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Poesia Estrangeira - Academia Brasileira de Letras

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7 Poemas inéditos –Rodolfo AlonsoTraduzidos porAn<strong>de</strong>rson Braga HortaUma poesia que não usa as palavras pela sensualida<strong>de</strong> que<strong>de</strong>spren<strong>de</strong>m, mas pelo silêncio que concentram: assim é a<strong>de</strong> Rodolfo Alonso. <strong>Poesia</strong> que tenta exprimir o máximo <strong>de</strong> valoresno mínimo <strong>de</strong> matéria vocabular, impondo-se uma concisão quechega à mu<strong>de</strong>z: Hay cosas que ni digo. E que, por isso mesmo, se julgacom severida<strong>de</strong>: ¿Para salvar / un minuto / escribo / en lugar <strong>de</strong> vivir?Em verda<strong>de</strong>, escrever, sob tamanha exigência, é um ato <strong>de</strong> vida, liberta<strong>de</strong> violências, mistificações e compromissos. E restaura a vida essencial,captando o que, na sucessão do tempo, nem é percebido pelosque têm gula <strong>de</strong> chegar a um ponto inexistente. Rodolfo Alonso observa,por exemplo, uma cicatriz. Aparentemente, é uma obra acabadada natureza. Mas, por baixo <strong>de</strong>la, o poeta <strong>de</strong>scobre o fogo central dachaga, permanente, a consumir e alimentar. La herida ya no sabe si existe.Sólo la cicatriz, pero viviente, zumba y resiste, negándose a morir, negándose a vivir.Talvez que a ambição <strong>de</strong>ste poeta – como saber ao certo a ambiçãoda poesia? – seja trazer para a vida <strong>de</strong> todos os dias o fogo <strong>de</strong>uma chaga viva <strong>de</strong> amor, ar<strong>de</strong>ndo no maior silêncio <strong>de</strong> compreensão.Carlos Drummond <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> (1968)Rodolfo Alonso(Buenos Aires, 1934) éuma das vozes maisreconhecidas da poesialatino-americanacontemporânea.Publicou mais <strong>de</strong> 20livros, incluindo tambémensaio e narrativa.Primeiro tradutor <strong>de</strong>Fernando Pessoa naAmérica Latina. Des<strong>de</strong>muito jovem, é o maisativo tradutor <strong>de</strong>gran<strong>de</strong>s poetasbrasileiros ao castelhano,começando por seusamigos CarlosDrummond <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>e Murilo Men<strong>de</strong>s, eculminando entre outroscom Manuel Ban<strong>de</strong>ira eOlavo Bilac. AThesaurus publicou emBrasília sua Antologiapessoal, bilíngüe. A<strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong><strong>Letras</strong> acaba <strong>de</strong>outorgar-lhe suas PalmasAcadêmicas.151


Traduzidos por An<strong>de</strong>rson Braga HortaDones para donarTe doy lo que me dieron:aquel sagrado olora la tierra mojada,y esa voz que es el vientoentre las ramas altas.Devuelvo lo que tuve:los árboles hermanos,las flores que modulala niebla, el grillo, el pájarocantando en la garúa.Ni herencia, ni legado.Sólo pasión y tiempo.La intensa vida, el aire,la mañana radiantey cielos en los ojos.No nos llevamos nada.¿Es que lo merecimos?La llama <strong>de</strong>l instante,colores en el sol,el crepúsculo juntos.El fuego <strong>de</strong> la hogueradon<strong>de</strong> vamos ardiendo.¿Y veo lo que me ve?En el momento justo,152


7 Poemas inéditos – Rodolfo AlonsoDons para darO que me <strong>de</strong>ram dou-te.Dou aquele sagradocheiro a terra molhadae essa voz que é o ventopor entre as ramas altas.Quanto tive <strong>de</strong>volvo:as árvores irmãs,as flores que modulaa névoa, o grilo, o pássarocantando na garoa.Sem herança ou legado.Tão-só paixão e tempo.A intensa vida, o ar,a manhã radiantee a celagem nos olhos.Nada levamos, nada.É o que merecemos?A chama do momento,colorações no sol,o crepúsculo juntos.O fogo da fogueiraem que vamos ar<strong>de</strong>ndo.E vejo o que me vê?No exato instante, o liso,153


Traduzidos por An<strong>de</strong>rson Braga Hortael liso resplandor<strong>de</strong>l neto mediodíasobre una mesa blancay frutas entonadascomo parientes próximos:la luz, la gama, el iris,limones con bananasy la manzana ver<strong>de</strong>.En la lluvia cabemos,instantáneos, <strong>de</strong> pronto,íntimos y gregarios,cercanos y distantes.La lluvia es nuestro templo.La canción evi<strong>de</strong>nte,la palabra encarnada,lo que llegó <strong>de</strong> afueraporque sonaba <strong>de</strong>ntro.¿O es que no somos, lengua?Y el fuego <strong>de</strong> la especie,horizonte y pasado.154


7 Poemas inéditos – Rodolfo Alonsoo claro resplendordo meio-dia nítidosobre uma mesa brancae frutas entoadascomo parentes próximos:a luz, a gama, o íris,bananas com limõese com a maçã ver<strong>de</strong>.Cabemos bem na chuva,instantâneos, <strong>de</strong> súbito,íntimos e gregários,próximos e distantes.A chuva é nosso templo.A canção evi<strong>de</strong>nte,a palavra encarnada,o que chegou <strong>de</strong> foraporque soava <strong>de</strong>ntro.Ou não seremos, língua?E o fogo da espécie,horizonte e passado.155


