Papéis de Parede do seculo XIX - Hotel Casa da Ínsua
Papéis de Parede do seculo XIX - Hotel Casa da Ínsua
Papéis de Parede do seculo XIX - Hotel Casa da Ínsua
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
<strong>Casa</strong> <strong>da</strong> <strong>Ínsua</strong> – <strong>Hotel</strong> <strong>de</strong> Charme<br />
<strong>Papéis</strong> <strong>de</strong> Pare<strong>de</strong> <strong>do</strong> século <strong>XIX</strong> na <strong>Casa</strong> <strong>da</strong> <strong>Ínsua</strong><br />
Se as pare<strong>de</strong>s <strong>da</strong> <strong>Casa</strong> <strong>da</strong> <strong>Ínsua</strong> falassem, certamente teriam muitas histórias para nos contar. No entanto, alguns<br />
<strong>do</strong>s seus segre<strong>do</strong>s estão mesmo à vista <strong>do</strong>s nossos olhos, através <strong>do</strong>s papéis <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> que revestem algumas <strong>da</strong>s<br />
salas emblemáticas <strong>da</strong> casa, como os papéis <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> pinta<strong>do</strong>s à mão com vistas panorâmicas, <strong>do</strong> princípio <strong>do</strong><br />
século <strong>XIX</strong>, oriun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> França, que marcam a Sala <strong>do</strong>s Azulejos e a Salinha Zuber, ou ain<strong>da</strong> nos vários painéis em<br />
papel <strong>de</strong> arroz oriental, pinta<strong>do</strong> à mão, que <strong>de</strong>coram a Sala Chinesa.<br />
Neste Roteiro vamos cingir-nos a uma breve abor<strong>da</strong>gem aos papéis <strong>de</strong> Zuber.<br />
1. Sala <strong>do</strong>s Azulejos (Recepção)<br />
"A Dama <strong>do</strong> Lago" (Les Vues d'Écosse, ou La Dame du Lac)<br />
Os papéis <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> existentes na Sala <strong>do</strong>s Azulejos, foram realiza<strong>do</strong>s pela <strong>Casa</strong> Zuber et Cie, <strong>de</strong> Rixheim, em<br />
Mulhouse e <strong>da</strong>tam <strong>de</strong> 1827. Os papéis <strong>de</strong> Pare<strong>de</strong> Panorâmicos <strong>da</strong> <strong>Casa</strong> Zuber são consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s Património<br />
Nacional em França. A autoria <strong>de</strong>stes papéis é atribuí<strong>da</strong> Julien-Michel Gué, ou Jean-Michel Gué, (1789-1843), e<br />
foram inspira<strong>do</strong>s no poema narrativo <strong>de</strong> Sir Walter Scott “The Lady oh The Lake” (A Dama <strong>do</strong> Lago), edita<strong>do</strong> em<br />
1810, e nas gravuras executa<strong>da</strong>s para este poema numa edição posterior. Ficaram também conheci<strong>do</strong>s por “Les<br />
Vues d’Ecosse” (paisagens <strong>da</strong> Escócia), pois eram assim referi<strong>do</strong>s nos catálogos <strong>da</strong> casa Zuber. A colecção<br />
existente na <strong>Casa</strong> <strong>da</strong> <strong>Ínsua</strong> aparece sempre como referência em to<strong>da</strong>s as publicações sobre este tema, apesar <strong>de</strong><br />
não estar completa, faltan<strong>do</strong> pequenas ban<strong>da</strong>s <strong>do</strong> meio e <strong>do</strong> final <strong>de</strong>ste papel <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> panorâmico. O interesse<br />
histórico por este tipo <strong>de</strong> papéis <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> mereceu já vários estu<strong>do</strong>s internacionais, nomea<strong>da</strong>mente um<br />
<strong>do</strong>utoramento na Alemanha, em 2004, on<strong>de</strong> a <strong>Casa</strong> <strong>da</strong> <strong>Ínsua</strong> aparece referi<strong>da</strong> como um <strong>do</strong>s 5 lugares no mun<strong>do</strong><br />
(Itália, Suécia, Suíça e Alemanha) on<strong>de</strong> ain<strong>da</strong> existem estes painéis com as cenas <strong>de</strong> “La Dame du Lac”.<br />
O primeiro prospecto publicitário <strong>de</strong>stes papéis surgiu em 1825, mas a primeira edição só aconteceu em 1827.<br />
A panorâmica é composta por 32 ban<strong>da</strong>s <strong>de</strong> papel, organiza<strong>da</strong>s <strong>da</strong> direita para a esquer<strong>da</strong> e numera<strong>da</strong>s. Impressa<br />
em Cameo, em termos cromáticos é <strong>de</strong>signa<strong>da</strong> por Grisaille, pois a sua cor principal é o cinzento. A pintura manual<br />
<strong>de</strong>ste papel, realiza<strong>da</strong> pela técnica <strong>de</strong> blocos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, reúne uma mistura com as seguintes cores: caxemira,<br />
vicunha, ver<strong>de</strong> oliva, cinza, preto <strong>de</strong> carbono e branco.<br />
Com a morte <strong>do</strong> seu principal cria<strong>do</strong>r, Pierre Antoine Mongin, em 1825, a fábrica Zuber per<strong>de</strong>u a sua alma artística<br />
<strong>de</strong> quase duas déca<strong>da</strong>s, e recorreu ao cenógrafo, Julian-Michel Gué (1789-1843), <strong>de</strong> que infelizmente não existe<br />
nenhum vestígio nos arquivos <strong>do</strong> Museu <strong>do</strong> Papel <strong>de</strong> Pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> Rixheim.<br />
No entanto, o que se sabe <strong>de</strong>ste pintor explica a escolha fácil <strong>de</strong> Jean Zuber. Gué já tinha realiza<strong>do</strong> trabalhos<br />
reconheci<strong>do</strong>s, como o "Panorama Dramatique" (1821-23), um <strong>do</strong>s panoramas que então florescia em Paris, e<br />
também fez cenários para o melodrama <strong>do</strong> Teatro <strong>de</strong> Gaîté: como o "Meurtrier" ("assassino"), 1822, que recupera<br />
uma litografia <strong>de</strong> Engelmann, on<strong>de</strong> mostra uma ruína gótica, <strong>de</strong> uma forma muito ao estilo "Trouba<strong>do</strong>ur", quase que<br />
inspira<strong>do</strong> no pórtico Norte <strong>da</strong> catedral <strong>de</strong> Chartres: através <strong>da</strong>s aberturas em arco, o artista multiplica o fun<strong>do</strong> em<br />
planos sucessivos sobre as montanhas íngremes em fun<strong>do</strong>.<br />
