O Perdão - Transformar Sombras em Luzes, por Andrea Vasconcelos
O Perdão - Transformar Sombras em Luzes, por Andrea Vasconcelos
O Perdão - Transformar Sombras em Luzes, por Andrea Vasconcelos
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
2. O <strong>Perdão</strong>: <strong>Transformar</strong> <strong>Sombras</strong> <strong>em</strong> <strong>Luzes</strong><br />
2.1. O mito da Caverna<br />
Imagin<strong>em</strong>os uma caverna separada do mundo externo <strong>por</strong> um alto muro. Entre o muro e o<br />
chão da caverna há uma fresta <strong>por</strong> onde passa um fino feixe de luz exterior, deixando a<br />
caverna na obscuridade quase completa. Desde o nascimento, geração após geração, seres<br />
humanos encontram-se ali, de costas para a entrada, acorrentados s<strong>em</strong> poder mover a<br />
cabeça n<strong>em</strong> locomover-se, forçados a olhar apenas a parede do fundo, vivendo s<strong>em</strong> nunca<br />
ter visto o mundo exterior n<strong>em</strong> a luz do Sol, s<strong>em</strong> jamais ter efetivamente visto uns aos<br />
outros n<strong>em</strong> a si mesmos, mas apenas sombras dos outros e de si mesmos <strong>por</strong>que estão no<br />
escuro e imobilizados. Abaixo do muro, do lado de dentro da caverna, há um fogo que<br />
ilumina vagamente o interior sombrio e faz com que as coisas que se passam do lado de<br />
fora sejam projetadas como sombras nas paredes do fundo da caverna. Do lado de fora,<br />
pessoas passam conversando e carregando nos ombros figuras ou imagens de homens,<br />
mulheres e animais cujas sombras também são projetadas na parede da caverna, como<br />
num teatro de fantoches. Os prisioneiros julgam que as sombras de coisas e pessoas, os<br />
sons de suas falas e as imagens que trans<strong>por</strong>tam nos ombros são as próprias coisas<br />
externas, e que os artefatos projetados são seres vivos que se mov<strong>em</strong> e falam. Os<br />
prisioneiros se comunicam, dando nome às coisas que julgam ver (s<strong>em</strong> vê-Ias realmente,<br />
pois estão na obscuridade) e imaginam que o que escutam, e que não sab<strong>em</strong> que são sons<br />
vindos de fora, são as vozes das próprias sombras e não dos homens cujas imagens estão<br />
projetadas na parede; também imaginam que os sons produzidos pelos artefatos que esses<br />
homens carregam nos ombros são vozes de seres reais. Qual é, pois, a situação dessas<br />
pessoas aprisionadas? Tomam sombras <strong>por</strong> realidade, tanto as sombras das coisas e dos<br />
homens exteriores como as sombras dos artefatos fabricados <strong>por</strong> eles. Essa confusão,<br />
<strong>por</strong>ém, não t<strong>em</strong> como causa a natureza dos prisioneiros e sim as condições adversas <strong>em</strong><br />
que se encontram. Que aconteceria se foss<strong>em</strong> libertados dessa condição de miséria? Um<br />
dos prisioneiros, inconformado com a condição <strong>em</strong> que se encontra, decide abandoná-Ia.<br />
Fabrica um instrumento com o qual quebra os grilhões. De início, move a cabeça, depois o<br />
corpo todo; a seguir, avança na direção do muro e o escala. Enfrentando os obstáculos de<br />
um caminho íngr<strong>em</strong>e e difícil, sai da caverna. No primeiro instante, fica totalmente cego pela<br />
luminosidade do Sol, com a qual seus olhos não estão acostumados. Enche-se de dor <strong>por</strong><br />
causa dos movimentos que seu corpo realiza pela primeira vez e pelo ofuscamento de seus<br />
olhos sob a luz externa, muito mais forte do que o fraco brilho do fogo que havia no interior<br />
da caverna. Sente-se dividido entre a incredulidade e o deslumbramento. Incredulidade<br />
<strong>por</strong>que será obrigado a decidir onde se encontra a realidade: no que vê agora ou nas<br />
sombras <strong>em</strong> que s<strong>em</strong>pre viveu. Deslumbramento (literalmente: ferido pela luz) <strong>por</strong>que seus<br />
olhos não consegu<strong>em</strong> ver com nitidez as coisas iluminadas. Seu primeiro impulso é o de<br />
retornar à caverna para livrar-se da dor e do espanto; atraído pela escuridão, que lhe parece<br />
mais acolhedora. Além disso, precisa aprender a ver e esse aprendizado é doloroso,<br />
fazendo-o desejar a retornar a caverna, onde tudo lhe é familiar e conhecido. Sentindo-se<br />
s<strong>em</strong> disposição para regressar à caverna <strong>por</strong> causa da rudeza do caminho, o prisioneiro<br />
permanece no exterior. Aos poucos, habitua-se à luz e começa a ver o mundo. Encanta-se,<br />
7