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Leitura e Produção de Texto - ftc ead

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LEITURA<br />

LEITURA<br />

PRODUÇÃO<br />

E PRODUÇÃO<br />

DE DE TEXTO<br />

TEXTO<br />

1


<strong>Leitura</strong> e<br />

<strong>Produção</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Texto</strong><br />

2<br />

SOMESB<br />

Socieda<strong>de</strong> Mantenedora <strong>de</strong> Educação Superior da Bahia S/C Ltda.<br />

Presi<strong>de</strong>nte ♦ Gervásio Meneses <strong>de</strong> Oliveira<br />

Vice-Presi<strong>de</strong>nte ♦ William Oliveira<br />

Superinten<strong>de</strong>nte Administrativo e Samuel Soares<br />

Financeiro ♦ Germano Tabacof<br />

Superinten<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Ensino, Pesquisa e<br />

Extensão ♦ Pedro Daltro Gusmão da Silva<br />

FTC - EaD<br />

Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Tecnologia e Ciências - Ensino a Distância<br />

Diretor Geral ♦<br />

Diretor Acadêmico ♦<br />

Diretor <strong>de</strong> Tecnologia ♦<br />

Gerente Acadêmico ♦<br />

Gerente <strong>de</strong> Ensino ♦<br />

Gerente <strong>de</strong> Suporte Tecnológico ♦<br />

Coord. <strong>de</strong> Softwares e Sistemas ♦<br />

Coord. <strong>de</strong> Telecomunicações e Hardware ♦<br />

Coord. <strong>de</strong> <strong>Produção</strong> <strong>de</strong> Material Didático ♦<br />

EQUIPE DE ELABORAÇÃO/PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO:<br />

♦ PRODUÇÃO ACADÊMICA ♦<br />

Gerente <strong>de</strong> Ensino ♦ Jane Freire<br />

Coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Curso ♦ Tatiana Lucena<br />

Autor (a) ♦ Luciana Moreno<br />

Supervisão ♦ Ana Paula Amorim<br />

♦ PRODUÇÃO TÉCNICA ♦<br />

Revisão Final ♦ Carlos Magno.<br />

Equipe ♦ Ana Carolina Alves, Cefas Gomes, Delmara Brito,<br />

E<strong>de</strong>rson Paixão, Fabio Gonçalves, Francisco França Júnior,<br />

Israel Dantas, Lucas do Vale e Marcus Bacelar<br />

Ilustração ♦ Francisco França Júnior<br />

Imagens ♦ Corbis/Image100/Imagemsource<br />

Wal<strong>de</strong>ck Ornelas<br />

Roberto Fre<strong>de</strong>rico Merhy<br />

Reinaldo <strong>de</strong> Oliveira Borba<br />

Ronaldo Costa<br />

Jane Freire<br />

Jean Carlo Nerone<br />

Romulo Augusto Merhy<br />

Osmane Chaves<br />

João Jacomel<br />

copyright © FTC EaD<br />

Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 <strong>de</strong> 19/02/98.<br />

É proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios, sem autorização prévia, por escrito,<br />

da FTC EaD - Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Tecnologia e Ciências - Ensino a Distância.<br />

www.<strong>ftc</strong>.br/<strong>ead</strong>


LEITURA<br />

LEITURA, ORALIDADE E ESCRITA<br />

A ESCRITA<br />

Sumário<br />

Sumário<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

<strong>Leitura</strong>: Novos Saberes, Novos Sabores<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

A Escrita: Importância e Peculiarida<strong>de</strong><br />

O que dizem (e fazem) os Gran<strong>de</strong>s Autores<br />

Oralida<strong>de</strong> e escrita: Diferentes mas não Dicotomicas<br />

Níveis <strong>de</strong> linguagem<br />

O <strong>Texto</strong> Escrito<br />

Criando Estilos<br />

TEXTO: TIPOS E GÊNEROS<br />

TECENDO PALAVRAS E SENTIDOS<br />

As Possibilida<strong>de</strong>s Textuais:<br />

<strong>Texto</strong> Literário e <strong>Texto</strong> Não-Literário<br />

O <strong>Texto</strong> e o <strong>Texto</strong> Não-Verbal<br />

O <strong>Texto</strong> e os Fatores <strong>de</strong> Contextualida<strong>de</strong><br />

Coesão e Coerência: A Construção <strong>de</strong><br />

Sentidos e seus Mecanismos<br />

Intertextualida<strong>de</strong><br />

Coesão e Coerência<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

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○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

TIPOS E GÊNEROS TEXTUAIS ○<br />

Conto: A poesia Inesperada do Cotidiano<br />

Crônica: Uma Fotografia do Cotidiano<br />

Ativida<strong>de</strong> Orientada<br />

Glossário<br />

Referências Bibliográficas<br />

07<br />

07<br />

07<br />

07<br />

07<br />

07<br />

15<br />

15<br />

15<br />

15<br />

16<br />

16<br />

18<br />

18<br />

21<br />

21<br />

23 23<br />

23<br />

25 25<br />

25<br />

28<br />

28<br />

28 28<br />

28<br />

30<br />

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34<br />

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35<br />

35<br />

38<br />

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41<br />

41<br />

43<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 43<br />

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47<br />

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34<br />

34<br />

57<br />

57<br />

60<br />

60<br />

61<br />

61<br />

3


<strong>Leitura</strong> e<br />

<strong>Produção</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Texto</strong><br />

4


Apresentação da disciplina<br />

Caro Aluno!<br />

Tenho um convite para fazer a você. Para isso, usarei as palavras do poeta<br />

mineiro Carlos Drummond <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, em “A Procura da Poesia”:<br />

Chega mais perto e contempla as palavras.<br />

Cada uma<br />

tem mil faces secretas sob a face neutra<br />

e te pergunta, sem interesse pela resposta,<br />

pobre ou terrível que lhe <strong>de</strong>res:<br />

Trouxeste a chave?<br />

Bem, o convite está feito. As palavras e os textos estarão por toda parte do<br />

caminho que iremos trilhar. Precisamos olhá-las, contemplá-las, amá-las. Elas são<br />

basilares para a nossa percepção do mundo, para o reconhecimento da história da o<br />

humanida<strong>de</strong> (que é a nossa própria história), para a valorização e a interação com<br />

outro. É também através <strong>de</strong>la que nos inserimos como sujeitos ativos, reflexivos e<br />

transformadores na socieda<strong>de</strong>.<br />

A palavra tem, sim, mil faces: ora nos faz perceber o outro, ora nos faz conhecer<br />

a nós mesmos; ora é arma, ora é bálsamo; ora nos leva a reflexão e <strong>de</strong>scoberta, ora<br />

nos leva ao prazer e ao <strong>de</strong>leite. Todavia, muitas vezes, nossa relação com a palavra<br />

é tímida, agressiva ou simplesmente limitada e nos impe<strong>de</strong> <strong>de</strong> tornar cotidiano o<br />

exercício <strong>de</strong> contemplação. Ou pior, não temos a chave, ou seja, <strong>de</strong>sconhecemos as<br />

múltiplas maneiras <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>rmos as palavras que estão no mundo para serem<br />

lidas, <strong>de</strong>scobertas e sabor<strong>ead</strong>as. Por conseguinte, também não sabemos usar as<br />

nossas próprias palavras, temos dificulda<strong>de</strong>s em produzir os nossos próprios<br />

discursos.<br />

Em suma, a inconsciência da importância da palavra em nossas vidas nos<br />

confina num mundo superficial, sem dores nem <strong>de</strong>lícias, sem conhecimento nem<br />

reconhecimento. A disciplina <strong>Leitura</strong> e <strong>Produção</strong> <strong>de</strong> <strong>Texto</strong> é mais que um convite a<br />

uma relação amorosa e utilitária (salve-se a contradição) com a palavra. Ela também<br />

é um momento ímpar para acharmos a chave e começarmos a abrir as portas que<br />

nos conduzem aos infinitos reinos da palavra, pois nos subsidia com informações<br />

relevantes para ampliarmos os nossos conhecimentos lingüísticos, nos a<strong>de</strong>ntrandonos<br />

no processo <strong>de</strong> constante formação como leitores e produtores <strong>de</strong> texto.<br />

O convite está feito. Permita-me, mais uma vez, trazer Drummond a nossa<br />

conversa: “penetra surdamente no reino” das palavras. E usufrua todos os po<strong>de</strong>res<br />

que a linguagem proporciona.<br />

Seja bem vindo!<br />

Profa. Luciana Moreno<br />

5


<strong>Leitura</strong> e<br />

<strong>Produção</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Texto</strong><br />

6


LEITURA<br />

LEITURA, ORALIDADE E ESCRITA<br />

<strong>Leitura</strong>: Novos Saberes, Novos Sabores<br />

Saber ler sempre foi confundido com a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reconhecer e <strong>de</strong>codificar o<br />

código escrito, todavia fazer isso é meramente <strong>de</strong>cifrar. Ler envolve mais saberes e, como<br />

diria Rolland Barthes, muito mais “sabores”.<br />

Apren<strong>de</strong>mos alguns modos <strong>de</strong> ler que já não mais condizem às necessida<strong>de</strong>s do<br />

mundo atual. Desta forma, cada leitor precisa ‘esquecer’ algumas técnicas <strong>de</strong> ler adotadas<br />

pelas instituições educacionais (que cada vez mais <strong>de</strong>monstram a sua ineficácia na formação<br />

<strong>de</strong> sujeitos leitores) e construir seus próprios modos <strong>de</strong> ler. Contudo, antes <strong>de</strong>ste processo<br />

<strong>de</strong> construção que se faz e se refaz (mas nunca se esgota), torna-se necessário o<br />

entendimento do que é leitura.<br />

A leitura possui muitos sentidos. Tomar um em <strong>de</strong>trimento dos outros é uma forma<br />

parcial e superficial <strong>de</strong> concebê-la. É impossível tomar um conceito sem prejuízo dos outros,<br />

pois estes se complementam. O leitor é o responsável pelo controle <strong>de</strong>ste processo, que<br />

compreen<strong>de</strong> algumas etapas; aí vão elas: a obtenção da informação; o uso consciente ou<br />

inconsciente <strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong> compreensão leitora; a avaliação da informação obtida e a<br />

produção <strong>de</strong> um juízo <strong>de</strong> valor sobre o lido.<br />

Define-se leitura como atribuição <strong>de</strong> sentido à escrita, ou seja, quando<br />

lemos, estamos não só fazendo a versão oral do escrito, mas,<br />

sobretudo, construindo sentido a partir do escrito,<br />

questionando-o e explorando o que está nele e além <strong>de</strong>le.<br />

O ato <strong>de</strong> ler é um processo não linear, pois o significado do<br />

texto não está na soma das sucessivas palavras que o<br />

compõem, por isso, o uso do dicionário para <strong>de</strong>cifrar todas<br />

as palavras <strong>de</strong>sconhecidas é muitas vezes irrelevante. Até<br />

porque, sem precisar consultá-lo, o leitor está sempre<br />

inferindo, criando hipóteses...adivinhando sentidos.<br />

Então Então Então, Então Então , on<strong>de</strong> on<strong>de</strong> estará estará o o sentido?<br />

sentido?<br />

Ousar e brincar, produzindo sucessivas adivinhações é uma ótima maneira <strong>de</strong> obter<br />

o acerto. O leitor, a todo momento, antecipa índices, a partir do que já conhece e faz<br />

associações com aquilo que <strong>de</strong>sconhece, atribuindo os significados possíveis ao ‘ex-ótico’,<br />

isto é, achando significação para tudo que até o momento encontrava-se fora (ex) do seu<br />

campo <strong>de</strong> visão (ótico). Ler é tratar com os olhos a linguagem feita para os olhos, afirma<br />

Foucambert (1994), ou seja, a leitura da linguagem escrita exige o uso constante da memória<br />

visual.<br />

Neste emaranhado <strong>de</strong> <strong>de</strong>finições, ou melhor, nesta trama (termo mais propício quando<br />

se trata <strong>de</strong> texto), confun<strong>de</strong>-se a oralização e a leitura em voz alta com leitura propriamente<br />

7


<strong>Leitura</strong> e<br />

<strong>Produção</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Texto</strong><br />

8<br />

dita. A primeira refere-se ao reconhecimento dos símbolos do código escrito<br />

e posterior construção <strong>de</strong>le, oralmente, a segunda é “a opção <strong>de</strong> traduzir<br />

oralmente o que já foi compreendido na leitura”(Foucambert, 1994).<br />

Finalmente, a leitura é atribuição <strong>de</strong> sentido ao texto escrito,<br />

usando as informações visuais e as informações prévias do leitor;<br />

envolve um leitor ativo que processa e examina o texto, guiado por um<br />

objetivo. Vale ressaltar que a interpretação do texto variará <strong>de</strong> acordo<br />

com o objetivo do leitor. O sentido do texto não é uma tradução do<br />

leitor ao sentido que o autor quis dar a ele, portanto torna-se <strong>de</strong>scabida<br />

a pergunta: ‘o que o autor quis dizer?’, tão recorrente nos exercícios<br />

escolares <strong>de</strong> interpretação, pois a aventura da construção do sentido<br />

do texto <strong>de</strong>senvolvido pelo leitor envolve o texto per si, os conhecimentos<br />

prévios do leitor e seus objetivos.<br />

‘Esse negócio <strong>de</strong> criança ler por conta própria é muito recente na história do mundo,<br />

afirma Ziraldo (2001).Sabemos que a formação do leitor <strong>de</strong> forma voluntária é um fenômeno<br />

recente em nossa socieda<strong>de</strong>, as crianças se tornam leitoras <strong>de</strong>vido ao estímulo dos pais,<br />

professores, curiosida<strong>de</strong> ou vocação. Desta forma, se nós professores não formos leitores<br />

vorazes como po<strong>de</strong>mos estimular a criança a buscar o prazer através da leitura?<br />

O O O que que dizem dizem os os teóricos?<br />

teóricos?<br />

Para Negamine (2001),<br />

o ato <strong>de</strong> ler é um processo abrangente e complexo; é um processo <strong>de</strong> compreensão,<br />

<strong>de</strong> intelecção <strong>de</strong> mundo que envolve uma característica essencial e singular ao homem: a<br />

sua capacida<strong>de</strong> simbólica e <strong>de</strong> interação com o outro pela mediação da palavra.<br />

Para Paulo Freire (1981),<br />

o ato <strong>de</strong> ler não se esgota na <strong>de</strong>codificação pura da palavra escrita ou da linguagem<br />

escrita, mas se antecipa e se alonga na inteligência do mundo. A leitura do mundo prece<strong>de</strong><br />

a leitura da palavra, daí que a posterior leitura <strong>de</strong>sta não possa prescindir da continuida<strong>de</strong><br />

da leitura daquele.<br />

Para Marisa Lajolo (2001),<br />

Ninguém nasce sabendo ler: apren<strong>de</strong>-se a ler à medida que se vive. Se ler livros<br />

geralmente se apren<strong>de</strong> nos bancos da escola, outras leituras se apren<strong>de</strong>m por aí, na<br />

chamada escola da vida...<br />

Para Isabel Sole (1998),<br />

a leitura é um processo <strong>de</strong> interação entre o leitor e o texto; neste processo tenta-se<br />

satisfazer [obter uma informação pertinente para] os objetivos que guiam sua leitura.


Para refletir...<br />

Doze maneiras simples <strong>de</strong> tornar difícil a aprendizagem<br />

da leitura:<br />

1.Estabeleça como meta o domínio precoce das regras <strong>de</strong> leitura;<br />

2.<br />

2.<br />

3.<br />

3.<br />

2.Cui<strong>de</strong> bem para que a fonética seja aprendida e utilizada;<br />

3.Ensine as letras ou as palavras, uma a uma, certificando-se <strong>de</strong> que cada letra ou palavra<br />

foi assimilada antes <strong>de</strong> passar para a seguinte;<br />

4.<br />

4.<br />

5.<br />

5.<br />

6.<br />

6.<br />

4.Defina como objetivo principal uma leitura palavra por palavra perfeita;<br />

5.Não <strong>de</strong>ixe as crianças adivinharem; pelo contrário, exija que elas leiam com atenção;<br />

6.Procure evitar <strong>de</strong> todas as maneiras que as crianças errem;<br />

7.Dê um feed-back imediato;<br />

8.<br />

8.<br />

9.<br />

9.<br />

10. 0.<br />

8.Detecte e corrija os movimentos incorretos dos olhos;<br />

9.I<strong>de</strong>ntifique os eventuais disléxicos e trate-os mais cedo possível;<br />

0.Esforce-se para que as crianças aprendam a importância da leitura e a gravida<strong>de</strong><br />

do fracasso;<br />

11.Aproveite as aulas <strong>de</strong> leitura para melhorar a ortografia e a expressão escrita; insista<br />

também em que os alunos falem a melhor língua possível;<br />

12. 2.<br />

2.Se o método utilizado não lhe satisfizer, tente outro. Esteja sempre alerta para achar<br />

material novo e técnicas novas.<br />

(Artigo publicado em L’Education, 22 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1980. In: FOUCAMBERT, Jean. A leitura em<br />

questão. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994).<br />

Esse texto dirige-se ao professor; todavia, bem que po<strong>de</strong>ria se referir à forma com<br />

que nós apren<strong>de</strong>mos a ler na escola. Faça uma breve ‘viagem’ pela sua história <strong>de</strong> leitura,<br />

respon<strong>de</strong>ndo o questionário abaixo e tentando relacioná-lo com o texto Doze maneiras<br />

simples <strong>de</strong> tornar difícil a aprendizagem da leitura. Depois, socialize com seus colegas e<br />

professor as diversas respostas e construam a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> vocês para a leitura.<br />

9


<strong>Leitura</strong> e<br />

<strong>Produção</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Texto</strong><br />

10<br />

O que é ler para você??<br />

Em sua casa havia livros, revistas e jornais?<br />

______________________________________________________________________<br />

Havia alguém em sua casa que o (a) estimulava a ler? Quem era essa<br />

pessoa? Antes <strong>de</strong> entrar na escola, já tinha familiarida<strong>de</strong> com o mundo da<br />

leitura?<br />

______________________________________________________________________<br />

Você consi<strong>de</strong>ra que suas experiências <strong>de</strong> leitura foram enriquecidas e estimuladas pela<br />

escola? Fale sobre isso.<br />

______________________________________________________________________<br />

Como eram as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> leitura <strong>de</strong>senvolvidas pela escola?<br />

_______________________________________________________________<br />

Quais os livros lidos por você durante seu período escolar?<br />

____________________________________________________________<br />

Havia biblioteca na sua escola? Ela era freqüentada por você? Quais das ações<br />

<strong>de</strong>senvolvidas pelo professor aconteciam no espaço biblioteca?<br />

______________________________________________________________________<br />

Você participa <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s culturais, tais como teatro, cinema, concertos, festivais<br />

<strong>de</strong> música, <strong>de</strong> dança, exposições? Quais e com que freqüência?<br />

______________________________________________________________________<br />

Você costuma comprar jornais, revistas, livros?<br />

_______________________________________________________________________<br />

Você tem o hábito <strong>de</strong> tomar livros emprestados? De quem?<br />

______________________________________________________________________<br />

Você costuma compartilhar suas leituras com alguém? Exatamente com quem?<br />

______________________________________________________________________<br />

Você costuma freqüentar bibliotecas? Qual (is) e com que freqüência?<br />

______________________________________________________________________<br />

O que é um clássico para você? Você já leu algum? Qual/quais?<br />

______________________________________________________________________<br />

Nesse momento, você está lendo o quê?<br />

_______________________________________________________________________<br />

Qual o livro que você indicaria para :<br />

Seus amigos:___________________________________________________________<br />

Seus professores:_______________________________________________________<br />

Seus pais:_____________________________________________________________<br />

Seus alunos:_____________________________________________________________<br />

Seus filhos:_____________________________________________________________<br />

Seu (sua) companheiro (a):_________________________________________________<br />

Um estrangeiro:_________________________________________________________<br />

Saiba mais...<br />

O leitor traça planos, estratégias para obter, avaliar e utilizar<br />

informação e, assim, construir significados, compreen<strong>de</strong>r o texto<br />

lido. As estratégias <strong>de</strong> leitura se constroem e se modificam, pois<br />

o leitor <strong>de</strong>senvolve seus modos <strong>de</strong> ler através da leitura. Nós


utilizamos as estratégias abaixo ao mesmo tempo e, muitas<br />

vezes, inconscientemente.<br />

São quatro as estratégias <strong>de</strong> leitura.<br />

a)Seleção: o leitor elege os índices mais relevantes e úteis<br />

para não ficar sobrecarregado <strong>de</strong> informações <strong>de</strong>snecessárias;<br />

b)Antecipação: capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> antecipar o texto com base<br />

nas pistas do mesmo;o leitor prevê o que ainda não apareceu a<br />

partir <strong>de</strong> índices como gênero do texto, autor, título, contexto<br />

