Adubos verdes nutrem melhor o solo - Família Orgânica
Adubos verdes nutrem melhor o solo - Família Orgânica
Adubos verdes nutrem melhor o solo - Família Orgânica
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
PRODUÇÃO<br />
Sítio do Monte, em<br />
Morungaba, SP,<br />
assessorado pela<br />
<strong>Família</strong> <strong>Orgânica</strong>. Ao<br />
centro, adubação verde<br />
de verão com crotalária<br />
e girassol e, nas bordas,<br />
feijão guandu<br />
26<br />
<strong>Adubos</strong> <strong>verdes</strong><br />
<strong>nutrem</strong> <strong>melhor</strong><br />
o <strong>solo</strong><br />
Sítio Duas Cachoeiras e a <strong>Família</strong> <strong>Orgânica</strong> dão dicas para cuidar do <strong>solo</strong><br />
com adubação verde e manter fertilidade sem agressão à natureza<br />
Para cuidar do <strong>solo</strong> sem<br />
degradá-lo, a cultura orgânica<br />
aplica a técnica da<br />
adubação verde, pois assim é<br />
possível zelar pela quantidade<br />
e qualidade da água e manter<br />
vivos os seres que colaboram<br />
para a manutenção da fertilidade.<br />
Também protege o <strong>solo</strong><br />
contra erosão e o aquecimento<br />
exagerado causados pelos<br />
raios solares. Mas o que são<br />
adubos <strong>verdes</strong>? Na cartilha para<br />
agricultores, elaborada pela<br />
Fundação de Apoio à Pesquisa<br />
Agrícola (Fundag) e Ministério<br />
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento<br />
(Mapa) em 2007,<br />
explica que adubação verde é<br />
a prática que consiste no plantio<br />
de determinadas plantas de<br />
forma alternada com as culturas<br />
de interesse econômico<br />
Orgânicos em Revista<br />
por Vanessa Buzeti<br />
ou plantadas na mesma época<br />
intercaladamente. “Essa prática<br />
promove, também, a <strong>melhor</strong>ia<br />
da estrutura do <strong>solo</strong> permitindo<br />
<strong>melhor</strong> penetração das raízes,<br />
mais infiltração da água e maior<br />
disponibilidade de ar no <strong>solo</strong>,<br />
elementos fundamentais para<br />
que uma planta possa crescer<br />
forte e sadia”, ratifica.<br />
“Uma dica que pode ser interessante<br />
na preparação do <strong>solo</strong><br />
é o cuidado com a captação de<br />
água no período de chuvas. Se<br />
conseguimos fazer com que a<br />
água seja infiltrada no <strong>solo</strong> através<br />
de curvas de nível, bacias de<br />
captação e muita matéria orgânica,<br />
o processo de vitalização é<br />
muito maior e não haverá tanta<br />
perda de nutrientes”, relata o<br />
produtor Dercílio Pupin, da <strong>Família</strong><br />
<strong>Orgânica</strong>.<br />
Guaraci Diniz, produtor do<br />
Sítio Duas Cachoeiras, ensina<br />
também que a adubação verde<br />
deve ser usada sempre na forma<br />
de rotação de culturas, em locais<br />
que ficariam para o pousio<br />
(sem cultivar) ou ainda, quando<br />
se trata de <strong>solo</strong>s mais debilitados,<br />
deve ser deixada por no<br />
mínimo dois anos para promover<br />
a reposição de nutrientes e<br />
de biomassa. “Além de sempre<br />
ser plantada consorciada ou<br />
na forma de “coquetel”, como<br />
também chamamos, se assim<br />
for feito, estaremos nos aproximando<br />
mais da situação de<br />
biodiversidade que a própria<br />
natureza cria”, salienta.<br />
Diniz alerta ainda que, se a<br />
adubação verde for utilizada<br />
como monocultura, somente<br />
para gerar um pouco de nitro-<br />
Dercílio Pupin
Guaraci Diniz<br />
gênio para a cultura seguinte,<br />
o produtor agirá com a mesma<br />
lógica de quando se utiliza a<br />
adubação nitrogenada sintética.<br />
“Neste caso, a adubação<br />
verde se torna insustentável e<br />
não colabora na recuperação<br />
da vida do <strong>solo</strong>”, explica.<br />
“Outra dica também seria a<br />
utilização de podas de arbustivas<br />
e frutíferas e todo tipo de<br />
vegetação espontânea, ao estilo<br />
do trabalho realizado nas<br />
agroflorestas”, conta Pupin.<br />
COMO OBTER<br />
AS SEMENTES<br />
Há duas formas de se conseguir<br />