Gué produziu apenas um papel panorâmico para Zuber: "A Dama <strong>do</strong> Lago", ou "Paisagens <strong>da</strong> Escócia", a partir <strong>da</strong><br />
obra <strong>de</strong> Sir Walter Scott, um tema que estaria perfeitamente a<strong>da</strong>pta<strong>do</strong> ao seu talento. Mas a violência romântica que<br />
manifesta, muito longe <strong>do</strong> classicismo <strong>de</strong> Mongin, talvez tenha si<strong>do</strong> a razão porque rapi<strong>da</strong>mente foi substituí<strong>do</strong> pelo<br />
pintor Jean Julien Deltil (1791-1863), com um romantismo menos agressivo que melhor se enquadrava na arte <strong>de</strong><br />
Mongin.<br />
Descrição: (Catálogo <strong>de</strong> Zuber et Cie (1825/26), com base nos versos <strong>de</strong> Sir Walter Scott, “La Dame du Lac”)<br />
Ban<strong>da</strong>s 1, 2, 3 e 4 - Ro<strong>de</strong>rick reúne os seus guerreiros. Juramento <strong>do</strong> fogo cruza<strong>do</strong>. O velho eremita Brian, num<br />
frenesim puritano, após ter sacrifica<strong>do</strong> um bo<strong>de</strong> branco, excita a fúria <strong>do</strong>s montanhistas com as mais terríveis<br />
maldições e brandin<strong>do</strong> uma cruz, ou uma tocha, feita com <strong>do</strong>is ramos <strong>de</strong> pinheiro. Ro<strong>de</strong>rick está ao seu la<strong>do</strong>,<br />
apoia<strong>do</strong> na sua espa<strong>da</strong>. Os guerreiros apressam-se a prometer lutar. Velhos, mulheres e crianças partilham <strong>do</strong> seu<br />
entusiasmo. A cena tem lugar entre as ruínas <strong>de</strong> uma abadia gótica, (o pintor escolheu as <strong>do</strong> Priora<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
Lancaster). No fun<strong>do</strong> po<strong>de</strong>m ver-se altas montanhas e um castelo (Keep of Warkworth), construí<strong>do</strong> sobre roche<strong>do</strong>s.<br />
A violenta tempesta<strong>de</strong> que se forma, aumenta o interesse <strong>da</strong> cena, através <strong>de</strong> efeitos <strong>de</strong> iluminação, completamente<br />
inova<strong>do</strong>res neste tipo <strong>de</strong> papel <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> pinta<strong>do</strong>.<br />
<strong>Casa</strong> <strong>da</strong> <strong>Ínsua</strong> – <strong>Hotel</strong> <strong>de</strong> Charme – Penalva <strong>do</strong> Castelo www.casa<strong>da</strong>insua.pt
Ban<strong>da</strong>s 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14 e 15 - Gran<strong>de</strong> caça aos vea<strong>do</strong>s (Ban<strong>da</strong>s 5, 6 e 7, vistas <strong>de</strong> um caminho nas<br />
montanhas <strong>do</strong> con<strong>da</strong><strong>do</strong> <strong>de</strong> Perth). O Rei <strong>da</strong> Escócia, Jacob V, entre os senhores e cortesãos, que compõem o<br />
séquito, monta<strong>do</strong> um cavalo branco, persegue <strong>do</strong>is vea<strong>do</strong>s à sua frente, que está prestes a alcançar.<br />
Ban<strong>da</strong>s 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23 e 24 – Vista geral sobre o lago Taye, ilha <strong>de</strong> Staffa e o lago Katherine, com as<br />
belas montanhas e colinas (Ben Lomond, Ben Local) que os cercam. Em segun<strong>do</strong> plano, estão os barcos <strong>de</strong><br />
transporte <strong>de</strong> passageiros, que visitam as grutas e as rochas <strong>de</strong> basalto, que são vistas no meio <strong>do</strong> lago. Em<br />
primeiro plano, a bela Helena, na sua aparência frágil, aparece ao rei Jacob V, forman<strong>do</strong> um episódio interessante e<br />
harmonioso, com to<strong>do</strong>s os efeitos <strong>da</strong> paisagem e <strong>da</strong> magia cria<strong>da</strong> pelas cores <strong>do</strong> Sol, que se põe por trás <strong>do</strong> enorme<br />
roche<strong>do</strong> Ben Lomond.<br />
Ban<strong>da</strong>s 25 e 26 - O velho bar<strong>do</strong> Allan, companheiro inseparável <strong>da</strong> família <strong>de</strong> Douglas, canta a glória <strong>de</strong>sta ilustre<br />
casa, fazen<strong>do</strong>-se acompanhar <strong>da</strong> sua harpa; uma jovem rapariga e um jovem alpinista ouvem-no com emoção. O<br />
som <strong>de</strong> uma que<strong>da</strong> <strong>de</strong> água, que fica próximo <strong>de</strong>le, mistura-se com os trina<strong>do</strong>s <strong>da</strong> sua voz, e um riacho que corre ao<br />
la<strong>do</strong> <strong>de</strong>les, dá a este lugar um aspecto romântico. O cume <strong>da</strong> montanha é coroa<strong>do</strong> por uma floresta <strong>de</strong> pinheiros.<br />
Ban<strong>da</strong>s 27, 28, 29 e 30 - Episódio <strong>de</strong> Blanche Devan. Num local selvagem, entre rochas, Blanche apercebe-se <strong>da</strong><br />
presença <strong>do</strong> Rei Jacob. Revela-lhe a perfídia <strong>do</strong> seu guia, com palavras proféticas. O seu ar perdi<strong>do</strong>, os seus<br />
cabelos <strong>de</strong>sgrenha<strong>do</strong>s fazem gelar o Rei Jacob V, com uma espécie <strong>de</strong> terror que o fez levar a mão à sua espa<strong>da</strong>.<br />
Ele tenta perceber, através <strong>da</strong> cara <strong>do</strong> seu guia, o que pensar. (A paisagem <strong>da</strong>s ban<strong>da</strong>s 24 até 28 são retira<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s<br />
margens <strong>do</strong> Lac Lomond).<br />
Ban<strong>da</strong>s 31 e 32 - Em primeiro plano, um pastor indica a um montanhista arma<strong>do</strong>, o local on<strong>de</strong> o Clan d’Alpine está<br />
reuni<strong>do</strong>. Para além <strong>do</strong> seu rebanho, ergue-se uma fonte gótica e o horizonte é coroa<strong>do</strong> pelo castelo <strong>de</strong> Bamborough.<br />
Um lambril e um friso ao estilo gótico adicionais, foram executa<strong>do</strong>s para servir como enquadramento para a<br />
paisagem, forman<strong>do</strong> assim uma <strong>de</strong>coração a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> à paisagem e que po<strong>de</strong> ser a<strong>da</strong>pta<strong>do</strong> aos apartamentos [com<br />