<strong>de</strong> produção. Por exemplo, o leitor, ao <strong>de</strong>parar-se com um texto<br />

<strong>de</strong> Esopo, certamente antecipará que se trata <strong>de</strong> uma fábula,<br />

há animais como personagens e uma moral ao término da<br />

história.<br />

c)Inferência: percepção do que não está dito no texto <strong>de</strong><br />

forma explícita, ou seja, <strong>de</strong>duções que po<strong>de</strong>m ser confirmadas<br />

ou não no <strong>de</strong>correr do texto. O leitor tenta adivinhar as<br />

informações das ‘entrelinhas’.Tais predições não são casuais;<br />

elas se baseiam nas pistas dadas pelo próprio texto, pelo<br />

conhecimento conceitual e lingüístico do leitor.<br />

d)Verificação: o leitor é o responsável pelo controle <strong>de</strong><br />

sua própria leitura; é ele que po<strong>de</strong> confirmar se foi capaz <strong>de</strong><br />

compreen<strong>de</strong>r o texto, <strong>de</strong> construir sentido a partir <strong>de</strong>le, por<br />

isso faz a análise da compreensão, permitindo confirmar ou<br />

rejeitar as <strong>de</strong>duções realizadas durante a estratégia <strong>de</strong><br />

inferência, por exemplo.<br />

Brincar <strong>de</strong> Ler...<br />

No texto abaixo, diversas palavras foram<br />

subtraídas. Faça a leitura do texto vazado e recoloque<br />

os vocabulos que você acha que foram retirados.<br />

Existem várias possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> colocação <strong>de</strong> palavra.<br />

Só não é permitido alterar o sentido do texto!<br />

As * pulgas<br />

Muitas * caíram e caem na armadilha das * drásticas <strong>de</strong> coisas que não precisam<br />

<strong>de</strong> alteração, apenas <strong>de</strong> * . O que lembra a história <strong>de</strong> * pulgas.<br />

Duas pulgas estavam conversando e então uma comentou com a outra:<br />

- Sabe qual é o nosso problema? Nós não voamos, só sabemos *. Daí nossa * <strong>de</strong><br />

sobrevivência quando somos percebidas pelo cachorro é *. É por isso que existem muito<br />

mais moscas do que *.<br />

E elas contrataram uma * como consultora, entraram num programa <strong>de</strong> reengenharia<br />

<strong>de</strong> vôo e saíram voando. Passado algum tempo, a primeira pulga falou para a outra:<br />

11


<strong>Leitura</strong> e<br />

<strong>Produção</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Texto</strong><br />

12<br />

- Quer saber? Voar não é o suficiente, porque ficamos grudadas ao *<br />

do cachorro e nosso tempo <strong>de</strong> reação é bem menor do que a velocida<strong>de</strong> da<br />

* <strong>de</strong>le. Temos <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r a fazer como as * , que sugam o néctar e levantam<br />

vôo rapidamente.<br />

E elas contrataram o serviço <strong>de</strong> consultoria <strong>de</strong> uma abelha, que lhes<br />

ensinou a técnica do chega-suga-voa. Funcionou, mas não resolveu. A<br />

primeira pulga explicou o porquê:<br />

- Nossa bolsa para armazenar * é pequena, por isso temos <strong>de</strong> ficar<br />

muito tempo sugando. Escapar, a gente até escapa, mas não estamos nos * direito. Temos<br />

<strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r como os * fazem para se alimentar com aquela rapi<strong>de</strong>z.<br />

E um pernilongo lhes prestou uma * para incrementar o tamanho do abdômen.<br />

Resolvido, mas por poucos minutos. Como tinham ficado *, a aproximação <strong>de</strong>las era<br />

facilmente percebida pelo cachorro, e elas eram espantadas antes mesmo <strong>de</strong> pousar. Foi<br />

aí que encontraram uma saltitante *:<br />

- Ué, vocês estão *! Fizeram plástica?<br />

- Não, reengenharia. Agora somos pulgas adaptadas aos <strong>de</strong>safios do **. Voamos,<br />

picamos e po<strong>de</strong>mos armazenar mais alimentos.<br />

- E por que estão com cara <strong>de</strong> *?<br />

- Isto é temporário. Já estamos fazendo consultoria com um *, que vai nos ensinar<br />

a técnica <strong>de</strong> radar. E você?<br />

- Ah, eu vou bem, obrigada. Forte e sadia.<br />

Era verda<strong>de</strong>. A pulguinha estava viçosa e bem alimentada. Mas as pulgonas não<br />

quiseram dar a pata a torcer.<br />

- Mas você não está preocupada com o *? Não pensou em reengenharia?<br />

- Quem disse que não? Contratei uma * como consultora.<br />

- O que as lesmas têm a ver com pulgas?<br />

- Tudo. Eu tinha o mesmo problema que vocês duas. Mas, em vez <strong>de</strong> dizer para a<br />

lesma o que eu queria, <strong>de</strong>ixei que ela * a situação e me sugerisse a melhor *. E ela<br />

passou três dia ali, quietinha, só observando o * e então ela me <strong>de</strong>u *.<br />

- E o que a lesma sugeriu fazer?<br />

- “Não mu<strong>de</strong> nada. Apenas sente no * do cachorro. É o único lugar que a * <strong>de</strong>le não<br />

alcança”.<br />

MORAL: Você não precisa <strong>de</strong> uma reengenharia radical para ser mais eficiente.<br />

Muitas vezes a gran<strong>de</strong> * é uma simples questão <strong>de</strong> *.<br />

<strong>Texto</strong> atribuído a Max Gehringer<br />

Antes <strong>de</strong> ler o texto abaixo, tente <strong>de</strong>scobrir, através das dicas fornecidas, o tema a<br />

ser abordado no texto. Anote as<br />

<strong>de</strong>duções e hipóteses construídas por você. A cada informação nova, você rejeitará<br />

algumas ‘adivinhações’ e confirmará outras.<br />

DICA A: é um texto extraído do livro ‘Companheira <strong>de</strong> Viagem’.<br />

DICA B: o título do texto é ‘A Última Crônica’.<br />

DICA C: o gênero do texto é crônica.<br />

DICA D: o texto fala sobre a inquietação que o processo <strong>de</strong> escrita provoca no escritor.<br />

DICA E: no texto aparecem três personagens compondo uma família.<br />

DICA F: o autor do texto é Fernando Sabino.<br />

Leia o texto com atenção e veja se suas predições e inferências foram acertadas.


A Última Crônica<br />

Fernando Sabino<br />

A caminho <strong>de</strong> casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao<br />

balcão. Na realida<strong>de</strong> estou adiando o momento <strong>de</strong> escrever.<br />

A perspectiva me assusta. Gostaria <strong>de</strong> estar inspirado, <strong>de</strong> coroar com êxito mais<br />

um ano esta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano <strong>de</strong> cada um. Eu pretendia<br />

apenas escolher da vida diária algo <strong>de</strong> seu disperso conteúdo humano, fruto da<br />

convivência, que a faz mais digna <strong>de</strong> ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico.<br />

Nesta perseguição do aci<strong>de</strong>ntal, quer num flagrante <strong>de</strong> esquina, quer nas palavras <strong>de</strong><br />

uma criança ou num aci<strong>de</strong>nte doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção<br />

do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o<br />

verso do poeta se repete na lembrança: “assim eu quereria o meu último poema”. Não<br />

sou poeta e estou sem assunto. Lanço, então, um último olhar fora <strong>de</strong> mim, on<strong>de</strong> vivem<br />

os assuntos que merecem uma crônica.<br />

Ao fundo do botequim, um casal <strong>de</strong> pretos acaba <strong>de</strong> sentar-se numa das últimas<br />

mesas <strong>de</strong> mármore ao longo da pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> espelhos. À compostura da humilda<strong>de</strong>, na<br />

contenção <strong>de</strong> gestos e palavras, <strong>de</strong>ixa-se acrescentar pela presença <strong>de</strong> uma negrinha <strong>de</strong><br />

seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também<br />

à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong> curiosida<strong>de</strong><br />

ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da<br />

família, célula da socieda<strong>de</strong>. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a<br />

fome.<br />

Passo a observá-los. O pai, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> contar o dinheiro que discretamente retirou<br />

do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na ca<strong>de</strong>ira, e aponta no balcão um<br />

pedaço <strong>de</strong> bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa,<br />

como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem<br />

e <strong>de</strong>pois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurarse<br />

da naturalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a or<strong>de</strong>m do<br />

freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho<br />

- um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular.<br />

A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa <strong>de</strong> Coca-Cola e o pratinho<br />

que o garçom <strong>de</strong>ixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai,<br />

mãe e filha, obe<strong>de</strong>cem em torno à mesa um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa <strong>de</strong><br />

plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune <strong>de</strong> uma caixa <strong>de</strong> fósforos,<br />

e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa<br />

além <strong>de</strong> mim.<br />

São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na<br />

fatia do bolo. E enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acen<strong>de</strong> as velas.<br />

Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com<br />

força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada,<br />

cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: “parabéns pra você, parabéns<br />

pra você...” Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra<br />

finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando<br />

para ela com ternura, ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo <strong>de</strong> bolo que lhe<br />

cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente<br />

do sucesso da celebração. Dá comigo <strong>de</strong> súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram,<br />

ele se perturba, constrangido - vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando<br />

o olhar e, enfim, se abre num sorriso.<br />

Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.<br />

13


<strong>Leitura</strong> e<br />

<strong>Produção</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Texto</strong><br />

14<br />

SABINO, Fernando. A Última Crônica. In: ______. A companheira <strong>de</strong><br />

viagem.<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro: Do Autor, 1965. p. 174.<br />

Indicações <strong>de</strong> leitura...<br />

Depois <strong>de</strong> tantas informações sobre leitura, um bom caminho para<br />

verificar se tudo o que foi dito e discutido po<strong>de</strong> ser ‘sabor<strong>ead</strong>o’ é passar<br />

para a prática. Que tal ter acesso, através da leitura, a uma palestra sobre<br />

o a importância do ato <strong>de</strong> ler no Congresso Brasileiro <strong>de</strong> <strong>Leitura</strong> (evento<br />

que até hoje acontece a cada biênio na UNICAMP), ministrada nada mais<br />

nada menos por Paulo Freire, nosso ‘educador universal’?<br />

FREIRE, Paulo. A importância do ato <strong>de</strong> ler: em três artigos que se completam. 39.ed.<br />

– São Paulo, Cortez, 2000.<br />

A arte, <strong>de</strong>ntre elas, a literatura, acessível a tão poucos po<strong>de</strong> mudar a forma das<br />

pessoas lerem o mundo.<br />

Ficha Técnica:<br />

Elenco Principal: José Dumont, Rodrigo Santoro, Rita Assemany e Ravi Ramos Lacerda<br />

Direção: Walter Salles<br />

<strong>Produção</strong>: Arthur Cohn<br />

Brasil - Suíça - França 2001 1h39m Dolby SR/DTS e SRD<br />

Uma co-produção Vi<strong>de</strong>oFilmes, Haut et Court, Bac Films e Dan Valley Film AG.<br />

Abril Despedaçado é livremente inspirado no livro homônimo do escritor albanês Ismail<br />

Kadaré.<br />

Abril 1910 - Na geografia <strong>de</strong>sértica do sertão brasileiro, uma camisa<br />

manchada <strong>de</strong> sangue balança com o vento. Tonho, filho do meio da<br />

família Breves, é impelido pelo pai a vingar a morte do seu irmão<br />

mais velho, vítima <strong>de</strong> uma luta ancestral entre famílias pela posse<br />

da terra. Se cumprir sua missão, Tonho sabe que sua vida ficará<br />

partida em dois : os 20 anos que ele já viveu, e o pouco tempo que<br />

lhe restará para viver. Ele será então perseguido por um membro<br />

da família rival, como dita o código <strong>de</strong> vingança da região.<br />

Angustiado pela perspectiva da morte e instigado pelo seu irmão<br />

menor, Pacu, Tonho começa a questionar a lógica da violência e<br />

da tradição. É quando dois artistas <strong>de</strong> um pequeno circo itinerante<br />

cruzam o seu caminho...<br />

<br />

[ ]<br />

Para saber mais acesse:<br />

www.abril<strong>de</strong>spedacado.com.br/


A ESCRITA<br />

A Escrita: : Importância e Peculiarida<strong>de</strong>s<br />

Duas concepções <strong>de</strong>vem estar claras na<br />

cabeça <strong>de</strong> quem almeja ampliar os conhecimentos<br />

lingüísticos: a) a linguagem se apren<strong>de</strong> pelo uso; b)<br />

existem vários usos <strong>de</strong> linguagem. O<br />

aperfeiçoamento dos usos <strong>de</strong> linguagem provoca<br />

o aperfeiçoamento do indivíduo, todavia, este ato<br />

<strong>de</strong> aprimorar-se lingüisticamente não se refere<br />

ao mero (e limitado) conhecimento da língua<br />

padrão nem apenas ao conhecimento satisfatório<br />

da linguagem oral, pois estas são algumas das<br />

múltiplas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> uso da língua. É<br />

também <strong>de</strong> enorme importância o conhecimento e domínio da modalida<strong>de</strong><br />

escrita da língua.<br />

Escrever não é possível somente para os gran<strong>de</strong>s autores; ‘é uma ativida<strong>de</strong> social<br />

indispensável (Câmara Jr. 1972) para qualquer pessoa. Alguns concebem que a escrita é<br />

inerente a uns enquanto não é a outros, pois aqueles têm facilida<strong>de</strong>s em redigir um texto.<br />

Não é isto que ocorre <strong>de</strong> fato. Na verda<strong>de</strong>, apenas alguns se tornam gran<strong>de</strong>s romancistas<br />

ou escritores reconhecidos. Todavia, todos po<strong>de</strong>m se comunicar <strong>de</strong> forma coerente e eficaz,<br />

usando a escrita. Inicialmente, é preciso saber que não há mo<strong>de</strong>lo único para a redação,<br />

não há sequer estrutura rígida. ‘Há apenas uma falta <strong>de</strong> preparação inicial que a prática e o<br />

esforço vencem’ (Câmara Jr. 1972).<br />

A fala é a primeira forma <strong>de</strong> expressão lingüística, todavia, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fixá-la,<br />

<strong>de</strong> levá-la para outros contextos, fomentou a busca pela possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma representação<br />

da mesma. Daí nasce a modalida<strong>de</strong> escrita da língua. A técnica da escrita consiste<br />

simplesmente em usar sinais gráficos (que apren<strong>de</strong>mos por mera convenção por serem<br />

tais sinais arbitrários) para simbolizar os signos da língua falada. Entretanto, diante das<br />

múltiplas possibilida<strong>de</strong>s oferecidas pela fala e pela inviabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> construir um sinal gráfico<br />

para cada signo, a escrita é apenas uma tentativa <strong>de</strong> representação da fala, por ser um<br />

suporte utilizado como recurso para não sobrecarregar a memória.<br />

A comunicação oral é limitada quanto às distâncias e à fixação (mesmo que temporária<br />

da mensagem), enquanto a comunicação escrita multiplica a mensagem, pois muitos po<strong>de</strong>m<br />

lê-la ao mesmo tempo e não precisam estar próximos ao emissor. Em contrapartida, a<br />

escrita é uma técnica simples e barata, amplia os horizontes, aumenta as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

comunicação, fixa a mensagem, aumenta a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> envio da mensagem em relação<br />

a distância e número <strong>de</strong> receptores, exige do homem aprendizado, pois não é espontânea<br />

nem natural como a fala, conferindo certo grau <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r a quem sabe utilizá-la.<br />

Desta forma, como diz Gnerre (1987), <strong>de</strong>vemos ‘ser poliglotas <strong>de</strong> uma mesma língua’.<br />

Essa aparente contradição nos diz uma verda<strong>de</strong> incomensurável. Não nos bastar saber<br />

apenas uma modalida<strong>de</strong> da língua ou somente a norma culta. Como existem diversos<br />

contextos sociais, e para cada contexto exige-se um uso <strong>de</strong> linguagem, se quisermos transitar<br />

em tais universos <strong>de</strong>vemos também usar <strong>de</strong> forma competente a modalida<strong>de</strong> falada e escrita<br />

15


<strong>Leitura</strong> e<br />

<strong>Produção</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Texto</strong><br />

“Quando escrevo para mim mesmo, costumo ficar corrigindo dias<br />

e dias”.<br />

Paulo Men<strong>de</strong>s Campos<br />

16<br />

da língua. Mais do que isso, <strong>de</strong>vemos saber usar a linguagem a<strong>de</strong>quada tanto<br />

ao contexto sócio-comunicativo acadêmico, quanto ao bar, ao funeral, à festa<br />

<strong>de</strong> carnaval.<br />

O que dizem (e fazem) os Gran<strong>de</strong>s Autores<br />

“Para mim, o ato <strong>de</strong> escrever é muito difícil e penoso, tenho sempre <strong>de</strong><br />

corrigir e reescrever várias vezes”.<br />

Fernando Sabino<br />

Agora, leia os textos dos autores acima citados e veja se valeu a pena o esforço!


<strong>Leitura</strong> e<br />

<strong>Produção</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Texto</strong><br />

18<br />

Oralida<strong>de</strong> e Escrita: Diferentes,<br />

mas não Dicotomicas<br />

Falamos uma língua e escrevemos outra, pois apesar da escrita ser<br />

posterior a fala e uma tentativa <strong>de</strong> representação da mesma, ela é mais<br />

conservadora. Po<strong>de</strong>-se afirmar que fala e escrita são diferentes, cada uma<br />

possui as suas peculiarida<strong>de</strong>s. Isto não quer dizer, entretanto, que tais<br />

modalida<strong>de</strong>s da língua se oponham. Pelo contrário, elas se complementam.


A língua não é uma uniformida<strong>de</strong>; ela é uma unida<strong>de</strong> composta pela diversida<strong>de</strong>, isto<br />

é, pela varieda<strong>de</strong> lingüística. Tais varieda<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong> três tipos:<br />

a) diatópicas; b) diafásicas; c) diastráticas 1 .<br />

Dentre este corpus, temos a norma culta, também chamada <strong>de</strong> língua padrão. É<br />

consi<strong>de</strong>rada geralmente como a única varieda<strong>de</strong> correta da língua e associada tipicamente<br />

aos conteúdos <strong>de</strong> prestígio. Segundo Maurizio Gnerre (1987), “uma varieda<strong>de</strong> vale o que<br />

valem na socieda<strong>de</strong> seus falantes”. Leia-se, as varieda<strong>de</strong>s que correspon<strong>de</strong>m à língua nãopadrão<br />

são usadas por pessoas <strong>de</strong> baixa renda, <strong>de</strong> pouca ou nenhuma escolarização, <strong>de</strong><br />

meios rurais, <strong>de</strong> regiões distantes dos gran<strong>de</strong>s centros econômicos.<br />

Desta forma, tais varieda<strong>de</strong>s ten<strong>de</strong>m a ser sempre consi<strong>de</strong>radas inferiores a uma<br />

outra <strong>de</strong> maior prestígio, ou pior, é muito comum serem consi<strong>de</strong>radas erradas. Entretanto, a<br />

noção <strong>de</strong> erro está atrelada sempre a uma impossibilida<strong>de</strong> quanto ao uso <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada<br />

coisa. Se a língua não-padrão é usada por tanta gente e comunica com coerência e eficiência<br />

aos grupos que a utilizam e aos <strong>de</strong>mais grupos, a noção <strong>de</strong> erro torna-se ina<strong>de</strong>quada quando<br />

a ela se refere.<br />

O termo língua é comumente associado à escrita, todavia um não é sinônimo do<br />

outro. Tal confusão é fruto das informações equivocadas passadas pela tradição escolar.<br />

Por conseguinte, como no Brasil acesso à escola relaciona-se a po<strong>de</strong>r econômico e político,<br />

confere-se à escrita uma autorida<strong>de</strong> superior àquela que ela realmente tem. Historicamente,<br />

a língua padrão é a língua dos vencedores, dos que mandam, sendo a escrita um registro<br />

da fala.<br />

Sendo assim, a elite escolhe conscientemente a língua merecedora <strong>de</strong> registro, que<br />

é a norma culta, como paradigma para as <strong>de</strong>mais. Por isso que ela é chamada <strong>de</strong> lingua<br />

padrão. Diz-se que tal mo<strong>de</strong>lo é central na i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional, enquanto portadora <strong>de</strong> uma<br />

tradição e <strong>de</strong> uma cultura. Todavia, não será essa uma visão preconceituosa e<br />

discriminatória, já que pressupõe que todo aquele que não usa a língua padrão não é<br />

historicamente portador <strong>de</strong> tradição e cultura?<br />

Nossa cultura é <strong>de</strong> caráter grafocêntrica, pois a nossa socieda<strong>de</strong>, em <strong>de</strong>trimento da<br />

oralida<strong>de</strong>, supervaloriza o uso da escrita e aqueles que já se apropriaram <strong>de</strong>ste conhecimento.<br />