sementes de adubos <strong>verdes</strong>.<br />
Pode-se comprá-las ou cultiválas.<br />
No entanto, como elas não<br />
são facilmente encontradas no<br />
comércio e costumam ser caras<br />
aos pequenos agricultores, a<br />
cartilha do agricultor aconselha<br />
fazer uma espécie de Banco de<br />
Sementes entre os agricultores<br />
de determinada região, cuja<br />
moeda de troca acaba sendo<br />
a própria semente. Segundo a<br />
cartilha, o principal ponto para<br />
se utilizar a adubação verde é<br />
obter acesso às sementes para<br />
o primeiro plantio. Nesta técnica,<br />
ao contrário dos adubos<br />
químicos, que a cada ano deve<br />
ser comprado, o produtor pode<br />
guardar um pouco das sementes<br />
produzidas por ele para serem<br />
plantadas no ano seguinte.<br />
A maioria dos parceiros da<br />
<strong>Família</strong> <strong>Orgânica</strong>, por exemplo,<br />
adquirem sementes no Instituto<br />
Agronômico de Campinas - IAC<br />
ou de empresas especializadas.<br />
Pupin relata que há um esforço<br />
para que cada agricultor produza<br />
suas sementes, mas isso<br />
ainda é raridade na região em<br />
que atuam. “A preferência é<br />
dada a sementes não tratadas,<br />
para garantir que, desde o processo<br />
de preparação do <strong>solo</strong> não<br />
tenhamos nenhuma ação de<br />
defensivos agrícolas prejudiciais<br />
à saúde e ao meio-ambiental”,<br />
esclarece.<br />
“Aqui no Sítio Duas Cachoeiras,<br />
usamos adubação verde há 23<br />
anos. Nas primeiras vezes tivemos<br />
que comprar as sementes,<br />
mas, depois, sempre reservamos<br />
parte de nossa produção<br />
ou do campo que vai ser adubado<br />
para obter as sementes<br />
necessárias para os próximos<br />
plantios e também para troca e<br />
venda. Essa prática torna nosso<br />
sistema de produção mais sustentável<br />
e de maior confiança,<br />
já que deixamos de comprar e<br />
sabemos da origem das sementes”,<br />
ratifica Diniz.<br />
PLANTIO DAS<br />
SEMENTES<br />
Para o plantio das sementes,<br />
é preciso considerar o tempo<br />
mais favorável às espécies que<br />
se pretende plantar, de acordo<br />
com a região, bem como as<br />
condições do <strong>solo</strong>. Recomendase<br />
também que se plante mais<br />
Plantação de feijão guandu<br />
no Sítio Duas Cachoeiras<br />
de duas espécies de plantas para<br />
adubação verde consorciadas.<br />
“Quando iniciamos esta<br />
prática de cuidado com o <strong>solo</strong>,<br />
primeiro tivemos que usar<br />
vários tipos de sementes de<br />
adubação verde, para verificar<br />
qual delas se desenvolveria<br />
<strong>melhor</strong> aqui na região. Hoje temos<br />
sementes para cada tipo<br />
de situação, por exemplo: para<br />
inverno e verão; para <strong>solo</strong>s mais<br />
ácidos e menos ácidos (diferentes<br />
PH)”, relata Diniz. Os tipos<br />
de sementes mais utilizadas no<br />
período de primavera-verão,<br />
pelo Sítio Duas Cachoeiras<br />
são: feijão guandu, crotálaria<br />
juncea e feijão-de-porco,<br />
mamona e girassol; crotalária<br />
espectabilis e feijão-de-porco,<br />
girassol; e mucuna-preta, lablab<br />
e mucuna-cinza. Já no<br />
período outono-inverno, utiliza<br />
o nabo-forrageiro, aveia-preta<br />
e ervilhaca.<br />
A <strong>Família</strong> <strong>Orgânica</strong> também<br />
divide as sementes em<br />
dois grandes blocos, as mais<br />
adaptadas ao verão e as que<br />
se adaptam <strong>melhor</strong> ao inverno.<br />
Dependendo da situação<br />
do <strong>solo</strong>, priorizam plantas de<br />
maior penetração como o nabo<br />
forrageiro ou de boa produção<br />
de massa, tipo a crotalária juncea.<br />
Além disso, aproveita as<br />
plantas espontâneas que aparecem<br />
nos campos no período<br />
de pousio e que são incorporadas<br />
durante a preparação<br />
do <strong>solo</strong>. “Tudo o que nasce<br />
pode ser aproveitado em benefício<br />
do <strong>solo</strong> e, quanto mais<br />
enriquecido ele estiver, mais<br />
saúde ele vai proporcionar”,<br />
confirma Pupin.<br />
Orgânicos em Revista 27