pare<strong>de</strong>] mais eleva<strong>do</strong>s.<br />
Sinopse: La Dame du Lac<br />
(La Dame du Lac baseou-se no verso narrativo “The Lady of The Lke” <strong>de</strong> Sir Walter Scott)<br />
A Dama <strong>do</strong> Lago é um verso narrativo composto em seis cantos, ca<strong>da</strong> um representan<strong>do</strong> os acontecimentos <strong>de</strong> um<br />
dia. A narrativa <strong>do</strong> poema refere-se à luta entre o rei Jacob V e o po<strong>de</strong>roso clã Douglas. O rei baniu to<strong>da</strong> a família <strong>do</strong><br />
seu reino, incluin<strong>do</strong> James <strong>de</strong> Douglas, o Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bothwell, que tinha si<strong>do</strong> seu protector durante a sua juventu<strong>de</strong>.<br />
O Con<strong>de</strong> e sua filha Ellen refugiaram-se com Ro<strong>de</strong>rick Dhu no seu castelo, numa ilha em Loch Katrine. No início <strong>do</strong><br />
poema um misterioso cavaleiro chama<strong>do</strong> James Fitz-James chega ao castelo e é-lhe concedi<strong>da</strong> hospitali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Durante sua breve estadia, ele apaixona-se por Ellen, mas encontra rivais para as suas afeições. No próprio<br />
Ro<strong>de</strong>rick e em Malcolm Graeme, um jovem cavaleiro leal ao rei, mas movi<strong>do</strong> por simpatia com a situação <strong>da</strong> família<br />
Douglas mantém-se com eles. É a Malcolm que Ellen prefere. Na eminência <strong>de</strong> um ataque <strong>da</strong>s forças reais, por ter<br />
<strong>da</strong><strong>do</strong> abrigo aos Douglas, Ro<strong>de</strong>rick reúne o seu clã. Douglas, porém, não está disposto a impor o <strong>de</strong>sastre sobre o<br />
seu anfitrião, e parte para a corte real em Stirling, <strong>de</strong>cidi<strong>do</strong> a ren<strong>de</strong>r-se. Fitz-James regressa e oferece-se para levar<br />
Ellen para um local seguro, mas é informa<strong>do</strong> <strong>de</strong> que ela ama outro. Mesmo assim, ele oferece-lhe um anel que,<br />
segun<strong>do</strong> ele, lhe permitirá obter qualquer favor <strong>do</strong> rei. Durante a viajem para a Stirling, Fitz-James encontra Ro<strong>de</strong>rick<br />
e envolve-se numa luta com ele. Nessa luta, Ro<strong>de</strong>rick é mortalmente feri<strong>do</strong> e leva<strong>do</strong> para Stirling como prisioneiro.<br />
Ellen apresenta-se em tribunal e, mostran<strong>do</strong> o anel, implora o perdão <strong>de</strong> seu pai. Ela <strong>de</strong>scobre então que Fitz-James<br />
não é outro senão o próprio rei. O Rei e Douglas reconciliam-se através <strong>de</strong> sua intervenção, e Ellen e Malcolm<br />
casam-se no fim. (in http://www.walterscott.lib.ed.ac.uk/in<strong>de</strong>x.html)<br />
2. Salinha Zuber<br />
“O Vale <strong>do</strong> Ró<strong>da</strong>no” ou “cenas <strong>de</strong> caça e <strong>do</strong> porto” (“Le Vallée du Rhône” ou “Scènes <strong>de</strong> Chasse et du Port”)<br />
Os papéis <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> existentes na chama<strong>da</strong> Salinha Zuber, que <strong>de</strong>verão ser <strong>da</strong> mesma altura <strong>do</strong>s <strong>da</strong> Sala <strong>do</strong>s<br />
Azulejos, são conheci<strong>do</strong>s por “La Vallée du Rhône” ou “Cenas <strong>de</strong> Caça e <strong>do</strong> Porto”, embora sejam títulos<br />
provisórios, pois ain<strong>da</strong> se <strong>de</strong>sconhece a sua autoria e fabricante. Um <strong>do</strong>s painéis correspon<strong>de</strong>nte a esta cena foi<br />
coloca<strong>do</strong> na Sala <strong>do</strong>s Azulejos (na pare<strong>de</strong> por trás <strong>da</strong> mesa <strong>da</strong> recepção), não se sabe se por engano ou<br />
<strong>de</strong>libera<strong>da</strong>mente, por já não terem espaço nas pare<strong>de</strong>s <strong>da</strong> Salinha Zuber. O que dificultou a leitura <strong>da</strong> sequência<br />
<strong>de</strong>stes painéis que, ain<strong>da</strong> por cima, foram coloca<strong>do</strong>s fora <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m na Salinha Zuber. Trata-se <strong>de</strong> um papel <strong>de</strong><br />
pare<strong>de</strong> panorâmico muito raro. Actualmente conhece-se um único exemplar completo, perto <strong>de</strong> Kumla, na Suécia.<br />
Só a <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> 1833, inscrita num <strong>do</strong>s far<strong>do</strong>s <strong>do</strong> porto <strong>de</strong> Marselha é uma certeza. Tecnicamente, está muito próximo<br />
<strong>da</strong> panorâmica "Paisagens Napoleónicas", <strong>da</strong>ta<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1827. Encontra-se associa<strong>da</strong> a outros papéis <strong>de</strong> pare<strong>de</strong><br />
grisaille existentes em Sancey (França): “Les Plaisirs <strong>de</strong> la Ville et <strong>de</strong> la Campagne” e, na <strong>Casa</strong> <strong>da</strong> <strong>Ínsua</strong>: “Vistas <strong>da</strong><br />
Escócia” <strong>de</strong> Zuber. Este papel <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> panorâmico é ain<strong>da</strong> pouco conheci<strong>do</strong> e surge apenas cita<strong>do</strong> na lista<br />
complementar <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> edição (1998) <strong>do</strong> livro <strong>de</strong> referência sobre os papéis <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> panorâmicos, edita<strong>do</strong> por<br />
Odile Nouvel (“Les Papier Peint Panoramique”).<br />
<strong>Casa</strong> <strong>da</strong> <strong>Ínsua</strong> – <strong>Hotel</strong> <strong>de</strong> Charme – Penalva <strong>do</strong> Castelo www.casa<strong>da</strong>insua.pt
Aqui aparece sob o nome <strong>de</strong> "Cenas <strong>de</strong> Caça e <strong>do</strong> Porto” mas, nessa altura, ain<strong>da</strong> não se conhecia o fim <strong>da</strong> cena<br />