Entretanto, vale ressaltar que na maior parte dos povos mo<strong>de</strong>rnos, somente uma parcela<br />

(às vezes, mínima) da socieda<strong>de</strong> tem na escrita um elemento essencial da vida. Além disso,<br />

há muitos povos que sequer utilizam tal modalida<strong>de</strong> da língua. Outro fator curioso é que até<br />

mesmo as pessoas escolarizadas usam menos a escrita do que a oralida<strong>de</strong> em seu cotidiano.<br />

Nos dois textos abaixo, perceba a diferença entre um texto oral e um texto escrito.<br />

11º) diferenças no espaço geográfico, ou VARIAÇÕES DIATÓPICAS (falares locais, variantes regionais e,<br />

até, intercontinentais).<br />

2º) diferenças entre camadas socioculturais, ou VARIAÇÕES DIASTRÁTICAS (nível culto, língua padrão,<br />

nível popular, etc.);<br />

3º) diferenças entre os tipos <strong>de</strong> modalida<strong>de</strong> expressiva, ou VARIAÇÕES DIAFÁSICAS (língua falada, língua<br />

escrita, língua literária, linguagens especiais, linguagem dos homens, linguagem das mulheres, etc.).<br />

CUNHA, Celso; CINTA, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporânea. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova<br />

Fronteira, 1999.<br />

19


Projeto NURC - Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

Inquérito 261 - Bobina 85 - Duração 45 minutos<br />

<strong>Leitura</strong> e<br />

Data do registro: 22/11/74<br />

<strong>Produção</strong> <strong>de</strong><br />

Tema: Instituições: ensino e igreja.<br />

<strong>Texto</strong> Dados do informante: sexo masculino, 29 anos, carioca, pais cariocas.<br />

Área resi<strong>de</strong>ncial: zona suburbana.<br />

Formação universitária: Direito.<br />

20<br />

TEXTO 1 – Oral<br />

Enten<strong>de</strong>? hoje eu vejo... <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> (que) M.L.... quando eu tive M.L. e vejo agora<br />

M.L. estudando... preparando a... o material da escola... eu lamento não ter nascido nessa<br />

época... acho muito mais interessante o estudo... a coisa é... é muito... muito mais<br />

espontaneida<strong>de</strong>... a gente tinha Medo da professora... hoje a professora é uma amiga...<br />

chama <strong>de</strong> você... <strong>de</strong> titia... não é? a gente tinha medo da professora... até aconteceu um<br />

caso... um caso muito engraçado comigo... dia primeiro <strong>de</strong> <strong>de</strong> abril... eu era... primeiro <strong>de</strong><br />

abril... aí... dia dos tolos... né? eu estava com a minha prima... que é da minha ida<strong>de</strong>...<br />

então eu tive aquela idéia... né... eu era muito tímida mas tinha as minhas idéias...<br />

naturalmente ( ) dona Vera Viana... dona Vera ( ) Viana... uma gran<strong>de</strong> professora... diz<br />

assim... dona Vera... seu vestido está rasgado... eu disse pra minha prima... quando ela<br />

olhar... você diz... caiu... primeiro <strong>de</strong> abril...(risos)... ela fez... né... aí a dona Vera disse<br />

assim ... você vê... primeiro <strong>de</strong> abril é um dia ... era na hora do recreio... ela já... mais que<br />

<strong>de</strong>pressa... foi T. que mandou... (risos) então nós passamos a... o tempo todo da aula<br />

chorando, porque tínhamos ficado <strong>de</strong> castigo... né?<br />

TEXTO 2 – Escrito<br />

Recado ao senhor 903<br />

Rubem Braga<br />

Vizinho –<br />

Quem fala aqui é o homem do1003. Recebi, outro dia, consternado, a visita do<br />

zelador, que me mostrou a carta em que o senhor reclamava contra o barulho em meu<br />

apartamento. Recebi <strong>de</strong>pois a sua própria visita pessoal – <strong>de</strong>via ser meia-noite – e a sua<br />

veemente reclamação verbal. Devo dizer que estou <strong>de</strong>solado com tudo isso e lhe dou<br />

inteira razão. O regulamento do prédio é explícito e, se não o fosse, o senhor ainda teria<br />

ao seu lado a Lei e a Polícia. Quem trabalha o dia inteiro tem direito ao repouso noturno e<br />

é impossível repousar no 903 quando há vozes, passos e músicas no 1003. Ou melhor: é<br />

impossível ao 903 dormir quando o 1003 se agita; pois como não sei o seu nome nem o<br />

senhor sabe o meu, ficamos reduzidos a dois números, dois números empilhados entre<br />

<strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> outros. Eu, 1003, me limito a Leste pelo 1005; a Oeste pelo 1001; ao Sul pelo<br />

Oceano Atlântico; ao Norte pelo1004; ao alto pelo 1103 e, embaixo, pelo 903 – que é o<br />

senhor. Todos esses números são comportados e silenciosos; apenas eu e o Oceano<br />

Atlântico fazemos algum ruído e funcionamos fora dos horários civis; nós dois apenas<br />

nos agitamos e bramimos ao sabor da maré, dos ventos e da lua. Prometo, sinceramente,<br />

adotar, <strong>de</strong>pois das 22 horas, <strong>de</strong> hoje em diante, um comportamento <strong>de</strong> manso lago azul.<br />

Prometo. Quem vier a minha casa (perdão; ao meu número) será convidado a se retirar<br />

às 21:45, e explicarei: o 903 precisa repousar das 22 às 7, pois às 8:15 <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>ixar o 783<br />

para tomar o 109 que o levará até o 527 <strong>de</strong> outra rua, on<strong>de</strong> ele trabalha na sala 305.


Nossa vida, vizinho, está toda numerada; e reconheço que ela só po<strong>de</strong> ser tolerável quando<br />

um número não incomoda outro número, mas o respeita, ficando <strong>de</strong>ntro dos limites <strong>de</strong><br />

seus algarismos. Peço-lhe <strong>de</strong>sculpas – e prometo silêncio.<br />

...Mas que me seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, em que um<br />

homem batesse à porta do outro e dissesse: “Vizinho, são três da manhã e ouvi música<br />

em tua casa. Aqui estou”. E o outro respon<strong>de</strong>sse: “Entra, vizinho, e come <strong>de</strong> meu pão e<br />

bebe <strong>de</strong> meu vinho. Aqui estamos todos a bailar e cantar, pois <strong>de</strong>scobrimos que a vida é<br />

curta e a lua é bela”.<br />

E o homem trouxesse sua mulher, e os dois ficassem entre os amigos e amigas<br />

do vizinho entoando canções para agra<strong>de</strong>cer a Deus o brilho das estrelas e o murmúrio<br />

da brisa nas árvores, e o dom da vida, e a amiza<strong>de</strong> entre os humanos, e o amor e a paz.<br />

BRAGA, Rubem. Para Gostar <strong>de</strong> ler. São Paulo: Ática, 1979, p. 74-75.<br />

Níveis <strong>de</strong> Linguagem<br />

“Enten<strong>de</strong>m-se por ‘variação lingüística” pelo menos três fenômenos distintos (1) o<br />

fato <strong>de</strong> que em uma socieda<strong>de</strong> complexa como a brasileira convivem varieda<strong>de</strong>s lingüísticas<br />

diferentes, utilizadas por grupos sociais que são expostos em graus diferentes à educação<br />

formal; (2) o fato <strong>de</strong> que pessoas <strong>de</strong> um mesmo grupo lingüístico usam, para expressar-se,<br />

palavras, expressões diferentes <strong>de</strong> acordo com o caráter mais ou menos informal da situação<br />

da fala; (3) o fato <strong>de</strong> que, o Português do Brasil, como toda língua <strong>de</strong> cultura, inclui falares<br />

que são usados por alguns grupos específicos: os jovens, os malandros, os drogados, os<br />

economistas etc. Além <strong>de</strong> todos esses tipos <strong>de</strong> variação, o Português do Brasil foi marcado,<br />

ainda, pela variação histórica e pela variação regional”.<br />

ILARI, Rodolfo. Introdução ao estudo do léxico: brincando com palavras. São Paulo:<br />

Contexto, 2002.<br />

As variações <strong>de</strong> registro po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong> três tipos diferentes: grau <strong>de</strong> formalismo,<br />

modo e sintonia.<br />

O grau <strong>de</strong> formalismo refere-se ao maior ou menor cuidado do emissor no uso dos<br />

recursos lingüísticos. O modo relaciona-se às possibilida<strong>de</strong>s faladas ou escritas do uso da<br />

língua. A sintonia é a a<strong>de</strong>quação do texto que o emissor constrói a partir do conhecimento<br />

que tem sobre o receptor ( seu status, as informações prévias, a cortesia, a varieda<strong>de</strong><br />

lingüística que emprega).<br />

No quadro abaixo, po<strong>de</strong>-se perceber as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> produção textual <strong>de</strong><br />

acordo com o modo e o grau <strong>de</strong> formalismo.<br />

21


<strong>Leitura</strong> e<br />

<strong>Produção</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Texto</strong><br />

22<br />

Leia os textos abaixo e veja como a diversida<strong>de</strong> é a maior riqueza <strong>de</strong> uma<br />

língua.


O <strong>Texto</strong> Escrito<br />

A luta que os alunos enfrentam com relação à produção <strong>de</strong> textos escritos é muito<br />

especial. Em geral, eles não apresentam dificulda<strong>de</strong>s em se expressar através da fala<br />

coloquial. Os problemas começam a surgir quando esse aluno tem necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se<br />

expressar formalmente, e se agravam no momento <strong>de</strong> produzir um texto escrito. Nesta última<br />

situação, ele <strong>de</strong>ve ter claro que há marcantes entre falar e escrever.<br />

Na linguagem oral, o falante tem claro com quem fala e em que contexto. O<br />

conhecimento da situação facilita a produção oral. Nela, o interlocutor, presente fisicamente,<br />

é ativo, tendo possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> intervir, <strong>de</strong> pedir esclarecimentos, ou até <strong>de</strong> mudar o curso<br />

da conversação. O falante po<strong>de</strong> ainda recorrer a recursos que não são propriamente<br />

lingüísticos, como gestos ou expressões faciais. Na linguagem escrita, a falta <strong>de</strong>sses<br />

elementos extratextuais precisa ser suprimida pelo texto, que se <strong>de</strong>ve organizar <strong>de</strong> forma a<br />

garantir a sua inteligibilida<strong>de</strong>.<br />

Escrever não é apenas traduzir a fala em sinais gráficos. O fato <strong>de</strong> um texto escrito<br />

não ser satisfatório não significa que seu produtor tenha dificulda<strong>de</strong>s quanto ao manejo da<br />

linguagens cotidiana, e sim que ele não domina os recursos específicos da modalida<strong>de</strong><br />

escrita.<br />

A escrita tem normas próprias, tais como regras <strong>de</strong> ortografia - que, evi<strong>de</strong>ntemente,<br />

não é marcada na fala - , <strong>de</strong> pontuação, <strong>de</strong> concordância, <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> tempos verbais.<br />

Entretanto, a simples utilização <strong>de</strong> tais regras e <strong>de</strong> outros recursos da norma culta não<br />

garante o sucesso <strong>de</strong> um texto escrito. Não basta, também, saber que escrever é diferente<br />

<strong>de</strong> falar. É necessário preocupar-se com a constituição <strong>de</strong> um discurso, entendido aqui<br />

como um ato <strong>de</strong> linguagem que representa uma interação entre o produtor do texto e o seu<br />

receptor; além disso, é preciso ter em mente a figura do interlocutor e a finalida<strong>de</strong> para a<br />

qual o texto foi produzido.<br />

Para que esse discurso seja bem-sucedido <strong>de</strong>ve constituir um todo significativo e<br />

não fragmentos isolados justapostos. No interior <strong>de</strong> um texto <strong>de</strong>vem existir elementos que<br />

estabeleçam uma ligação entre as partes, isto é, elos significativos que confiram coesão ao<br />

discurso. Consi<strong>de</strong>ra-se coeso o texto em que as partes referem-se mutuamente, só fazendo<br />

sentido quando consi<strong>de</strong>radas em relação umas com as outras.<br />

Durigan, Regina H. <strong>de</strong> Almeida et alli. A dissertação no vestibular.In: A magia da mudança – vestibular<br />

Unicamp:Língua e literatura. Campinas, Unicamp, 1987.p.13-4.<br />

Estudo <strong>de</strong> <strong>Texto</strong><br />

1. O Primeiro parágrafo nos fala da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão<br />

dos alunos. Qual o contraste apontado?<br />

2. Quais as diferenças entre o falar e o escrever levantados<br />

no segundo parágrafo?<br />

3. Um texto escrito mal formulado não representa<br />

necessariamente falta <strong>de</strong> domínio da linguagem cotidiana.<br />

Justifique essa afirmação com base no terceiro parágrafo.<br />

23


<strong>Leitura</strong> e<br />

<strong>Produção</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Texto</strong><br />

24<br />

RED REDAÇÃO RED REDAÇÃO<br />

AÇÃO CRIA CRIATIV CRIA TIV TIVA TIV<br />

Leia (e se pu<strong>de</strong>r também ouça) a música abaixo <strong>de</strong> Chico Buarque, Bom Conselho:<br />

Ouça um bom conselho<br />

Que eu lhe dou <strong>de</strong> graça.<br />

Inútil dormir<br />

que a dor não passa.<br />

Espere sentado<br />

Ou você se cansa.<br />

Está provado,<br />

quem espera nunca alcança.<br />

Venha, meu amigo,<br />

Deixe esse regaço.<br />

Brinque com meu fogo<br />

Venha se queimar.<br />

Faça como eu digo<br />

Faça como eu faço.<br />

Aja duas vezes,<br />

antes <strong>de</strong> pensar.<br />

Corro atrás do tempo,<br />

Vim <strong>de</strong> não sei on<strong>de</strong>.<br />

4. No seu trabalho <strong>de</strong> produtor <strong>de</strong> textos, você tem<br />

levado em conta a figura do receptor e a finalida<strong>de</strong> a que se<br />

propõe seu texto? Qual a importância <strong>de</strong>sses elementos para<br />

a confecção do seu trabalho?<br />

Devagar é que não se vai longe<br />

Eu semeio o vento,<br />

Na minha cida<strong>de</strong>.<br />

Vou pra rua e bebo a tempesta<strong>de</strong>!<br />

5. Releia atentamente o último parágrafo e responda:<br />

a) O que um texto não <strong>de</strong>ve ser?<br />

b) O que é um texto coeso?<br />

6. Você, ao escrever, fiscaliza seu trabalho, procurando<br />

construir textos coesos? Como?<br />

Tente reconhecer a versão original dos provérbios usados por Chico como intertexto<br />

na música.


De acordo com o que fez Chico Buarque, recrie os provérbios a fim <strong>de</strong> que o sentido<br />

veiculado seja contrário ao que diz o provérbio.<br />

a) Quem ama o feio, bonito lhe parece.<br />

b) Dia <strong>de</strong> muito, véspera <strong>de</strong> pouco.<br />

c) Quem dá aos pobres, empresta a Deus.<br />

d) Quem não vive para servir, não serve para viver.<br />

e) Deus dá nozes a quem não tem <strong>de</strong>nte.<br />

f) Deus dá o frio conforme o cobertor.<br />

g) É melhor um passarinho na mão do que dois voando.<br />

h) Nada melhor do que um dia após o outro.<br />

i) Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura.<br />

j) Casa <strong>de</strong> ferreiro, espeto <strong>de</strong> pau.<br />

k) Pirão pouco, o meu primeiro.<br />

l) Pense duas vezes antes <strong>de</strong> agir.<br />

m) Por fora, bela viola. Por <strong>de</strong>ntro, pão bolorento.<br />

n) Rapadura é doce, mas não é mole.<br />

o) Se casamento fosse bom não precisaria <strong>de</strong> testemunha.<br />

p) Quando casar, a dor passa.<br />

q) Quem espera sempre alcança.<br />

r) Se conselho fosse bom, ninguém dava <strong>de</strong> graça.<br />

s) Deus não dá asa a cobra.<br />

Criando Estilos<br />

Leia o texto abaixo:<br />

OS DIFERENTES ESTILOS<br />

... Narra-se aqui, em diversas modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> estilo, um fato comum da vida carioca,<br />

a saber: o corpo <strong>de</strong> um homem <strong>de</strong> quarenta anos presumíveis é encontrado <strong>de</strong> madrugada<br />

pelo vigia <strong>de</strong> uma construção, à margem da Lagoa Rodrigo <strong>de</strong> Freitas, não existindo sinais<br />

<strong>de</strong> morte violenta.<br />

ESTILO INTERJETIVO – Um cadáver! Encontrado em plena madrugada! Em pleno<br />

bairro <strong>de</strong> Ipanema! Coitado! Um homem <strong>de</strong>sconhecido! Menos <strong>de</strong> quarenta anos! Um que<br />

morreu quando a cida<strong>de</strong> acordava! Que pena!<br />

ESTILO COLORIDO – Na hora cor <strong>de</strong> rosa da aurora, à margem da cinzenta Lagoa<br />

Rodrigo <strong>de</strong> Freitas, um vigia <strong>de</strong> cor preta encontrou um cadáver <strong>de</strong> um homem branco,<br />

cabelos louros, olhos azuis, trajando uma calça amarela, casaco pardo, sapato marrom,<br />

gravata branca com bolinhas azuis. Para este, o <strong>de</strong>stino foi negro.<br />

ESTILO ANTIMUNICIPALISTA – Quando mais um dia <strong>de</strong> sofrimento e <strong>de</strong>smandos<br />

nasceu para esta cida<strong>de</strong> tão mal governada, nas margens imundas, esburacadas e fétidas<br />

da Lagoa Rodrigo <strong>de</strong> Freitas, e em cujos arredores falta água há vários meses, sem falar<br />

nas freqüentes mortanda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> peixes já famosas, o vigia <strong>de</strong> uma construção ( já permitiram,<br />

por <strong>de</strong>baixo do pano, a ignominiosa elevação <strong>de</strong> gabarito em Ipanema ) encontrou o cadáver<br />

<strong>de</strong> um <strong>de</strong>sgraçado morador <strong>de</strong>ssa cida<strong>de</strong> sem policiamento. Como não podia <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong><br />

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<strong>Leitura</strong> e<br />

<strong>Produção</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Texto</strong><br />

26<br />

ser, o corpo ficou ali entregue às moscas que pulam naquele perigoso foco <strong>de</strong><br />

epi<strong>de</strong>mias. Até quando?<br />

ESTILO REACIONÁRIO – Os moradores da Lagoa Rodrigo <strong>de</strong> Freitas<br />

tiveram na manhã <strong>de</strong> hoje o profundo <strong>de</strong>sagrado <strong>de</strong> <strong>de</strong>parar com o cadáver<br />

<strong>de</strong> um vagabundo que foi logo escolher para morrer (<strong>de</strong> bêbado) dos bairros<br />

mais elegantes <strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong>, como se já não bastasse para enfeiar aquele<br />

local uma sórdida favela que nos envergonha aos olhos dos americanos que<br />

nos visitam ou que nos dão a honra <strong>de</strong> residir no Rio.<br />

ESTILO ENTÃO – Então, um vigia <strong>de</strong> uma construção em Ipanema, não tendo sono,<br />

saiu, então, para um passeio <strong>de</strong> madrugada. Encontrou, então, o cadáver <strong>de</strong> um homem.<br />

Resolveu, então, procurar um guarda. Então, o guarda veio e tomou, então, as providências<br />

necessárias. Aí, então, eu resolvi te contar isso.<br />

ESTILO ÁULICO – À sobremesa, alguém falou ao Presi<strong>de</strong>nte que na manhã <strong>de</strong> hoje<br />

o cadáver <strong>de</strong> um homem havia sido encontrado na Lagoa Rodrigo <strong>de</strong> Freitas. O presi<strong>de</strong>nte<br />

exigiu imediatamente que um dos seus auxiliares telegrafasse em seu nome à família<br />

enlutada. Como lhe informassem que a vítima ainda não fora i<strong>de</strong>ntificada, Sua Excelência,<br />

com o seu estimulante bom humor, alegrou os presentes com uma das suas apreciadas<br />

blagues.<br />

ESTILO COMPLEXO DE ÉDIPO – On<strong>de</strong> andará a mãezinha do homem encontrado<br />

morto na Lagoa Rodrigo <strong>de</strong> Freitas? Ela que amamentou, ela que o embalou em seus<br />

braços carinhosos?<br />

ESTILO PRECIOSISTA – No crepúsculo matutino <strong>de</strong> hoje, quando fugia solitária e<br />

longínqua a Estrela D’alva, o atalaia <strong>de</strong> uma construção civil, que perambulava insone pela<br />

orla sinuosa e murmurante <strong>de</strong> uma lagoa serena, <strong>de</strong>parou com a lúrida visão <strong>de</strong> um ignoto<br />

e gélido ser humano, já eternamente sem o austro que o vivifica.<br />

ESTILO NELSON RODRIGUES – Usava gravata <strong>de</strong> bolinhas azuis e morreu!<br />