Traduzidos por An<strong>de</strong>rson Braga HortaNo hay día <strong>de</strong> la muerteInmóvil, incesante,la muerte, árida, impura.Infiel, infame, injusta,la dura muerte dura.Impaciente, infecunda,la inútil muerte, muda.Indudable, no dudala muerte ávida y pura.a la memoria <strong>de</strong>José Augusto SeabraEpifaníaComo luz en la luzsuena el invierno, al sol.Serena madurez,sabor <strong>de</strong>snudoque suspen<strong>de</strong> y sostienesin sospechar que sabe,secreto, sólo en sí,siente sin sentimiento,a simple sed,a simple ser,solo y sumo en el solsagrado <strong>de</strong>l silencioseco, soberbio, sueltosobre ese frío encendido.156


7 Poemas inéditos – Rodolfo AlonsoNão há dia da morteImóvel, incessante,a morte, árida, impura.Infiel, infame, injusta,a dura morte dura.Impaciente, infecunda,a inútil morte, muda.na lembrança doJosé Augusto SeabraNão duvida, e é sem dúvida,a morte ávida e pura.EpifaniaQual luz <strong>de</strong>ntro da luzsoa o inverno, ao sol.Serena madurez,sabor <strong>de</strong>snudoque suspen<strong>de</strong> e sustentasem suspeitar que sabe,secreto, só em si,sente sem sentimento,a simples se<strong>de</strong>,a simples ser,só e sumo no solsagrado do silêncioseco, soberbo, soltosobre esse frio incendido.157


Traduzidos por An<strong>de</strong>rson Braga HortaCoda a los ganados y a las miesesAtrás quedó el futuro.El mañana fue ayer.Nuestras horas no incluyenporvenir ni horizonte.Hubo un tiempo en que habíaolores <strong>de</strong> esperanza.Hoy es haber perdidolo que ayer fue mañana.Hubo. Ya no hay. Ni aquellossueños que nos soñabanhoy se <strong>de</strong>jan soñar.De haber sido futurohenos sólo pasado.Pasado <strong>de</strong>l futuro.“Ese no pue<strong>de</strong> ser, sido.”CÉSAR VALLEJO160


7 Poemas inéditos – Rodolfo AlonsoCoda aos gados e às messesAtrás ficou o futuro.Foi ontem o amanhã.Não entra em nossas horasporvir nem horizonte.Houve um tempo em que haviaodores <strong>de</strong> esperança.Hoje é haver perdido oque ontem foi amanhã.Houve. Não mais. Nem mesmo ossonhos que nos sonhavamse <strong>de</strong>ixam já sonhar.De haver sido futuroeis-nos tão-só passado.Passado do futuro.“Ese no pue<strong>de</strong> ser, sido.”CÉSAR VALLEJO161


W. H. Au<strong>de</strong>n


Poemas da línguainglesaTradução <strong>de</strong>Benedicto Ferri <strong>de</strong> Barros PrefácioReúno aqui, no estado em que hoje se encontram, a tradução <strong>de</strong>176 poemas da língua inglesa. Uns poucos incompletos, gran<strong>de</strong> número<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> uma revisão final que jamais termina. Por issomesmo, apresento-os como hoje estão.Na escolha dos poemas e dos poetas não obe<strong>de</strong>ci a nenhum critériocorrente. Apenas traduzi poetas e poemas que me encantaram, àmedida que os conheci e quis conhecê-los melhor.A tradução é um tipo especial <strong>de</strong> prazer: é a maneira mais profundae íntima <strong>de</strong> se conviver com o poeta e o poema e sentir mais intensamentesua poesia. Assim praticada, como prazer, a tradução nãotem objetivida<strong>de</strong> alguma: ela é necessariamente a maneira não sópela qual lemos o poema, como a maneira pela qual somos capazes<strong>de</strong> dizê-lo em nossa língua.Entretanto, po<strong>de</strong>-se ser mais – ou menos – fiel ao original, e maisou menos feliz na linguagem encontrada para se falar em nossa lín-Dos 176 poemastraduzidos foramselecionados,para este númeroda Revista<strong>Brasileira</strong>, ospoemas <strong>de</strong>H. W. Au<strong>de</strong>n eDylan Thomas.163


Tradução <strong>de</strong> Benedicto Ferri <strong>de</strong> Barrosgua o poema original. Em qualquer tradução esta fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> impõe uma opçãoin<strong>de</strong>clinável: ser-se mais fiel à poesia, ao sentido e ao pathos do original, ou tentar-sedar em nossa língua uma versão formal a mais próxima possível do original.Por outras palavras: ou se prefere reproduzir a poesia, ou os versos originais.Seria i<strong>de</strong>al ser-se fiel ao fundo e à forma, simultaneamente; mas isto, sim,é impossível em qualquer tradução <strong>de</strong> poesia.Pessoalmente, sempre que é in<strong>de</strong>clinável optar, opto pela poesia, rejeitandoa mímica da forma original. A mímese da versejação, buscada à outrance, freqüentementeadultera o sentido do poema, dizendo o que o poeta não disse,<strong>de</strong>scambando em muitos casos para o infiel, o falso e até o grotesco.Por isso, penso que toda tradução <strong>de</strong>ve ser acompanhada <strong>de</strong> seu original e,em segundo lugar, acho que <strong>de</strong>va haver o maior número possível <strong>de</strong> traduções<strong>de</strong> um mesmo poema, pois, inevitavelmente, cada uma apanhará <strong>de</strong>talhese nuances não captados ou não transmitidos pelas outras.O bom, mesmo, é que, com a edição bilíngüe, o leitor consiga, lendo atradução e se reportando imediatamente ao original, reconstituir no seupróprio entendimento e na sua própria sensibilida<strong>de</strong> o poema como o sentiue disse seu autor. Não passa o tradutor <strong>de</strong> um bordão, <strong>de</strong> um auxiliar, <strong>de</strong>um guia, que nunca lê o original como outro leitor o faria e que nem sempreé capaz <strong>de</strong> dizê-lo em sua própria língua com a felicida<strong>de</strong> com que opoeta o fez na sua.164