panorâmica, com o rio a correr nas montanhas (<strong>da</strong> Suíça?) e a criança a pescar. Após esta <strong>de</strong>scoberta, os estu<strong>do</strong>s<br />
passaram a ver o to<strong>do</strong> como uma representação <strong>do</strong> curso <strong>do</strong> rio Ró<strong>da</strong>no, <strong>da</strong> sua nascente na Suíça para o porto <strong>de</strong><br />
Marselha. Uma hipótese ain<strong>da</strong> por confirmar, enquanto não se encontrarem informações sobre o seu ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro<br />
nome e origem.<br />
O conjunto <strong>do</strong>s painéis existentes na <strong>Casa</strong> <strong>da</strong> <strong>Ínsua</strong> está quase completo, só não incluin<strong>do</strong> as quatro ban<strong>da</strong>s iniciais<br />
<strong>do</strong> Porto <strong>de</strong> Marselha, tornan<strong>do</strong>-o um <strong>do</strong>s mais completos conheci<strong>do</strong>s.<br />
Além disso, o facto <strong>de</strong> um painel estar em combinação na outra sala com vistas <strong>da</strong> Escócia <strong>de</strong> Zuber (também uma<br />
rara panorâmica) confirma a hipótese <strong>da</strong> <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> 1833, que está inscrita num <strong>do</strong>s far<strong>do</strong>s na cena <strong>do</strong> porto <strong>de</strong><br />
Marselha, na ban<strong>da</strong> n º 6, e faz estimar a <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> instalação na <strong>Casa</strong> <strong>da</strong> <strong>Ínsua</strong> entre 1830-1840. A I<strong>de</strong>ntificação <strong>da</strong>s<br />
paisagens em fun<strong>do</strong> (ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s e montanhas) permitirá fazer evoluir esta notícia e vali<strong>da</strong>r ou não a hipótese <strong>de</strong> uma<br />
representação <strong>do</strong> Vale <strong>do</strong> Ró<strong>da</strong>no.<br />
Descrição:<br />
Ban<strong>da</strong>s 1-8: Vista <strong>do</strong> porto <strong>de</strong> Marselha. O <strong>de</strong>senha<strong>do</strong>r incorpora muito <strong>do</strong> quadro <strong>de</strong> Clau<strong>de</strong>-Joseph Vernet (1714 -<br />
1789), “L'Intérieur du port <strong>de</strong> Marseille, vu du pavillon <strong>de</strong> l'Horloge du Parc, effet du matin” (“O interior <strong>do</strong> Porto<br />
<strong>de</strong> Marselha, visto <strong>do</strong> pavilhão <strong>do</strong> Relógio <strong>do</strong> Parque, efeito <strong>da</strong> manhã”), <strong>da</strong>ta<strong>do</strong> <strong>de</strong> 1754, actualizan<strong>do</strong> os trajes <strong>do</strong>s<br />
personagens, excepto <strong>do</strong>s "comerciantes <strong>do</strong> Levante", utiliza<strong>do</strong>s em varia<strong>do</strong>s <strong>do</strong>mínios <strong>da</strong>s artes <strong>de</strong>corativas.<br />
Ban<strong>da</strong>s 9-12: Cena <strong>de</strong> caça nos pântanos (Camargue?);<br />
Ban<strong>da</strong>s 13-15: Cena <strong>de</strong> caça a <strong>de</strong>correr;<br />
Ban<strong>da</strong>s 16-20: Carruagem e caça<strong>do</strong>r a cavalo, uma ci<strong>da</strong><strong>de</strong> ao fun<strong>do</strong>;<br />
Ban<strong>da</strong>s 21-26: Cena <strong>de</strong> Caça a <strong>de</strong>correr e paragem <strong>do</strong>s caça<strong>do</strong>res, uma ci<strong>da</strong><strong>de</strong> ao fun<strong>do</strong>;<br />
Ban<strong>da</strong>s 27-32: Cena <strong>de</strong> Campo e <strong>de</strong> pesca ao longo <strong>de</strong> um rio, montanha ao fun<strong>do</strong>, talvez a nascente <strong>do</strong> Ró<strong>da</strong>no,<br />
na Suíça.<br />
Exemplares <strong>de</strong>ste papel <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> subsistem ain<strong>da</strong> actualmente nos seguintes locais: Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, França,<br />
Suécia e em Portugal - <strong>Casa</strong> <strong>da</strong> <strong>Ínsua</strong>.<br />
Durante a presidência <strong>de</strong> John F. Kennedy, a primeira-<strong>da</strong>ma, Jacqueline Kennedy, por recomen<strong>da</strong>ção <strong>do</strong> historia<strong>do</strong>r<br />
Henry Francis du Pont, comprou uma cópia antiga <strong>do</strong> papel <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> panorâmico “Vue <strong>de</strong> l'Amérique du Nord”,<br />
(feito em 1834) que colocou na Sala <strong>de</strong> Recepção <strong>do</strong>s Diplomatas, na <strong>Casa</strong> Branca, on<strong>de</strong> ain<strong>da</strong> hoje po<strong>de</strong> ser<br />
admira<strong>do</strong>. Este papel <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> estivera nas pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> um salão <strong>de</strong> beleza, no perío<strong>do</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Jones House,<br />
até 1961, altura em que a casa foi <strong>de</strong>moli<strong>da</strong> para se transformar numa mercearia. Antes <strong>da</strong> <strong>de</strong>molição o papel <strong>de</strong><br />
pare<strong>de</strong> foi salvo e vendi<strong>do</strong> para a <strong>Casa</strong> Branca. (http://www.mulhouseum.uha.fr)<br />
<strong>Casa</strong> <strong>da</strong> <strong>Ínsua</strong> – Sala <strong>do</strong>s Azulejos<br />
(pormenores)<br />
Catálogo Z. Zuber (excerto – ban<strong>da</strong>s 31 a 7)<br />
<strong>Casa</strong> <strong>da</strong> <strong>Ínsua</strong> – <strong>Hotel</strong> <strong>de</strong> Charme – Penalva <strong>do</strong> Castelo www.casa<strong>da</strong>insua.pt
Apêndice<br />
Zuber e os papéis <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> panorâmicos<br />
O papel <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> panorâmico fazia parte <strong>da</strong> <strong>de</strong>coração <strong>da</strong>s casas <strong>do</strong> século <strong>XIX</strong>: apareceu no final <strong>do</strong> século XVIII,<br />
e parece que a França foi o único país, pelo menos até o final <strong>do</strong> século <strong>XIX</strong>, que produziu papéis <strong>de</strong> pare<strong>de</strong><br />