ESTILO SEM JEITO – Eu queria ter o dom da palavra, o gênio <strong>de</strong> um Ruy ou o estro<br />

<strong>de</strong> um Castro Alves, para <strong>de</strong>screver o que se passou na manhã <strong>de</strong> hoje. Mas não sei escrever,<br />

porque nem todas as pessoas que têm sentimento são capazes <strong>de</strong> expressar esse<br />

sentimento. Mas eu gostaria <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar ainda que sem brilho literário, tudo aquilo que senti.<br />

Não sei se cabe a palavra sensibilida<strong>de</strong>. Talvez não caiba.Talvez seja tragédia. Não sei<br />

escrever, mas o leitor po<strong>de</strong>rá perfeitamente imaginar o que foi isso. Triste, muito triste. Ah,<br />

se eu soubesse escrever.<br />

ESTILO FEMININO – Imagine você, Tutsi, que ontem que eu fui ao Sacha’s,<br />

legalíssimo, e dormir tar<strong>de</strong>. Com o Toni. Pois logo hoje, minha filha, que eu estava exausta e<br />

tinha hora marcada no cabeleireiro e estava querendo dar uma passada na costureira, acho<br />

mesmo que vou fazer aquele plissadinho, como o da Teresa, o Roberto resolveu me telefonar<br />

quando eu estava no melhor do sono. Mas o que era mesmo que eu queria te contar? Ah,<br />

menina, quando eu olhei da janela vi uma coisa horrível, um homem morto lá na beira da<br />

Lagoa. Estou tão nervosa! Logo eu que tenho horror <strong>de</strong> gente morta!<br />

ESTILO DIDÁTICO – Po<strong>de</strong>mos encarar a morte do <strong>de</strong>sconhecido encontrado morto<br />

à margem da Lagoa em três aspectos: a) policial; b) humano; c) teológico. Policial: o homem<br />

em socieda<strong>de</strong>; humano: o homem em si mesmo; teológico: o homem em Deus. Polícia em<br />

homem: fenômeno; alma a Deus: epifenômeno. Muito simples como os senhores vêem.<br />

CAMPOS, Paulo Men<strong>de</strong>s. Para gostar <strong>de</strong> ler, vol IV. São Paulo: Ed àtica, 1979.<br />

A notícia é uma só: o corpo <strong>de</strong> um homem <strong>de</strong> quarenta anos presumíveis é encontrado<br />

<strong>de</strong> madrugada pelo vigia <strong>de</strong> uma construção, à margem da Lagoa Rodrigo <strong>de</strong> Freitas, não


existindo sinais <strong>de</strong> morte violenta. As varieda<strong>de</strong>s lingüísticas e <strong>de</strong> registro é que variam.<br />

Utilize a mesma notícia dada em vários estilos e a reescreva conforme os estilos abaixo:<br />

a) Seu próprio estilo;<br />

b) Estilo patricinha;<br />

c) Estilo Luís Inácio Lula da Silva;<br />

d) Estilo rapper;<br />

e) Estilo adolescente vidrado em internet;<br />

f) Estilo Gilberto Gil;<br />

Indicações <strong>de</strong> leitura...<br />

Preconceito Lingüístico<br />

“Diz-se que o “brasileiro não sabe Português” e que<br />

“Português é muito difícil”; estes são alguns dos mitos que compõem<br />

um preconceito muito presente na cultura brasileira: o lingüístico.<br />

Tudo por causa da confusão que se faz entre língua e<br />

gramática normativa ( que não é a língua, mas só uma<br />

<strong>de</strong>scrição parcial <strong>de</strong>la). Separe uma coisa da outra com<br />

este livro, que é um achado”.<br />

Revista Nova Escola, maio <strong>de</strong> 1999.<br />

O livro a que a revista Nova Escola se refere é<br />

Preconceito Lingüístico: o que é, como se faz, Marcos<br />

Bagno. Uma boa leitura para fazer uma auto-análise <strong>de</strong><br />

quantos preconceitos lingüísticos nós possuímos por mero<br />

<strong>de</strong>sconhecimento do que realmente é a língua.<br />

Narradores <strong>de</strong> Javé<br />

Ficha Técnica<br />

Ano <strong>de</strong> Lançamento (Brasil): 2003<br />

Direção: Eliane Caffé<br />

Roteiro: Luiz Alberto <strong>de</strong> Abreu e Eliane Caffé<br />

Elenco<br />

José Dumont (Antônio Biá)<br />

Matheus Nachtergaele<br />

Gero Camilo<br />

Somente uma ameaça à própria existência po<strong>de</strong> mudar a rotina dos<br />

habitantes do pequeno vilarejo <strong>de</strong> Javé. É aí que eles se <strong>de</strong>param com o<br />

anúncio <strong>de</strong> que a cida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> <strong>de</strong>saparecer sob as águas <strong>de</strong> uma enorme usina<br />

hidrelétrica. Em resposta à notícia <strong>de</strong>vastadora, a comunida<strong>de</strong> adota uma<br />

ousada estratégia: <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> preparar um documento contando todos os gran<strong>de</strong>s<br />

acontecimentos heróicos <strong>de</strong> sua história, para que Javé possa escapar da<br />

<strong>de</strong>struição. Como a maioria dos moradores é analfabeta, a primeira tarefa é<br />

encontrar alguém que possa escrever as histórias<br />

27


<strong>Leitura</strong> e<br />

<strong>Produção</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Texto</strong><br />

28<br />

TEXTOS: TIPOS E GÊNEROS<br />

TECENDO PALAVRAS E SENTIDOS<br />

“A palavra texto provém do latim textum,<br />

que significa “tecido, entrelaçamento”. Há,<br />

portanto, uma razão etimológica para nunca<br />

esquecermos que o texto resulta da ação <strong>de</strong><br />

tecer, <strong>de</strong> entrelaçar unida<strong>de</strong>s e partes a fim<br />

<strong>de</strong> formarmos um todo inter-relacionado.<br />

Daí po<strong>de</strong>rmos falar em textura ou<br />

tessitura <strong>de</strong> um texto: é a re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

relações que garantem sua coesão, sua<br />

unida<strong>de</strong>”.<br />

Segundo Fiorin (2003), “não é<br />

amontoando os ingredientes que se prepara<br />

uma receita; assim também não é superpondo frases que se constrói um texto”.Utilizando<br />

ainda a origem etimológica do termo, percebemos que um fio nem milhares <strong>de</strong>les compõem<br />

um tecido. Para existir tecido é preciso que os fios, mesmo os mais diferentes entre si,<br />

formem uma unida<strong>de</strong>, uma teia. Assim, também é com o bolo, pois colocar leite, ovos,<br />

manteiga, açúcar e farinha <strong>de</strong> trigo num recipiente não resulta em bolo. Para que estes<br />

ingredientes se transformem em bolo, é preciso que passem por vários processos, ou seja,<br />

acontece uma metamorfose daqueles ingredientes que compunham meras individualida<strong>de</strong>s<br />

e agora passam a ser uma unida<strong>de</strong> composta pela diversida<strong>de</strong>. Num texto , as partes não<br />

possuem significados in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, mas cada sentido se relaciona com o outro a fim <strong>de</strong><br />

construir um sentido global. Entretanto, este não é dado pela soma das partes, mas sim por<br />

uma combinação geradora <strong>de</strong> sentidos.<br />

Todo texto possui algumas proprieda<strong>de</strong>s,O texto possui algumas pou seja, algumas<br />

especificida<strong>de</strong>s básicas que o tornam texto. São elas: a coerência <strong>de</strong> sentido, a <strong>de</strong>limitação<br />

por dois brancos e o fato <strong>de</strong> ser produzido por um <strong>de</strong>terminado sujeito num certo espaço e<br />

tempo.<br />

Possuir coerência <strong>de</strong> sentido significa que os símbolos constituintes do texto não<br />

estão jogados no papel. Eles se inter-relacionam. Por isso, é perigoso ler as partes do<br />

texto, juntá-las e conferir a elas um sentido global, pois o contexto em que se insere é<br />

<strong>de</strong>terminante para a compreensão do sentido. O contexto, <strong>de</strong>clara Fiorin (2003), “é a unida<strong>de</strong><br />

maior em que uma unida<strong>de</strong> menor está inserida. Assim a frase (unida<strong>de</strong> maior) serve <strong>de</strong><br />

contexto para a palavra; o texto, para a frase etc”.<br />

“Po<strong>de</strong>r-se-ia, assim, conceituar o TEXTO como uma manifestação verbal, constituída<br />

<strong>de</strong> elementos lingüísticos selecionados e or<strong>de</strong>nados pelos co-enunciadores, durante a<br />

ativida<strong>de</strong> verbal, <strong>de</strong> modo a permitir-lhes, na interação, não apenas a <strong>de</strong>preensão <strong>de</strong><br />

conteúdos semânticos, em <strong>de</strong>corrência da ativação <strong>de</strong> processos e estratégias <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m<br />

cognitiva, como também a interação (ou atuação) <strong>de</strong> acordo com práticas socioculturais”<br />

(Koch, 1992).


Ao observarmos os dois exemplos abaixo, quais <strong>de</strong>les chamaríamos <strong>de</strong> texto?<br />

Das falsas posições<br />

Com a pele do leão vestiu-se o burro um dia.<br />

Porém, no seu encalço, acad instante e hora,<br />

“Olha o burro! Fiau! Fiau!”, gritava a bicharia...<br />

Tinha o parvo esquecido as orelhas <strong>de</strong> fora!<br />

Mário Quintana<br />

Geralmente, associamos somente texto ao que está escrito. Todavia, se pensarmos<br />

na primeira proprieda<strong>de</strong>, coerência <strong>de</strong> sentido, perceberemos que os três exemplos acima<br />

possuem coerência, apesar <strong>de</strong> os dois primeiros serem constituídos <strong>de</strong> imagens, figuras<br />

geométricas, forma; e o terceiro, <strong>de</strong> palavras. Po<strong>de</strong>mos perceber que os exemplos acima<br />

não são um ‘amontoado’ <strong>de</strong> signos; eles formam um todo significativo.<br />

Além disso, possuem um contexto ora explícito, ora implícito, mas <strong>de</strong>terminantes na<br />

compreensão textual.<br />

A segunda proprieda<strong>de</strong> parece irrelevante, para nós que temos contatos cotidianos<br />

com os textos. É possível dizer que em nossa socieda<strong>de</strong> somos ‘bombar<strong>de</strong>ados’ por textos<br />

o tempo inteiro. Entretanto, <strong>de</strong> fato todo texto é <strong>de</strong>limitado por dois espaços vazios, isto é,<br />

por dois espaços <strong>de</strong> não-sentido. Um antes <strong>de</strong>le, outro <strong>de</strong>pois. E eles, por incrível que<br />

pareça, têm uma função ímpar: sinalizar on<strong>de</strong> começa e on<strong>de</strong> termina o texto. Vejamos uma<br />

fotografia do francês, radicado na Bahia, Pierre Verger. Tal imagem chama-se ‘O olhar<br />

enigmático <strong>de</strong> Pierre Verger” que po<strong>de</strong> ser encontrada no site “http://www2.petrobras.com.br/<br />

CulturaEsporte/ingles/cultura/ArtesVisuais/PierreFatumbi.htm”.<br />

29


<strong>Leitura</strong> e<br />

<strong>Produção</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Texto</strong><br />

30<br />

É fácil i<strong>de</strong>ntificar on<strong>de</strong> começa a fotografia e on<strong>de</strong> termina. Assim, o<br />

leitor percebe que só o que interessa para conferir sentido à imagem é o que<br />

está <strong>de</strong>ntro do espaço <strong>de</strong>limitado pelos dois brancos.<br />

Por último, todo texto é produzido por um sujeito, e este, por estar<br />

atrelado ao seu tempo e ao seu espaço, sempre constrói sua produção,<br />

revelando os i<strong>de</strong>ais e concepções <strong>de</strong> um tempo e <strong>de</strong> um espaço. Por isso, um<br />

leitor competente não faz a pergunta superficial: o que o autor quis dizer? Mas<br />

no lugar <strong>de</strong>la, procura saber: quem foi o autor? On<strong>de</strong> e quando ele produziu tal<br />

texto? Tais elementos, sim, serão <strong>de</strong> suma importância para o entendimento do texto. Se,<br />

ao lermos um texto <strong>de</strong> Machado <strong>de</strong> Assis, quisermos saber o que ele quis dizer, teremos<br />

que perguntar a ele, e como o referido autor está morto, só temos duas saídas: ou ir até lá<br />

ou fazermos uma sessão espírita. Todas as duas alternativas po<strong>de</strong>m configurar-se como<br />

esforços <strong>de</strong>snecessários, já que como leitores competentes nós mesmos po<strong>de</strong>mos<br />

apreen<strong>de</strong>r o sentido do texto.<br />

No primeiro anúncio publicitário, a fotografia da mulher, seu pent<strong>ead</strong>o e vestuário<br />

nos remetem à década <strong>de</strong> 50 do século XX, assim como a embalagem do produto. Quanto<br />

à linguagem, encontramos o uso do termo <strong>de</strong>ntifrício no lugar do mais mo<strong>de</strong>rno pasta <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>nte. Já no segundo, a mulher, sua roupa e postura já <strong>de</strong>nunciam um outro tempo. Além<br />

disso, temos um bem tecnológico que sequer existia na época da veiculação da primeira<br />

propaganda.<br />

As Possibilida<strong>de</strong>s Textuais:<br />

<strong>Texto</strong> Literário e o <strong>Texto</strong> Não-Literário<br />

O <strong>Texto</strong> Verbal e o <strong>Texto</strong> Não-Verbal<br />

O texto po<strong>de</strong> ser literário ou não. O literário possui, como marca <strong>de</strong> sua produção, a<br />

informação estética; já no não literário, a informação é semântica. O quadro abaixo, construído<br />

pelo professor baiano, Jayme Barros, em seu livro Encontro <strong>de</strong> redação, é bastante<br />

elucidativo para compreen<strong>de</strong>rmos as diferenças entre estes dois formatos textuais.


INFORMAÇÃO SEMÂNTICA<br />

(texto não-literário)<br />

1. A informação tem um sentido unívoco e exige do receptor uma percepção racional,<br />

uma compreensão lógica. O receptor é atingido em sua inteligência: ou a mensagem é<br />

compreendida ou <strong>de</strong>ixará <strong>de</strong> ter sentido.<br />

2. A essência é, portanto, a verda<strong>de</strong>. A beleza torna-se aci<strong>de</strong>ntal, pois não se busca,<br />

em essência, atingir a sensibilida<strong>de</strong> do receptor.<br />

3. Os signos têm um valor <strong>de</strong>notativo, por isso são traduzíveis.<br />

4. O conhecimento prévio da mensagem provoca uma saturação; esgota a<br />

mensagem,<br />

INFORMAÇÃO ESTÉTICA<br />

(texto literário)<br />

1. A informação tem um significado plurívoco, busca atingir a sensibilida<strong>de</strong> do receptor.<br />

Exige <strong>de</strong>le uma percepção sensorial. Mesmo sem a compreensão lógica da mensagem,<br />

ela tem um sentido estético: toca a sensibilida<strong>de</strong> do receptor.<br />

2. A essência é, portanto, a beleza, o prazer estético provocado pela obra, que po<strong>de</strong>rá<br />

ter ou não um sentido lógico. A obra referir-se ou não a uma verda<strong>de</strong> ou fato cientificamente<br />

comprovado torna-se secundário.<br />

3. Os signos têm um valor conotativo, por isso não são traduzíveis.<br />

4. O conhecimento prévio da mensagem não provoca um esgotamento. Ao contrário,<br />

a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r da percepção sensorial do receptor, do gostar ou não gostar da obra, o<br />

conhecimento prévio da mensagem po<strong>de</strong>rá provocar a busca <strong>de</strong> novos contatos com a<br />

obra.<br />

Leia os dois textos abaixo:<br />

TEXTO 1<br />

Poema tirado <strong>de</strong> uma notícia <strong>de</strong> jornal<br />

João Gostoso era carregador <strong>de</strong> feira livre e morava no morro da Babilônia, num<br />

barracão sem número<br />

Um noite ele chegou no bar Vinte <strong>de</strong> Novembro<br />

Bebeu<br />

Cantou<br />

Dançou<br />

Depois se atirou na Lagoa Rodrigo <strong>de</strong> Freitas e morreu afogado.<br />

Manuel Ban<strong>de</strong>ira<br />

TEXTO 2<br />

Garçom morre após briga <strong>de</strong> bar<br />

Por volta <strong>de</strong> 2h40min da madrugada <strong>de</strong> sábado, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter se envolvido numa<br />

briga iniciada por um amigo, num bar na Rua Direta do Canal do Bate Estaca, o garçom<br />

Roberto Moreira da Cruz, 26 anos, saiu do estabelecimento <strong>de</strong> motocicleta. Uma das<br />

pessoas com quem ele tinha brigado disparou com arma <strong>de</strong> fogo e o matou com um tiro nas<br />

costas. As informações são da irmã <strong>de</strong>le, a ambulante Roberta Aparecida Santos da Cruz,<br />

31


<strong>Leitura</strong> e<br />

<strong>Produção</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Texto</strong><br />

32<br />

22 anos, que prestou <strong>de</strong>poimento na 3ª Delegacia <strong>de</strong> Polícia. O garçom era<br />

pai <strong>de</strong> duas crianças, <strong>de</strong> 2 e 4 anos, mas não era casado. A investigação está<br />

sendo conduzida pela <strong>de</strong>legada Sônia M. Reis Paiva.<br />

Jornal A Tar<strong>de</strong>, 02 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2005.<br />

No texto 2 é explícito o compromisso com o relato do fato da forma<br />

mais próxima daquela em que ele ocorreu, por isso há tantos <strong>de</strong>talhes e<br />

informações relevantes para a compreensão do contexto. O leitor, para<br />

compreendê-lo, usará aspectos racionais. Já no texto 1, não há uma preocupação do autor<br />

em <strong>de</strong>screver o fato, em dar <strong>de</strong>talhes do acontecimento, não se sabe a razão do suicídio. A<br />

intenção do autor é atingir a emoção do leitor ao colocá-lo frente à morte, seja trágica ou<br />

não, pois sempre nos <strong>de</strong>sestabiliza e assusta. Por fim, o leitor do texto 1 po<strong>de</strong>rá não ter<br />

uma compreensão lógica do acontecimento, mas certamente se permitirá a diversas<br />

interpretações. Já no texto 2, só há uma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> compreensão do texto, caso o<br />

leitor não a capte, estará <strong>de</strong>montrando que não o compreen<strong>de</strong>u.<br />

O texto po<strong>de</strong> ser verbal ou não-verbal. Isto quer dizer que po<strong>de</strong>mos construir um texto<br />

somente com imagens, figuras, cores. A este tipo <strong>de</strong> texto, chamamos <strong>de</strong> texto não-verbal.<br />

Caso o texto seja composto por palavras faladas ou escritas, teremos um texto verbal. É<br />

possível haver textos constituídos tanto por palavras quanto por imagens, estes serão<br />

consi<strong>de</strong>rados como textos mistos.<br />

A tela <strong>de</strong> Candido Portinari <strong>de</strong>nominada “Os retirantes” é um texto não-verbal, e o<br />

trecho da obra Morte e Vida Severina <strong>de</strong> João Cabral <strong>de</strong> Melo Neto é verbal. Note que<br />

ambos discorrem sobre o mesmo tema; a forma como organizam a mensagem é que é<br />

diferente. O primeiro só se utiliza <strong>de</strong> imagens, cores e formas, enquanto o segundo usa<br />

palavras.<br />

Os Retirantes. Candido Portinari


O RETIRANTE EXPLICA AO LEITOR<br />

QUEM É, E A QUE VAI<br />

- O meu nome é Severino,<br />

como não tenho outro <strong>de</strong> pia.<br />

Como há muitos Severinos,<br />

que é santo <strong>de</strong> romaria,<br />

<strong>de</strong>ram então <strong>de</strong> me chamar<br />

Severino <strong>de</strong> Maria;<br />

como há muitos Severinos<br />

com mães chamadas Maria,<br />

fiquei sendo o da Maria<br />

do finado Zacarias.<br />

Mais isso ainda diz pouco:<br />

há muitos na freguesia,<br />

por causa <strong>de</strong> um coronel<br />

que se chamou Zacarias<br />

e que foi o mais antigo<br />

senhor <strong>de</strong>sta sesmaria.<br />

Como então dizer quem falo<br />

ora a Vossas Senhorias?<br />

Vejamos: é o Severino<br />

da Maria do Zacarias,<br />

lá da serra da Costela,<br />

limites da Paraíba.<br />

(...)<br />

Somos muitos Severinos<br />

iguais em tudo na vida:<br />

na mesma cabeça gran<strong>de</strong><br />

que a custo é que se equilibra,<br />

no mesmo ventre crescido<br />

sobre as mesmas pernas finas<br />

e iguais também porque o sangue,<br />

que usamos tem pouca tinta.<br />

E se somos Severinos<br />

iguais em tudo na vida,<br />

morremos <strong>de</strong> morte igual,<br />

mesma morte severina:<br />

que é a morte <strong>de</strong> que se morre<br />

<strong>de</strong> velhice antes dos trinta,<br />

<strong>de</strong> emboscada antes dos vinte<br />

<strong>de</strong> fome um pouco por dia<br />

(<strong>de</strong> fraqueza e <strong>de</strong> doença<br />

é que a morte severina<br />

ataca em qualquer ida<strong>de</strong>,<br />

e até gente não nascida).<br />

Somos muitos Severinos<br />

iguais em tudo e na sina:<br />

a <strong>de</strong> abrandar estas pedras<br />

suando-se muito em cima,<br />

a <strong>de</strong> tentar <strong>de</strong>spertar<br />

33


<strong>Leitura</strong> e<br />

<strong>Produção</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Texto</strong><br />

