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Do-It Right Nº 06 - Responsabilidade Social Empresarial e ...

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Por favor, lembre -se do ambiente antes de imprimir esta newsletter. Seja socialmente responsável.<br />

Qual o papel do consumidor na busca<br />

pela sustentabilidade? O que define consumo<br />

e um consumidor responsáveis?<br />

Será que a pedra basilar do conceito de<br />

RSE não é o consumidor ou a forma<br />

como o consumidor entende as acções<br />

da empresa e se posiciona em função<br />

das mesmas? Estariam as empresas<br />

preocupadas com questões como a não<br />

utilização de mão de obra infantil se nós,<br />

consumidores, não fizéssemos conscientemente<br />

a escolha de optar pelo não<br />

consumo desses produtos? O caso da<br />

Nike é um claro exemplo de um comportamento<br />

empresarial que foi questionado,<br />

julgado, boicotado e por consequência<br />

alterado, em função da pressão dos consumidores<br />

e clientes da marca.<br />

Julgo que a RS das empresas está<br />

directamente relacionada com a RS dos<br />

consumidores. Estes, ao reflectirem<br />

sobre os seus hábitos de consumo e ao<br />

fazerem as suas escolhas, cobram das<br />

empresas e dos restantes consumidores<br />

posturas mais éticas, responsáveis e ambientalmente<br />

mais correctas. Cobram<br />

também uma maior transparência, que<br />

permita ao consumidor ter acesso à informação<br />

para que essas escolhas sejam<br />

feitas. O consumo consciente e responsável<br />

é a principal manifestação de RS do<br />

cidadão e o consumidor deve ser incentivado<br />

a fazer com que o seu acto de consumo<br />

seja também um acto de cidadania.<br />

Ninguém tem dúvidas em afirmar que<br />

está preocupado com as questões relacionadas<br />

com as emissões de carbono.<br />

Com as questões relacionadas com o<br />

aquecimento global. Com as questões<br />

relacionadas com a nossa sustentabilidade<br />

como espécie. Mas quantos de nós<br />

estamos dispostos a abdicar de, em<br />

primeiro lugar, consumir, em segundo<br />

lugar, equacionar sobre a forma como<br />

NEWSLETTER <strong>Nº</strong> 6<br />

consumimos, e, em terceiro lugar,<br />

adequar os nossos hábitos de consumo<br />

ás nossas verbalizações de paixão e<br />

interesse com o mundo que nos rodeia?<br />

O ponto do debate é lançar o alerta para<br />

os nossos comportamentos individuais,<br />

não como advogados da causa, mas<br />

como consumidores da mesma. É apelar<br />

à reflexão sobre a importância das escolhas<br />

de cada um de nós na hora de “premiar”<br />

(aceitando pagar por vezes um<br />

preço mais elevado resultante de práticas<br />

mais justas ou mais responsáveis), ou<br />

“castigar”, optando pela situação inversa,<br />

as empresas a quem adquirimos os<br />

produtos.<br />

O nosso comportamento como consumidores<br />

é uma contribuição directa para o<br />

desenvolvimento social e para a criação<br />

de uma sociedade mais justa.<br />

Nesta edição, completamente dedicada<br />

ao consumo responsável, publicamos as<br />

reflexões que recolhemos junto a alguns<br />

dos nossos colaboradores, parceiros e<br />

amigos. Partilhe também a sua opinião<br />

connosco enviando-a para a morada<br />

doitright@tdm.co.mz.<br />

Boa leitura! Patricia Bettencourt


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CONSUMIR,<br />

ESTRANHA FORMA DE VIDA<br />

Segundo o PNUD num relatório sobre consumo, é urgente<br />

“mudar os padrões de consumo para o desenvolvimento<br />

humano do futuro”. E explica em números simples esta<br />

urgência em mudar de estilo de vida: Os 20% da população<br />

mundial que são mais ricos consommé 45% da carne<br />

e do peixe, enquanto os mais pobres (também 20%)<br />

consomem menos de 5%. Os primeiros consomem 5_%<br />

da energia total, enquanto os segundos consomem<br />

menos de 4%.<br />

E por aí fora, num panorama geral que se pode reduzir a<br />

uma conta simples: estes 20% da população mundial<br />

mais ricos, gastam 75% dos recursos naturais do planeta.<br />

E tudo piorou nos _ anos desde que foi feito este relatório<br />

do PNUD, seja em Portugal, como na América Latina (em<br />

termos de assimetrias sociais), ou na Índia e China (onde<br />

o crescimento económico parece melhorar o PIB -<br />

Produto Interno Bruto -, mas as desigualdades não são<br />

dissipadas e o ambiente é constantemente violentado.<br />

Claro que esta distribuição desigual do rendimento se<br />

traduz em exclusão social, quando o sistema de valores<br />

das nossas sociedades valoriza o que se possui – e a<br />

exclusão social toma formas cada vez mais graves<br />

conforme falamos de países mais ricos ou mais pobres.<br />

Se um adolescente português sente vergonha por não<br />

Consumidor é todo aquele a quem sejam fornecidos bens<br />

e serviços, ou seja, aquele que realiza a compra de bens<br />

e serviços para uso pessoal (não inclui revenda ou<br />

produção de outros bens). Já pensou sobre o seu papel<br />

como consumidor? Um consumidor não satisfeito pode<br />

simplesmente deixar de comprar determinado bem ou<br />

serviço em detrimento de outro. Isso é muito frequente<br />

acontecer e de certeza que já passou por isso. Exemplos<br />

há muitos e as razões são diversas. Por acaso, quando<br />

sai para fazer compras, pergunta-se de onde é ou como<br />

foi produzido o que está a comprar? Estas são questões<br />

com que nós consumidores Moçambicanos, por razões<br />

diversas, não nos preocupamos muito e nem sequer nos<br />

damos ao trabalho de pensar nelas conscientemente.<br />

Qual o papel dos consumidores na promoção de um comportamento<br />

responsável por parte das empresas?<br />

Os consumidores representam uma das forças mais<br />

activas e importantes no processo de promoção de um<br />

comportamento responsável por parte das empresas na<br />

medida em que estes tem um interesse legítimo e podem<br />

influenciar as decisões das empresas. São os consumidores<br />

que pagam os bens e serviços fornecidos pelas<br />

empresas e, por isso mesmo, é legítimo para eles esperar,<br />

em troca, bens e serviços de qualidade por parte destas.<br />

2<br />

possuir uns ténis de marca, já uma jovem das zonas rurais<br />

da Índia fica privada de casar se não tem dote – e tudo<br />

passa para o domínio do impensável quando neste preciso<br />

minuto dezenas de crianças nas regiões mais empobrecidas<br />

de África não têm sequer alimentos ou medicamentos<br />

suficientes para sobreviver.<br />

