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A indústria da comida nunca produziu tanta tranqueira. Seu prato ...

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Maisena modifi-<br />

Frango. Água. ca<strong>da</strong>. So<strong>da</strong> para<br />

cozimento. Sal. Glicose. Ácido cítrico. Caldo de galinha.<br />

Fosfato de sódio. Antiespumante dimetilpolissiloxano.<br />

Óleo hidrogenado de soja com antioxi<strong>da</strong>nte<br />

TBHQ. Isso agregado a mais 26 ingredientes é o que<br />

conhecemos pelo nome de nugget. A receita é produto<br />

de um sistema que faz de lasanha congela<strong>da</strong> a<br />

tomates mais ou menos do mesmo jeito que se fabrinha<br />

é feita de milho e soja - é isso<br />

que ela come de ração. Metade <strong>da</strong><br />

área planta<strong>da</strong> no Brasil é domina<strong>da</strong><br />

pela soja, que aparece em<br />

70% dos alimentos processados.<br />

E um terço <strong>da</strong>s plantações americanas<br />

são lavouras de milho<br />

Isso acontece porque soja e milho<br />

produzem mais calorias que<br />

Ver<strong>da</strong>de<br />

FertilizaNte<br />

mata<br />

Mata peixes, não pessoas.<br />

Mas mata. Resíduos<br />

de fertilizante vão<br />

parar em rios, e <strong>da</strong>í<br />

para o mar. Lá eles fertilizam<br />

algas e elas crescem.<br />

Mas isso não é<br />

100<br />

ca<strong>da</strong><br />

quilos<br />

dE fErtilizantE<br />

químico EmitE<br />

540<br />

quilos<br />

dE co2 para<br />

sEr fabricado.<br />

1/3<strong>da</strong>s<br />

EmissõEs dE<br />

gasEs-<br />

Estufa<br />

vEm <strong>da</strong><br />

agropEcuária.<br />

cam canetas, ventiladores ou motos. É a agropecuá- a maioria <strong>da</strong>s plantas; são resis-<br />

bom: quando elas morria<br />

industrial. Ela começa nos combustíveis fósseis. tentes ao transporte e a anos de<br />

rem, sua decomposição<br />

Petróleo carvão ou, mais comum hoje, gás natural estocagem, entre outras vanta-<br />

rouba oxigênio <strong>da</strong> água.<br />

são a matéria-prima dos fertilizantes. E os fertilizantes<br />

são a matéria-prima de tudo o que você come<br />

hoje, seja alface, seja dois hambúrgueres, alface,<br />

queijo e molho especial – no pão com gergelim.<br />

Sem eles para anabolizar as plantações, não havegens<br />

competitivas.<br />

Mas qual é o problema de chegar<br />

a essa varie<strong>da</strong>de de comi<strong>da</strong> com<br />

apenas dois grãos? Os bois podem<br />

<strong>da</strong>r uma primeira resposta.<br />

E os peixes sufocam.<br />

São as chama<strong>da</strong>s zonas<br />

mortas. Existem quase<br />

400 delas nos mares.<br />

ria comi<strong>da</strong> para todo mundo. O problema é que, com No mundo desenvolvido, pra-<br />

eles, podemos ficar sem mundo. “Na porteira <strong>da</strong> faticamente to<strong>da</strong> a carne sai <strong>da</strong>s<br />

zen<strong>da</strong>, ain<strong>da</strong> antes do uso, um saco de 100 quilos de fazen<strong>da</strong>s de confinamento – gal-<br />

fertilizante químico já emitiu 4 vezes esse peso em pões onde os bois passam a vi<strong>da</strong><br />

