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Edição 1183 - Jornal do Cambuci & Aclimação

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SÃO PAULO, 11/06 a 17/06/2010<br />

Crônica<br />

O Tema recorrente<br />

Nasceu o Guilherme,<br />

nenê da Marcela e <strong>do</strong><br />

Marcos, grandes amigos.<br />

Contrarian<strong>do</strong> a Teoria <strong>do</strong><br />

Joelho, nasceu lin<strong>do</strong>, o safa<strong>do</strong>,<br />

igual a mãe e o pai. O<br />

Mariano, nenê <strong>do</strong> Léo e da<br />

Ana, já está no pedaço também.<br />

Ainda ontem foi o Lucas,<br />

fabrica<strong>do</strong> pela Andréia e<br />

pelo Tiago, e a Mariah, fi lha<br />

da minha amiga Karla.<br />

Pessoas vão nascen<strong>do</strong><br />

para preencher o espaço das<br />

que morrem. A vida é ciclo,<br />

marés. Há exatos três anos<br />

morreu minha mãe, ano passa<strong>do</strong><br />

morreu a Maria, minha<br />

tia; morreu também o seu Pi,<br />

no fi nalzinho <strong>do</strong> ano, avô da<br />

minha mulher; recentemente<br />

a Silvani também se foi,<br />

jovem, trinta e poucos anos.<br />

Câncer repentino, generaliza<strong>do</strong>.<br />

Quem está livre?<br />

Segun<strong>do</strong> a mitologia grega<br />

to<strong>do</strong>s foram leva<strong>do</strong>s pelo<br />

Caronte, o barqueiro <strong>do</strong>s<br />

mortos (que é velho e magro,<br />

mas sufi cientemente forte<br />

e vigoroso para a tarefa),<br />

que arrasta os recém-mortos<br />

para o outro la<strong>do</strong> <strong>do</strong> rio. Pois<br />

é... é a morte nos alcançan<strong>do</strong><br />

em plena vida.<br />

A morte é estupidamente<br />

cruel com os que fi cam; com<br />

os que vão não se sabe. Supõe-se<br />

que não, que os que<br />

vão estão muito bem, lá ao<br />

la<strong>do</strong> direito <strong>do</strong> Senhor, tranquilos,<br />

tocan<strong>do</strong> arpa; mas...<br />

quem tem certeza dessas<br />

coisas?<br />

Vinícius de Moraes, em<br />

Tol<strong>do</strong>s<br />

Synteko<br />

Serralheria<br />

Samba da Bênção, dizia que<br />

só acreditaria se “fosse muito<br />

bem prova<strong>do</strong>, com certidão<br />

passada em cartório <strong>do</strong> céu<br />

e assina<strong>do</strong> embaixo: Deus. E<br />

com fi rma reconhecida!”<br />

Filosofan<strong>do</strong>, debruça<strong>do</strong><br />

sobre este balcão de botequim<br />

que é o tecla<strong>do</strong> <strong>do</strong> meu<br />

computa<strong>do</strong>r, ilustraria a vida<br />

<strong>do</strong> Homem com a metáfora<br />

<strong>do</strong> jarro d’água posto sob a<br />

torneira aberta. O vaso é o<br />

mun<strong>do</strong>, sempre cheio de vidas,<br />

e a água as vidas humanas,<br />

que se sucedem e se alternam<br />

dentro dele. Gostou?<br />

Coisa linda, né?<br />

Bem, estou escreven<strong>do</strong> sobre<br />

isso tu<strong>do</strong> porque len<strong>do</strong> a<br />

orelha <strong>do</strong> meu livro, que foi<br />

elaborada cordial e gentilmente<br />

pelo seu Murilo, meu<br />

Costrução<br />

Refrigeração<br />

amigo e atento leitor, percebi<br />

que, em certo momento<br />

<strong>do</strong> texto, seu Murilo afi rma:<br />

“...a morte, com seu caráter<br />

de surpresa, mistério e<br />

irreversibilidade, parece ser o<br />

ponto central da prosa de Cesar<br />

Cruz.”<br />

Li aquilo e me surpreendi:<br />

Não havia me da<strong>do</strong> conta<br />

de que a morte é o meu<br />

tema central! Pensan<strong>do</strong><br />

bem, seu Murilo tem toda a<br />

razão. Meus contos e crônicas<br />

são mesmo cheios dela,<br />

a vilã maior, essa bruxa maligna<br />

que devora os amigos<br />

e a família da gente. Mas o<br />

que posso fazer? To<strong>do</strong> o escritor<br />

tem seu tema recorrente;<br />

pelo menos é o que dizem.<br />

Dizem também que o tema<br />

recorrente de um escritor não<br />

Construção<br />

é um simples tema recorrente,<br />

inanima<strong>do</strong>. Não, não! Ele<br />

tem vida, persegue o escritor.<br />

“Escreva sobre mim, escreva<br />

sobre mim!”, aporrinha, na<br />

calada da noite, até nos sonhos<br />

<strong>do</strong> escritor, o tema recorrente.<br />

Bem, se isso não tem mesmo<br />

jeito, se o tema recorrente<br />

atinge até os grandes escritores,<br />

o que não fará comigo,<br />

pobre de mim?<br />

Me consola saber que, pelo<br />

menos por enquanto, é só isso<br />

que a morte, meu tema recorrente,<br />

deseja de mim: que eu<br />

escreva sobre ela. Ufa!<br />

Cesar Cruz é escritor e<br />

colabora<strong>do</strong>r <strong>do</strong> JC&A - www.osca<br />

usos<strong>do</strong>cruz.blogspot.com<br />

Portas<br />

Box<br />

<strong>Jornal</strong> <strong>do</strong> <strong>Cambuci</strong> & <strong>Aclimação</strong> - 11<br />

Construção e Reforma<br />

Vidros<br />

Assis. Técnica<br />

Serralheria

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