O que não podemos esquecer é que vivemos no mesmo<br />

planeta: a sobrevivência da espécie humana vai, a curto<br />

prazo, estar pendente da capacidade de sabermos redistribuir<br />

a riqueza e de travar a destruição da nossa ecosfera.<br />

O PNUD aponta que “o crescimento do consumo no séc.<br />

XX, sem precedentes em termos de escala e diversidade,<br />

foi mal distribuído, deixando um rastro de falhas e um<br />

abismo de desigualdades”. E adianta ainda que “a maior<br />

causa de deterioração contínua do meio ambiente global é<br />

o insustentável modelo de produção e consumo dos<br />

países industrializados, bem como a degradação ambiental<br />

associada à pobreza dos países em desenvolvimento3”<br />

- e “o dano ambiental provocado pelo consumo mundial<br />

recai mais severamente sobre os mais pobres”<br />

Por isto tudo, é em nós, consumidores, que recai uma<br />

grande responsabilidade nesta situação. Mas também a<br />

capacidade de a modificar.<br />

in «Consumo Responsável – Questões, Desafios e Guia<br />

Prático para um futuro Sustentável», Cadernos de<br />

Comércio Justo nº 01)<br />

Consumidores e a <strong>Responsabilidade</strong> <strong>Social</strong><br />

<strong>Empresarial</strong>. Qual o nosso papel como consumidores?<br />

Os consumidores têm esse direito e as empresas têm de<br />

tomar em conta dos seus interesses e necessidades sob o<br />

risco de não encontrarem demanda suficiente, ou seja,<br />

correm o risco dos consumidores não comprarem o suficiente<br />

para a sobrevivência das empresas.<br />

Nós consumidores temos o direito de exigir das empresas<br />

maior responsabilidade, responsabilidade essa que vai<br />

muito além de simplesmente produzir bens e serviços de<br />

qualidade. Esse direito parte do princípio de que nós<br />

também temos um dever. É o dever de sermos consumidores<br />

responsáveis. Como consumidores responsáveis<br />

temos o direito de exigir às empresas que os produtos e<br />

serviços sejam produzidos e fornecidos de forma responsável,<br />

ou seja, que não tenham em conta somente o benefício<br />

económico para a empresa, mas também tenham em<br />

conta os benefícios sociais e ambientais. Parto da premissa<br />

que as empresas têm a responsabilidade de providenciar<br />

bens e serviços de qualidade de uma maneira que seja<br />

rentável (senão não têm razão de existir como empresa),<br />

ética e que respeite o meio ambiente, os indivíduos e as<br />

comunidades nos locais em que operam e nós consumidores<br />

em troca damos a essas empresas a nossa preferência<br />

nas nossas decisões de compra.<br />

Edson Correia - Consultor da <strong>Do</strong> <strong>It</strong>


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Consumo Responsável e o<br />

Dilema do Prisioneiro<br />

Pesquisas realizadas no Brasil e em Espanha<br />

revelam que há uma grande diferença entre a intenção<br />

e a acção dos consumidores quando o tema é<br />

consumo responsável. A maioria dos entrevistados<br />

revelam a intenção de colaborar com o meio ambiente<br />

e a sociedade por meio de um consumo verde e<br />

responsável, mas menos de 10% deles de facto<br />

efectivam essa intenção. Outras variáveis interferem<br />

na decisão de compra do consumidor, além da<br />

questão ética. A principal delas é o preço e a comodidade.<br />

Os dados sugerem que o consumidor vê o<br />

consumo responsável como algo dispendioso e que<br />

traz pouco resultado na prática.<br />

Guimarães Rosa, um famoso escritor brasileiro, dizia<br />

que "a colheita é comum, mas o capinar é sozinho".<br />

De facto, quando as pessoas consomem produtos<br />

limpos, ecologicamente correctos, de empresas que<br />

respeitam a ética e o meio ambiente e boicotam os<br />

produtos de empresa de práticas contrárias, elas<br />

estão a contribuir para que essas empresas<br />

busquem a sustentabilidade. O resultado dessa<br />

pressão social favorece a todos. Entretanto, escolher<br />

produtos éticos pode exigir pagar um pouco mais<br />

caro por eles. Também pode obrigar o consumidor a<br />

Dados sugerem que o consumidor<br />

vê o consumo responsável<br />

como algo dispendioso e que traz<br />

pouco resultado na prática.<br />

informar-se sobre as empresas e até ter de fazer<br />

pesquisas noutros pontos de compra.<br />

Tal situação lembra o dilema do prisioneiro, um problema<br />

da teoria dos jogos que ilustra a situação entre<br />

oportunismo e cooperação. Faça o teste:<br />

Imagine que você e um amigo são presos pela<br />

polícia. A polícia tem provas insuficientes para vos<br />

condenar, mas, separando os prisioneiros, oferece a<br />

ambos o mesmo acordo: se um dos prisioneiros,<br />

confessando, testemunhar contra o outro e esse<br />

outro permanecer em silêncio, o que confessou sai<br />

livre enquanto o cúmplice silencioso cumpre 10 anos<br />

de sentença. Se ambos ficarem em silêncio, a polícia<br />

só pode condená-los a 6 meses de cadeia cada um.<br />

3<br />

Se ambos traírem o comparsa, cada um leva 5 anos<br />

de cadeia. Cada prisioneiro faz a sua decisão sem<br />

saber que decisão o outro vai tomar, e nenhum tem<br />

certeza da decisão do outro.<br />

E então, o que você faria? Se você achar que o seu<br />

amigo não vai testemunhar contra você, você tem a<br />

oportunidade de sair livre se o denunciar. Nesse<br />

caso, o seu amigo apanha 10 anos de cadeia<br />

enquanto você goza a liberdade. Mas se você achar<br />

que o seu amigo o vai delatar, o seu silêncio pode<br />

levá-lo a 10 anos de cadeia.<br />

No caso do consumo responsável, parece acontecer<br />

o mesmo dilema. Poucos se dispõem a agir de forma<br />

responsável se não sentirem que os seus concidadãos<br />

estão também cooperando e agindo de forma<br />

semelhante. Será que é melhor ter menos trabalho<br />

na hora da decisão de compra e deixar para dividir<br />

com o mundo todo os prejuízos de um mundo cheio<br />

de lixo, com empresas desonestas e grande quantidade<br />

de produtos supérfluos? Não haja sozinho.<br />

Procure envolver outras pessoas na sua onda de<br />

consumo responsável. Discuta com seus amigos, sua<br />

família, seus colegas de escola e de trabalho as<br />

razões de suas compras e dos seus boicotes a<br />

produtos e empresas. Faça a sua onda e aproveite<br />

para surfar nela. Você ganha, ganha o planeta.<br />

Roberto Patrus Mundim Pena<br />

- Consultor da <strong>Do</strong> <strong>It</strong>


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E nós consumidores? Uma breve reflexão<br />