34<br />

terra sempre mais extinta,<br />

a <strong>de</strong> querer arrancar<br />

alguns roçado da cinza.<br />

Mas, para que me conheçam<br />

melhor Vossas Senhorias<br />

e melhor possam seguir<br />

a história <strong>de</strong> minha vida,<br />

passo a ser o Severino<br />

que em vossa presença emigra.<br />

O <strong>Texto</strong> e os Fatores <strong>de</strong> Contextualida<strong>de</strong><br />

Em 1983, Beaugran<strong>de</strong> e Dessler selecionaram sete características que conferem a<br />

alguma coisa o caráter <strong>de</strong> texto. Ao consi<strong>de</strong>rarmos algo como texto, perceberemos que<br />

nele aparecem os fatores abaixo:<br />

1. Coesão<br />

2. Coerência<br />

3. Intencionalida<strong>de</strong><br />

4. Aceitabilida<strong>de</strong><br />

5. Situacionalida<strong>de</strong><br />

6. Informativida<strong>de</strong><br />

7. Intertextualida<strong>de</strong><br />

Coesão e Coerência serão temas discutidos no próximo tópico <strong>de</strong>vido a enorme<br />

relevância que possuem no processo <strong>de</strong> construção textual. Além disso, são nesses aspectos<br />

que os produtores <strong>de</strong> texto mais cometem falhas.<br />

Todo produtor tem uma intenção na produção textual; planeja o texto e o produz na<br />

tentativa <strong>de</strong> satisfazer sua meta. A este fator <strong>de</strong>nominamos intencionalida<strong>de</strong>.<br />

Por outro lado, o receptor, ao se mobilizar para ler um texto, gera uma gama <strong>de</strong><br />

expectativas e pré-concepções em torno <strong>de</strong>le. Saber quem é o autor e a época o fará inferir,<br />

por exemplo, sobre o tema do texto. Seus repertório <strong>de</strong> leitura e arcabouço <strong>de</strong> conhecimentos<br />

o possibilitarão compreen<strong>de</strong>r o texto <strong>de</strong> forma parcial, ampla ou superficial. A este fator<br />

<strong>de</strong>nominamos aceitabilida<strong>de</strong>.<br />

No mundo em que vivemos, em nosso cotidiano, circulam diversos tipos <strong>de</strong> texto.<br />

Entretanto, eles são diferentes entre si. Uma palestra sobre a importância da leitura será<br />

muito diferente <strong>de</strong> uma conversa num bar entre dois amigos. A linguagem usada em uma<br />

situação será muito diferente da outra, assim como o grau <strong>de</strong> intimida<strong>de</strong> entre emissor e


eceptor. Sendo assim, cada contexto sócio-comunicativo requer uma produção <strong>de</strong> texto<br />

mais pertinente a si mesmo. A esse fator <strong>de</strong>nominamos situacionalida<strong>de</strong>.<br />

Todo texto tem como característica peculiar a função referencial da linguagem, ou<br />

seja, ele informa sobre algo. Por isso, o autor <strong>de</strong>ve fornecer ao leitor uma suficiência <strong>de</strong><br />

dados necessários à compreensão do texto. A esse fator <strong>de</strong>nominamos informativida<strong>de</strong>.<br />

A lingüista Júlia Kristeva <strong>de</strong>clara que o texto é um mosaico <strong>de</strong> citações. Isto significa<br />

que não produzimos um texto do nada; todo texto é fruto das informações e conhecimentos<br />

prévios que possuímos. Sendo assim, a leitura <strong>de</strong> mundo e <strong>de</strong> palavra escrita é <strong>de</strong>terminante<br />

para a produção textual. Por isso, os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN, que traçam<br />

diretrizes para o ensino das escolas brasileiras, informam a ineficácia do estudo da gramática<br />

normativa para formar leitores e produtores <strong>de</strong> texto. Segundo os PCN, é a leitura que subsidia<br />

o produtor <strong>de</strong> textos no exercício da criação. Desta forma, não há como não aparecerem<br />

implicitamente ou explicitamente – por meio <strong>de</strong> citações, paródias ou pastiches - outros<br />

textos em um texto. A esse fator <strong>de</strong>nominamos intertextualida<strong>de</strong>.<br />

Coesão e Coerência: A Construção <strong>de</strong> Sentidos e seus<br />

Mecanismos<br />

A coerência é o fator responsável pelo estabelecimento do sentido no texto, pois a<br />

partir <strong>de</strong>la ocorre o acerto das partes com relação ao todo. Um texto sem coerência per<strong>de</strong><br />

o princípio da interpretabilida<strong>de</strong> textual, ou seja, torna-se não-inteligível em relação a situação<br />

comunicativa. Como afirmado anteriormente, o texto é como um mosaico, pois se constitui<br />

<strong>de</strong> elementos diversos e diferentes entre si; todavia,z o entrelaçamento <strong>de</strong>stas partes forma<br />

uma unida<strong>de</strong>. A coerência é estabelecida nas relações entre os usuários do texto.<br />

Tipos <strong>de</strong> coerência:<br />

a) Semântica: relação entre os significados.<br />

“Vamos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> sermos egoístas e pensarmos um pouco mais em nós mesmos”.<br />

O significado do termo egoísta refere-se ao indivíduo pensar e agir apenas em prol<br />

<strong>de</strong> si mesmo, se o autor propõe que não se pense em si mesmo somente, como ele po<strong>de</strong><br />

conclamar a “pensarmos mais em nós mesmo” que é a mesma coisa?<br />

Forma coerente: Vamos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser egoístas e pensar mais nos outros.<br />

b) Sintática: uso <strong>de</strong> recursos sintáticos.<br />

“O Renato é meu filho, mas ele se parece comigo”.<br />

Muitas vezes, não sabemos usar os recursos lingüísticos, pois <strong>de</strong>sconhecemos os<br />

significados das preposições, conjunções, etc. Por exemplo, a conjunção “mas” dá a idéia<br />

<strong>de</strong> oposição. Assim, espera-se encontrá-la entre duas orações que se oponham ou se<br />

contradigam. Se Renato é filho <strong>de</strong> alguém, espera-se que ele se pareça com alguém, não<br />

há nenhuma contradição nisso. Haveria se Renato não se parecesse.<br />

Forma coerente: O Renato é meu filho, por isso ele se parece comigo.<br />

c) Estilística: a<strong>de</strong>quação do texto ao estilo ou registro pertinente.<br />

“Prezado Antônio, neste momento quero expressar meus sentimentos por seu pai ter<br />

vestido o paletó <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, ter ido comer capim pela raiz....”.<br />

35


<strong>Leitura</strong> e<br />

<strong>Produção</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Texto</strong><br />

36<br />

Como dito anteriormente, cada texto possui um contexto e <strong>de</strong>ve<br />

a<strong>de</strong>quar-se a ele. Numa situação <strong>de</strong> morte, geralmente <strong>de</strong>licada para a nossa<br />

formação cultural, a maneira mais a<strong>de</strong>quada <strong>de</strong> agir é sendo solidário e<br />

acolhedor com a pessoa que receberá a notícia do infortúnio. Atitu<strong>de</strong>s<br />

grosseiras não condizem com este tipo <strong>de</strong> contexto. A expressão popular “ir<br />

comer capim pela raiz” não se a<strong>de</strong>qua ao uso <strong>de</strong> linguagem requerido para<br />

este tipo <strong>de</strong> situação.<br />

d) Pragmática: atos <strong>de</strong> fala próprios <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada situação comunicativa.<br />

“ – Você sabe on<strong>de</strong> é a biblioteca?<br />

- O dia está lindo hoje!”.<br />

Ao observarmos a pergunta acima, perceberemos que existe uma incoerência no<br />

diálogo. Há um número mínimo <strong>de</strong> respostas possíveis à pergunta feita: quem respon<strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong> dizer que não sabe ou que sabe. No entanto, a resposta dada não se relaciona em<br />

nada com a pergunta.<br />

Fatores:<br />

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Para um texto manter-se coerente é preciso que haja um elo conceitual entre<br />

seus diversos argumentos. Os substantivos e os verbos <strong>de</strong>vem estar interligados não<br />

apenas para acrescentar informações, mas também para alicerçar o sentido do texto<br />

(KOCH, 2003). Os fatores que conferem coerência ao texto são os elementos<br />

lingüísticos, o conhecimento <strong>de</strong> mundo (frames, esquemas, planos, scripts e esquemas<br />

textuais), o conhecimento partilhado, inferências, a contextualização, a constância e<br />

relevância, além do outros cinco fatores <strong>de</strong> textualida<strong>de</strong>.<br />

Para Koch (2003, p. 33), a coesão refere-se ao “modo como os elementos<br />

lingüísticos presentes na superfície textual encontram-se interligados entre si, por meio<br />

<strong>de</strong> recursos também lingüísticos, formando seqüências veiculadoras <strong>de</strong> sentido”.<br />

Algumas marcas lingüísticas são responsáveis por dar coerência ao texto, tais recursos<br />

são chamados <strong>de</strong> elementos coesivos.<br />

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Mecanismos Mecanismos <strong>de</strong> <strong>de</strong> coesão:<br />

coesão:<br />

REFERENCIAÇÃO: retoma ou antecipa elementos do texto através <strong>de</strong> duas<br />

maneiras <strong>de</strong> reativação <strong>de</strong> referentes:<br />

* Anáfora (remissão para trás): retoma o termo explicitado anteriormente através <strong>de</strong><br />

recursos gramaticais como pronomes, numerais, advérbios pronominais, artigos in<strong>de</strong>finidos,<br />

elementos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m lexical.<br />

Exemplo: Glauber Rocha foi um gran<strong>de</strong> cineasta baiano, pena que ele tenha morrido<br />

tão precocemente.<br />

Outros exemplos:<br />

- Dizem que a situação do Brasil vai mudar, mas não consigo crer nisso.<br />

- O concurso selecionará os melhores candidatos. Apenas a terça parte <strong>de</strong>les será<br />

aprovada.<br />

- O juiz olhou para o auditório. Alí estavam presentes parentes e amigos do réu.


- Um estranho foi atropelado na Av. Paralela. O aci<strong>de</strong>ntado tinha aparência jovial.<br />

- Os quadros <strong>de</strong> Van Gogh não tinham nenhum valor em sua época. Houve telas que<br />

serviram até <strong>de</strong> porta <strong>de</strong> galinheiro.<br />

* Catáfora (remissão para frente): antecipa o termo que aparecerá posteriormente<br />

através <strong>de</strong> pronomes <strong>de</strong>monstrativos, in<strong>de</strong>finidos neutros e nomes genéricos.<br />

Exemplo: Eles discutiam agressivamente. Marido e mulher gritavam, gesticulavam e<br />

batiam um no outro.<br />

Outros exemplos:<br />

- Quero apenas isto: um milhão <strong>de</strong> reais <strong>de</strong>positado em minha conta corrente.<br />

- O incêndio <strong>de</strong>struiu tudo: casas, móveis, plantações.<br />

- O enfermo esperava uma coisa: o alívio <strong>de</strong> seus sofrimentos.<br />

SEQÜENCIAÇÃO: procedimentos lingüísticos através dos quais se estabelecem os<br />

elos que permitem ao texto <strong>de</strong>senvolver-se em progressão.<br />

a) Paralelismo: veiculação <strong>de</strong> informações novas através da repetição <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada<br />

estrutura sintática.<br />

Falava-se da chamada dos conservadores ao po<strong>de</strong>r e falava-se da dissolução da<br />

Câmara. (= Falava-se da chamada dos conservadores ao po<strong>de</strong>r e da dissolução da<br />

Câmara.)<br />

b) Elipse: supressão <strong>de</strong> termos.<br />

O ministro foi o primeiro a chegar. ( )Abriu a sessão às oito em ponto e ( )fez então<br />

seu discurso.<br />

Os jogadores do Brasil fizeram bonito: ( )correram muito, lutaram bravamente e<br />

venceram o jogo.<br />

c) Paráfrase: explicação <strong>de</strong> termo antece<strong>de</strong>nte ou prece<strong>de</strong>nte.<br />

O Brasil é um país capitalista, ou seja, aqui os trabalhadores livres ven<strong>de</strong>m sua<br />

força <strong>de</strong> trabalho aos donos do capital.<br />

d)Tempo verbal: ajustamento dos tempos verbais.<br />

Vim, vi e venci!<br />

ESQUEMA-SÍNTESE<br />

ESQUEMA-SÍNTESE<br />

37


<strong>Leitura</strong> e<br />

<strong>Produção</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Texto</strong><br />

38<br />

DESVENDANDO O TEXTO<br />

COESÃO E COERÊNCIA<br />

I<strong>de</strong>ntifique nos três exemplos abaixo o que é texto. Classifique também o que for<br />

texto como literário ou não-literário e verbal e não-verbal:<br />

a)<br />

Autor: Caulos<br />

b) “Enten<strong>de</strong>-se por corrupção o uso <strong>de</strong> bens públicos para fins privados e perversão<br />

ou <strong>de</strong>terioração dos princípios éticos e morais. No entanto, não são apenas os membros<br />

do governo que fazem prática <strong>de</strong>stas ações; a socieda<strong>de</strong> civil, em todas as suas áreas,<br />

<strong>de</strong>senvolve ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> caráter corrupto também. O Brasil, país com uma herança histórica<br />

marcada pela corrupção, luta para combater este mal, estando completamente enraizado<br />

não somente nas elites, dominadoras <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, mas também na gran<strong>de</strong> massa <strong>de</strong> dominados<br />

que, ao praticar pequenas ações, como suborno e propina, <strong>de</strong>senvolve o mesmo crime,<br />

porém em menores proporções, assim recebendo quase nenhuma repercussão e<br />

importância”. Autor: Verena Paranhos Batista<br />

c) XIDSA caiu? A vaca supra vivo Pedro É!!!<br />

Autor: Luciana Moreno<br />

Intertextualida<strong>de</strong><br />

Leia os textos abaixo. O primeiro é a música Águas <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> Tom Jobim. O<br />

segundo é uma paródia do texto <strong>de</strong> Tom, ou seja, uma imitação ora ridícula e grosseira, ora<br />

iconoclasta <strong>de</strong> uma composição literária.<br />

Águas De Março<br />

Tom Jobim<br />

Complementares<br />

Complementares<br />

É pau, é pedra, é o fim do caminho<br />

É um resto <strong>de</strong> toco, é um pouco sozinho<br />

Ativida<strong>de</strong>s<br />

Ativida<strong>de</strong>s


É um caco <strong>de</strong> vidro, é a vida, é o sol<br />

É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol<br />

É peroba do campo, é o nó da ma<strong>de</strong>ira<br />

Caingá, can<strong>de</strong>ia, é o Matita Pereira<br />

É ma<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> vento, tombo da ribanceira<br />

É o mistério profundo, é o queira ou não queira<br />

É o vento ventando, é o fim da la<strong>de</strong>ira<br />

É a viga, é o vão, festa da cumeeira<br />

É a chuva chovendo, é conversa ribeira<br />

Das águas <strong>de</strong> março, é o fim da canseira<br />

É o pé, é o chão, é a marcha estra<strong>de</strong>ira<br />

Passarinho na mão, pedra <strong>de</strong> atira<strong>de</strong>ira<br />

É uma ave no céu, é uma ave no chão<br />

É um regato, é uma fonte, é um pedaço <strong>de</strong> pão<br />

É o fundo do poço, é o fim do caminho<br />

No rosto o <strong>de</strong>sgosto, é um pouco sozinho<br />

É um estrepe, é um prego, é uma conta, é um conto<br />

É uma ponta, é um ponto, é um pingo pingando<br />

É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando<br />

É a luz da manhã, é o tijolo chegando<br />

É a lenha, é o dia, é o fim da picada<br />

É a garrafa <strong>de</strong> cana, o estilhaço na estrada<br />

É o projeto da casa, é o corpo na cama<br />

É o carro enguiçado, é a lama, é a lama<br />

É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã<br />

É um resto <strong>de</strong> mato, na luz da manhã<br />

São as águas <strong>de</strong> março fechando o verão<br />

É a promessa <strong>de</strong> vida no teu coração<br />

É uma cobra, é um pau, é João, é José<br />

É um espinho na mão, é um corte no pé<br />

É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã<br />

É um belo horizonte, é uma febre terçã<br />

São as águas <strong>de</strong> março fechando o verão<br />

É a promessa <strong>de</strong> vida no teu coração<br />

E se o Tom Jobim usasse o Windows?<br />

(Autor <strong>de</strong>sconhecido)<br />

É pau<br />

É vírus<br />

É o fim do programa<br />

É um erro fatal<br />

O começo do drama.<br />

É o turbo Pascal<br />

Diz que falta um login<br />

Não me mostra on<strong>de</strong> é<br />

E já trava no fim.<br />

É dois, é três, é um 486<br />

É comando ilegal<br />

39


Essa merda bloqueia<br />

É um erro e trava<br />

É um disco mordido<br />

HD estragado<br />

<strong>Leitura</strong> e<br />

Ai, meu Deus, tô perdido<br />

<strong>Produção</strong> <strong>de</strong><br />

São as barras <strong>de</strong> espaço<br />

<strong>Texto</strong> Exibindo um borrão<br />

É a promessa <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o<br />

Escon<strong>de</strong>ndo um trojan<br />

É o computador<br />

Me fazendo <strong>de</strong> otário<br />

Não compila o programa<br />

Salva só o comentário.<br />

É ping, é pong<br />

O meu micro me chuta<br />

O scan não retira<br />

O vírus filho da puta<br />

O Windows não entra<br />

E nem volta pro DOS<br />

Não funciona o reset<br />

Me <strong>de</strong>tona a voz<br />

É abort, é retray<br />

Disco mal formatado<br />

PCTools não resolve<br />

Norton trava o teclado<br />

É impressora sem tinta<br />

Engolindo o papel<br />

Meu trabalho <strong>de</strong> dias<br />

Foi cuspido pro céu<br />

40<br />

Escolha uma música, selecione o tema e produza a sua paródia.<br />

Veja abaixo outra possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> intertextualida<strong>de</strong>


Agora observe o quadro abaixo. Faça uma propaganda, usando o quadro como<br />

intertexto.<br />

Coesão e Coerência<br />

1. A partir da junção das informações abaixo, construa textos coesos e coerentes:<br />

a)<br />

- A atriz Arlete Sales é sucesso no palco e na televisão.<br />

- A atriz Arlete Sales interpreta agora a perversa e divertida Augusta Eugênia na<br />

novela global Porto dos Milagres.<br />

- A personagem Augusta Eugênia tem agradado em cheio ao público.<br />

- A atriz Arlete Sales <strong>de</strong>u cor e humor à personagem.<br />

- Arlete Sales diz que Augusta Eugênia é uma louca, exacerbada, <strong>de</strong>lirante.<br />

- Arlete Sales é o oposto da personagem que interpreta na novela das oito.<br />

- Arlete Sales é <strong>de</strong>licada e sorri<strong>de</strong>nte.<br />

- Arlete Sales <strong>de</strong>stacou-se em vários papéis inesquecíveis.<br />

- Arlete Sales coleciona, em sua galeria, personagens como Carmosina, <strong>de</strong> Tieta do<br />

Agreste.<br />

- Outra personagem inesquecível <strong>de</strong> Arlete Sales foi a cubana Anabel, <strong>de</strong> Salsa e<br />

Merengue.<br />

b)<br />

- O presi<strong>de</strong>nte havia assinado o <strong>de</strong>creto na véspera.<br />

- Ninguém sábia o que <strong>de</strong> fato tinha acontecido na reunião.<br />

- A mulher tinha perdido todas as chaves do prédio.<br />

- O técnico havia constatado todas as falhas do projeto.<br />

- O fato é que ele tinha tido todas as chances <strong>de</strong> aprovação.<br />

- Não tinha sido ele o responsável.<br />

41


<strong>Leitura</strong> e<br />

<strong>Produção</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Texto</strong><br />

42<br />

- O promotor tinha saído naquele momento.<br />

- O policial havia contido os mais exaltados.<br />

- O <strong>de</strong>legado tinha <strong>de</strong>tido o suspeito.<br />

- Tinha certeza <strong>de</strong> que ele tinha posto o documento na gaveta.<br />

2.<br />

2.<br />

2. Reescreva as sentenças abaixo, substituindo as palavras e<br />

expressões <strong>de</strong>stacadas por palavras e expressões sinônimas.<br />

a) O ven<strong>de</strong>dor <strong>de</strong> rádio era um emissário do progresso.<br />

b) Se a família mostrasse interesse, podia ficar com o rádio a título experimental.<br />

c) Um dos rádios permaneceu esquecido em minha casa durante dois anos.<br />

d) Moço que tinha rádio ganhava a chance <strong>de</strong> casar com a belda<strong>de</strong> do quarteirão.<br />

e) Diziam que a televisão liquidaria o próprio rádio.<br />

f) Mas entrar para o rádio era muito difícil, <strong>de</strong>vido, afirmavam, ao nepotismo.<br />

BALZAC E A COSTUREIRINHA CHINESA<br />

Indicações <strong>de</strong> leitura...<br />

A história <strong>de</strong> BALZAC E A COSTUREIRINHA<br />

CHINESA se passa no fim da década <strong>de</strong> 60, quando<br />

o lí<strong>de</strong>r chinês Mao Tse-Tung lança uma campanha<br />

que mudaria radicalmente a vida do país: a<br />

Revolução Cultural. Entre outras medidas<br />

drásticas, o governo expurga das bibliotecas obras<br />

consi<strong>de</strong>radas como símbolo da <strong>de</strong>cadência<br />

oci<strong>de</strong>ntal. Mas, mesmo sob a opressão do Exército<br />

Vermelho, uma outra revolução explo<strong>de</strong> na vida<br />

<strong>de</strong> três adolescentes chineses quando, ao abrirem<br />

uma velha e empoeirada mala, eles têm as suas<br />

vidas invadidas por Balzac, Dumas, Flaubert,<br />

Bau<strong>de</strong>laire, Rousseau, Dostoievski, Dickens...Os<br />

proibidos!<br />

BALZAC E A COSTUREIRINHA CHINESA é<br />

uma crônica da vida na China durante a revolução <strong>de</strong> 68. Um romance<br />

sobre a felicida<strong>de</strong> da <strong>de</strong>scoberta da literatura, a liberda<strong>de</strong> adquirida<br />

através dos livros e a fome insaciável pela leitura, numa época em que<br />

as universida<strong>de</strong>s foram fechadas e os jovens intelectuais mandados ao<br />

campo para serem “reeducados por camponeses pobres.<br />

Para obter mais informações acesse o site: http://<br />

www.objetiva.com.br.<br />

SIJIE, Daí. Balzac e a costureirinha chinesa. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Objetiva, 2001.