panorâmicos. Estima-se que chegaram aos cem, o número <strong>de</strong> papéis <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> panorâmicos publica<strong>do</strong>s durante<br />
esse século, e este número <strong>de</strong>ve ter em conta as diversas variantes. Dois fabricantes <strong>do</strong>minavam a produção e<br />
comercialização, especialmente durante o Segun<strong>do</strong> Império, Dufour e Zuber et Cie, instala<strong>da</strong> Rixheim, perto <strong>do</strong><br />
centro industrial <strong>de</strong> Mulhouse <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1797.<br />
Para i<strong>de</strong>ntificar estas panorâmicas, os fabricantes <strong>do</strong> século <strong>XIX</strong>, falavam <strong>de</strong> "paisagem", o que era mais a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong><br />
à sua reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, uma vez que estes vastos papéis impressos em preto e branco ou a cores, em ban<strong>da</strong>s <strong>de</strong> papel até<br />
um total <strong>de</strong> 32, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que ca<strong>da</strong> uma se unisse com a parte anterior, forman<strong>do</strong> uma paisagem que po<strong>de</strong>ria atingir<br />
até 16 metros <strong>de</strong> comprimento.<br />
Estas paisagens eram <strong>de</strong>stina<strong>da</strong>s à <strong>de</strong>coração <strong>de</strong> quartos mas sobretu<strong>do</strong> <strong>da</strong>s salas <strong>de</strong> estar. Eram cola<strong>da</strong>s<br />
directamente nas pare<strong>de</strong>s ou, com mais frequência, através <strong>de</strong> um pano grosso. As duas extremi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>veriam<br />
unir-se <strong>de</strong> forma a completarem-se, excepto no caso <strong>da</strong>s “Vistas <strong>da</strong> Suíça”, o primeiro papel <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> panorâmico<br />
cria<strong>do</strong> por Zuber.<br />
Em relação Zuber, o mais antigo registo sobre os papéis panorâmicos surge numa carta, <strong>da</strong>ta<strong>da</strong> <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> Setembro<br />
<strong>de</strong> 1802, quan<strong>do</strong> Jean Zuber escreveu ao pintor Pierre Antoine Mongin: "Nós temos, há vários anos, a intenção <strong>de</strong><br />
executar uma paisagem colori<strong>da</strong>, <strong>da</strong> mesma forma que você <strong>de</strong>screve e queríamos seleccionar vistas <strong>da</strong> Suíça, a<br />
fim <strong>de</strong> <strong>da</strong>r à paisagem um interesse mais geral.”<br />
A escolha <strong>de</strong> Zuber insere-se quase sobre o <strong>de</strong>sconheci<strong>do</strong>, mas consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> os resulta<strong>do</strong>s, esta escolha revelouse<br />
sábia.<br />
Em Setembro <strong>de</strong> 1802, Pierre Antoine Mongin fez várias ofertas a Jean Zuber. Não se sabem os <strong>de</strong>talhes, mas a<br />
resposta cita<strong>da</strong> anteriormente revela que ambos estavam em sintonia, e Jean Zuber pe<strong>de</strong> ao pintor, uma ban<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />
papel <strong>de</strong> teste. Assim, começou uma longa colaboração, juntamente com uma gran<strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> entre os <strong>do</strong>is<br />
homens. A última panorâmica que Mongin produziu para Zuber foi em 1825, antes <strong>de</strong> morrer, em Versalhes, em<br />
1827.<br />
Ao contrário <strong>de</strong> Dufour, mais orienta<strong>do</strong> pelo neo-classicismo <strong>do</strong> tempo, Zuber produziu uma arte <strong>de</strong> evasão, com<br />
base em extensas paisagens idílicas, <strong>de</strong> um classicismo sereno, que muito contribuiu para o sucesso <strong>da</strong> pintura <strong>de</strong><br />
“paisagens históricas”, que se afirmavam nos Salões <strong>do</strong> Império, chegan<strong>do</strong> a obter um prémio em Roma, em 1816.<br />
Depois <strong>de</strong> Mongin e Gué, foi a vez <strong>do</strong> pintor Julien Deltil (1791-1863) trabalhar para Zuber e, até 1839, projectou<br />
cinco papéis <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> cénicos, um <strong>de</strong>les famoso até hoje: “Vues d’Amerique du Nord”. Mongin, Gué, Deltil eram<br />
provenientes <strong>de</strong> Paris. Contrariamente, a última geração <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhistas que trabalharam para Zuber, como Georges<br />
Zipellus (1808-1890), Eugène Ehrmann (1804-1896) e Joseph Fuchs (1814-1888) vinham <strong>da</strong> Alsácia.<br />
Embora os <strong>do</strong>is primeiros tivessem ti<strong>do</strong> aprendizagem nas Beaux-Arts, em Paris, eram principalmente profissionais<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>senho industrial, que trabalharam para diversas empresas têxteis e <strong>de</strong> papel <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>. Eles pertenciam à<br />
mesma geração e a sua formação centrava-se na flor. As panorâmicas <strong>de</strong> então eliminaram completamente as<br />
personagens, para se <strong>de</strong>dicar exclusivamente à representação <strong>de</strong> uma natureza exuberante, muitas vezes exótica.<br />
O perío<strong>do</strong> final foi <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> em 1861, pelo pintor e <strong>de</strong>cora<strong>do</strong>r Victor Potterlet, colabora<strong>do</strong>r <strong>de</strong> várias fábricas <strong>de</strong> papel<br />
<strong>de</strong> pare<strong>de</strong>: o "Jardim" em épocas diferentes, chama<strong>do</strong>s <strong>de</strong> "chinês" ou "japonês" (mais chinês <strong>do</strong> que japonês)<br />
reflecte um renascimento <strong>do</strong> gosto para o Extremo Oriente, durante o Segun<strong>do</strong> Império.<br />
Os valores pagos aos artistas não são fáceis <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar: Mongin chegou a receber 400 francos por um mês <strong>de</strong><br />
trabalho, mas a partir <strong>da</strong>s “Paisagens <strong>da</strong> Itália”, passou a reivindicar a ven<strong>da</strong> por uma percentagem <strong>de</strong>sconheci<strong>da</strong>.<br />