Quando leio a definição normalmente conhecida de<br />

Sustentabilidade – "Capacidade de atender as<br />

necessidades da geração actual, sem comprometer<br />

a habilidade das gerações futuras de atenderem as<br />

suas", não deixo de me perguntar de que necessidades<br />

estamos a falar? Será que de facto temos<br />

necessidade real de tudo o que temos hoje? Será<br />

que o que acreditamos ser necessário para nós é<br />

realmente necessário? Será que o que é necessário<br />

para mim também o é para si?<br />

No seu livro "The Cultural Creatives - how 50 million<br />

people are changing the world" ("Criadores de<br />

Cultura - como 50 milhões de pessoas estão<br />

mudando o mundo) - o sociólogo Paul H. Ray e a<br />

psicóloga Sherry Ruth Anderson mostram o resultado<br />

de 13 anos de pesquisa nos EUA e Europa,<br />

com cerca de 100.000 pessoas, 100 grupos focais e<br />

dezenas de entrevistas individuais mais profundas.<br />

Este resultado leva-nos a crer que mais de 50<br />

milhões de pessoas no mundo desenvolvido resolveram<br />

nos últimos 40 anos mudarem os seus estilos<br />

de vida para garantir "sustentabilidade" às próximas<br />

gerações. Os "criadores de cultura" são pessoas<br />

que se preocupam com ecologia, relacionamentos,<br />

paz, justiça social e também com autenticidade,<br />

espiritualidade e auto-expressão. Consomem<br />

voluntariamente menos, são menos focadas em<br />

sucesso material, dedicam uma maior parte das<br />

suas vidas ao desenvolvimento do bem comum e<br />

não do seu próprio apenas. São pessoas que ao<br />

mesmo tempo estão focadas em autoconhecimento<br />

e auto-desenvolvimento, mas<br />

também estão preocupadas com o desenvolvimento<br />

da sociedade. Entenderam que para mudar o<br />

mundo, precisaram de mudar a si mesmos.<br />

Será que é possível termos um mundo sustentável<br />

se cada um de nós não repensar o nosso estilo de<br />

vida? Será que haverá recursos naturais para gerar<br />

bens consumíveis por todos os mais de 6 biliões de<br />

pessoas que habitam este planeta hoje e para os<br />

tantos mais que habitarão no futuro?<br />

Volto à questão da necessidade. Penso que nós,<br />

que estamos fora destes 50 milhões de pessoas<br />

talvez nos tenhamos perdido no meio de uma enxurrada<br />

de anúncios publicitários e apelos mercadológicos<br />

que nos dizem que um determinado carro<br />

nos fará mais felizes ou que ver televisão num telefone<br />

móvel é imprescindível ou que aquela roupa<br />

nos tornará, de facto, desejáveis, etc. E saímos às<br />

compras autómatos, sem pensar em nada, só nas<br />

nossas "necessidades". Trabalhamos almejando<br />

4<br />

ganhar mais para<br />

podermos comprar,<br />

para podermos ter<br />

mais. Ficamos doentes,<br />

stressamo-nos, damos<br />

menos atenção à nossa<br />

família e amigos porque<br />

afinal de contas, ganhar<br />

a vida não é fácil.<br />

Acreditamos que ter<br />

mais é também ser<br />

mais.<br />

Mas, somos pessoas<br />

inteligentes, e quando<br />

lemos no jornal que<br />

uma qualquer empresa<br />

está a destruir as florestas,<br />

a provocar o êxodo<br />

rural,<br />

aumentando a pobreza<br />

nas cidades, e outras coisas mais, ficamos indignados.<br />

Quando vemos acidentes ecológicos em<br />

alguma parte do mundo ou quando presenciamos<br />

minorias sendo vilipendiadas de alguma forma,<br />

“Talvez nos tenhamos perdido no meio<br />

de uma enxurrada de anúncios publicitários e<br />

apelos mercadológicos que nos dizem que<br />

um determinado carro nos fará mais felizes ou<br />

que ver televisão num telefone móvel é<br />

imprescindível ou que aquela roupa nos<br />

tornará, de facto, desejáveis.”<br />

ficamos indignados. Mas, passados alguns dias,<br />

esquecemo-nos e voltamos autómatos às nossas<br />

compras tão necessárias. Bem, creio que se queremos<br />

mesmo manter a capacidade das gerações<br />

futuras de atenderem às suas necessidades, temos<br />

que rever as nossas. Somos nós que temos que<br />

parar um pouco, sair do automatismo e reflectir<br />

sobre o que de facto é necessário. A que necessidade<br />

devemos atender? Alicerçados por que<br />

valores? Sim, temos valores. E aplicá-los no nosso<br />

dia-a-dia pode fazer de nós um importantíssimo<br />

número a mais nas estatísticas dos 50 milhões e<br />

quem sabe teremos alguma possibilidade de<br />

sermos, verdadeiramente, "sustentáveis".<br />

Cibele Salviatto - Consultora da <strong>Do</strong> <strong>It</strong>.<br />

Fundadora da Atitude - www.atitude.srv.br


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E Eu? Que Posso Fazer? - Consumo Responsável<br />