W. H. Au<strong>de</strong>n


Tradução <strong>de</strong> Benedicto Ferri <strong>de</strong> Barros1 st september 1939I sit in one of the divesOn the Fifty-second StreetUncertain and afraidAs the clever hopes expireOf a low dishonest <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>:Waves of anger and fearCirculate over the brightAnd darkened lands of the earth,Obsessing our private lives;The unmentionable odour of <strong>de</strong>athOffends the September night.Acurate scolarship canUnearth the whole offenceFom Luther until nowThat has driven a culture mad,Find what ocurred at Linz,What hugh imago ma<strong>de</strong>A psychopatic god:I and the public knowWhat all schoolchildren learn,Those to whom evil is doneDo evil in return.Exiled Thucydi<strong>de</strong>s knewAll that a speech can sayAbout Democracy,And what dictators do,The el<strong>de</strong>rly rubbish they talkTo an apathetic grave;166


Poemas da língua inglesa – W. H. Au<strong>de</strong>n1.º <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1939Incerto e temerososento-me a um dos parapeitosda 52.ª Avenidaquando falecem as espertas esperanças<strong>de</strong> uma década baixa e <strong>de</strong>sonesta:ondas <strong>de</strong> ira e medo circulamsobre as brilhantes e sombrias terras do planetaobsedando nossas vidas.O inominável cheiro da morteconspurca a noite <strong>de</strong> setembro.Estudos acadêmicos precisarãoo fatal erro que enlouqueceu uma cultura<strong>de</strong>s<strong>de</strong> Lutero aos nossos dias,revelarão o acontecido em Linz,que imago enorme engendrouum <strong>de</strong>us psicopático.O povo e eu sabemoso que as crianças apren<strong>de</strong>m nas escolas:quem faz o mal recebe-o <strong>de</strong> volta.Tucídi<strong>de</strong>s exilado sabia tudoo que dizer se po<strong>de</strong> sobre a <strong>de</strong>mocracia,o que esperar <strong>de</strong> ditadores,o lixo que revolvem<strong>de</strong> um túmulo apático.Tudo está em seu livro.A racionalida<strong>de</strong> repelidaa inculcação <strong>de</strong> hábitosPoemas da língua inglesa – W. H. Au<strong>de</strong>n167


Tradução <strong>de</strong> Benedicto Ferri <strong>de</strong> BarrosAnalysed all in his book,The enlightenment drive away,The habit forming pain,Mismanagement and grief;We must suffer them all again.Into this neutral airWhere blind skyscrapers useTheir full height to proclaimThe strenght of Collective Man,Each language pours its vainCompetitive excuse:But who can live for longIn an euphoric dream;Out of the mirror they stare,Imperialism’s faceAnd the international wrong.Faces along the barCling to their average day:The lights must never go out,The music must always play,All the conventions conspireTo make this fort assumeThe furniture of home;Leste we should see where we are,Lost in a haunted wood,Children afraid of the nightWho have never been happy or good.The windiest militant trashImportant Persons shoutIs not so cru<strong>de</strong> as our wish:168


Poemas da língua inglesa – W. H. Au<strong>de</strong>nmalversações e luto –por tudo isso teremos <strong>de</strong> passar <strong>de</strong> novo.Neste ar neutroem que arranha-céus se elevam cegos para o céua fim <strong>de</strong> proclamar a força do Homem Coletivo,em cada língua se proclamam <strong>de</strong>sculpas conflitantes.Quem entretanto po<strong>de</strong> viver in<strong>de</strong>finidamentenum sonho eufórico?O espelho nos <strong>de</strong>volve a face do imperialismo,do erro universal.No bar, se aferram os rostosaos rictus rotineiros.Devem as luzes continuar acesase a música tocando.As convenções se mancomunampara que a fortaleza conserve a aparência <strong>de</strong> um lar.Para que não vejamosem que lugar nos encontramos:numa assombrada florestacomo crianças assustadasem noites que não são boase muito menos felizes.Personagens importantesnos afirmam que o lixo<strong>de</strong> hordas militantesé menos rijo que somos;o que o louco Nijinsky disse<strong>de</strong> Diaghilev é a verda<strong>de</strong>sobre todo ser humano,169