COLCHA DE RETALHOS<br />

Ficha Técnica<br />

Ano <strong>de</strong> Lançamento (EUA): 1995<br />

Estúdio: Amblin Entertainment / Universal<br />

Pictures<br />

Distribuição: Universal Pictures / UIP<br />

Direção: Jocelyn Moorhouse<br />

Elenco:Wynona Ry<strong>de</strong>r (Finn Dodd); Anne<br />

Bancroft (Glady Joe leary); Ellen Burstyn (Hy Dodd)<br />

Resumo: Enquanto elabora sua tese e se<br />

prepara para se casar Finn Dodd (Wynona Ry<strong>de</strong>r),<br />

uma jovem mulher, vai morar na casa da sua avó<br />

(Ellen Burstyn). Lá estão várias amigas da família,<br />

que preparam uma elaborada colcha <strong>de</strong> retalhos<br />

como presente <strong>de</strong> casamento. Enquanto o trabalho<br />

é feito, ela ouve o relato <strong>de</strong> paixões e<br />

envolvimentos, nem sempre moralmente aprováveis, mas repletos <strong>de</strong><br />

sentimentos, que estas mulheres tiveram. Neste meio tempo ela se sente<br />

atraída por um <strong>de</strong>sconhecido, criando dúvidas no seu coração que precisam<br />

ser esclarecidas.<br />

(Disponível em: http://adorocinema.cida<strong>de</strong>internet.com.br/filmes/colcha <strong>de</strong> retalhos.<br />

Acesso em: 14 out. 2005.)<br />

TIPOS E GÊNEROS TEXTUAIS<br />

Marcuschi (2003, p.16) <strong>de</strong>clara que:<br />

os gêneros são fenômenos históricos, profundamente vinculados à<br />

vida cultural e social. Fruto <strong>de</strong> trabalho coletivo, os gêneros contribuem<br />

para or<strong>de</strong>nar e estabilizar as ativida<strong>de</strong>s comunicativas do dia-a-dia. [...]<br />

Caracterizam-se como eventos textuais altamente maleáveis, dinâmicos<br />

e plásticos.<br />

O O que que são são gêner gêner gêneros? gêner os?<br />

A palavra gênero sempre foi bastante utilizada pela retórica e pela literatura com um<br />

sentido especificamente literário, i<strong>de</strong>ntificando os gêneros clássicos – o lírico, o épico, o<br />

dramático – e os gêneros mo<strong>de</strong>rnos, como o romance, a novela, o conto, o drama,- etc.<br />

Mikhail Bakhtin – pesquisador russo que, no início do século XX, se <strong>de</strong>dicou aos<br />

estudos da linguagem e da literatura – foi o primeiro a empregar a palavra gênero com um<br />

sentido mais amplo, referindo-se também aos tipos textuais que empregamos nas situações<br />

cotidianas <strong>de</strong> comunicação.<br />

Segundo Bakhtin, todos os textos que produzimos, orais ou escritos, apresentam um<br />

conjunto <strong>de</strong> características relativamente estáveis, tenhamos ou não consciência <strong>de</strong>las. Essas<br />

características configuram diferentes tipos ou gêneros textuais, que po<strong>de</strong>m ser i<strong>de</strong>ntificados<br />

43


<strong>Leitura</strong> e<br />

<strong>Produção</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Texto</strong><br />

44<br />

por três aspectos básicos coexistentes: o assunto, a estrutura e o estilo<br />

(procedimentos recorrentes da linguagem).<br />

A escolha do gênero não é completamente espontânea, pois leva em<br />

conta um conjunto <strong>de</strong> parâmetros essenciais, como quem está falando, para<br />

quem está falando, qual é a sua finalida<strong>de</strong> e qual é o assunto do texto. Por<br />

exemplo, ao <strong>de</strong>sejarmos contar como ocorreu um conjunto <strong>de</strong> fatos, reais ou<br />

fictícios, fazemos uso <strong>de</strong> um texto narrativo; para instruirmos alguém, fazemos<br />

uso dos textos argumentativos, e assim por diante.<br />

CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Português: linguagens.<br />

São Paulo: Atual, 1999.<br />

Tipo e gênero possuem <strong>de</strong>finições diferentes que muitas vezes confun<strong>de</strong>m o estudante<br />

<strong>de</strong>sta área. Para sabermos as peculiarida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada uma, usaremos o quadro sinóptico<br />

elaborado por Marcuschi (2003, p.22):<br />

OUTRA PROPOSTA DE TIPOLOGIA TEXTUAL


FORMATOS TEXTUAIS OU GÊNEROS REDACIONAIS<br />

Há três formatos textuais presentes no cotidiano escolar no que se refere à prática<br />

<strong>de</strong> produção do texto escrito. Estes textos são apresentados sob a <strong>de</strong>signação <strong>de</strong> redações<br />

por isso são chamados <strong>de</strong> gêneros redacionais ou gêneros escolares. São eles a narração,<br />

a <strong>de</strong>scrição e a dissertação.<br />

A narração é um relato <strong>de</strong> fatos, acontecimentos. Apresenta fatos vivenciados por<br />

personagens, organizados numa <strong>de</strong>terminada seqüência temporal. Por isso, a presença<br />

<strong>de</strong> elementos como narrador, personagem, enredo, cenário, tempo, espaço é fundamental<br />

para a constituição <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> texto.<br />

A narração organiza-se geralmente a partir da apresentação <strong>de</strong> um conflito, do uso<br />

<strong>de</strong> verbos <strong>de</strong> ação e da freqüência do diálogo direto e o indireto. Geralmente, é mesclada<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>scrições.<br />

O texto <strong>de</strong> Manuel Ban<strong>de</strong>ira é uma narração, pois possui todos os elementos<br />

constituintes do texto narrativo; é um relato <strong>de</strong> evento.<br />

Poema tirado <strong>de</strong> uma notícia <strong>de</strong> jornal<br />

João Gostoso era carregador <strong>de</strong> feira-livre e morava no morro da Babilônia<br />

num barracão sem número<br />

Uma noite ele chegou no bar Vinte <strong>de</strong> Novembro<br />

Bebeu<br />

Cantou<br />

Dançou<br />

Depois se atirou na Lagoa Rodrigo <strong>de</strong> Freitas e morreu afogado.<br />

BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. In: YOUSSEF, Samira Campe<strong>de</strong>lli . Gramática do<br />

texto, texto da gramática. São Paulo: Saraiva, 1999, p.270.<br />

A <strong>de</strong>scrição é um retrato <strong>de</strong> pessoas, ambientes e objetos. Neste formato textual<br />

ocorre a predominância <strong>de</strong> adjetivos e dos verbos <strong>de</strong> ligação. Freqüente faz-se o emprego<br />

<strong>de</strong> metáforas, comparações e outras figuras <strong>de</strong> linguagem com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> caracterizar<br />

<strong>de</strong> forma profunda o objeto, coisa ou ser <strong>de</strong>scrito.<br />

Um auto-retrato é uma <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> si mesmo. Perceba a presença <strong>de</strong> vários<br />

adjetivos no texto <strong>de</strong> Juca Chaves, além do uso <strong>de</strong> figuras <strong>de</strong> linguagem como a antítese<br />

‘milionário em senso <strong>de</strong> humorista x duro sem dinheiro’.<br />

Auto-retrato<br />

Simpático, romântico, solteiro,<br />

autodidata, poeta, socialista.<br />

Da classe 38, reservista,<br />

<strong>de</strong> outubro, 22, Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

Com bossa <strong>de</strong> qualquer bom brasileiro,<br />

possuo o sangue quente <strong>de</strong> um artista.<br />

Sou milionário em senso <strong>de</strong> humorista,<br />

mas juro que estou duro sem dinheiro.<br />

45


<strong>Leitura</strong> e<br />

<strong>Produção</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Texto</strong><br />

46<br />

Há quem me julgue um poeta irreverente,<br />

mentira, é reação da burguesia,<br />

que não vive, vegeta falsamente,<br />

num mundo <strong>de</strong> doente hipocrisia.<br />

Mas o meu mundo é belo e diferente:<br />

vivo do amor ou vivo <strong>de</strong> poesia...<br />

E assim eu viverei eternamente,<br />

se não morrer por outra Ana Maria.<br />

(História da música popular brasileira – Juca Chaves)<br />

Na dissertação, o autor faz uma explanação <strong>de</strong> idéias sobre <strong>de</strong>terminado assunto.<br />

Para isso, ele precisa ler, analisar dados da realida<strong>de</strong> a fim <strong>de</strong> subsidiar seu texto com<br />

informações e argumentos possíveis. Produzir um texto dissertativo é discorrer sobre um<br />

assunto e, ao mesmo tempo, convencer/persuadir o leitor da credibilida<strong>de</strong> do ponto <strong>de</strong><br />

vista do autor. Neste formato textual prevalece a linguagem objetiva e <strong>de</strong>notativa.<br />

20 <strong>de</strong> novembro:<br />

Dia Nacional da Consciência Negra ou <strong>de</strong> combate a <strong>de</strong>ngue?<br />

Em pleno sistema escravocrata - ao contrário do que pensa a maioria <strong>de</strong> estudantes<br />

<strong>de</strong> instituições <strong>de</strong> nível superior no Brasil - as diversas etnias africanas que vieram para o<br />

cá com o objetivo <strong>de</strong> sustentar monopólios latifundiários, como os das usinas da cana<strong>de</strong>-açucar,<br />

faziam rebeliões, matavam seus senhores e fugiam para quilombos escondidos<br />

militarmente, embrenhados em matas, vales e sertões. Todavia, no imaginário dos<br />

brasileiros que têm acesso às escolas e ao nível superior, ainda persiste a falsa idéia <strong>de</strong><br />

que os negros não criaram estratégias <strong>de</strong> luta e resistência contra o sistema escravista.<br />

Mal sabem eles que a História com H maiúsculo que apren<strong>de</strong>mos na escola é uma pseudohistória,<br />

<strong>de</strong>nominada <strong>de</strong> história oficial, isto é, a versão contada pelas elites. Mal sabem<br />

eles que nos documentos escondidos nos Arquivos Públicos brasileiros, documentos da<br />

época, retratos mais fiéis do que os livros didáticos, estão relatadas diversas rebeliões,<br />

fugas e criação <strong>de</strong> quilombos, que eram tão ou mais organizados social e politicamente<br />

do que as vilas on<strong>de</strong> viviam as elites e as “sub-elites”. A falta <strong>de</strong> informação que paira na<br />

casta mais privilegiada da socieda<strong>de</strong> brasileira – os que tiveram acesso à escola – é<br />

assustadora, mas confirma a eficácia do po<strong>de</strong>r político e econômico no Brasil: alienar<br />

pessoas. Portanto, mesmo <strong>de</strong>pois do movimento negro menosprezar o 13 <strong>de</strong> maio, por<br />

ser este o dia em que uma não-negra assinou o fim da escravidão apenas no papel, e no<br />

lugar <strong>de</strong>sta data eleger o dia da morte <strong>de</strong> Zumbi como o dia em que o próprio negro<br />

conquistou sua consciência étnica e libertária, para estas pessoas ainda paira uma dúvida<br />

cruel: 20 <strong>de</strong> novembro: Dia Nacional da Consciência Negra ou <strong>de</strong> Combate a <strong>de</strong>ngue?<br />

Luciana Moreno


Conto: a Poesia inesperada do Cotidiano<br />

Leia o texto abaixo da renomada autora brasileira Marina Colasanti.<br />

A moça tecelã<br />

Marina Colasanti<br />

Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da<br />

noite. E logo sentava-se ao tear.<br />

Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ia passando entre<br />

os fios estendidos, enquanto lá fora a clarida<strong>de</strong> da manhã <strong>de</strong>senhava o horizonte.<br />

Depois, lãs mais vivas. Quentes lãs iam tecendo hora a hora, um longo tapete que<br />

nunca acabava.<br />

Se era forte <strong>de</strong>mais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na<br />

lança<strong>de</strong>ira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida<br />

pelas nuvens, escolhia um fio <strong>de</strong> prata que em pontos longos rebordava sobre o tecido.<br />

Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.<br />

Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam<br />

os pássaros, bastava à moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse<br />

a acalmar a natureza.<br />

Assim, jogando a lança<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> um lado para o outro e batendo os gran<strong>de</strong>s pentes<br />

do tear para frente e para a trás, a moça passava seus dias.<br />

Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado, <strong>de</strong> escamas.<br />

E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se se<strong>de</strong> vinha, suave era a lã<br />

cor <strong>de</strong> leite que entremeava o tapete. E à noite, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> lançar seu fio <strong>de</strong> escuridão,<br />

dormia tranqüila.<br />

Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.<br />

Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e<br />

pela primeira vez pensou como seria bom ter um marido ao lado.<br />

Não esperou o dia seguinte. Com capricho <strong>de</strong> quem tenta uma coisa nunca<br />

conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia.<br />

E aos poucos seu <strong>de</strong>sejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo<br />

aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando <strong>de</strong> entremear o último fio da<br />

ponta dos sapatos quando bateram à porta.<br />

Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu <strong>de</strong> pluma,<br />

e foi entrando na sua vida.<br />

Aquela noite <strong>de</strong>itada contra o ombro <strong>de</strong>le, a moça pensou nos lindos filhos que<br />

teceria para aumentar ainda mais a sua felicida<strong>de</strong>.<br />

E feliz foi, por algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os<br />

esqueceu. Porque, <strong>de</strong>scoberto o po<strong>de</strong>r do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas<br />

todas que ele po<strong>de</strong>ria lhe dar.<br />

-Uma casa melhor é necessária – disse para a mulher. E parecia justo, agora que<br />

eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor <strong>de</strong> tijolo, fios ver<strong>de</strong>s para os<br />

batentes, e pressa para a casa acontecer.<br />

Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente. – Por que ter casa se po<strong>de</strong>mos<br />

ter palácio? – perguntou. Sem querer resposta, imediatamente or<strong>de</strong>nou que fosse <strong>de</strong><br />

pedra com arremates <strong>de</strong> prata. Dias e dias, semanas e meses, trabalhou a moça tecendo<br />

tetos e porta, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora e ela não tinha tempo<br />

47


<strong>Leitura</strong> e<br />

<strong>Produção</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Texto</strong><br />

48<br />

para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o<br />

dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando<br />

o ritmo da lança<strong>de</strong>ira.<br />

Afinal o palácio ficou pronto. E entre tanto cômodos, o marido escolheu<br />

para ela e seu tear, o mais alto quarto da mais alta torre.<br />

-É para que ninguém saiba do tapete – disse. E antes <strong>de</strong> trancar a<br />

porta a chave advertiu: - Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!<br />

Sem <strong>de</strong>scanso, tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o<br />

palácio <strong>de</strong> luxos, os cofres <strong>de</strong> moedas, as salas <strong>de</strong> criados. Tecer era tudo que fazia.<br />

Tecer era tudo o que queria fazer.<br />

E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o<br />

palácio com todos os seus tesouros. E, pela primeira vez, pensou como seria bom estar<br />

sozinha <strong>de</strong> novo.<br />

Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas<br />

exigências. E <strong>de</strong>scalça para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se<br />

ao tear.<br />

Desta vez, não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lança<strong>de</strong>ira ao contrário<br />

e, jogando-a veloz <strong>de</strong> um lado para o outro, começou a <strong>de</strong>sfazer seu tecido. Desteceu<br />

seus cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois <strong>de</strong>steceu os criados e o<br />

palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e<br />

sorriu para o jardim além da janela.<br />

A noite acabava quando o marido, estranhando a cama dura, acordou, e espantado<br />

olhou em volta. Não teve tempo <strong>de</strong> se levantar. Ela já <strong>de</strong>sfazia o <strong>de</strong>senho escuro dos<br />

sapatos, e ele viu seus pés <strong>de</strong>saparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiulhe<br />

pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.<br />

Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara e foi<br />

passando-a <strong>de</strong>vagar entre os fios, <strong>de</strong>licado traço <strong>de</strong> luz, que a manhã repetiu na linha do<br />

horizonte.<br />

(Doze reis e a moça no labirinto do vento. 2.ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nórdica,1985.)<br />

Este texto é um conto. Para Massaud Moisés (1995, p.54), “o conto <strong>de</strong>senvolve<br />

sutilezas que, acentuando-lhe a fisionomia estética, o aproximam <strong>de</strong> uma cena do cotidiano<br />

poeticamente surpreendida”.<br />

Características do conto:<br />

a) Contém um só drama, um só conflito;<br />

b) O espaço da ação é limitado, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ste espaço po<strong>de</strong>-se percorrer vários<br />

pontos, mas só em um ocorrerá a essência do conflito;<br />

c) Ocorre num lapso <strong>de</strong> tempo, não interessando nem passado nem futuro dos<br />

personagens;<br />

d) Há poucos personagens no conto;<br />

e) A linguagem do conto é concisa e sem efeitos <strong>de</strong> dispersão;<br />

f) O foco narrativo po<strong>de</strong> ser em primeira ou terceira pessoa;<br />

g) No conto, o <strong>de</strong>sfecho guarda um enigma, por isso ele é sempre surpreen<strong>de</strong>nte<br />

para o leitor; todavia, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o começo, sugere-se o <strong>de</strong>senlace;<br />

h) Por ser uma narrativa curta, não há espaço para análise <strong>de</strong>talhistas <strong>de</strong> personagens<br />

e espaço.