«Consumir Menos, Consumir Melhor»<br />

Neste mundo mercantil, de jogos de influências e de interesses,<br />

não somos mais do que “robôs comandados pelos<br />

desejos dos seus senhores”. Neste caso, dos grandes<br />

senhores dos mercados mundiais e daqueles que fazem e<br />

ditam as regras internacionais. Daqueles que nos<br />

tornaram verdadeiros consumidores materialistas esquecendo<br />

os valores reais da nossa existência, dos direitos<br />

humanos e ambientais.<br />

Consumir parece ser agora aquilo que cada um sabe<br />

fazer melhor. Mas, as pessoas esquecem-se de fazer as<br />

perguntas “chave” a si mesmas quando adquirem um bem<br />

ou até mesmo um serviço: 1.º se precisam na realidade<br />

desse bem, 2.º quem o produziu, como e em que<br />

condições foi produzido? 3º Quem determina o preço de<br />

um bem e como é ele repartido e por quem? Ou seja,<br />

esquecem-se de tentar perceber se estão a contribuir<br />

para mudar as regras dos mercados mundiais (onde só os<br />

grandes tem lugar, à custa da exploração dos mais pobres<br />

e mais desfavorecidos), ou se pelo contrário estão a compactuar<br />

com as regras injustas dos mercados e assim a<br />

contribuir para as desigualdades de oportunidades, a<br />

pobreza, a destruição do meio ambiente, e ao desrespeito<br />

pelos Direitos Humanos fundamentais.<br />

É da nossa responsabilidade contribuir para mudar o<br />

actual sistema e modelo económico, social e ambiental,<br />

que está à beira do colapso comprometendo as gerações<br />

futuras. Uma sociedade de mercado em pleno desequilíbrio<br />

da sua economia, onde as assimetrias Norte/Sul são<br />

profundas. Onde prolifera a pobreza extrema, fome,<br />

epidemias, hecatombes humanitárias e políticas, exploração<br />

desenfreada dos recursos naturais. Um mercado que<br />

ignora e secundariza o mundo humano, negligencia a<br />

ecosfera e o planeta onde vivemos perdendo sempre face<br />

aos critérios de competitividade, preço e produtividade de<br />

alguns (das grandes multinacionais) deixando de fora a<br />

maior parte da população (aquela que não se adapta ao<br />

processo produtivo por exemplo como é o caso dos<br />

pequenos produtores do Sul).<br />

É preciso apelar à <strong>Responsabilidade</strong> dos Consumidores<br />

Individuais, Colectivos, Instituições e Empresas. Educar,<br />

Sensibilizar e mais do que isso, MUDAR AGORA os Comportamentos<br />

e Hábitos de consumo e de produção. As<br />

empresas principalmente as multinacionais têm de ser<br />

chamadas a assumir a responsabilidade das suas acções.<br />

Os consumidores não podem transferir para os outros as<br />

consequências do seu consumo na vida dos trabalhadores,<br />

no futuro das gerações e na natureza. É preciso<br />

apelar a um consumo responsável que inclui a ideia de<br />

sustentabilidade social e ambiental aplicada a critérios<br />

éticos. É preciso consumir diferente, ter mais e melhor<br />

informação sobre os produtos, os seus custos sociais e<br />

seu impacto ambiental. Consumir menos, consumir<br />

melhor, «consumir sem destruir».<br />

Liliana Mendes (Directora da COOPLANETA,<br />

Cooperativa Multissectorial de Consumo, CRL Cooperativa<br />

de Apoio ao Comércio Justo e Solidário / Tondela - Portugal)<br />

5<br />

O QUE POSSO FAZER?<br />

•Reutilizar, recuperar e reciclar…tudo;<br />

•Aprender a decifrar rótulos: conhecer os<br />

ingredientes e origem dos produtos.<br />

•Questionar as lojas e empresas sobre a<br />

origem e o modo de produção do que<br />

vendem.<br />

•Exigir dos fabricantes a reparação, a<br />

reciclagem e o repensar dos equipamentos.<br />

•Participar em campanhas sociais e laborais.<br />

•Comprar preferencialmente em<br />

Cooperativas e comércio local.<br />

•Preferir alimentos orgânicos e pouco<br />

embalados.<br />

•Diminuir o uso químicos e detergentes,<br />

preferir produtos ecológicos.<br />

•Poupar energia, usar pilhas reutilizáveis e<br />

lâmpadas económicas e electrodomésticos<br />

de energia verde.<br />

•Usar transportes públicos, andar a pé ou de<br />

bicicleta.<br />

•Reivindicar e proteger as áreas verdes<br />

públicas e privadas.<br />

•Estender todas boas práticas ao seu<br />

trabalho e empresa, às ferias ou em viagens.<br />

•Apreciar o que o dinheiro não compra.<br />

•Preferir consumir e oferecer produtos de<br />

COMÉRCIO JUSTO, de economia solidária e<br />

de agricultura biológica.<br />

(in 20 dicas para um Consumo Responsável no dia a dia; «Consumo Responsável –<br />

Questões, Desafios e Guia Prático para um futuro Sustentável » cadernos de Comércio<br />

Justo nº 1.)


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Estudo de Caso<br />

Os Centros do Futuro<br />

Os Centros de Conhecimento Comunitário “Olá<br />

Futuro” da mCel têm por missão desenvolver o<br />

espírito empreendedor e inovador, a cultura empresarial<br />

e o domínio das tecnologias ligadas ao<br />

aumento da produção, da produtividade e do valor<br />

acrescentado, estando associados à promoção da<br />

criação de micro, pequenas e médias empresa nas<br />

comunidades.<br />

O grande desafio destes centros é o de criar<br />

melhores condições de vida nas comunidades onde<br />

se estende a rede de cobertura da empresa de<br />

telefonia móvel mCel. Os centros são edificados em<br />

forte parceria com a comunidade, logo desde a<br />

reabilitação do edifício. Depois da sua implementação,<br />

funcionam como uma entidade especializada na<br />

difusão de Tecnologia e Formação sobre como<br />

“iniciar o seu próprio negócio”, utilizando vídeocursos<br />

e uma infra-estrutura de apetrechamento das<br />

salas financiada pela empresa.<br />

A formação de Formadores da comunidade é organizada<br />

com o apoio da Associação de Estudantes<br />

Finalistas das Universidades da capital. A coordenação<br />

de cada Centro é feita pela Administração do<br />

distrito, por um Centro de Formação Profissional,<br />

uma escola secundária ou uma escola técnico –<br />

profissional.<br />

Os Formadores da comunidade e a mCel criam,<br />

então, condições para que os produtores rurais,<br />

pequenos empresários, organizações comunitárias<br />

de base, associações de bairros, organização de<br />

produtores. desempregados e trabalhadores do<br />

sector informal aumentem o seu nível de conhecimento<br />

e competências técnicas, de forma a poderem<br />

criar ou melhorar as suas fontes de renda.<br />

6<br />

Gerar desenvolvimento<br />

Os benefícios para as comunidades em que foram<br />

implementados os Centros “Olá futuro” são quase<br />

imediatos e bastante visíveis a nível do desenvolvimento<br />

dos distritos. Um forte argumento para a sustentabilidade<br />

deste centro é a disponibilização de um<br />

internet café, composto por três computadores com<br />

acesso à internet, oferecido pela mcel, acoplado ao<br />

centro. O outro é a geração de rendimentos em áreas<br />

como Agricultura, Arte e artesanato, Pecuária,<br />

Mecanização Agrícola, Horticultura, Energia alternativa,<br />

Fruticultura e Gestão de negócios, que têm<br />

contribuído sobremaneira para o desenvolvimento<br />

dos distritos de Nacaroa, na província de Nampula<br />

(onde o centro existe desde Junho de 2007) e Gurùé,<br />

na província da Zambézia. A mcel enquadra esta<br />

acção na sua estratégia de <strong>Responsabilidade</strong> <strong>Social</strong>,<br />

promovendo o desenvolvimento com acções que<br />

agreguem valor e sustentabilidade às comunidades,<br />

utilizando os benefícios das novas tecnologias, a<br />

utilização de mão de obra local, com a participação<br />

directa dos seus funcionários na criação e implementação<br />

dos Centros de Conhecimento Comunitário Olá<br />

Futuro.<br />

Contribuindo inesgotavelmente com a expansão da<br />

sua cobertura, a mcel acredita que com estes dois<br />

centros, e os que se seguirão em outros distritos, está<br />

a acentuar o seu compromisso para o alcance das<br />

metas preconizadas pelos Objectivos de Desenvolvimento<br />

do Milénio.


