a cidade colonial na América Portuguesa - USP
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de trapiches a armazéns, à beira-mar, e em<br />
cima, altas casas de morada, em cuja face<br />
para o mar existem compridas varandas de<br />
madeira, deixam esperar antes uma <strong>cidade</strong><br />
comercial e populosa do que belamente<br />
edificada” (Spix e Martius, 1976, p. 129).<br />
Opinião compartilhada por Rugendas, para<br />
quem <strong>na</strong> Bahia há “grande número de edifícios<br />
públicos, mas eles são muito mais<br />
notáveis pelo tamanho que pela beleza da<br />
arquitetura” (Rugendas, 1979, p. 86). Sobre<br />
Vila Rica, Rugendas não deixa de sublinhar<br />
também a feiúra de sua arquitetura.<br />
Diz ele que as igrejas e edifícios públicos<br />
da <strong>cidade</strong>, do ponto de vista artístico,<br />
não apresentam <strong>na</strong>da de notável. “Datam,<br />
quase todas as igrejas e outras construções,<br />
de uma época em que a arquitetura<br />
se achava em ple<strong>na</strong> decadência, não somente<br />
em Portugal mas ainda em quase<br />
todos os países da Europa” (Rugendas,<br />
1979, p. 71). Mistura de estilos, decadência,<br />
resíduos góticos, “infelizes imitações<br />
do antigo”, tudo misturado sem arte. Na<br />
colônia explica-se também a falta de gosto<br />
e arte pelo fato de que os artistas que<br />
abando<strong>na</strong>ram a metrópole não eram precisamente<br />
os melhores, “o que explica por<br />
que os edifícios mais vastos e mais ricos<br />
do Brasil são desprovidos de beleza”<br />
(Rugendas, 1979, p. 72).<br />
Não é ape<strong>na</strong>s nos edifícios públicos que<br />
se mostra a pobreza e a desordem das <strong>cidade</strong>s<br />
brasileiras, mas também <strong>na</strong>s casas particulares,<br />
mesmo daqueles mais ricos. “Nem<br />
<strong>na</strong>s casas, nem no mobiliário, conseguimos<br />
encontrar muitas coisas que nós nos acostumamos<br />
a considerar como essenciais ao<br />
conforto; não as encontramos nem mesmo<br />
<strong>na</strong>s habitações mais espaçosas e fornidas”<br />
(Luccock, 1942, p. 80). Mesmo nos sobrados<br />
dos ricos a sensibilidade do civilizado<br />
é ferida, tamanha a falta de conforto e higiene.<br />
Diz Luccock que nesses sobrados há<br />
uma área aberta para a entrada de carruagens<br />
e cavaleiros:<br />
“Um largo lance de degraus conduz do pátio<br />
ao andar de cima, onde se encontram os<br />
cômodos de estar e de dormir, dos quais<br />
alguns bastante ofensivos à delicadeza britânica,<br />
por causa da bulha, do calor e do<br />
Planta da<br />
<strong>cidade</strong> de S.<br />
Sebastião do<br />
Rio de Janro ...,<br />
origi<strong>na</strong>l do livro<br />
de Vilhe<strong>na</strong>,<br />
Biblioteca<br />
Nacio<strong>na</strong>l, Rio<br />
de Janeiro<br />
(1775)<br />
REVISTA <strong>USP</strong>, São Paulo, n.57, p. 50-67, março/maio 2003 61