Crônica: uma Fotografia do Cotidiano<br />

Acompanhe o texto <strong>de</strong> Danusa Leão sobre a a<strong>de</strong>quação do indivíduo, seu<br />

comportamento e linguagem no tempo.<br />

Como dá trabalho ser (parecer) jovem<br />

Quem não for jovem, nos dias <strong>de</strong> hoje, não é ninguém. E se tiver chegado a uma<br />

ida<strong>de</strong> que não dê mais para disfarçar, então vai ter que apelar, <strong>de</strong>spudoradamente, e usar<br />

<strong>de</strong> todos os meios para po<strong>de</strong>r entrar na onda, gostou do termo?<br />

As roupas, por exemplo, têm que ser ousadas e mo<strong>de</strong>rnas e, mesmo que o corpo<br />

não suporte mais um jeans 38, é muito melhor parecer maluca do que uma senhora<br />

distinta. Em primeiro lugar, várias peças <strong>de</strong> oncinha têm que fazer parte <strong>de</strong> sua vida: um<br />

lencinho, um legging, uma blusa, um blazer – e cabelo grisalho, nem pensar. Use uma<br />

cor bem extravagante (...).<br />

Sua cabeça – por <strong>de</strong>ntro – também tem que mudar completamente. Esteja sempre<br />

a favor <strong>de</strong> todas as loucuras que seus netos fizerem (...); seu cartaz vai subir às alturas, e<br />

ninguém - ninguém mesmo – vai nem <strong>de</strong> longe ficar fazendo aqueles cálculos horrendos<br />

para saber quantos anos você tem.<br />

Vai ser precisos <strong>de</strong>corar algumas expressões e palavras novas; nada evi<strong>de</strong>ncia<br />

mais a ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma pessoa do que termos do passado. Exemplos: não diga jamais a<br />

palavra vitrola – diga som; nem fale em disco – só em CD. Se disser anúncio ou reclame,<br />

é uma con<strong>de</strong>nação à morte; a palavra certa é publicida<strong>de</strong>, sacou? (sacou, sim – morou,<br />

nem pensar).<br />

É necessário estar muito por <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> todos os movimentos musicais, e aí é<br />

preciso muita cautela: não se diz piano, se diz cordas, não se diz conjunto nem orquestra,<br />

se diz banda – e po<strong>de</strong> falar em bateria, mas não se esqueça jamais da percussão. Deu<br />

para enten<strong>de</strong>r? Então, agora, <strong>de</strong>core. Também nunca diga que foi ver uma fita <strong>de</strong> cinema<br />

– é sempre um filme. E também é proibido dizer que foi ver uma peça <strong>de</strong> teatro – se diz o<br />

espetáculo. É a vida é difícil, mas não existe outra solução para quem quer permanecer<br />

eternamente jovem. Nunca fale <strong>de</strong> retratos, só <strong>de</strong> fotos, e <strong>de</strong> preferência não mostre<br />

nenhuma, jamais. E, quando preten<strong>de</strong>r expor uma idéia no seu trabalho, não se esqueça<br />

<strong>de</strong> dizer que vai apresentar um projeto, para ser respeitada pelos colegas e pelo chefe.<br />

Se te propuserem um trabalho novo que você não tem a menor idéia do que se<br />

trata e está morrendo <strong>de</strong> medo <strong>de</strong> aceitar, não confesse isso nem ao travesseiro: diga que<br />

consi<strong>de</strong>ra um <strong>de</strong>safio, e que você – claro – adora <strong>de</strong>safios. E esse novo trabalho, seja ele<br />

qual for, <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rado um presente – a palavra da moda hoje em dia quando não<br />

se sabe o que dizer. Se você aluga uma sala para criar – criar é ótimo – um novo projeto,<br />

diga que agora tem um espaço só seu; vai ser muito respeitada por isso.<br />

E, quando começarem a falar sobre o passado, amnésia total. Tem gente que<br />

adora falar da Grapete, do cuba-libre, da voz do Orlando Silva, das garotas do Alceu, da<br />

Revista do Rádio, dos tempos dos bon<strong>de</strong>s, dos cinemas Metro e Rian e <strong>de</strong> quando Mario<br />

Lanza <strong>de</strong>struía corações. Se você perceber que está entrando na onda nostálgica e prestes<br />

a contribuir com a conversa lembrando dos filmes <strong>de</strong> Maria Antonieta Pons, que ia ver<br />

escondido, e do corpo espetacular que tinha Elvira Pagã, o melhor que tem a fazer é dizer<br />

que combinou <strong>de</strong> ver o show <strong>de</strong> Paralamas e que <strong>de</strong>pois vai a uma festa organizada pelo<br />

Val<strong>de</strong>mente – ou sua reputação estará <strong>de</strong>struída para sempre.<br />

Um gran<strong>de</strong> problema esta história <strong>de</strong> querer ser jovem para sempre.<br />

LEÃO, Danusa. O Estado <strong>de</strong> S. Paulo. 10 out.1997, Ca<strong>de</strong>rno Cida<strong>de</strong>s, p.7.<br />

49


<strong>Leitura</strong> e<br />

<strong>Produção</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Texto</strong><br />

50<br />

O texto que você acabou <strong>de</strong> ler é uma Crônica, um breve registro <strong>de</strong><br />

eventos cotidianos. Esses textos comentam, <strong>de</strong> forma crítica, acontecimentos<br />

que ocorreram durante a semana. Têm, portanto, um sentido histórico e servem,<br />

assim como outros textos do jornal, para informar o leitor.<br />

Características:<br />

a) <strong>Texto</strong>s publicados em jornais, revistas e sites. Portanto, por serem<br />

textos <strong>de</strong> periódicos são efêmeros, pois aqueles publicados ONTEM não receberão a mesma<br />

atenção por parte do leitor AMANHÃ, nem daqui há <strong>de</strong>z anos;<br />

b) O cronista se alimenta dos acontecimentos diários;<br />

c) A crônica situa-se entre o JORNALISMO (por ser texto informativo) e a LITERATURA<br />

(por possuir um ‘toque próprio do autor’ que inclui em seu texto elementos como ficção,<br />

fantasia, crítica).<br />

d) Geralmente, é um texto curto e narrado em primeira pessoa, ou seja, o próprio<br />

escritor está “dialogando” com o leitor. Isso faz com que a crônica apresente uma visão<br />

totalmente pessoal <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado assunto;<br />

e) O autor expõe sua forma pessoal <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r os acontecimentos que o<br />

cercam;<br />

f) Apresenta linguagem simples, espontânea, situada entre a linguagem oral e literária.<br />

GÊNEROS TEXTUAIS<br />

Ativida<strong>de</strong>s<br />

Ativida<strong>de</strong>s<br />

Complementares<br />

Complementares<br />

1. Faça um levantamento dos aspectos que <strong>de</strong>finem os textos abaixo. Consi<strong>de</strong>re:<br />

- Vocabulário. Existe no seu texto palavras novas, estrangeiras, gírias, técnicas?<br />

- Grafia. Como é a ortografia do seu texto? De acordo com o padrão ou contém<br />

“erros”?<br />

- Estrutura da oração. As frases do seu texto são curtas ou longas? A extensão das<br />

frases é indiferente para o significado do texto ou modifica <strong>de</strong> algum modo a compreensão?<br />

- Concordância. Existem as formas consi<strong>de</strong>radas “erradas” <strong>de</strong> concordância verbal<br />

e nominal?<br />

- Destinatário. Para quem se dirige o texto? Qual o perfil social e cultural do leitor?<br />

Rico, pobre, mulher, homem, criança, adulto, idoso? Ou o texto se dirige a todo mundo<br />

indiscriminadamente? Como você sabe?<br />

- Aspecto gráfico. Como está a disposição em parágrafos, a disposição das linhas?<br />

Há palavras em itálico, em negrito, caixa alta, sublinhadas, com iniciais maiúsculas? O<br />

aspecto gráfico tem alguma função?<br />

- Origem. On<strong>de</strong> é mais provável encontrar este texto? Jornal, revista, anúncio, livro,<br />

livro didático?


- Intenção. Com que intenção o texto foi escrito?<br />

- Ida<strong>de</strong>. No texto que você analisa, é possível i<strong>de</strong>ntificar a época a que ele pertence?<br />

(Adaptado da obra <strong>de</strong> FARACO, Carlos Alberto. Prática <strong>de</strong> textos: para estudantes universitários.<br />

São Paulo: Ed. Vozes, 1992).<br />

- Xis veiz treis é iguar a nove! Qual é o valor di xis?<br />

- Ei, Chico! Vamo pescá?<br />

- Hum... Só se ocê disse quar qui é o valor <strong>de</strong> xis!<br />

(...)<br />

- Oi, seu Joaquim! Tem xis?<br />

- Oia, Zé! Eu num vendo <strong>de</strong>ssas coisas aqui na venda. Pru que ocê num vai numa<br />

bibrioteca? Ele lá é qui inten<strong>de</strong> di letra!<br />

(...)<br />

- A letra xis fica daquele lado!<br />

- I quanto qui é o valor <strong>de</strong>la?<br />

- Olha, nenhum dos nossos títulos está a venda. Por que você não vai a uma livraria?<br />

(...)<br />

- Xis!? Nunca ouvi falar disso! Por que não vai a uma lanchonete? Lá tem muitos Xis!<br />

X-salada, X-burguer...<br />

(...)<br />

- Chico, ocê só me fez andá feito loco. Num discubri o valor do danado do xis.<br />

- Num carece mais. A mãe me ajudô a resorvê o pobrema!<br />

- Quar que é o valor do Xis, afinar?<br />

- É treis! Pruque xis veiz treis é iguar a nove!<br />

- Bão... Agora qui ocê resorveu seu pobrema, vamo pescá. O rio <strong>de</strong>ve di ta cheio di<br />

pexe!<br />

- Aliás, Zé, pexe é cum xis ô cum ceagá?<br />

- Como ocê é chato... ô xato?<br />

LIBRA<br />

23 <strong>de</strong> setembro/22 <strong>de</strong> outubro<br />

A busca da beleza e do equilíbrio é marcante na personalida<strong>de</strong> das librianas.<br />

Agradáveis e charmosas, elas sempre conseguem seu intento. São ambiciosas e nunca<br />

<strong>de</strong>sistem. Neste mês, o Sol em conjunção astral com Netuno vai iluminar todas as ações<br />

das nascidas neste signo, ajudando-as no auto-conhecimento e a tomar <strong>de</strong>cisões mais<br />

corretas. Uma alerta: a posição lunar na primeira semana sugere que você não gaste à toa,<br />

economize e abra uma poupança.<br />

51


<strong>Leitura</strong> e<br />

<strong>Produção</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Texto</strong><br />

52<br />

S.Carlos<br />

Favor <strong>de</strong> comprar cera, lustra move, ajaque, e foco para a porta da sala<br />

que está queimado.<br />

A bassora <strong>de</strong> barre carçada quebrou o cabo. Na Samtana tem umas<br />

boa que eu já vi. A mais simpre atura mais tempo. Tem vitamina das pranta.<br />

CHUVA NO BREJO<br />

Olha como a chuva cai<br />

E molha a folha aqui na telha<br />

Faz um som assim<br />

Um barulhinho bom<br />

Faz um som assim<br />

Um barulhinho bom<br />

Água nova<br />

Vida veio ver-te<br />

Voa passarinho<br />

No teu canto canta<br />

Antiga cantiga<br />

No teu canto canta<br />

Antiga cantiga.<br />

NASCI ANTES DO TEMPO<br />

Tudo que criei e <strong>de</strong>fendi<br />

nunca <strong>de</strong>u certo.<br />

Nem foi aceito.<br />

E eu perguntava a mim mesma<br />

Por quê?<br />

Quando menina,<br />

ouvia dizer sem enten<strong>de</strong>r<br />

quando coisa boa ou ruim<br />

acontecia a alguém:<br />

Fulano nasceu antes do tempo,<br />

Guar<strong>de</strong>i.<br />

Tudo que criei, imaginei e <strong>de</strong>fendi<br />

nunca foi feito.<br />

E eu dizia como ouvia<br />

a moda <strong>de</strong> consolo:<br />

Nasci antes do tempo.<br />

Tião Marta.


Alguém me retrucou.<br />

Você nasceria sempre<br />

antes do seu tempo.<br />

Não entendi e disse Amém.<br />

ADMINISTRAR: V.t> 1. Exercer a administração <strong>de</strong> (negócios públicos ou<br />

particulares). 2. Dar a tomar, ministrar (sacramento, remédio). 3. Aplicar, conferir V. int. 4.<br />

Exercer as funções <strong>de</strong> administrador. * administrador adj. e s.m.<br />

CONTINHO<br />

Era uma vez um menino triste, magro e barrigudinho do sertão <strong>de</strong> Pernambuco.<br />

Na soalheira danada <strong>de</strong> meio-dia, ele estava sentado na poeira do caminho imaginando<br />

bobagem, quando passou um gordo vigário a cavalo:<br />

- Você aí, menino, para on<strong>de</strong> vai essa estrada?<br />

- Ela não vai não: nos é que vamos nela.<br />

- Engraçadinho duma figa! Como você se chama?<br />

Eu não me chamo não, os outros é que me chamam <strong>de</strong> Zé.<br />

CONTO<br />

1. O texto abaixo é um conto ou uma crônica?<br />

2.<br />

2.<br />

2.Retire <strong>de</strong>le os elementos da narrativa: espaço, tempo, personagens, foco narrativo<br />

e temática.<br />

3. 3. Escolha uma passagem do texto que mais lhe mobilizou, comente-a e justifique<br />

sua escolha.<br />

TEXTO 1<br />

A partida<br />

Osman Lins<br />

Hoje, revendo minhas atitu<strong>de</strong>s quando vim embora, reconheço que mu<strong>de</strong>i bastante.<br />

Verifico também que estava aflito e que havia um fundo <strong>de</strong> mágoa ou <strong>de</strong>sespero em<br />

minha impaciência. Eu queria <strong>de</strong>ixar minha casa, minha avó e seus cuidados. Estava<br />

farto <strong>de</strong> chegar a horas certas, <strong>de</strong> ouvir reclamações; <strong>de</strong> ser vigiado, contemplado, querido.<br />

Sim, também a afeição <strong>de</strong> minha avó incomodava-me. Era quase palpável, quase como<br />

um objeto, uma túnica, um paletó justo que eu não pu<strong>de</strong>sse <strong>de</strong>spir.Ela vivia a comprarme<br />

remédios, a censurar minha falta <strong>de</strong> modos, a olhar-me, a repetir conselhos que eu já<br />

sabia <strong>de</strong> cor. Era boa <strong>de</strong>mais, intoleravelmente boa e amorosa e justa.Na véspera da<br />

viagem, enquanto eu a ajudava a arrumar as coisas na maleta, pensava que no dia<br />

53


<strong>Leitura</strong> e<br />

<strong>Produção</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Texto</strong><br />

54<br />

seguinte estaria livre e imaginava o amplo mundo no qual iria <strong>de</strong>safogarme:<br />

passeios, domingos sem missa, trabalho em vez <strong>de</strong> livros, mulheres<br />

nas praias, caras novas. Como tudo era fascinante! Que viesse logo. Que as<br />

horas corressem e eu me encontrasse imediatamente na posse <strong>de</strong> todos<br />

esses bens que me aguardavam. Que as horas voassem, voassem! Percebi<br />

que minha avó não me olhava. A princípio, achei inexplicável que ela fizesse<br />

isso, pois costumava fitar-me, longamente, com uma ternura que<br />

incomodava. Tive raiva do que me parecia um capricho e, como represália,<br />

fui para a cama. Deixei a luz acesa. Sentia não sei que prazer em contar as vigas do teto,<br />

em olhar para a lâmpada. Desejava que nenhuma <strong>de</strong>ssas coisas me afetasse e irritavame<br />

por começar a enten<strong>de</strong>r que não conseguiria afastar-me <strong>de</strong>las sem emoção. Minha<br />

avó fechara a maleta e agora se movia, <strong>de</strong>vagar, calada, fiel ao seu hábito <strong>de</strong> fazer<br />

arrumações tardias. A quietu<strong>de</strong> da casa parecia triste e ficava mais nítida com os poucos<br />

ruídos aos quais me fixava: manso arrastar <strong>de</strong> chinelos, cuidadoso abrir e lento fechar <strong>de</strong><br />

gavetas, o tique-taque do relógio, tilintar <strong>de</strong> talheres, <strong>de</strong> xícaras. Por fim, ela veio ao meu<br />

quarto, curvou-se. Acordado? Apanhou o lençol e ia cobrir-me (gostava disto, ainda hoje<br />

o faz quando a visito); mas pretextei calor, beijei sua mão enrugada e, antes que ela<br />

saísse, <strong>de</strong>i-lhe as costas. Não consegui dormir. Continuava preso a outros rumores. E<br />

quando estes se esvaíam, indistintas imagens me acossavam. Edifícios imensos,<br />

opressivos, barulho <strong>de</strong> trens, luzes, tudo a afligir-me, persistente, <strong>de</strong>sagradável — imagens<br />

<strong>de</strong> febre. Sentei-me na cama, as têmporas batendo, o coração inchado, retendo uma<br />

alegria dolorosa, que mais parecia um anúncio <strong>de</strong> morte. As horas passavam, cantavam<br />

grilos, minha avó tossia e voltava-se no leito, as molas duras rangiam ao peso <strong>de</strong> seu<br />

corpo. A tosse passou,emu<strong>de</strong>ceram as molas; ficaram só os grilos e os relógios. Deiteime.<br />

Passava <strong>de</strong> meia-noite quando a velha cama gemeu: minha avó levantava-se. Abriu<br />

<strong>de</strong> leve a porta <strong>de</strong> seu quarto, sempre <strong>de</strong> leve entrou no meu, veio chegando e ficou <strong>de</strong> pé<br />

junto a mim. Com que finalida<strong>de</strong>? — perguntava eu. Cobrir-me ainda? Repetir-me<br />

conselhos? Ouvi-a então soluçar e quase fui sacudido por um acesso <strong>de</strong> raiva. Ela estava<br />

olhando para mim e chorando como se eu fosse um cadáver — pensei. Mas eu não me<br />

parecia em nada com um morto, senão no estar <strong>de</strong>itado. Estava vivo, bem vivo, não ia<br />

morrer. Sentia-me a ponto <strong>de</strong> gritar. Que me <strong>de</strong>ixasse em paz e fosse chorar longe, na<br />

sala, na cozinha, no quintal, mas longe <strong>de</strong> mim. Eu não estava morto. Afinal, ela beijoume<br />

a fronte e se afastou, abafando os soluços. Eu crispei as mãos nas gra<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ferro da<br />

cama, sobre as quais apoiei a testa ar<strong>de</strong>nte. E adormeci. Acor<strong>de</strong>i pela madrugada. A<br />

princípio com tranqüilida<strong>de</strong>, e logo com obstinação, quis novamente dormir. Inútil, o sono<br />

esgotara-se. Com precaução, acendi um fósforo: passava das três. Restavam-me,<br />

portanto, menos <strong>de</strong> duas horas, pois o trem chegaria às cinco. Veio-me então o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong><br />

não passar nem uma hora mais naquela casa. Partir, sem dizer nada, <strong>de</strong>ixar quanto antes<br />

minhas ca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> disciplina e <strong>de</strong> amor. Com receio <strong>de</strong> fazer barulho, dirigi-me à cozinha,<br />

lavei o rosto, os <strong>de</strong>ntes, penteei-me e, voltando ao meu quarto, vesti-me. Calcei os sapatos,<br />

sentei-me um instante à beira da cama. Minha avó continuava dormindo. Deveria fugir ou<br />

falar com ela? Ora, algumas palavras... Que me custava acordá-la, dizer-lhe a<strong>de</strong>us? Ela<br />

estava encolhida, pequenina, envolta numa coberta escura. Toquei-lhe no ombro, ela se<br />

moveu, <strong>de</strong>scobriu-se. Quis levantar-se e eu procurei <strong>de</strong>tê-la. Não era preciso, eu tomaria<br />

um café na estação. Esquecera <strong>de</strong> falar com um colega e, se fosse esperar, talvez não<br />

houvesse mais tempo. Ainda assim, levantou-se. Ralhava comigo por não tê-la <strong>de</strong>spertado<br />

antes, acusava-se <strong>de</strong> ter dormido muito. Tentava sorrir. Não sei por que motivo, retar<strong>de</strong>i<br />

ainda a partida. An<strong>de</strong>i pela casa, cabisbaixo, à procura <strong>de</strong> objetos imaginários enquanto<br />

ela me seguia, abrigada em sua coberta. Eu sabia que <strong>de</strong>sejava beijar-me, pren<strong>de</strong>r-se a<br />

mim, e à simples idéia <strong>de</strong>sses gestos, estremeci. Como seria se, na hora do a<strong>de</strong>us, ela


chorasse? Enfim, beijei sua mão, bati-lhe <strong>de</strong> leve na cabeça. Creio mesmo que lhe<br />

surpreendi um gesto <strong>de</strong> aproximação, <strong>de</strong>certo na esperança <strong>de</strong> um abraço final. Esquiveime,<br />

apanhei a maleta e, ao fazê-lo, lancei um rápido olhar para a mesa (cuidadosamente<br />

posta para dois, com a humil<strong>de</strong> louça dos gran<strong>de</strong>s dias e a velha toalha branca, bordada,<br />

que só se usava em nossos aniversários.<br />

CRÔNICA<br />

Leia o texto abaixo:<br />

Crônica publicada no jornal Folha <strong>de</strong> S. Paulo, em 28 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1991.<br />

