tamanha força que eles empregavam e a<br />

marmita do meu pai, por várias vezes eles jogaram ao chão.<br />

Como não dava para desviar o caminho, comecei a chorar sempre que tinha que levar o<br />

almoço. At<strong>é</strong> o dia em que meu pai ficou sabendo o que acontecia comigo e resolveu inverter a<br />

situação. No dia seguinte instruída por ele fiz o meu caminho de sempre só que dessa vez com<br />

um baita guarda chuva na mão e no outro, a marmita.<br />

Pois bem, esperei a investida dos moleques, coloquei a marmitinha no chão e mandei o<br />

guarda chuva na cabeça deles nos braços e onde dava para bater.<br />

Confesso que vi com um doce sabor de vingança cada um deles se afastando com medo<br />

de apanhar mais. E ainda gritei bem alto que o meu pai ia contar aos pais deles o que eles faziam<br />

comigo.<br />

At<strong>é</strong> hoje me pergunto como tive coragem de enfrentar aquela turma. A verdade <strong>é</strong> que<br />

meu pai estava ali por perto, na esquina, me observando e ao mesmo tempo de maneira sábia me<br />

ensinando a me defender. A partir desse dia passei a caminhar tranqüila pela Rua Bonsucesso,<br />

pois com medo de apanhar em casa fiz um guarda chuva cantar.

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