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UNB osman lins

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Antecipando o que será posteriormente desenvolvido, relacionamos essa concepção<br />

que subtrai o cosmos do caos pela ordenação harmônica, que se realiza nos números, na<br />

geometria e no conhecimento, que é meditação e revelação, a uma longa tradição do<br />

pensamento ocidental, assentada em Pitágoras e em seu herdeiro espiritual, Platão.<br />

[...] y de seguro que no hay ni habrá jamás un escrito mío sobre estos temas, pues<br />

no pueden ser formulados de ningún modo, a la manera de otros saberes, sino que<br />

sólo tras mucho trato y convivencia com esta matéria , repentinamente, como la<br />

lumbre que brota de una chispa, surge este saber em el alma y se alimenta ya por<br />

sí mismo (PLATÃO, 2005, CARTA SÉPTIMA, 341 c).<br />

No momento em que se trazem as declarações de Osman Lins à pauta de discussões,<br />

com ênfase na visão sobre a produção/execução de sua obra, calculadamente planejada<br />

tendo em vista manter “o diálogo ente o texto e o mundo”, somos levados a fazer relações<br />

que se desdobram do plano ensaístico ao ficcional, como se de um gênero emergisse o<br />

outro.<br />

Guerra Sem testemunhas trata do escritor, de sua condição e da realidade social,<br />

conforme lemos em seu subtítulo. Apesar dos traços de ficcionalidade, marcadamente com<br />

a criação da personagem Willy Mompou, a obra pende em seu equilíbrio para a matéria<br />

ensaística sobre a arte literária, visando ao tripé autor/obra/contexto, que direciona o<br />

pêndulo ao âmbito da produção, considerando-se, no sistema literário, as dimensões de<br />

produção, de mediação, de recepção. Correlativamente podemos pensar Avalovara e A<br />

rainha dos cárceres da Grécia como obras que ficcionalizam o processo de produção, a<br />

arquitetura do texto e os modos de recepção. Em A rainha dos cárceres da Grécia a ênfase<br />

é dada aos processos de mediação e de recepção, numa narrativa que se equilibra entre<br />

diário, romance e ensaio. Assim, na fluidez dos limites, o equilíbrio é mantido entre<br />

sondagens, reflexão, tradição e inovação. Nesse processo, do fluxo da narrativa emergem<br />

fragmentos de cunho reflexivo, metaliterário, violentando a forma do romance tradicional,<br />

que se pretendia reflexo da realidade. “Convivemos todos os dias com as narrativas escritas<br />

e isto esconde o seu mistério. Uma viagem está no texto, íntegra: partida, percurso e<br />

chegada. Nele, há o ir e o estar, isto é, coincidem o fluxo e a permanência” (LINS, 1974, R<br />

15, p. 261) (itálico no texto).<br />

Em A rainha dos cárceres da Grécia, a análise feita pelo narrador/personagem de<br />

aspectos do romance, entre estes o espaço e o tempo, tornam explícitas as reflexões sobre o<br />

fazer literário que se desnuda como ficção. O narrador funda um espaço de interação, em<br />

que se mesclam as funções de produção, mediação e recepção, consciente da ilusão da<br />

representação, no entanto comprometido com um contexto social real.<br />

A mobilidade, a incerteza, a fusão – as cidades de Recife e Olinda<br />

trespassando-se –, a iconografia da Invasão Holandesa projetando de algum modo<br />

a paisagem urbana no Tempo e, ainda, a nota de ameaça, concentrada no<br />

gigantismo dos pássaros, tudo isso transfigura em A rainha dos cárceres da<br />

Grécia o espaço, tornando-o único, original, específico dessa obra e inteiramente<br />

refeito pela imaginação.<br />

Mas talvez houvesse o risco de uma fisssura demasiado ampla entre o<br />

espaço do romance de o espaço ordinário, não obstante as numerosas alusões às<br />

duas cidades reais […] Havia ainda o perigo de um corte ou, ao menos, de uma<br />

atenuação do nexo entre esse espaço feérico e a temática da penúria, cuja<br />

importância no livro é indiscutível. (LINS, 1977, p. 156).

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