É <strong>de</strong> puxar os olhos<br />

E o camarão se mexeu. O danado estava vivo! Posso parecer um pouco caipira, já<br />

tinha comido peixe cru em restaurante japonês, mas cru e vivo, nunca! Foi só pegar no<br />

bicho com os tais pauzinhos e vuupt, o camarão <strong>de</strong>u um salto <strong>de</strong> samurai <strong>de</strong> volta para o<br />

prato. E assim progredia a visita ao Japão... Descer no aeroporto <strong>de</strong> Narita leva à reflexão<br />

sobre o que incentiva milhares <strong>de</strong> nisseis a abandonarem o Brasil à procura <strong>de</strong> uma<br />

oportunida<strong>de</strong> no Japão. Logicamente, ganhar dinheiro verda<strong>de</strong>iro é uma razão. Em vez<br />

<strong>de</strong> trocarem o seu esforço por uma moeda-piada do tipo cruzeiro, cruzado ou cruz-credo,<br />

o conforto <strong>de</strong> botar alguns iens no banco e saber que ainda estará lá quando for verificar<br />

o extrato. Até aí tudo bem. Mas fico pensando se o <strong>de</strong>sespero é parte vital da <strong>de</strong>cisão e se<br />

os nossos nisseis sabem em que estão se metendo.<br />

Esta semana foi interessante aqui. A primeira-ministra da França, Edith “meninaveneno”<br />

Cresson, disse que os japoneses não sabem viver, que mais parecem umas<br />

formigas. O pessoalzinho daqui ficou uma vara. Passados alguns dias, bomba em cima<br />

<strong>de</strong> bomba com casos magistrais <strong>de</strong> corrupção nos mais altos níveis (ao leitor distraído<br />

reafirmo que estou em Tóquio e não em Brasília). Começou com o Marubeni, acusado <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>svios <strong>de</strong> propinas para políticos. Aí, foi a vez da Nomura, a maior corretora <strong>de</strong> bolsa <strong>de</strong><br />

valores do mundo, que andou <strong>de</strong>sviando dinheiro e dando propina para políticos. E, para<br />

finalizar a novela da semana, a Itoman vê os seus executivos saírem algemados por<br />

envolvimento em - pasmem! - <strong>de</strong>svio <strong>de</strong> fundos e propinas para políticos. E foram três<br />

casos totalmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes um do outro...<br />

Rumar para o Japão à procura do pote <strong>de</strong> ouro do fim do arco-íris é uma ingenuida<strong>de</strong>.<br />

O Japão é mo<strong>de</strong>rno, mas as suas tradições milenares <strong>de</strong>safiam qualquer análise ou<br />

compreensão superficial. É a meca da inovação, mas é também o país que mais copiou<br />

produtos na história industrial. Tem ares <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> mercado, mas é uma das nações<br />

mais protecionistas e paternais do globo. É lí<strong>de</strong>r em tecnologia em diversas áreas, mas<br />

só <strong>de</strong>ixa japoneses legítimos assumirem qualquer cargo <strong>de</strong> importância nas empresas.<br />

Fã do capitalismo livre, é mestre inigualável <strong>de</strong> intervenção estatal e poupança forçada.<br />

É nação orgulhosa <strong>de</strong> sua raça, mas os seus ídolos <strong>de</strong> comerciais não têm nem mesmo<br />

os olhos puxados, a exemplo <strong>de</strong> um comercial muito popular por aqui com o nosso “acerera<br />

A-i-roton”! Aos nisseis que pensam em vir para cá, cabe a mesma reflexão que vale para<br />

Nova Jersey ou Lisboa. Todas as nações têm muito a ensinar, mas também muito a<br />

apren<strong>de</strong>r. Nivelar as expectativas com os pés no chão fará com que nossos imigrantes<br />

voltem algum dia ao Brasil para ajudar a <strong>de</strong>satolar o nosso país com o que vivenciaram<br />

fora. É bom colocar tudo no prato para evitar, como no caso do meu camarão rebel<strong>de</strong>, que<br />

se acabe comendo cru...<br />

55


<strong>Leitura</strong> e<br />

<strong>Produção</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Texto</strong> Com base na crônica e na manchete do jornal acima, tente realizar as<br />

ativida<strong>de</strong>s a seguir:<br />

1. Quais são as idéias <strong>de</strong>fendidas pelo autor ao longo do texto? Tente fazer uma<br />

lista com essas idéias.<br />

2. 2. Será que você tem a mesma opinião sobre esse assunto? Faça uma lista com<br />

as suas idéias.<br />

3. 3. Em que parte do texto <strong>de</strong> Semler é mencionado o acontecimento que dá origem<br />

à sua crônica? No início? Ao longo do texto?<br />

56<br />

4.<br />

4.<br />

<strong>Texto</strong> extraído do livro <strong>de</strong> SEMLER, Ricardo. Embrulhando o Peixe -<br />

crônicas <strong>de</strong> um empresário do sanatório Brasil. 2. ed. São Paulo: Best Seller,<br />

1992. p. 58 - 59.<br />

4.Como o autor encerra sua crônica? Há alguma ligação entre a frase que encerra<br />

e a que inicia a crônica?<br />

5.<br />

5.<br />

6.<br />

6.<br />

5.O escritor estabeleceu alguma relação entre o Brasil e o fato ocorrido no Japão?<br />

6. Qual o “recado” central que o autor do texto dá? Existe, na crônica, alguma frase<br />

que sintetize essa idéia?<br />

Indicações <strong>de</strong> leitura...<br />

Lygia Fagun<strong>de</strong>s Telles é a maior contista<br />

brasileira viva. Desta vez, a indicação <strong>de</strong> leitura é<br />

ampla: vale a pena ler qualquer obra <strong>de</strong>sta autora.<br />

Especial <strong>de</strong>staque para Antes do Baile Ver<strong>de</strong>.<br />

Dezoito dos melhores contos <strong>de</strong> Lygia se encontram<br />

neste volume. Estes textos evocam um clima <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sencanto e dissipação. Quando tudo parece<br />

correr bem, <strong>de</strong>talhes agudos e sutis <strong>de</strong>smentem<br />

tal ilusão.


Leia o texto abaixo referenciado:<br />

Ativida<strong>de</strong><br />

Ativida<strong>de</strong><br />

Orientada<br />

Orientada<br />

Gravi<strong>de</strong>z na adolescência<br />

Dr. Nelson Vitiello<br />

A gravi<strong>de</strong>z da mulher jovem não é um problema exclusivo <strong>de</strong> nossos dias; ao analisar<br />

a história familiar, a maioria <strong>de</strong> nós po<strong>de</strong>rá constatar que até 2 ou 3 gerações os casamentos<br />

e gestações precoces eram comuns. Nossas avós casavam-se aos 15 ou 16 anos e<br />

começavam a procriar, nunca ocorrendo a ninguém daquela época que isso pu<strong>de</strong>sse ser<br />

um problema, pois essas gestações eram <strong>de</strong>sejadas. O que se tem constituído em<br />

preocupação, nos dias atuais, é o crescente número <strong>de</strong> gestações in<strong>de</strong>sejáveis e in<strong>de</strong>sejadas<br />

(ou talvez melhor dito “inoportunas”), surgidas como um “efeito colateral” do exercício mais<br />

ou menos <strong>de</strong>sorientado da sexualida<strong>de</strong> entre as adolescentes atuais que, pelas suas próprias<br />

características, na maioria das vezes ainda não são capazes <strong>de</strong> avaliar e <strong>de</strong> assumir os<br />

riscos e as conseqüências <strong>de</strong>ssa vida sexual ativa.<br />

O problema da gestação in<strong>de</strong>sejada entre adolescentes passou a se tornar importante<br />

a partir da década <strong>de</strong> 60. Nessa época, como resultado da revolução <strong>de</strong> costumes então<br />

ocorrida, houve maior liberalização do exercício da sexualida<strong>de</strong>, que resultou em aumento<br />

da freqüência <strong>de</strong> gestações in<strong>de</strong>sejáveis entre adolescentes.<br />

Dentre os inúmeros fatores que contribuíram para essa situação, os mais importantes<br />

sem dúvida têm sido o uso e abuso da sensualida<strong>de</strong> nos meios <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong> massa<br />

e as visíveis mudanças nos costumes e na constituição das famílias, conseqüentes à<br />

acelerada urbanização. Além disso, ocorreu também uma perda da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> controle<br />

sobre a sexualida<strong>de</strong> das jovens, pois o ambiente das gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s não mais permite<br />

que nelas funcionem os tradicionais meios sociais e familiares <strong>de</strong> controle.<br />

Tivemos assim nas últimas décadas um meio social que estimula os jovens<br />

(especialmente as mulheres adolescentes) ao início da vida sexual ativa, sem, no entanto<br />

prepará-los para o exercício consciente <strong>de</strong>ssa sexualida<strong>de</strong>. Como seria <strong>de</strong> se esperar,<br />

essa situação resultou num gran<strong>de</strong> aumento da freqüência <strong>de</strong> doenças sexualmente<br />

transmissíveis e <strong>de</strong> gestações in<strong>de</strong>sejadas.<br />

No Brasil, embora não existam estatísticas globais, dados do IBGE nos dão conta<br />

que ocorrem cerca <strong>de</strong> 600 mil partos adolescentes por ano, aos quais <strong>de</strong>vemos acrescentar<br />

no mínimo outras 500 mil gestações que terminam em abortamento provocado.<br />

Outra cruel faceta do problema é a do filho socialmente in<strong>de</strong>sejado. A ina<strong>de</strong>quação<br />

social <strong>de</strong>ssas crianças, muitas vezes abandonadas e mal amadas, é importante causa <strong>de</strong><br />

mortalida<strong>de</strong> infantil e <strong>de</strong> <strong>de</strong>linqüência juvenil.<br />

Do ponto <strong>de</strong> vista orgânico, as pesquisas mais recentes vêm mostrando que as<br />

complicações não são importantes, sendo os riscos, na verda<strong>de</strong>, muito mais psicológicos<br />

e sociais do que propriamente físicos. Tanto é assim que a gestação transcorre praticamente<br />

sem problemas, quando <strong>de</strong>sejada e em situação socialmente favorável. Gestantes<br />

adolescentes têm, por exemplo, maior freqüência <strong>de</strong> elevação da pressão arterial; esse<br />

quadro, no entanto, se a<strong>de</strong>quadamente assistido não leva a conseqüências sérias. Outros<br />

57


<strong>Leitura</strong> e<br />

<strong>Produção</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Texto</strong><br />

58<br />

problemas, como as anemias, surgem basicamente por ser mais difícil o<br />

acesso à assistência pré-natal. Essa mesma dificulda<strong>de</strong> contribui para que<br />

sejam mais freqüentes entre mães adolescentes os partos prematuros.<br />

Lembremos que uma vez instalada uma gestação in<strong>de</strong>sejada, a<br />

adolescente só tem três soluções possíveis, nenhuma <strong>de</strong>las satisfatória em<br />

todos os sentidos; abortamento, casamento <strong>de</strong> conveniência ou, se as<br />

anteriores não forem as eleitas, ser mãe solteira adolescente.<br />

O abortamento provocado, pelos riscos que traz, não é evi<strong>de</strong>ntemente<br />

uma opção <strong>de</strong>sejável; o casamento por conveniência, leva a freqüentes separações e,<br />

quando não, a um convívio infeliz; finalmente, ser mãe solteira adolescente tem imenso peso,<br />

num meio preconceituoso como é o nosso. Assim, nenhuma <strong>de</strong>ssas três soluções é a i<strong>de</strong>al,<br />

cada uma <strong>de</strong>las criando novos problemas.<br />

A solução, evi<strong>de</strong>ntemente, não está em reprimir a sexualida<strong>de</strong> dos adolescentes,<br />

mas sim em prepará-los para o seu exercício, introduzindo o uso <strong>de</strong> metodologia<br />

anticoncepcional em seus hábitos <strong>de</strong> comportamento. Em outras palavras, a solução só<br />

será possível com a instalação <strong>de</strong> programas coerentes e duradouros <strong>de</strong> educação sexual.<br />

Referência:<br />

VITELLO, Nelson. Gravi<strong>de</strong>z na adolescência. Pais & Teens, fev/mar/abr.1997. p.16.<br />

1 Etapa Etapa<br />

Após a leitura e interpretação do texto Gravi<strong>de</strong>z na adolescência, <strong>de</strong> Nelson Vitello,<br />

responda as seguintes questões:<br />

1.<br />

Quais as comparações feitas pelo autor entre a adolescente do passado e da<br />

contemporaneida<strong>de</strong>?<br />

2.<br />

3.<br />

Segundo o autor, quais as causas da gestação in<strong>de</strong>sejada?<br />

O autor utiliza dados do IBGE para argumentar através <strong>de</strong> dados objetivos. I<strong>de</strong>ntifique<br />

o ponto <strong>de</strong> vista do autor sobre o tema: Gravi<strong>de</strong>z na adolescência, e liste os argumentos<br />

usados por ele para sustentar tal posicionamento.<br />

4.<br />

O autor aponta três possíveis soluções para o problema. Reescreva-as e posicionese<br />

em relação a elas, ou seja, informe e justifique se você é a favor ou contra a cada uma<br />

<strong>de</strong>las.


2 Etapa Etapa<br />

Elabore um resumo do texto, utilizando as idéias centrais <strong>de</strong> cada parágrafo. Para<br />

isso, você <strong>de</strong>ve fazer primeiro uma leitura atenciosa.<br />

3 Etapa Etapa<br />

Produza uma crônica, conforme o tema indicado e as orientações abaixo:<br />

“TEMA: Gravi<strong>de</strong>z na adolescência: aborto, casamento<br />

por conveniência, mãe solteira. O que fazer quando nenhuma<br />

das soluções possíveis é a <strong>de</strong>sejada?<br />

”<br />

a) Responda as seguintes questões sobre a manchete, a fim <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar as<br />

informações obtidas por você:<br />

- Qual o tema a ser discutido?<br />

- Em que momento tal assunto acontece na socieda<strong>de</strong> ou na vida das pessoas?<br />

- On<strong>de</strong> este tipo <strong>de</strong> problema acontece?<br />

- Como acontece?<br />

- Quem se envolve neste tipo <strong>de</strong> acontecimento? Faça <strong>de</strong>scrição física e psicológica.<br />

- Por que acontece?<br />

- Você lembra <strong>de</strong> algum outro fato ocorrido com você ou com qualquer outra pessoa<br />

possível <strong>de</strong> ser relacionado com o fato da manchete?<br />

b) Complete as frases abaixo, para que você reflita e exponha seu ponto <strong>de</strong> vista<br />

sobre a manchete:<br />

“Quando penso nesse fato, a primeira idéia que me vem à mente...”;<br />

“Na minha opinião esse fato é...”;<br />

“Se eu estivesse nessa situação, eu...”;<br />

“Ao saber <strong>de</strong>sse fato eu me senti...”;<br />

“Sobre esse fato, as pessoas estão dizendo que...”;<br />

“A solução para isso...”;<br />

“Esse fato está relacionado com a minha realida<strong>de</strong>, pois...”.<br />

c) Organize suas idéias. Agora que você já formou opiniões sobre o acontecimento<br />

escolhido, é hora <strong>de</strong> escrever sua crônica.<br />

59


<strong>Leitura</strong> e<br />

<strong>Produção</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Texto</strong><br />

60<br />

LÍNGUA: sistema gramatical composto por estruturas mínimas<br />

<strong>de</strong>nominadas signos lingüísticos, pertencente a um grupo <strong>de</strong> indivíduos. Criação<br />

da socieda<strong>de</strong> que sofre evolução contínua<br />

LINGUAGEM: todo sistema <strong>de</strong> sinais que serve <strong>de</strong> meio a comunicação entre os<br />

indivíduos. É uma ativida<strong>de</strong> psíquica e social;<br />

IDIOMA: língua <strong>de</strong> um povo;<br />

Glossário<br />

Glossário<br />

VARIEDADE LINGÜÍSTICA: como a língua é um fenômeno social, não existe a língua<br />

unitária, mas uma diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> línguas que compõem a língua, <strong>de</strong>sta forma a varieda<strong>de</strong> é<br />

inerente a língua.<br />

GRAMÁTICA: estudo ou tratado dos fatos da linguagem falada e escrita e das leis<br />

que a regulam; livro que contém as regras e os princípios que regem o funcionamento <strong>de</strong><br />

uma língua;<br />

TEXTO:ocorrência lingüística falada ou escrita; unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> linguagem em uso;<br />

constrói-se na interação verbal; é uma unida<strong>de</strong> significativa constituída <strong>de</strong> estrutura<br />

formal.<br />

DISCURSO: a língua na execução individual.<br />

no ato da interação sócio-comunicativa.<br />

PALAVRA: som ou conjunto <strong>de</strong> sons articulados com uma significação;<br />

termo;vocábulo.<br />

LINGÜÍSTICA: ciência criada no século XX por Ferdinand <strong>de</strong> Saussure com o intuito<br />

<strong>de</strong> estudar a linguagem verbal humana, os signos lingüísticos e a estrutura da língua.


Referências<br />

Referências<br />

Bibliográficas<br />

Bibliográficas<br />

BARROS, Jayme. Encontros <strong>de</strong> Redação. São Paulo: Ed. Mo<strong>de</strong>rna, 1984.<br />

BRANDÃO, Helena H. Negamine. Teoria e prática da leitura. In: BRANDÃO, Helena H. Negamine. Apren<strong>de</strong>r<br />

e ensinar com textos didáticos e paradidáticos. São Paulo: Cortez Editora, 2001.<br />

BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua<br />

portuguesa/ SEF. – Brasília: MEC/SEF, 1998.<br />

CAMPEDELLI, Samira Youseff. <strong>Produção</strong> <strong>de</strong> texto e usos da linguagem: curso <strong>de</strong> redação. São Paulo: ed.<br />

Saraiva, 1999.<br />

CAPACITAÇÃO PERMANENTE EM SERVIÇO (CPS): língua portuguesa/ Programa <strong>de</strong> regularização do<br />

fluxo escolar 5ª a 8ª série – Salvador: UNEB, 2003.<br />

CEREJA, William Roberto. Gramática reflexiva: texto semântico e interação. São Paulo: Atual, 1999.<br />

CITELLI, Adilson. O texto argumentativo. São Paulo: Scipione, 1994.<br />

CUNHA, Celso. Nova gramática do português contemporâneo. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 1985.<br />

DIONÍSIO, Ângela Paiva (Org.). Gêneros textuais e ensino. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Lucerna, 2003.<br />

FARACO, Carlos Alberto. Prática <strong>de</strong> textos: para estudantes universitários. São Paulo: Vozes, 1992.<br />

FREIRE, Paulo. A importância do ato <strong>de</strong> ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Cortez, 2000.<br />

FOUCAMBERT, Jean. A leitura em questão. Porto Alegre: Artmed, 1994.<br />

GOODMAN, Kenneth S. O processo <strong>de</strong> leitura: consi<strong>de</strong>rações a respeito das línguas e <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

IN: FERREIRO, Emília; PALÁCIO, Margarita Gomes. O processo <strong>de</strong> leitura e escrita: novas perspectivas.<br />

Porto Alegre: Artes Médicas, 1990.<br />

ILARI, Rodolfo. Introdução ao estudo do léxico: brincando com palavras. São Paulo: Contexto, 2002.<br />

KOCH, Ingedore Villaça. O texto e a construção dos sentidos. São Paulo: Contexto, 2003.<br />

______; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A coerência textual. São Paulo: Contexto, 2001.<br />

LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. São Paulo: Ática, 2001.<br />

MOISÉS, Massaud. Dicionário <strong>de</strong> termos literários. São Paulo: Cultrix, 1995.<br />

SOLÉ, Isabel. Estratégias <strong>de</strong> <strong>Leitura</strong>. Porto Alegre: Artmed, 1998.<br />

VAL, Maria da Graça Costa. Redação e textualida<strong>de</strong>. São Paulo: Martins Fontes, 1994.<br />

VANOYE, Francis. Usos da linguagem: problemas e técnicas na produção oral e escrita. São Paulo:<br />

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VIANA, Antonio Carlos (Coord.). Roteiro <strong>de</strong> Redação: lendo e argumentando. São Paulo: Scipione, 1998.<br />

ZIRALDO. Ler é mais importante que estudar. Associação Nacional <strong>de</strong> Livrarias. São Paulo, <strong>de</strong>z/2001,<br />

ano2, nº. 6.<br />

61


<strong>Leitura</strong> e<br />

<strong>Produção</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Texto</strong><br />

62<br />

Anotações<br />

Anotações


Anotações<br />

Anotações<br />

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<strong>Leitura</strong> e<br />

<strong>Produção</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Texto</strong><br />

64<br />

FTC - EaD<br />

Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Tecnologia e Ciências - Educação a Distância<br />

Democratizando a Educação.<br />

www.<strong>ftc</strong>.br/<strong>ead</strong>

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