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A criança xavante na história da educação indígena - histedbr

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A CRIANÇA XAVANTE NA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO INDÍGENA<br />

Marcelo N. Melchior – Mestrando em Educação – Universi<strong>da</strong>de Católica Dom Bosco.<br />

Drº Antonio Jacó Brand – Orientador – Universi<strong>da</strong>de Católica Dom Bosco<br />

1 - INTRODUÇÃO<br />

A <strong>história</strong> huma<strong>na</strong> sem dúvi<strong>da</strong> é o relato do desenvolvimento de formas<br />

emergentes, tanto de culturas como de socie<strong>da</strong>des. A questão para a<br />

antropologia tem sido encontrar a melhor maneira de retratar essa <strong>história</strong>, e de<br />

quais são os tipos de análise adequados para descobrir princípios gerais <strong>na</strong>s<br />

mu<strong>da</strong>nças (...) ocasio<strong>na</strong><strong>da</strong>s por transformações <strong>na</strong>s diferenças culturais<br />

definidoras de fronteiras. (BARTH, 2000,p.66).<br />

Os estudos que nos remetem a descobrir o universo simbólico e referencial <strong>da</strong>s<br />

<strong>criança</strong>s ain<strong>da</strong> são muito poucos. Pesquisas e trabalhos que explorem esse contexto começaram a<br />

ter uma certa relevância aproxima<strong>da</strong>mente <strong>na</strong> déca<strong>da</strong> de setenta, quando alguns antropólogos<br />

buscaram encontrar algumas respostas a partir de uma antropologia volta<strong>da</strong> a <strong>criança</strong>, “as<br />

<strong>criança</strong>s constituem um grupo social que pode e deve ser estu<strong>da</strong>do especificamente”(LOPES,<br />

2002, p.13).<br />

Temos uma reformulação ou bem como uma quebra de paradigmas, visto que até<br />

então as <strong>criança</strong>s não possuíam um ver<strong>da</strong>deiro espaço nos estudos <strong>da</strong> academia. “Alguns<br />

trabalhos científicos começaram a ensejar um toque de mu<strong>da</strong>nça de maior profundi<strong>da</strong>de e<br />

abrangência, delineando a necessi<strong>da</strong>de de in<strong>da</strong>gar a <strong>história</strong> <strong>da</strong> invenção <strong>da</strong> infância” (ARIÈS,<br />

1981, p.13).<br />

A infância passa por um processo de investigação e descoberta de muitos significados<br />

que são imanentes à própria pesquisa antropológica, pois “as <strong>criança</strong>s são agentes ativos que<br />

constroem suas próprias culturas e contribuem para a produção do mundo adulto” (Corsaro, 1997,<br />

p. 5).<br />

Faz necessário ressaltar que os estudos sobre as <strong>criança</strong>s indíge<strong>na</strong>s são praticamente<br />

inexpressivos no contexto acadêmico. Notamos que as <strong>criança</strong>s de um modo geral, passaram a ser<br />

1


estu<strong>da</strong>s a partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 70, mas as <strong>criança</strong>s indíge<strong>na</strong>s não foram alvo nem foco de pesquisa,<br />

ficando excluí<strong>da</strong>s desse contexto. “Não encontramos um único título específico sobre as <strong>criança</strong>s<br />

<strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des indíge<strong>na</strong>s. Os motivos podem ser vários: ou porque estas não se incluíam <strong>na</strong> tal<br />

infância pobre que era alvo de preocupação, quer dizer, não constituíam um problema e, portanto,<br />

não mereciam a atenção (...) ou porque, simplesmente pela falta de interesse existente.” (LOPES,<br />

2002, p.17).<br />

A pesquisa que desenvolvo busca investigar e principalmente contribuir com os<br />

estudos referentes à antropologia <strong>da</strong> infância, especificamente <strong>da</strong>s <strong>criança</strong>s indíge<strong>na</strong>s como um<br />

todo. Tenho como campo empírico as <strong>criança</strong>s Xavante <strong>da</strong> Aldeia de Sangradouro no estado de<br />

Mato Grosso.<br />

As `Watébrémi Xavante, olhando dentro <strong>da</strong> <strong>história</strong> Xavante, nunca tiveram uma voz<br />

que fosse realmente a<strong>na</strong>lisa<strong>da</strong> e interpreta<strong>da</strong>. Se os anciãos <strong>da</strong> aldeia, os pais e os padrinhos<br />

acompanham incansavelmente o processo, <strong>na</strong> <strong>educação</strong> tradicio<strong>na</strong>l, percebo uma grande<br />

necessi<strong>da</strong>de de ouvir as `Watébrémi, tomando como ponto fun<strong>da</strong>mental a <strong>criança</strong> como um ator<br />

social importante e relevante.<br />

O que se busca é compreender e, principalmente, reconhecer a <strong>criança</strong> indíge<strong>na</strong> como<br />

sujeito social ativo e atuante e produtor de cultura. “Ca<strong>da</strong> cultura pensa o desenvolvimento <strong>da</strong><br />