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“FAZ O QUE EU DIGO MAS NÃO FAÇAS O QUE EU FAÇO”<br />

Este velho provérbio assenta como uma luva ao consumo<br />

responsável. Se perguntarmos na rua se as pessoas<br />

acham que as empresas deveriam ter uma atitude mais<br />

responsável perante os seus trabalhadores, a resposta é<br />

um uníssono: SIM. Se perguntarmos se o estado deve ser<br />

mais responsável em relação às questões ambientais:<br />

SIM. Se perguntarmos se a “comunidade internacional”<br />

(seja lá o que isso for) deve ser mais responsável e<br />

assumir de forma clara o seu papel na resolução dos<br />

problemas que afectam o mundo... mais um SIM!<br />

Mas se perguntarmos a essas mesmas pessoas se têm<br />

um conjunto de hábitos “responsáveis” a resposta à maior<br />

parte delas será: Não.<br />

“Há apenas 3 tipos de pessoas: as que fazem,<br />

as que vêem fazer e as que perguntam o<br />

que aconteceu, e é muito difícil estar<br />

sempre no primeiro grupo.””.<br />

A responsabilidade é um princípio inestimável e infelizmente<br />

escasso, e a responsabilidade social é uma obrigação<br />

de todos. De todos os agentes económicos e não só<br />

das corporações. O principal agente económico, quer<br />

queiramos quer não, é o indivíduo, somos todos nós.<br />

Quanto mais não seja porque somos mais.<br />

A nossa responsabilidade social não se avalia nem se<br />

reflecte nas nossas palavras mas sim nos nossos actos.<br />

São eles, os actos, que fazem a diferença, pequenas<br />

diferenças mas que no seu conjunto seriam mais do que<br />

suficientes para mudar o mundo.<br />

Cada indivíduo assume na sua vida diversos papéis.<br />

Somos pais, mães, filhos, amigos, empregados, patrões,<br />

etc. Nem todos temos todos estes papéis, mas há um que<br />

é comum a todos nós: somos TODOS consumidores!<br />

E é sobre esse papel, e sobre a forma responsável de o<br />

cumprir que me gostaria de debruçar. Sem moralismos,<br />

pois nesta matéria não há santos... como em tantas outras<br />

há apenas 3 tipos de pessoas: as que fazem, as que vêem<br />

fazer e as que perguntam o que aconteceu, e é muito<br />

difícil estar sempre no primeiro grupo.<br />

Então o que podemos fazer como consumidores para<br />

podermos SER consumidores responsáveis? Aqui ficam<br />

algumas sugestões práticas:<br />

- Rejeite sacos plásticos sempre que possível. Existem<br />

tantos sacos bonitos em Moçambique de pano ou de<br />

verga, porquê carregar as suas compras em sacos de<br />

plástico que se rompem e fazem mal ao ambiente?<br />

- Seja tão simpático com o empregado de mesa como<br />

gosta que as pessoas sejam consigo. Um sorriso não<br />

substitui a gorjeta, mas um sorriso não custa dinheiro.<br />

- Seja crítico mas construtivo. Um consumidor responsável<br />

não é aquele que é “mal servido” e se cala, mas<br />

também não é aquele que se exalta indiscriminadamente.<br />

Um consumidor responsável sabe que tem o direito a ser<br />

bem servido, mas também tem o dever de ajudar os<br />

outros a melhorar sendo que, como sabemos, muitos<br />

“front office” em Moçambique não tiveram formação para<br />

tal.<br />

- Use lâmpadas economizadoras em casa. São mais<br />

baratas, quer no preço de aquisição quer no consumo. A<br />

7<br />

energia é um problema sério, se nos habituarmos todos a<br />

poupar teremos todos um mundo melhor no futuro.<br />

- Feche a torneira quando está a lavar os dentes. A água<br />

é um bem cada vez mais escasso. Parece que é uma<br />

poupança pequena, mas imagine se toda a gente fizesse<br />

o mesmo.<br />

- Use comércio justo. Não compre artigos roubados por<br />

muito apelativos que sejam. Se comprar estará a compactuar<br />

com o crime cometido.<br />

- Procure consumir em lojas, restaurantes, bancos, etc,<br />

que considere socialmente responsáveis, que respeitem<br />

os seus empregados, que respeitem o ambiente e os seus<br />

clientes.<br />

- Aumente o ar condicionado um grau. Se não tem calor<br />

com 20 graus também não terá com 21, se ainda tem<br />

calor mesmo com 20 graus, então vai ter sempre calor, o<br />

melhor mesmo é desligar!<br />

- Elogie o bom serviço. É muito mais provável dizermos<br />

que algo está mal do que dizermos que algo está bem.<br />

Um elogio é também um incentivo para que a qualidade<br />

não baixe. Use um elogio sempre que se sentir bem com<br />

o que está a consumir.<br />

- Use os dois lados de uma folha de papel. Seja para<br />

rascunho, seja para recados, seja para dar ao seu filho<br />

para fazer desenhos, continua a ser útil.<br />

- Use as suas canetas até ao fim. Uma caneta de plástico<br />

deixada no chão ainda lá estará passados 50000 anos.<br />

Nós não, mas quem daqui a 50000 anos vai precisar de<br />

biliões de canetas de plástico?<br />

- Diga obrigado, ou kanimambo se preferir, desde que a<br />

outra pessoa compreenda que fez parte do seu dia pela<br />

positiva.<br />

- Tenha o ar certo nos pneus do seu carro. Ter menos ar<br />

do que o recomendado leva a um consumo de combustível<br />

muito superior. Faça-o pelo ambiente mas<br />

também pela sua carteira.<br />

Estas são apenas algumas pequenas acções típicas de<br />

um consumidor responsável. Nem sempre é fácil fazer, é<br />

muito mais fácil dizer que se faça. Mas juntos, e aos<br />

poucos estou certo que as pessoas começarão a mudar<br />

os seus comportamentos e, por conseguinte, a mudar os<br />

seus hábitos. E aí sim, quando estes e outros comportamentos<br />

já não forem estranhos mas sim hábitos naturais<br />

do nosso comportamento enquanto consumidores poderemos<br />

dizer com segurança que viveremos num mundo<br />

melhor. É um novo paradigma, é uma realidade em que<br />

não temos a saída fácil de responsabilizar os outros. O<br />

assunto é mesmo só connosco, individualmente, a<br />

responsabilidade de escolher bem, dia a dia, o comportamento<br />

que queremos ter.<br />

Fernando Mendes<br />

Kulunga Lda - www.kulunga.com


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A moda da sustentabilidade<br />