Tradução <strong>de</strong> Benedicto Ferri <strong>de</strong> BarrosWhat mad Nijinsky wroteAbout DiaghilevIs true of the normal heart;For the error bred in the boneOf each woman and each manCraves what it cannot have,Not universal loveBut to be loved alone.From the conservative darkInto the ethical lifeThe <strong>de</strong>nse commuters come,Repeating their morning vow;‘I will be true to the wifeI’ll concentrate more on my work.And helpless governors wakeTo resume their conpulsory game:Who can release them now,Who can reach the <strong>de</strong>af,Who can speak for the dumb?Defenceless in the nightOur world in stupor lies;Yet, dotted everywhere,Ironic points of lightFlash out wherever the JustExchange their messages:May I, composed like themOf Eros and of dustBeleaguered by the sameNegation and <strong>de</strong>spair,Show an affirming flame.170


Poemas da língua inglesa – W. H. Au<strong>de</strong>npois o erro medular <strong>de</strong> cada homem e mulheraspira não a querer amor universalmas ao que não po<strong>de</strong> ter:<strong>de</strong> ser amado sozinho.Do lado conservadora onda dos comutantesinva<strong>de</strong> a vida moralcom sua prece matinal:“Serei fiel à esposaMe esforçarei no trabalho.”Os chefes atarantadospelas manhãs reassumemsua rotina habitual.Quem po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sonerá-los?quem po<strong>de</strong> falar aos surdos?e pelos mudos falar?Nosso mundo estuporadojaz in<strong>de</strong>feso na noite.Contudo, pontos <strong>de</strong> luzcintilam por toda a parteon<strong>de</strong> quer que haja um justoemitindo sua mensagem.Só <strong>de</strong> amor e poeiracomo eles feito,eu possa a eles juntar-mee sitiado por iguaisnegação e <strong>de</strong>sespero,só <strong>de</strong> amor e poeiracompor um raio <strong>de</strong> luz.171


Tradução <strong>de</strong> Benedicto Ferri <strong>de</strong> BarrosLaw like loveLaw, say the gar<strong>de</strong>ners, is the sun,Law is the oneAll gar<strong>de</strong>ners obeyTo-morrow, yesterday, to-day.Law is the wisdom of the oldThe impotent grandfathers feebly scold;The grandchildren put out a treble tongue,Law is the senses of the young.Law, says the priest with a priestly look,Expounding to an unpriestly peopleLaw is the words in my priestly book,Law is my pulpit and my steeple.Law, says the judge as he looks down his nose,Speaking clearly and most severely,Law is as I’ve told you before,Law is as you know I supposeLaw is but let me explain once more,Law is The Law.Yet law-abiding scholars write;Law is neither wrong nor right,Law is only crimesPunished by places and by times,Law is the clothes men wearAnytime, anywhere,Law is Good-morning and Good night.172


Poemas da língua inglesa – W. H. Au<strong>de</strong>nA lei como o amorA lei é o solO jardineiro dizA lei é eleQue os jardineiros todosHoje, amanhã, <strong>de</strong>pois, obe<strong>de</strong>cem.A lei é a sapiência obsoletaO impotente ralho esganiçado dos avós;Os netos peidorreiam com a língua:Os moços é que sabem qual a lei.A lei – o sacerdote pregaCom ar sacerdotal à plebe ímpia –A lei são as palavras <strong>de</strong> meu livroO que do púlpito prego à diocese.A lei, diz o juiz sobre o nariz olhandoFalando claramente e com firmeza:Como lhes disse, a lei,Como bem sabem, a lei, pois bem:Mais uma vez lhes digo –A lei é lei.Não obstante os mestres <strong>de</strong> direitoExplicam – a lei não é direitaNem errada: a lei são simplesmenteCrimes que tempos e lugares penalizam;A lei são hábitos vestidos pelos homensA toda a hora em diferentes climasBom-dia e boa-noite é lei.173


Tradução <strong>de</strong> Benedicto Ferri <strong>de</strong> BarrosOthers say, Law is our Fate;Others say, Law is our State;Others say, others sayLaw is no moreLaw has gone away.And always the loud angry crowdVery angry and very loud,Law is We,And always the soft idiot softly Me.If we, <strong>de</strong>ar, know we know no moreThan they about the law,If I no more than youKnow what we should and should not doExcept that all agreeGladly or miserablyThat the law isAnd that all know this,If therefore thinking it absurdTo i<strong>de</strong>ntify Law with some other word,Unlike so many menI cannot say Law is again,No more than they can we suppressThe universal wish to guessOr slip out of our own positionInto an unconcerned condition.Although I can at least confineYour vanity and mineTo stating timidly174


Poemas da língua inglesa – W. H. Au<strong>de</strong>nDizem terceiros: a Lei é nosso Fado;E outros: a Lei é o nosso Estado;Outros repetem, repetem:Não há mais lei.Ora! a lei...E a multidão ululanteVituperante vocifera“Somos a lei.”E o idiota reitera:“A lei sou eu.”Se bem sabemos nós, querida,Que mais que eles não sabemosSobre a lei, e eu não seiMais que você o que <strong>de</strong>vemosE o que não fazer – se nãoQue alegre ou miseravelmenteEstamos todos <strong>de</strong> acordoEm que há lei e todos sabem disso,Se nos parece absurdo assimilar a LeiA qualquer outra coisa,Diversamente <strong>de</strong> tantosSou incapaz <strong>de</strong> dizerQue a lei existe <strong>de</strong> novo;Não mais que eles po<strong>de</strong>mosDeter a paixão <strong>de</strong> adivinharOu escapar do que somosPara um não se preocupar.175


