A indústria da comida nunca produziu tanta tranqueira. Seu prato ...
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NÍVEL DE MERCÚRIO<br />
Quanto mais alta a concentração, maior<br />
o perigo para quem come com frequência. *<br />
cui<strong>da</strong>do: até os peixes<br />
mais saudáveis podem<br />
estar contaminados.<br />
moderado alto MUITO alto<br />
Atum em lAtA<br />
BAcAlhAu<br />
Atum DE SuSHI<br />
ANCHOVA<br />
* Mesmo o consumo diário pode não trazer riscos. Mas, se alguns desses peixes formam a base <strong>da</strong> sua alimentação, vale<br />
conversar com um médico sobre os perigos. ** Os mais usados nos restaurantes japoneses são o atum-branco e atum-amarelo.<br />
O de lata costuma ser <strong>da</strong> espécie skipjack, menor (e menos suscetível ao mercúrio).<br />
**<br />
Cação<br />
Peixe-esPa<strong>da</strong><br />
a saúde”, diz a toxicologista Eloisa Cal<strong>da</strong>s, <strong>da</strong><br />
Universi<strong>da</strong>de de Brasília. O ponto, segundo<br />
ela, é evitar uma dieta monótona. Quanto<br />
mais varia<strong>da</strong> sua alimentação, menos chance<br />
você tem de comer o mesmo pestici<strong>da</strong>. E<br />
isso diminui o risco de intoxicação.<br />
Mais seguro ain<strong>da</strong> é comprar alimentos<br />
orgânicos. Eles não recebem veneno em nenhum<br />
momento, desde o plantio até a gôndola<br />
do supermercado. Nem veneno nem<br />
fertilizante químico. Então são mais saudáveis<br />
para o ambiente. E a quanti<strong>da</strong>de de nutrientes<br />
por centímetro cúbico é maior. O<br />
problema é que a produção <strong>da</strong> lavoura orgânica<br />
é, em média, 30% menor que a convencional<br />
– e os vegetais que saem dela acabam<br />
30% mais caros.<br />
Estudos mostram que, mesmo assim, <strong>da</strong>ria<br />
para alimentar o mundo só com orgânicos.<br />
Mas só se o consumo de carne diminuir.<br />
O que uma coisa tem a ver com a outra? É<br />
que boa parte do que plantamos é para alimentar<br />
animais de criação. Uma peça de picanha,<br />
por exemplo, exige 75 quilos de vegetais<br />
para ser produzi<strong>da</strong>. Só que o mundo está<br />
ca<strong>da</strong> vez mais carnívoro – a China, depois de<br />
ter virado a 2ª maior economia do mundo,<br />
passou a comer 25% de to<strong>da</strong> a carne do planeta.<br />
Hoje temos 20 bilhões de animais de<br />
criação, e a perspectiva <strong>da</strong> ONU é que esse<br />
número vá dobrar até 2050.<br />
Até existe um tipo de carne que não depende<br />
na<strong>da</strong> <strong>da</strong>s plantações: os peixes selvagens.<br />
Mas eles não são a alternativa. Primeiro,<br />
porque os mais nobres estão<br />
acabando. Algumas espécies de atum e de<br />
bacalhau não devem escapar <strong>da</strong> extinção.<br />
Segundo, porque existe o perigo <strong>da</strong> contaminação<br />
por mercúrio, pelo menos para<br />
quem come certos peixes com frequência.<br />
Funciona assim: embora o metal possa ser<br />
encontrado em todos os ambientes, é no<br />
meio aquático que mora o perigo. Graças à<br />
ação de bactérias, sobretudo em zonas alagáveis,<br />
o mercúrio é transformado em sua<br />
forma orgânica e mais perigosa: o metilmercúrio.<br />
Nessa versão, ele penetra nas algas. As<br />
plantas aquáticas têm baixo teor de mercúrio,<br />
mas os peixes herbívoros (que se alimentam<br />
dessas plantas) têm um pouco mais.<br />
E os pre<strong>da</strong>dores (que comem os herbívoros)<br />
