Poesia - Academia Brasileira de Letras
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Péricles Eugênio da Silva Ramos<br />
4. e tantos já passaram, como as velhas luas,<br />
e todos passarão, como os futuros sóis.<br />
5. Por que chorar? Por que sorrir?<br />
Para que oceano rolam estes rios?<br />
6. Amemos o ar, que existe o que não vemos,<br />
espírito do vidro, imagem do que fomos:<br />
ergamos nele o nosso nome,<br />
inda que escrito a fogo e para perdurar<br />
o tempo que nos séculos dos séculos<br />
não é sequer a sombra <strong>de</strong> um segundo.<br />
7. Nesta vertigem <strong>de</strong> negror e brevida<strong>de</strong>,<br />
neste não-ser <strong>de</strong> tempos sem limite,<br />
leiamos as fagulhas, recenseemos,<br />
guar<strong>de</strong>mos tudo em nossos livros cintilantes.<br />
8. Assim proce<strong>de</strong> o escriba;<br />
assim, com seus papiros,<br />
recolhe, amealha, coleciona escassas glórias,<br />
que põe a reluzir, por um instante,<br />
contra a perpétua noite do horizonte.<br />
Futuro 1<br />
Alguma coisa paira no ar,<br />
inquieta, viva, móvel:<br />
olhos que nos contemplam,<br />
olhos que nós não vemos.<br />
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