Deltil pediu 5 000 francos pelas “Paisagens <strong>do</strong> Brasil” e uma percentagem sobre as primeiras mil colecções vendi<strong>da</strong>s<br />
e pediu 4 000 francos pelas “Paisagens <strong>da</strong> América <strong>do</strong> Norte”. Um projecto <strong>de</strong> contrato com ele, <strong>da</strong>ta<strong>do</strong> <strong>de</strong> 1835 e<br />
preserva<strong>do</strong> em Rixheim, estabelece que Deltil receberia 2 000 francos por ano para 4 meses <strong>de</strong> trabalho. Sabe-se<br />
também que os <strong>de</strong>senhos <strong>da</strong>s “Zones Terrestres” terão custa<strong>do</strong> cerca <strong>de</strong> 5 000 francos.<br />
Através <strong>do</strong>s artistas, que sucessivamente trabalharam para Zuber, com estilos diferentes, po<strong>de</strong>mos classificar a<br />
produção <strong>da</strong> fábrica em três fases principais: a paisagem clássica, com Mongin, a sua variante com menos<br />
personagens convencionais, em Deltil, e finalmente o esplen<strong>do</strong>r <strong>da</strong> natureza com os artistas alsacianos. E os temas<br />
escolhi<strong>do</strong>s reflectem com maior precisão estas fases.<br />
Estes temas foram sempre objecto <strong>de</strong> longas discussões entre a fábrica e os artistas, cujos interesses teriam que<br />
coincidir. A correspondência abun<strong>da</strong>nte confirma isto mesmo. O artista tentava impor temas <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com seu<br />
génio, como por exemplo no caso <strong>da</strong> “L’Arcadia”, <strong>de</strong> Mongin.<br />
A fábrica, por sua vez, tinha que ter em conta tanto os requisitos técnicos <strong>da</strong> execução mas também os imperativos<br />
comerciais, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a enfrentar a concorrência. Em contraparti<strong>da</strong> e em resposta à procura <strong>de</strong> materiais mais<br />
actuais, Zuber fez, sobre o fun<strong>do</strong> <strong>de</strong> paisagens já publica<strong>da</strong>s, cenas mais ao gosto <strong>do</strong> momento e pinta<strong>do</strong>s à mão.<br />
<strong>Casa</strong> <strong>da</strong> <strong>Ínsua</strong> – <strong>Hotel</strong> <strong>de</strong> Charme – Penalva <strong>do</strong> Castelo www.casa<strong>da</strong>insua.pt
Como por exemplo, em 1853, publicou sobre o fun<strong>do</strong> <strong>da</strong>s “Paisagens <strong>da</strong> América <strong>do</strong> Norte”, “A guerra <strong>de</strong><br />
in<strong>de</strong>pendência <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s”, que só foi impresso em 1927. Panorâmica que ain<strong>da</strong> hoje é publica<strong>da</strong>.<br />
Para escon<strong>de</strong>r o que po<strong>de</strong>ria parecer incongruente, a poeira subia em nuvens sob as patas <strong>do</strong>s cavalos tal como o<br />
fumo que saía <strong>da</strong> boca <strong>da</strong>r armas <strong>de</strong> fogo. Essas variantes pinta<strong>da</strong>s à mão, foram feitas por Lemaire, em Metz, e por<br />
Beauchat.<br />
Para li<strong>da</strong>r com temas tão diversos como “L’Hindustan” e “L’Arcadia”, os cria<strong>do</strong>res <strong>da</strong>s panorâmicas tinham que se<br />
<strong>do</strong>cumentar e usar as orientações que a fábrica lhes impunha.<br />
De facto, parece que lhes foi solicita<strong>do</strong> controlo sobre a inspiração, <strong>da</strong> composição <strong>de</strong>sses gran<strong>de</strong>s conjuntos,<br />
porque a fábrica se encarregaria <strong>de</strong> lhes fornecer imagens que <strong>de</strong>veriam combinar habilmente, o que só po<strong>de</strong>ria ser<br />
feito por um paisagista experiente.<br />
Imprimir em blocos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira exigia necessariamente um trabalho <strong>de</strong> nivelamento, que apresentava mais<br />
dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s quan<strong>do</strong> se tratava <strong>de</strong> apresentar uma superfície on<strong>de</strong> os tons evoluíam gradualmente, quan<strong>do</strong> existia<br />
um jogo <strong>de</strong> sombras.<br />
Além disso, os elementos <strong>de</strong>masia<strong>do</strong> finos resultavam mal nas gravuras, o que obrigava a imprimir alguma força no<br />
<strong>de</strong>senho. E o problema <strong>de</strong> um certo tipo <strong>de</strong> cores e opções cromáticas também era objecto <strong>de</strong> muita<br />
correspondência entra a fábrica e os <strong>de</strong>senha<strong>do</strong>res. Estes, para <strong>da</strong>r brilho às suas composições, eram tenta<strong>do</strong>s a<br />
usar um número <strong>de</strong> cores mais eleva<strong>do</strong>, ao contrário, a fábrica, por razões <strong>de</strong> economia, <strong>da</strong> gravura e <strong>da</strong> impressão,<br />
sugere uma gama limita<strong>da</strong> <strong>de</strong> cores. Entre estes <strong>do</strong>is extremos, o acor<strong>do</strong> é feito e Deltil po<strong>de</strong> escrever: "Eu vou usar<br />
na execução <strong>da</strong> paisagem to<strong>da</strong> a economia que a minha experiência me pu<strong>de</strong>r indicar... Eu prometo-vos que não<br />
haverá uma única cor <strong>de</strong>snecessária” (29 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1829, sobre “Paisagens <strong>do</strong> Brasil).<br />
A partir <strong>da</strong> maqueta <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> panorama era feita a colocação sobre a ma<strong>de</strong>ira: esta etapa permitia fazer o corte <strong>do</strong>s<br />
blocos com o <strong>de</strong>senho a imprimir um em ca<strong>da</strong> um. Era um processo lento, difícil, que po<strong>de</strong>ria trair a i<strong>de</strong>ia <strong>do</strong> cria<strong>do</strong>r.<br />
Em segui<strong>da</strong>, vinha o longo processo <strong>da</strong>s gravuras. Exemplos reuni<strong>do</strong>s nos “livros <strong>de</strong> gravuras”, conserva<strong>do</strong>s <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