<strong>criança</strong> a partir de seus próprios termos”(COHN, 2005, p.42). A pesquisa objetivará pretende<br />

buscar a compreensão dos significados e expressões próprias do universo simbólico e referencial<br />

<strong>da</strong>s <strong>criança</strong>s. Compreender o mundo <strong>da</strong> <strong>criança</strong> e suas lógicas de pensar a reali<strong>da</strong>de, seus<br />

aprendizados, como sujeito em to<strong>da</strong> a sua complexi<strong>da</strong>de, suas percepções do cotidiano <strong>da</strong> aldeia,<br />

<strong>da</strong> escola, <strong>da</strong> família, dos rituais e dos símbolos constitui-se em tarefa de máxima importância.<br />

O mundo de representações <strong>da</strong>s <strong>criança</strong>s indíge<strong>na</strong>s deve ser visto e interpretado de<br />

uma forma singular e significativa. “Não obstante as mu<strong>da</strong>nças introduzi<strong>da</strong>s pelo novo<br />

paradigma, o que se sabe sobre a <strong>criança</strong> continua sendo o que os adultos sabem sobre ela, e não<br />

o que a <strong>criança</strong> tem a dizer de si mesma.”(BUTLER E SHAW,1996,p.22). Compreender a<br />

<strong>criança</strong> com todos os seus significados a partir dela mesma é algo extremamente desafiador e, ao<br />

mesmo tempo, complexo. Contudo essa pesquisa poderá contribuir com os estudos referentes a<br />

antropologia indíge<strong>na</strong>.<br />

Segundo James, Jenks e Prout(1997), temos alguns princípios que são fun<strong>da</strong>mentais<br />

dentro <strong>da</strong> etnologia sobre a infância que é: “a infância como construção social(...); o mundo<br />

2


social <strong>da</strong> infância como um mundo a parte, cheio de significados próprios(...); as <strong>criança</strong>s como<br />

grupo minoritário(...); a <strong>criança</strong> como categoria socioestrutural”.<br />

“A antropologia <strong>da</strong> <strong>criança</strong> indíge<strong>na</strong> no Brasil pode trazer uma importante<br />

contribuição, aliando a maturi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> pesquisa etnográfica num País culturalmente tão diverso ao<br />

vigor e solidez <strong>da</strong> reflexão etnoantropológica que aqui se tem construído”. (LOPES,2002,p.24).<br />

Dessa forma, estu<strong>da</strong>ndo as <strong>criança</strong>s indíge<strong>na</strong>s significativas descobertas poderão ser<br />

alcança<strong>da</strong>s, inserindo-se nesse meio, buscando aprofun<strong>da</strong>r, tentando refletir e entender o que é ser<br />

<strong>criança</strong>?<br />

2– A CRIANÇA INDÍGENA XAVANTE<br />

A <strong>criança</strong> ocupa um espaço fun<strong>da</strong>mental dentro <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des. Hoje as pesquisas<br />

preocupam-se com alguns questio<strong>na</strong>mentos que são importantes para uma melhor compreensão<br />

desse grupo, principalmente no que se refere aos <strong>da</strong>dos culturais que ca<strong>da</strong> <strong>criança</strong> possue. Geertz<br />

(1978, p.15) afirma que “o homem está amarrado em teias de significado construí<strong>da</strong>s por ele,<br />

sendo a cultura, essas teias” ele apresenta uma forma de cultura que nos mostra “sistemas<br />

organizados de símbolos significantes que orientam a existência huma<strong>na</strong>”(1978; p.58).<br />

Seguindo esse raciocínio Corsaro (1997; p. 95) diz que as “<strong>criança</strong>s produzem uma<br />

série de culturas de pares locais que se transformam em parte, e contribuem para culturas mais<br />

amplas de outras <strong>criança</strong>s e adultos dentro <strong>da</strong>s quais eles estão inseridos”. Desse modo as<br />

<strong>criança</strong>s podem ser considera<strong>da</strong>s como sujeitos ativos e importantes dentro <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de,<br />

construindo interpretações e símbolos próprios a partir de sua cultura.<br />

Corsaro (1997, p.95) abor<strong>da</strong> um conceito do que seria uma cultura infantil, sendo,<br />

“como um conjunto estável de ativi<strong>da</strong>des ou roti<strong>na</strong>s, artefatos, valores ou preocupações que<br />

<strong>criança</strong>s produzem e compartilham em interação com pares”. A <strong>criança</strong> Xavante em seu cotidiano<br />