Actualmente é moda ser-se preocupado com o<br />

meio ambiente! É moda reciclar, consumir produtos<br />

reciclados, reduzir o nosso índice de consumo,<br />

recorrer a produtos ecológicos, incentivar<br />

práticas verdes, enfim...ser-se ecologicamente<br />

correcto!<br />

Primeiro vieram os hippies com a sua proposta de<br />

paz, amor e natureza. Depois, com seus cartões<br />

de crédito que mais se assemelhavam a navalhas,<br />

chegaram os yuppies. Agora até temos uma<br />

nova fauna humana, versão condensada do<br />

século XXI para um novo tipo de cultura adaptada<br />

à realidade: os SCUPIES (<strong>Social</strong>ly Conscious<br />

Upwardly Mobile Persons). De acordo com uma<br />

reportagem publicada na TimesOnline, ser um<br />

"scuppie" é ter uma boa qualidade de vida com<br />

um estilo de vida ético. Ao mesmo tempo que os<br />

SCUPIES têm um bom emprego, e ganham uma<br />

quantia considerável, fazem actividades pro bono<br />

paralelamente. Continuam a adquirir objectos<br />

caros, mas ponderam se aquilo causa um impacto<br />

no meio ambiente ou na esfera social.<br />

E assim somos sistematicamente bombardeados<br />

pelos media, por e-mails de correntes, por campanhas<br />

de comunicação e até pelos que nos<br />

rodeiam com informação e apelos ao “caminho<br />

verde”, e já se torna um debate de consciência,<br />

atingindo os ditos remorsos, sempre que para nós<br />

mesmos admitimos que poderíamos ter sido<br />

“mais ecológicos”...e, quando essa realidade vem<br />

a público, ainda se torna mais gritante - Recordome<br />

de um episódio recente em Portugal (que por<br />

sinal até é um país que não tem grandes preocupações<br />

de momento...) quando um conhecido<br />

jornalista admitiu numa entrevista que não fazia a<br />

“Para salvar o planeta é preciso assumir<br />

responsabilidades, mudar hábitos,<br />

transformar o quotidiano. Há que<br />

incentivar o civismo e promover uma<br />

actuação individual integrada numa<br />

cultura de consciência global.”.<br />

separação do seu lixo doméstico para reciclagem<br />

- Que vergonha! Um escândalo!<br />

No entanto, ninguém pondera em não trocar de<br />

celular sempre que sai um último modelo com<br />

mais umas características tão importantes que<br />

8<br />

nem se usam, mas são moda, nem quando se<br />

compra uma peça de mobiliário que nos encanta<br />

com o seu design “de revista” mas que nem por<br />

um momento questionamos de onde virá aquela<br />

madeira ou de que modo inconsciente estarão a<br />

ser devastadas as florestas, pois temos de ter<br />

aquela peça de moda, ou até mesmo quando se<br />

tomam aqueles longos duches de meias horas<br />

com toneladas de água a serem desperdiçadas,<br />

pois formas de diminuir o stress também são<br />

moda...<br />

Vivemos numa dualidade: por um lado a exacerbação<br />

à preservação e ao ecologicamente correcto<br />

atingindo extremos de radicalismo, mas urgentes<br />

pois a humanidade trava uma batalha, provavelmente<br />

a maior, pela sua sobrevivência. Por outro<br />

lado, a prática comum e mecânica de hábitos<br />

pouco sensatos herdados dos nossos inconscientes<br />

antepassados (sem um mínimo de preocupação<br />

com o planeta e, provavelmente, muito mais<br />

felizes do que nós) e dos quais muitos de nós nem<br />

tem noção das suas consequências.<br />

Para salvar o planeta é preciso assumir responsabilidades,<br />

mudar hábitos, transformar o quotidiano.<br />

Há que incentivar o civismo e promover uma<br />

actuação individual integrada numa cultura de<br />

consciência global. É urgente sermos sensatos e<br />

responsáveis pelos nossos hábitos de consumo! É<br />

a sustentabilidade do planeta ou a insustentabilidade<br />

do ser...<br />

Cláudia Marques - Consultor da <strong>Do</strong> <strong>It</strong>


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Eticamente na moda!<br />

Paris, Fevereiro de 20<strong>06</strong>. A afamada capital da<br />

moda, fervilha com os desfiles dos maiores estilistas<br />

do mundo. Mas este ano, uma nova atracção atrai as<br />

objectivas dos fotógrafos e as atenções dos amantes<br />

da moda: trata-se da “So Ethic”, alojada no Pret à<br />

Porter Paris, a primeira feira de moda ética, amiga do<br />

ambiente e que segue os princípios do comércio<br />

justo – transparência e respeito pelos trabalhadores,<br />

preservação da identidade cultural dos seus produtores<br />

e equilíbrio ambiental.<br />

Era assim em 20<strong>06</strong>, com a representação de 20<br />

marcas na “So Ethic”; em 2007, o número de expositores<br />

ascendia já a 70, todos eles assinantes da<br />

Declaração da Moda Ética. A sustentabilidade<br />

assumia-se, definitivamente, como uma moda e<br />

comprar roupa deixava de ser um acto desprovido de<br />

consciência ambiental e social.<br />

Marcas ambientais<br />

O apelo ao consumo responsável tem marcado as<br />

tendências da moda um pouco por todo o mundo. A<br />

marca holandesa de artigos têxteis C&A, por exemplo,<br />

lançou este ano novas colecções à base de<br />

algodão biológico na sua rede europeia. A marca<br />

prevê utilizar, numa primeira fase, 7.500 toneladas<br />

de algodão biológico, ou seja, 12,5 milhões de jeans,<br />

t-shirts, roupa interior para bebé e outros produtos<br />

para bebé, propostos «a preços acessíveis.»<br />

Estas novas colecções, tal como as anteriores,<br />

exibem também uma nova rotulagem que convida os<br />

compradores a lavar os seus artigos a baixas temperaturas,<br />

com o objectivo de economizar energia.<br />

Aquando da compra, os clientes levam a sua roupa<br />

para casa em sacos reciclados. Contudo, os<br />

consumidores são incitados a investir num saco C&A<br />

feito em algodão biológico, cujo valor da venda é<br />

transferido para projectos que promovam a cultura<br />

deste algodão nos países em vias de desenvolvimento.<br />

As lojas próprias não escapam à política ambiental. A<br />

C&A revela que 380 das suas sucursais – ou seja<br />

50% da sua superfície de venda na Europa – explora<br />

já uma corrente fornecida por força hidráulica. Uma<br />

energia limpa que a cadeia estenderá a 80% das<br />

suas sucursais europeias até 2010. Para já, cerca de<br />

150.000 lâmpadas dos pontos de venda foram<br />

substituídas em benefício de um novo sistema de<br />