1824, dão uma pequena i<strong>de</strong>ia: gravar os 1 693 blocos <strong>da</strong>s “Paisagens <strong>do</strong> Brasil”, <strong>de</strong>morou 7 meses a cerca <strong>de</strong> vinte<br />
entalha<strong>do</strong>res. Acontecia muitas vezes este trabalho ser superior a um ano, tanto que muitas vezes se imprimiam as<br />
primeiras cenas, embora os blocos <strong>da</strong>s cenas seguintes ain<strong>da</strong> nem estivessem feitos.<br />
O bloco <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira servia para imprimir a cor no papel e era um colorista que tinha a pesa<strong>da</strong> tarefa <strong>de</strong> preparar a<br />
gama <strong>de</strong> cores e conseguir a sua harmonia. Ele trabalhava a têmpera: uma "base” feita <strong>de</strong> branco <strong>de</strong> Champagne e<br />
cola animal que era colori<strong>da</strong> com pigmentos varia<strong>do</strong>s, vegetais, animais ou minerais. O Branco Champagne <strong>da</strong>va à<br />
impressão uma espessura significativa que a tornava mais viva. A fábrica <strong>de</strong> Zuber sempre foi conheci<strong>da</strong> pela<br />
perfeição <strong>da</strong>s cores: uma intensa pesquisa, a procura <strong>do</strong>s químicos mais experientes <strong>da</strong> época, aju<strong>da</strong>ram a criar a<br />
cor <strong>de</strong> alta quali<strong>da</strong><strong>de</strong> que aguentasse bem a luz.<br />
É <strong>de</strong> admirar o esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conservação <strong>da</strong>s paisagens cria<strong>da</strong>s por Zuber ain<strong>da</strong> nos dias <strong>de</strong> hoje. Parametrizar um<br />
gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> cores não era para qualquer um. J. Zuber contava que durante a realização <strong>de</strong> “L’Hindustan”, o<br />
seu colorista, Dollfus ficava <strong>de</strong> tal forma "perturba<strong>do</strong> e excita<strong>do</strong> que enlouqueceu em poucos dias". A necessi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> um fornecimento constante <strong>de</strong> papel <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong>, rapi<strong>da</strong>mente se tornou imperativo para Jean Zuber, que com<br />
este propósito comprou o moinho em Roppentzwiller, em 1804.<br />
É ali que realiza, em 1829, o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> papel contínuo. A partir <strong>de</strong>ssa <strong>da</strong>ta,<br />
as panorâmicas passaram a ser impressas sobre este novo tipo <strong>de</strong> papel - processo que <strong>de</strong>pois foi segui<strong>do</strong> pelos<br />
outros fabricantes.<br />
Anteriormente, as cenas eram forma<strong>da</strong>s por ban<strong>da</strong>s cola<strong>da</strong>s entre si e que se uniam nos <strong>do</strong>is extremos. Antes <strong>de</strong><br />
imprimir em papel, era necessário cobrir o papel com uma cama<strong>da</strong> <strong>de</strong> cor para criar o fun<strong>do</strong>.<br />
Para as impressões cénicas, com excepção <strong>da</strong>s cenas "chinesas" e <strong>do</strong> "Jardim Japonês", o fun<strong>do</strong> era um céu azul.<br />
A operação foi bem <strong>de</strong>scrita por Zuber: "O rolo <strong>de</strong> papel é estendi<strong>do</strong> sobre uma mesa compri<strong>da</strong> (...) Dois<br />
trabalha<strong>do</strong>res e um assistente realizam a manobra que exige gran<strong>de</strong> agili<strong>da</strong><strong>de</strong>. O primeiro, barra a cor sobre o<br />
papel, o aprendiz muni<strong>do</strong> <strong>de</strong> duas escovas quadra<strong>da</strong>s, esten<strong>de</strong> a cor o melhor que conseguir e, por trás <strong>de</strong>le, o<br />
segun<strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r, com duas escovas re<strong>do</strong>n<strong>da</strong>s gran<strong>de</strong>s com cer<strong>da</strong>s longas, alisa a massa, que se reforça<br />
gradualmente durante este trabalho”.<br />
Em Rixheim, a operação era mais complexa, porque o céu era feito em <strong>de</strong>gradé, bege, por baixo <strong>da</strong> impressão <strong>do</strong><br />
céu azul. Aplicava-se aqui o méto<strong>do</strong> <strong>do</strong> arco-íris, <strong>de</strong>scoberto em 1819, por Michel Spoerlin, cunha<strong>do</strong> <strong>de</strong> J. Zuber, em<br />
1819. A cor aplica<strong>da</strong> com um pincel sobre o papel vinha <strong>de</strong> um tanque, on<strong>de</strong>, através <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> godés, era<br />
pinta<strong>do</strong> em <strong>de</strong>gra<strong>da</strong>dé. Os céus <strong>de</strong>senha<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Zuber são <strong>de</strong> uma beleza mágica. E era sobre este fun<strong>do</strong> que ele<br />
imprimia os motivos. O impressor pegava em ca<strong>da</strong> bloco passava-o na ban<strong>de</strong>ja com a cor e <strong>de</strong>pois colocava-o no<br />
papel, cui<strong>da</strong><strong>do</strong>samente e <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a indicação <strong>do</strong>s pinos <strong>de</strong> alinhamento, coloca<strong>do</strong>s no papel para o efeito.<br />
Ele então baixava a alavanca para pressionar o bloco e transferir a cor para o papel.<br />
No século <strong>XIX</strong>, os jovens aprendizes, muitas vezes filhos <strong>do</strong> impressor, colocavam a cor no tanque e <strong>de</strong>pois<br />
saltavam sobre a alavanca. Era um trabalho moroso. Para colecções <strong>de</strong> 150 cópias (a regra no século <strong>XIX</strong> para a<br />
impressão), utilizavam-se 1 500 blocos, o que implicava um total <strong>de</strong> 225 000 movimentos! Certamente, era<br />
necessário um atelier inteiro para realizar o trabalho.<br />
<strong>Casa</strong> <strong>da</strong> <strong>Ínsua</strong> – <strong>Hotel</strong> <strong>de</strong> Charme – Penalva <strong>do</strong> Castelo www.casa<strong>da</strong>insua.pt
Des<strong>de</strong> a primeira i<strong>de</strong>ia sobre um papel <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> panorâmico, <strong>de</strong>corriam entre 18 meses e 2 anos até ao momento<br />