acabam com um índice bem maior. Quanto<br />
mais perto do topo <strong>da</strong> cadeia alimentar, mais<br />
Produção andrea vilas boas agradecimento roberto simões casa, spicy, util plast, art mix<br />
contaminado tende a ser o peixe.<br />
Não significa que todo peixe<br />
grande esteja contaminado. Se<br />
ele vive numa região livre de<br />
mercúrio, o que é comum, não<br />
tem problema. Mas claro: quem<br />
vê cara não vê contaminação.<br />
Você só tem como saber o estado<br />
dos peixes que comeu se acabar<br />
intoxicado – os sintomas são<br />
tremores, vertigem, per<strong>da</strong> de<br />
memória, problemas digestivos<br />
e renais, entre outros. Não, não<br />
precisa parar de comer esses<br />
peixes, só ter alguma moderação<br />
(veja no quadro). Mas o risco<br />
não deve diminuir – o mercúrio<br />
é um resíduo <strong>da</strong>s termelétricas.<br />
E a maior parte do mundo ain<strong>da</strong><br />
é movi<strong>da</strong> a carvão...<br />
Peixes contaminados, overdose<br />
de gordura e açúcar, fertilizantes<br />
que dependem de combustíveis<br />
fósseis e destroem<br />
ecossistemas... Estamos no fim<br />
<strong>da</strong> linha, então? Sim.<br />
Mas já estivemos antes. Ontem<br />
mesmo era 1960, o mundo<br />
tinha 3 bilhões de habitantes e<br />
uma certeza: estávamos à beira<br />
de um colapso. Mais um pouco e não teria comi<strong>da</strong> para todo<br />
mundo. Mas não. Chegamos a 6,5 bilhões de pessoas graças justamente<br />
à globalização dos fertilizantes e <strong>da</strong> comi<strong>da</strong> industrializa<strong>da</strong><br />
– a produção em massa barateou os alimentos. Esse boom<br />
alimentício ficou conhecido como Revolução Verde. Agora,<br />
precisamos de mais revoluções. Uma, a <strong>da</strong> conscientização sobre<br />
os perigos do fast food e <strong>da</strong> comi<strong>da</strong> processa<strong>da</strong>, já começou.<br />
E a ciência tem feito seu papel também, pesquisando alternativas<br />
que vão de plantas geneticamente modifica<strong>da</strong>s que dispensam<br />
fertilizantes e pestici<strong>da</strong>s até carne de laboratório – um<br />
meio de entregar proteínas sem o intermédio de animais. Seria<br />
uma espécie de segun<strong>da</strong> Revolução Industrial <strong>da</strong> comi<strong>da</strong>. Não<br />
sabemos como nem quando ela vai acontecer. Mas há uma certeza:<br />
não podemos ser bestas de esperar pelo colapso.<br />
Para saber mais<br />
O Dilema do Onívoro<br />
Michael Pollan, Intrínseca, 2007.<br />
Uma História Comestível <strong>da</strong> Humani<strong>da</strong>de<br />
Tom Stan<strong>da</strong>ge, Zahar, 2010.<br />
dê sua oPiNião<br />
Participe do fórum sobre esta reportagem em<br />
super.abril.com.br/forum.<br />
Mito<br />
salmão Com<br />
CoraNte<br />
O salmão é um peixe<br />
branco por natureza.<br />
O rosa vem <strong>da</strong> astaxantina,<br />
um pigmento que<br />
existe em algas microscópicas.<br />
Primeiro o camarão<br />
come essas algas,<br />
depois o salmão come o<br />
camarão e fica rosado.<br />
Só que os peixes criados<br />
em tanques não comem<br />
camarão. Deveriam ficar<br />
brancos a vi<strong>da</strong> to<strong>da</strong>.<br />
Mas não. Eles são rosa<br />
também (menos, mas<br />
são). Corante? Não exatamente:<br />
o que fazem é<br />
colocar astaxantina na<br />
ração dos peixes – ela<br />
pode ser sintética<br />
ou vir <strong>da</strong>quelas<br />
microalgas mesmo.