A urbanidade e os percursos noturnos na cartografia histórica da ...

e aos encontros noturnos vivenciados pela população. Os jornais da década de 1990 revelam a
insegurança e o abandono de pólos culturais nos principais bairros da cidade, o que gerou
também a mudança de padrão de comportamento. Assim, em conformidade com os referidos
dados, a metodologia de pesquisa está fundamentada no método histórico de investigação: a
leitura, o confronto e a interpretação das fontes escritas e iconográficas tanto de natureza
primária como secundária. Essas fontes históricas estão presentes nos arquivos públicos da
cidade do Recife. O trabalho também tem como abordagem os testemunhos orais (LE GOFF,
2008). O confronto dos registros orais com os escritos e as iconografias possibilitam a
interpretação documental para confecção dos percursos noturnos nos mapas. Esses percursos
juntamente com a análise sintática (HILLIER, 1984) referente aos sistemas de espaços abertos
ou axiais (conjunto de ruas, praças e avenidas) dos mapas históricos de 1970 a 1990, permitem
interpretar um sistema de probabilidades de encontros. Esse sistema é traduzido por análises
quantitativas que vão medir certos elementos que podem estar ou não presentes nos mapas
históricos: a acessibilidade, a integração, a integração global, a integração local, a
conectividade, a profundidade e o movimento natural. Esses elementos permitem verificar
traços característicos da transformação da morfologia da cidade ao longo dos vinte anos. O
confronto das fontes históricas com a análise das linhas axiais dos mapas constata as
mudanças e as permanências dos elementos axiais ao longo do tempo e permite uma
compreensão maior sobre as práticas culturais noturnas e sua relação com o espaço. Os
percursos levantados pelas fontes históricas possibilitam mostrar alguns resultados parciais: as
fontes históricas do início da década de 1970 mostram que houve um marco – o prélançamento
do “Plano Nacional de Turismo” - para o crescimento dos bairros de muitas
cidades brasileiras como o bairro de Boa viagem, no Recife. Os pólos culturais, os bares,
restaurantes e boates formavam um circuito de encontros, onde a urbanidade se expressava
no território noturno do bairro mais badalado da cidade. Ao longo dos anos de 1990, o
crescimento de Boa viagem se tornou uma preocupação devido ao aumento da violência e a
decadência dos pólos culturais. Nesse intere, a pesquisa histórica identificou alguns pólos
culturais, assim como os bares e restaurantes da década de 1970 que faziam parte do circuito
noturno freqüentado pela população e que, a partir de 1990, desaparecem da trama urbana
de encontros.