<strong>na</strong> aldeia compartilham constantemente dessas interações, temos como um valor cultural<br />

significativo o ato de brincar, sendo este, muito importante dentro <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de Xavante,<br />

principalmente entre as <strong>criança</strong>s.<br />

3


Com as brincadeiras a <strong>criança</strong> Xavante, faz os primeiros processos de integração com<br />

os demais colegas, sejam eles <strong>da</strong> mesma i<strong>da</strong>de, ou não. Com as brincadeiras, a <strong>criança</strong> Xavante<br />

desenvolve, o respeito, a amizade, a responsabili<strong>da</strong>de, bem como exercita o seu corpo. As<br />

brincadeiras são as mais varia<strong>da</strong>s, tais como corri<strong>da</strong>s, tomar banho no rio, subir em árvores...etc.<br />

As relações culturais dentro <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de Xavante se interagem formando as “teias”<br />

como afirma Geertz, ocorrendo as trocas e as negociações dentro do grupo. Desse modo, a<br />

<strong>criança</strong> se intera a partir <strong>da</strong> sua visão de mundo com os demais adultos.<br />

Vale a pe<strong>na</strong> ressaltar que a <strong>criança</strong> Xavante vive também em seu “mundo” algumas<br />

ações que são particulares a essas fases não sofrendo diretamente interferências dos adultos.<br />

Tendo como exemplo as brincadeiras, elas ocorrem de um modo espontâneo, não necessitando<br />

que o adulto determine, quando deverão ocorrer, estipulando tempo e regras, ca<strong>da</strong> uma faz de<br />

acordo com a vontade e espontanei<strong>da</strong>de. Isso é um fator extremamente importante, que difere as<br />

<strong>criança</strong>s indíge<strong>na</strong>s Xavante <strong>da</strong>s demais <strong>criança</strong>s não índias. Pois, as não índias constantemente<br />

estão sendo “vigia<strong>da</strong>s” pelos adultos, passam por regras e limitações, existindo pouca liber<strong>da</strong>de<br />

entre as mesmas. As próprias <strong>criança</strong>s Xavante afirmam ser livres dentro <strong>da</strong> aldeia, sendo isso,<br />

um fator cultural sumamente importante no grupo e é também valorizado pelos anciãos essa<br />

espontanei<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s <strong>criança</strong>s.<br />

Na socie<strong>da</strong>de Xavante, o processo de socialização <strong>da</strong> <strong>criança</strong> não se dá somente<br />

baseando-se <strong>na</strong>s ações dos adultos, de um modo impositor e ditador .Existe dentro <strong>da</strong> cultura um<br />

processo variado de negociações entre os indivíduos, havendo assim uma interação entre os<br />

adultos e as <strong>criança</strong>s. Corsaro (1997) defende essa concepção de socialização <strong>da</strong> <strong>criança</strong> que se<br />

dá por meio de negociações sendo um método de interações recíprocas.<br />

Desse modo as <strong>criança</strong>s Xavante são atores capazes de criar e modificar a sua cultura,<br />

mesmo estando inseri<strong>da</strong>s e fazendo parte do mundo dos adultos, elas também contribuem nesse<br />

processo de interação social.<br />

Corsaro (1997, p.5) afirma que as <strong>criança</strong>s “são agentes ativos, que constroem suas<br />

próprias culturas e contribuem para a produção do mundo adulto”, esse conceito de Corsaro<br />

desenvolve-se claramente no dia a dia <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de Xavante, pois a <strong>criança</strong> é um sujeito ativo<br />

que gera contribuições para o adulto. Os anciãos identificam a <strong>criança</strong>, como fonte de<br />

prosperi<strong>da</strong>de para a socie<strong>da</strong>de. É muito normal numa aldeia Xavante as famílias terem em média<br />

4


3 a 7 filhos. A <strong>criança</strong> é uma dádiva <strong>na</strong> concepção dos anciãos, e de forma alguma devem ser<br />

impedi<strong>da</strong>s de virem ao mundo.<br />

Portanto, dificilmente encontra-se uma aldeia Xavante com poucas <strong>criança</strong>s. O centro<br />

<strong>da</strong> aldeia denomi<strong>na</strong>do Warã se tor<strong>na</strong> palco de encontro dos anciãos, bem como espaço de<br />

brincadeiras <strong>da</strong>s <strong>criança</strong>s, tanto as <strong>criança</strong>s como os anciãos se interagem nesse espaço com muita<br />

