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A urbanidade e os percursos noturnos na cartografia histórica da ...

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A <strong>urbani<strong>da</strong>de</strong> e <strong>os</strong> percurs<strong>os</strong> noturn<strong>os</strong> <strong>na</strong> <strong>cartografia</strong> <strong>histórica</strong> <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de: o Bairro de Boa<br />

viagem, Ci<strong>da</strong>de do Recife, Per<strong>na</strong>mbuco, Brasil, 1970 – 1990<br />

Circe Monteiro, Mag<strong>na</strong> Milfont, Caroli<strong>na</strong> Puttini<br />

monteiro.circe@gmail.com; mag<strong>na</strong>milfont@hotmail.com; caroli<strong>na</strong>.pti@gmail.com<br />

Urbani<strong>da</strong>de, percurs<strong>os</strong>, ci<strong>da</strong>de notur<strong>na</strong>, violência<br />

O trabalho pretende m<strong>os</strong>trar como as transformações urba<strong>na</strong>s efetua<strong>da</strong>s e marca<strong>da</strong>s <strong>na</strong><br />

<strong>cartografia</strong> <strong>histórica</strong> de uma ci<strong>da</strong>de tiveram impacto sobre <strong>os</strong> percurs<strong>os</strong> e o comportamento<br />

<strong>da</strong>s pessoas que freqüentavam a noite. A “cordiali<strong>da</strong>de” e a “afabili<strong>da</strong>de” (<strong>urbani<strong>da</strong>de</strong>) -<br />

sintetiza<strong>da</strong>s pel<strong>os</strong> percurs<strong>os</strong> d<strong>os</strong> boêmi<strong>os</strong> (DARNTON, 1987) d<strong>os</strong> encontr<strong>os</strong> e desencontr<strong>os</strong> que<br />

faziam o roteiro d<strong>os</strong> intelectuais, <strong>da</strong> gente jovem e festeira - pareciam desaparecer com as<br />

noites violentas de ci<strong>da</strong>des brasileiras como o Recife. A Ci<strong>da</strong>de do Recife é capital do Estado de<br />

Per<strong>na</strong>mbuco e está localiza<strong>da</strong> as margens do oceano Atlântico. A ci<strong>da</strong>de ou município p<strong>os</strong>sui<br />

uma área de 217,494 km² e uma população de 1.536.934 de pessoas. É a sede <strong>da</strong> área<br />

metropolita<strong>na</strong> que leva seu nome - a Região Metropolita<strong>na</strong>. A Região Metropolita<strong>na</strong> do Recife<br />

é a maior aglomeração urba<strong>na</strong> do Nordeste brasileiro e a quinta maior do país, com 3,7<br />

milhões de habitantes. Está classifica<strong>da</strong> pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –<br />

IBGE - como uma metrópole <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l e a terceira mais densamente habita<strong>da</strong> do país. A Região<br />

Metropolita<strong>na</strong> do Recife p<strong>os</strong>sui a quarta maior rede urba<strong>na</strong> do Brasil em população e está<br />

constituí<strong>da</strong> por importantes bairr<strong>os</strong> que mantém uma significativa vi<strong>da</strong> notur<strong>na</strong> desde a<br />

déca<strong>da</strong> de 1970. Dentre <strong>os</strong> bairr<strong>os</strong>, é p<strong>os</strong>sível destacar o Bairro de Boa Viagem, localizado <strong>na</strong><br />

Zo<strong>na</strong> Sul <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de do Recife. Esse bairro sofreu, a partir d<strong>os</strong> an<strong>os</strong> de 1970, uma crescente<br />

transformação urba<strong>na</strong> que se manifestava pela construção de grandes edificações e<br />

condomíni<strong>os</strong> fechad<strong>os</strong>. É também a partir de 1970 que se iniciam <strong>os</strong> grandes projet<strong>os</strong><br />

turístic<strong>os</strong> no âmbito <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l por meio <strong>da</strong> implantação d<strong>os</strong> pól<strong>os</strong> culturais <strong>na</strong>s ci<strong>da</strong>des: o prélançamento<br />

do “Plano Nacio<strong>na</strong>l de Turismo”. A efervescência <strong>da</strong> propagan<strong>da</strong> turística podia<br />

ser traduzi<strong>da</strong> pelo slogan que se via n<strong>os</strong> jor<strong>na</strong>is <strong>da</strong> época que dizia “Per<strong>na</strong>mbuco para <strong>os</strong><br />

brasileir<strong>os</strong>, para a América, para o mundo”. Essa idéia turística estava alia<strong>da</strong> a “marcha do<br />

progresso”, o que se expressava pelo crescimento vertigin<strong>os</strong>o <strong>da</strong>s aveni<strong>da</strong>s e ruas d<strong>os</strong><br />

principais bairr<strong>os</strong> do Recife, em especial, o de Boa Viagem. A partir d<strong>os</strong> an<strong>os</strong> de 1990, salvo<br />

outr<strong>os</strong> fatores, as transformações no padrão construtivo contribuíram também para crescente<br />