Tradução <strong>de</strong> Benedicto Ferri <strong>de</strong> BarrosA timid similarity,We shall boast anyway:Like love I say.Like love we don’t know where or why,Like love we can’t compel or fly,Like love we often weep,Like love we seldom keep.176


Poemas da língua inglesa – W. H. Au<strong>de</strong>nInobstante posso confinarSua vaida<strong>de</strong> e a minhaA tímida asserçãoDe posição similar:De sobre amor.Ignoramos também do amoron<strong>de</strong> e quando.Também do amor não po<strong>de</strong>mosobrigar ou fingir.Também do amorMuitas vezes choramosE muito pouco, também,Do amor guardamos...177


Tradução <strong>de</strong> Benedicto Ferri <strong>de</strong> BarrosIn memory of W. B. Yeats(Jan. 1939)IHe disappeared in the <strong>de</strong>ad of winter:The brooks were frozen, the airports almost <strong>de</strong>serted,An snow disfigured the public statues;The mercury sank in the mouse of the dying day.What instruments we have agreeThe day of his <strong>de</strong>ath was a dark cold day.Far from his illnessThe wolves ran on trough the evergreen forests,The peasant river was untempted by the fashionable quais;By mourning tonguesThe <strong>de</strong>ath of the poet was kept from his poems.But for him it was his last afternoon as himself,An afternoon of nurses and rumours;The provinces of his body revolted,The squares of his mind were empty,Silence involved the suburbs,The current of his feeling failed; he became his admirers.Now he is scattered among a hundred citiesAnd whole given over to unfamiliar affections,To find his happiness in another kind of woodAnd be punished un<strong>de</strong>r a foreign co<strong>de</strong> of conscience.The words of a <strong>de</strong>ad manAre modified in the guts of the living.178


Poemas da língua inglesa – W. H. Au<strong>de</strong>nÀ memória <strong>de</strong> W. B. Yeats(Jan. 1939)IEle se foi no vértice do inverno:quando os riachos estavam congeladosvazios quase os aeroportos;quando a neve <strong>de</strong>sfigurava estátuas públicase ao cair do dia o mercúrio <strong>de</strong>spencava.Os instrumentos todos acusaramque este dia foi sombrio e frio – muito frio.Alheios à sua doença, nas florestas ver<strong>de</strong>jantesos lobos prosseguiram em suas correrias;o rio campesino não se <strong>de</strong>teve nos cais ultramo<strong>de</strong>rnosnem os lamentos associaram a morte do poeta a seus poemas.Mas para ele foi esta a tar<strong>de</strong> <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>ira como Yeats,tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> enfermeiras e <strong>de</strong> sussurros.Revoltaram-se as províncias <strong>de</strong> seu corpoesvaziaram-se as praças <strong>de</strong> sua mentee o silêncio invadiu os seus subúrbios;interrompeu-se a torrente <strong>de</strong> seus sentimentosrestaram <strong>de</strong>le os admiradores.Agora ele disperso está entre centenas <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s,completamente entregue a inusitados sentimentosbuscando ser feliz em terra <strong>de</strong> outro tipoe ser punido por outro tipo <strong>de</strong> consciência.O que um morto disse assume outro sentido179


Tradução <strong>de</strong> Benedicto Ferri <strong>de</strong> BarrosBut in the importance of to-morrowWhen the brokers are roaring like beasts on the floor of theBourse,And the poor have the sufferings to which they are fairly accostumed,And each in the cell of himself is almost convinced of hisfreedom,A few thousand will think of this dayAs one thinks of a day when one did something slightly unusual.What instruments we have agreeThe day of his <strong>de</strong>ath was a dark cold day.You were silly like us; your gift survived it all:The parish of rich women, physical <strong>de</strong>cay,Yourself. Mad Ireland hurt you into poetry.Now Ireland has her madness and her weather still,For poetry makes nothing happen: it survivesIn the valley of its making were executivesWould never want to tamper, flows on southFrom ranches of isolation and the busy griefs,Raw towns that we believe and die in; it survives,A way of happening, a mouth.Earth, receive an honoured guest:William Yeats is laid to rest.Let the Irish vessel lieEmptied of its poetry.IIIII180


Poemas da língua inglesa – W. H. Au<strong>de</strong>nnas vísceras dos vivos.Mas no ruído importante do amanhã,quando na Bolsa os corretores como animais rugirem,e os pobres conservarem os sofrimentos a que se achamacomodados,e em sua concha cada um sentir-se quase livre,alguns, poucos milhares, relembrarão <strong>de</strong> hojecomo <strong>de</strong> um dia quando se fez alguma coisa inusitada.Concordam todos nossos instrumentosQue o dia <strong>de</strong> sua morte foi dia escuro e <strong>de</strong>masiado frio.Foste tolo como somos; teu dom porém sobreviveu a tudo:à paróquia das mulheres ricas, à <strong>de</strong>cadência física,a ti próprio. A Irlanda louca impeliu-te à poesiae continua louca e com seu louco clima, pois a poesianão <strong>de</strong>sfecha em nada; sobrevive apenas no seio do seu valeno qual executivos jamais se atreveriam,e <strong>de</strong>rivando <strong>de</strong> ranchos e pesares isolados, passa ao largodas pólis rústicas em que acreditamos e morremoscomo um jeito <strong>de</strong> acontecer, como uma voz.IIIIIRecebe, Terra, um hóspe<strong>de</strong> honorável:William Yeats repousa sobre ti.Fica a Irlanda sem sua poesia.181