<strong>da</strong> conclusão <strong>da</strong> sua impressão.<br />
Através <strong>de</strong> uma nota manuscrita, <strong>de</strong>stina<strong>da</strong> a calcular o preço <strong>de</strong> retoma <strong>do</strong> papel “Les Zones”, conhece-se hoje<br />
qual o custo <strong>de</strong>stas operações sucessivas.<br />
A referi<strong>da</strong> nota tem regista<strong>da</strong>s as seguintes verbas relativas às principais operações: Desenho e litografia - 5 000<br />
francos / Colocação sobre a ma<strong>de</strong>ira - 2 400 francos / Gravura <strong>de</strong> 2 050 blocos - 5 300 francos / Ma<strong>de</strong>ira - 1 230<br />
francos / Valor <strong>do</strong> imobiliza<strong>do</strong> até ao momento <strong>da</strong> ven<strong>da</strong> 670 francos / Soma Total - 14 600 francos.<br />
Por sua vez, a impressão <strong>da</strong>s colecções <strong>de</strong> 150 cópias, equivalia a 54 francos por Colecção.<br />
Infelizmente, não se sabe o preço <strong>de</strong> ven<strong>da</strong> <strong>de</strong>stes papéis panorâmicos, em 1855, mas em comparação com outros<br />
preços <strong>de</strong> retoma, que figuram em inventários próximos <strong>do</strong> ano <strong>de</strong> fabrico, e através <strong>do</strong>s preços <strong>de</strong> ven<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />
origem, po<strong>de</strong>-se, sem muito risco <strong>de</strong> erro, avançar com um preço <strong>de</strong> ven<strong>da</strong> <strong>da</strong> or<strong>de</strong>m <strong>do</strong>s 100 francos.<br />
Neste caso, seria preciso ven<strong>de</strong>r um mínimo <strong>de</strong> 318 colecções para amortizar o investimento, ou seja, pouco mais<br />
<strong>de</strong> duas tiragens.<br />
Para o primeiro papel panorâmico “Paisagens <strong>da</strong> Suíça”, Jean Zuber lançou uma subscrição para cobrir o nível <strong>de</strong><br />
investimento, que consi<strong>de</strong>rou exagera<strong>do</strong>, <strong>de</strong> 24 000 francos. As primeiras 160 colecções foram vendi<strong>da</strong>s antes<br />
mesmo <strong>de</strong> serem concluí<strong>da</strong>s, mas a fórmula não foi mais repeti<strong>da</strong>.<br />
Geralmente, estes papéis panorâmicos chegavam às lojas ao <strong>do</strong>bro <strong>do</strong> preço <strong>de</strong> fábrica, mas a quem estavam eles<br />
<strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s? Ain<strong>da</strong> se conhece mal este merca<strong>do</strong>, apesar <strong>da</strong> existência <strong>de</strong> arquivos importantes. C. Lynn tem<br />
estu<strong>da</strong><strong>do</strong> o merca<strong>do</strong> <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, gran<strong>de</strong> fã <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> produto, se julgarmos pelos exemplares que foram<br />
preserva<strong>do</strong>s para até hoje. Segun<strong>do</strong> os seus estu<strong>do</strong>s, a comercialização para os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s era mais rápi<strong>da</strong><br />
que para a Europa.<br />
Estes papéis <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> panorâmicos aparecem logo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os anos 20 <strong>do</strong> século <strong>XIX</strong>, nos concessionários<br />
especializa<strong>do</strong>s, em to<strong>da</strong>s as gran<strong>de</strong>s ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s, em segui<strong>da</strong>, <strong>do</strong> Norte ao sul <strong>da</strong> costa leste, e representam uma<br />
parcela significativa <strong>de</strong> artigos importa<strong>do</strong>s, pois os fabricantes locais conseguiam produzir padrões <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />
mas não tão elabora<strong>do</strong>s como estes.<br />
Os números, embora muito parciais, são impressionantes: eram centenas <strong>de</strong> colecções que to<strong>do</strong>s os anos<br />
atravessavam o Atlântico! O merca<strong>do</strong> germânico e o <strong>da</strong> Europa Central parece ter si<strong>do</strong> os veículos <strong>de</strong> comunicação.<br />
O museu <strong>de</strong> papel <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> Kassel (Kassel Tapetenmuseum), na Alemanha, conserva ain<strong>da</strong> um gran<strong>de</strong> número<br />
<strong>de</strong> exemplares.<br />
As investigações ain<strong>da</strong> por publicar <strong>de</strong> Ingmar Tunan<strong>de</strong>r, na Suécia, revelam a presença <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> cem papéis<br />
panorâmicos antigos neste país, to<strong>do</strong>s coloca<strong>do</strong>s durante a primeira meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> século <strong>XIX</strong>, e Zuber é amplamente<br />
representa<strong>do</strong>. A sua loja em Hamburgo abastecia o merca<strong>do</strong> escandinavo.<br />
Em França, a mo<strong>da</strong> é mais sensível <strong>do</strong> que noutros lugares e muitos foram arranca<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s pare<strong>de</strong>s. Balzac<br />
consi<strong>de</strong>rava-as "invenções grotescas”.<br />
O merca<strong>do</strong> <strong>do</strong> Mediterrâneo, por sua vez, parece ter si<strong>do</strong> mais resistente a este produto. Não cobriam as pare<strong>de</strong>s,<br />
antes pintavam-nas por necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> fresco. Mas estas são apenas algumas impressões rápi<strong>da</strong>s que um estu<strong>do</strong><br />
global <strong>de</strong>ve esclarecer ou rever.<br />
E on<strong>de</strong> está actualmente esta arte? No caso <strong>de</strong> Zuber, uma parte <strong>da</strong>s paisagens antigas ain<strong>da</strong> são hoje impressas<br />
usan<strong>do</strong> as placas originais.<br />
(http://www.mulhouseum.uha.fr)<br />
<strong>Casa</strong> <strong>da</strong> <strong>Ínsua</strong> – <strong>Hotel</strong> <strong>de</strong> Charme – Penalva <strong>do</strong> Castelo www.casa<strong>da</strong>insua.pt