famigerado: identidade cultural na expressão do conto - Coluni - UFV
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importante, mas os seus gestos e o que portava davam-lhe ar de<br />
poder e exaltavam sua valentia: “Carregava a celha. Causava<br />
outra inquietude, sua farrusca, a catadura de canibal. (...) O<br />
chapéu sempre <strong>na</strong> cabeça.(...) Mais os ínvios olhos.(...) estava em<br />
armas e de armas alimpadas. Dava para se sentir o peso da de<br />
fogo” [1].<br />
Outro trecho que reforça a valentia de Damázio e também<br />
nos remete a Delumeau é: “Sen<strong>do</strong> a sela, de notar-se uma jereba<br />
papuda urucuia<strong>na</strong>, pouco de se achar, <strong>na</strong> região, pelo menos de<br />
tão boa feitura. Tu<strong>do</strong> de gente brava” [1]. Essas observações <strong>do</strong><br />
<strong>na</strong>rra<strong>do</strong>r exaltam a valentia de Damázio e vão convencen<strong>do</strong> o<br />
leitor da periculosidade <strong>do</strong> cavaleiro e, portanto, da pertinência<br />
<strong>do</strong> me<strong>do</strong> que sente aquele que <strong>na</strong>rra.<br />
Há momentos em que o <strong>na</strong>rra<strong>do</strong>r parece não <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>r a<br />
emoção <strong>do</strong> me<strong>do</strong>: “Tomei-me nos nervos”, “O me<strong>do</strong>. O me<strong>do</strong> me<br />
miava.”, ”Sobressalto”. Mas, se o me<strong>do</strong> é sua característica mais<br />
evidente, coabita com ele a calma e a inteligência, pois o <strong>na</strong>rra<strong>do</strong>r<br />
sabe lidar com a emoção <strong>do</strong> me<strong>do</strong> como mostram os trechos:<br />
“Senti que não me ficava útil dar cara ame<strong>na</strong>, mostras de<br />
temeroso”; “Convidei-o a desmontar, a entrar”; “Muito de<br />
macio, mentalmente, comecei a me organizar.”; “Eu tinha de<br />
entender-lhe as mínimas ento<strong>na</strong>ções, seguir seus propósitos e<br />
silêncios.”; “-Famigera<strong>do</strong>?- habitei preâmbulos.”; “Oh, pois”<br />
[1]. Saben<strong>do</strong> que o me<strong>do</strong> é uma das quatro emoções básicas <strong>do</strong><br />
ser humano e que a coragem pode advir dele, vemos <strong>na</strong><br />
perso<strong>na</strong>gem <strong>na</strong>rra<strong>do</strong>ra atitudes temerosas e comportamentos<br />
corajosos advin<strong>do</strong>s, certamente, de seu me<strong>do</strong> conforme<br />
demonstram os recortes acima.<br />
Há também precauções <strong>do</strong> <strong>na</strong>rra<strong>do</strong>r exemplarmente<br />
revela<strong>do</strong>ras de um clima de insegurança e me<strong>do</strong>: “... a frente da<br />
minha casa reentrava, metros da linha da rua, e <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is la<strong>do</strong>s<br />
avançava a cerca, formava-se ali um encantoável, espécie de<br />
resguar<strong>do</strong>.”; “cheguei à janela” [1]. Esses trechos demonstram<br />
ser o <strong>na</strong>rra<strong>do</strong>r permanentemente <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de me<strong>do</strong> que, certamente,<br />
tem a ver com experiências por ele vividas ou conhecidas. Há<br />
que se considerar que a emoção <strong>do</strong> me<strong>do</strong>, mesmo sen<strong>do</strong> básica,<br />
não é inerente ao homem. Este a possui <strong>cultural</strong>mente, após<br />
conhecimentos e, ou, experiências que a desencadeiam. Tanto é<br />
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