Tradução <strong>de</strong> Benedicto Ferri <strong>de</strong> BarrosIn the nightmare of the darkAll the dogs of Europe bark,And the living nations wait,Each sequestered in its hate;Intellectual disgraceStares from every human face,And the seas of pity lieLocked and frozen in each eye.Follow poet, follow rightTo the bottom of the night,With your unconstraining voiceStill persua<strong>de</strong> us to reejoice;With a farming of a verseMake a vineyard of the curse,Sing of human unsuccessIn a rapture of distress;In the <strong>de</strong>serts of the heartLet the healing fountain start,In the prison of his daysTeach the free man how to praise.182


Poemas da língua inglesa – W. H. Au<strong>de</strong>nNa escuridão, todos os cães da Europalatem seu pesa<strong>de</strong>lo e as nações se encolhemno esconso <strong>de</strong> seus ódios.Em cada face estampa-se o pesar da inteligênciae oclusos, congelados, jazem nos olhosos mares da pieda<strong>de</strong>.I<strong>de</strong>, poeta, diretamente i<strong>de</strong> à escuridão da noitee continue sua voz a conclamarque nos rejubilemos.Da maldição fazei uma vindima ao cultivar um verso,cantai o insucesso humanonum arrebatamento <strong>de</strong> inconformida<strong>de</strong>.Fazei brotar no coração humano a fonte saneadorae ensina o homem livre a louvaro calabouço <strong>de</strong> seus dias.183


Tradução <strong>de</strong> Benedicto Ferri <strong>de</strong> BarrosLullabyLay your sleeping head, my love,Human on my faithless arm;Time and fevers burn awayIndividual beauty fromThoughtful children, and the graveProves the child ephemeral:But in my arms till break of dayLet the living creature lie,Mortal, guilty, but to meThe entirely beautiful.Soul and body have no bounds:To lovers as they lie uponHer tolerant enchanted slopeIn their ordinary swoon,Grave the vision Venus sendsOf supernatural sympathy,Universal love and hope:While an abstract insight wakesAmong the glaciers and the rocksThe hermit’s sensual ecstasy.Certainty, fi<strong>de</strong>lityOn the stroke of midnight passLike vibrations of a bellAnd fashionable madmen raiseTheir pedantic boring cry:Every farthing of the cost,All the drea<strong>de</strong>d cards foretell,184


Poemas da língua inglesa – W. H. Au<strong>de</strong>nAcalantoRepousa meu amor tua sonolenta cabeçasobre meu braço infiel:tempo e febres consomema beleza das crianças sonhadorase a tumba mostra que as criançassão efêmeras – contudo, até que surjao dia, repouse entre meus braçosa viva criatura, mortal e pecadora, sim,mas para mim eternamente bela.Não há limites entre corpo e alma:para os amantes que repousamda íngreme escalada em seu comum <strong>de</strong>smaio,Vênus conce<strong>de</strong> tolerante uma visão<strong>de</strong> esperança, <strong>de</strong> simpatia sobrenatural,<strong>de</strong> universal amor; enquanto entrerochedos e glaciaresuma abstrata intuição <strong>de</strong>spertaum êxtase sensual nos eremitasCerteza, fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>, soada a meia-noiteao murmurar do dia se dissipame os pomposos idiotas do momentorepetem sua pedante advertência:cada centavo do custo, como está ditonas cartas, há – <strong>de</strong> se pago – mas<strong>de</strong>sta noite um pensamento, um sussurro,um beijo e um olhar sequer sejam perdidos.185


Tradução <strong>de</strong> Benedicto Ferri <strong>de</strong> BarrosShall be paid, but from this nightNot a whisper, not a thought,Not a kiss nor look be lost.Beauty, midnight, vision dies:Let the winds of dawn that blowSoftly round your dreaming headSuch a day of sweetness showEye and knocking heart may bless,Find the mortal world enough;Noons of dryness see you fedBy the involuntary powers,Nights of insult let you passWatched by every human love.Epitaph on a tyrantPerfection, of a kind, was what he was afterAnd the poetry he invented was easy to un<strong>de</strong>rstand;He knew human folly like the back of his hand,And was greatly interested in armies and fleets;When he laughed, respectable senators burst with laughter,And when he cried the little children died in the streets.186


Poemas da língua inglesa – W. H. Au<strong>de</strong>nBeleza, meia-noite, visão, tudo perece:<strong>de</strong>ixa que as brisas matinaisque passam sobre tua cabeça sonhadorasuavemente te mostrem quão doce é este dia;que teu olhar e coração feridos reconheçamquanto é mortal o mundo – em <strong>de</strong>masia;que os meios-dias áridos te encontrempelos po<strong>de</strong>res telúricos nutridae sobre ti <strong>de</strong>ixa rolar os pesa<strong>de</strong>lossob a vigília <strong>de</strong> todo humano amor.Epitáfio para um tiranoEle buscava perfeição (<strong>de</strong> um certo tipo).A poesia que inventava era entendida fácil.Conhecia a loucura (dos homens) como as próprias mãos.Como ninguém, se interessava por exércitos e armadas.Quando sorria, respeitáveis senadores explodiam em gargalhadas.E quando ele chorava criancinhas morriam nas calçadas.187