<strong>na</strong>turali<strong>da</strong>de, sem divergências ou discórdias, o carinho existente entre os anciãos e as <strong>criança</strong>s<br />

manifesta-se espontaneamente.<br />

3 - A EDUCAÇÃO ESCOLAR EM SANGRADOURO MT. OS PRIMEIROS CONTATOS<br />

COM AS CRIANÇAS XAVANTE.<br />

A primeira iniciativa de <strong>educação</strong> escolar aconteceu em Sangradouro 1 , se deu nos<br />

inícios do ano de 1957, logo nos primeiros dias <strong>da</strong> chega<strong>da</strong> dos Xavante, formando uma primeira<br />

classe, sendo composta por uns vinte e cinco filhos de fazendeiros e oito Xavante.<br />

Foi um grande impacto, tanto para o professor quanto para os alunos. O problema era<br />

como alfabetizar alunos com culturas diferentes, língua completamente desconheci<strong>da</strong> e que não<br />

entendiam uma só palavra em português.<br />

A solução foi começar a descobrir as palavras, por meio de gestos e mímicas, o<br />

professor aprendia as palavras Xavante e os alunos as portuguesas.<br />

Segundo a crônica <strong>da</strong> casa, ao término do primeiro ano, já se tinha uma cartilha<br />

bilíngüe, que posteriormente fora-se aprimorando e aperfeiçoando com aju<strong>da</strong> dos próprio síndios<br />

como de outros estudiosos.<br />

A Cartilha Xavante I atual, foi publica<strong>da</strong> em 1979, e a cartilha II, em 1980.<br />

Contemporaneamente foram elaborados outros subsídios didáticos e o primeiro livro de leitura, O<br />

MEU MUNDO, com o respectivo livro de exercícios, publicados em 1983.<br />

Os salesianos, perceberam que não era suficiente só conhecer a língua, para poder<br />

atuar eficazmente <strong>na</strong> escola, era necessário também conhecer a cultura Xavante.<br />

1 Sangradouro é uma aldeia Xavante localiza<strong>da</strong> a leste do estado de Mato Grosso, à 220 km <strong>da</strong> capital Cuiabá.<br />

5


Com muita observação e paciência, aos poucos iam-se interagindo, e os salesianos<br />

aprendendo a se inteirar a cultura Xavante. Tanto é ver<strong>da</strong>de que com <strong>da</strong>dos recolhidos foram<br />

publicados dois livros: Xavante – Povo Autêntico, Jerônimo Xavante Conta, e Jerônimo Xavante<br />

Sonha, publicados entre 1971 e 1977.<br />

A alfabetização em língua mater<strong>na</strong> e em português não foi logo aceita tanto pelas<br />

autori<strong>da</strong>des escolares, como pelos mesmos índios. Só sendo aceita oficialmente, ao término do<br />

ano de 1977.<br />

No dia 26 de agosto de 1974, pelo Decreto nº 2.179, é cria<strong>da</strong> oficialmente pelo<br />

governo, a escola estadual de Sangradouro, com o regimento de caráter peculiar para a clientela<br />

Indíge<strong>na</strong> e o seu processo cultural.<br />

4- OS XAVANTE E A ESCOLA<br />

Para os Xavante de Sangradouro, a escola é um meio que eles encontram para adquirir<br />

conhecimento, para poder lutar e exigir seus direitos perante os “brancos”, dessa forma, eles<br />

poderão defender o próprio território, de forma a compreenderem e utilizarem os instrumentos<br />

jurídicos que dão legitimi<strong>da</strong>de a essas terras; lutarão contra a exploração a que são submetidos<br />

<strong>na</strong>s transações comerciais, exigindo um tratamento digno dentro <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de.<br />

Na mentali<strong>da</strong>de Xavante, a escola é importante porque eles não vivem mais isolados,<br />

sem contatos. Hoje o Xavante tem novas exigências, que são provoca<strong>da</strong>s pelo contato com a<br />

cultura envolvente.<br />

A <strong>educação</strong> indíge<strong>na</strong> não preenche todos os requisitos necessários para os indivíduos<br />

e a comuni<strong>da</strong>de poderem sobreviver. Nessas condições é necessário uma intervenção exter<strong>na</strong>, que<br />

complete e ajude a <strong>educação</strong> tradicio<strong>na</strong>l. Daí se tor<strong>na</strong> bem claro que é o maior absurdo colocar<br />

numa escola de índio um professor ou professora que não conheçam a fundo a cultura dos<br />

próprios alunos.<br />

6


Como conseqüência desses princípios, a escola numa aldeia não pode se restringir aos<br />

poucos momentos de contato entre o professor e os alunos fechados numa sala de aula, mas tem<br />

que se abrir e integrar com a vi<strong>da</strong> cotidia<strong>na</strong> <strong>da</strong> aldeia.<br />