iluminação ecológico.<br />

A utilização de têxteis amigos do ambiente já havia<br />

sido feita por outras marcas de roupa famosas, como<br />

a Levi’s. Em 20<strong>06</strong>, a marca americana colocou no<br />

mercado as «Levi’s Eco», umas calças de ganga<br />

confeccionadas a partir de algodão biológico. Outros<br />

elementos ecológicos destas calças são os botões<br />

de coco e a etiqueta de papelão reciclado. Para o<br />

acabamento, a marca recorre a componentes<br />

naturais, como flores e amido de batata. Outras<br />

marcas, como as desportivas «Nike», «Adidas»,<br />

9<br />

«Marks & Spencer» e até<br />

a do estilista Giorgio<br />

Armani já tinham lançado<br />

no mercado alguns<br />

artigos amigos do ambiente.<br />

O algodão biológico é um<br />

dos materiais mais utilizados<br />

na roupa ecológica.<br />

Outro é o cânhamo, uma<br />

planta a partir da qual se<br />

produz roupas, papel,<br />

plásticos, materiais de<br />

construção, comida, bebidas,<br />

cosméticos, metanol<br />

líquido, tintas e produtos<br />

de limpeza. A sua fibra é<br />

resistente e flexível. Na<br />

China, confecciona-se roupa a partir de uma mistura<br />

de fibra de milho e de bambu. As peças são cómodas<br />

e suaves e não se amarrotam. Comparada com<br />

outras matérias – como o poliéster ou o «nylon» –,<br />

tinge-se com facilidade, é pouco inflamável e resiste<br />

aos raios ultravioletas e às lavagens repetidas.<br />

No Brasil, Von Vogt descobriu a fibra de juta, uma<br />

planta da Amazónia, que usa em roupa e calçado.<br />

Uma particularidade deste produto é que em contacto<br />

com a natureza se decompõe em dois anos, enquanto<br />

o algodão demora uma década e o poliéster um<br />

século. Artigos com fibra de soja, trajes elaborados<br />

com embalagens de ovos, calças fabricadas a partir<br />

de algas são outros exemplos desta moda alternativa<br />

que combina criatividade com materiais insólitos.<br />

Outras consciências<br />

Já a Benetton, largamente conhecida pelas suas<br />

iniciativas inovadoras, não apelou à consciência<br />

ambiental dos seus consumidores mas optou por<br />

promover o micro-crédito através da iniciativa “Africa<br />

Works”, uma parceria com a cooperativa de crédito<br />

Birima, do cantor senegalês Youssou N´<strong>Do</strong>ur.<br />

Alessandro Benetton, vice-presidente executivo do<br />

grupo Benetton, admitiu que a empresa decidiu apoiar<br />

este projecto pois “é diferente das tradicionais acções<br />

de solidariedade, oferecendo apoio a pequenos<br />

produtores regionais através do uso do micro-crédito”.<br />

Porque, “efectivamente, promove a nova face de<br />

África”, adiantou. O slogan “Africa Works” apareceu<br />

em outdoors e na imprensa escrita de todo o mundo.<br />

A acção de promoção coloca em destaque, através de<br />

imagens, trabalhadores senegaleses que utilizaram o<br />

micro-crédito para financiar pequenos negócios.<br />

Fotos de um pescador, um músico, um fazendeiro ou<br />

um lutador de boxe são os exemplos, entre muitos<br />

outros, que a objectiva do fotógrafo James Mollison<br />

captou. Pessoas reais que mostram ao mundo a luta<br />

contra a pobreza através do trabalho digno.<br />

Soraia Abdula


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RSE Notícias<br />

MISAU e HCB assinam memorando de entendimento.<br />

O Ministério da Saúde e a Hidroeléctrica<br />

de Cahora Bassa (HCB) assinaram no dia<br />

14 de Maio, em Maputo, um memorando de<br />

entendimento com o objectivo de estabelecer os<br />

princípios que vão reger a colaboração entre as<br />

duas instituições. Esta colaboração diz respeito<br />

a actividades que se relacionam com a saúde<br />

dos trabalhadores da HCB, em questões ligadas<br />

à saúde ocupacional, com as acções do Governo<br />

para minimização e controlo de riscos ocupacionais<br />

e para a mitigação dos impactos a<br />

eles associados. O foco principal é a actividade<br />

do Posto de Medicina no Trabalho da HCB, destinado<br />

primeiramente aos seus trabalhadores e<br />

familiares, pelo que a empresa deseja uma<br />

maior presença da autoridade sanitária, nomeadamente<br />

através de pessoal técnico especializado,<br />

no acompanhamento e realização das<br />

acções ali praticadas.<br />

Executivos de topo com agenda verde. Um<br />

recente inquérito da McKinsey Quartely não<br />

deixa margem para dúvidas: as questões da<br />

sustentabilidade ambiental e da mudança<br />

climática estão no topo das agendas dos próximos<br />

anos para 60% dos executivos de topo a<br />

nível mundial. O mais difícil é passar à prática.<br />

Para os gestores, não é óbvio conciliar o<br />

aumento dos lucros com a complexidade da<br />

estratégia verde (que envolve variáveis como as<br />

emissões para a atmosfera, o uso de recursos<br />

escassos, o aprovisionamento com ética ou a<br />

conformidade com as normas regulatórias de<br />

cada país).Foi para facilitar esta tarefa dos<br />

executivos neste domínio da sustentabilidade<br />

que a empresa norte-americana SAS anunciou<br />

esta semana em Londres o «Sustainability<br />

Management», o primeiro produto de software<br />

de apoio à decisão do mercado que visa ajudar<br />

as empresas a melhorar a gestão do investimento<br />

verde e o seu desempenho ambiental. O<br />

especialista em aplicações informáticas de<br />

«business intelligence» aproveitou a oportunidade<br />

para realizar uma conferência internacional<br />

dedicada às questões ambientais, em que<br />

participaram não só o seu presidente e funda-<br />

10<br />

dor, Jim Goodnight, como também especialistas<br />

mundiais em tecnologia e ambiente (Andrew<br />

Winston, <strong>Do</strong>n Tapscott, Stern of Brentford, entre<br />

outros). (in Expresso online).<br />

Energia solar precisa de dez anos para competir<br />

com o petróleo. As tecnologias de energia<br />

solar precisam de mais dez anos de investimento<br />

em investigação e desenvolvimento para se<br />

tornarem uma alternativa economicamente competitiva<br />

ao petróleo, afirma Harry Gray, professor<br />

de Química do Instituto de Tecnologia da Califórnia<br />

(Caltech). "A energia solar pode, potencialmente,<br />

fornecer toda a electricidade e combustível<br />

de que necessitamos no planeta",<br />