CO2 para ser fabricado. Depois que aplicam no solo, praticamente empilhados uns nos outros, só engor<strong>da</strong>ndo. Nes-<br />

pelo menos 1 quilo <strong>da</strong>quele nitrogênio (elemento ses galpões, a comi<strong>da</strong> do boi não é capim, mas ração à base de<br />

principal do fertilizante) é liberado para o ar em for- milho e soja. O inconveniente é que ele não come grãos. Indusma<br />

de óxido nitroso, um gás quase 300 vezes pior trialmente falando, um boi é uma máquina que transforma ce-<br />

para o aquecimento global do que o CO2”, diz o agrôlulose de capim (algo que o nosso organismo não digere) em<br />

nomo Segundo Urquiaga, <strong>da</strong> Embrapa. Nessa toa<strong>da</strong>, proteína comestível – a carne dele. Mas capim é bem menos<br />

a agropecuária consegue emitir sozinha 33% dos calórico que milho e soja. Para ele crescer rápido e ir logo para<br />

gases-estufa do mundo, mais do que todos os carros, o corte, tem que ser ração mesmo. Só que o metabolismo do<br />

trens, navios e aviões juntos, que somam 14%. bicho pena para processar <strong>tanta</strong> comi<strong>da</strong> indigesta. A fermenta-<br />

Além disso, os fertilizantes deixam resíduos deção dos grãos no sistema digestivo dele pode causar um inchaço<br />

baixo <strong>da</strong> terra que chegam aos lençóis freáticos e do rúmen (o estômago do boi) que pressiona os pulmões e pode<br />

acabam no mar. Mas isso é pouco comparado ao que matar o animal. Para combater isso, os criadores enchem os bois<br />

a comi<strong>da</strong> moderna pode fazer ao seu corpo. Volte- de antibiótico: 70% dos antimicrobiais usados nos EUA são mismos<br />

ao nugget.<br />

turados às rações de animais. O problema é que isso cria superbactérias<br />

resistentes a antibióticos. É Darwin em ação: os anti-<br />

VoCÊ É feito<br />

de milHo<br />

e soJa<br />

bióticos nem sempre matam to<strong>da</strong>s as bactérias. Às vezes sobram<br />

algumas que, por mutação genética, nasceram imunes ao remédio.<br />

Sem a concorrência de outras bactérias, elas se reproduzem<br />

à vontade. Nasce uma cepa de micro-organismo mais resistente<br />

a qualquer antibiótico. Ela podem ser letal. Ain<strong>da</strong> mais se for<br />

parar na prateleira do supermercado.<br />

Os empanados de frango são um dos ícones <strong>da</strong> in- Foi o que aconteceu com uma varie<strong>da</strong>de agressiva de Eschedústria<br />

de alimentos, basea<strong>da</strong>, como qualquer ourichia coli. Em 2001, o garoto americano Kevin Kowalcyk, de 2<br />

tra, em mecanização, uniformização, produtivi<strong>da</strong>- anos de i<strong>da</strong>de, comeu um hambúrguer contaminado por essa<br />

de. Essas exigências levam a um fato curioso: há bactéria e morreu 12 dias depois. O caso <strong>produziu</strong> algo inusita-<br />

quase 40 ingredientes diferentes em um nugget, do: um recall de hambúrguer.<br />

mas 56% dele é milho.<br />

No Brasil isso não é um problema. Só 6% do nosso abate vem<br />

A maisena é farinha de amido de milho – o ácido de confinamentos, contra 99% nos EUA. Aqui os bois ficam sol-<br />

cítrico, a dextrose, a lecitina, tudo é feito com motos. Bom para eles, pior para as bactérias. Mas pior também para<br />

léculas desse grão. Ou com grãos de soja, depen- as florestas. Nossos pastos são formados à custa de desmatadendo<br />

do que estiver mais em conta no mercado de mento <strong>da</strong> Amazônia e do cerrado. E isso leva o Brasil ao posto de<br />

commodities agrícolas (pensando bem, até a gali- 5º maior emissor de CO2 do mundo. Quase 52% dos nossos<br />

Em 1940,<br />

0,5<br />

gastávamos<br />

caloria<br />

dE combustívEl<br />

fóssil para<br />

produzir 1<br />

caloria dE<br />

comi<strong>da</strong>, hojE<br />

gastamos<br />

20<br />

vEzEs<br />

mais.<br />

plantações<br />

e criações<br />

liberam mais<br />

co 2 que carros,<br />

navios, trens e<br />

aviões Juntos.

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