Tradução <strong>de</strong> Benedicto Ferri <strong>de</strong> BarrosChorus(From The Dog Beneath the Skin)Happy the hare at morning, for she cannot readThe Hunter’s waking thoughts. Lucky the leafUnable to predict the fall. Lucky in<strong>de</strong>edThe rampant suffering suffocating jellyBurgeoning in pools, lapping the grits of the <strong>de</strong>sert,The elementary sensual cures,The hibernations and the growth of hair assuage:Or best of all the mineral stars disintegrating quietly intolightBut what shall man do, who can whistle tunes by heart,Know to the bar when <strong>de</strong>ath shall cut him short, like the cryof the shearwater?We will show you what he has done.How comely are his places of refuge and the tabernaclesof his peace,The new books upon the morning table, the lawns and theafternoon terraces!Here are the playing fields where he may forget hisignoranceTo operate within a gentleman’s agreement: twenty-twohave here a certain licence.Here are the thickets where accosted lovers combatantMay warm each other with their wicked hands,Here are the avenues for incantation and workshops for thecunning engravers.The galleries are full of music, the pianist is stormingthe keys,The great cellist is crucified over his instrument,That none may hear the ejaculations of the sentinelsNor the sigh of the most numerous and the most poor; the thud of their falling bodiesWho with their lives have banished hence the serpent and thefaceless insect.188


Poemas da língua inglesa – W. H. Au<strong>de</strong>nCoroFeliz a lebre incapaz <strong>de</strong> lerAs matutinas intenções do caçador.Feliz a folha que não pressente a queda.Feliz, feliz <strong>de</strong> fato, a sufocante, exuberanteGeléia esverdinhada jazente nas lagoasOs líquens que revestem as pedras no <strong>de</strong>serto,As curas sensuais, elementares,Os pêlos que hibernam para crescer <strong>de</strong>poisE – mais que tudo – as minerais estrelasSe <strong>de</strong>sfazendo quietamente em luz.Mas que fará o homem capaz <strong>de</strong> assobiar na solidão?Saber <strong>de</strong> cor – como se ouvira o grito <strong>de</strong> uma procelária –Quando virá sua morte o amputar?Repare o que ele fez:Quão elegantes seus nichos <strong>de</strong> refúgio, seus tabernáculos <strong>de</strong> paz,Os livros novos sobre a mesa matinalSeus gramados novos sobre a mesa matinalSeus gramados, suas varandas vesperais!Eis seus campos <strong>de</strong> esporte on<strong>de</strong> po<strong>de</strong> olvidarSua ignorância e com a conivência <strong>de</strong> seus paresDentro <strong>de</strong> regras cometer cem erros.Repare nos complacentes acolchoados on<strong>de</strong> <strong>de</strong>itadosOs amorosos combatentes com suas mãos perversas se acalentam.Veja as al<strong>de</strong>ias para o encantamentoE as oficinas on<strong>de</strong> se aplicam hábeis gravadores.Cheias <strong>de</strong> música estão as galerias,O pianista tempestua sobre as teclas,O virtuose está crucificado sobre o seu violonceloo seu violonceloPara que se não ouça bradar as sentinelasNem o suspiro da legião dos pobres,Nem o baque dos seus corpos quando tombam,Eles, que com sua vida permitiramSe mantivesse à distância a serpente e o verme inominável.189


Tradução <strong>de</strong> Benedicto Ferri <strong>de</strong> BarrosThe questAll had been or<strong>de</strong>red weeks before the startFrom the best firms at such work; instrumentsTo take the measure of all queer events,And drugs to move the bowels or the heart.A watch, of course, to watch impatience fly,Lamps for the dark and sha<strong>de</strong>s against the sun;Foreboding too insisted on a gunAnd colored beads to soothe a savage eye.In theory they sound on ExpectationHad there been situations to be in:Unluckily they were their situation:One should not give a poisoner medicine,A conjurer fine apparatus, norA rifle to a melancholic bore.190


Poemas da língua inglesa – W. H. Au<strong>de</strong>nO laudoSemanas antes da partidaAs encomendas tinham sido colocadasEntre as melhores firmas: os instrumentosNecessários à medida dos mais inusitadosFatos, medicamentos para acionarOs intestinos ou – fosse o caso – o coração.Um medidor para medir passar a impaciência;Para o escuro, lâmpadas, e sombras contra o sol;Contra a premonição levava-se um revólverE contas coloridas para aplacar olhos selvagens.Houvesse situações a enfrentar,Tudo, em teoria, achava-se previsto,Mas, <strong>de</strong>sgraçadamente, a si própriosNão previram:Que armas não se dão a assassinosEquipamentos a conjuradoresVeneno a hipocondríacos.191


Tradução <strong>de</strong> Benedicto Ferri <strong>de</strong> BarrosThe novelistEncased in talent like a uniform,The rank of every poet is well known;They can amaze us like a thun<strong>de</strong>rstorm,Or die so young, or live for years alone.They can dash forward like hussars: but heMust struggle out of his boyish gift and learnHow to be plain and awkward, how to beOne after whom none think it worth to turn.For, to achieve his lightest wish, he mustBecome the whole of boredom, subject toVulgar complaints like love, among the Just.Be just, among the Filthy filthy too,And in his own weak person, if he can,Must suffer dully all the wrongs of Man.192