afirmou o cientista num recente encontro da<br />

American Chemical Society, mas o grande desafio<br />

para o conseguir é reduzir suficientemente os<br />

custos de modo a que a mudança dos combustíveis<br />

fósseis para as energias renováveis<br />

faça sentido do ponto de vista económico. E o<br />

ponto de viragem será conseguido quando o<br />

custo da energia solar fotovoltaica puder ser<br />

reduzido a seis cêntimos por kilowatt-hora (10<br />

cêntimos de dólar). (in Expresso online).<br />

Energias renováveis: conforto ou redução de<br />

custos? Os homens dão mais importância ao<br />

conforto e as mulheres à redução dos custos de<br />

manutenção, quando inquiridos sobre a principal<br />

razão para explicar a valorização de um imóvel<br />

com equipamentos de produção de energias<br />

renováveis. Esta é uma das conclusões do<br />

estudo sobre energias renováveis levado a cabo<br />

pela Cetelem (grupo BNP Paribas), empresa<br />

líder no crédito ao consumo na Europa Continental,<br />

e divulgado na revista "Observador Cetelem".<br />

Software para a sustentabilidade? A Infor<br />

lançou uma solução de software - a Infor EAM<br />

Asset Sustainability Edition - que permite às<br />

empresas portuguesas integrar o consumo de<br />

energia e a gestão de emissões de gases com<br />

efeito de estufa nas suas práticas de gestão de<br />

activos, reduzindo de forma significativa tanto o<br />

consumo como as emissões.


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Glossário<br />

Ethical Trade (Comércio Justo) –<br />

Pretende assegurar o cumprimento<br />

dos requisitos mínimos de condições<br />

laborais nas cadeias de produção e<br />

pretende erradicar todas as formas de<br />

trabalho mais exploratórias tais como<br />

trabalho infantil, trabalho forçado e<br />

sweatshops. ?<br />

Eco-label (rótulo ecológico) – Informação<br />

na rotulagem dos produtos<br />

que esclarece os consumidores<br />

acerca do impacto social e ético<br />

decorrente da produção daquele<br />

produto, nomeadamente se foi fabricado<br />

segundo os princípios consagrados<br />

pelos Direitos Humanos. Este<br />

selo ou logotipo é um critério suplementar<br />

na decisão de compra do<br />

consumidor.?<br />

(Fonte: www.eco-labels.org)<br />

Links:<br />

Agenda<br />

www.biopact.com - pacto de energia verde entre a Europa e África<br />

Reflexão e Perspectivas de <strong>Responsabilidade</strong> <strong>Empresarial</strong> e Sustentabilidade<br />

em Moçambique, de 28 a 30 de Junho, Indigo Bay, Ilha de Bazaruto.<br />

Dando seguimento a uma das conclusões resultantes dos encontros havidos o<br />

ano passado, no Parque Nacional da Gorongosa, em Sofala, denominados<br />

Reflexão e Perspectivas de <strong>Responsabilidade</strong> <strong>Social</strong> e Ética Corporativa em<br />

Moçambique, indicando que os mesmos deveriam ser retomados anualmente,<br />

a <strong>Do</strong> <strong>It</strong> e o FEMA repetem o evento. À semelhança do ano passado, as sessões<br />

serão dirigdas pelo Dr. Roberto Patrus Pena e pretende-se facilitar aos participantes,<br />

líderes do sector empresarial moçambicano, a possibilidade de desenvolverem<br />

e partilharem uma compreensão profunda de como é possível a<br />

integração das alterações sociais e ambientais que afectam Moçambique na<br />

sua estratégia de negócio.<br />

•Sustainable Brands Congress, de 2 a 6 de Junho, Monterey, Califórnia,<br />

EUA. Trata-se da segunda edição do único evento que debate a sustentabilidade<br />

como um motor do valor da marca (para mais informações, consulte<br />

www.sustainablebrands08.com/ )<br />

•Sustainable Finance Summit 2008, 23 e 24 de Junho, Bruxelas. A Conferência<br />

Anual Sustainable Finance Summit 2008 visa responder aos desafios,<br />

actuais e futuros, e debater a forma como estes poderão afectar decisivamente<br />

as empresas, nomeadamente no sector financeiro. Um painel de oradores irá<br />

debater os riscos físicos, financeiros, em termos de reputação e as novas<br />

oportunidades da sustentabilidade e ética no sector financeiro (para mais<br />

informações, consulte http://www.ethicalcorp.com/finance/ )<br />

•4º Congresso Mundial do ISBEE, de 15 a 18 de Julho, Cidade do Cabo.<br />

Realiza-se a cada quatro anos e é muitas vezes apelidado de Olímpiadas da<br />

Ética <strong>Empresarial</strong>. A cada edição, atrai as mentes mais brilhantes nas áreas de<br />

ética empresarial e da economia. O principal tema do congresso de 2008 é<br />

“Global Fairness - Local Integrity”. (para mais informações consulte<br />

www.isbee.org)<br />

Sugestões para Pesquisa<br />

www.akatu.com.br/ - página do Instituto Akatu, que visa consciencializar e mobilizar os cidadãos para o seu papel<br />

enquanto consumidores, na construção da sustentabilidade da vida no planeta.<br />

www.economiasolidaria.org - espaço de reflexão das redes de economia alternativa e solidária.<br />

Livros:<br />

Como mudar o mundo - os empreendedores sociais e o poder de novas ideias,<br />

David Bornstein<br />

A importância dos homens de negócios para a economia é a mesma dos empreendedores sociais<br />

para a mudança social. Nesta obra, David Bornstein mostra como o empreendedorismo social<br />

tem sido viabilizado em todo o mundo por indivíduos altamente motivados, questionadores do<br />

status quo, inovadores e exploradores de novas oportunidades, que são capazes de transformar<br />

condições e situações adversas com altas doses de criatividade e obstinação.<br />

Como mudar o mundo- empreendedores sociais e o poder das novas ideiais apresenta trajectórias<br />

de êxito na mudança e desenvolvimento da sociedade, promovidas por indivíduos memoráveis<br />

na Índia, Estados Unidos, Brasil, Hungria, Polônia, África do Sul e outros países<br />

Estudos e projectos<br />

O Estado da Competitividade Responsável 2007 -<br />

Relatório que reúne os principais desafios e oportunidades em<br />

competitividade responsável e é dirigido a todos os decisores políticos e<br />

empresários que pretendem impor-se num mercado global cada vez<br />

mais competitivo: http://www.accountability21.net/<br />

15<br />

Os nossos contactos:<br />

Av. Julius Nyerere, <strong>Nº</strong> 794 • 7º Esquerdo<br />

Maputo - Moçambique • Telefax: +288 21 49 72 45<br />

doitright@tdm.co.mz

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