Deve-se imitar, não tanto o modo exterior, mas o espírito. Portanto, não impor ou<br />

forçar, mas expor e convencer. Não é fácil no início provocar um diálogo com os alunos Xavante,<br />

porém é uma caminha<strong>da</strong> que deve ser construí<strong>da</strong> gra<strong>da</strong>tivamente. Aos poucos deve-se comentar<br />

com o aluno a comentar com o professor o que está aprendendo. O professor <strong>na</strong> escola Xavante,<br />

deve fazer um trabalho de conscientização no aluno, para que ele perceba que o aprender, não é<br />

simplesmente um exercício teórico, mas servirá para a sua vi<strong>da</strong> concreta.<br />

5 - A CRIANÇA XAVANTE E A EDUCAÇÃO INFANTIL<br />

No Brasil, a formalização legal do direito <strong>da</strong>s <strong>criança</strong>s à <strong>educação</strong> infantil em<br />

instituições públicas ocorre a partir <strong>da</strong> constituição federal de 1988.<br />

É inquestionável que a obrigatorie<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s <strong>criança</strong>s terem o direito à <strong>educação</strong> é uma<br />

conquista, pois assegura direitos para to<strong>da</strong>s as <strong>criança</strong>s de zero a seis anos de i<strong>da</strong>de de freqüentar<br />

uma instituição de <strong>educação</strong> <strong>na</strong> esfera pública, fora <strong>da</strong> esfera priva<strong>da</strong> <strong>da</strong> família. No entanto,<br />

ain<strong>da</strong> há muito a reivindicar em relação à <strong>educação</strong> <strong>da</strong>s <strong>criança</strong>s. Um dos mais graves problemas<br />

é a falta de instituições educativas infantis que, como as demais etapas <strong>da</strong> <strong>educação</strong> escolar<br />

pública, deve atender, de forma geral, as <strong>criança</strong>s oriun<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s classes populares ou de menor<br />

poder aquisitivo.<br />

Historicamente, no Brasil,, a <strong>educação</strong> <strong>da</strong>s <strong>criança</strong>s de zero a três anos é implanta<strong>da</strong><br />

com caráter assistencialista e compensatório, confunde-se com o acolhimento de <strong>criança</strong>s órfãs<br />

ou desprovi<strong>da</strong>s de adultos que possam cui<strong>da</strong>-las (denomi<strong>na</strong><strong>da</strong>s orfa<strong>na</strong>tos e, mais tarde creches). A<br />

<strong>história</strong> <strong>da</strong> <strong>educação</strong> <strong>da</strong>s <strong>criança</strong>s de quatro a seis anos é permea<strong>da</strong> pela questão <strong>da</strong> chama<strong>da</strong><br />

“preparação” para ingressar <strong>na</strong>s séries iniciais do ensino primário (hoje, ensino fun<strong>da</strong>mental.<br />

Nesse processo, tivemos instituições (e ain<strong>da</strong> temos) que ofertam: “Educação assistencial, volta<strong>da</strong><br />

à <strong>educação</strong> <strong>da</strong>s <strong>criança</strong>s pobres e as outras, com uma proposta de <strong>educação</strong> escolarizante,<br />

volta<strong>da</strong>s para <strong>criança</strong>s menos pobres. (CERISARA, 199, p.13).<br />

7


Nesse processo, as instituições com características escolarizantes estavam liga<strong>da</strong>s às<br />

secretarias de assistência social e atuavam como amparo às <strong>criança</strong>s desassisti<strong>da</strong>s. Essa duali<strong>da</strong>de<br />

ain<strong>da</strong> ocorre em muitos estados porque há uma resistência dos municípios em assumir o ônus <strong>da</strong><br />

<strong>educação</strong> infantil.<br />

Porém a partir <strong>da</strong> constituição <strong>da</strong> República Federativa do Brasil, promulga<strong>da</strong> em<br />

1988, as <strong>criança</strong>s de zero a seis anos passam a ter o direito de serem educa<strong>da</strong>s em instituições<br />

coletivas de caráter educativo: creche para zero a três anos e pré-escola para as de quatro a seis<br />

anos. Paralelamente, surgem vários estudos sobre as <strong>criança</strong>s e a pe<strong>da</strong>gogia, dialogando não só<br />

com a psicologia, mas também com a sociologia, a <strong>história</strong>, a filosofia e a antropologia.<br />

Intensifica-se o debate e a construção de novas concepções de <strong>educação</strong> <strong>na</strong>s instituições de<br />