Poemas da língua inglesa – W. H. Au<strong>de</strong>nO novelistaO fado do poeta constrangidoà farda do talento é conhecido:po<strong>de</strong> espantar-nos como um temporalou morrer moçoou muitos anos viver na solidão.São capazes <strong>de</strong> cargas como hussares;ele, porém, a partir <strong>de</strong> um dom pueril,é obrigado a lutar para apren<strong>de</strong>ra ser simples e estranho, alguémque ninguém julgue digno imitar.Pois para alcançar seu mínimo <strong>de</strong>sejoterá <strong>de</strong> mergulhar no tédio o mais profundo,<strong>de</strong> se infectar <strong>de</strong> coisas como o amor,ser justo entre os justos, imundoentre os imundos, e embora frágil,se possível provar todos os malescorrentes entre os homens.193


Dylan Thomas


Tradução <strong>de</strong> Benedicto Ferri <strong>de</strong> BarrosA refusal to mourn the <strong>de</strong>ath, by fire,of a child in LondonNever until the mankind makingBird beast, and flowerFathering and all humbling darknessTells, with silence the last light breakingAnd the still hour,Is come of the sea, tumbling in harnessAnd I must enter again the roundZion of the water beadAnd the synagogue of the ear of cornShall I let pray, the shadow of a soundOr sow my salt seedIn the least valley of sackcloth to mournThe majesty and burning of the child’s <strong>de</strong>ath.I shall not mur<strong>de</strong>rThe mankind of her going with a grave truthNor blaspheme down the stations of the breathWith any furtherElegy of innocence and youth.Deep with the first <strong>de</strong>ad lies London’s daughter,Robed in the long friends,The grains beyond age, the dark veins of her mother,Secret by the unmourning waterOf the riding Thames.After the first <strong>de</strong>ath, there is no other.196


Poemas da língua inglesa – Dylan ThomasRecusa <strong>de</strong> carpir a morte <strong>de</strong> uma criançapelo fogo em LondresNão antes que a geração <strong>de</strong> humanida<strong>de</strong>E a gestação <strong>de</strong> flores, aves e animaisE toda humil<strong>de</strong> escuridão com seu silêncio digaQue a <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>ira aparição da luz e a <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>ira horaDo mar vieram tropegando em seus jaezesE eu <strong>de</strong>verei me recolher <strong>de</strong> volta ao SiãoDa gota germinal do mar e à sinagoga do germe primordialEmitirei a sombra <strong>de</strong> um murmúrio ou plantareiO sal <strong>de</strong> uma semente minha no <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iro valeDe uma roupagem <strong>de</strong> burel, para carpirA majesta<strong>de</strong> da criança que morreu queimada.Não apunhalarei a humanida<strong>de</strong> com a verda<strong>de</strong> graveDe sua ida, nem aos limites <strong>de</strong> meu fôlego blasfemareiUma elegia a mais da inocência e juventu<strong>de</strong>.De seus velhos amigos amortalhada,No que foi, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da sua ida<strong>de</strong>,No secreto silêncio das águas rolantes do TâmisaQue não chora, com o primeiro morto jaz a menina <strong>de</strong> Londres:Depois que houve a primeira, não há segunda morte.Poemas da língua inglesa – Dylan Thomas197


Tradução <strong>de</strong> Benedicto Ferri <strong>de</strong> BarrosDo not go gentle into that good nightDo not go gentle into that good night,Old age should burn and rave at close of day;Rage, rage against the dying of the light.Though wise men at their end know dark is right,Because their words had forked no lightning theyDo not go gentle into that good night.Good men, the last wave by, crying how brightTheir frail <strong>de</strong>eds might have danced in a green bay,Rage, rage against the dying of the light.Wild men who caught and sang the sun in flight,And learn, too late, they grieved it on its way,Do not go gentle into that good night.Grave men, near <strong>de</strong>ath, who see with blinding sightBlind eyes could blaze like meteors and be gay,Rage, rage against the dying of the light.And you, my father, there on the sad height,Curse, bless, me now with your fierce tears, I pray.Do not go gentle into that good night.Rage, rage against the dying of the light.198


Poemas da língua inglesa – Dylan ThomasNão vos <strong>de</strong>ixeis levar a essa noite boa docilmenteNão vos <strong>de</strong>ixeis levar a essa noite boa docilmente.Devera a ida<strong>de</strong> <strong>de</strong>lirar e comburir-se ao se encerrar o dia.Irai-vos contra esse morrer das luzes.Conquanto saiba aos sábios boa no seu fim a escuridãoPor não se terem feito luzes suas palavras, nem assimSe vão por essa noite boa a<strong>de</strong>ntro docilmente.Homens bons, ao se escoar a <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>ira vaga,Bradando quanto seus pobres feitos não brilhariamNuma baía plácida, se iram contra esse morrer das luzes.Homens ferozes, que em seus vôos flecharam contra o solE o cantaram e só se <strong>de</strong>ram conta muito tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> o terem molestadoNão vão por essa noite boa a<strong>de</strong>ntro docilmente.Homens austeros, próximos da morte, que com suas vistas mortiçasFinalmente enxergam que olhos cegos po<strong>de</strong>riam também brilhar <strong>de</strong> alegriaClamam irados contra o cerrar das luzes.E vós, meu pai, que estais nesse soturno píncaro,Amaldiçoai, bendizei-me com vossas lágrimas ferozes.Eu vos imploro: não i<strong>de</strong> mansamente a noite boa a<strong>de</strong>ntro.Irai, clamai, contra o morrer das luzes.199

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