on<strong>da</strong> de violência, o que envolveu as mu<strong>da</strong>nças d<strong>os</strong> percurs<strong>os</strong> noturn<strong>os</strong> <strong>da</strong>s pessoas -<br />

expressões <strong>da</strong> <strong>urbani<strong>da</strong>de</strong>. Esses percurs<strong>os</strong> estavam diretamente ligad<strong>os</strong> a<strong>os</strong> pont<strong>os</strong> de cultura


e a<strong>os</strong> encontr<strong>os</strong> noturn<strong>os</strong> vivenciad<strong>os</strong> pela população. Os jor<strong>na</strong>is <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1990 revelam a<br />

insegurança e o abandono de pól<strong>os</strong> culturais n<strong>os</strong> principais bairr<strong>os</strong> <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, o que gerou<br />

também a mu<strong>da</strong>nça de padrão de comportamento. Assim, em conformi<strong>da</strong>de com <strong>os</strong> referid<strong>os</strong><br />

<strong>da</strong>d<strong>os</strong>, a metodologia de pesquisa está fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> no método histórico de investigação: a<br />

leitura, o confronto e a interpretação <strong>da</strong>s fontes escritas e iconográficas tanto de <strong>na</strong>tureza<br />

primária como secundária. Essas fontes <strong>histórica</strong>s estão presentes n<strong>os</strong> arquiv<strong>os</strong> públic<strong>os</strong> <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong>de do Recife. O trabalho também tem como abor<strong>da</strong>gem <strong>os</strong> testemunh<strong>os</strong> orais (LE GOFF,<br />

2008). O confronto d<strong>os</strong> registr<strong>os</strong> orais com <strong>os</strong> escrit<strong>os</strong> e as iconografias p<strong>os</strong>sibilitam a<br />

interpretação documental para confecção d<strong>os</strong> percurs<strong>os</strong> noturn<strong>os</strong> n<strong>os</strong> mapas. Esses percurs<strong>os</strong><br />

juntamente com a análise sintática (HILLIER, 1984) referente a<strong>os</strong> sistemas de espaç<strong>os</strong> abert<strong>os</strong><br />

ou axiais (conjunto de ruas, praças e aveni<strong>da</strong>s) d<strong>os</strong> mapas históric<strong>os</strong> de 1970 a 1990, permitem<br />

interpretar um sistema de probabili<strong>da</strong>des de encontr<strong>os</strong>. Esse sistema é traduzido por análises<br />

quantitativas que vão medir cert<strong>os</strong> element<strong>os</strong> que podem estar ou não presentes n<strong>os</strong> mapas<br />

históric<strong>os</strong>: a acessibili<strong>da</strong>de, a integração, a integração global, a integração local, a<br />

conectivi<strong>da</strong>de, a profundi<strong>da</strong>de e o movimento <strong>na</strong>tural. Esses element<strong>os</strong> permitem verificar<br />

traç<strong>os</strong> característic<strong>os</strong> <strong>da</strong> transformação <strong>da</strong> morfologia <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de ao longo d<strong>os</strong> vinte an<strong>os</strong>. O<br />

confronto <strong>da</strong>s fontes <strong>histórica</strong>s com a análise <strong>da</strong>s linhas axiais d<strong>os</strong> mapas constata as<br />

mu<strong>da</strong>nças e as permanências d<strong>os</strong> element<strong>os</strong> axiais ao longo do tempo e permite uma<br />

compreensão maior sobre as práticas culturais notur<strong>na</strong>s e sua relação com o espaço. Os<br />

percurs<strong>os</strong> levantad<strong>os</strong> pelas fontes <strong>histórica</strong>s p<strong>os</strong>sibilitam m<strong>os</strong>trar alguns resultad<strong>os</strong> parciais: as<br />

fontes <strong>histórica</strong>s do início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1970 m<strong>os</strong>tram que houve um marco – o prélançamento<br />

do “Plano Nacio<strong>na</strong>l de Turismo” - para o crescimento d<strong>os</strong> bairr<strong>os</strong> de muitas<br />

ci<strong>da</strong>des brasileiras como o bairro de Boa viagem, no Recife. Os pól<strong>os</strong> culturais, <strong>os</strong> bares,<br />

restaurantes e boates formavam um circuito de encontr<strong>os</strong>, onde a <strong>urbani<strong>da</strong>de</strong> se expressava<br />

no território noturno do bairro mais ba<strong>da</strong>lado <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de. Ao longo d<strong>os</strong> an<strong>os</strong> de 1990, o<br />

crescimento de Boa viagem se tornou uma preocupação devido ao aumento <strong>da</strong> violência e a<br />

decadência d<strong>os</strong> pól<strong>os</strong> culturais. Nesse intere, a pesquisa <strong>histórica</strong> identificou alguns pól<strong>os</strong><br />

culturais, assim como <strong>os</strong> bares e restaurantes <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1970 que faziam parte do circuito<br />

noturno freqüentado pela população e que, a partir de 1990, desaparecem <strong>da</strong> trama urba<strong>na</strong><br />

de encontr<strong>os</strong>.

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