<strong>educação</strong> infantil.<br />

Na cultura Xavante a escolarização ocupa um espaço entre as <strong>criança</strong>s, no qual entre<br />

erros e acertos tenta-se estabelecer processos nos quais, a <strong>educação</strong> formal possa caminhar lado a<br />

lado com a <strong>educação</strong> tradicio<strong>na</strong>l, respeitando e preservando o “mundo” <strong>da</strong> <strong>criança</strong>, e<br />

principalmente valorizando a sua existência.<br />

As <strong>criança</strong>s indíge<strong>na</strong>s também estão passando pelo processo de uma nova concepção<br />

de infância.<br />

Na aldeia, adultos e <strong>criança</strong>s geralmente estão juntos. Fazem coisas juntos: cozinhar,<br />

pescar, caçar, an<strong>da</strong>r <strong>na</strong>s trilhas, lavar roupas no rio. Brincam juntos. Nessa dinâmica,<br />

estranhamentos e familiari<strong>da</strong>des vão se interligando.<br />

6 – A IDENTIDADE DA CRIANÇA XAVANTE<br />

A identi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s <strong>criança</strong>s Xavante, é uma identi<strong>da</strong>de cultural, capaz de constituir-se<br />

de tal modo que não seja reduzi<strong>da</strong> totalmente às formas culturais dos adultos. Porém dentro <strong>da</strong><br />

socie<strong>da</strong>de Xavante a autonomia <strong>da</strong>s <strong>criança</strong>s será relativa, pois as mesmas não possuem total<br />

autonomia no processo de socialização. Os ritos, ensi<strong>na</strong>mentos, brincadeiras são produtos <strong>da</strong><br />

interação dos adultos com as <strong>criança</strong>s, tor<strong>na</strong>ndo – as, participativas dentro do grupo.<br />

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“(...) a cultura no interior de uma reali<strong>da</strong>de huma<strong>na</strong> é sempre dinâmica, não é fecha<strong>da</strong><br />

ou cristaliza<strong>da</strong> como um patrimônio de raízes fixas e permanentes. A cultura possui fronteiras<br />

móveis e em constante expansão. Tampouco é conjuga<strong>da</strong> no singular, já que é plural, marca<strong>da</strong><br />

por intensas trocas e muitas contradições <strong>na</strong>s relações entre grupos culturais diversos, e mesmo<br />

no interior de um mesmo grupo”.(GUSMÃO, 2003, p.91)<br />

Os modos de se manifestar, que as <strong>criança</strong>s possuem juntamente com os seus sentidos,<br />

atitudes, gestos, posições, nem sempre correspondem as nossas interpretações, desejos e anseios.<br />

É um equívoco atribuir sentidos de ver<strong>da</strong>de para os outros, bem como universalizar as discussões,<br />

pois como afirma a autora “a cultura é sempre dinâmica”. Ca<strong>da</strong> grupo terá formas de<br />

manifestações diferentes, e que estarão sempre em mu<strong>da</strong>nças, não sendo estático, engessado.<br />

“Para Sarmento e Pinto (1997, p.26), é preciso que o adulto não projete o seu olhar sobre as<br />

<strong>criança</strong>s, colhendo junto delas ape<strong>na</strong>s aquilo que é reflexo conjunto dos seus próprios<br />

preconceitos e representações”.(apud,GUSMÃO,p.97)<br />

As <strong>criança</strong>s não são simplesmente um “objeto de condicio<strong>na</strong>mento passivo” “um<br />

objeto de aceitação dos adultos”. As formas de manifestar, que as <strong>criança</strong>s encontram para<br />

transpor o que lhes é determi<strong>na</strong>do, faz parte de um meio que elas mesmas demonstram e<br />

apresentam para os adultos e que <strong>na</strong> maioria <strong>da</strong>s vezes essas ações não são compreendi<strong>da</strong>s, ou<br />

não são valoriza<strong>da</strong>s.<br />

Desse modo, “pode-se afirmar que os grandes aliados <strong>na</strong> luta pelo reconhecimento<br />

do direito <strong>da</strong>s <strong>criança</strong>s viverem sua infância (inclusive o direito de transgredir) são elas mesmas,<br />

que resistem, reagem, questio<strong>na</strong>m e discor<strong>da</strong>m <strong>da</strong>s imposições dos adultos, principalmente<br />

quando a justificativa para a manutenção <strong>da</strong> ordem é completamente arbitrária e contrária às<br />

necessi<strong>da</strong>des e aos interesses <strong>da</strong>s <strong>criança</strong>s”. (Sarmento e Pinto, 1997,p. 56)<br />

A não conformi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s <strong>criança</strong>s às normas pré-estabeleci<strong>da</strong>s e a criação de outros<br />

jeitos de fazer são, justamente, o que as diferenciam dos adultos. As formas de experimentar<br />

esses outros jeitos de fazer as coisas sem preocupar-se com as conseqüências dos seus atos é,<br />

um ponto central <strong>na</strong> diferenciação entre <strong>criança</strong>s e adultos.“Aquilo que as faz terem outros<br />

mundos, instituindo outros elementos e expressando, assim, uma cultura infantil. Esse jeito de<br />

compor novas mo<strong>da</strong>s, de inventar estratégias para atender seus interesses e imprimir sua<br />

marca, amiúde faz dela uma transgressora sob a ótica do adulto”(QUINTEIRO,200, p.31 apud<br />

