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famigerado: identidade cultural na expressão do conto - Coluni - UFV

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<strong>cultural</strong> que ele, o <strong>na</strong>rra<strong>do</strong>r, desenvolveu meios próprios e<br />

adequa<strong>do</strong>s para lidar com seu me<strong>do</strong>.<br />

Não só o <strong>na</strong>rra<strong>do</strong>r, mas os “tristes três” mantêm o tempo<br />

to<strong>do</strong> um diálogo com o me<strong>do</strong>, conforme atestam os trechos:<br />

“e embola<strong>do</strong>s, de banda, ...”; “... constrangi<strong>do</strong>scoagi<strong>do</strong>s,<br />

sim.”; “... o cavaleiro solerte tinha o ar de<br />

regê-los”; “... intimara-os de pegarem o lugar onde<br />

agora se encostavam”; “... enquanto barrava-lhes<br />

qualquer fuga”; “... intugi<strong>do</strong>s até então,<br />

mumumu<strong>do</strong>s.”; “Estes aí são de <strong>na</strong>da não.”; “Satisfez<br />

aqueles três: - vocês podem ir compadres. (...) e eles<br />

prestes se partiram”[1].<br />

Daí, deduzimos que a característica emocio<strong>na</strong>l,<br />

fundamental <strong>do</strong>s “tristes três”, é também o me<strong>do</strong>. E, se vemos<br />

Damázio como o valente, corajoso, não podemos afirmar que<br />

também ele não guarda o seu me<strong>do</strong>; isto porque há uma relação<br />

confusa e muito difundida <strong>cultural</strong>mente “entre me<strong>do</strong> e<br />

covardia, coragem e temeridade” [5]. Há em Damázio <strong>do</strong>is<br />

sentimentos: um positivo e outro negativo, mas não seria<br />

coerente, <strong>do</strong> ponto de vista <strong>cultural</strong>, Damázio dar ares de me<strong>do</strong>.<br />

Mas, o que, senão o me<strong>do</strong>, ou este mais atenua<strong>do</strong> - a insegurança<br />

- teria mobiliza<strong>do</strong> Damázio? Citan<strong>do</strong> Delpierre, Jean Delumeau<br />

esclarece que “A palavra ‘me<strong>do</strong>’ está carregada de tanta<br />

vergonha que a escondemos. Enterramos no mais profun<strong>do</strong> de<br />

nós, o me<strong>do</strong> que nos <strong>do</strong>mi<strong>na</strong> as entranhas” [5]. Daí podemos<br />

postular que me<strong>do</strong> e coragem se encontram sempre - é nos<br />

momentos de me<strong>do</strong>, de grandes pavores que a coragem se aflora<br />

e realiza grandes atos positivos ou negativos. O <strong>na</strong>rra<strong>do</strong>r movi<strong>do</strong><br />

pelo me<strong>do</strong>, consegue “gambelar” Damázio, e o faz de uma forma<br />

não muito honesta mas, sem dúvida, de uma forma competente.<br />

Assim eles reafirmam sua <strong>identidade</strong> <strong>cultural</strong>: Damázio retor<strong>na</strong>,<br />

convenci<strong>do</strong> de que não fora enga<strong>na</strong><strong>do</strong>, sabe que é um valente; o<br />

<strong>na</strong>rra<strong>do</strong>r, por sua vez, sabe lidar com as palavras e com elas ele<br />

“evita o de evitar”, reforçan<strong>do</strong> também sua <strong>identidade</strong>. Embora o<br />

me<strong>do</strong> seja um elemento <strong>cultural</strong> pertinente a to<strong>do</strong>s os<br />

perso<strong>na</strong>gens, to<strong>do</strong>s eles também se identificam pela valentia. No<br />

fi<strong>na</strong>l, o <strong>na</strong>rra<strong>do</strong>r é exalta<strong>do</strong> por Damázio como um macho um<br />

valente ao dizer: “Não há como que as grandezas machas duma<br />

pessoa instruída” [1].<br />

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