Gusmão).<br />

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7 - CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Vários autores afirmam que as <strong>criança</strong>s estando em contato uma com as outras, vivem<br />

continuamente, num processo de aprendizagem e trocas. Esse fator ocorre momentaneamente<br />

com as Crianças Xavante, a aprendizagem se manifesta uma com as outras nos espaços em<br />

comum. Corsaro, (1997), define esses espaços como momentos de produção cultural onde<br />

partilham <strong>na</strong> relação com seus pares, sejam conhecimentos processados pelos adultos e<br />

transferidos para as <strong>criança</strong>s, ou conhecimento que elas mesmo produzem e se interagem umas<br />

com as outras.<br />

As <strong>criança</strong>s são capazes de produzir conceitos e retransmiti-los, interpretando, <strong>da</strong>ndo<br />

novos sentidos as relações que são estabeleci<strong>da</strong>s como o mundo com elas mesmas e com os<br />

adultos.<br />

Nesse sentido faz necessário um estudo aprofun<strong>da</strong>do a respeito desses pequeninos,<br />

buscando compreender melhor o seu universo simbólico e referencial como meio de reflexão e<br />

interpretação desse cotidiano.<br />

A Criança Xavante está presente <strong>na</strong> <strong>história</strong> <strong>da</strong> <strong>educação</strong> indíge<strong>na</strong>, em um<br />

determi<strong>na</strong>do tempo e espaço, se faz necessário o uso etnográfico para descrever o processo de<br />

desenvolvimento <strong>da</strong> <strong>educação</strong>, segundo os valores histórico-cultural <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de Xavante.<br />

De 1970 à 2006, obtivemos um crescimento amplo no que se remete ao estudo <strong>da</strong><br />

cultura infantil indíge<strong>na</strong>. Entre os Xavante, existe inúmeras pesquisas em an<strong>da</strong>mento a respeito<br />

do desenvolvimento <strong>da</strong>s <strong>criança</strong>s, buscando a compreensão do seu universo simbólico.<br />

Essa aproximação as <strong>criança</strong>s é de grande valia, pois, de um certo modo, a<strong>na</strong>lisando as<br />

<strong>criança</strong>s podemos obter muitas interpretações e compreensões do mundo do adulto<br />

A <strong>educação</strong> indíge<strong>na</strong> Xavante vêm adquirindo muitas contribuições ao se aproximar<br />

do “mundo” <strong>da</strong>s <strong>criança</strong>s, respeitando e aceitando-as como sujeitos ativos e importantes <strong>na</strong><br />

socie<strong>da</strong>de.<br />

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9 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.<br />

ARIÈS, P. Centuries of Childhood: a Social History of Family Life. New York:Knopf,1962.<br />

ARIÈS, P. História Social <strong>da</strong> Criança e <strong>da</strong> Família. Editora: TLC, 1978.<br />

BHABHA, Homi K. O Local <strong>da</strong> Cultura. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2005<br />

BARTH, Fredrik. O Guru, o iniciador e outras variações antropológicas. Rio de Janeiro RJ.<br />

Contra Capa Livraria, 2000.<br />

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COHN, Clarice. Antropologia <strong>da</strong> <strong>criança</strong>. Rio de Janeiro: Editora Jorge Zahar, 2005.<br />

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HEYWOOD, C. Uma História <strong>da</strong> Infância. Porto Alegre: Editora Artmed, 2004.<br />

11


KOSHIBA, L. & PEREIRA, D. M.F. História do Brasil. São Paulo: Atual, 1993.<br />

KUHLMANN, M. Educando a Infância Brasileira. In LOPES, E. M. T. , FARIA<br />

FILHO, L. M., VEIGA, C. G. (org). Belo Horizonte:Editora Autêtica, 2000.<br />

LOPES, <strong>da</strong> Silva Aracy, org. II. Grupioni, Luis Donizete Benzi, Org. A Temática Indíge<strong>na</strong> <strong>na</strong><br />

Escola: Novos Subsídios para Professores de 1º e 2º Graus. Brasília, MEC/MARI/UNESCO,<br />

1995.<br />

LOPES, E. M. T., FARIA FILHO, L. M., VEIGA, C.G.(org.) 500 anos de <strong>educação</strong><br />

no Brasil. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2000.<br />

LOPES, Aracy <strong>da</strong> Silva. Crianças Indíge<strong>na</strong>s: ensaios antropológicos. São Paulo: Global, 2002.<br />

MAYBURY_LEWIS, David. A Socie<strong>da</strong>de Xavante. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1984.<br />

NAGLE, J. Educação e socie<strong>da</strong>de. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.<br />

RIBEIRO, M.L.S. História <strong>da</strong> <strong>educação</strong> brasileira. Campi<strong>na</strong>s: Editora: Autores<br />

Associados, 2003.<br />

ROBERTS, J. M. O Livro de ouro <strong>da</strong> <strong>história</strong> do mundo.Rio de Janeiro: Editora<br />

SARMENTO, Manuel J. & Pinto, Manuel. As <strong>criança</strong>s e a infância: definindo conceitos<br />

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Contextos e Identi<strong>da</strong>des. Braga, Portugal: Centro de Estudos <strong>da</strong> Criança, 1997.<br />

12


8 - ANEXOS<br />

Foto 01: Marcelo Melchior<br />

Criança Xavante participando do ritual <strong>da</strong> “entrega do bolo”. A <strong>criança</strong> sendo ator e<br />

construtor de sua própria <strong>história</strong>. Entre os Xavante a <strong>criança</strong> é valoriza<strong>da</strong> e insere<br />

espontaneamente nos valores tradicio<strong>na</strong>is e culturais do grupo. As ativi<strong>da</strong>des realiza<strong>da</strong>s são<br />

considera<strong>da</strong>s valores educacio<strong>na</strong>is, pois elas aprendem e partilham uma com a outra de um modo<br />

simples e didático sem tantas complicações. Vivem numa constante partilha, tudo é posto em<br />

comum, proporcio<strong>na</strong>ndo desse modo uma socie<strong>da</strong>de mais justa e igualitária, sem tantas<br />

desigual<strong>da</strong>des e opressões.<br />

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Foto 02: Marcelo Melchior<br />

Os anciãos <strong>da</strong> aldeia bem como seus pais e respectivos padrinhos ficam encarregados<br />

de transmitir os ensi<strong>na</strong>mentos <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de Xavante, a <strong>educação</strong> indíge<strong>na</strong> é um conjunto de<br />

valores e estruturas que são repassa<strong>da</strong>s de pai para filho dentro de uma conjuntura própria e<br />

específica.<br />

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Foto 03: Marcelo Melchior<br />

Nas <strong>da</strong>nças, ritos e celebrações o modelo educacio<strong>na</strong>l Xavante fica expresso <strong>na</strong> aldeia,<br />

tor<strong>na</strong>ndo os indivíduos mais fraternos, valorizando extremamente o “ser” e não o “ter”. o<br />

compromisso, a responsabili<strong>da</strong>de são meios muito valorizados entre os Xavante e transmitidos<br />

em todos os momentos a <strong>criança</strong>.<br />

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Foto 04: Marcelo Melchior<br />

O cesto de palha é utilizado para transportar a <strong>criança</strong>, juntamente com seus pertences<br />

bem como a comi<strong>da</strong>, <strong>na</strong> língua Xavante esse cesto possui o nome de “BACTÉ”. Antes do<br />

<strong>na</strong>scimento <strong>da</strong> <strong>criança</strong> a mãe prepara o “bacté” de uma forma cui<strong>da</strong>dosa e com muito carinho,<br />

pois ali ficará o seu filho.<br />

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Foto 05: Marcelo Melchior<br />

A <strong>criança</strong> <strong>na</strong> <strong>educação</strong> indíge<strong>na</strong>, em todos os grupos sem exceção, são fun<strong>da</strong>mentais,<br />

não só pelo <strong>da</strong>do biológico de reprodução e perpetuação do grupo, mas também pelo <strong>da</strong>do<br />

histórico cultural do grupo, o que faz o indivíduo manter viva as tradições de sua etnia.<br />

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Foto 06: Marcelo Melchior<br />

Os laços entre pais e a <strong>criança</strong> são muito fortes e consistentes. O amor pela <strong>criança</strong> é<br />

um <strong>da</strong>do expresso em to<strong>da</strong>s as famílias. A <strong>criança</strong> é educa<strong>da</strong> a amar a sua família juntamente com<br />

todos os outros <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de.<br />

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Foto 07: Marcelo Melchior<br />

A <strong>criança</strong> Xavante demonstra espontanei<strong>da</strong>de em todos os momentos, a alegria, as<br />

brincadeiras, fazem também, parte <strong>da</strong> <strong>educação</strong> indíge<strong>na</strong> Xavante.<br />

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Foto 08: Marcelo Melchior<br />

Desde peque<strong>na</strong>s as <strong>criança</strong>s são submeti<strong>da</strong>s a alguns rituais que muitas vezes, são<br />

dolorosos e de muito sofrimentos. Na concepção do grupo, esses rituais são importantes para<br />

desenvolver resistência <strong>na</strong> <strong>criança</strong>, bem como, aprender a li<strong>da</strong>r com as dificul<strong>da</strong>des que a própria<br />

vi<strong>da</strong> lhe proporcio<strong>na</strong>rá.<br />

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